quinta-feira, 6 de maio de 2010

31936 até 32000

31936

Espadas que me cortam são sinais
Destes momentos tolos onde eu quis
Vencer cada temor e ser feliz
Ainda que eu bem saiba ser jamais
O tanto onde pudera ou mesmo mais
Negando qualquer sorte, ausente bis
Galgando cada espaço, por um triz
Morrendo sem ternura, em abissais.
Não pude com certeza adivinhar
Momento em que pudesse me entregar
Sangrando em cada poro e sendo assim
O tempo renegando uma esperança
Amor amortalhado na lembrança
Traduz a cada ausência mais o fim.


31937

Pudesse deste amor, saber vacina
E mesmo quando em plena febre ou dor
Vencesse com ternura tal torpor
Que tanto quanto pode me domina,
Mas sendo sonhador, eis esta sina
Tentando novamente recompor
Um mundo aonde exista qualquer flor,
E nela novo tempo determina
Assaz maravilhosa noite enquanto
Realidade mostra em contracanto
O desencanto vário e doloroso,
Pudesse amar e ter a recompensa,
Mas quando não tem cura tal doença
O fim já se aproxima em medo e gozo.


31938

Amor saltando o muro desta casa
Não deixa sequer rastro quando passa,
E tanto se mostrando em vã fumaça
Apenas num momento mera brasa,
A sorte se inda existe já se atrasa
E não desejo ser somente a caça
Risonha fantasia segue escassa
Nem mesmo uma ilusão ainda embasa
E tudo se desaba num momento
E quando alguma sorte teimo e tento
Atento ao que não tenho sigo em frente.
Porquanto se apresente este cenário
Enquanto doloroso e temerário
Traduz qual a esperança uma semente...


31939

As cordas da viola arrebentadas
As ondas deste mar se sossegando
Aonde quis tempesta o mundo é brando
As noites entre estrelas decoradas,
Mas vejo noutras cenas retratadas
Imagens deste tanto que é nefando
E beijo o teu cadáver desde quando
As horas se perderam, vãs estradas.
Resíduo do que fora outrora messe,
E quando o meu caminho recomece
Percebo quanto inúteis foram cenas
Acendo o meu cigarro e mais trago
Da morte com certeza raro afago,
As incertezas sempre foram plenas...

31940

Fechando este portão por onde entrava
A sorte de quem tanto quis sorriso,
E ainda que este tempo é mais conciso,
Rondando o pensamento não se lava
Seara costumeira mesmo escrava
Perdendo com certeza algum juízo,
No fim não restará mais prejuízo
Enquanto o dia a dia sempre agrava.
E sei desta burguesa face aonde
A pura hipocrisia já se esconde
E traça com perfumes importados
Venenos em peçonhas mais atrozes,
E sendo assim diversas, mesmas vozes,
Os riscos sempre foram calculados...


31941

Das dores meus irmãos conhecem bem
A face carcomida da verdade
E tanto poderia uma saudade
Falar desse vazio que contém
Mergulho insanamente onde convém
E o risco de viver em lealdade
Persiste mesmo quando a noite agrade
Ou mesmo quando a sombra ainda vem,
Pecaminosos rumos entre tantos
Não quero ter meus olhos puros, santos
Tampouco poderia acreditar
Na tola incoerência aonde um dia
Eu tento com certeza a fantasia
E sei quanto impossível desvendar...

31942

Entre névoas tantas a saudade
Adentra com terror onde deságua
A vida em dolorosa e torpe mágoa
Enquanto o que inda resta desagrade,
Amar é ter nas mãos realidade
Distante do que sonha em forte frágua
Poluição destroça qualquer água
E a morte transcendendo a tal verdade.
Já não me escravizando pelo verso,
E sinto quanto é bom o ser diverso
Perversa e momentânea moda toma
Caminhos que levando à mesma Roma
Trazendo no seu bojo este alimento
Da minha poesia, o seu provento...

31943

Nada que procure ainda acalma
Quem sabe ser a vida mesmo assim,
E quando a poesia dita o fim,
A fúria adentra impune qualquer alma,
E atento ao que pudesse ser um trauma
Escrevo cada verso e tendo em mim
Certeza deste fútil ser que enfim
Vasculha com terror o que diz calma.
Ser lírico é lorota e nada além,
E tudo o que se faz sempre convém
Se a vida for sincera e não negar
O passo mesmo errôneo deve ter
Ao menos a vontade de poder
Vencer com calmaria o bravo mar.

31943

Em meio às tantas vãs ansiedades
Soergo do que fora alguma imagem
E faço por mim mesmo esta viagem
Rompendo do passado toscas grades,
E ainda que mais forte teimes brades
Não veja da esperança qualidades,
Somente se liberta em tais miragens
Rompendo da ilusão suas barragens
Do ser humano espero tais maldades
E sei não ser possível novo afeto,
Porquanto ao ser mutável e incompleto
Jamais traduziria a perfeição
Aonde se deseja inutilmente
Por mais que noutra face ainda expões
Diversos dos teus dias os verões
Realçam as algemas e correntes.


31944

Os olhos rasos d’água o medo impera
E nada ainda possa me dizer
Do quanto desairoso algum prazer
No qual a fantasia degenera
Aonde a realidade não tempera
Sentindo esta vontade esmorecer
O peso mais atroz posso colher
E sei que não contive mais a fera,
Participando assim da dura cena
Minha alma em solilóquio se apequena
E o quadro desbotado na parede
Traduz o que restara deste sonho
E quando a cada ausência decomponho
Aonde irei matar a minha sede?

31945

Verdugo dos meus versos enquadrados
Em tétricas molduras nada vejo
E sendo assim deveras me apedrejo
E tento seguir fatos demarcados
Onde pudesse crer em tantos fados
O dia após o tanto que eu almejo
Enquanto na ilusão inda verdejo
Traduzo em outros tantos malfadados.
Condeno-me afinal ao ostracismo
Cavando com horror ao velho abismo
E sei que no final nada seria
Senão a mesma face desgraçada
Que tanto traduzira outrora em nada,
E dela faço toda a poesia...

31946

Ocupam meu espírito os temores
De tanta aleivosia, medo e senso
E quando nos engodos teimo e penso
Aonde se pudessem mais horrores
As mortes entre pedras, trevas, flores
Senzala de um viver frágil ou intenso
E nada do que ainda pude extenso
Aos pantanais diversos onde opores
Os cárceres das almas condoídas
Tacanha face engodo sazonal,
Errática loucura diz do quanto
Pudesse não viver somente o espanto
Que sempre se aproxima no final.

31947

Alimentando em mim redemoinhos
E deles se fazendo o dia a dia
Porquanto a própria história desafia
E gera em mais tormentos outros ninhos,
Pudesse adivinhar novos caminhos
E tanto quanto sei desta heresia
A morte a cada passo se desfia
E bebo consagrados caros vinhos,
Aonde nauseabundo não se solde
Retrato desumano sendo o molde
Do qual se reproduz a minha face,
Oprimidos os sonhos, nada resta
E a imagem que se vê, torpe e funesta
Traduz cada momento que desgrace.

31948


Nutrimos a miséria que convém
Nos mesmos vendavais entre as porteiras
E quando se levantam tais bandeiras
No olhar de quem comanda este desdém,
E quantas vezes sendo algum refém
Do charco onde se isolam as fruteiras
E delas podridões são corriqueiras,
Traduzem o que tanto queres bem
Esgarças os sorrisos miseráveis
De quem se fez feliz e não porquanto
Ao mesmo tempo entoa mero espanto
E traça com teus passos deploráveis
Caminhos que talvez digam da luz
Escondida detrás de cada obus.

31949

Se de arrependimentos mais covardes
Pudesse desfiar cada rosário
O mundo não pudesse em necessário
Caminho aonde tanto inda retardes
E vejo com terror o quanto inda ardes
Ousando passos vis reacionários
Rezando na cartilha dos otários
Sabendo que virás em torpes tardes,
Acendo esta fogueira dentro em mim
E tento requentar as ilusões,
Os restos que me destes, provisões
Esgotos dos momentos de onde vim
E tento mesmo assim algum sorriso,
O teu favor irônico e indeciso.


31950

Pagando cada dívida com sangue
E tendo com certeza altos juros
Vivendo entre terrores tais apuros
Recendem ao que ainda trago em mangue
Reajo enquanto posso, mas não sinto
A fúria necessária e juvenil,
O peso que envergara ressurgiu
Qual fora este vulcão há tanto extinto,
E não pudesse ao menos ver o quase
Depois de tantas frases inauditas,
E ficam entranhadas as desditas
Urdindo com temor, dispersa fase.
Mudando a direção retorno ao nada,
Bandeira da esperança, destroçada.

31951

Ao entrar em caminhos enganosos
Servindo como pasto para os sonhos
E tendo estes terríveis e bisonhos
Delírios entre porcos andrajosos,
Vencemos muitas vezes orgulhosos
E quando se pensaram enfadonhos
Os tempos novamente mais risonhos
Produzem falsos guizos prazerosos,
Joguetes deste tanto enquanto nada
Querendo o que jamais se pode ter,
Esboçando um sorriso de querer
Aonde nada pude e nem teria,
Um pária sem sossego bebe o gim
Guardado com ternura dentro em mim
E sente mesmo ausente esta magia.

31952

Acreditando em lágrimas que possam
Talvez nos redimir ou mesmo até
Traçar novo cenário sem galé
Do qual as ilusões bem cedo apossam,
E sendo assim estúpidos remoçam
Risonhos disparates de uma fé,
E tanto poderia vendo a Sé
E dela os mais espúrios sons adoçam
Ouvidos que precisam de mentiras,
E mesmo quando expondo trapos tiras
Retiras os temores; falsa cena,
E a morte se aproxima de algum jeito
E encontra este imbecil já satisfeito
Uma alma com engodos, tão serena...

31953

Trismegisto poder num ente solo
Assim ao se fazer este mistério
No qual e pelo qual, mesmo funéreo
Caminho onde aos poucos me consolo,
E sendo a vida assim com ou sem dolo
O tanto que pudesse ser mais sério
Na indiferença mesmo do minério
Mergulho após o nada neste solo,
Porquanto ser do Ser um mero adendo,
No quanto renascer após morrendo
A morte inexistente ou mesmo espúria,
Não creio ser possível sofrimento
Em quem sabe e proclama seu alento,
Mas onde há redenção vejo lamúria.

31954

Deitando em almofadas ricas cenas
Quem herda do mendigo que dormia
Entre pedras, gramas, a heresia
Tomando com terror aonde apenas
O amor se mostraria em tantas plenas
Verdades que a verdade não procria,
E morto o libertário, uma alforria
Jamais dormiu nas almas tão pequenas.
Engano que eu bem sei proposital
Matando novamente quem se fez
Além da mais vulgar estupidez
Um ser entre os irmãos, o magistral
E agora profanado num altar
Sem cerimônia exposto em vil lugar.

31955

Ao homem não encanta o Pai liberto,
Num sádico caminho, bebe a cruz,
E aonde se mostrou real Jesus,
Apenas o cenário de um deserto,
O mundo em paz e amor mal descoberto
Recende e necessita mais do pus,
Negando a mais sublime e bela luz
Apenas pelas trevas encoberto,
Que dane-se a Paixão, dela não quero,
Prefiro o Irmão sereno e mais sincero
Cadáver não me atrai, quanto nefando
Cenário se mostrara o Redentor?
Esquecem-se deveras deste amor
Que em VIDA, o irmão se fez, sempre se dando...

31956

Vontades demoníacas porquanto
Dominam pensamentos, tentações
E quando as mesmas faces e emoções
Desmancham o que fora frágil canto,
Difícil ser cristão, por isso o encanto.
Desejos mais audazes em verões
Enquanto neste inverno tu compões
A vida se mostrando em tal quebranto,
As festas gozos risos e bacantes
Deliciosos mesmos tais instantes
E neles Satanás presença em glória
A pedra não permite a caminhada
Suave; mas em Cristo esta jornada
É feita sobre escombro ausência e escória.

31957

Vaporizados ares em perfumes
De fêmeas, machos, ritos, gozos, risos,
Na terra os mais diversos paraísos
Trazendo aos caminhantes tantos lumes,
Se queres paz eterna que acostumes
Aos dias mais doridos e imprecisos,
A liberdade dita tais granizos,
E trama a cada passo mais ardumes,
Ouvir calado e ter a sensação
Desta injustiça enorme e com perdão
Sanar os espinheiros mais vulgares;
Deveras são de restos e migalhas
Apenas, camas feitas entre palhas
Reais e sacrossantos Teus altares.

31958

Demônio move a Terra a cada passo,
E assim não é possível a quem vê
Sem ter sequer noção de algum por que
Seguir outro caminho que ora traço,
E sinto ser mais fácil cada espaço
No qual a imagem bela em que se crê
Bezerros em dourado rito lê
A história pela qual o mundo eu faço.
Falar de amor, de paz e liberdade
A quem se aprisiona na vontade
Gananciosamente desnudado,
É como procurar em tal palheiro
Agulha onde se tece um mundo inteiro
Porquanto ser mais doce algum pecado.


31959

Não vês com repugnância este Demônio
Pintado com terrível falsidade,
Imagem tão bonita que te agrade
Aumenta a cada instante o patrimônio,
Deliciosamente em pandemônio
Enquanto se traduz outra inverdade
Satã com seu reinado em claridade
Divino caminhar? Negando hormônio
Fingindo ser diverso o que ora anseia,
E quando se percebe adentra a veia
E gera com ternura este abandono.
Goteja prazerosa esta figura,
Enquanto em Cristo vã caricatura
Do hedônico demônio ao tolo sono...

31960

Descemos ao Inferno, ou subimos
Nos gozos aparentes ou reais,
E quando se percebem tais cristais
Orgásticos caminhos tramam cimos,
E vejo quão difíceis estes limos
Aonde escorregamos mais e mais,
Caminhos para o Pai são abissais,
Enquanto para o Demo são floridos,
E sonegando às vezes os sentidos,
Mergulhos tão diversos contra a fome
E a sede do prazer que tanto atrai
Negar o que se quer e Ver o Pai,
Vigie enquanto o homem enfim se dome...

31961

Seguir rumo aos encantos de um Inferno
Gerado com prazeres mais audazes
E quando em voz serena tu me trazes
Momentos de prazeres, eu me interno
Nos antros onde nunca em vida o inverno
Transporta com terrores suas fases,
E assim ao perceber quando me fazes
Feliz com teu carinho audaz e terno.
Serena noite em gozos imprudentes,
E sinto quanto são sempre envolventes
Os braços, coxas, pernas, ritos risos,
Gestando com orgasmos Paraísos,
E neles me entranhando sem pudor.
Satã com seus acordes mais profanos
(Expressa em delicados, belos panos
Cenário, com certeza, sedutor...)

31962

Apenas libertino camarada
Que adentra coxas, pernas, cocaína
Assim aos poucos a alma se domina
E vê com mais prazer a madrugada,
A cena desta forma desenhada
Enquanto a cada instante mais fascina
Nos gozos estampados na menina,
A porta de um inferno arreganhada.
Embriagado eu bebo o farto vinho
E quando noutros tantos eu me aninho,
Desvendo de Satã cada momento,
E volto contra a estrada em tais cascalhos,
São fáceis e gostosos os atalhos
Dos quais insanamente eu me alimento.


31963


Na bela prostituta em gargalhadas
As sortes mais felizes e gentis,
Nas balas nos anseios mais sutis
As horas vagam belas madrugadas,
Em bêbadas figuras desvendadas,
Eu sou por um instante mais feliz,
E tendo tudo aquilo que mais quis,
Perfaço para o inferno tais jornadas,
As peles entre peles e motéis,
As hordas entre corjas, doces méis
E o pântano de gozos nos lençóis
Uma oração que faço a Satanás
E nela o quanto posso ser audaz,
Tramando com delírios meus faróis...


31964

Prazeres clandestinos, o poder
Do forte que desmancha assim o fraco
Um biltre? Nada disso, quando ataco
Certeza de sorver todo o prazer,
Usando com terror eu passo a ver,
Do todo desenhado cada naco,
Erguendo um novo brinde rendo à Baco
Deliciosamente o meu querer.
Eclodem no caminho que perfaço
Deliciosas ninfas, cada traço
Desnuda maravilha em tez profana,
Enquanto este andarilho, este beato,
A cada novo passo, mais maltrato
A força que carrego é soberana.

31965

Exprimo com palavras a verdade
Dos gozos magistrais que encontro em ti,
E sei Satã o quanto mereci
Vivendo com prazer à saciedade,
Assim ao macular a sociedade,
Vomito no que encontro e sei aqui
Compartilhando o tanto que venci,
E nada do que resta desagrade.
Enquanto este romeiro segue assim,
Jogado pelas pedras, no capim,
Expondo a caricata face em Deus,
Eu bebo esta delícia em aguardentes
Pisando sobre os tolos penitentes
Comendo estes farnéis, os meus e os teus...

31966

Caminho entre formigas, pedra e espinho,
As dores são constantes e terríveis
E quando se pensaram impossíveis
Piores são as cenas e sozinho
Não tendo quem me faça algum carinho,
Não posso converter dias plausíveis
E sem prazer vivendo em tais desníveis
Encontro no final o manso ninho.
Assim ao procurar a paz divina,
A morte a cada passo descortina
Lamurias entre tantas desventuras,
Enquanto para o Demo claridade,
Ao Pai somente medo e tempestade
Imerso em noites tristes mais escuras...

31967

Entre opressores vários- meus anseios-
Procuro alguma senda que permita
Viver o quanto possa ser bonita
A vida após vencer difíceis veios,
E mesmo quando olhares são alheios
Renego a imensidade da pepita
Aonde lapidada se acredita
Riquezas entre gozos, sem receios.
Não posso acreditar quão doloroso
Caminho em que eu sonegue cada gozo
Buscando eternidade, um contra-senso.
Se eu quero estar em Ti, Pai soberano,
No quanto perco e mesmo até me dano,
Nem mesmo por instantes, inda penso.

31968

Tirar dentro de mim cada desejo
E crer na eternidade após o não,
E ter toda a certeza em negação,
Caminho dolorido que prevejo;
E se deveras paz ainda almejo
Mudando com firmeza a direção
E ter a mais cruel sonegação
Do quanto poderia ser sobejo.
Difícil caminhada para Ti,
Ganhar quando em princípio eu já perdi
Negar cada prazer e ser só Teu,
Desnudo do que seja mais humano,
E ter a benção feita em todo dano,
E ver a claridade enquanto é breu.

31969

No cérebro pululam mil demônios
E vagam entre as ruas, belas pernas,
Fortunas e delírios, cenas ternas,
Se dentro em mim percebo pandemônios
Beber o sangue mesmo dos campônios,
Rasgar as minhas ânsias em modernas
Figuras que pensara mais eternas
Negar o que aprendi desde os mecônios.
Eu tento a cada instante, mas eu sei
Quanto é difícil Pai seguir a lei
Que traz a negação e nos liberta,
Escravo se acostuma com chibata
E quando destas mãos já se arrebata
Trocando pela vida que é sempre incerta...

31970

A morte a cada vã respiração
Esgota quem tentara ser mais forte,
E sei do quanto ainda nos comporte
O passo sendo dado em negação,
Mergulho neste abismo e sei que é vão
O rumo traduzindo gozo e sorte,
E tanto poderia noutro norte
Viver com alegria e com tesão.
É certo que os excertos são diversos
E os dias quando em Deus seguem imersos
Propagam dimensões bem variáveis,
Mas tanto quanto posso sonegar
O que de humano existe e Te abraçar
Em solos que jamais pensei aráveis...

31971

Descendo pelas costumeiras
Os ares, mares, bares sendas tantas
E quando de manhã tu te levantas
Não vês as faces turvas e matreiras
Das ânsias que dominam, são bandeiras
E nelas as verdades quando encantas
Risíveis camaradas; cedo espantas
E traças com as farsas corriqueiras,
Peçonhas exaladas são mortalhas
E nelas quando aos gozos mais atalhas
Retalhas com furores cada parte,
E tudo se repete enquanto vis
Momentos não te fazem mais feliz
No quanto do prazer queres, repartes.

31972

Incêndios entre farpas, fardas, facas,
E assim caminha sempre a humanidade,
Aonde se pudera em humildade
Não vês já desferidas tais estacas,
E tanto quanto podes não aplacas
Nem mesmo se deveras inda invade
A seca quanto pode à saciedade
Mordaça em tua boca pátrias lacas.
Pacato até que surja este demônio
Que possa transcender ao próprio hormônio
Visceralmente expondo esta vingança
Aí num ato insano já se lança
E queres devorar cada pedaço
De quem noutro cenário agora eu traço.

31973

Violas os sentidos mais cristãos
Enquanto te devora a insanidade
No gozo do prazer a quantidade
Gerada pela infâmia dita os grãos,
E o que pensara outrora serem vãos
Não deixam que se tenha a claridade
Porquanto noutro tempo atrás a grade
Não vence os mais audazes, tolos nãos.
Eclode vez em quando a imensa fúria
E assim conclama sempre ao linchamento,
A cena traz o gozo do alimento
Aonde a besta fera se sacia
Satânicos deveras somos nós,
E a cada novo frêmito este algoz
Arranca a angelical, vã fantasia.


31974

É placentário mesmo este diabo
Que ainda não porfia enquanto quieto,
Mas quando vê repasto predileto
O quanto protegia já desabo,
E ao ver este cenário enfim me acabo
Resisto enquanto posso, mas dileto
Demônio noutro tanto me completo
E assim o verdadeiro ser nababo
Que ainda existe e vive nas entranhas
Subindo dos abismos às montanhas
Expõe a face nua de Satã
E quando não se vê representado
No gozo bem profícuo o disfarçado
Demônio que cultivo a cada afã.

31975

Eu sou já desde o início um canibal
Que adora sangue exposto em cada esquina
E quando a tez atroz mesmo assassina
Redunda num terrível ritual,
Eu bebo cada gota e sei normal,
A fonte aonde a morte me ilumina
Insaciável ser que me domina
Jogando na esperança a pá de cal,
Calvários espalhando a cada dia,
E quando no mendigo em ironia
Não vejo aquele irmão que me ensinaste,
A pútrida faceta verdadeira
Da serpe tão comum e corriqueira
Jamais terá enfim qualquer desgaste.

31976

Uma alma quando ousada verte em pus
E traça com as unhas afiadas
As cenas tantas vezes degradadas
E nelas com certeza singram luz
Ao quanto de satânico me opus
E sei são bem melhores tais estradas
Aonde não se vendo desgarradas
Ovelhas farto pasto reproduz
A senda mais gostosa e desejando
Um tempo aonde etéreo e manso bando
Bebendo cada gota da nascente
Mostrada em limpidez tanta fartura,
Prazer negando a fome já perdura
Traçando amanhecer iridescente.

31977

Entre chacais, abutres, rapineiras
As sortes são daninhas? Não mais creio,
E quando cada podre vão rodeio
Eu beijo as putas, bebo as benzedeiras
Assim ao receber as carpideiras
O pagamento à vista, não anseio
E vejo sob as vestes cada seio
Desejo se aflorando, são bandeiras
As sendas desvendadas na nudez
E tudo o que decerto ainda crês
Não vale um gozo forte e em tal orgasmo,
A parte que me cabe, saciada
Lacônica presença demonstrada
O resto se vendendo com sarcasmo...

31978

Panteras gostam mesmo é da tocaia
E a sorte não produz outro momento
Aonde se pudesse me apresento
Levanto da morena, a curta saia,
E sei que quanto mais assim se esvaia
O tempo noutro tanto eu não lamento
E quando em algum gozo me alimento,
Procuro a insanidade em cada praia.
O sarro, o carro, as mãos tocando os seios
E nada do que possam ser receios
No golpe financeiro, no achincalhe
Portanto ser feliz pressupõe isto
E até se ainda fosse bom, desisto
Bebendo cada pus que se amealhe.

31979

Deus salve as prostitutas e as vadias,
São nelas que eu encontro o Paraíso,
Embora no meu bolso o prejuízo,
As sortes mais audazes tu procrias
Nas coxas e nas mãos, bocas e as pias
Lavando as bocas tolas sem juízo
Do quanto deste gozo mais preciso,
E nele as orações que bendizias
Desta água benta feita em lupanares,
E quando novos rumos procurares
Verás as mesmas cenas do passado.
O carro entre os faróis, sinais e senhas,
Conquanto com tesão tu sempre venhas
Assim nosso destino abençoado!

31980

Anseio escorpiônico em veneno
Delírio desta cauda caudalosa,
E quando vejo o rabo a mente goza,
E assim me considero em ti mais pleno,
A cada requebrado um novo aceno,
E toda a sorte em gruta majestosa,
A porta deste inferno aberta posa
Chamando para o jogo, concateno.
E miro o que pudesse destas ancas
Aonde com vontades bem mais francas
Ascendes ao que tanto desejara,
Bendigo a putaria, meu altar
E posso sem temor me dedicar
Sabendo quanto a grana me escancara...

31981

Monstruosas cenas repetidas
E tento vislumbrar a solução
Enquanto as mesmas horas dizem não
Perdendo o que pudessem minhas vidas

E nada do quanto tu duvidas
Deveras novos dias mostrarão
Se tanto se perdesse meu verão
Não vendo solução mortas saídas,

Resisto às tempestades e pudera
Ainda acreditar na primavera
Mergulho no passado e trago a face

Dos vários e temíveis desalentos
Bebendo cada gota destes ventos
Na morte onde a verdade sempre grasse.

31982

O quanto sou decerto mais infame
E teimo contra a fúria desumana
E quanto mais a sorte toma e dana
A sorte noutra sorte não proclame,
Resido no que possa enquanto clame
A morte desvendada ora se explana
E bebo do passado aonde ufana
O corte que deveras já reclame
Audaciosamente eu sobrevivo
E tento ser por certo mais altivo
Embora saiba ser cativo quando
O medo não traduz outro caminho,
E se demônios crio, já me aninho
No porto quando em vão sigo ancorando.


31983

Eu sei que na verdade sendo imundo
Não tenho outra saída e nem tento,
A morte será sempre o meu provento
Enquanto neste intento me aprofundo,
O resto do passado doma o mundo
E teimo com razão quando me invento
E tanto poderia estar atento
E nada se não fosse vagabundo,
Em moribunda face sou medonho
Bacante delirante quando sonho
Não vê quanto é preciso a paz e sangra
Restando ao navegante ao menos a angra
E nela se procura sempre assim
O que restou ainda; vivo em mim.


31984

Não quero grandes gestos, pois heróicos
E tanto na verdade; engano quem
Já sabe do vazio que contém
Iludidos espectros quando estóicos
Dos bólidos gigantes, são eólicos
Os riscos entre festas quanto tem
Corsários navegantes vão aquém
Cruzeiros entre riscos mais bucólicos
Acasos entranhando ocasos toscos
E beijo os meus enganos entre lances
Porquanto no vazio queres, lances
Cenários muitas vezes bem mais foscos
Ecléticos poéticos titânicos
No fundo são decerto mais mecânicos...

31985

Os gritos entre gritas gestam nada
E ao pântano conduzem quando tanto
E sendo assim se ainda me agiganto
Mergulho nesta senda destroçada,
Resumo cada frase na estocada
Aonde me defendo e me levanto
Se eu posso ou se no poço moldo o pranto
Depois de certas horas, desagrada.
A gata parda mostra as presas e unhas
Além do que decerto inda supunhas
E afia com terrores vis promessas,
E sendo mais sutis as suas manhas
Partidas que julgavas todas ganhas
Ao ver os teus enganos já tropeças...

31986

Apenas um despojo e nada mais,
Assim me retratando, um pária eu crio
E tanto poderia em desvario
Mas nada do que penso em terminais
Momentos não seriam desiguais
E neles cada prece, novo fio,
Acende dos demônios o pavio
E beijo as rosas podres e infernais.
Restituída ao fim a minha história
Adentro cada parte desta escória
Que tanto imaginara persistindo
E sei o quanto a morte não existe
E tanto quando eu pude embora triste
Saber do ser humano, podre e findo.

31987

O mundo é verdadeiro e podre esgoto
Não trago as ilusões da juventude
Ainda que pudesse e mesmo eu pude
Que faço se este manto agora é roto?
O tanto quanto pude se vinhoto
O quadro se moldando e se amiúde
Apenas procurando este ataúde
Da sorte se amputada beijo o coto.
Aporto em tais estranhas cercanias
E quanto mais ainda a morte adias,
As heresias tomam o cenário.
Eu rio do que tanto poderia
E nada da verdade em sintonia
Mostrasse além do encanto temerário...


31988

Tragado pelo mundo em terra imunda
Não pude concentrar a força em luta
Aonde não se vence imagem bruta
Enquanto a sordidez amarga inunda,
E navegando em água podre, afunda
O sonho de quem alma fora astuta
E agora com certeza não reluta,
E vê cada faceta mais profunda.
Resulto do que tanto quis outrora
A própria inexistência aonde ancora
O sonho desespera e desampara,
Restando do cadáver ambulante
Velório que decerto se adiante
E o corte profanando a sorte amara...

31989


O tédio entre tristezas e fornalhas
Festivamente toma toda a cena,
E quando a vida traça em luz mais plena
Ainda entre os demônios tu retalhas
As horas se cerzindo nas batalhas
O fardo não transcende enquanto a amena
Perplexa fantasia ao longe acena,
Não vendo nem as sombras das navalhas.
Existo e na verdade isto me basta,
Sarjeta entre bebidas, podres águas
E quando no vazio tu deságuas
Tua alma incoerente, porém casta,
Não vê a minha face decomposta,
Imersa neste esgoto, em plena bosta.

31990

Meus olhos seguem grávidos do medo,
E sei que talvez isso me socorra,
A cama ainda guarda a velha porra
Do tempo em que feliz, nada mais cedo,
Percebo cada etapa em seu enredo,
E nada além do quanto ainda morra
Do sonho sem ter nada, velha borra
Marcando com terror cada segredo.
Na fétida impressão do ser vazio
E tanto quanto posso ainda espio
E vejo dos meus dias mero engodo,
Participando assim do meu velório
O quanto fui; na vida, merencório
Traduz neste pedaço o inerme todo.

31991

Meus olhos encharcados pelo pranto
Ainda que pareça um contra-senso
Falar de tanta coisa que não penso
E mesmo quando vejo já me espanto,
Não pude renegar o tanto quanto
Vivera em ar sombrio e sendo tenso
Mergulho neste vago quando imenso
E bebo até fartar sereia e canto.
Mas inutilidade dita o verso
De quem se faz assim em existência
Negando do caminho coincidência
Ou mesmo procurando outra seara,
Mais fácil é ser comum e ter no sonho
Figura onde mesmo me componho,
E quando em desespero sempre ampara.

31992

Sonhar com outras horas mais tranqüilas
Enquanto acendo assim o meu cigarro
E quando da ilusão eu me desgarro
Porquanto em cenas tétricas desfilas
Renego as velhas lendas e as argilas
Expresso esta vontade a cada esbarro
Do tempo noutro tempo e quando escarro
Teu ódio sem igual não desopilas.
Resquício do que fora alguma farsa
A sorte se mostrando quando esgarça
A rota agora rota e mais puída
No quadro desenhado em tez profana,
Uma alma mais simplória já se engana
E pensa ter nas mãos a própria vida.

31993

Preparo o meu patíbulo porquanto
Renego qualquer forma de heresia,
E sendo a realidade o que se cria
E nela cada fase dita encanto,
Se a voz mais alta tento e até levanto,
Por mais que seja aberto o dia a dia,
Ainda vive em nós a sacristia
E o olhar deste demônio quase santo.
Ecléticos parceiros de um só jogo,
Não quero e não permito em mim um rogo
Pedindo a quem puder se errei demais,
Meus passos na verdade sendo falsos
São meus assumo logo os cadafalsos,
Assim como gerei meus vendavais.


31994

Tu conheces a face do diabo
E quando vês no espelho este retrato
Deveras com terror negando o trato
Enquanto te percebo e assim desabo.
No todo que porfio não acabo
E mesmo que pudesse ao ter um ato
Em discordância tal, teimo e maltrato,
Faltando para tanto chifre e rabo.
Perpetuando o mal que em mim existe,
O dedo aponta sempre e enquanto em riste
Não deixa que se veja nova face,
Ainda renegando esta verdade
Na tétrica figura que degrade,
Realidade sempre dome e grasse...

31995

Não sou somente hipócrita, sou mais.
E finjo que não vejo quem sou eu
No quanto do meu todo se perdeu
Exposto aos meus anseios tão venais,
Assim ao me encontrar entre animais,
Mais animal ainda se verteu
Uma alma deste ser que não ateu
Matando Deus em ritos marginais.
Escusa criatura, nego a cena
E quando a própria vida me envenena
Eu sorvo cada gota com prazer,
Depois venho pedindo a salvação,
Irônica faceta do leão
Que manso gato teima em parecer...

31996

Surgindo após as tantas tempestades
A voz de quem se fez o tradutor
Dos gozos e dos medos, do terror
Rompendo ou mesmo até gerando grades,
Ainda que deveras desagrades
Do tom aonde mostra este cantor
O quanto desta vida em estupor
Pudesse ter mil sonhos e verdades,
Poeta ou escritor, mero fantoche
Que adentra pela insânia ou no deboche
Arranca dos seus ermos, viscerais
Momentos entre tantos risos, prantos,
E tenta traduzir com torpes mantos
Os dias sempre insanos, desiguais...

31997

Num mundo enfastiado em tez profana
A carne sobrepõe-se plenamente
E embora muitas vezes tanto mente
Que até sua verdade mesmo engana,
A ponte se criando em voz humana
Não deixa outro momento em que se assente
A fúria de um tormento que apascente
Nem mesmo a dor da qual por tanto ufana,
Aplausos e ironias, sem claquete
O todo noutro tanto se repete
E assim interminável poesia.
Que quanto mais desnuda, fere e ri,
E tendo este universo inteiro aqui,
Mais outro na verdade, uma alma cria.

31998

Blasfêmias entre falsos e verdades,
Assisto ao que não pude e nem pudera
Alimentando em mim, ternura e fera,
As cordas arrebento quando invades
E tanto ainda insana teimas, brades
Navega com terror a primavera
E sei da inconsistência da quimera
Tampouco desfiando qualidades.
Medonho caricato espelhos trago
De uma alma em sordidez e se me estrago
Degrado com ternura em falsa luz,
A voz que amaciara ou te iludira
Agora se retalha e em cada tira,
Expondo meramente a dor e o pus.


31999


Crispando o meu olhar neste horizonte
Renego qualquer fonte e mato quando
O tempo noutro tanto se nublando
Apenas o vazio ainda aponte,
E mesmo que outro tempo já desponte,
No quanto desaponta em ar nefando,
A morte se tecendo e desvendando
Negando para a sorte nova ponte,
Esgarço em versos vagos outros tantos
E beijo com furor os desenganos,
Pudesse atear fogo nestes panos,
E os mortos que carrego, sem espantos
Mas pútrida verdade nega o fato
Aonde fielmente eu me retrato.


32000

Não quero a piedade nem tampouco
Apenas a mortalha que me dás
E nada do que possa ainda a paz
Gerando em mim diverso e sonso louco.
O quadro que se tece sendo pouco
E a carne mostra a fúria mais audaz,
Edênico caminho à Satanás
E se pareço insano ou me treslouco,
Risível caricato quando rezas
E tudo que não queres e desprezas
Perece com teu ódio, ser imundo.
Negar a própria sorte; falsifica
A imagem do que tanto agora implica
Num ser em alma podre, um vagabundo

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