sexta-feira, 19 de março de 2010

27227/228/229

27227

“Em que sinto que sonho o que me sinto sendo”
Apenas ao buscar qualquer caminho
Que em meio aos dissabores adivinho
Por vezes solitário ou estupendo.

E quando em poesia me contendo
Não posso mais seguir, sendo sozinho
Esboço a precisão de um falso vinho,
E nela se percebe o dividendo

Atento ao nada ter já não consigo
Vencer o que pudera em desabrigo,
Cinzel perpetuando cada verso

Esculpo o que talvez ninguém perceba,
Mas quando da aguardente amarga beba,
Conceba num soneto este universo.


27228


“Do interior crepúsculo tristonho”
Extraio o descaminho ainda que
No fundo a realidade não se vê
Tampouco ao que deveras me proponho.

Esgarço com palavras noite e dia,
Afasto-me dos medos me aproximo,
Sabendo a cada passo deste limo
E o tombo com certeza não se adia.

Extraviando assim o passo, alheio
Aos vários dissabores que desfruto
Por mais que ainda tente ser astuto
Vontade de seguir; teimo e refreio,

Tristeza soletrando a cada lavra
Colhendo em amargura uma palavra...

27229


“Que te vejo, ou sequer que sou, risonho”
Falseio a realidade, vil farsante
E quando se pensara em diamante
Cristal; somente vejo e recomponho

Meu mundo mesmo quando em vago sonho,
Por vezes é terrível, delirante,
Mutável caminheiro a cada instante,
Percebo quão inválido e tristonho

Se o peso que carrego enverga as costas,
Perdendo num relance tais apostas,
Esparsas as palavras de um soneto,

E o corpo em lassidão já não comporta
Sequer a poesia semi morta
Que ainda mesmo espúrio, ora cometo.

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