terça-feira, 4 de maio de 2010

31801 até 31806

31801

Matando, devagar, meu coração
Não pude discernir quem mais traria
Ao menos qualquer canto em alegria
Ou mesmo as tempestades de verão,
No quanto a vida mostra indecisão
E assim ao mesmo tempo a fantasia
Transcende ao que pudesse o dia a dia,
Marcando com terror e ingratidão,
Esboço a realidade em novas cores
Sabendo dos antúrios entre as flores
E nelas o canteiro se refaz,
Mas nada do que eu quis tempos atrás
Momentos muitas vezes sonhadores...


31802

Depois da dolorosa decisão
Aonde se tentara qualquer brilho,
E assim quando sozinho inda palmilho
Noturna e corriqueira procissão
Buscando novos dias desde então
E sendo tão cruel cada empecilho,
O quanto de ilusão teimo e polvilho
Traduz a mesma etérea negação.
Resisto e sei porquanto nada levo
Do tanto que pudesse ser longevo
O sentimento amargo que cultivo,
E tento ser feliz, mero fantoche
Enquanto a vida ri e assim deboche
Dos sonhos pelos quais eu fora altivo.


31803

A chuva nos molhando... O frio vento...
Repete o mesmo outono interminável,
E quando noutro inverno é decifrável
O que deveras sigo e mesmo invento,
Nos ermos deste vago tomo assento
E sei a vida ser mesmo intratável,
O solo que bendigo; nunca arável
Exposto às variáveis de um tormento,
Encarnam o que sei realidade,
E nada do que ainda desagrade
Porquanto brade insólito meu peito,
Dos tantos veranicos, nada resta,
A imagem que se vê torpe e funesta
Reflete o desespero quando deito.


31804

Da cama em que explodiam mil desejos.
Não restam nem estrados, nem sinais,
Os dias se repetem sendo iguais
E neles alegrias são lampejos,
Os sons de velhos tontos realejos,
As sombras de momentos divinais
E os ritos entre pedras terminais,
Os cortes entranhando em pés andejos.
Assim porquanto pude acreditar
Mesmo inconstantes raios do luar
Transcendem ao que pude ter no fim.
Ecléticos caminhos percorridos
E neles outros dias são sentidos,
Interminável ciclo dentro em mim.


31805

Depois as alianças, casamento,
Depois do casamento, desavenças
E assim se renovando velhas crenças
Preparam para o mesmo desalento,
E quando variáveis dias tento
As discrepâncias sendo mesmo imensas,
No fundo as mortes sejam recompensas
Embora com terrores, desalento.
Pudesse ter enfim qualquer partilha
Não fosse tão somente destes bens,
E quando minha parte tu conténs
Ao irmanarmos sonhos poderemos
Atravessar tempestas, calmarias,
No quanto espelhastes os meus dias,
Usando pelo menos mesmos remos...

Nenhum comentário: