terça-feira, 4 de maio de 2010

31761 até 31766

31761

O canto da saudade me marcou
Durante a caminhada entre a montanha
E abismo natural no perde e ganha
Que a estrada a cada dia decorou,
E tendo esta certeza ser/não sou
O peso que se mostra e nos apanha
E ronda com terror a imensa sanha
Se nela ainda tento o que restou.
Atento aos meus anseios e promessas
Enquanto os mesmos ermos recomeças
Tropeço e nos tropéis imaginários
Vagando os infinitos, nada existe,
E quando me percebes bem mais triste,
Momentos solitários: necessários...

31762


Não deixo nem sequer pegada ou rastro,
Apenas desafio o dia a dia,
E tendo qual cinzel a poesia,
A cada novo tempo mais alastro
E finjo ser além de mero mastro
Aonde a vela enfrenta a ventania,
Porém com negações eu percebia
Que falta ao navegante ainda o lastro,
E assisto aos meus momentos terminais
Vivendo o que talvez pudesse ou mais
Tentasse após saber deste vazio,
E teimo contra a força da maré
Atado eternamente à vil galé
Que em todo não atroz, cedo recrio.

31763


Seguindo pelos céus morrendo em astros
Distante do que pude acreditar
O passo a cada instante sonegar
E ter bem mais distante os alabastros
Deixando sem saber ainda os rastros
Que areia com o tempo irá levar
Brumosas as manhãs onde solar
Eu quis momentos firmes, claros mastros,
Venéreas ilusões, cada sirena
Ainda mal se vê enquanto acena
Naufrágio deste sonho entre penedos,
Meu verso não tem mais a força intensa
E quando se percebe em desavença
Os sonhos noutros portos, bem mais ledos.


31764

Seguindo cada raio, ao amor parto
E tento desvendar mistérios quando
O tempo noutro tempo transformando
Deixando o coração deveras farto,
E sendo assim do cais quando eu me aparto
Não posso permitir se inda desando,
Vencido pelo medo, deserdando
O mundo que entre mundos já reparto;
As cartas sobre a mesa, nada tenho,
E sendo tão terrível desempenho
De quem se imaginara algum poeta,
Cerzindo esta mortalha agora rota,
O quanto me perdi e gota a gota
O pote da ilusão não se completa...

31765

Estrela divinal e vespertina
Anunciando a noite em lua cheia,
Mas tudo que pudesse e me incendeia
Aos poucos nesta ausência se extermina,
A voz não se sustenta ou mais fascina
E bebo da ilusão, tola sereia
Voltando vez em quando à mesma areia
Reflexos desta lua que domina,
E vejo numa estrela, num cavalo,
Apenas das que eu quero imitações,
E os passos rumo ao éter negações
Cortando a minha pele, aprofundando,
Assino uma alforria? Nada disto,
Somente por saber que ainda existo,
Persisto contra tudo, caminhando...

Nenhum comentário: