32151
Muitas vezes perdido, sem ter rumo
Vagara por espaços infinitos
E tanto se pensara noutros ritos
Enquanto com terrores me acostumo,
E quando solitário enfim me esfumo
Ainda ouvindo ao longe tantos gritos
Dos sonhos que matara, frágeis mitos,
Anseio pelo quanto ainda aprumo
E bebo cada gota do passado
Sabendo quanto o tempo fora errado
Vacante coração agora tenta
Após viver intensa solidão
Volver às horas claras de verão,
Porém somente vejo em mim tormenta...
32152
Respingas teus venenos mais sombrios
E teimas contra tudo o que eu pudesse
Vencido caminhante busca a messe
E sabe dos momentos, desafios...
Ainda que pudessem, teimam frios
O amor ao que desejo jamais tece
E tudo o que aprendera agora esquece
Alheios dias morrem, são vazios.
Ressabiadamente nada resta
E tendo a senda amarga e tão funesta
Nem frestas encontrando na janela,
A solidão decora cada cena
E quando a realidade quis amena
Apenas o temor já se revela...
32153
Matando as sensações de serem vívidos
Os sonhos que pudessem me trazer
Ainda alguma forma de prazer,
Porém os meus olhares seguem lívidos.
E tanto poderia ser diverso
Não fosse a solidão vil companheira
E quando a sorte trama traiçoeira
Nas teias deste inferno sigo imerso,
Pensando na possível liberdade
O quanto se fez nada e traduziu
O amor que outrora quis bem mais gentil,
E a própria realidade desagrade,
Restando a quem sonhara o desprazer,
Aguardo em desespero o amanhecer...
32154
Bem sabes que legaste olhos mais frios
A quem só desejava alguma luz,
E o quanto se tentasse decompus
Em tétricos momentos vis, vadios,
Resisto ao que pudesse e ainda tento
Vencer o desconforto em solidão,
Mas sei que novos dias não virão
E apenas coletando o desalento,
Recebo cada verso como fosse
Apenas um momento de ventura,
Mas quanto mais a luz já se procura
Cenário se mostrando em agridoce
Forrando de ilusões o dia a dia,
Porém somente a dor já resistia...
32155
Não disse mais nada
Quem tanto pudesse
Se a vida merecesse
A farsa moldada
Negando esta estrada
Nem mesmo se a prece
O coração tece
Não tenho alvorada,
Esboço de vida
Há tanto perdida
Sem rumo e sem nexo,
Do todo que tento
Apenas tormento
Eu vejo em reflexo.
32156
Quiseste que um dia
Pudesse diverso
E seguindo imerso
Busco fantasia
E nada se via
Somente o disperso
Caminho sem verso
E sem poesia,
Mortalhas tecidas
Nas dores sentidas
Assim se percebe
A morte sem rumo
E quando me aprumo,
Movediça sebe...
32157
O nome mais claro
Amor mais sutil,
Aonde se viu
O quanto declaro
E sendo tão raro
O fato surtiu
Efeito gentil,
E tanto me amparo
No encanto de ter
Amor e poder
Viver cada instante
Sem medo e deveras
Enfrentando as feras
Com luz deslumbrante...
32158
Esqueço a agonia
Tecendo o futuro
E tanto procuro
Mesmo em noite fria
Amor que me guia
E quanto eu te juro
No encanto perduro
Viva fantasia,
Assim eu mereço
Amor sem tropeço
Vivendo esta glória
Que tanto redime,
Na dor que suprime
Recende à vitória...
32159
Retratos tirara
Da sorte bendita
Aonde se grita
Em noite mais clara,
A jóia tão rara
Beleza em pepita
Traçando esta dita
Que tanto me ampara,
Vencer descaminhos
E ter nos meus ninhos
Quem tanto desejo,
Amar e sonhar
Beber do luar
Vital, sertanejo.
32160
Contemplo este instante
E vejo decerto
Deixando o deserto
Caminho distante
Porquanto agigante
Num rumo que é certo,
O mundo em aberto
Sonho delirante
Do tanto que pude
Viver juventude
Embora tardia,
Amor temporão
Renova o timão
E ao éter me guia...
32161
Quando a morte dita a sina
De quem tanto já sonhara
Ao se ver torpe seara
A saudade me alucina
E se tanto uma assassina
Recriando a vida amara
Quantas vezes desampara,
Mas deveras nos domina,
Sendo assim demais ingrata
Tantas vezes nos maltrata
E conquanto posso ver
Na saudade solução
E por vezes perdição
Dor que tanto dá prazer...
32162
Levo a vida deste jeito
Com ternura e com vontade,
Mas se bebo da saudade
Nunca mais tão satisfeito,
Quando a vida toma o pleito
E o passado nos invade
Onde quis a claridade
Turbulência adentra o peito
E se ainda assim a quero
Na verdade sou sincero
Deste gozo mais atroz,
Coração sorvendo gotas
Em estradas sempre rotas,
Inda escuto a tua voz.
32163
Leva longe coração
Doma quem puder sonhar
E sabendo quanto amar
Entorpece a direção
Vejo a minha salvação
Nas entranhas do lutar
E de tanto procurar
Encontrando a solução
Nos anseios de um desejo
Meu amor demais andejo
Já pretende algum descanso,
Mas se tanto ainda sonha,
Alma triste, mas risonha
Novo tempo em luz alcanço.
32164
Fonte aonde dessedento
Cada dia sem pensar
No que possa acreditar
Entregando ao forte vento
O caminho em que atormento,
Mas não canso de buscar
Cada raio do luar
Possa ser o meu provento,
Antes fosse sempre assim,
Este amor já não tem fim
E domina toda a cena,
Mas a vida não traduz
Sempre a intensa e forte luz,
Vez em quando me envenena...
32165
Sorte tem quem já procura
E não deixa de lutar
Quando enfim eu a alcançar
Poderei viver ternura,
Mas agora esta amargura
Vai tomando o seu lugar
E se ainda quis lutar
Muitas vezes com brandura
A certeza não se instala
Quando a luz invade a sala
Posso ver a solidão,
Entretanto ainda quero
Outro tempo menos fero,
Noutras tardes de verão.
32166
A má sorte, esta desdita
Que me impede no caminho
E se tanto me avizinho
Outra luz já se acredita
E se ainda não reflita
Todo afeto, este carinho
Eu cansei de ser sozinho
Onde a sorte me permita
Novo tempo mais tranqüilo
Entre as sendas que desfilo
Encontrar a claridade,
Não me exponho aos temporais,
Mas amar nunca é demais
Mesmo quando desagrade...
32167
Tantas vezes mal eterno
Produzido por vazios
E se ainda quero estios
Não procuro pelo inverno
E decerto se eu me interno
Ao vencer os desafios
Da esperança busco os fios,
E procuro ser mais terno,
Quando a sorte se procura
E deveras já perdura
Noutro rumo, penitência
Mas no amor quando se vê
Tendo agora algum por que
Encontrando esta clemência...
32168
Quem tanto cativa
Uma alma que é sua
Assim continua
Estrada mais viva
E quando se altiva
Enfim perpetua
Bebendo da lua
Alma sempre-viva
Florindo no espaço
No canto que faço
Encontrando a paz
Abrindo o meu peito
Estou satisfeito
Com amor audaz...
32169
Eu vejo esta rosa
Imagino o canteiro
Amor jardineiro
Cena majestosa
E tanto se goza
Do encanto primeiro
Mesmo o derradeiro
Na luz caprichosa,
Certeiro o seu tiro
E tanto prefiro
Assim ser a caça
No tanto que outrora
A seca demora
O amor nunca passa...
32170
Formosa e sublime
Aonde se vê
O amor seu por que
E tanto se estime
No quanto que rime
Conclamo e se lê
Por vezes cadê
E logo redime.
Resisto? Jamais
Aos tais vendavais
Meu peito se abrindo
E tanto pudera
Viver primavera
Momento tão lindo.
32171
Quando na saudade vivo
Procurando algum alento
E se tanto me atormento
Sem amor, meu lenitivo
Do caminho que me privo
Da esperança me alimento
E se ainda tanto tento
De alegrias eu me crivo
E sabendo ser assim
Caminhando até o fim
Sem ninguém aqui por perto,
Nada resta deste que
Cada dia já se vê
Num terrível vão deserto.
32172
Sem canteiro e flores
Sem a luz do dia
Sem a poesia
Sigo aonde fores
Procurando cores
Tanta alegoria
Nada me traria
Fartos dissabores
Beijo a tempestade
E se ainda invade
Cada verso meu
Noutro rumo tento
E se me atormento
Tudo se perdeu...
32173
Procurando estrelas
Neste céu imenso
Quando em ti eu penso
É como revê-las
E se não contê-las
Ando sempre tenso
E num ar tão denso
Como percebê-las?
Tão brumosa noite
Solidão, açoite
Vivo ora sozinho
Sem ninguém comigo
Se o amor persigo,
Onde está seu ninho?
32174
Rosto sem igual
Singular beleza
Sigo a correnteza
Imenso caudal
Ato triunfal
Trama sorte e a presa
Com total destreza
Bebe do fatal
Caminhar em sonho
Quando me proponho
Vejo a claridade
E se ainda quero
Tanto amor sincero
Lua já me invade...
32175
Onde tanto pude
Noutro tanto quero
E se ainda espero
Viva juventude
Em nova atitude
Coração tempero
E se outrora fero
Tudo já se mude,
Nada mais que a luz
Quando me conduz
Clareando a vida,
Outra serenata
Tanto amor maltrata
Mas é a saída...
32176
Canto sossegado
Entre teus abraços
Belos, raros traços
Dia iluminado,
E se do passado
Inda sinto os laços
Percorrendo espaços
Busco o meu legado
Feito em glória e paz
Tanto sonho traz
Alegria além
Do que mais pudera
Viva primavera
Todo amor contém...
32177
Graça viva em mim
Deste amor que busco
Mesmo em lusco fusco
Solidão ruim,
Tanto vejo enfim
O que outrora brusco
Hoje se inda ofusco
O clarão assim
Novo sonho tento
E se neste intento
Eu pudesse a glória
Novamente em paz,
Deste amor audaz,
Vivo na memória...
32178
Numa intensa magia, sedução,
Caminhando sem medo encaro a vida
E sei que em pleno amor eis a saída
Vivendo cada noite a solução
E quando dentro em mim se faz verão
Aonde se pensara enfim perdida
A sorte noutra sorte sendo urdida,
Causando a mais completa sensação
Do todo que se fez em cada passo,
Assim ao mergulhar ainda traço
O tempo de sonhar que é redentor,
Vivendo a plenitude neste instante
Amar e ser feliz, num deslumbrante
Cenário que pretendo recompor...
32179
Amiga um sentimento se edifica
Tramando com ternura nova rota,
E quando a sorte mostra e se denota
Momento em paz a senda agora rica
O todo neste instante modifica
E traz com atenção e não desbota
Amor quando em amor jamais esgota
E nada neste mundo ainda explica
Cenário que se faz em redenção
Mostrando novamente a direção
Na qual e pela qual eu quero tanto
Vislumbro este momento em farta luz
E quanto mais entregue mais seduz
Gerando e eternizando farto encanto...
32180
Tomando um sem juízo coração
O mundo não sossega um só momento
E vivo enquanto amor eu apresento
Sabendo que outros dias mostrarão
Conforme renovada esta estação
Assim ao não viver mais sofrimento
O amor entorna vivo o pensamento
E molda com ternura esta emoção,
Senti-lo e ser deveras seduzido,
No quanto me tocando e já me expondo
Assim no grande amor, eu me compondo,
Deixando uma tristeza em triste olvido,
Mergulho nesta insânia e sou feliz,
Vivendo tudo aquilo que mais quis...
32181
Eu quero a alegria
Do sonho suave
Sem nada que agrave
E quanto podia
Viver fantasia
Tirando esta trave
Amor bela nave
Que tanto traria
A sorte bendita
Assim minha dita
Traduz o momento
Em tanto prazer
Poder te trazer
O agradecimento.
32182
Tanto sonho se pudesse
Neste instante mais feliz
Nada enfim ora desdiz
Este verso feito em prece
E portanto amor se tece
Noutro canto de aprendiz
Ao viver o que bem quis
Sofrimento já se esquece
E se ainda ora receio
Percebendo tanto anseio
Reviver cada momento,
Eu só posso te falar
E decerto demonstrar
Todo este agradecimento...
32183
Onde quero sonhar e te dizer verdades
Outro canto tentando e demonstrando assim
Amor que na verdade eu sei jamais tem fim
E quando solitário ainda vens e invades
Domando o coração matando tais saudades
Arando com cuidado o que fora um jardim
Promessa renovada e nela tudo em mim
Traçando com ternura expressas qualidades;
Ainda que pudesse eu nada mais teria
Somente este poder e nele esta alegria
Cevando com ternura e assim dando provento
Ao sonho mais audaz e dele a primavera
Gerando novo sonho aonde se tempera
O verso aonde eu trague este agradecimento...
32184
Que a cada novo dia se complica
O fardo de viver sem ter medidas,
E quando se percebem nossas vidas
Num ato que decerto nada explica
Uma alma sorrateira sabe a dica
E vê quando demais tantas saídas
Aonde se pensavam já perdidas
No quanto cada sorte o rumo indica.
Assim sem ter somente uma razão
O tempo traz em si a solução
E quando se perdendo do caminho
Por vezes é melhor não ter ninguém
Do que o espinho farto que contém
Quem sabe as armadilhas de um carinho.
32185
Total solidão
Mudando o caminho
E sigo sozinho
Sem ter direção
O quanto é verão
No inverno me alinho
E sei sem carinho
Do quanto se é vão
Amor maltrapilho
Enquanto eu não trilho
Procuro outra senda
Que todo este anseio
Sem medo eu rodeio
Amor que me atenda...
32186
Cabelos ao vento
Partindo sem medo
Aonde o degredo
Não faz alimento
E tanto acrescento
A vida no enredo
E quando concedo
Também me apascento,
Não vejo outra sorte
E tanto comporte
Começo e final,
Rondando esta lua
Minha alma flutua
Num bom ritual.
32187
A doce figura
Dos tempos de outrora
Aos poucos devora
E nada mais cura,
Assim se mistura
E quando me implora
O mundo decora
Com tal amargura
A vida reflete
O que tanto compete
A quem deveria
Viver sem mortalha
A sorte amealha
A dor e agonia.
32188
Tocando de leve
A pele macia
Em tanta alegria
A mão já se atreve
E quando diz neve
A noite se esfria
Onde há fantasia
Amor que se ceve
Servindo de sonho
A quem já risonho
Prevê alvorada,
Depois de momentos
Volvem desalentos
Do tudo, mais nada..
32189
Somando o que fora
Com tanto que eu quis
O rastro não diz
Da alma sofredora
E ainda se ancora
No quanto aprendiz
Momento mais gris
E tudo devora,
Arrasto correntes
E tantos dementes
Os dias que tenho,
Não tendo outro rumo
Meus erros assumo,
Com todo este empenho.
32190
Legado de quem
Pudesse sonhar
E sem o luar
Mais nada convém,
Assim sigo aquém
Do quanto lutar
E tanto mudar
O que nunca vem
Pudesse diverso
Ser manso meu verso
Enfim eu teria
O sol que procuro,
Porém céu escuro
A vida é tão fria...
32191
Perdido, em desespero, olhar ausente
E quando me percebo sem sentido
O todo que pensara resolvido
Agora do meu mundo ainda tente
Fingir que não se fez qual penitente
E teima em renegar o já vivido
E ter noutro momento resolvido
Porquanto em tanta teima sempre invente
Um cais onde pudesse ter apenas
Momentos mais suaves, vidas plenas
E tanto se fizesse em redenção,
Mas quando a realidade toma o rumo,
Os erros muito embora, cedo assumo,
Dominam com vigor a embarcação.
32192
Antenadas as dores mais cruéis
Não deixam que se creia num futuro
E quando alguma paz inda procuro
Os dias entre mágoas infiéis,
Assim ao perfazer em fartos féis
O quanto de incerteza me amarguro
E mesmo mais distante ora perduro
Sabendo quão inúteis meus papéis
Vencido pelo medo nada resta
Somente a noite fria e enfim funesta
Aonde se aprofunda a solidão,
Quisera num momento outra alegria,
Inutilmente a vida fantasia
Ouvindo por resposta sempre o não.
32193
Dos tons mais variados, mil matizes
As cenas se repetem vez em quando,
E tento novo mundo reformando
Após as mais constantes, duras crises,
E quando a realidade contradizes
Tentando vislumbrar um ar mais brando,
A fúria novamente nos tomando
Revive com terror as cicatrizes,
Repete-se deveras esta história
E ainda guardo vivo na memória
Momentos mais atrozes, o que faço?
No todo que reflete o meu presente
Apenas o passado se apresente
E deixa mais profundo cada traço.
32194
Quem sempre fora amante da ilusão
Ao se perder sem nexo sem caminho,
Ainda se encontrando em tanto espinho
Percebe quanto o mundo às vezes vão,
E sendo assim inversa a direção
Do tempo onde tanto quero e aninho,
Sorvendo com ternura cada vinho,
Guardado nas entranhas de um porão,
A vida se concebe mais suave
Bem antes que este mundo vil agrave
Os passos são mais firmes e mais fortes,
Não posso revidar cada tormento,
E quando me ferindo eu apascento
Tentando contornar em paz os cortes...
32195
Quem me dera saber de teus mistérios
Vencer os dissabores mais freqüentes
E quando dos meus sonhos tu te ausentes
Ainda se percebem bem mais sérios
A vida não respeita mais critérios
E tanto quanto podes e aparentes
Os dias serão claros, vivos, quentes
Negando a frialdade dos minérios.
Assim ao se mostrar em plenitude
No quanto cada passo ainda mude
O ritmo de um viver em meio às urzes
Somando nossas forças doravante
O quanto do caminho se adiante
Tomando nossos céus sublimes luzes.
32196
Agora, percebi, é minha vez
E tento disfarçar com verso e som,
A morte se aproxima e neste tom
O encanto doravante se desfez,
Ainda que deveras tu não vês
Repito em descaminho, e tendo o dom
Do sangramento da alma, sei que é bom
Ainda dentro em mim a insensatez.
Restando pouco tempo, nada vejo
E quando noutro mundo outro desejo
Aflora-se tomando o dia a dia,
Deixando para trás o sentimento,
Na solidão deveras me apascento
Somente com a amante poesia.
32197
Nos pântanos nos pélagos e abismos,
Adentro sem pensar em soluções
E quanto mais em fúria decompões
Maiores os tormentos, cataclismos,
E sinto sem pensar que os novos sismos
Causando dentro em mim transformações
Trarão diversos tons e direções
Deixando para trás os otimismos.
Refém deste tormento dia a dia,
Não tendo outra ilusão, a morte eu via
Tomando todo o céu, nublada senda,
Não tendo quem apóie cada passo,
Aos poucos entre os nadas me desfaço,
Sem ter sequer ninguém que inda me entenda...
32198
Percebendo, ansiado, tal fluidez
Gerada pelas fortes correntezas
Os sonhos de outros sonhos meras presas
E neles toda a sorte se desfez,
Ainda que deveras não mais vês
Restando dentro em mim ledas purezas
E sempre sem ter medo nem destrezas
As horas em total estupidez
Realçam descaminhos que conheço,
O amor jamais passou de um adereço
E nada do que tanto mais queria
Renasce após imensos vendavais
Aonde quis inteiro, nunca mais,
Sobrando tão somente a noite fria.
32199
Nas vastidões perdido, pois sei frias
As horas entre medos e tempestas
Ainda abrindo o peito em frágeis frestas
Ouvindo da esperança melodias,
Realço com ternura velhos dias
E quando docemente tu te emprestas
Aos dias mais felizes, inda restas
Trazendo passo a passo as alegrias.
Mas nada disso eu sei ser verdadeiro
Numa aridez imensa o meu canteiro
Sonega qualquer flor e sem perfume
Não tendo solução, seguindo vago,
Das esperanças tolas se me alago,
O amor já sonegando qualquer lume...
32200
O karma minha herança, é mais medonho
E nada conseguindo disfarçar
Nem mesmo o sonho um dia lapidar,
Ainda cada vão teimo e componho,
Restando tão somente este bisonho
Caminho sem ter luz e sem luar
E nele cada dia me entregar
Tentando imaginar algo risonho.
Atrás das esperanças, realidade
E quanto mais feroz assim me invade
Não deixa qualquer dúvida. Perdi.
O tanto que pudesse ser diverso
E agora vendo enorme este universo,
O resto que sobrou desvendo aqui.
PARA TANTOS, PRINCIPALMENTE MARCOS GABRIEL, MARCOS DIMITRI E MARCOS VINÍCIUS. MINHA ESPERANÇA. RITA PACIÊNCIA PELA LUTA.
sábado, 8 de maio de 2010
32101 até 32150
32101
Repousa sobre as pedras o meu sonho
E bebe as tempestades corriqueiras
Quem teve na esperança tais bandeiras
Ao ver este momento atroz, medonho
Percebe quanto o gozo se enfadonho
Não deixa nem sequer velhas fronteiras
Palavras são deveras traiçoeiras
E nelas com terror me decomponho,
Perdido em noite insana vejo a sombra
Do quanto do passado ainda assombra
Quem busca a liberdade e sem receio
Há tempos mergulhara no vazio
E quando novo intento desafio,
O olhar procura a paz, mas segue alheio...
32102
Nas orlas destes mares caprichosos
Dos sonhos entre festas e terrores
Procuro mesmo quando tu te fores
Ainda novos tempos, majestosos,
Risonho caminheiro em andrajosos
Sabendo dos terríveis dissabores
Bebendo destes ritos tentadores
Encontra mais distante os prazerosos
Momentos onde pode acreditar
Na senda mais diversa a se mostrar
Desnuda realidade se apresenta
E toda a sorte perde a direção
Enquanto a vida trama em negação
O quanto dela sei vital tormenta...
32103
Perfumes tanto tenros quanto atrozes
Adentram minha sala e em tais aromas
Ainda que distante tu me domas
Ouvindo vivos sons, intensas vozes,
Os sonhos são deveras meus algozes,
E neles quando enfim nas mãos me tomas
Os corpos entrelaçam e se assomas
Desvendas destes ritos novas fozes.
Espelhos de nós mesmos entranhados
Vivemos com horror os malfadados
Caminhos entre pedras sem destino,
E tanto poderia ser diverso,
Mas quando sobre ti ainda verso
No todo que se mostra me alucino...
32104
Pudesse ainda ouvir a cantoria
Dos pássaros distantes e não tendo
Sequer outro momento não desvendo
Ainda o que pudesse fantasia.
Assim a realidade distorcia
O quanto se pensara em estupendo
E agora noutro tanto não desvendo
Somente o mundo trama em heresia
O corte se aprofunda e nada resta
E vejo a cena amarga e mais funesta
Transido como fosse entorpecido
Apenas restará da minha senda
A sorte que deveras não atenda
Tornando o dia a dia sem sentido...
32105
Delicada figura entristecida
Deitada sobre a cama em cena amarga,
O quanto do prazer a vida larga
E deixa noutra senda esvaecida,
A sorte quando dita a despedida,
A voz de quem sonhara já se embarga,
Não posso mais viver o sonho à larga
E tento renovar a minha vida.
Mas como se te vendo desta forma
A morte com terror jamais conforma
Quem sabe quanto tempo foi feliz,
E tudo não passara de ilusão
Ouvindo novamente este senão,
Cenário que enlouquece me desdiz...
32106
Ao menos poderia ter a chance
De ver se renovar caminho enquanto
Apenas desvendando o desencanto
A sorte noutro tanto já se lance
E quando ainda em mim o sonho avance
E gere com terror e enfim me espanto
Ao tempo que virá eu me adianto
E tento novo rumo num nuance.
Perdido e sem saber da solução
Que ainda poderia, sigo em vão
E não conheço além das pedras e urzes,
Quisera pelo menos num segundo
Viver rara beleza em céu profundo,
E ter a sensação das belas luzes.
32107
Seu sonho faz sonhar quem tanto busca
Vencer os temporais com mansidão,
E quanto mais os dias mostrarão
A noite noutra senda sempre brusca
A sorte que deveras nos ofusca
E teima contra toda a direção
Naufraga a mais sublime embarcação
Tornando a minha vida opaca e fusca.
Resiste dentro em mim esta esperança
E quando ao mais profundo mar avança
A senda se proclama mais sublime
E tendo quem decerto me deseje
Porquanto noutro tanto já se almeje
Em ti o que se quer e mais se estime...
32108
Na boca tão pequena e sedutora
Em vivo carmesim, delírios traço,
E quando sigo o sonho passo a passo
Diverso do que ainda em trevas fora,
Percebo imagem clara e tentadora
E bebo cada gole quando faço
Do mundo a realidade em cada espaço
Traçando com minha alma sonhadora.
Vencer as mais diversas ilusões
E ter a cada instante as emoções
Nas quais e pelas quais a vida dita
A sorte mais feliz de quem se vê
No amor e não pergunta nem por que
Apenas usufrui sorte bendita...
32109
O quanto faz sonhar teu belo rosto,
E tanto posso até saber divino
O amor no qual decerto eu me fascino
E sigo o coração agora exposto,
Vivendo sem saber de pressuposto
Momento aonde em trevas não domino,
Ainda sem dar tréguas meu destino
Deveras noutro tanto fora posto
E agora ao perceber esta bendita
E rara maravilha uma alma grita
E bebe esta seara abençoada,
Não deixe que se perca e nem desvie
Quem tanto com ternura desafie
A sorte noutra cena, degradada...
32110
São pétalas de sol que beijam face
Daquela a quem me faço amante e amigo
O amor que tantas vezes mais persigo
No quanto em alegria agora trace
O mundo sem temor, ainda passe
Vivenciando em ti querido abrigo
E vendo mais distante algum perigo,
Sem nada que devore ou inda embace
Persisto nesta bela caminhada
E sei da redenção de uma alvorada
Traçada com ternura e fantasia,
No amor que tanto quero e já me dou,
Vivendo cada dia que restou
A vida desta forma se recria...
32111
Eu quero falar
Dos sonhos felizes
Que tanto desdizes
Negando o luar
Pudesse encontrar
Embora em tais crises
Diversos deslizes
Sem nada a mostrar
A tal redenção
Melhor direção
E quando se vê
A vida sem nexo
Apenas reflexo
Do amor sem por que.
32112
Perdido caminho
Sem rumo, vagando
E sei mesmo quando
Percorro sozinho
E quando me aninho
No mundo cevando
O tempo mostrando
Embora vizinho
Do medo que trago
Viver sem afago
Não quero jamais
E tanto pudesse
Ainda a benesse
Sem ver temporais...
32113
Pudesse vencer
O amor sem promessa
E tanto sem pressa
Conter o prazer
Do quanto viver
Enquanto começa
A sorte se expressa
No teu bem querer
Gerando a saudade
Amor na verdade
Maltrata e conduz,
Diversa certeza
Vital correnteza
Que é feita de luz.
32114
Servindo a quem ama
A sorte promete
E quando arremete
Profusa tal chama
Não quero mais drama
Tampouco o confete
Amor nada vete
E viva esta trama
Que quando mergulha
Na fonte mais clara
Deveras declara
E tanto se orgulha
Da sorte bendita
Na qual acredita.
32115
Eu quero o carinho
De quem se fez tanto
Além de um encanto
Amor sendo o ninho
Vencendo o caminho
Que possa portanto
Gerar desencanto
Enquanto me aninho
No quanto se deu
Amor sendo meu
Também te entorpece
E assim noutra face
A sorte que grasse
Entoa tal prece.
32116
A vida e o punhal
A faca e o tormento
E quando apascento
Momento final
Subindo o degrau
Estrelas invento
E bebo este alento
Amor sendo a nau
Num porto seguro
O quanto procuro
Transcende à verdade
E tanto podia
Em noite que é fria
Dizer da saudade...
32117
Ainda a montanha
Distante do olhar
Na fonte a brilhar
A lua se entranha
E bebe esta sanha
Sedento vagar
Querendo encontrar
Quem tanto acompanha
Seara divina
E quando domina
A sorte não nega,
Assim a palavra
Traduz esta lavra
E nunca sonega.
32118
Tamanha verdade
Ditando a seara
Aonde se aclara
Amor que me invade
Sem ter qualquer grade
Vencendo me ampara
E traz sem escara
Vital qualidade
Vencido o terror
Expressa na flor
Além deste espinho,
E quando mergulho
Sem ter pedregulho
De Deus me avizinho.
32119
Sonhando com luzes
Vencendo os meus medos
Desvendo os segredos
Aonde conduzes
E tanto seduzes
Deveras degredos
Porquanto os enredos
No quanto reluzes,
E beijo teus lábios
Os dias são sábios
No encanto que trazes
A vida diz fases
Diversas, mas creio
No amor sem receio.
32120
Peçonhas diversas
Terrores sutis,
Amor contradiz
E quanto tu versas
As luzes dispersas
Unidas, feliz
Quem tanto mais quis
Nas ondas imersas
As tantas searas
Que agora declaras
E moldas em paz,
Assim sendo a vida
No amor se cumprida
Mais amores traz.
32121
O sol a prumo toma este cenário
E vejo reluzindo em teu olhar
Neste horizonte raro a me tomar
O quanto tanto amor é necessário,
Vencer a solidão, vago corsário
Depois de muitos anos navegar
E sinto tanto brilho a nos tocar
Fazendo deste sonho imaginário
Encanto sem igual e sendo assim,
Enquanto a tarde invade tudo em mim
Eu vejo mais possível ser feliz,
Apraza-me entender cada segundo
E desta claridade ora me inundo
Vivendo tudo aquilo que mais quis...
32122
Ondeia sobre os vastos milharais
O vento num instante mavioso
E sinto quanto posso prazeroso
Viver momentos raros, triunfais,
Assim bebendo sempre quero mais
Do tanto que pudesse em fabuloso
Caminho aonde outrora um andrajoso
Vencido pelas ânsias desiguais
Agora se percebe vencedor
E tenta novamente em cada cor
Singrar este oceano em louros feito,
Assisto ao mais sublime dos anseios
E sigo sem temor diversos veios
No amor que agora sei ser meu direito.
32123
Em fulvas maravilhas teus cabelos
Tocando a minha pele, me envolvendo
E assim cada momento se tecendo
Deixando para trás os pesadelos,
E quando mais percebo ao recebê-los
O tempo dita em glória o dividendo
No qual se fez feliz este estupendo
Mergulho entre tantos raros zelos,
Assídua fantasia toma a cena
E quando a realidade em paz serena
Eu tento desvendar cada mistério
Do amor que em tanto amor se fez mais claro
E o gozo mais profundo eu te declaro
No encanto sem temor e sem critério...
32124
Andando pelos ares pensamentos
Vencendo estas distâncias nada teme
E quando a realidade perde o leme
Meu barco solto assim em mansos ventos
Deixando adormecidos sofrimentos,
Sem ter sequer a dor que ainda algeme
No quanto a fantasia dita o creme
Da vida em mais sobejos, bons proventos,
Resisto aos meus anseios costumeiros
E tento desvendar os traiçoeiros
Temores que inda restam sobre nós,
Até que vença sempre as corredeiras
E amando sem pudor, ledas fronteiras
Encontro finalmente em ti a foz.
32125
As flores dominando este canteiro
A primavera expressa em cores tantas
E quando com ternura tu me encantas
O mundo se mostrando verdadeiro
Caminho aonde tendo o mensageiro
Das luzes entre várias não espantas
E ainda com fulgor mais agigantas
No amor que se fez tanto este luzeiro,
Seguindo cada passo rumo à luz
Falena enamorada reproduz
No sonho cada gozo mais feliz,
E tento desvendar cada segredo
E quando ao farto encanto eu me concedo
Encontro o que deveras sempre quis...
32126
Tranqüilidade toma este momento
E nada mais do quanto fora em dor
Agora noutro tanto a se compor
E sendo teu amado eu me apascento,
Vencendo cada medo, sem tormento
Eu bebo o sonho e tento a ti propor
Caminho mais sobejo feito em flor
Expondo o coração entregue ao vento.
Realizando o sonho mais suave,
Sem nada que perturbe nem agrave
Desvendo os teus encantos lentamente,
E assim ao ser deveras teu parceiro
O amor como se fosse um jardineiro
Cuidando com ternura, mansamente...
32127
Não vejo outro cenário senão este
Aonde tudo pode ser assim
O quanto deste amor existe em mim,
E nele com certeza tu venceste
No todo que deveras percebeste
Vencido pela angústia traz enfim
O brilho que procuro e tendo ao fim
Além do quanto ainda se reveste
A sorte abençoando cada passo
E todo o meu caminho agora eu traço
Sabendo deste cais feito em carícia,
Do quanto já sofri e não pudera
Ainda acreditar em primavera,
Não tenho e nem quero mais notícia...
32128
Uma alma em tez suave se permite
Vencer com calmaria e com bonança
E assim quando deveras já se lança
Não reconhece nada nem limite,
E tudo o que decerto se acredite
Transcende mesmo ao gozo da esperança
Semeia com ternura e temperança
Porquanto até o medo amor evite
Não quero outro cenário e sei do quanto
Amor em luz sublime diz do encanto
Que tanto procurara no passado,
E tendo o meu olhar em ti agora,
O todo prazeroso que se aflora
Traduz o dia há tanto desejado.
32129
Olhando claramente tal paisagem
Desvendo estes sinais mais venturosos
E sei destes caminhos prazerosos
Perfaço com ternura esta viagem,
E nada se traduz por vã miragem
Ainda que se possam desejosos
Mergulho nos anseios majestosos
E tenho em teu sorriso tal visagem.
Pudesse ser assim a vida inteira
Amar e nada além desta fronteira
Que tanto pode dar felicidade,
Não tendo qualquer coisa por temer,
Vencendo com brandura e com prazer,
Ignoro nesta senda qualquer grade.
31130
Perpassam-se terrores quando vejo
O quadro desenhado no passado,
Agora noutro tempo encaminhado
Ainda bebo a sorte em azulejo,
E tendo saciado este desejo
Seguindo com quem amo pareado,
Não posso desprezar este legado
E assim novo momento em paz prevejo,
Recebo com carinho cada frase
Porquanto tanto sonho não atrase
O passo que procuro rumo ao sonho,
E quando me percebo sonhador,
Entregue às variáveis de um amor,
Um tempo mais feliz inda componho...
32131
Não tento outra vida
Nem busco outro sonho
Se tanto reponho
História perdida
No quanto duvida
Quem pode e proponho
Um tempo risonho
Sorte distraída
Vencendo o temor
Ainda do amor
Querendo caminhos
Os dias doridos
Se tanto perdidos,
São sempre sozinhos...
32132
Um templo, a Natura
Que tanto pudesse
Ter sonhos em messe
E assim se perdura
Quem tanto procura
Um sonho em que tece
A vida obedece
Imensa brandura
E quando se quer
Sobeja beleza
Não quero ser presa
De um medo qualquer
E ter finalmente
O que me apascente.
32133
Com fé se tentando
Momento sobejo
Além do desejo
Deveras tomando
O sol inundando
Um mundo eu prevejo
Em claro azulejo
O tempo mudando
A sorte semeia
Sorrisos e cantos
E assim tais encantos
Na lua que é cheia
A vida renasce
Em serena face.
32134
E se arregimenta
Amor noutro tanto
Deveras o encanto
Não deixa a tormenta
A paz se apresenta
E molda meu canto,
Pudesse, entretanto
Enquanto se tenta
Saber do futuro
Que cedo procuro
Vencendo o meu medo,
A vida seria
Em paz e alegria,
Sem dor nem degredo.
32135
Em meu pensamento
Vivendo esta glória
A luz merencória
Jamais num momento
De tal sofrimento
Mudando esta história
Amarga memória
Não tendo provento
Saber serenata
A sorte se é grata
Traduz a alegria
E vejo sensato
Caminho cordato
Em tal fantasia...
32136
O amor não traduz
Apenas a sorte
E muda meu norte
Enquanto reluz
E sendo esta luz
Deveras bem forte,
Tanto me comporte
No fundo conduz
Ao mar de emoções
Aonde me expões
Momentos felizes,
Não quero levar
Além deste amar
Ledas cicatrizes.
32137
Pudesse vencer
Os medos e os riscos
Os dias ariscos
Sorvendo o prazer,
Enquanto o querer
Traçando obeliscos
Jamais em confiscos
Pudesse verter
O quanto se quer
Do amor que vier
E nele se erguendo
Um templo sobejo
Assim eu prevejo
Viver estupendo.
32138
Amar sem medidas
E ter a certeza
Da imensa nobreza
Tomando tais vidas,
Aonde sofridas
Deveras riqueza
E tanto se preza
Assim as feridas
Que ensinam viver
Nem sempre o prazer
Traduz a verdade
E a sinceridade
Bem mais se apresenta
Na dor, na tormenta.
32139
O quanto dizia
Da sorte quem tanto
Sabendo do espanto
Que gera a agonia
Toma a cercania
E quando em quebranto
O medo eu garanto
Também traça o dia
E quando se vê
Além do por que
Eu posso pensar
Na luz que se entrega
E mesmo alma cega
Aprendendo a amar...
32140
Não temo mais morte
Nem temo a alegria
No quanto porfia
Nos torna mais forte
E assim tal suporte
Tem a serventia
E traz garantia
Que quando comporte
A dor e a beleza
Vital correnteza
Na qual se recobre
Uma alma se eleva
No meio da treva
E resta mais nobre...
32141
Verdugo de mim mesmo, sem futuro
Não tenho mais saída embora tente
E quando me pensara mais contente
Apenas a verdade em tom escuro,
Pudesse adivinhar o que procuro
E ter noutro momento que apascente
O quanto desta vida em penitente
Caminho muito aquém, onde amarguro.
Eu quis e poderia acreditar
Num tempo mais feliz onde sonhar
Pudesse traduzir realidade,
Mas quando vejo assim o meu passado
E sinto que o terror foi meu legado
32142
Resumo de fatal encenação
O mundo se mostrara em tez dorida
Assim ao procurar uma saída
Nem sempre novos dias brilharão,
E vejo desta forma a dimensão
Desta tormenta há tanto decidida
E sendo quase fútil minha vida,
Ausente dos meus olhos o verão.
Resisto no posso acreditar
E tento novamente até lutar,
Embora saiba bem do quanto resta,
Somente vejo a luz em mera cena
E quando mesmo assim nada serena,
Do imenso que tentara, apenas fresta.
32143
Buscando pela vida, claridade
Jamais imaginei tanto terror
Vivendo sem saber o que é amor
Apenas o temor ainda invade
E nada do que possa eu mesmo agrade
Restando um peito amargo e sonhador,
Aonde se fizera agricultor
Cultivo se perdendo em tempestade.
Outrora resoluto, agora em nada
Apesar de sonhar, a madrugada
Transporta tão somente o pesadelo,
Momento mais feliz? Aonde existe?
Persisto um caminheiro sempre triste,
Amor; eu não consigo mais revê-lo...
32144
E sinto que o terror foi meu legado
Nas ânsias mais cruéis, cenário em treva
E quando o coração ao longe leva
A sorte se mostrando em vil enfado,
Nem mesma da esperança algum recado,
Apenas o vazio já se ceva
E quando imaginara quem se atreva
O risco de sonhar, abandonado.
Tentara ser feliz, quem sabe quanto...
E ainda quando eu teimo, o desencanto
Tomando o pensamento não permite
Que a sorte se aproxime, pois jamais
Pude lutar com tantos vendavais,
A vida ultrapassou qualquer limite...
32145
Cansado das derrotas nas pelejas,
Não pude e nem tentei outro caminho,
E sendo assim prossigo mais sozinho
Diverso do que tanto ainda almejas,
Recebo este terror e se trovejas
Não vês o quanto dói e sem carinho,
Perfaço a minha estrada e me avizinho
Da morte enquanto ao longe alma negrejas.
Servindo de alimária e de repasto
Assim quanto mais posso mais me afasto,
Mas tudo não traduz a liberdade,
Amar e ser apenas sonhador
Morrendo sem saber do bem do amor,
Porquanto bem mais alto o sonho brade...
32146
Dormindo pelas ruas da cidade
Sem ter qualquer provento, nada disto,
Ainda tão somente em vão persisto
Embora nada trague saciedade,
Vencido pelo quanto a claridade
Diverge do meu passo e não desisto,
E quando me revejo e assim me disto
Do amor que tantas vezes se degrade,
Não pude ter nas mãos além do nada,
E ao ver se perder sempre esta alvorada
Nas brumas costumeiras, vivo só,
Do quanto poderia ser intenso
A cada ausência tua me convenço,
Do amor que imaginei nem mesmo o pó...
32147
Nas pontes, velhas fontes, nas Igrejas
Qualquer lugar aonde descansar
Depois de tanto tempo relutar
Bebendo das estrelas mais andejas,
Searas entre luas sertanejas
E quanto mais distante do luar
Tentando novamente emoldurar
Meu mundo com as cenas mais sobejas
Não pude e nem talvez ainda possa
Aonde busco sorte vejo a fossa
E toda a realidade me maltrata,
A sorte nunca fora minha amiga
E quando a mesma dita desabriga
Percebo quanto a vida é vã e ingrata.
32148
Servindo de isca viva nas caçadas
O encanto que tentara em amor pleno
Agora se mostrando tal veneno
E dele novas rotas alteradas,
Pudesse desvendar em tais estadas
O quanto da alegria em vão aceno,
Mas tudo que pensara ser sereno
Não traz senão as dores em lufadas,
Vestindo o velho luto costumeiro
O amor que tanto quis ser verdadeiro
Falsário tão somente e nada mais,
E agora que me perco sem saída
Aonde se pudesse nova vida,
Se os dias em verdade são iguais?
32149
Jamais sobreviver, levantar prumo
E crer noutro momento feito em luz,
Se ao nada cada passo me conduz
Bebendo desta sorte amargo sumo,
Aos poucos com terrores me acostumo
E até quem sabe a fúria já seduz
O fardo de viver ao qual me opus
Trazendo sobre os olhos névoa e fumo.
Ainda poderia crer deveras
Que a vida não teria tantas feras
Nem mesmo aterradora face exposta
Acendo o meu cigarro e tiro um trago
O amor já se mostrara em tanto estrago
E a vida sem ter vida nem proposta...
32150
Adormecido em pedras e sarjetas
As horas não passavam de ilusão
E a cada novo tempo o mesmo não,
Assim como se fossem vis cometas,
E tanto quanto ainda me prometas
Não sabes das desgraças que virão
E tento descobrir sabendo em vão
Aonde com teus sonhos me arremetas.
Resisto ao mais sofrível dos caminhos,
E tanto posso ver somente espinhos
Assim nestas daninhas meu canteiro
Morrendo pouco a pouco sem cuidado,
O amor há tanto tempo maltratado
Agora num cenário derradeiro...
Repousa sobre as pedras o meu sonho
E bebe as tempestades corriqueiras
Quem teve na esperança tais bandeiras
Ao ver este momento atroz, medonho
Percebe quanto o gozo se enfadonho
Não deixa nem sequer velhas fronteiras
Palavras são deveras traiçoeiras
E nelas com terror me decomponho,
Perdido em noite insana vejo a sombra
Do quanto do passado ainda assombra
Quem busca a liberdade e sem receio
Há tempos mergulhara no vazio
E quando novo intento desafio,
O olhar procura a paz, mas segue alheio...
32102
Nas orlas destes mares caprichosos
Dos sonhos entre festas e terrores
Procuro mesmo quando tu te fores
Ainda novos tempos, majestosos,
Risonho caminheiro em andrajosos
Sabendo dos terríveis dissabores
Bebendo destes ritos tentadores
Encontra mais distante os prazerosos
Momentos onde pode acreditar
Na senda mais diversa a se mostrar
Desnuda realidade se apresenta
E toda a sorte perde a direção
Enquanto a vida trama em negação
O quanto dela sei vital tormenta...
32103
Perfumes tanto tenros quanto atrozes
Adentram minha sala e em tais aromas
Ainda que distante tu me domas
Ouvindo vivos sons, intensas vozes,
Os sonhos são deveras meus algozes,
E neles quando enfim nas mãos me tomas
Os corpos entrelaçam e se assomas
Desvendas destes ritos novas fozes.
Espelhos de nós mesmos entranhados
Vivemos com horror os malfadados
Caminhos entre pedras sem destino,
E tanto poderia ser diverso,
Mas quando sobre ti ainda verso
No todo que se mostra me alucino...
32104
Pudesse ainda ouvir a cantoria
Dos pássaros distantes e não tendo
Sequer outro momento não desvendo
Ainda o que pudesse fantasia.
Assim a realidade distorcia
O quanto se pensara em estupendo
E agora noutro tanto não desvendo
Somente o mundo trama em heresia
O corte se aprofunda e nada resta
E vejo a cena amarga e mais funesta
Transido como fosse entorpecido
Apenas restará da minha senda
A sorte que deveras não atenda
Tornando o dia a dia sem sentido...
32105
Delicada figura entristecida
Deitada sobre a cama em cena amarga,
O quanto do prazer a vida larga
E deixa noutra senda esvaecida,
A sorte quando dita a despedida,
A voz de quem sonhara já se embarga,
Não posso mais viver o sonho à larga
E tento renovar a minha vida.
Mas como se te vendo desta forma
A morte com terror jamais conforma
Quem sabe quanto tempo foi feliz,
E tudo não passara de ilusão
Ouvindo novamente este senão,
Cenário que enlouquece me desdiz...
32106
Ao menos poderia ter a chance
De ver se renovar caminho enquanto
Apenas desvendando o desencanto
A sorte noutro tanto já se lance
E quando ainda em mim o sonho avance
E gere com terror e enfim me espanto
Ao tempo que virá eu me adianto
E tento novo rumo num nuance.
Perdido e sem saber da solução
Que ainda poderia, sigo em vão
E não conheço além das pedras e urzes,
Quisera pelo menos num segundo
Viver rara beleza em céu profundo,
E ter a sensação das belas luzes.
32107
Seu sonho faz sonhar quem tanto busca
Vencer os temporais com mansidão,
E quanto mais os dias mostrarão
A noite noutra senda sempre brusca
A sorte que deveras nos ofusca
E teima contra toda a direção
Naufraga a mais sublime embarcação
Tornando a minha vida opaca e fusca.
Resiste dentro em mim esta esperança
E quando ao mais profundo mar avança
A senda se proclama mais sublime
E tendo quem decerto me deseje
Porquanto noutro tanto já se almeje
Em ti o que se quer e mais se estime...
32108
Na boca tão pequena e sedutora
Em vivo carmesim, delírios traço,
E quando sigo o sonho passo a passo
Diverso do que ainda em trevas fora,
Percebo imagem clara e tentadora
E bebo cada gole quando faço
Do mundo a realidade em cada espaço
Traçando com minha alma sonhadora.
Vencer as mais diversas ilusões
E ter a cada instante as emoções
Nas quais e pelas quais a vida dita
A sorte mais feliz de quem se vê
No amor e não pergunta nem por que
Apenas usufrui sorte bendita...
32109
O quanto faz sonhar teu belo rosto,
E tanto posso até saber divino
O amor no qual decerto eu me fascino
E sigo o coração agora exposto,
Vivendo sem saber de pressuposto
Momento aonde em trevas não domino,
Ainda sem dar tréguas meu destino
Deveras noutro tanto fora posto
E agora ao perceber esta bendita
E rara maravilha uma alma grita
E bebe esta seara abençoada,
Não deixe que se perca e nem desvie
Quem tanto com ternura desafie
A sorte noutra cena, degradada...
32110
São pétalas de sol que beijam face
Daquela a quem me faço amante e amigo
O amor que tantas vezes mais persigo
No quanto em alegria agora trace
O mundo sem temor, ainda passe
Vivenciando em ti querido abrigo
E vendo mais distante algum perigo,
Sem nada que devore ou inda embace
Persisto nesta bela caminhada
E sei da redenção de uma alvorada
Traçada com ternura e fantasia,
No amor que tanto quero e já me dou,
Vivendo cada dia que restou
A vida desta forma se recria...
32111
Eu quero falar
Dos sonhos felizes
Que tanto desdizes
Negando o luar
Pudesse encontrar
Embora em tais crises
Diversos deslizes
Sem nada a mostrar
A tal redenção
Melhor direção
E quando se vê
A vida sem nexo
Apenas reflexo
Do amor sem por que.
32112
Perdido caminho
Sem rumo, vagando
E sei mesmo quando
Percorro sozinho
E quando me aninho
No mundo cevando
O tempo mostrando
Embora vizinho
Do medo que trago
Viver sem afago
Não quero jamais
E tanto pudesse
Ainda a benesse
Sem ver temporais...
32113
Pudesse vencer
O amor sem promessa
E tanto sem pressa
Conter o prazer
Do quanto viver
Enquanto começa
A sorte se expressa
No teu bem querer
Gerando a saudade
Amor na verdade
Maltrata e conduz,
Diversa certeza
Vital correnteza
Que é feita de luz.
32114
Servindo a quem ama
A sorte promete
E quando arremete
Profusa tal chama
Não quero mais drama
Tampouco o confete
Amor nada vete
E viva esta trama
Que quando mergulha
Na fonte mais clara
Deveras declara
E tanto se orgulha
Da sorte bendita
Na qual acredita.
32115
Eu quero o carinho
De quem se fez tanto
Além de um encanto
Amor sendo o ninho
Vencendo o caminho
Que possa portanto
Gerar desencanto
Enquanto me aninho
No quanto se deu
Amor sendo meu
Também te entorpece
E assim noutra face
A sorte que grasse
Entoa tal prece.
32116
A vida e o punhal
A faca e o tormento
E quando apascento
Momento final
Subindo o degrau
Estrelas invento
E bebo este alento
Amor sendo a nau
Num porto seguro
O quanto procuro
Transcende à verdade
E tanto podia
Em noite que é fria
Dizer da saudade...
32117
Ainda a montanha
Distante do olhar
Na fonte a brilhar
A lua se entranha
E bebe esta sanha
Sedento vagar
Querendo encontrar
Quem tanto acompanha
Seara divina
E quando domina
A sorte não nega,
Assim a palavra
Traduz esta lavra
E nunca sonega.
32118
Tamanha verdade
Ditando a seara
Aonde se aclara
Amor que me invade
Sem ter qualquer grade
Vencendo me ampara
E traz sem escara
Vital qualidade
Vencido o terror
Expressa na flor
Além deste espinho,
E quando mergulho
Sem ter pedregulho
De Deus me avizinho.
32119
Sonhando com luzes
Vencendo os meus medos
Desvendo os segredos
Aonde conduzes
E tanto seduzes
Deveras degredos
Porquanto os enredos
No quanto reluzes,
E beijo teus lábios
Os dias são sábios
No encanto que trazes
A vida diz fases
Diversas, mas creio
No amor sem receio.
32120
Peçonhas diversas
Terrores sutis,
Amor contradiz
E quanto tu versas
As luzes dispersas
Unidas, feliz
Quem tanto mais quis
Nas ondas imersas
As tantas searas
Que agora declaras
E moldas em paz,
Assim sendo a vida
No amor se cumprida
Mais amores traz.
32121
O sol a prumo toma este cenário
E vejo reluzindo em teu olhar
Neste horizonte raro a me tomar
O quanto tanto amor é necessário,
Vencer a solidão, vago corsário
Depois de muitos anos navegar
E sinto tanto brilho a nos tocar
Fazendo deste sonho imaginário
Encanto sem igual e sendo assim,
Enquanto a tarde invade tudo em mim
Eu vejo mais possível ser feliz,
Apraza-me entender cada segundo
E desta claridade ora me inundo
Vivendo tudo aquilo que mais quis...
32122
Ondeia sobre os vastos milharais
O vento num instante mavioso
E sinto quanto posso prazeroso
Viver momentos raros, triunfais,
Assim bebendo sempre quero mais
Do tanto que pudesse em fabuloso
Caminho aonde outrora um andrajoso
Vencido pelas ânsias desiguais
Agora se percebe vencedor
E tenta novamente em cada cor
Singrar este oceano em louros feito,
Assisto ao mais sublime dos anseios
E sigo sem temor diversos veios
No amor que agora sei ser meu direito.
32123
Em fulvas maravilhas teus cabelos
Tocando a minha pele, me envolvendo
E assim cada momento se tecendo
Deixando para trás os pesadelos,
E quando mais percebo ao recebê-los
O tempo dita em glória o dividendo
No qual se fez feliz este estupendo
Mergulho entre tantos raros zelos,
Assídua fantasia toma a cena
E quando a realidade em paz serena
Eu tento desvendar cada mistério
Do amor que em tanto amor se fez mais claro
E o gozo mais profundo eu te declaro
No encanto sem temor e sem critério...
32124
Andando pelos ares pensamentos
Vencendo estas distâncias nada teme
E quando a realidade perde o leme
Meu barco solto assim em mansos ventos
Deixando adormecidos sofrimentos,
Sem ter sequer a dor que ainda algeme
No quanto a fantasia dita o creme
Da vida em mais sobejos, bons proventos,
Resisto aos meus anseios costumeiros
E tento desvendar os traiçoeiros
Temores que inda restam sobre nós,
Até que vença sempre as corredeiras
E amando sem pudor, ledas fronteiras
Encontro finalmente em ti a foz.
32125
As flores dominando este canteiro
A primavera expressa em cores tantas
E quando com ternura tu me encantas
O mundo se mostrando verdadeiro
Caminho aonde tendo o mensageiro
Das luzes entre várias não espantas
E ainda com fulgor mais agigantas
No amor que se fez tanto este luzeiro,
Seguindo cada passo rumo à luz
Falena enamorada reproduz
No sonho cada gozo mais feliz,
E tento desvendar cada segredo
E quando ao farto encanto eu me concedo
Encontro o que deveras sempre quis...
32126
Tranqüilidade toma este momento
E nada mais do quanto fora em dor
Agora noutro tanto a se compor
E sendo teu amado eu me apascento,
Vencendo cada medo, sem tormento
Eu bebo o sonho e tento a ti propor
Caminho mais sobejo feito em flor
Expondo o coração entregue ao vento.
Realizando o sonho mais suave,
Sem nada que perturbe nem agrave
Desvendo os teus encantos lentamente,
E assim ao ser deveras teu parceiro
O amor como se fosse um jardineiro
Cuidando com ternura, mansamente...
32127
Não vejo outro cenário senão este
Aonde tudo pode ser assim
O quanto deste amor existe em mim,
E nele com certeza tu venceste
No todo que deveras percebeste
Vencido pela angústia traz enfim
O brilho que procuro e tendo ao fim
Além do quanto ainda se reveste
A sorte abençoando cada passo
E todo o meu caminho agora eu traço
Sabendo deste cais feito em carícia,
Do quanto já sofri e não pudera
Ainda acreditar em primavera,
Não tenho e nem quero mais notícia...
32128
Uma alma em tez suave se permite
Vencer com calmaria e com bonança
E assim quando deveras já se lança
Não reconhece nada nem limite,
E tudo o que decerto se acredite
Transcende mesmo ao gozo da esperança
Semeia com ternura e temperança
Porquanto até o medo amor evite
Não quero outro cenário e sei do quanto
Amor em luz sublime diz do encanto
Que tanto procurara no passado,
E tendo o meu olhar em ti agora,
O todo prazeroso que se aflora
Traduz o dia há tanto desejado.
32129
Olhando claramente tal paisagem
Desvendo estes sinais mais venturosos
E sei destes caminhos prazerosos
Perfaço com ternura esta viagem,
E nada se traduz por vã miragem
Ainda que se possam desejosos
Mergulho nos anseios majestosos
E tenho em teu sorriso tal visagem.
Pudesse ser assim a vida inteira
Amar e nada além desta fronteira
Que tanto pode dar felicidade,
Não tendo qualquer coisa por temer,
Vencendo com brandura e com prazer,
Ignoro nesta senda qualquer grade.
31130
Perpassam-se terrores quando vejo
O quadro desenhado no passado,
Agora noutro tempo encaminhado
Ainda bebo a sorte em azulejo,
E tendo saciado este desejo
Seguindo com quem amo pareado,
Não posso desprezar este legado
E assim novo momento em paz prevejo,
Recebo com carinho cada frase
Porquanto tanto sonho não atrase
O passo que procuro rumo ao sonho,
E quando me percebo sonhador,
Entregue às variáveis de um amor,
Um tempo mais feliz inda componho...
32131
Não tento outra vida
Nem busco outro sonho
Se tanto reponho
História perdida
No quanto duvida
Quem pode e proponho
Um tempo risonho
Sorte distraída
Vencendo o temor
Ainda do amor
Querendo caminhos
Os dias doridos
Se tanto perdidos,
São sempre sozinhos...
32132
Um templo, a Natura
Que tanto pudesse
Ter sonhos em messe
E assim se perdura
Quem tanto procura
Um sonho em que tece
A vida obedece
Imensa brandura
E quando se quer
Sobeja beleza
Não quero ser presa
De um medo qualquer
E ter finalmente
O que me apascente.
32133
Com fé se tentando
Momento sobejo
Além do desejo
Deveras tomando
O sol inundando
Um mundo eu prevejo
Em claro azulejo
O tempo mudando
A sorte semeia
Sorrisos e cantos
E assim tais encantos
Na lua que é cheia
A vida renasce
Em serena face.
32134
E se arregimenta
Amor noutro tanto
Deveras o encanto
Não deixa a tormenta
A paz se apresenta
E molda meu canto,
Pudesse, entretanto
Enquanto se tenta
Saber do futuro
Que cedo procuro
Vencendo o meu medo,
A vida seria
Em paz e alegria,
Sem dor nem degredo.
32135
Em meu pensamento
Vivendo esta glória
A luz merencória
Jamais num momento
De tal sofrimento
Mudando esta história
Amarga memória
Não tendo provento
Saber serenata
A sorte se é grata
Traduz a alegria
E vejo sensato
Caminho cordato
Em tal fantasia...
32136
O amor não traduz
Apenas a sorte
E muda meu norte
Enquanto reluz
E sendo esta luz
Deveras bem forte,
Tanto me comporte
No fundo conduz
Ao mar de emoções
Aonde me expões
Momentos felizes,
Não quero levar
Além deste amar
Ledas cicatrizes.
32137
Pudesse vencer
Os medos e os riscos
Os dias ariscos
Sorvendo o prazer,
Enquanto o querer
Traçando obeliscos
Jamais em confiscos
Pudesse verter
O quanto se quer
Do amor que vier
E nele se erguendo
Um templo sobejo
Assim eu prevejo
Viver estupendo.
32138
Amar sem medidas
E ter a certeza
Da imensa nobreza
Tomando tais vidas,
Aonde sofridas
Deveras riqueza
E tanto se preza
Assim as feridas
Que ensinam viver
Nem sempre o prazer
Traduz a verdade
E a sinceridade
Bem mais se apresenta
Na dor, na tormenta.
32139
O quanto dizia
Da sorte quem tanto
Sabendo do espanto
Que gera a agonia
Toma a cercania
E quando em quebranto
O medo eu garanto
Também traça o dia
E quando se vê
Além do por que
Eu posso pensar
Na luz que se entrega
E mesmo alma cega
Aprendendo a amar...
32140
Não temo mais morte
Nem temo a alegria
No quanto porfia
Nos torna mais forte
E assim tal suporte
Tem a serventia
E traz garantia
Que quando comporte
A dor e a beleza
Vital correnteza
Na qual se recobre
Uma alma se eleva
No meio da treva
E resta mais nobre...
32141
Verdugo de mim mesmo, sem futuro
Não tenho mais saída embora tente
E quando me pensara mais contente
Apenas a verdade em tom escuro,
Pudesse adivinhar o que procuro
E ter noutro momento que apascente
O quanto desta vida em penitente
Caminho muito aquém, onde amarguro.
Eu quis e poderia acreditar
Num tempo mais feliz onde sonhar
Pudesse traduzir realidade,
Mas quando vejo assim o meu passado
E sinto que o terror foi meu legado
32142
Resumo de fatal encenação
O mundo se mostrara em tez dorida
Assim ao procurar uma saída
Nem sempre novos dias brilharão,
E vejo desta forma a dimensão
Desta tormenta há tanto decidida
E sendo quase fútil minha vida,
Ausente dos meus olhos o verão.
Resisto no posso acreditar
E tento novamente até lutar,
Embora saiba bem do quanto resta,
Somente vejo a luz em mera cena
E quando mesmo assim nada serena,
Do imenso que tentara, apenas fresta.
32143
Buscando pela vida, claridade
Jamais imaginei tanto terror
Vivendo sem saber o que é amor
Apenas o temor ainda invade
E nada do que possa eu mesmo agrade
Restando um peito amargo e sonhador,
Aonde se fizera agricultor
Cultivo se perdendo em tempestade.
Outrora resoluto, agora em nada
Apesar de sonhar, a madrugada
Transporta tão somente o pesadelo,
Momento mais feliz? Aonde existe?
Persisto um caminheiro sempre triste,
Amor; eu não consigo mais revê-lo...
32144
E sinto que o terror foi meu legado
Nas ânsias mais cruéis, cenário em treva
E quando o coração ao longe leva
A sorte se mostrando em vil enfado,
Nem mesma da esperança algum recado,
Apenas o vazio já se ceva
E quando imaginara quem se atreva
O risco de sonhar, abandonado.
Tentara ser feliz, quem sabe quanto...
E ainda quando eu teimo, o desencanto
Tomando o pensamento não permite
Que a sorte se aproxime, pois jamais
Pude lutar com tantos vendavais,
A vida ultrapassou qualquer limite...
32145
Cansado das derrotas nas pelejas,
Não pude e nem tentei outro caminho,
E sendo assim prossigo mais sozinho
Diverso do que tanto ainda almejas,
Recebo este terror e se trovejas
Não vês o quanto dói e sem carinho,
Perfaço a minha estrada e me avizinho
Da morte enquanto ao longe alma negrejas.
Servindo de alimária e de repasto
Assim quanto mais posso mais me afasto,
Mas tudo não traduz a liberdade,
Amar e ser apenas sonhador
Morrendo sem saber do bem do amor,
Porquanto bem mais alto o sonho brade...
32146
Dormindo pelas ruas da cidade
Sem ter qualquer provento, nada disto,
Ainda tão somente em vão persisto
Embora nada trague saciedade,
Vencido pelo quanto a claridade
Diverge do meu passo e não desisto,
E quando me revejo e assim me disto
Do amor que tantas vezes se degrade,
Não pude ter nas mãos além do nada,
E ao ver se perder sempre esta alvorada
Nas brumas costumeiras, vivo só,
Do quanto poderia ser intenso
A cada ausência tua me convenço,
Do amor que imaginei nem mesmo o pó...
32147
Nas pontes, velhas fontes, nas Igrejas
Qualquer lugar aonde descansar
Depois de tanto tempo relutar
Bebendo das estrelas mais andejas,
Searas entre luas sertanejas
E quanto mais distante do luar
Tentando novamente emoldurar
Meu mundo com as cenas mais sobejas
Não pude e nem talvez ainda possa
Aonde busco sorte vejo a fossa
E toda a realidade me maltrata,
A sorte nunca fora minha amiga
E quando a mesma dita desabriga
Percebo quanto a vida é vã e ingrata.
32148
Servindo de isca viva nas caçadas
O encanto que tentara em amor pleno
Agora se mostrando tal veneno
E dele novas rotas alteradas,
Pudesse desvendar em tais estadas
O quanto da alegria em vão aceno,
Mas tudo que pensara ser sereno
Não traz senão as dores em lufadas,
Vestindo o velho luto costumeiro
O amor que tanto quis ser verdadeiro
Falsário tão somente e nada mais,
E agora que me perco sem saída
Aonde se pudesse nova vida,
Se os dias em verdade são iguais?
32149
Jamais sobreviver, levantar prumo
E crer noutro momento feito em luz,
Se ao nada cada passo me conduz
Bebendo desta sorte amargo sumo,
Aos poucos com terrores me acostumo
E até quem sabe a fúria já seduz
O fardo de viver ao qual me opus
Trazendo sobre os olhos névoa e fumo.
Ainda poderia crer deveras
Que a vida não teria tantas feras
Nem mesmo aterradora face exposta
Acendo o meu cigarro e tiro um trago
O amor já se mostrara em tanto estrago
E a vida sem ter vida nem proposta...
32150
Adormecido em pedras e sarjetas
As horas não passavam de ilusão
E a cada novo tempo o mesmo não,
Assim como se fossem vis cometas,
E tanto quanto ainda me prometas
Não sabes das desgraças que virão
E tento descobrir sabendo em vão
Aonde com teus sonhos me arremetas.
Resisto ao mais sofrível dos caminhos,
E tanto posso ver somente espinhos
Assim nestas daninhas meu canteiro
Morrendo pouco a pouco sem cuidado,
O amor há tanto tempo maltratado
Agora num cenário derradeiro...
32051até 32100
32051
Tua ausência, ledo mal
Que preciso compreender
Minha vida em desprazer
Tanta dor por ritual
Rio perde seu caudal
Nada mais posso fazer
Perseguindo o que eu quis ser
Vago imenso e vão astral
Tendo em mim esta certeza
De que amor possa mudar
Cada coisa em seu lugar,
Mas se tento com destreza
Ter a estrela junto a mim,
Ver felicidade enfim.
32052
Quanto tanto não errasse
Quem caminha sem sentido
O meu mundo agradecido
Não teria tal impasse,
Quando a sorte se desgrace
Quando o tempo é dividido
Se deveras eu agrido
Ao renegar a outra face
Se; entretanto, tu vieste
Ao mudar caminho e veste
Nova senda se faria
E decerto em flores belas
Quando amor, amor revelas
Renovaste enfim meu dia...
32053
Tu levaste junto a ti
O que houvera dentro em mim,
A minha alma segue assim
Cada rastro que perdi,
Vejo quando estás aqui
A beleza que é sem fim,
Mas se turvo o meu jardim,
Desta sorte me esqueci.
Ao buscar cada momento
Nos teus braços meu alento
Eu encontro a solidão.
Mas a vida traiçoeira
Sonho um dia em que ela queira
Renovar a direção.
32054
Providencialmente veio
Quem se fez amada amante
E se tanto deslumbrante
A alegria de permeio
Vou vagando sem receio
O meu passo mais constante
Rumo ao mundo fascinante
Que deveras eu anseio,
Sendo assim a minha vida
Noutra vida resolvida
Nada deixo para trás
Todo encanto diz da festa
Quando o amor, amor empresta
Mais amor, amor refaz.
32055
Transformado em teu somente
Busco assim nova seara
E se amor é quem me ampara
E também provê semente,
Nem o sonho se desmente
Nem a vida em dor notara
Outro tempo semeara
E deveras sendo urgente
Caminhar contra tal vento
É decerto ter o alento
E saber feliz, pois quando
Bebo a sorte promissora
Muito além do que já fora
Nova vida se mostrando...
32056
Maltratado caminheiro
Andarilho maltrapilho
Quando os céus inda palmilho
Procurando o verdadeiro
Navegando o corriqueiro
Entre estrelas, farto brilho
Tanto amor assim polvilho
E me entrego, vou inteiro.
Nada resta do passado
Nem tampouco degradado
Caminhar se faz presente,
Sendo assim um novo sol
Dominando este arrebol
O meu peito em paz pressente...
32057
Só em teus cuidados tenho
O que tanto procurava
Enfrentando gelo e lava
Com ternura em raro empenho,
E se ainda cedo venho
Encontrar quem tanto amava,
Nada resta desta escrava
Solidão, terrível cenho,
E desdenho desde agora
Toda a dor aonde ancora
Barco frágil, sem timão,
E meu mundo sem te ter
Desairoso e sem prazer
Eu percebo enfim ser vão.
32058
Ao provir de quem se quer
A palavra que me acalma
Adentrando assim minha alma
A presença da mulher
Seja como Deus quiser
Nunca mais quero este trauma
E vivendo em plena calma
Toda a sorte que viver
Traduzindo esta alegria
Renovada a todo instante
Novo encanto se adiante
E quem tanto saberia
Semear com emoção
Colhe rara floração.
32059
A minha alma que eu trouxera
Em momentos mais cruéis
Ao saber dos mansos méis
Bem distante desta fera,
Noutra senda se tempera
E distante de outros féis,
Quer da sorte seus papéis
E deveras regenera,
Vivo até por ter enfim
Todo amor que sei em mim
Rebrilhando em lua imensa,
Ao saber quem tanto quis
Eu decerto sou feliz,
No que tanto amor convença...
32060
Quando moras nesta estrela
Noite imensa constelada,
Ao tentar minha morada
Procurando sempre vê-la
Com ternura recebê-la
E viver formosa estada
Ao seguir a clara estrada
Posso, enfim, sempre revê-la
E revelas quanto o amor
Pode ser o redentor
De quem vive solitário,
Noite clara sem tempestas
Em meus dias plenas festas,
Neste sonho imaginário.
32061
Quando cego eu vou sem guia
E perdido em temporais
Tento ouvir velhos sinais,
Mas amor já não queria
E vencido em noite esguia
Morto o sonho, nada mais
Refletindo este jamais
Onde a sorte tentaria
Vejo apenas o retrato
Do que fora outrora fato
Desacato agora trama,
E o meu mundo sem sentido
Tantas vezes desvalido
Tenta acesa a leda chama...
32062
Companhia desejada
Lua em noite escura e tensa
Ao poder rever a imensa
Deusa em plena madrugada
A minha alma desgraçada
Novamente se compensa
E procura ser intensa
Onde outrora fora nada,
Risca os céus um meteoro
E se tanto amor imploro
Eu também risco o meu eu
Mas a noite é traiçoeira
Lua clara, a companheira
Entre nuvens se escondeu.
32063
Ao pisar onde pisaste
E tentar sentir ainda
A presença rara e linda,
Com certeza este contraste
Transformando a dor em haste
E mostrando quanto infinda
A loucura que deslinda
Todo amor que me legaste,
Mas no fundo solidão
Bebe as fontes e o verão
Nunca mais eu conheci,
Sendo assim nada se vendo
Deste céu mais estupendo
Nada resta, pois sem ti.
32064
Ao seguir querido bem
Outra senda mais diversa
A minha alma leda versa
Procurando por alguém
Quando a noite ao longe vem
E se vê na bruma imersa
A minha alma se dispersa
E decerto não contém
Nem resquícios deste sonho,
Mesmo quando inda componho
Um momento mais feliz,
Sendo a vida um só momento,
Sendo inútil sofrimento,
Todo o tempo me desdiz...
32065
Uma estrela bela e forte
Dominando todo o céu
Quando amor dita o corcel
Esperança traça o norte,
Mas deveras sem a sorte
Que se foi restando o fel,
Nada tendo deste véu
Nem o sonho que conforte,
Risco a imensa solidão
E talvez ainda possa
Crer na sorte sendo nossa,
Mas percebo a negação
E caminho em noite clara
Sem ter nada que me ampara...
32066
A alma frágil sem sentido
De quem tanto quis a luz
E se ainda se conduz
Ao vazio, desvalido,
Resta em mim apodrecido
Onde quero e não reluz,
O meu mundo em contraluz
Navegando enfim perdido,
Nada tenho e sem saber
Se decerto eu posso ter
Qualquer sorte mais diversa,
A palavra apenas doma
O que a vida vem e toma,
E o caminho se dispersa...
32067
Eu teria em teus caminhos
Algo a mais do que contenho
E se ainda tanto empenho
Permanecem mais sozinhos
Onde outrora quis os ninhos,
Hoje o mundo que inda tenho
Contra todo desempenho
Trama a dor e ceva espinhos,
Resta ao longe no horizonte,
Sem ter nada que inda aponte
O luar triste e sombrio,
Eu de tanto acreditar
Redenção deste luar,
Ao senti-lo me esvazio...
32068
Onde tanto se revela
A emoção de ter alguém
Todo o sonho já contem
A beleza que diz dela,
E se tanto assim é bela
Prosseguindo muito além
Não concebo algum desdém
Onde a sorte enfim se sela.
Ter nas mãos o meu futuro
Ter o todo que procuro
Num momento mais feliz,
E deveras sendo assim
Todo o amor que existe em mim
Traduzindo o que eu bem quis.
32069
Olho com olhar de quem
Sabe bem o que virá
E se tento desde já
Na esperança de outro bem,
Toda a vida vê também
E decerto moldará
O que tanto brilhará,
Quando o sonho sempre tem
Olhos tantos no horizonte
E sabendo desta fonte
Dos amores a nascente
Vendo em volta cada brilho
Entre tantos que andarilho
Coração deveras sente...
32070
Ao tomar meu pensamento
Nada além de um grande amor,
Com seu ar revelador
Doma todo sofrimento
E se tanto ainda tento
Cada passo recompor
Na certeza do que for,
Eu pressinto este momento
Feito em luz e em claridade
Neste todo que me invade
Declarando a intensa luz
Pela qual a fantasia
Adentrando a poesia,
Com ternura e paz conduz...
32071
Para saber do que posso
Ao sentir as tantas farsas
Mesmo quando mal disfarças
Não percebes e eu endosso
O que tanto fora nosso
Entre flores, sendas, garças
Hoje são cenas esparsas
Neste tanto em que me aposso
Do vazio em trevas, morte
E se ainda tento a sorte
Nada vem, somente o cardo,
Ao viver não saberia
Quanto viva esta agonia
Refletindo em cada fardo.
32072
Usurpando assim o trono
Deste ser inatingível
Onde fora mais plausível
Demonstrando em abandono,
O que tanto diz do dono
Ente torpe ou infalível
E se ainda se fez crível
Não teria meu abono,
Morto o ser que se fez vil,
E nascendo o que se viu
Entre farpas e espinheiro,
Ao sabê-lo tão suave,
Adentro em sua nave,
Rendo glória ao carpinteiro.
32073
Impiedoso criador
Com as garras de uma harpia
Ao traçar nova sangria
Sendo assim o vingador,
Proferindo em voz e dor,
O que tanto poderia
Ser diverso em alegria,
Causa apenas o temor,
Nada resta deste ser
Que deveras sem prazer
É medonho e caricato,
Noutra face mais gentil,
Outro ser o amor reviu,
Neste sim eu me retrato.
32074
Desabando sobre os fracos
Destroçando quem por certo
Ao viver pleno deserto,
Entregando em frágeis nacos,
Ouço a voz deste venal
Sangrador de gado farto,
E se tanto assim me aparto
Busco em paz e amor a nau
Que permita um manso porto,
E não quero a tempestade,
Em nome da autoridade
Todo sonho já foi morto,
Mas se vê torpe boçal
Entranhando no abissal.
32075
Ao render-se à lucidez
O demônio Jeová
Tantas vezes morderá
Com total insensatez
Se este amor libertará
Bem diverso do que vês,
Este fardo se desfez
Quando Deus se notará
Pacifista e sonhador,
Num derrame em raro amor,
Ensinando com brandura,
Quanto ao velho em prejuízo
Sem direito ao Paraíso,
Tão temível caradura...
32076
Como vive da doença
Qualquer médico, a verdade
O pecado e iniqüidade
Para quem nisto tem crença
Sustentando quem convença
Desta torpe realidade,
Se o perdão é novidade
Treva ainda é tosca e imensa,
No chicote de Satã
Ou vergastas de teu deus,
A figura é sempre vã
E se ainda sem contraste
Outros tantos erros meus
Tu, senhor, pois, provocaste.
32077
Arrancando o coração
Deste peito ensangüentado
Alimenta-me o pecado,
E não vejo mais perdão,
Onde houvera solução
O teu deus aposentado
Hoje vive desgraçado
Sem amor, sem direção,
A mortalha que reveste
Traz nos olhos o veneno
Se o quisera mais sereno,
O terror maior investe
E arrebenta quem se fez
Em total estupidez.
32078
Saciando a sua fome
De carniça ou carne crua,
A mordaça continua
E se tanto já se dome
Quem procura, logo some
E a palavra nunca nua
Bem diversa sempre atua
E a carcaça ainda come.
Morte ao deus tão vingativo,
Que em verdade não vi vivo
E se tanto poderia
Ser o pai sendo perverso
Como fez este universo?
Tudo é mera fantasia.
32079
Se eu desdenho o caricato
Neste trono em pedrarias
Onde mortas fantasias
Na verdade diz maltrato,
Nega a sede do regato
Nega a fonte em que terias
Outras luzes, belos dias,
Não seria o desacato.
Mas ainda queres isto,
E se tanto eu já desisto
Não ateu, mas me perdoa
Este deus que tu me deste
Travestido em fúria e peste
Do que eu amo enfim destoa.
32080
Deste ser entronizado
Onde tanto poderia
Renascer em alegria
Cobra caro este pecado,
O seu mundo vão legado
Morre em tanta sacristia
O perdão já se vendia
Com um juro redobrado,
Sendo assim melhor o inferno,
E se ainda eu já interno
Num cenário de prazer,
Quero ter este sorriso,
Pois pra mim o Paraíso
Com brandura eu quero crer...
32081
Eu agradeço ao Pai, o verdadeiro
E não aquele velho entronizado
O rei se alimentando do pecado
Matando desde sempre o carpinteiro
E quando deste PAI/IRMÃO me inteiro
Eu tento conceber do Seu legado
Momento com certeza abençoado,
E quero tê-lo sempre, o companheiro.
Eu agradeço assim cada lição
De liberdade amor, sonho e perdão
E tanto quanto posso tento ter
Em ti espelho e guia que me leva
Além de toda dor, temor e treva
Felicidade em forma de prazer...
32082
Pudesse em braços firmes, piedosos
Seguir cada momento em luz e glória
Sabendo ser difícil tal vitória
Já que os meus sentimentos caprichosos,
Eu sinto em ti, meu pai, maravilhosos
Caminhos que mudando minha história
Diversos do que possa uma vanglória
Trazer momentos raros, majestosos.
E quando me inteirando de teu ser
Eu pude conhecer o bel prazer
De amar sem ter medidas, nem perguntas,
Irmãos de irmãos cantando em sintonia
Um novo mundo feito em alegria
Com almas que caminhem sempre juntas.
32083
Permita a lucidez em cada verso
Falando deste tanto que descubro
E mesmo quando o olhar se fez mais rubro
Eu sei quanto é preciso este universo
Da morte, do nascer estando imerso
No todo, cada fase não encubro
E quando de esperanças me recubro
Eu tento amor imenso e sempre verso
Usando da palavra meu cinzel
Tentando desvendar caminho e céu
No imenso carrossel chamado vida,
E posso te falar, pai tão sincero
Do quanto amor em ti bem mais eu quero
Sabendo em teus caminhos, a saída...
32084
Não quero ter no olhar a fúria imensa
Dos vândalos fantoches do passado,
Senhores do perdão e do pecado,
Cobrando com tal ágio a recompensa
E nada do que ainda me convença
Permite este terror já desvendado
E sendo companheiro deste amado
Irmão em cuja vida esta alma pensa,
Já não mais vejo as chagas nem torturas,
Somente com amor, perdão, ternuras
Palavra que consola e que redime,
Não guardo dentro em mim a torpe imagem
Daquele cuja vida foi mensagem,
Embora se cultue mais o crime...
32085
Não quero bendizer o sofrimento,
Pois nele não se vê o meu senhor,
E quando a vida traz o desamor
O fardo não garante algum provento
Apenas da esperança me alimento
E tenho com certeza este sabor
Que é feito deste ser que é redentor,
E não do mais atroz em desalento.
Não quero ter assim justificada
A morte pela morte, sem que nada
Ainda se permita acreditar,
Eu vejo renovável, necessária
E não como uma cena temerária,
Morrer é sempre o novo em paz amar.
32086
Não vejo ser remédio quem traz brilho
E ser além do amor, eternamente
Quem tanto nos ensina não se ausente
Sequer de qualquer passo aonde eu trilho,
E quando te vislumbro maravilho
Tomando com ternura corpo e mente,
E mesmo quando atado à vil corrente
O amor que tu me dás vence o empecilho,
Bendigo-te meu pai, querido irmão
E sei que novos dias mostrarão
Quem sabe um ser melhor dentro de mim,
Sou joio, reconheço, almejo o trigo
E quando nos teus braços eu me abrigo,
Renovo florescência em meu jardim.
32087
De tudo o que se vê real essência
O pai ao nos trazer seara nobre
Enquanto com carinho nos recobre
No amor sem ter vileza ou penitência
Gerado pela força da clemência
O quanto de minha alma já descobre
E tanto com ternura enfim me cobre,
Negando num amor tanta imprudência.
Assim este cordeiro abençoado,
Do amor e do perdão, nosso legado
Além da liberdade sem fronteiras,
Eu vejo a luz imensa e sigo o brilho,
E quando em tanto amor eu quero e trilho
Realço dentro em mim as sementeiras...
32088
Prepare-se o caminho para quem
Procura a liberdade e quer a sorte
Usando da palavra, bem mais forte
Enquanto esta meiguice já contém
Humilde sem servil sem ter desdém
O quanto do carinho nos conforte
Assim todo o universo já comporte
Aquele que conhece farto bem.
Diversidade rege este planeta
E cada aleivosia que cometa
Permite a morte em série, mas não vês,
Assim como se fosse um dominó
O todo não se faz de um ser tão só
É necessário enfim a lucidez.
32089
Poeta, um sonhador que busca em Deus
A forma mais complexa ou mais simplória
Do quanto a poesia traça a glória
E trama novos dias, teus e meus,
Aonde no passado houvera breus
Agora noutro fato, muda a história
E traça cada rastro da memória
Usando muitas vezes de um adeus.
Renova-se decerto a todo instante
E quanto mais a voz já se levante
Provavelmente rompe esta corrente,
No quanto a poesia se faz bela
E mesmo quanto em vida nos revela,
Transforma o que não vês no que se sente...
32090
Das legiões diversas e complexas
As sortes mostram tal dicotomia
Que tanto quem profana em heresia
Ou serve com palavras desconexas
Percebe muito bem cenas perplexas
Aonde todo o mundo se perdia
Mortalha que a verdade em vão tecia
E agora noutro tempo não anexas.
Assim ao se mostrar desnuda face
Do quanto em ilusões ainda grasse
Por sobre toda a terra, iniqüidade.
Não tendo mais sequer qualquer motivo,
Amando e sendo amado, quero e vivo,
Singrando o pensamento em liberdade...
32091
Para a festa convidado
Entre fogos, risos, gozos
Dias claros majestosos,
Bem distante deste enfado
Eu mergulho no passado
Vejo ritos fabulosos
E se tanto caprichosos
Dias mudam tal legado,
Noutro tanto poderia
Ser diversa a fantasia
E viver com alma pura,
Mas a sorte se transforma
E mudando assim a forma
Mata em mim toda a brandura...
32092
A coroa se moldando
Entre pedras, jóias, luz
Ao que tanto me conduz
Outro dia bem mais brando
O que agora vi nefando
E se ainda já me opus
Não concebo em contraluz
Este mundo decifrando
Cada passo rumo ao nada
Sem um ponto de chegada
Meu caminho não condiz
Com o quanto quis outrora
E se a vida não se ancora
Como posso ser feliz?
32093
Dos metais desconhecidos
Momentâneos lapidares
Entre céus, rios e mares,
Outros dias esquecidos,
Mergulhando os meus sentidos
No que tanto propagares
Ao vencer ou mal notares
As entranhas das libidos
Noutros tantos olhos vistos,
Onde foram tão malquistos
Poderão sobreviver,
E se nada se mostrasse
A verdade dita o impasse
E a mentira o desprazer...
32094
Ao impor o tempo a quem
Não se fez diversidade
Não encontro a claridade
E deveras nada vem,
O meu mundo não contém
Nem um rastro da verdade,
Mas o sonho quando agrade
Transformando a dor em bem,
Resistindo aos temporais
Quero ser e sempre mais
O que tanto acreditara,
A verdade sobreposta
Noutra senda diz resposta
E traduz nobre seara...
32095
Pelas mãos gastas em fúria
Nada resta senão ver
A mortalha a se tecer
Com as ânsias da lamúria
Resistindo à tal penúria
Nada posso ainda crer
E se ainda diz prazer
O que outrora fora incúria
Resistindo meramente,
O caminho que se sente
Noutra foz se mostrará,
E se o mar não fosse imenso
Deste pouco me convenço,
Mas batalho desde já...
32096
Um soberbo diadema
De estelares ilusões,
E se ainda não repões
O caminho sem algema,
Na verdade nada tema
Quem percebe as emoções
E seguindo em direções
Onde encontre pedra e gema,
Procurando por retalhos
Destes tantos vis atalhos
Expressando solidão,
Eu me encontro junto a ti
E se ainda me perdi
Nada disso foi em vão.
32097
Esta luz que resplandece
E se torna mais freqüente
Mesmo quando em mim ausente
Outro tanto inda se tece,
Tanto amor viva benesse,
Mas a sorte qual demente
Muda tudo de repente
Nem os sonhos obedece,
Sendo assim tão ilusório
O meu canto mesmo inglório
Não se cansa e tenta mais,
Eu bebendo nesta taça
Onde o mundo se esfumaça
Quebro enfim os meus cristais...
32098
Pura luz transforma a vida
E se ainda se vê tanto
O que segue em raro encanto
Não percebe a despedida,
Nova senda sendo urdida
Nas entranhas do meu canto,
Não permita tanto espanto
E tampouco a voz perdida,
Navegando em mar sombrio
Quando as ondas desafio
Eu encontro a minha sorte
E se o verso se fez claro
Todo amor que te declaro
Com certeza nos conforte...
32099
Rara luz, belo esplendor
Doma a cena em que mergulho
Bebo a sorte e o pedregulho
Sinto em mim se decompor,
E se tanto quis propor
Outro rumo sem entulho,
O caminho em que me orgulho
Traduzindo em paz e amor
Não se trama inutilmente
E se tanto se apresente
Quem deveras se fez vão
Outro tempo poderia
Transcender em poesia
E mostrar satisfação.
32100
Turbulenta caminhada
Risca os rastros de outros dias
Entre dores e heresias
Ao seguir a tosca estrada
Vejo assim rumando ao nada
O que tanto em paz querias
Cenas duras, rebeldias,
Na verdade a derrocada
Percebida por quem tenta
Vencer sempre esta tormenta
E não sabe como faz,
Onde quis a luz imensa
Sem ter nada que compensa,
Não vislumbro sequer paz...
Tua ausência, ledo mal
Que preciso compreender
Minha vida em desprazer
Tanta dor por ritual
Rio perde seu caudal
Nada mais posso fazer
Perseguindo o que eu quis ser
Vago imenso e vão astral
Tendo em mim esta certeza
De que amor possa mudar
Cada coisa em seu lugar,
Mas se tento com destreza
Ter a estrela junto a mim,
Ver felicidade enfim.
32052
Quanto tanto não errasse
Quem caminha sem sentido
O meu mundo agradecido
Não teria tal impasse,
Quando a sorte se desgrace
Quando o tempo é dividido
Se deveras eu agrido
Ao renegar a outra face
Se; entretanto, tu vieste
Ao mudar caminho e veste
Nova senda se faria
E decerto em flores belas
Quando amor, amor revelas
Renovaste enfim meu dia...
32053
Tu levaste junto a ti
O que houvera dentro em mim,
A minha alma segue assim
Cada rastro que perdi,
Vejo quando estás aqui
A beleza que é sem fim,
Mas se turvo o meu jardim,
Desta sorte me esqueci.
Ao buscar cada momento
Nos teus braços meu alento
Eu encontro a solidão.
Mas a vida traiçoeira
Sonho um dia em que ela queira
Renovar a direção.
32054
Providencialmente veio
Quem se fez amada amante
E se tanto deslumbrante
A alegria de permeio
Vou vagando sem receio
O meu passo mais constante
Rumo ao mundo fascinante
Que deveras eu anseio,
Sendo assim a minha vida
Noutra vida resolvida
Nada deixo para trás
Todo encanto diz da festa
Quando o amor, amor empresta
Mais amor, amor refaz.
32055
Transformado em teu somente
Busco assim nova seara
E se amor é quem me ampara
E também provê semente,
Nem o sonho se desmente
Nem a vida em dor notara
Outro tempo semeara
E deveras sendo urgente
Caminhar contra tal vento
É decerto ter o alento
E saber feliz, pois quando
Bebo a sorte promissora
Muito além do que já fora
Nova vida se mostrando...
32056
Maltratado caminheiro
Andarilho maltrapilho
Quando os céus inda palmilho
Procurando o verdadeiro
Navegando o corriqueiro
Entre estrelas, farto brilho
Tanto amor assim polvilho
E me entrego, vou inteiro.
Nada resta do passado
Nem tampouco degradado
Caminhar se faz presente,
Sendo assim um novo sol
Dominando este arrebol
O meu peito em paz pressente...
32057
Só em teus cuidados tenho
O que tanto procurava
Enfrentando gelo e lava
Com ternura em raro empenho,
E se ainda cedo venho
Encontrar quem tanto amava,
Nada resta desta escrava
Solidão, terrível cenho,
E desdenho desde agora
Toda a dor aonde ancora
Barco frágil, sem timão,
E meu mundo sem te ter
Desairoso e sem prazer
Eu percebo enfim ser vão.
32058
Ao provir de quem se quer
A palavra que me acalma
Adentrando assim minha alma
A presença da mulher
Seja como Deus quiser
Nunca mais quero este trauma
E vivendo em plena calma
Toda a sorte que viver
Traduzindo esta alegria
Renovada a todo instante
Novo encanto se adiante
E quem tanto saberia
Semear com emoção
Colhe rara floração.
32059
A minha alma que eu trouxera
Em momentos mais cruéis
Ao saber dos mansos méis
Bem distante desta fera,
Noutra senda se tempera
E distante de outros féis,
Quer da sorte seus papéis
E deveras regenera,
Vivo até por ter enfim
Todo amor que sei em mim
Rebrilhando em lua imensa,
Ao saber quem tanto quis
Eu decerto sou feliz,
No que tanto amor convença...
32060
Quando moras nesta estrela
Noite imensa constelada,
Ao tentar minha morada
Procurando sempre vê-la
Com ternura recebê-la
E viver formosa estada
Ao seguir a clara estrada
Posso, enfim, sempre revê-la
E revelas quanto o amor
Pode ser o redentor
De quem vive solitário,
Noite clara sem tempestas
Em meus dias plenas festas,
Neste sonho imaginário.
32061
Quando cego eu vou sem guia
E perdido em temporais
Tento ouvir velhos sinais,
Mas amor já não queria
E vencido em noite esguia
Morto o sonho, nada mais
Refletindo este jamais
Onde a sorte tentaria
Vejo apenas o retrato
Do que fora outrora fato
Desacato agora trama,
E o meu mundo sem sentido
Tantas vezes desvalido
Tenta acesa a leda chama...
32062
Companhia desejada
Lua em noite escura e tensa
Ao poder rever a imensa
Deusa em plena madrugada
A minha alma desgraçada
Novamente se compensa
E procura ser intensa
Onde outrora fora nada,
Risca os céus um meteoro
E se tanto amor imploro
Eu também risco o meu eu
Mas a noite é traiçoeira
Lua clara, a companheira
Entre nuvens se escondeu.
32063
Ao pisar onde pisaste
E tentar sentir ainda
A presença rara e linda,
Com certeza este contraste
Transformando a dor em haste
E mostrando quanto infinda
A loucura que deslinda
Todo amor que me legaste,
Mas no fundo solidão
Bebe as fontes e o verão
Nunca mais eu conheci,
Sendo assim nada se vendo
Deste céu mais estupendo
Nada resta, pois sem ti.
32064
Ao seguir querido bem
Outra senda mais diversa
A minha alma leda versa
Procurando por alguém
Quando a noite ao longe vem
E se vê na bruma imersa
A minha alma se dispersa
E decerto não contém
Nem resquícios deste sonho,
Mesmo quando inda componho
Um momento mais feliz,
Sendo a vida um só momento,
Sendo inútil sofrimento,
Todo o tempo me desdiz...
32065
Uma estrela bela e forte
Dominando todo o céu
Quando amor dita o corcel
Esperança traça o norte,
Mas deveras sem a sorte
Que se foi restando o fel,
Nada tendo deste véu
Nem o sonho que conforte,
Risco a imensa solidão
E talvez ainda possa
Crer na sorte sendo nossa,
Mas percebo a negação
E caminho em noite clara
Sem ter nada que me ampara...
32066
A alma frágil sem sentido
De quem tanto quis a luz
E se ainda se conduz
Ao vazio, desvalido,
Resta em mim apodrecido
Onde quero e não reluz,
O meu mundo em contraluz
Navegando enfim perdido,
Nada tenho e sem saber
Se decerto eu posso ter
Qualquer sorte mais diversa,
A palavra apenas doma
O que a vida vem e toma,
E o caminho se dispersa...
32067
Eu teria em teus caminhos
Algo a mais do que contenho
E se ainda tanto empenho
Permanecem mais sozinhos
Onde outrora quis os ninhos,
Hoje o mundo que inda tenho
Contra todo desempenho
Trama a dor e ceva espinhos,
Resta ao longe no horizonte,
Sem ter nada que inda aponte
O luar triste e sombrio,
Eu de tanto acreditar
Redenção deste luar,
Ao senti-lo me esvazio...
32068
Onde tanto se revela
A emoção de ter alguém
Todo o sonho já contem
A beleza que diz dela,
E se tanto assim é bela
Prosseguindo muito além
Não concebo algum desdém
Onde a sorte enfim se sela.
Ter nas mãos o meu futuro
Ter o todo que procuro
Num momento mais feliz,
E deveras sendo assim
Todo o amor que existe em mim
Traduzindo o que eu bem quis.
32069
Olho com olhar de quem
Sabe bem o que virá
E se tento desde já
Na esperança de outro bem,
Toda a vida vê também
E decerto moldará
O que tanto brilhará,
Quando o sonho sempre tem
Olhos tantos no horizonte
E sabendo desta fonte
Dos amores a nascente
Vendo em volta cada brilho
Entre tantos que andarilho
Coração deveras sente...
32070
Ao tomar meu pensamento
Nada além de um grande amor,
Com seu ar revelador
Doma todo sofrimento
E se tanto ainda tento
Cada passo recompor
Na certeza do que for,
Eu pressinto este momento
Feito em luz e em claridade
Neste todo que me invade
Declarando a intensa luz
Pela qual a fantasia
Adentrando a poesia,
Com ternura e paz conduz...
32071
Para saber do que posso
Ao sentir as tantas farsas
Mesmo quando mal disfarças
Não percebes e eu endosso
O que tanto fora nosso
Entre flores, sendas, garças
Hoje são cenas esparsas
Neste tanto em que me aposso
Do vazio em trevas, morte
E se ainda tento a sorte
Nada vem, somente o cardo,
Ao viver não saberia
Quanto viva esta agonia
Refletindo em cada fardo.
32072
Usurpando assim o trono
Deste ser inatingível
Onde fora mais plausível
Demonstrando em abandono,
O que tanto diz do dono
Ente torpe ou infalível
E se ainda se fez crível
Não teria meu abono,
Morto o ser que se fez vil,
E nascendo o que se viu
Entre farpas e espinheiro,
Ao sabê-lo tão suave,
Adentro em sua nave,
Rendo glória ao carpinteiro.
32073
Impiedoso criador
Com as garras de uma harpia
Ao traçar nova sangria
Sendo assim o vingador,
Proferindo em voz e dor,
O que tanto poderia
Ser diverso em alegria,
Causa apenas o temor,
Nada resta deste ser
Que deveras sem prazer
É medonho e caricato,
Noutra face mais gentil,
Outro ser o amor reviu,
Neste sim eu me retrato.
32074
Desabando sobre os fracos
Destroçando quem por certo
Ao viver pleno deserto,
Entregando em frágeis nacos,
Ouço a voz deste venal
Sangrador de gado farto,
E se tanto assim me aparto
Busco em paz e amor a nau
Que permita um manso porto,
E não quero a tempestade,
Em nome da autoridade
Todo sonho já foi morto,
Mas se vê torpe boçal
Entranhando no abissal.
32075
Ao render-se à lucidez
O demônio Jeová
Tantas vezes morderá
Com total insensatez
Se este amor libertará
Bem diverso do que vês,
Este fardo se desfez
Quando Deus se notará
Pacifista e sonhador,
Num derrame em raro amor,
Ensinando com brandura,
Quanto ao velho em prejuízo
Sem direito ao Paraíso,
Tão temível caradura...
32076
Como vive da doença
Qualquer médico, a verdade
O pecado e iniqüidade
Para quem nisto tem crença
Sustentando quem convença
Desta torpe realidade,
Se o perdão é novidade
Treva ainda é tosca e imensa,
No chicote de Satã
Ou vergastas de teu deus,
A figura é sempre vã
E se ainda sem contraste
Outros tantos erros meus
Tu, senhor, pois, provocaste.
32077
Arrancando o coração
Deste peito ensangüentado
Alimenta-me o pecado,
E não vejo mais perdão,
Onde houvera solução
O teu deus aposentado
Hoje vive desgraçado
Sem amor, sem direção,
A mortalha que reveste
Traz nos olhos o veneno
Se o quisera mais sereno,
O terror maior investe
E arrebenta quem se fez
Em total estupidez.
32078
Saciando a sua fome
De carniça ou carne crua,
A mordaça continua
E se tanto já se dome
Quem procura, logo some
E a palavra nunca nua
Bem diversa sempre atua
E a carcaça ainda come.
Morte ao deus tão vingativo,
Que em verdade não vi vivo
E se tanto poderia
Ser o pai sendo perverso
Como fez este universo?
Tudo é mera fantasia.
32079
Se eu desdenho o caricato
Neste trono em pedrarias
Onde mortas fantasias
Na verdade diz maltrato,
Nega a sede do regato
Nega a fonte em que terias
Outras luzes, belos dias,
Não seria o desacato.
Mas ainda queres isto,
E se tanto eu já desisto
Não ateu, mas me perdoa
Este deus que tu me deste
Travestido em fúria e peste
Do que eu amo enfim destoa.
32080
Deste ser entronizado
Onde tanto poderia
Renascer em alegria
Cobra caro este pecado,
O seu mundo vão legado
Morre em tanta sacristia
O perdão já se vendia
Com um juro redobrado,
Sendo assim melhor o inferno,
E se ainda eu já interno
Num cenário de prazer,
Quero ter este sorriso,
Pois pra mim o Paraíso
Com brandura eu quero crer...
32081
Eu agradeço ao Pai, o verdadeiro
E não aquele velho entronizado
O rei se alimentando do pecado
Matando desde sempre o carpinteiro
E quando deste PAI/IRMÃO me inteiro
Eu tento conceber do Seu legado
Momento com certeza abençoado,
E quero tê-lo sempre, o companheiro.
Eu agradeço assim cada lição
De liberdade amor, sonho e perdão
E tanto quanto posso tento ter
Em ti espelho e guia que me leva
Além de toda dor, temor e treva
Felicidade em forma de prazer...
32082
Pudesse em braços firmes, piedosos
Seguir cada momento em luz e glória
Sabendo ser difícil tal vitória
Já que os meus sentimentos caprichosos,
Eu sinto em ti, meu pai, maravilhosos
Caminhos que mudando minha história
Diversos do que possa uma vanglória
Trazer momentos raros, majestosos.
E quando me inteirando de teu ser
Eu pude conhecer o bel prazer
De amar sem ter medidas, nem perguntas,
Irmãos de irmãos cantando em sintonia
Um novo mundo feito em alegria
Com almas que caminhem sempre juntas.
32083
Permita a lucidez em cada verso
Falando deste tanto que descubro
E mesmo quando o olhar se fez mais rubro
Eu sei quanto é preciso este universo
Da morte, do nascer estando imerso
No todo, cada fase não encubro
E quando de esperanças me recubro
Eu tento amor imenso e sempre verso
Usando da palavra meu cinzel
Tentando desvendar caminho e céu
No imenso carrossel chamado vida,
E posso te falar, pai tão sincero
Do quanto amor em ti bem mais eu quero
Sabendo em teus caminhos, a saída...
32084
Não quero ter no olhar a fúria imensa
Dos vândalos fantoches do passado,
Senhores do perdão e do pecado,
Cobrando com tal ágio a recompensa
E nada do que ainda me convença
Permite este terror já desvendado
E sendo companheiro deste amado
Irmão em cuja vida esta alma pensa,
Já não mais vejo as chagas nem torturas,
Somente com amor, perdão, ternuras
Palavra que consola e que redime,
Não guardo dentro em mim a torpe imagem
Daquele cuja vida foi mensagem,
Embora se cultue mais o crime...
32085
Não quero bendizer o sofrimento,
Pois nele não se vê o meu senhor,
E quando a vida traz o desamor
O fardo não garante algum provento
Apenas da esperança me alimento
E tenho com certeza este sabor
Que é feito deste ser que é redentor,
E não do mais atroz em desalento.
Não quero ter assim justificada
A morte pela morte, sem que nada
Ainda se permita acreditar,
Eu vejo renovável, necessária
E não como uma cena temerária,
Morrer é sempre o novo em paz amar.
32086
Não vejo ser remédio quem traz brilho
E ser além do amor, eternamente
Quem tanto nos ensina não se ausente
Sequer de qualquer passo aonde eu trilho,
E quando te vislumbro maravilho
Tomando com ternura corpo e mente,
E mesmo quando atado à vil corrente
O amor que tu me dás vence o empecilho,
Bendigo-te meu pai, querido irmão
E sei que novos dias mostrarão
Quem sabe um ser melhor dentro de mim,
Sou joio, reconheço, almejo o trigo
E quando nos teus braços eu me abrigo,
Renovo florescência em meu jardim.
32087
De tudo o que se vê real essência
O pai ao nos trazer seara nobre
Enquanto com carinho nos recobre
No amor sem ter vileza ou penitência
Gerado pela força da clemência
O quanto de minha alma já descobre
E tanto com ternura enfim me cobre,
Negando num amor tanta imprudência.
Assim este cordeiro abençoado,
Do amor e do perdão, nosso legado
Além da liberdade sem fronteiras,
Eu vejo a luz imensa e sigo o brilho,
E quando em tanto amor eu quero e trilho
Realço dentro em mim as sementeiras...
32088
Prepare-se o caminho para quem
Procura a liberdade e quer a sorte
Usando da palavra, bem mais forte
Enquanto esta meiguice já contém
Humilde sem servil sem ter desdém
O quanto do carinho nos conforte
Assim todo o universo já comporte
Aquele que conhece farto bem.
Diversidade rege este planeta
E cada aleivosia que cometa
Permite a morte em série, mas não vês,
Assim como se fosse um dominó
O todo não se faz de um ser tão só
É necessário enfim a lucidez.
32089
Poeta, um sonhador que busca em Deus
A forma mais complexa ou mais simplória
Do quanto a poesia traça a glória
E trama novos dias, teus e meus,
Aonde no passado houvera breus
Agora noutro fato, muda a história
E traça cada rastro da memória
Usando muitas vezes de um adeus.
Renova-se decerto a todo instante
E quanto mais a voz já se levante
Provavelmente rompe esta corrente,
No quanto a poesia se faz bela
E mesmo quanto em vida nos revela,
Transforma o que não vês no que se sente...
32090
Das legiões diversas e complexas
As sortes mostram tal dicotomia
Que tanto quem profana em heresia
Ou serve com palavras desconexas
Percebe muito bem cenas perplexas
Aonde todo o mundo se perdia
Mortalha que a verdade em vão tecia
E agora noutro tempo não anexas.
Assim ao se mostrar desnuda face
Do quanto em ilusões ainda grasse
Por sobre toda a terra, iniqüidade.
Não tendo mais sequer qualquer motivo,
Amando e sendo amado, quero e vivo,
Singrando o pensamento em liberdade...
32091
Para a festa convidado
Entre fogos, risos, gozos
Dias claros majestosos,
Bem distante deste enfado
Eu mergulho no passado
Vejo ritos fabulosos
E se tanto caprichosos
Dias mudam tal legado,
Noutro tanto poderia
Ser diversa a fantasia
E viver com alma pura,
Mas a sorte se transforma
E mudando assim a forma
Mata em mim toda a brandura...
32092
A coroa se moldando
Entre pedras, jóias, luz
Ao que tanto me conduz
Outro dia bem mais brando
O que agora vi nefando
E se ainda já me opus
Não concebo em contraluz
Este mundo decifrando
Cada passo rumo ao nada
Sem um ponto de chegada
Meu caminho não condiz
Com o quanto quis outrora
E se a vida não se ancora
Como posso ser feliz?
32093
Dos metais desconhecidos
Momentâneos lapidares
Entre céus, rios e mares,
Outros dias esquecidos,
Mergulhando os meus sentidos
No que tanto propagares
Ao vencer ou mal notares
As entranhas das libidos
Noutros tantos olhos vistos,
Onde foram tão malquistos
Poderão sobreviver,
E se nada se mostrasse
A verdade dita o impasse
E a mentira o desprazer...
32094
Ao impor o tempo a quem
Não se fez diversidade
Não encontro a claridade
E deveras nada vem,
O meu mundo não contém
Nem um rastro da verdade,
Mas o sonho quando agrade
Transformando a dor em bem,
Resistindo aos temporais
Quero ser e sempre mais
O que tanto acreditara,
A verdade sobreposta
Noutra senda diz resposta
E traduz nobre seara...
32095
Pelas mãos gastas em fúria
Nada resta senão ver
A mortalha a se tecer
Com as ânsias da lamúria
Resistindo à tal penúria
Nada posso ainda crer
E se ainda diz prazer
O que outrora fora incúria
Resistindo meramente,
O caminho que se sente
Noutra foz se mostrará,
E se o mar não fosse imenso
Deste pouco me convenço,
Mas batalho desde já...
32096
Um soberbo diadema
De estelares ilusões,
E se ainda não repões
O caminho sem algema,
Na verdade nada tema
Quem percebe as emoções
E seguindo em direções
Onde encontre pedra e gema,
Procurando por retalhos
Destes tantos vis atalhos
Expressando solidão,
Eu me encontro junto a ti
E se ainda me perdi
Nada disso foi em vão.
32097
Esta luz que resplandece
E se torna mais freqüente
Mesmo quando em mim ausente
Outro tanto inda se tece,
Tanto amor viva benesse,
Mas a sorte qual demente
Muda tudo de repente
Nem os sonhos obedece,
Sendo assim tão ilusório
O meu canto mesmo inglório
Não se cansa e tenta mais,
Eu bebendo nesta taça
Onde o mundo se esfumaça
Quebro enfim os meus cristais...
32098
Pura luz transforma a vida
E se ainda se vê tanto
O que segue em raro encanto
Não percebe a despedida,
Nova senda sendo urdida
Nas entranhas do meu canto,
Não permita tanto espanto
E tampouco a voz perdida,
Navegando em mar sombrio
Quando as ondas desafio
Eu encontro a minha sorte
E se o verso se fez claro
Todo amor que te declaro
Com certeza nos conforte...
32099
Rara luz, belo esplendor
Doma a cena em que mergulho
Bebo a sorte e o pedregulho
Sinto em mim se decompor,
E se tanto quis propor
Outro rumo sem entulho,
O caminho em que me orgulho
Traduzindo em paz e amor
Não se trama inutilmente
E se tanto se apresente
Quem deveras se fez vão
Outro tempo poderia
Transcender em poesia
E mostrar satisfação.
32100
Turbulenta caminhada
Risca os rastros de outros dias
Entre dores e heresias
Ao seguir a tosca estrada
Vejo assim rumando ao nada
O que tanto em paz querias
Cenas duras, rebeldias,
Na verdade a derrocada
Percebida por quem tenta
Vencer sempre esta tormenta
E não sabe como faz,
Onde quis a luz imensa
Sem ter nada que compensa,
Não vislumbro sequer paz...
sexta-feira, 7 de maio de 2010
32001 até 32050
32001
Ao parir tanta peçonha
Viperina face exposta
Onde a sorte decomposta
Se mostrara em tez medonha
Quando a morte se envergonha
Desta mesa agora posta
Bebo o quanto se desgosta
Mesmo quando em vão se sonha,
Residente do passado
Bebo o sangue extasiado
Entre vermes, podridão,
Resta em mim o desprazer
E se posso amanhecer
Nego as cores que virão.
32002
Amamento esta irrisão
Entre fúrias e desdéns
E se ainda mesmo vens
Enfrentar tal furacão
Onde pude encarnação
Do demônio que conténs
Riscos tantos negam bens
E se trazem diversão
São serpentes nada mais
Entre fomes vendavais
Entre somas e mentiras,
Do que tanto imaginara
Cada corte, nova escura
Recortando em podres tiras.
32003
Maldições em noites santas
Entre os vermes que possuo,
Tantas vezes continuo
Entre as vozes que levantas,
E se ainda mesmo atuo
Negações que ora quebrantas
No vazio te agigantas
Ar sombrio ora poluo
Rasgo as vestes que me destes
E se tanto te revestes
De alegrias, que se dane
Onde a luz não poderia
Mesmo quando em sintonia,
Alma impura gera a pane.
32004
Os prazeres preteridos
As senzalas que me deste,
O teu canto sendo agreste
Adentrando os meus ouvidos,
Não resistem os sentidos
E se ainda se reveste
Do terror onde se investe
Mantos podres, poluídos,
Navegar em água impura,
E se tanto me tortura
O verdugo em cadafalso
Preparando então a corda,
A minha alma não acorda,
E não vê qualquer percalço.
32005
Ao parir tal serpe enfim
Não notaste este sibilo
E se ainda assim desfilo
A mortalha que há em mim,
O que tanto quis no fim
Entre angústias eu destilo,
Não passando de um estilo
O mordaz se fez mais clean.
Farpas tantas, fardos vários
E os meus cantos temerários
Temporárias ilusões,
E no fundo nada tendo,
O que trago em dividendo
Morte em vida a que te expões.
32006
Escolhida entre milhares
Entre os vermes, a maior,
Uterina foz melhor
Para os podres lupanares
E assim creio em teus altares
Cuja senda eu sei de cor,
Incorporas o pior
Podridão em tais lugares.
Ris do quanto ainda existe
Do cadáver que persiste
Vivo em cada ausência tua,
E se tanto não percebes
Onde mortas velhas sebes
Tua imagem seminua.
32007
Ascos tantos ermos vários
São fantoches nada mais,
E se expões aos vendavais
Os teus ais são necessários,
Não pudessem mais corsários
Entre assíduos temporais
Entornar os magistrais
E demônios temporários,
Sendo assim vergasta e frio,
Tua herança desafio
E bebendo o sangue teu
O que fora um doce mel,
Ao mostrar face cruel,
Noutro tanto se verteu.
32008
Já não posso em meio às chamas
Aplacar o que tu queres
Se entre todas as mulheres
Teus olhares tu reclamas,
Das vergonhas, fardos, dramas
Das tramóias que puderes
Entre tantas se quiseres
Tu terás as mesmas tramas,
Ramas várias do arvoredo
Que sabendo cada enredo
Enredando com terror,
Ao tecer a incongruência
Gera a cada incompetência
Nova cena em vil torpor...
32009
Pândego demônio crias
Com teu leite apodrecido,
E deveras esquecido
Quando ainda fantasias,
Entre tantas heresias,
Ao tocar cada sentido,
No poder enlouquecido
Novos dias desafias,
Desta vil maternidade
Outra sanha é tua herdade
Riscos tantos, fetidez.
E se bebes deste vinho,
No que tange ser sozinho,
Outro verme se refez.
32010
Ao trazer este odioso
Caminhar por entre trevas
O que tanto ainda cevas
Pode ter o prazeroso
Desvendar de farto gozo
E se ainda em ti tu levas,
As certezas mais longevas
Teu sorriso é generoso,
Tetas fartas, leites tantos
E se ainda fossem santos,
Mas de demos são proventos,
Carcomida face exposta
Procurando por resposta
Já perdida pelos ventos...
32011
Sobre tais perversidades
Alimento o meu furor
E gerando este terror
Na medida em que degrades
Os caminhos, qualidades
Entre pedras e torpor,
Nada resta e o dissabor
Com horror bem sei que invades,
O meu verso se fez tanto
Quanto mais pudesse ser
E medonho posso ver
O que ainda teimo e canto
Resistindo o quanto pude
Mato agora a juventude...
32012
Miseráveis arvoredos
Onde as frondes apodrecem
E se tanto se merecem
Não renegam os enredos,
Entre cismas, mesclo medos
E os demônios que se tecem
Novos ritos obedecem,
Mergulhando em tais torpedos,
Arco sempre com engodos
E se tanto adentro em lodos
Charqueadas reconheço,
Tendo em mim o desengano,
O meu verso dita o dano,
Cada farsa outro tropeço.
32013
Os meus dias ditam pestes
E restando muito ou tanto
Nada posso nem espanto
Revestindo o que destes
Explorando inda viestes
Mergulhar em falso santo
Resumindo o desencanto
No que ainda sei agrestes
Esgotando cada passo
Noutro tanto que desfaço
Mal disfarço o desespero,
Risco o nome de quem fora
Sendo a vida traidora,
O que faço em torpe esmero.
32014
Bebo a espuma em cada espasmo
E refaço os dissabores
Adentrando aonde em flores
Não pudesse, pois sarcasmo,
E se ainda vivo pasmo
Ânsias ditam despudores,
Olhos torpes sonhadores,
Só resumem tal marasmo.
Esquecido pelo tempo
Onde houvera contratempo
Lassos dias, laços frágeis
Mas os dedos não se podam,
Nem tampouco mais açodam
Dias lânguidos nem ágeis.
32015
São eternos tais enigmas
E se ainda emplastos trago
O que tanto dita estrago
Não resolvem paradigmas,
Demoníaco sentir
Entre as brumas mais ferozes,
Dos etéreos torpes vozes
Sobrepondo algum porvir,
Resistir já não pudera
Se tamanha estranha luz
Pouparia o que produz
Meramente dura fera,
Assistindo ao meu fastio,
Tão somente o vão recrio.
32016
Matricídios sonhos vis
No verniz que ainda cobres
E se tanto foram nobres
Os que a vida contradiz,
Na mortalha que te fiz,
Ondas frágeis tu recobres
E portanto não desdobres
Este olhar de meretriz,
Se deméritos transcendem
Ao que tanto não atendem
Os meus ermos mais fugazes,
São sacrílegos meus dias
Entre tantas heresias
Os sorrisos que me trazes...
32017
Onde ao menos a tutela
Desta imagem mais sutil,
Poderia se previu
O que tanto se revela,
Onde a vida fosse bela
Mas bem sei ser tanto vil,
O rosnar da fera ouviu
A palavra que ora sela
A verdade mais atroz
E deveras sendo algoz
De quem nada poderia,
Lutos tece quem sonhara
E semeia em tal seara
Esta imagem morta e fria.
32018
Um bastardo bebe a luz
E teimando contra a sorte
Desafia a própria morte
Bebe cada esgoto e pus,
Onde o tempo em contraluz
Nega sempre este suporte
E se ainda não é forte
Cada passo eu não compus
A peçonha mais voraz
Que a verdade não mais traz
Dás assim tua versão
E se o quadro decomposto
Mostra sempre o mesmo rosto
Noutros tantos se verão.
32019
Bebes desta poluída
Água exposta em cada esgoto,
E o meu sonho boquirroto
Não traduz a minha vida,
Do portal tento a saída
E se ainda sigo roto,
Poderia estar no coto
Desta senda já perdida,
Levo em mim a fria chaga
Que a verdade quando alaga
Mostra a sorte em podre sina
Se eu reluto enquanto tento
Na verdade sigo atento,
Mas a mão segue assassina...
32020
Cada resto da ambrosia
Apodrece todo o prato
E se ainda me maltrato
Noutro tanto se recria
A verdade desafia
E o desejo em que retrato
Vai mudando cada fato
E a mortalha se tecia,
Visto a podre face exposta
E decerto decomposta
Do que um dia quis ser messe,
Noutro tanto poderei
Caminhar em torpe grei
Onde o sonho se obedece...
32021
Não me deixe triste assim
Caminheiro do vazio
Quando o tempo desafio
Destruindo o meu jardim,
Busco tanto dentro em mim
E se tanto não desfio,
Cada dia que recrio
Noutro dia chega ao fim,
Sendo atroz este andarilho
Noutro tanto quando trilho
Não encontro solução
O meu verso segue atroz
E ninguém ouvindo a voz,
Outros sonhos não virão...
32022
Fale que gosta de mim,
Mesmo sendo em falsa luz
Ao que tanto já me opus
Nada vejo, e sigo enfim,
Procurando de onde vim
Qualquer rastro se me pus
No caminho feito em cruz,
Da esperança um estopim
Sonegando esta explosão
Outro tempo em negação
Um tormento mais cruel,
Bebo a ausência do querer
E se tanto posso crer,
Não vislumbro claro céu...
32023
Ajude meu coração
A vencer com destemores
E se ainda queres cores
Mudes logo esta estação
Neste inverno não terão
Nem sequer belezas flores
E se tanto ainda fores
Noutra senda ou direção
Não serei mais venturoso
E se busco farto gozo
Glosa a vida num instante
Onde a sorte poderia
Novamente ter um dia
Nada sou; decepcionante.
32024
Me mande essa novidade,
No correio da ilusão
Onde as ondas mostrarão
Noutro tanto quanto invade
Cada praia em liberdade
Encontrando a solução
Novos dias de verão
E decerto a claridade,
Ansioso busco o porto
E se tanto sonho morto
Nada resta senão isto
O vazio que me deste
Sendo o solo tão agreste,
Mas deveras eu insisto.
32025
Não me deixe morrer não,
Já cansado desta luta
A minha alma não reluta
Não se entrega à solidão
E procura a diversão
Onde a força se faz bruta,
Não pretendo tal permuta
Sendo teu meu coração,
Dos instantes mais doridos
Os momentos preferidos
Os que eu tenho e sei de ti
Mergulhando nesta sorte,
Tendo sempre quem conforte
Toda a glória eu conheci.
32026
Meu amor, por caridade,
Não me deixe mais sozinho
Se em teu rumo já me aninho
Quanto amor é de verdade
A saudade que ora invade
Perfazendo o velho ninho,
Açoitando de mansinho
Tanto amor sem liberdade,
Nada resta deste que
Ao saber e não te vê
Bebe as sendas mais doridas
Sem viver cada momento
Nesta ausência me atormento
Tais estradas já perdidas...
32027
Não sabes que és tão ruim
Ao negar ao navegante
Pelo menos um instante
Onde possa ter enfim
Toda a glória, e sendo assim
O meu canto é degradante
A minha alma torturante
Minha história chega ao fim.
Se eu pudesse pelo menos
Entre sonhos mais serenos
Encontrar a paz que busco,
Mas o mundo se transforma
Dos terrores toma a forma
E o meu passo agora é brusco.
32028
Que se abate sobre mim,
O terror do nada ser
E se tenho algum querer
Esperança um vão chupim
Vou perdendo tudo enfim
E não posso mais prazer
Tanta coisa pra viver
Mas tão seco este jardim,
Das verbenas, lírios, rosas
Noites claras majestosas,
Dias belos, primavera...
O que tanto procurava
A saudade audaz e brava
Sonegando cada espera...
32029
Culpada pela desgraça,
De quem tanto te quis bem,
Quanta dor o amor contém,
Vida chega e amarga traça
O caminho em que se passa
Reconheço e sei também
Onde nada existe e tem
Tão somente esta fumaça
O passado tolhe o sonho
E se ainda sou risonho,
Farsa apenas, nada mais,
Onde quis felicidade
Cada passo desagrade
Entre fúrias desiguais.
32030
Sem saber, és assassina,
Pois mataste esta ilusão
E sem ter embarcação
A viagem me alucina
O cenário determina
O terror, degradação
E na ausência de verão
Triste inverno me domina,
Resta apenas a semente
De um amor que tanto quis,
Semeando outro matiz
Neste céu sempre nublado,
Outro dia se apresente
Quem me dera iluminado.
32031
Sobre as ondas mesmo turbulentas
Trazendo o meu saveiro em tais borrascas
E quando em truculência tento lascas
Ainda quando em luto me apresentas
Negando as orações em que atormentas
Vencendo os dias claros, as nevascas
E delas os temores inda mascas
Com máscaras dispersas aparentas
E sei ser mesmo assim inglória mente
Na qual e pela qual já se desmente
O mundo noutro tanto diz do grão
Ardente temporada em luz sombria
Amena quando pode a poesia
Mudando vez em quando a direção.
32032
Ao me jogar contra o vento
Aparento placidez
E se tanto se desfez
O que ainda te apresento
Na verdade o meu intento
Noutra inglória insensatez
Muito embora já não vês
Se é diverso o meu provento
Novo canto nova mente
Por demais que ainda tente
Nossa luz já não verás,
Bebo a fonte e me sacio
E se ainda vejo o rio,
Nele morro sempre audaz.
32033
Vou buscando a minha cruz
Muito embora até prefira
Que deveras minha mira
Seja feita em plena luz,
Mas conforme tanto obus
Na verdade já se atira
E o Deus morto agora gira
E o vivente não seduz,
Eu prefiro ter nas mãos
O que tanto quis irmãos
E sabia perdoar,
Mas a coroa espinhenta
Num Ibope mais sustenta
Que a verdade a libertar.
32034
Com as nuvens se converso
Sei que tanto posso ser
Um lunático que ao ver
Outra cena do universo
Continua mais disperso
E propenso a ter prazer,
Como é duro envelhecer
Se no eterno sigo imerso.
Venço o medo e vejo o céu
Neste imenso carrossel
Num barquinho em correnteza
De papel ou de ilusão,
Do que a torpe embarcação
Pela qual na qual sou presa...
32035
Ao cantar vejo o Calvário
Como fosse um mero fardo,
Não me importa qualquer cardo
Quando assim é necessário
Deste povo temerário
O terror matando o bardo
E se ainda agora eu ardo
Não pressinto algum erário.
Sou apenas um poeta
E se tanto poderia
Não mergulho na vazia
Sensação sempre incompleta
Da paixão, pois o Cordeiro
Vivo está e é verdadeiro.
32036
Peregrinos procurando
Nos rosários, procissões
Encontrar as soluções
De problema mais nefando
Quando vejo o triste bando
Vindo de outras direções
Eu percebo explorações
E Jesus se maltratando.
Quando amor é redenção
E deveras o perdão
Sobressai sobre o milagre,
Tanta dura hipocrisia
Vendilhões do dia a dia
Lançam Cristo pro vinagre...
32037
O Jesus que é passarinho
E deveras canta belo,
Tendo sempre este castelo
Muito embora pobrezinho,
Quando se fez pão e vinho
Não sabia o que revelo
E se tanto amor eu selo,
Neste encanto eu me avizinho
Jogo fora este sudário,
Eu arranco este fadário
E Te beijo, meu irmão,
Tanto amor que vi em Ti
Bem diverso do que ouvi
Nesta missa num sermão.
32038
Eu não temo Jesus Cristo,
Nem tampouco a Jeová
Todo o sol que brilhará
A razão na qual existo
Na verdade sempre insisto
Seja aqui seja acolá
Deste amor que tomará
Todo o ser, nisto persisto,
A mortalha apodrecida,
A senzala destruída,
Liberdade não mais vê,
E por isso meu amor
Tem em Ti o redentor,
Traz à vida o seu por que.
32039
Com total tranqüilidade
A feição sempre serena
Toda a sorte já se acena
Neste amor que tanto agrade,
E semeias liberdade,
Nesta terra amarga e plena,
Toda a fúria se condena
No calor em claridade.
Mas diversas ilusões
Entre tantas emoções
Preferindo-te na cruz.
Não me iludo com tal fato,
Se em verdade eu Te retrato
Bem mais nítido na luz.
32040
Alegria dita o rumo
De quem ama este Cordeiro,
Um amor mais verdadeiro
Entregando até seu sumo,
Na verdade toma o prumo
E se mostra corriqueiro,
Quando vejo e assim me inteiro
Neste fogo eu me consumo.
Mas a cena dolorida
Espinheiros, cruz e pregos...
São cantigas para os cegos
Que não vendo a própria vida
Deste amor que nos redime,
Querem ver bem mais o crime.
32041
Por que tal ferocidade
Demonstrando o duro olhar
Quando eu aprendia amar
Para ter felicidade?
No terror que nos invade
Punição a maltratar
Onde outrora quis altar
Exaltar quem desagrade?
Pai medonho com açoite
E temendo toda noite
Um terrível caricato,
Quando amor diz alegria
Na verdade não porfia,
Nem traduz um insano ato.
32042
Pão e vinho, amor, perdão,
São constantes para quem
Sabe quanto a paz convém
E contém mais que o sermão,
E se tenho adoração
Por quem sei, conheço bem,
E se vejo assim também
Outro amor em solução,
Da vergasta, do chicote
A feição deste coiote
Tanto assusta quanto pune,
Eu só peço, meu Senhor
Que este monstro, em tal pavor
Não escape então impune.
32043
Quando as cinzas da emoção
Encontrarem seu alento
E também raro provento
Nas estâncias da paixão,
Eu encontro a direção
E seguindo assim o vento
Vai liberto o pensamento
Muito além da punição.
Glória ao pai que tanto quero
E se canto e sou sincero
Nada temo, pois em Ti
Percebendo o meu caminho,
Enfrentando cada espinho,
Neste amor que preferi.
32044
Já não quero a hipocrisia
Das igrejas mais sacanas
Em facetas desumanas
O demônio ali se cria,
E se tanto poderia
Crer nas luzes soberanas
Já não quero se me enganas
Vá pro inferno, esta agonia.
O meu Pai é meu amigo
E se é nele o meu abrigo,
Não quero interlocutor,
Aprendendo desde cedo
Que deveras o segredo
Tem feições claras de amor.
32045
Quando os passos sobre passos
Entre rastros que deixaste
Se mostrando com contraste
Ocupando vis espaços,
Eu mergulhos nos teus traços
E deveras caminhaste
Com amor e sendo uma haste
Não suporto mais devassos,
Vendilhões que alugam cruz
E se adonam de Jesus
Como fosse algum brinquedo,
Sortilégio da matilha
Que deveras na partilha
Cobram caro pelo medo.
32046
Clamando enfim pelo amor
Que foi dado sem cobrança
Ao vencer podre aliança
Com ternura e não terror,
Vejo assim em ti o andor,
E deveras nossa herança
Ao futuro já se lança
Trama sempre o redentor,
Mas valor? Não acredito
Que um Deus Pai raro e bonito
Seja disto locatário,
Senhorio dos infernos?
Onde amores foram ternos,
Mais amor é necessário.
32047
Quando posso acreditar
Na beleza feminina
Onde olhar já se destina
Com vontade de tocar
E deveras me alucina
A certeza de te amar,
Mas o quanto pude achar
Nos teus olhos, cristalina
Fonte aonde me inspirasse
Sem saber qualquer impasse
Neste tanto a me perder,
Encontrando finalmente
O que tanto se apresente
Com as messes do prazer...
32048
Já não vejo a idolatria
Como outrora percebera
A boneca se é de cera
Não traduz o que seria
Respeito a fotografia
E deveras concebera
Tudo quanto recebera
Noutra cena, novo dia,
Meu contato é mais direto
E por isso mais completo
Sem ter atravessadores,
Falo a Ti e não duvido
Sendo ou não sempre atendido
São só teus os meus amores.
32049
Bebo assim desta aguardente
Que seduz e me inebria
Amo a tua eucaristia
Amo a vida que se sente
Neste olhar tão complacente
E deveras na alegria
Sem pensar numa heresia
Sou amigo e estou contente.
Mas não quero esta vergasta
Minha dor somente basta,
Eu preciso acreditar
Em quem possa além de justo
Perceber perdão, mas custo
No chicote a abençoar.
32050
Não me verás de joelho
Não precisa tanta cena,
A minha alma se serena
Quando vê nos meu espelho
Este olhar triste e vermelho
E se tanto amor acena
A verdade diz do engelho
Onde em evangelhos creio
E sem ter mero receio
Quero além, poder te amar.
Meu irmão, meu pai que é Cristo
Se em teu nome sempre insisto,
O universo é teu altar.
Ao parir tanta peçonha
Viperina face exposta
Onde a sorte decomposta
Se mostrara em tez medonha
Quando a morte se envergonha
Desta mesa agora posta
Bebo o quanto se desgosta
Mesmo quando em vão se sonha,
Residente do passado
Bebo o sangue extasiado
Entre vermes, podridão,
Resta em mim o desprazer
E se posso amanhecer
Nego as cores que virão.
32002
Amamento esta irrisão
Entre fúrias e desdéns
E se ainda mesmo vens
Enfrentar tal furacão
Onde pude encarnação
Do demônio que conténs
Riscos tantos negam bens
E se trazem diversão
São serpentes nada mais
Entre fomes vendavais
Entre somas e mentiras,
Do que tanto imaginara
Cada corte, nova escura
Recortando em podres tiras.
32003
Maldições em noites santas
Entre os vermes que possuo,
Tantas vezes continuo
Entre as vozes que levantas,
E se ainda mesmo atuo
Negações que ora quebrantas
No vazio te agigantas
Ar sombrio ora poluo
Rasgo as vestes que me destes
E se tanto te revestes
De alegrias, que se dane
Onde a luz não poderia
Mesmo quando em sintonia,
Alma impura gera a pane.
32004
Os prazeres preteridos
As senzalas que me deste,
O teu canto sendo agreste
Adentrando os meus ouvidos,
Não resistem os sentidos
E se ainda se reveste
Do terror onde se investe
Mantos podres, poluídos,
Navegar em água impura,
E se tanto me tortura
O verdugo em cadafalso
Preparando então a corda,
A minha alma não acorda,
E não vê qualquer percalço.
32005
Ao parir tal serpe enfim
Não notaste este sibilo
E se ainda assim desfilo
A mortalha que há em mim,
O que tanto quis no fim
Entre angústias eu destilo,
Não passando de um estilo
O mordaz se fez mais clean.
Farpas tantas, fardos vários
E os meus cantos temerários
Temporárias ilusões,
E no fundo nada tendo,
O que trago em dividendo
Morte em vida a que te expões.
32006
Escolhida entre milhares
Entre os vermes, a maior,
Uterina foz melhor
Para os podres lupanares
E assim creio em teus altares
Cuja senda eu sei de cor,
Incorporas o pior
Podridão em tais lugares.
Ris do quanto ainda existe
Do cadáver que persiste
Vivo em cada ausência tua,
E se tanto não percebes
Onde mortas velhas sebes
Tua imagem seminua.
32007
Ascos tantos ermos vários
São fantoches nada mais,
E se expões aos vendavais
Os teus ais são necessários,
Não pudessem mais corsários
Entre assíduos temporais
Entornar os magistrais
E demônios temporários,
Sendo assim vergasta e frio,
Tua herança desafio
E bebendo o sangue teu
O que fora um doce mel,
Ao mostrar face cruel,
Noutro tanto se verteu.
32008
Já não posso em meio às chamas
Aplacar o que tu queres
Se entre todas as mulheres
Teus olhares tu reclamas,
Das vergonhas, fardos, dramas
Das tramóias que puderes
Entre tantas se quiseres
Tu terás as mesmas tramas,
Ramas várias do arvoredo
Que sabendo cada enredo
Enredando com terror,
Ao tecer a incongruência
Gera a cada incompetência
Nova cena em vil torpor...
32009
Pândego demônio crias
Com teu leite apodrecido,
E deveras esquecido
Quando ainda fantasias,
Entre tantas heresias,
Ao tocar cada sentido,
No poder enlouquecido
Novos dias desafias,
Desta vil maternidade
Outra sanha é tua herdade
Riscos tantos, fetidez.
E se bebes deste vinho,
No que tange ser sozinho,
Outro verme se refez.
32010
Ao trazer este odioso
Caminhar por entre trevas
O que tanto ainda cevas
Pode ter o prazeroso
Desvendar de farto gozo
E se ainda em ti tu levas,
As certezas mais longevas
Teu sorriso é generoso,
Tetas fartas, leites tantos
E se ainda fossem santos,
Mas de demos são proventos,
Carcomida face exposta
Procurando por resposta
Já perdida pelos ventos...
32011
Sobre tais perversidades
Alimento o meu furor
E gerando este terror
Na medida em que degrades
Os caminhos, qualidades
Entre pedras e torpor,
Nada resta e o dissabor
Com horror bem sei que invades,
O meu verso se fez tanto
Quanto mais pudesse ser
E medonho posso ver
O que ainda teimo e canto
Resistindo o quanto pude
Mato agora a juventude...
32012
Miseráveis arvoredos
Onde as frondes apodrecem
E se tanto se merecem
Não renegam os enredos,
Entre cismas, mesclo medos
E os demônios que se tecem
Novos ritos obedecem,
Mergulhando em tais torpedos,
Arco sempre com engodos
E se tanto adentro em lodos
Charqueadas reconheço,
Tendo em mim o desengano,
O meu verso dita o dano,
Cada farsa outro tropeço.
32013
Os meus dias ditam pestes
E restando muito ou tanto
Nada posso nem espanto
Revestindo o que destes
Explorando inda viestes
Mergulhar em falso santo
Resumindo o desencanto
No que ainda sei agrestes
Esgotando cada passo
Noutro tanto que desfaço
Mal disfarço o desespero,
Risco o nome de quem fora
Sendo a vida traidora,
O que faço em torpe esmero.
32014
Bebo a espuma em cada espasmo
E refaço os dissabores
Adentrando aonde em flores
Não pudesse, pois sarcasmo,
E se ainda vivo pasmo
Ânsias ditam despudores,
Olhos torpes sonhadores,
Só resumem tal marasmo.
Esquecido pelo tempo
Onde houvera contratempo
Lassos dias, laços frágeis
Mas os dedos não se podam,
Nem tampouco mais açodam
Dias lânguidos nem ágeis.
32015
São eternos tais enigmas
E se ainda emplastos trago
O que tanto dita estrago
Não resolvem paradigmas,
Demoníaco sentir
Entre as brumas mais ferozes,
Dos etéreos torpes vozes
Sobrepondo algum porvir,
Resistir já não pudera
Se tamanha estranha luz
Pouparia o que produz
Meramente dura fera,
Assistindo ao meu fastio,
Tão somente o vão recrio.
32016
Matricídios sonhos vis
No verniz que ainda cobres
E se tanto foram nobres
Os que a vida contradiz,
Na mortalha que te fiz,
Ondas frágeis tu recobres
E portanto não desdobres
Este olhar de meretriz,
Se deméritos transcendem
Ao que tanto não atendem
Os meus ermos mais fugazes,
São sacrílegos meus dias
Entre tantas heresias
Os sorrisos que me trazes...
32017
Onde ao menos a tutela
Desta imagem mais sutil,
Poderia se previu
O que tanto se revela,
Onde a vida fosse bela
Mas bem sei ser tanto vil,
O rosnar da fera ouviu
A palavra que ora sela
A verdade mais atroz
E deveras sendo algoz
De quem nada poderia,
Lutos tece quem sonhara
E semeia em tal seara
Esta imagem morta e fria.
32018
Um bastardo bebe a luz
E teimando contra a sorte
Desafia a própria morte
Bebe cada esgoto e pus,
Onde o tempo em contraluz
Nega sempre este suporte
E se ainda não é forte
Cada passo eu não compus
A peçonha mais voraz
Que a verdade não mais traz
Dás assim tua versão
E se o quadro decomposto
Mostra sempre o mesmo rosto
Noutros tantos se verão.
32019
Bebes desta poluída
Água exposta em cada esgoto,
E o meu sonho boquirroto
Não traduz a minha vida,
Do portal tento a saída
E se ainda sigo roto,
Poderia estar no coto
Desta senda já perdida,
Levo em mim a fria chaga
Que a verdade quando alaga
Mostra a sorte em podre sina
Se eu reluto enquanto tento
Na verdade sigo atento,
Mas a mão segue assassina...
32020
Cada resto da ambrosia
Apodrece todo o prato
E se ainda me maltrato
Noutro tanto se recria
A verdade desafia
E o desejo em que retrato
Vai mudando cada fato
E a mortalha se tecia,
Visto a podre face exposta
E decerto decomposta
Do que um dia quis ser messe,
Noutro tanto poderei
Caminhar em torpe grei
Onde o sonho se obedece...
32021
Não me deixe triste assim
Caminheiro do vazio
Quando o tempo desafio
Destruindo o meu jardim,
Busco tanto dentro em mim
E se tanto não desfio,
Cada dia que recrio
Noutro dia chega ao fim,
Sendo atroz este andarilho
Noutro tanto quando trilho
Não encontro solução
O meu verso segue atroz
E ninguém ouvindo a voz,
Outros sonhos não virão...
32022
Fale que gosta de mim,
Mesmo sendo em falsa luz
Ao que tanto já me opus
Nada vejo, e sigo enfim,
Procurando de onde vim
Qualquer rastro se me pus
No caminho feito em cruz,
Da esperança um estopim
Sonegando esta explosão
Outro tempo em negação
Um tormento mais cruel,
Bebo a ausência do querer
E se tanto posso crer,
Não vislumbro claro céu...
32023
Ajude meu coração
A vencer com destemores
E se ainda queres cores
Mudes logo esta estação
Neste inverno não terão
Nem sequer belezas flores
E se tanto ainda fores
Noutra senda ou direção
Não serei mais venturoso
E se busco farto gozo
Glosa a vida num instante
Onde a sorte poderia
Novamente ter um dia
Nada sou; decepcionante.
32024
Me mande essa novidade,
No correio da ilusão
Onde as ondas mostrarão
Noutro tanto quanto invade
Cada praia em liberdade
Encontrando a solução
Novos dias de verão
E decerto a claridade,
Ansioso busco o porto
E se tanto sonho morto
Nada resta senão isto
O vazio que me deste
Sendo o solo tão agreste,
Mas deveras eu insisto.
32025
Não me deixe morrer não,
Já cansado desta luta
A minha alma não reluta
Não se entrega à solidão
E procura a diversão
Onde a força se faz bruta,
Não pretendo tal permuta
Sendo teu meu coração,
Dos instantes mais doridos
Os momentos preferidos
Os que eu tenho e sei de ti
Mergulhando nesta sorte,
Tendo sempre quem conforte
Toda a glória eu conheci.
32026
Meu amor, por caridade,
Não me deixe mais sozinho
Se em teu rumo já me aninho
Quanto amor é de verdade
A saudade que ora invade
Perfazendo o velho ninho,
Açoitando de mansinho
Tanto amor sem liberdade,
Nada resta deste que
Ao saber e não te vê
Bebe as sendas mais doridas
Sem viver cada momento
Nesta ausência me atormento
Tais estradas já perdidas...
32027
Não sabes que és tão ruim
Ao negar ao navegante
Pelo menos um instante
Onde possa ter enfim
Toda a glória, e sendo assim
O meu canto é degradante
A minha alma torturante
Minha história chega ao fim.
Se eu pudesse pelo menos
Entre sonhos mais serenos
Encontrar a paz que busco,
Mas o mundo se transforma
Dos terrores toma a forma
E o meu passo agora é brusco.
32028
Que se abate sobre mim,
O terror do nada ser
E se tenho algum querer
Esperança um vão chupim
Vou perdendo tudo enfim
E não posso mais prazer
Tanta coisa pra viver
Mas tão seco este jardim,
Das verbenas, lírios, rosas
Noites claras majestosas,
Dias belos, primavera...
O que tanto procurava
A saudade audaz e brava
Sonegando cada espera...
32029
Culpada pela desgraça,
De quem tanto te quis bem,
Quanta dor o amor contém,
Vida chega e amarga traça
O caminho em que se passa
Reconheço e sei também
Onde nada existe e tem
Tão somente esta fumaça
O passado tolhe o sonho
E se ainda sou risonho,
Farsa apenas, nada mais,
Onde quis felicidade
Cada passo desagrade
Entre fúrias desiguais.
32030
Sem saber, és assassina,
Pois mataste esta ilusão
E sem ter embarcação
A viagem me alucina
O cenário determina
O terror, degradação
E na ausência de verão
Triste inverno me domina,
Resta apenas a semente
De um amor que tanto quis,
Semeando outro matiz
Neste céu sempre nublado,
Outro dia se apresente
Quem me dera iluminado.
32031
Sobre as ondas mesmo turbulentas
Trazendo o meu saveiro em tais borrascas
E quando em truculência tento lascas
Ainda quando em luto me apresentas
Negando as orações em que atormentas
Vencendo os dias claros, as nevascas
E delas os temores inda mascas
Com máscaras dispersas aparentas
E sei ser mesmo assim inglória mente
Na qual e pela qual já se desmente
O mundo noutro tanto diz do grão
Ardente temporada em luz sombria
Amena quando pode a poesia
Mudando vez em quando a direção.
32032
Ao me jogar contra o vento
Aparento placidez
E se tanto se desfez
O que ainda te apresento
Na verdade o meu intento
Noutra inglória insensatez
Muito embora já não vês
Se é diverso o meu provento
Novo canto nova mente
Por demais que ainda tente
Nossa luz já não verás,
Bebo a fonte e me sacio
E se ainda vejo o rio,
Nele morro sempre audaz.
32033
Vou buscando a minha cruz
Muito embora até prefira
Que deveras minha mira
Seja feita em plena luz,
Mas conforme tanto obus
Na verdade já se atira
E o Deus morto agora gira
E o vivente não seduz,
Eu prefiro ter nas mãos
O que tanto quis irmãos
E sabia perdoar,
Mas a coroa espinhenta
Num Ibope mais sustenta
Que a verdade a libertar.
32034
Com as nuvens se converso
Sei que tanto posso ser
Um lunático que ao ver
Outra cena do universo
Continua mais disperso
E propenso a ter prazer,
Como é duro envelhecer
Se no eterno sigo imerso.
Venço o medo e vejo o céu
Neste imenso carrossel
Num barquinho em correnteza
De papel ou de ilusão,
Do que a torpe embarcação
Pela qual na qual sou presa...
32035
Ao cantar vejo o Calvário
Como fosse um mero fardo,
Não me importa qualquer cardo
Quando assim é necessário
Deste povo temerário
O terror matando o bardo
E se ainda agora eu ardo
Não pressinto algum erário.
Sou apenas um poeta
E se tanto poderia
Não mergulho na vazia
Sensação sempre incompleta
Da paixão, pois o Cordeiro
Vivo está e é verdadeiro.
32036
Peregrinos procurando
Nos rosários, procissões
Encontrar as soluções
De problema mais nefando
Quando vejo o triste bando
Vindo de outras direções
Eu percebo explorações
E Jesus se maltratando.
Quando amor é redenção
E deveras o perdão
Sobressai sobre o milagre,
Tanta dura hipocrisia
Vendilhões do dia a dia
Lançam Cristo pro vinagre...
32037
O Jesus que é passarinho
E deveras canta belo,
Tendo sempre este castelo
Muito embora pobrezinho,
Quando se fez pão e vinho
Não sabia o que revelo
E se tanto amor eu selo,
Neste encanto eu me avizinho
Jogo fora este sudário,
Eu arranco este fadário
E Te beijo, meu irmão,
Tanto amor que vi em Ti
Bem diverso do que ouvi
Nesta missa num sermão.
32038
Eu não temo Jesus Cristo,
Nem tampouco a Jeová
Todo o sol que brilhará
A razão na qual existo
Na verdade sempre insisto
Seja aqui seja acolá
Deste amor que tomará
Todo o ser, nisto persisto,
A mortalha apodrecida,
A senzala destruída,
Liberdade não mais vê,
E por isso meu amor
Tem em Ti o redentor,
Traz à vida o seu por que.
32039
Com total tranqüilidade
A feição sempre serena
Toda a sorte já se acena
Neste amor que tanto agrade,
E semeias liberdade,
Nesta terra amarga e plena,
Toda a fúria se condena
No calor em claridade.
Mas diversas ilusões
Entre tantas emoções
Preferindo-te na cruz.
Não me iludo com tal fato,
Se em verdade eu Te retrato
Bem mais nítido na luz.
32040
Alegria dita o rumo
De quem ama este Cordeiro,
Um amor mais verdadeiro
Entregando até seu sumo,
Na verdade toma o prumo
E se mostra corriqueiro,
Quando vejo e assim me inteiro
Neste fogo eu me consumo.
Mas a cena dolorida
Espinheiros, cruz e pregos...
São cantigas para os cegos
Que não vendo a própria vida
Deste amor que nos redime,
Querem ver bem mais o crime.
32041
Por que tal ferocidade
Demonstrando o duro olhar
Quando eu aprendia amar
Para ter felicidade?
No terror que nos invade
Punição a maltratar
Onde outrora quis altar
Exaltar quem desagrade?
Pai medonho com açoite
E temendo toda noite
Um terrível caricato,
Quando amor diz alegria
Na verdade não porfia,
Nem traduz um insano ato.
32042
Pão e vinho, amor, perdão,
São constantes para quem
Sabe quanto a paz convém
E contém mais que o sermão,
E se tenho adoração
Por quem sei, conheço bem,
E se vejo assim também
Outro amor em solução,
Da vergasta, do chicote
A feição deste coiote
Tanto assusta quanto pune,
Eu só peço, meu Senhor
Que este monstro, em tal pavor
Não escape então impune.
32043
Quando as cinzas da emoção
Encontrarem seu alento
E também raro provento
Nas estâncias da paixão,
Eu encontro a direção
E seguindo assim o vento
Vai liberto o pensamento
Muito além da punição.
Glória ao pai que tanto quero
E se canto e sou sincero
Nada temo, pois em Ti
Percebendo o meu caminho,
Enfrentando cada espinho,
Neste amor que preferi.
32044
Já não quero a hipocrisia
Das igrejas mais sacanas
Em facetas desumanas
O demônio ali se cria,
E se tanto poderia
Crer nas luzes soberanas
Já não quero se me enganas
Vá pro inferno, esta agonia.
O meu Pai é meu amigo
E se é nele o meu abrigo,
Não quero interlocutor,
Aprendendo desde cedo
Que deveras o segredo
Tem feições claras de amor.
32045
Quando os passos sobre passos
Entre rastros que deixaste
Se mostrando com contraste
Ocupando vis espaços,
Eu mergulhos nos teus traços
E deveras caminhaste
Com amor e sendo uma haste
Não suporto mais devassos,
Vendilhões que alugam cruz
E se adonam de Jesus
Como fosse algum brinquedo,
Sortilégio da matilha
Que deveras na partilha
Cobram caro pelo medo.
32046
Clamando enfim pelo amor
Que foi dado sem cobrança
Ao vencer podre aliança
Com ternura e não terror,
Vejo assim em ti o andor,
E deveras nossa herança
Ao futuro já se lança
Trama sempre o redentor,
Mas valor? Não acredito
Que um Deus Pai raro e bonito
Seja disto locatário,
Senhorio dos infernos?
Onde amores foram ternos,
Mais amor é necessário.
32047
Quando posso acreditar
Na beleza feminina
Onde olhar já se destina
Com vontade de tocar
E deveras me alucina
A certeza de te amar,
Mas o quanto pude achar
Nos teus olhos, cristalina
Fonte aonde me inspirasse
Sem saber qualquer impasse
Neste tanto a me perder,
Encontrando finalmente
O que tanto se apresente
Com as messes do prazer...
32048
Já não vejo a idolatria
Como outrora percebera
A boneca se é de cera
Não traduz o que seria
Respeito a fotografia
E deveras concebera
Tudo quanto recebera
Noutra cena, novo dia,
Meu contato é mais direto
E por isso mais completo
Sem ter atravessadores,
Falo a Ti e não duvido
Sendo ou não sempre atendido
São só teus os meus amores.
32049
Bebo assim desta aguardente
Que seduz e me inebria
Amo a tua eucaristia
Amo a vida que se sente
Neste olhar tão complacente
E deveras na alegria
Sem pensar numa heresia
Sou amigo e estou contente.
Mas não quero esta vergasta
Minha dor somente basta,
Eu preciso acreditar
Em quem possa além de justo
Perceber perdão, mas custo
No chicote a abençoar.
32050
Não me verás de joelho
Não precisa tanta cena,
A minha alma se serena
Quando vê nos meu espelho
Este olhar triste e vermelho
E se tanto amor acena
A verdade diz do engelho
Onde em evangelhos creio
E sem ter mero receio
Quero além, poder te amar.
Meu irmão, meu pai que é Cristo
Se em teu nome sempre insisto,
O universo é teu altar.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
31936 até 32000
31936
Espadas que me cortam são sinais
Destes momentos tolos onde eu quis
Vencer cada temor e ser feliz
Ainda que eu bem saiba ser jamais
O tanto onde pudera ou mesmo mais
Negando qualquer sorte, ausente bis
Galgando cada espaço, por um triz
Morrendo sem ternura, em abissais.
Não pude com certeza adivinhar
Momento em que pudesse me entregar
Sangrando em cada poro e sendo assim
O tempo renegando uma esperança
Amor amortalhado na lembrança
Traduz a cada ausência mais o fim.
31937
Pudesse deste amor, saber vacina
E mesmo quando em plena febre ou dor
Vencesse com ternura tal torpor
Que tanto quanto pode me domina,
Mas sendo sonhador, eis esta sina
Tentando novamente recompor
Um mundo aonde exista qualquer flor,
E nela novo tempo determina
Assaz maravilhosa noite enquanto
Realidade mostra em contracanto
O desencanto vário e doloroso,
Pudesse amar e ter a recompensa,
Mas quando não tem cura tal doença
O fim já se aproxima em medo e gozo.
31938
Amor saltando o muro desta casa
Não deixa sequer rastro quando passa,
E tanto se mostrando em vã fumaça
Apenas num momento mera brasa,
A sorte se inda existe já se atrasa
E não desejo ser somente a caça
Risonha fantasia segue escassa
Nem mesmo uma ilusão ainda embasa
E tudo se desaba num momento
E quando alguma sorte teimo e tento
Atento ao que não tenho sigo em frente.
Porquanto se apresente este cenário
Enquanto doloroso e temerário
Traduz qual a esperança uma semente...
31939
As cordas da viola arrebentadas
As ondas deste mar se sossegando
Aonde quis tempesta o mundo é brando
As noites entre estrelas decoradas,
Mas vejo noutras cenas retratadas
Imagens deste tanto que é nefando
E beijo o teu cadáver desde quando
As horas se perderam, vãs estradas.
Resíduo do que fora outrora messe,
E quando o meu caminho recomece
Percebo quanto inúteis foram cenas
Acendo o meu cigarro e mais trago
Da morte com certeza raro afago,
As incertezas sempre foram plenas...
31940
Fechando este portão por onde entrava
A sorte de quem tanto quis sorriso,
E ainda que este tempo é mais conciso,
Rondando o pensamento não se lava
Seara costumeira mesmo escrava
Perdendo com certeza algum juízo,
No fim não restará mais prejuízo
Enquanto o dia a dia sempre agrava.
E sei desta burguesa face aonde
A pura hipocrisia já se esconde
E traça com perfumes importados
Venenos em peçonhas mais atrozes,
E sendo assim diversas, mesmas vozes,
Os riscos sempre foram calculados...
31941
Das dores meus irmãos conhecem bem
A face carcomida da verdade
E tanto poderia uma saudade
Falar desse vazio que contém
Mergulho insanamente onde convém
E o risco de viver em lealdade
Persiste mesmo quando a noite agrade
Ou mesmo quando a sombra ainda vem,
Pecaminosos rumos entre tantos
Não quero ter meus olhos puros, santos
Tampouco poderia acreditar
Na tola incoerência aonde um dia
Eu tento com certeza a fantasia
E sei quanto impossível desvendar...
31942
Entre névoas tantas a saudade
Adentra com terror onde deságua
A vida em dolorosa e torpe mágoa
Enquanto o que inda resta desagrade,
Amar é ter nas mãos realidade
Distante do que sonha em forte frágua
Poluição destroça qualquer água
E a morte transcendendo a tal verdade.
Já não me escravizando pelo verso,
E sinto quanto é bom o ser diverso
Perversa e momentânea moda toma
Caminhos que levando à mesma Roma
Trazendo no seu bojo este alimento
Da minha poesia, o seu provento...
31943
Nada que procure ainda acalma
Quem sabe ser a vida mesmo assim,
E quando a poesia dita o fim,
A fúria adentra impune qualquer alma,
E atento ao que pudesse ser um trauma
Escrevo cada verso e tendo em mim
Certeza deste fútil ser que enfim
Vasculha com terror o que diz calma.
Ser lírico é lorota e nada além,
E tudo o que se faz sempre convém
Se a vida for sincera e não negar
O passo mesmo errôneo deve ter
Ao menos a vontade de poder
Vencer com calmaria o bravo mar.
31943
Em meio às tantas vãs ansiedades
Soergo do que fora alguma imagem
E faço por mim mesmo esta viagem
Rompendo do passado toscas grades,
E ainda que mais forte teimes brades
Não veja da esperança qualidades,
Somente se liberta em tais miragens
Rompendo da ilusão suas barragens
Do ser humano espero tais maldades
E sei não ser possível novo afeto,
Porquanto ao ser mutável e incompleto
Jamais traduziria a perfeição
Aonde se deseja inutilmente
Por mais que noutra face ainda expões
Diversos dos teus dias os verões
Realçam as algemas e correntes.
31944
Os olhos rasos d’água o medo impera
E nada ainda possa me dizer
Do quanto desairoso algum prazer
No qual a fantasia degenera
Aonde a realidade não tempera
Sentindo esta vontade esmorecer
O peso mais atroz posso colher
E sei que não contive mais a fera,
Participando assim da dura cena
Minha alma em solilóquio se apequena
E o quadro desbotado na parede
Traduz o que restara deste sonho
E quando a cada ausência decomponho
Aonde irei matar a minha sede?
31945
Verdugo dos meus versos enquadrados
Em tétricas molduras nada vejo
E sendo assim deveras me apedrejo
E tento seguir fatos demarcados
Onde pudesse crer em tantos fados
O dia após o tanto que eu almejo
Enquanto na ilusão inda verdejo
Traduzo em outros tantos malfadados.
Condeno-me afinal ao ostracismo
Cavando com horror ao velho abismo
E sei que no final nada seria
Senão a mesma face desgraçada
Que tanto traduzira outrora em nada,
E dela faço toda a poesia...
31946
Ocupam meu espírito os temores
De tanta aleivosia, medo e senso
E quando nos engodos teimo e penso
Aonde se pudessem mais horrores
As mortes entre pedras, trevas, flores
Senzala de um viver frágil ou intenso
E nada do que ainda pude extenso
Aos pantanais diversos onde opores
Os cárceres das almas condoídas
Tacanha face engodo sazonal,
Errática loucura diz do quanto
Pudesse não viver somente o espanto
Que sempre se aproxima no final.
31947
Alimentando em mim redemoinhos
E deles se fazendo o dia a dia
Porquanto a própria história desafia
E gera em mais tormentos outros ninhos,
Pudesse adivinhar novos caminhos
E tanto quanto sei desta heresia
A morte a cada passo se desfia
E bebo consagrados caros vinhos,
Aonde nauseabundo não se solde
Retrato desumano sendo o molde
Do qual se reproduz a minha face,
Oprimidos os sonhos, nada resta
E a imagem que se vê, torpe e funesta
Traduz cada momento que desgrace.
31948
Nutrimos a miséria que convém
Nos mesmos vendavais entre as porteiras
E quando se levantam tais bandeiras
No olhar de quem comanda este desdém,
E quantas vezes sendo algum refém
Do charco onde se isolam as fruteiras
E delas podridões são corriqueiras,
Traduzem o que tanto queres bem
Esgarças os sorrisos miseráveis
De quem se fez feliz e não porquanto
Ao mesmo tempo entoa mero espanto
E traça com teus passos deploráveis
Caminhos que talvez digam da luz
Escondida detrás de cada obus.
31949
Se de arrependimentos mais covardes
Pudesse desfiar cada rosário
O mundo não pudesse em necessário
Caminho aonde tanto inda retardes
E vejo com terror o quanto inda ardes
Ousando passos vis reacionários
Rezando na cartilha dos otários
Sabendo que virás em torpes tardes,
Acendo esta fogueira dentro em mim
E tento requentar as ilusões,
Os restos que me destes, provisões
Esgotos dos momentos de onde vim
E tento mesmo assim algum sorriso,
O teu favor irônico e indeciso.
31950
Pagando cada dívida com sangue
E tendo com certeza altos juros
Vivendo entre terrores tais apuros
Recendem ao que ainda trago em mangue
Reajo enquanto posso, mas não sinto
A fúria necessária e juvenil,
O peso que envergara ressurgiu
Qual fora este vulcão há tanto extinto,
E não pudesse ao menos ver o quase
Depois de tantas frases inauditas,
E ficam entranhadas as desditas
Urdindo com temor, dispersa fase.
Mudando a direção retorno ao nada,
Bandeira da esperança, destroçada.
31951
Ao entrar em caminhos enganosos
Servindo como pasto para os sonhos
E tendo estes terríveis e bisonhos
Delírios entre porcos andrajosos,
Vencemos muitas vezes orgulhosos
E quando se pensaram enfadonhos
Os tempos novamente mais risonhos
Produzem falsos guizos prazerosos,
Joguetes deste tanto enquanto nada
Querendo o que jamais se pode ter,
Esboçando um sorriso de querer
Aonde nada pude e nem teria,
Um pária sem sossego bebe o gim
Guardado com ternura dentro em mim
E sente mesmo ausente esta magia.
31952
Acreditando em lágrimas que possam
Talvez nos redimir ou mesmo até
Traçar novo cenário sem galé
Do qual as ilusões bem cedo apossam,
E sendo assim estúpidos remoçam
Risonhos disparates de uma fé,
E tanto poderia vendo a Sé
E dela os mais espúrios sons adoçam
Ouvidos que precisam de mentiras,
E mesmo quando expondo trapos tiras
Retiras os temores; falsa cena,
E a morte se aproxima de algum jeito
E encontra este imbecil já satisfeito
Uma alma com engodos, tão serena...
31953
Trismegisto poder num ente solo
Assim ao se fazer este mistério
No qual e pelo qual, mesmo funéreo
Caminho onde aos poucos me consolo,
E sendo a vida assim com ou sem dolo
O tanto que pudesse ser mais sério
Na indiferença mesmo do minério
Mergulho após o nada neste solo,
Porquanto ser do Ser um mero adendo,
No quanto renascer após morrendo
A morte inexistente ou mesmo espúria,
Não creio ser possível sofrimento
Em quem sabe e proclama seu alento,
Mas onde há redenção vejo lamúria.
31954
Deitando em almofadas ricas cenas
Quem herda do mendigo que dormia
Entre pedras, gramas, a heresia
Tomando com terror aonde apenas
O amor se mostraria em tantas plenas
Verdades que a verdade não procria,
E morto o libertário, uma alforria
Jamais dormiu nas almas tão pequenas.
Engano que eu bem sei proposital
Matando novamente quem se fez
Além da mais vulgar estupidez
Um ser entre os irmãos, o magistral
E agora profanado num altar
Sem cerimônia exposto em vil lugar.
31955
Ao homem não encanta o Pai liberto,
Num sádico caminho, bebe a cruz,
E aonde se mostrou real Jesus,
Apenas o cenário de um deserto,
O mundo em paz e amor mal descoberto
Recende e necessita mais do pus,
Negando a mais sublime e bela luz
Apenas pelas trevas encoberto,
Que dane-se a Paixão, dela não quero,
Prefiro o Irmão sereno e mais sincero
Cadáver não me atrai, quanto nefando
Cenário se mostrara o Redentor?
Esquecem-se deveras deste amor
Que em VIDA, o irmão se fez, sempre se dando...
31956
Vontades demoníacas porquanto
Dominam pensamentos, tentações
E quando as mesmas faces e emoções
Desmancham o que fora frágil canto,
Difícil ser cristão, por isso o encanto.
Desejos mais audazes em verões
Enquanto neste inverno tu compões
A vida se mostrando em tal quebranto,
As festas gozos risos e bacantes
Deliciosos mesmos tais instantes
E neles Satanás presença em glória
A pedra não permite a caminhada
Suave; mas em Cristo esta jornada
É feita sobre escombro ausência e escória.
31957
Vaporizados ares em perfumes
De fêmeas, machos, ritos, gozos, risos,
Na terra os mais diversos paraísos
Trazendo aos caminhantes tantos lumes,
Se queres paz eterna que acostumes
Aos dias mais doridos e imprecisos,
A liberdade dita tais granizos,
E trama a cada passo mais ardumes,
Ouvir calado e ter a sensação
Desta injustiça enorme e com perdão
Sanar os espinheiros mais vulgares;
Deveras são de restos e migalhas
Apenas, camas feitas entre palhas
Reais e sacrossantos Teus altares.
31958
Demônio move a Terra a cada passo,
E assim não é possível a quem vê
Sem ter sequer noção de algum por que
Seguir outro caminho que ora traço,
E sinto ser mais fácil cada espaço
No qual a imagem bela em que se crê
Bezerros em dourado rito lê
A história pela qual o mundo eu faço.
Falar de amor, de paz e liberdade
A quem se aprisiona na vontade
Gananciosamente desnudado,
É como procurar em tal palheiro
Agulha onde se tece um mundo inteiro
Porquanto ser mais doce algum pecado.
31959
Não vês com repugnância este Demônio
Pintado com terrível falsidade,
Imagem tão bonita que te agrade
Aumenta a cada instante o patrimônio,
Deliciosamente em pandemônio
Enquanto se traduz outra inverdade
Satã com seu reinado em claridade
Divino caminhar? Negando hormônio
Fingindo ser diverso o que ora anseia,
E quando se percebe adentra a veia
E gera com ternura este abandono.
Goteja prazerosa esta figura,
Enquanto em Cristo vã caricatura
Do hedônico demônio ao tolo sono...
31960
Descemos ao Inferno, ou subimos
Nos gozos aparentes ou reais,
E quando se percebem tais cristais
Orgásticos caminhos tramam cimos,
E vejo quão difíceis estes limos
Aonde escorregamos mais e mais,
Caminhos para o Pai são abissais,
Enquanto para o Demo são floridos,
E sonegando às vezes os sentidos,
Mergulhos tão diversos contra a fome
E a sede do prazer que tanto atrai
Negar o que se quer e Ver o Pai,
Vigie enquanto o homem enfim se dome...
31961
Seguir rumo aos encantos de um Inferno
Gerado com prazeres mais audazes
E quando em voz serena tu me trazes
Momentos de prazeres, eu me interno
Nos antros onde nunca em vida o inverno
Transporta com terrores suas fases,
E assim ao perceber quando me fazes
Feliz com teu carinho audaz e terno.
Serena noite em gozos imprudentes,
E sinto quanto são sempre envolventes
Os braços, coxas, pernas, ritos risos,
Gestando com orgasmos Paraísos,
E neles me entranhando sem pudor.
Satã com seus acordes mais profanos
(Expressa em delicados, belos panos
Cenário, com certeza, sedutor...)
31962
Apenas libertino camarada
Que adentra coxas, pernas, cocaína
Assim aos poucos a alma se domina
E vê com mais prazer a madrugada,
A cena desta forma desenhada
Enquanto a cada instante mais fascina
Nos gozos estampados na menina,
A porta de um inferno arreganhada.
Embriagado eu bebo o farto vinho
E quando noutros tantos eu me aninho,
Desvendo de Satã cada momento,
E volto contra a estrada em tais cascalhos,
São fáceis e gostosos os atalhos
Dos quais insanamente eu me alimento.
31963
Na bela prostituta em gargalhadas
As sortes mais felizes e gentis,
Nas balas nos anseios mais sutis
As horas vagam belas madrugadas,
Em bêbadas figuras desvendadas,
Eu sou por um instante mais feliz,
E tendo tudo aquilo que mais quis,
Perfaço para o inferno tais jornadas,
As peles entre peles e motéis,
As hordas entre corjas, doces méis
E o pântano de gozos nos lençóis
Uma oração que faço a Satanás
E nela o quanto posso ser audaz,
Tramando com delírios meus faróis...
31964
Prazeres clandestinos, o poder
Do forte que desmancha assim o fraco
Um biltre? Nada disso, quando ataco
Certeza de sorver todo o prazer,
Usando com terror eu passo a ver,
Do todo desenhado cada naco,
Erguendo um novo brinde rendo à Baco
Deliciosamente o meu querer.
Eclodem no caminho que perfaço
Deliciosas ninfas, cada traço
Desnuda maravilha em tez profana,
Enquanto este andarilho, este beato,
A cada novo passo, mais maltrato
A força que carrego é soberana.
31965
Exprimo com palavras a verdade
Dos gozos magistrais que encontro em ti,
E sei Satã o quanto mereci
Vivendo com prazer à saciedade,
Assim ao macular a sociedade,
Vomito no que encontro e sei aqui
Compartilhando o tanto que venci,
E nada do que resta desagrade.
Enquanto este romeiro segue assim,
Jogado pelas pedras, no capim,
Expondo a caricata face em Deus,
Eu bebo esta delícia em aguardentes
Pisando sobre os tolos penitentes
Comendo estes farnéis, os meus e os teus...
31966
Caminho entre formigas, pedra e espinho,
As dores são constantes e terríveis
E quando se pensaram impossíveis
Piores são as cenas e sozinho
Não tendo quem me faça algum carinho,
Não posso converter dias plausíveis
E sem prazer vivendo em tais desníveis
Encontro no final o manso ninho.
Assim ao procurar a paz divina,
A morte a cada passo descortina
Lamurias entre tantas desventuras,
Enquanto para o Demo claridade,
Ao Pai somente medo e tempestade
Imerso em noites tristes mais escuras...
31967
Entre opressores vários- meus anseios-
Procuro alguma senda que permita
Viver o quanto possa ser bonita
A vida após vencer difíceis veios,
E mesmo quando olhares são alheios
Renego a imensidade da pepita
Aonde lapidada se acredita
Riquezas entre gozos, sem receios.
Não posso acreditar quão doloroso
Caminho em que eu sonegue cada gozo
Buscando eternidade, um contra-senso.
Se eu quero estar em Ti, Pai soberano,
No quanto perco e mesmo até me dano,
Nem mesmo por instantes, inda penso.
31968
Tirar dentro de mim cada desejo
E crer na eternidade após o não,
E ter toda a certeza em negação,
Caminho dolorido que prevejo;
E se deveras paz ainda almejo
Mudando com firmeza a direção
E ter a mais cruel sonegação
Do quanto poderia ser sobejo.
Difícil caminhada para Ti,
Ganhar quando em princípio eu já perdi
Negar cada prazer e ser só Teu,
Desnudo do que seja mais humano,
E ter a benção feita em todo dano,
E ver a claridade enquanto é breu.
31969
No cérebro pululam mil demônios
E vagam entre as ruas, belas pernas,
Fortunas e delírios, cenas ternas,
Se dentro em mim percebo pandemônios
Beber o sangue mesmo dos campônios,
Rasgar as minhas ânsias em modernas
Figuras que pensara mais eternas
Negar o que aprendi desde os mecônios.
Eu tento a cada instante, mas eu sei
Quanto é difícil Pai seguir a lei
Que traz a negação e nos liberta,
Escravo se acostuma com chibata
E quando destas mãos já se arrebata
Trocando pela vida que é sempre incerta...
31970
A morte a cada vã respiração
Esgota quem tentara ser mais forte,
E sei do quanto ainda nos comporte
O passo sendo dado em negação,
Mergulho neste abismo e sei que é vão
O rumo traduzindo gozo e sorte,
E tanto poderia noutro norte
Viver com alegria e com tesão.
É certo que os excertos são diversos
E os dias quando em Deus seguem imersos
Propagam dimensões bem variáveis,
Mas tanto quanto posso sonegar
O que de humano existe e Te abraçar
Em solos que jamais pensei aráveis...
31971
Descendo pelas costumeiras
Os ares, mares, bares sendas tantas
E quando de manhã tu te levantas
Não vês as faces turvas e matreiras
Das ânsias que dominam, são bandeiras
E nelas as verdades quando encantas
Risíveis camaradas; cedo espantas
E traças com as farsas corriqueiras,
Peçonhas exaladas são mortalhas
E nelas quando aos gozos mais atalhas
Retalhas com furores cada parte,
E tudo se repete enquanto vis
Momentos não te fazem mais feliz
No quanto do prazer queres, repartes.
31972
Incêndios entre farpas, fardas, facas,
E assim caminha sempre a humanidade,
Aonde se pudera em humildade
Não vês já desferidas tais estacas,
E tanto quanto podes não aplacas
Nem mesmo se deveras inda invade
A seca quanto pode à saciedade
Mordaça em tua boca pátrias lacas.
Pacato até que surja este demônio
Que possa transcender ao próprio hormônio
Visceralmente expondo esta vingança
Aí num ato insano já se lança
E queres devorar cada pedaço
De quem noutro cenário agora eu traço.
31973
Violas os sentidos mais cristãos
Enquanto te devora a insanidade
No gozo do prazer a quantidade
Gerada pela infâmia dita os grãos,
E o que pensara outrora serem vãos
Não deixam que se tenha a claridade
Porquanto noutro tempo atrás a grade
Não vence os mais audazes, tolos nãos.
Eclode vez em quando a imensa fúria
E assim conclama sempre ao linchamento,
A cena traz o gozo do alimento
Aonde a besta fera se sacia
Satânicos deveras somos nós,
E a cada novo frêmito este algoz
Arranca a angelical, vã fantasia.
31974
É placentário mesmo este diabo
Que ainda não porfia enquanto quieto,
Mas quando vê repasto predileto
O quanto protegia já desabo,
E ao ver este cenário enfim me acabo
Resisto enquanto posso, mas dileto
Demônio noutro tanto me completo
E assim o verdadeiro ser nababo
Que ainda existe e vive nas entranhas
Subindo dos abismos às montanhas
Expõe a face nua de Satã
E quando não se vê representado
No gozo bem profícuo o disfarçado
Demônio que cultivo a cada afã.
31975
Eu sou já desde o início um canibal
Que adora sangue exposto em cada esquina
E quando a tez atroz mesmo assassina
Redunda num terrível ritual,
Eu bebo cada gota e sei normal,
A fonte aonde a morte me ilumina
Insaciável ser que me domina
Jogando na esperança a pá de cal,
Calvários espalhando a cada dia,
E quando no mendigo em ironia
Não vejo aquele irmão que me ensinaste,
A pútrida faceta verdadeira
Da serpe tão comum e corriqueira
Jamais terá enfim qualquer desgaste.
31976
Uma alma quando ousada verte em pus
E traça com as unhas afiadas
As cenas tantas vezes degradadas
E nelas com certeza singram luz
Ao quanto de satânico me opus
E sei são bem melhores tais estradas
Aonde não se vendo desgarradas
Ovelhas farto pasto reproduz
A senda mais gostosa e desejando
Um tempo aonde etéreo e manso bando
Bebendo cada gota da nascente
Mostrada em limpidez tanta fartura,
Prazer negando a fome já perdura
Traçando amanhecer iridescente.
31977
Entre chacais, abutres, rapineiras
As sortes são daninhas? Não mais creio,
E quando cada podre vão rodeio
Eu beijo as putas, bebo as benzedeiras
Assim ao receber as carpideiras
O pagamento à vista, não anseio
E vejo sob as vestes cada seio
Desejo se aflorando, são bandeiras
As sendas desvendadas na nudez
E tudo o que decerto ainda crês
Não vale um gozo forte e em tal orgasmo,
A parte que me cabe, saciada
Lacônica presença demonstrada
O resto se vendendo com sarcasmo...
31978
Panteras gostam mesmo é da tocaia
E a sorte não produz outro momento
Aonde se pudesse me apresento
Levanto da morena, a curta saia,
E sei que quanto mais assim se esvaia
O tempo noutro tanto eu não lamento
E quando em algum gozo me alimento,
Procuro a insanidade em cada praia.
O sarro, o carro, as mãos tocando os seios
E nada do que possam ser receios
No golpe financeiro, no achincalhe
Portanto ser feliz pressupõe isto
E até se ainda fosse bom, desisto
Bebendo cada pus que se amealhe.
31979
Deus salve as prostitutas e as vadias,
São nelas que eu encontro o Paraíso,
Embora no meu bolso o prejuízo,
As sortes mais audazes tu procrias
Nas coxas e nas mãos, bocas e as pias
Lavando as bocas tolas sem juízo
Do quanto deste gozo mais preciso,
E nele as orações que bendizias
Desta água benta feita em lupanares,
E quando novos rumos procurares
Verás as mesmas cenas do passado.
O carro entre os faróis, sinais e senhas,
Conquanto com tesão tu sempre venhas
Assim nosso destino abençoado!
31980
Anseio escorpiônico em veneno
Delírio desta cauda caudalosa,
E quando vejo o rabo a mente goza,
E assim me considero em ti mais pleno,
A cada requebrado um novo aceno,
E toda a sorte em gruta majestosa,
A porta deste inferno aberta posa
Chamando para o jogo, concateno.
E miro o que pudesse destas ancas
Aonde com vontades bem mais francas
Ascendes ao que tanto desejara,
Bendigo a putaria, meu altar
E posso sem temor me dedicar
Sabendo quanto a grana me escancara...
31981
Monstruosas cenas repetidas
E tento vislumbrar a solução
Enquanto as mesmas horas dizem não
Perdendo o que pudessem minhas vidas
E nada do quanto tu duvidas
Deveras novos dias mostrarão
Se tanto se perdesse meu verão
Não vendo solução mortas saídas,
Resisto às tempestades e pudera
Ainda acreditar na primavera
Mergulho no passado e trago a face
Dos vários e temíveis desalentos
Bebendo cada gota destes ventos
Na morte onde a verdade sempre grasse.
31982
O quanto sou decerto mais infame
E teimo contra a fúria desumana
E quanto mais a sorte toma e dana
A sorte noutra sorte não proclame,
Resido no que possa enquanto clame
A morte desvendada ora se explana
E bebo do passado aonde ufana
O corte que deveras já reclame
Audaciosamente eu sobrevivo
E tento ser por certo mais altivo
Embora saiba ser cativo quando
O medo não traduz outro caminho,
E se demônios crio, já me aninho
No porto quando em vão sigo ancorando.
31983
Eu sei que na verdade sendo imundo
Não tenho outra saída e nem tento,
A morte será sempre o meu provento
Enquanto neste intento me aprofundo,
O resto do passado doma o mundo
E teimo com razão quando me invento
E tanto poderia estar atento
E nada se não fosse vagabundo,
Em moribunda face sou medonho
Bacante delirante quando sonho
Não vê quanto é preciso a paz e sangra
Restando ao navegante ao menos a angra
E nela se procura sempre assim
O que restou ainda; vivo em mim.
31984
Não quero grandes gestos, pois heróicos
E tanto na verdade; engano quem
Já sabe do vazio que contém
Iludidos espectros quando estóicos
Dos bólidos gigantes, são eólicos
Os riscos entre festas quanto tem
Corsários navegantes vão aquém
Cruzeiros entre riscos mais bucólicos
Acasos entranhando ocasos toscos
E beijo os meus enganos entre lances
Porquanto no vazio queres, lances
Cenários muitas vezes bem mais foscos
Ecléticos poéticos titânicos
No fundo são decerto mais mecânicos...
31985
Os gritos entre gritas gestam nada
E ao pântano conduzem quando tanto
E sendo assim se ainda me agiganto
Mergulho nesta senda destroçada,
Resumo cada frase na estocada
Aonde me defendo e me levanto
Se eu posso ou se no poço moldo o pranto
Depois de certas horas, desagrada.
A gata parda mostra as presas e unhas
Além do que decerto inda supunhas
E afia com terrores vis promessas,
E sendo mais sutis as suas manhas
Partidas que julgavas todas ganhas
Ao ver os teus enganos já tropeças...
31986
Apenas um despojo e nada mais,
Assim me retratando, um pária eu crio
E tanto poderia em desvario
Mas nada do que penso em terminais
Momentos não seriam desiguais
E neles cada prece, novo fio,
Acende dos demônios o pavio
E beijo as rosas podres e infernais.
Restituída ao fim a minha história
Adentro cada parte desta escória
Que tanto imaginara persistindo
E sei o quanto a morte não existe
E tanto quando eu pude embora triste
Saber do ser humano, podre e findo.
31987
O mundo é verdadeiro e podre esgoto
Não trago as ilusões da juventude
Ainda que pudesse e mesmo eu pude
Que faço se este manto agora é roto?
O tanto quanto pude se vinhoto
O quadro se moldando e se amiúde
Apenas procurando este ataúde
Da sorte se amputada beijo o coto.
Aporto em tais estranhas cercanias
E quanto mais ainda a morte adias,
As heresias tomam o cenário.
Eu rio do que tanto poderia
E nada da verdade em sintonia
Mostrasse além do encanto temerário...
31988
Tragado pelo mundo em terra imunda
Não pude concentrar a força em luta
Aonde não se vence imagem bruta
Enquanto a sordidez amarga inunda,
E navegando em água podre, afunda
O sonho de quem alma fora astuta
E agora com certeza não reluta,
E vê cada faceta mais profunda.
Resulto do que tanto quis outrora
A própria inexistência aonde ancora
O sonho desespera e desampara,
Restando do cadáver ambulante
Velório que decerto se adiante
E o corte profanando a sorte amara...
31989
O tédio entre tristezas e fornalhas
Festivamente toma toda a cena,
E quando a vida traça em luz mais plena
Ainda entre os demônios tu retalhas
As horas se cerzindo nas batalhas
O fardo não transcende enquanto a amena
Perplexa fantasia ao longe acena,
Não vendo nem as sombras das navalhas.
Existo e na verdade isto me basta,
Sarjeta entre bebidas, podres águas
E quando no vazio tu deságuas
Tua alma incoerente, porém casta,
Não vê a minha face decomposta,
Imersa neste esgoto, em plena bosta.
31990
Meus olhos seguem grávidos do medo,
E sei que talvez isso me socorra,
A cama ainda guarda a velha porra
Do tempo em que feliz, nada mais cedo,
Percebo cada etapa em seu enredo,
E nada além do quanto ainda morra
Do sonho sem ter nada, velha borra
Marcando com terror cada segredo.
Na fétida impressão do ser vazio
E tanto quanto posso ainda espio
E vejo dos meus dias mero engodo,
Participando assim do meu velório
O quanto fui; na vida, merencório
Traduz neste pedaço o inerme todo.
31991
Meus olhos encharcados pelo pranto
Ainda que pareça um contra-senso
Falar de tanta coisa que não penso
E mesmo quando vejo já me espanto,
Não pude renegar o tanto quanto
Vivera em ar sombrio e sendo tenso
Mergulho neste vago quando imenso
E bebo até fartar sereia e canto.
Mas inutilidade dita o verso
De quem se faz assim em existência
Negando do caminho coincidência
Ou mesmo procurando outra seara,
Mais fácil é ser comum e ter no sonho
Figura onde mesmo me componho,
E quando em desespero sempre ampara.
31992
Sonhar com outras horas mais tranqüilas
Enquanto acendo assim o meu cigarro
E quando da ilusão eu me desgarro
Porquanto em cenas tétricas desfilas
Renego as velhas lendas e as argilas
Expresso esta vontade a cada esbarro
Do tempo noutro tempo e quando escarro
Teu ódio sem igual não desopilas.
Resquício do que fora alguma farsa
A sorte se mostrando quando esgarça
A rota agora rota e mais puída
No quadro desenhado em tez profana,
Uma alma mais simplória já se engana
E pensa ter nas mãos a própria vida.
31993
Preparo o meu patíbulo porquanto
Renego qualquer forma de heresia,
E sendo a realidade o que se cria
E nela cada fase dita encanto,
Se a voz mais alta tento e até levanto,
Por mais que seja aberto o dia a dia,
Ainda vive em nós a sacristia
E o olhar deste demônio quase santo.
Ecléticos parceiros de um só jogo,
Não quero e não permito em mim um rogo
Pedindo a quem puder se errei demais,
Meus passos na verdade sendo falsos
São meus assumo logo os cadafalsos,
Assim como gerei meus vendavais.
31994
Tu conheces a face do diabo
E quando vês no espelho este retrato
Deveras com terror negando o trato
Enquanto te percebo e assim desabo.
No todo que porfio não acabo
E mesmo que pudesse ao ter um ato
Em discordância tal, teimo e maltrato,
Faltando para tanto chifre e rabo.
Perpetuando o mal que em mim existe,
O dedo aponta sempre e enquanto em riste
Não deixa que se veja nova face,
Ainda renegando esta verdade
Na tétrica figura que degrade,
Realidade sempre dome e grasse...
31995
Não sou somente hipócrita, sou mais.
E finjo que não vejo quem sou eu
No quanto do meu todo se perdeu
Exposto aos meus anseios tão venais,
Assim ao me encontrar entre animais,
Mais animal ainda se verteu
Uma alma deste ser que não ateu
Matando Deus em ritos marginais.
Escusa criatura, nego a cena
E quando a própria vida me envenena
Eu sorvo cada gota com prazer,
Depois venho pedindo a salvação,
Irônica faceta do leão
Que manso gato teima em parecer...
31996
Surgindo após as tantas tempestades
A voz de quem se fez o tradutor
Dos gozos e dos medos, do terror
Rompendo ou mesmo até gerando grades,
Ainda que deveras desagrades
Do tom aonde mostra este cantor
O quanto desta vida em estupor
Pudesse ter mil sonhos e verdades,
Poeta ou escritor, mero fantoche
Que adentra pela insânia ou no deboche
Arranca dos seus ermos, viscerais
Momentos entre tantos risos, prantos,
E tenta traduzir com torpes mantos
Os dias sempre insanos, desiguais...
31997
Num mundo enfastiado em tez profana
A carne sobrepõe-se plenamente
E embora muitas vezes tanto mente
Que até sua verdade mesmo engana,
A ponte se criando em voz humana
Não deixa outro momento em que se assente
A fúria de um tormento que apascente
Nem mesmo a dor da qual por tanto ufana,
Aplausos e ironias, sem claquete
O todo noutro tanto se repete
E assim interminável poesia.
Que quanto mais desnuda, fere e ri,
E tendo este universo inteiro aqui,
Mais outro na verdade, uma alma cria.
31998
Blasfêmias entre falsos e verdades,
Assisto ao que não pude e nem pudera
Alimentando em mim, ternura e fera,
As cordas arrebento quando invades
E tanto ainda insana teimas, brades
Navega com terror a primavera
E sei da inconsistência da quimera
Tampouco desfiando qualidades.
Medonho caricato espelhos trago
De uma alma em sordidez e se me estrago
Degrado com ternura em falsa luz,
A voz que amaciara ou te iludira
Agora se retalha e em cada tira,
Expondo meramente a dor e o pus.
31999
Crispando o meu olhar neste horizonte
Renego qualquer fonte e mato quando
O tempo noutro tanto se nublando
Apenas o vazio ainda aponte,
E mesmo que outro tempo já desponte,
No quanto desaponta em ar nefando,
A morte se tecendo e desvendando
Negando para a sorte nova ponte,
Esgarço em versos vagos outros tantos
E beijo com furor os desenganos,
Pudesse atear fogo nestes panos,
E os mortos que carrego, sem espantos
Mas pútrida verdade nega o fato
Aonde fielmente eu me retrato.
32000
Não quero a piedade nem tampouco
Apenas a mortalha que me dás
E nada do que possa ainda a paz
Gerando em mim diverso e sonso louco.
O quadro que se tece sendo pouco
E a carne mostra a fúria mais audaz,
Edênico caminho à Satanás
E se pareço insano ou me treslouco,
Risível caricato quando rezas
E tudo que não queres e desprezas
Perece com teu ódio, ser imundo.
Negar a própria sorte; falsifica
A imagem do que tanto agora implica
Num ser em alma podre, um vagabundo
Espadas que me cortam são sinais
Destes momentos tolos onde eu quis
Vencer cada temor e ser feliz
Ainda que eu bem saiba ser jamais
O tanto onde pudera ou mesmo mais
Negando qualquer sorte, ausente bis
Galgando cada espaço, por um triz
Morrendo sem ternura, em abissais.
Não pude com certeza adivinhar
Momento em que pudesse me entregar
Sangrando em cada poro e sendo assim
O tempo renegando uma esperança
Amor amortalhado na lembrança
Traduz a cada ausência mais o fim.
31937
Pudesse deste amor, saber vacina
E mesmo quando em plena febre ou dor
Vencesse com ternura tal torpor
Que tanto quanto pode me domina,
Mas sendo sonhador, eis esta sina
Tentando novamente recompor
Um mundo aonde exista qualquer flor,
E nela novo tempo determina
Assaz maravilhosa noite enquanto
Realidade mostra em contracanto
O desencanto vário e doloroso,
Pudesse amar e ter a recompensa,
Mas quando não tem cura tal doença
O fim já se aproxima em medo e gozo.
31938
Amor saltando o muro desta casa
Não deixa sequer rastro quando passa,
E tanto se mostrando em vã fumaça
Apenas num momento mera brasa,
A sorte se inda existe já se atrasa
E não desejo ser somente a caça
Risonha fantasia segue escassa
Nem mesmo uma ilusão ainda embasa
E tudo se desaba num momento
E quando alguma sorte teimo e tento
Atento ao que não tenho sigo em frente.
Porquanto se apresente este cenário
Enquanto doloroso e temerário
Traduz qual a esperança uma semente...
31939
As cordas da viola arrebentadas
As ondas deste mar se sossegando
Aonde quis tempesta o mundo é brando
As noites entre estrelas decoradas,
Mas vejo noutras cenas retratadas
Imagens deste tanto que é nefando
E beijo o teu cadáver desde quando
As horas se perderam, vãs estradas.
Resíduo do que fora outrora messe,
E quando o meu caminho recomece
Percebo quanto inúteis foram cenas
Acendo o meu cigarro e mais trago
Da morte com certeza raro afago,
As incertezas sempre foram plenas...
31940
Fechando este portão por onde entrava
A sorte de quem tanto quis sorriso,
E ainda que este tempo é mais conciso,
Rondando o pensamento não se lava
Seara costumeira mesmo escrava
Perdendo com certeza algum juízo,
No fim não restará mais prejuízo
Enquanto o dia a dia sempre agrava.
E sei desta burguesa face aonde
A pura hipocrisia já se esconde
E traça com perfumes importados
Venenos em peçonhas mais atrozes,
E sendo assim diversas, mesmas vozes,
Os riscos sempre foram calculados...
31941
Das dores meus irmãos conhecem bem
A face carcomida da verdade
E tanto poderia uma saudade
Falar desse vazio que contém
Mergulho insanamente onde convém
E o risco de viver em lealdade
Persiste mesmo quando a noite agrade
Ou mesmo quando a sombra ainda vem,
Pecaminosos rumos entre tantos
Não quero ter meus olhos puros, santos
Tampouco poderia acreditar
Na tola incoerência aonde um dia
Eu tento com certeza a fantasia
E sei quanto impossível desvendar...
31942
Entre névoas tantas a saudade
Adentra com terror onde deságua
A vida em dolorosa e torpe mágoa
Enquanto o que inda resta desagrade,
Amar é ter nas mãos realidade
Distante do que sonha em forte frágua
Poluição destroça qualquer água
E a morte transcendendo a tal verdade.
Já não me escravizando pelo verso,
E sinto quanto é bom o ser diverso
Perversa e momentânea moda toma
Caminhos que levando à mesma Roma
Trazendo no seu bojo este alimento
Da minha poesia, o seu provento...
31943
Nada que procure ainda acalma
Quem sabe ser a vida mesmo assim,
E quando a poesia dita o fim,
A fúria adentra impune qualquer alma,
E atento ao que pudesse ser um trauma
Escrevo cada verso e tendo em mim
Certeza deste fútil ser que enfim
Vasculha com terror o que diz calma.
Ser lírico é lorota e nada além,
E tudo o que se faz sempre convém
Se a vida for sincera e não negar
O passo mesmo errôneo deve ter
Ao menos a vontade de poder
Vencer com calmaria o bravo mar.
31943
Em meio às tantas vãs ansiedades
Soergo do que fora alguma imagem
E faço por mim mesmo esta viagem
Rompendo do passado toscas grades,
E ainda que mais forte teimes brades
Não veja da esperança qualidades,
Somente se liberta em tais miragens
Rompendo da ilusão suas barragens
Do ser humano espero tais maldades
E sei não ser possível novo afeto,
Porquanto ao ser mutável e incompleto
Jamais traduziria a perfeição
Aonde se deseja inutilmente
Por mais que noutra face ainda expões
Diversos dos teus dias os verões
Realçam as algemas e correntes.
31944
Os olhos rasos d’água o medo impera
E nada ainda possa me dizer
Do quanto desairoso algum prazer
No qual a fantasia degenera
Aonde a realidade não tempera
Sentindo esta vontade esmorecer
O peso mais atroz posso colher
E sei que não contive mais a fera,
Participando assim da dura cena
Minha alma em solilóquio se apequena
E o quadro desbotado na parede
Traduz o que restara deste sonho
E quando a cada ausência decomponho
Aonde irei matar a minha sede?
31945
Verdugo dos meus versos enquadrados
Em tétricas molduras nada vejo
E sendo assim deveras me apedrejo
E tento seguir fatos demarcados
Onde pudesse crer em tantos fados
O dia após o tanto que eu almejo
Enquanto na ilusão inda verdejo
Traduzo em outros tantos malfadados.
Condeno-me afinal ao ostracismo
Cavando com horror ao velho abismo
E sei que no final nada seria
Senão a mesma face desgraçada
Que tanto traduzira outrora em nada,
E dela faço toda a poesia...
31946
Ocupam meu espírito os temores
De tanta aleivosia, medo e senso
E quando nos engodos teimo e penso
Aonde se pudessem mais horrores
As mortes entre pedras, trevas, flores
Senzala de um viver frágil ou intenso
E nada do que ainda pude extenso
Aos pantanais diversos onde opores
Os cárceres das almas condoídas
Tacanha face engodo sazonal,
Errática loucura diz do quanto
Pudesse não viver somente o espanto
Que sempre se aproxima no final.
31947
Alimentando em mim redemoinhos
E deles se fazendo o dia a dia
Porquanto a própria história desafia
E gera em mais tormentos outros ninhos,
Pudesse adivinhar novos caminhos
E tanto quanto sei desta heresia
A morte a cada passo se desfia
E bebo consagrados caros vinhos,
Aonde nauseabundo não se solde
Retrato desumano sendo o molde
Do qual se reproduz a minha face,
Oprimidos os sonhos, nada resta
E a imagem que se vê, torpe e funesta
Traduz cada momento que desgrace.
31948
Nutrimos a miséria que convém
Nos mesmos vendavais entre as porteiras
E quando se levantam tais bandeiras
No olhar de quem comanda este desdém,
E quantas vezes sendo algum refém
Do charco onde se isolam as fruteiras
E delas podridões são corriqueiras,
Traduzem o que tanto queres bem
Esgarças os sorrisos miseráveis
De quem se fez feliz e não porquanto
Ao mesmo tempo entoa mero espanto
E traça com teus passos deploráveis
Caminhos que talvez digam da luz
Escondida detrás de cada obus.
31949
Se de arrependimentos mais covardes
Pudesse desfiar cada rosário
O mundo não pudesse em necessário
Caminho aonde tanto inda retardes
E vejo com terror o quanto inda ardes
Ousando passos vis reacionários
Rezando na cartilha dos otários
Sabendo que virás em torpes tardes,
Acendo esta fogueira dentro em mim
E tento requentar as ilusões,
Os restos que me destes, provisões
Esgotos dos momentos de onde vim
E tento mesmo assim algum sorriso,
O teu favor irônico e indeciso.
31950
Pagando cada dívida com sangue
E tendo com certeza altos juros
Vivendo entre terrores tais apuros
Recendem ao que ainda trago em mangue
Reajo enquanto posso, mas não sinto
A fúria necessária e juvenil,
O peso que envergara ressurgiu
Qual fora este vulcão há tanto extinto,
E não pudesse ao menos ver o quase
Depois de tantas frases inauditas,
E ficam entranhadas as desditas
Urdindo com temor, dispersa fase.
Mudando a direção retorno ao nada,
Bandeira da esperança, destroçada.
31951
Ao entrar em caminhos enganosos
Servindo como pasto para os sonhos
E tendo estes terríveis e bisonhos
Delírios entre porcos andrajosos,
Vencemos muitas vezes orgulhosos
E quando se pensaram enfadonhos
Os tempos novamente mais risonhos
Produzem falsos guizos prazerosos,
Joguetes deste tanto enquanto nada
Querendo o que jamais se pode ter,
Esboçando um sorriso de querer
Aonde nada pude e nem teria,
Um pária sem sossego bebe o gim
Guardado com ternura dentro em mim
E sente mesmo ausente esta magia.
31952
Acreditando em lágrimas que possam
Talvez nos redimir ou mesmo até
Traçar novo cenário sem galé
Do qual as ilusões bem cedo apossam,
E sendo assim estúpidos remoçam
Risonhos disparates de uma fé,
E tanto poderia vendo a Sé
E dela os mais espúrios sons adoçam
Ouvidos que precisam de mentiras,
E mesmo quando expondo trapos tiras
Retiras os temores; falsa cena,
E a morte se aproxima de algum jeito
E encontra este imbecil já satisfeito
Uma alma com engodos, tão serena...
31953
Trismegisto poder num ente solo
Assim ao se fazer este mistério
No qual e pelo qual, mesmo funéreo
Caminho onde aos poucos me consolo,
E sendo a vida assim com ou sem dolo
O tanto que pudesse ser mais sério
Na indiferença mesmo do minério
Mergulho após o nada neste solo,
Porquanto ser do Ser um mero adendo,
No quanto renascer após morrendo
A morte inexistente ou mesmo espúria,
Não creio ser possível sofrimento
Em quem sabe e proclama seu alento,
Mas onde há redenção vejo lamúria.
31954
Deitando em almofadas ricas cenas
Quem herda do mendigo que dormia
Entre pedras, gramas, a heresia
Tomando com terror aonde apenas
O amor se mostraria em tantas plenas
Verdades que a verdade não procria,
E morto o libertário, uma alforria
Jamais dormiu nas almas tão pequenas.
Engano que eu bem sei proposital
Matando novamente quem se fez
Além da mais vulgar estupidez
Um ser entre os irmãos, o magistral
E agora profanado num altar
Sem cerimônia exposto em vil lugar.
31955
Ao homem não encanta o Pai liberto,
Num sádico caminho, bebe a cruz,
E aonde se mostrou real Jesus,
Apenas o cenário de um deserto,
O mundo em paz e amor mal descoberto
Recende e necessita mais do pus,
Negando a mais sublime e bela luz
Apenas pelas trevas encoberto,
Que dane-se a Paixão, dela não quero,
Prefiro o Irmão sereno e mais sincero
Cadáver não me atrai, quanto nefando
Cenário se mostrara o Redentor?
Esquecem-se deveras deste amor
Que em VIDA, o irmão se fez, sempre se dando...
31956
Vontades demoníacas porquanto
Dominam pensamentos, tentações
E quando as mesmas faces e emoções
Desmancham o que fora frágil canto,
Difícil ser cristão, por isso o encanto.
Desejos mais audazes em verões
Enquanto neste inverno tu compões
A vida se mostrando em tal quebranto,
As festas gozos risos e bacantes
Deliciosos mesmos tais instantes
E neles Satanás presença em glória
A pedra não permite a caminhada
Suave; mas em Cristo esta jornada
É feita sobre escombro ausência e escória.
31957
Vaporizados ares em perfumes
De fêmeas, machos, ritos, gozos, risos,
Na terra os mais diversos paraísos
Trazendo aos caminhantes tantos lumes,
Se queres paz eterna que acostumes
Aos dias mais doridos e imprecisos,
A liberdade dita tais granizos,
E trama a cada passo mais ardumes,
Ouvir calado e ter a sensação
Desta injustiça enorme e com perdão
Sanar os espinheiros mais vulgares;
Deveras são de restos e migalhas
Apenas, camas feitas entre palhas
Reais e sacrossantos Teus altares.
31958
Demônio move a Terra a cada passo,
E assim não é possível a quem vê
Sem ter sequer noção de algum por que
Seguir outro caminho que ora traço,
E sinto ser mais fácil cada espaço
No qual a imagem bela em que se crê
Bezerros em dourado rito lê
A história pela qual o mundo eu faço.
Falar de amor, de paz e liberdade
A quem se aprisiona na vontade
Gananciosamente desnudado,
É como procurar em tal palheiro
Agulha onde se tece um mundo inteiro
Porquanto ser mais doce algum pecado.
31959
Não vês com repugnância este Demônio
Pintado com terrível falsidade,
Imagem tão bonita que te agrade
Aumenta a cada instante o patrimônio,
Deliciosamente em pandemônio
Enquanto se traduz outra inverdade
Satã com seu reinado em claridade
Divino caminhar? Negando hormônio
Fingindo ser diverso o que ora anseia,
E quando se percebe adentra a veia
E gera com ternura este abandono.
Goteja prazerosa esta figura,
Enquanto em Cristo vã caricatura
Do hedônico demônio ao tolo sono...
31960
Descemos ao Inferno, ou subimos
Nos gozos aparentes ou reais,
E quando se percebem tais cristais
Orgásticos caminhos tramam cimos,
E vejo quão difíceis estes limos
Aonde escorregamos mais e mais,
Caminhos para o Pai são abissais,
Enquanto para o Demo são floridos,
E sonegando às vezes os sentidos,
Mergulhos tão diversos contra a fome
E a sede do prazer que tanto atrai
Negar o que se quer e Ver o Pai,
Vigie enquanto o homem enfim se dome...
31961
Seguir rumo aos encantos de um Inferno
Gerado com prazeres mais audazes
E quando em voz serena tu me trazes
Momentos de prazeres, eu me interno
Nos antros onde nunca em vida o inverno
Transporta com terrores suas fases,
E assim ao perceber quando me fazes
Feliz com teu carinho audaz e terno.
Serena noite em gozos imprudentes,
E sinto quanto são sempre envolventes
Os braços, coxas, pernas, ritos risos,
Gestando com orgasmos Paraísos,
E neles me entranhando sem pudor.
Satã com seus acordes mais profanos
(Expressa em delicados, belos panos
Cenário, com certeza, sedutor...)
31962
Apenas libertino camarada
Que adentra coxas, pernas, cocaína
Assim aos poucos a alma se domina
E vê com mais prazer a madrugada,
A cena desta forma desenhada
Enquanto a cada instante mais fascina
Nos gozos estampados na menina,
A porta de um inferno arreganhada.
Embriagado eu bebo o farto vinho
E quando noutros tantos eu me aninho,
Desvendo de Satã cada momento,
E volto contra a estrada em tais cascalhos,
São fáceis e gostosos os atalhos
Dos quais insanamente eu me alimento.
31963
Na bela prostituta em gargalhadas
As sortes mais felizes e gentis,
Nas balas nos anseios mais sutis
As horas vagam belas madrugadas,
Em bêbadas figuras desvendadas,
Eu sou por um instante mais feliz,
E tendo tudo aquilo que mais quis,
Perfaço para o inferno tais jornadas,
As peles entre peles e motéis,
As hordas entre corjas, doces méis
E o pântano de gozos nos lençóis
Uma oração que faço a Satanás
E nela o quanto posso ser audaz,
Tramando com delírios meus faróis...
31964
Prazeres clandestinos, o poder
Do forte que desmancha assim o fraco
Um biltre? Nada disso, quando ataco
Certeza de sorver todo o prazer,
Usando com terror eu passo a ver,
Do todo desenhado cada naco,
Erguendo um novo brinde rendo à Baco
Deliciosamente o meu querer.
Eclodem no caminho que perfaço
Deliciosas ninfas, cada traço
Desnuda maravilha em tez profana,
Enquanto este andarilho, este beato,
A cada novo passo, mais maltrato
A força que carrego é soberana.
31965
Exprimo com palavras a verdade
Dos gozos magistrais que encontro em ti,
E sei Satã o quanto mereci
Vivendo com prazer à saciedade,
Assim ao macular a sociedade,
Vomito no que encontro e sei aqui
Compartilhando o tanto que venci,
E nada do que resta desagrade.
Enquanto este romeiro segue assim,
Jogado pelas pedras, no capim,
Expondo a caricata face em Deus,
Eu bebo esta delícia em aguardentes
Pisando sobre os tolos penitentes
Comendo estes farnéis, os meus e os teus...
31966
Caminho entre formigas, pedra e espinho,
As dores são constantes e terríveis
E quando se pensaram impossíveis
Piores são as cenas e sozinho
Não tendo quem me faça algum carinho,
Não posso converter dias plausíveis
E sem prazer vivendo em tais desníveis
Encontro no final o manso ninho.
Assim ao procurar a paz divina,
A morte a cada passo descortina
Lamurias entre tantas desventuras,
Enquanto para o Demo claridade,
Ao Pai somente medo e tempestade
Imerso em noites tristes mais escuras...
31967
Entre opressores vários- meus anseios-
Procuro alguma senda que permita
Viver o quanto possa ser bonita
A vida após vencer difíceis veios,
E mesmo quando olhares são alheios
Renego a imensidade da pepita
Aonde lapidada se acredita
Riquezas entre gozos, sem receios.
Não posso acreditar quão doloroso
Caminho em que eu sonegue cada gozo
Buscando eternidade, um contra-senso.
Se eu quero estar em Ti, Pai soberano,
No quanto perco e mesmo até me dano,
Nem mesmo por instantes, inda penso.
31968
Tirar dentro de mim cada desejo
E crer na eternidade após o não,
E ter toda a certeza em negação,
Caminho dolorido que prevejo;
E se deveras paz ainda almejo
Mudando com firmeza a direção
E ter a mais cruel sonegação
Do quanto poderia ser sobejo.
Difícil caminhada para Ti,
Ganhar quando em princípio eu já perdi
Negar cada prazer e ser só Teu,
Desnudo do que seja mais humano,
E ter a benção feita em todo dano,
E ver a claridade enquanto é breu.
31969
No cérebro pululam mil demônios
E vagam entre as ruas, belas pernas,
Fortunas e delírios, cenas ternas,
Se dentro em mim percebo pandemônios
Beber o sangue mesmo dos campônios,
Rasgar as minhas ânsias em modernas
Figuras que pensara mais eternas
Negar o que aprendi desde os mecônios.
Eu tento a cada instante, mas eu sei
Quanto é difícil Pai seguir a lei
Que traz a negação e nos liberta,
Escravo se acostuma com chibata
E quando destas mãos já se arrebata
Trocando pela vida que é sempre incerta...
31970
A morte a cada vã respiração
Esgota quem tentara ser mais forte,
E sei do quanto ainda nos comporte
O passo sendo dado em negação,
Mergulho neste abismo e sei que é vão
O rumo traduzindo gozo e sorte,
E tanto poderia noutro norte
Viver com alegria e com tesão.
É certo que os excertos são diversos
E os dias quando em Deus seguem imersos
Propagam dimensões bem variáveis,
Mas tanto quanto posso sonegar
O que de humano existe e Te abraçar
Em solos que jamais pensei aráveis...
31971
Descendo pelas costumeiras
Os ares, mares, bares sendas tantas
E quando de manhã tu te levantas
Não vês as faces turvas e matreiras
Das ânsias que dominam, são bandeiras
E nelas as verdades quando encantas
Risíveis camaradas; cedo espantas
E traças com as farsas corriqueiras,
Peçonhas exaladas são mortalhas
E nelas quando aos gozos mais atalhas
Retalhas com furores cada parte,
E tudo se repete enquanto vis
Momentos não te fazem mais feliz
No quanto do prazer queres, repartes.
31972
Incêndios entre farpas, fardas, facas,
E assim caminha sempre a humanidade,
Aonde se pudera em humildade
Não vês já desferidas tais estacas,
E tanto quanto podes não aplacas
Nem mesmo se deveras inda invade
A seca quanto pode à saciedade
Mordaça em tua boca pátrias lacas.
Pacato até que surja este demônio
Que possa transcender ao próprio hormônio
Visceralmente expondo esta vingança
Aí num ato insano já se lança
E queres devorar cada pedaço
De quem noutro cenário agora eu traço.
31973
Violas os sentidos mais cristãos
Enquanto te devora a insanidade
No gozo do prazer a quantidade
Gerada pela infâmia dita os grãos,
E o que pensara outrora serem vãos
Não deixam que se tenha a claridade
Porquanto noutro tempo atrás a grade
Não vence os mais audazes, tolos nãos.
Eclode vez em quando a imensa fúria
E assim conclama sempre ao linchamento,
A cena traz o gozo do alimento
Aonde a besta fera se sacia
Satânicos deveras somos nós,
E a cada novo frêmito este algoz
Arranca a angelical, vã fantasia.
31974
É placentário mesmo este diabo
Que ainda não porfia enquanto quieto,
Mas quando vê repasto predileto
O quanto protegia já desabo,
E ao ver este cenário enfim me acabo
Resisto enquanto posso, mas dileto
Demônio noutro tanto me completo
E assim o verdadeiro ser nababo
Que ainda existe e vive nas entranhas
Subindo dos abismos às montanhas
Expõe a face nua de Satã
E quando não se vê representado
No gozo bem profícuo o disfarçado
Demônio que cultivo a cada afã.
31975
Eu sou já desde o início um canibal
Que adora sangue exposto em cada esquina
E quando a tez atroz mesmo assassina
Redunda num terrível ritual,
Eu bebo cada gota e sei normal,
A fonte aonde a morte me ilumina
Insaciável ser que me domina
Jogando na esperança a pá de cal,
Calvários espalhando a cada dia,
E quando no mendigo em ironia
Não vejo aquele irmão que me ensinaste,
A pútrida faceta verdadeira
Da serpe tão comum e corriqueira
Jamais terá enfim qualquer desgaste.
31976
Uma alma quando ousada verte em pus
E traça com as unhas afiadas
As cenas tantas vezes degradadas
E nelas com certeza singram luz
Ao quanto de satânico me opus
E sei são bem melhores tais estradas
Aonde não se vendo desgarradas
Ovelhas farto pasto reproduz
A senda mais gostosa e desejando
Um tempo aonde etéreo e manso bando
Bebendo cada gota da nascente
Mostrada em limpidez tanta fartura,
Prazer negando a fome já perdura
Traçando amanhecer iridescente.
31977
Entre chacais, abutres, rapineiras
As sortes são daninhas? Não mais creio,
E quando cada podre vão rodeio
Eu beijo as putas, bebo as benzedeiras
Assim ao receber as carpideiras
O pagamento à vista, não anseio
E vejo sob as vestes cada seio
Desejo se aflorando, são bandeiras
As sendas desvendadas na nudez
E tudo o que decerto ainda crês
Não vale um gozo forte e em tal orgasmo,
A parte que me cabe, saciada
Lacônica presença demonstrada
O resto se vendendo com sarcasmo...
31978
Panteras gostam mesmo é da tocaia
E a sorte não produz outro momento
Aonde se pudesse me apresento
Levanto da morena, a curta saia,
E sei que quanto mais assim se esvaia
O tempo noutro tanto eu não lamento
E quando em algum gozo me alimento,
Procuro a insanidade em cada praia.
O sarro, o carro, as mãos tocando os seios
E nada do que possam ser receios
No golpe financeiro, no achincalhe
Portanto ser feliz pressupõe isto
E até se ainda fosse bom, desisto
Bebendo cada pus que se amealhe.
31979
Deus salve as prostitutas e as vadias,
São nelas que eu encontro o Paraíso,
Embora no meu bolso o prejuízo,
As sortes mais audazes tu procrias
Nas coxas e nas mãos, bocas e as pias
Lavando as bocas tolas sem juízo
Do quanto deste gozo mais preciso,
E nele as orações que bendizias
Desta água benta feita em lupanares,
E quando novos rumos procurares
Verás as mesmas cenas do passado.
O carro entre os faróis, sinais e senhas,
Conquanto com tesão tu sempre venhas
Assim nosso destino abençoado!
31980
Anseio escorpiônico em veneno
Delírio desta cauda caudalosa,
E quando vejo o rabo a mente goza,
E assim me considero em ti mais pleno,
A cada requebrado um novo aceno,
E toda a sorte em gruta majestosa,
A porta deste inferno aberta posa
Chamando para o jogo, concateno.
E miro o que pudesse destas ancas
Aonde com vontades bem mais francas
Ascendes ao que tanto desejara,
Bendigo a putaria, meu altar
E posso sem temor me dedicar
Sabendo quanto a grana me escancara...
31981
Monstruosas cenas repetidas
E tento vislumbrar a solução
Enquanto as mesmas horas dizem não
Perdendo o que pudessem minhas vidas
E nada do quanto tu duvidas
Deveras novos dias mostrarão
Se tanto se perdesse meu verão
Não vendo solução mortas saídas,
Resisto às tempestades e pudera
Ainda acreditar na primavera
Mergulho no passado e trago a face
Dos vários e temíveis desalentos
Bebendo cada gota destes ventos
Na morte onde a verdade sempre grasse.
31982
O quanto sou decerto mais infame
E teimo contra a fúria desumana
E quanto mais a sorte toma e dana
A sorte noutra sorte não proclame,
Resido no que possa enquanto clame
A morte desvendada ora se explana
E bebo do passado aonde ufana
O corte que deveras já reclame
Audaciosamente eu sobrevivo
E tento ser por certo mais altivo
Embora saiba ser cativo quando
O medo não traduz outro caminho,
E se demônios crio, já me aninho
No porto quando em vão sigo ancorando.
31983
Eu sei que na verdade sendo imundo
Não tenho outra saída e nem tento,
A morte será sempre o meu provento
Enquanto neste intento me aprofundo,
O resto do passado doma o mundo
E teimo com razão quando me invento
E tanto poderia estar atento
E nada se não fosse vagabundo,
Em moribunda face sou medonho
Bacante delirante quando sonho
Não vê quanto é preciso a paz e sangra
Restando ao navegante ao menos a angra
E nela se procura sempre assim
O que restou ainda; vivo em mim.
31984
Não quero grandes gestos, pois heróicos
E tanto na verdade; engano quem
Já sabe do vazio que contém
Iludidos espectros quando estóicos
Dos bólidos gigantes, são eólicos
Os riscos entre festas quanto tem
Corsários navegantes vão aquém
Cruzeiros entre riscos mais bucólicos
Acasos entranhando ocasos toscos
E beijo os meus enganos entre lances
Porquanto no vazio queres, lances
Cenários muitas vezes bem mais foscos
Ecléticos poéticos titânicos
No fundo são decerto mais mecânicos...
31985
Os gritos entre gritas gestam nada
E ao pântano conduzem quando tanto
E sendo assim se ainda me agiganto
Mergulho nesta senda destroçada,
Resumo cada frase na estocada
Aonde me defendo e me levanto
Se eu posso ou se no poço moldo o pranto
Depois de certas horas, desagrada.
A gata parda mostra as presas e unhas
Além do que decerto inda supunhas
E afia com terrores vis promessas,
E sendo mais sutis as suas manhas
Partidas que julgavas todas ganhas
Ao ver os teus enganos já tropeças...
31986
Apenas um despojo e nada mais,
Assim me retratando, um pária eu crio
E tanto poderia em desvario
Mas nada do que penso em terminais
Momentos não seriam desiguais
E neles cada prece, novo fio,
Acende dos demônios o pavio
E beijo as rosas podres e infernais.
Restituída ao fim a minha história
Adentro cada parte desta escória
Que tanto imaginara persistindo
E sei o quanto a morte não existe
E tanto quando eu pude embora triste
Saber do ser humano, podre e findo.
31987
O mundo é verdadeiro e podre esgoto
Não trago as ilusões da juventude
Ainda que pudesse e mesmo eu pude
Que faço se este manto agora é roto?
O tanto quanto pude se vinhoto
O quadro se moldando e se amiúde
Apenas procurando este ataúde
Da sorte se amputada beijo o coto.
Aporto em tais estranhas cercanias
E quanto mais ainda a morte adias,
As heresias tomam o cenário.
Eu rio do que tanto poderia
E nada da verdade em sintonia
Mostrasse além do encanto temerário...
31988
Tragado pelo mundo em terra imunda
Não pude concentrar a força em luta
Aonde não se vence imagem bruta
Enquanto a sordidez amarga inunda,
E navegando em água podre, afunda
O sonho de quem alma fora astuta
E agora com certeza não reluta,
E vê cada faceta mais profunda.
Resulto do que tanto quis outrora
A própria inexistência aonde ancora
O sonho desespera e desampara,
Restando do cadáver ambulante
Velório que decerto se adiante
E o corte profanando a sorte amara...
31989
O tédio entre tristezas e fornalhas
Festivamente toma toda a cena,
E quando a vida traça em luz mais plena
Ainda entre os demônios tu retalhas
As horas se cerzindo nas batalhas
O fardo não transcende enquanto a amena
Perplexa fantasia ao longe acena,
Não vendo nem as sombras das navalhas.
Existo e na verdade isto me basta,
Sarjeta entre bebidas, podres águas
E quando no vazio tu deságuas
Tua alma incoerente, porém casta,
Não vê a minha face decomposta,
Imersa neste esgoto, em plena bosta.
31990
Meus olhos seguem grávidos do medo,
E sei que talvez isso me socorra,
A cama ainda guarda a velha porra
Do tempo em que feliz, nada mais cedo,
Percebo cada etapa em seu enredo,
E nada além do quanto ainda morra
Do sonho sem ter nada, velha borra
Marcando com terror cada segredo.
Na fétida impressão do ser vazio
E tanto quanto posso ainda espio
E vejo dos meus dias mero engodo,
Participando assim do meu velório
O quanto fui; na vida, merencório
Traduz neste pedaço o inerme todo.
31991
Meus olhos encharcados pelo pranto
Ainda que pareça um contra-senso
Falar de tanta coisa que não penso
E mesmo quando vejo já me espanto,
Não pude renegar o tanto quanto
Vivera em ar sombrio e sendo tenso
Mergulho neste vago quando imenso
E bebo até fartar sereia e canto.
Mas inutilidade dita o verso
De quem se faz assim em existência
Negando do caminho coincidência
Ou mesmo procurando outra seara,
Mais fácil é ser comum e ter no sonho
Figura onde mesmo me componho,
E quando em desespero sempre ampara.
31992
Sonhar com outras horas mais tranqüilas
Enquanto acendo assim o meu cigarro
E quando da ilusão eu me desgarro
Porquanto em cenas tétricas desfilas
Renego as velhas lendas e as argilas
Expresso esta vontade a cada esbarro
Do tempo noutro tempo e quando escarro
Teu ódio sem igual não desopilas.
Resquício do que fora alguma farsa
A sorte se mostrando quando esgarça
A rota agora rota e mais puída
No quadro desenhado em tez profana,
Uma alma mais simplória já se engana
E pensa ter nas mãos a própria vida.
31993
Preparo o meu patíbulo porquanto
Renego qualquer forma de heresia,
E sendo a realidade o que se cria
E nela cada fase dita encanto,
Se a voz mais alta tento e até levanto,
Por mais que seja aberto o dia a dia,
Ainda vive em nós a sacristia
E o olhar deste demônio quase santo.
Ecléticos parceiros de um só jogo,
Não quero e não permito em mim um rogo
Pedindo a quem puder se errei demais,
Meus passos na verdade sendo falsos
São meus assumo logo os cadafalsos,
Assim como gerei meus vendavais.
31994
Tu conheces a face do diabo
E quando vês no espelho este retrato
Deveras com terror negando o trato
Enquanto te percebo e assim desabo.
No todo que porfio não acabo
E mesmo que pudesse ao ter um ato
Em discordância tal, teimo e maltrato,
Faltando para tanto chifre e rabo.
Perpetuando o mal que em mim existe,
O dedo aponta sempre e enquanto em riste
Não deixa que se veja nova face,
Ainda renegando esta verdade
Na tétrica figura que degrade,
Realidade sempre dome e grasse...
31995
Não sou somente hipócrita, sou mais.
E finjo que não vejo quem sou eu
No quanto do meu todo se perdeu
Exposto aos meus anseios tão venais,
Assim ao me encontrar entre animais,
Mais animal ainda se verteu
Uma alma deste ser que não ateu
Matando Deus em ritos marginais.
Escusa criatura, nego a cena
E quando a própria vida me envenena
Eu sorvo cada gota com prazer,
Depois venho pedindo a salvação,
Irônica faceta do leão
Que manso gato teima em parecer...
31996
Surgindo após as tantas tempestades
A voz de quem se fez o tradutor
Dos gozos e dos medos, do terror
Rompendo ou mesmo até gerando grades,
Ainda que deveras desagrades
Do tom aonde mostra este cantor
O quanto desta vida em estupor
Pudesse ter mil sonhos e verdades,
Poeta ou escritor, mero fantoche
Que adentra pela insânia ou no deboche
Arranca dos seus ermos, viscerais
Momentos entre tantos risos, prantos,
E tenta traduzir com torpes mantos
Os dias sempre insanos, desiguais...
31997
Num mundo enfastiado em tez profana
A carne sobrepõe-se plenamente
E embora muitas vezes tanto mente
Que até sua verdade mesmo engana,
A ponte se criando em voz humana
Não deixa outro momento em que se assente
A fúria de um tormento que apascente
Nem mesmo a dor da qual por tanto ufana,
Aplausos e ironias, sem claquete
O todo noutro tanto se repete
E assim interminável poesia.
Que quanto mais desnuda, fere e ri,
E tendo este universo inteiro aqui,
Mais outro na verdade, uma alma cria.
31998
Blasfêmias entre falsos e verdades,
Assisto ao que não pude e nem pudera
Alimentando em mim, ternura e fera,
As cordas arrebento quando invades
E tanto ainda insana teimas, brades
Navega com terror a primavera
E sei da inconsistência da quimera
Tampouco desfiando qualidades.
Medonho caricato espelhos trago
De uma alma em sordidez e se me estrago
Degrado com ternura em falsa luz,
A voz que amaciara ou te iludira
Agora se retalha e em cada tira,
Expondo meramente a dor e o pus.
31999
Crispando o meu olhar neste horizonte
Renego qualquer fonte e mato quando
O tempo noutro tanto se nublando
Apenas o vazio ainda aponte,
E mesmo que outro tempo já desponte,
No quanto desaponta em ar nefando,
A morte se tecendo e desvendando
Negando para a sorte nova ponte,
Esgarço em versos vagos outros tantos
E beijo com furor os desenganos,
Pudesse atear fogo nestes panos,
E os mortos que carrego, sem espantos
Mas pútrida verdade nega o fato
Aonde fielmente eu me retrato.
32000
Não quero a piedade nem tampouco
Apenas a mortalha que me dás
E nada do que possa ainda a paz
Gerando em mim diverso e sonso louco.
O quadro que se tece sendo pouco
E a carne mostra a fúria mais audaz,
Edênico caminho à Satanás
E se pareço insano ou me treslouco,
Risível caricato quando rezas
E tudo que não queres e desprezas
Perece com teu ódio, ser imundo.
Negar a própria sorte; falsifica
A imagem do que tanto agora implica
Num ser em alma podre, um vagabundo
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