terça-feira, 4 de maio de 2010

31766 até 31770

31766


Entrando pela sala e pelo quarto,
A imagem de quem tanto já tivera
O face ao mesmo tempo mansa e fera
E tendo neste instante o olhar mais farto,
Enquanto se prepara novo parto,
Gerando com terror outra quimera,
Perece com ternura, onde pudera
Viver a fantasia que descarto.
Negar o passo rumo ao que talvez
Transcenda ao tanto ou pouco que desfez
Mergulhos em momentos mais atrozes,
Percorro esta alameda dita em vida,
E ainda que procure dividida
Unidas neste vão as nossas vozes.

31767


O verso que chegando me ilumina
Transcende à própria vida em atos, ritos,
E quando os dias fossem infinitos
O amor não mais seria mera mina,
Ainda que ilusão tome e domina,
Os temporais invadem, tolos gritos,
E corações deveras mais aflitos,
Não deixam que esta história mude a sina,
É claro que entre ocasos, o poeta
No todo ou pelo menos se completa
E vaga entre as estrelas. Natural.
Porém a realidade agora doma
E transformando ausência em tola soma
Reflete outro momento desigual.


31768

Um acalanto breve em sonho farto
Permite acreditar noutro momento,
Aonde ensimesmado eu me acalento,
A lua se transforma em claro parto,
E mesmo sem ter nada inda reparto
O sonho com quem sabe o seguimento
Da vida com ternura e sofrimento
Eternizando assim o que descarto
Do pouco aonde ainda cevaria
Outro tormento feito em noite fria
E adio com ternura ou desencanto,
E sendo mais cruel o que me espera,
Vencer esta inclemência, vida fera,
Somente quando escuto este acalanto.


31769

Ninado pelo amor desta menina
Eu pude adormecer entre os demônios
Que ainda com terríveis pandemônios
O que fora verdade determina
O passo que deveras alucina
Gerado em profusão pelos hormônios,
Sabendo serem fúteis patrimônios
Os que ora herdei da dor, tal concubina.
Será de minha ignóbil competência
Seguir ou discernir a dura essência
Da vida renovando o desalento
E quando se progride rumo ao quanto
Pudera, insanamente ainda canto,
Ou pelo menos finjo ou mesmo tento.


31770

Trazendo uma esperança para mim
Depois de ter vencido os meus enganos,
A vida refazendo engodos, planos,
Chegando em tom solene agora ao fim.
Pudesse ainda crer, mas sempre assim,
Assisto à derrocada, em desenganos
Percebo quão são fúteis os humanos
Da terra destruída, um estopim.
Apelo à sanidade que não vejo,
E sei o quanto inútil tal desejo,
No olhar de quem somente se sacia
Com, todo este poder custe o que custe
Eu sei que amor não passa de um embuste
Assim como é volúvel a alegria...

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