31756
As águas dos meus olhos onde eu lavo
Em lágrimas descendo rios, fozes,
E trazem nos meus prantos os ferozes
Caminhos em que tanto fora bravo
O mar em que salguei com medos, cravo,
E perco os meus destinos, pois atrozes
Os ritos perpetuam tais algozes
Mantendo da emoção um peito escravo.
Amares e marés, montes e abismos,
Ferrenho caminheiro do vazio,
Enquanto são comuns os cataclismos,
A face sempre escusa deste mundo
Ao qual eu tolamente desafio,
E mesmo sem defesa eu me aprofundo...
31757
De tudo na verdade, o que restou,
Apenas mera sombra do passado,
O fogo muitas vezes ateado
Ainda quando a cena dominou
Gestando outro caminho aonde eu vou
Buscar o que seria meu legado,
Porquanto tanta vez andei errado,
Agora no final já se aprumou.
Negar a própria sorte é juvenil
E o tempo quando enfim tudo previu
Jogado pelos ermos, nos porões
Aflora com vigor no outono imenso,
Preparo a cada dia assim meu lenço
Os trens já percebera em estações...
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Num mar em tempestade, forte e bravo.
O quanto poderia ser ainda
O cais ao mais distante não deslinda
Essencialmente o passo; ainda travo,
E levo com certeza o desagravo
E tento a solução, mas vida finda
Espreita atocaiando e a morte brinda
Recendendo ao terror de lírio e cravo.
Não pude mais lutar e isso me basta
A cena que pensara ser nefasta
Apenas me trazendo a mansidão.
Amadureço em ermos e temores,
Assim ao aprender com tantas dores,
Preparo a minha sina em podridão.
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No fundo de meus sonhos penetrou,
As cenas de Alfonsina em pleno mar,
E tanto posso vê-la caminhar
Por entre os caracóis que desejou,
A morte não existe, e o que restou
Aprendo a cada sonho eternizar
Na mágica expressão cada sonhar
Vivenciando o quanto ainda sou.
Dos mares que adentrei entre cenários
Sobejos e por vezes temerários,
A poesia traça a minha dita,
Soando como imensa turbulência
Aquilo aonde vês a penitência
Traduz imagem clara e até bendita.
Para Alfonsina Stormi.
31760
Tornando cada verso meu o escravo
Do pensamento torpe e mesmo assim,
Ainda que pudesse ver ao fim
O quanto de desfez em tolo agravo,
Cercando o dia a dia, cada cravo
Penetra em minha pele e sei enfim,
Residem tantos seres dentro em mim
E deles me liberto enquanto lavo,
E sei dicotomias corriqueiras
Embora paralelos rumos, têm
A face refletida deste quem
Usando personagens verdadeiras
Nas bodas impossíveis, desunidos
Transcendem aos meus eu mal traduzidos.
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