terça-feira, 4 de maio de 2010

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31811

De todos os momentos que vivemos
Eu guardo alguns relances e percebo,
Por mais que amor pareça algum placebo
É nele com certeza que aprendemos
Liberta ou já renova velhos demos
E tudo deste encanto quando bebo
Universo diverso ora concebo,
E sei quanto que enfim necessitemos
Da frágil solidez em movediça
Face tantas vezes muito ingrata
Ao mesmo tempo alenta e nos maltrata
Retrata iridescente maravilha,
Porém brumosa senda descortina
E quando se transforma em nada, ausente
O amor se esvaecendo não se sente,
Opaca face etérea e cristalina.


31812

Saudades, meu amor, saudades tantas;
Apenas instantâneos de uma vida
Que há tanto se pensara mais perdida,
E quando vez por outra inda levantas
Transcorre deste jeito em dor ungida
Ou mesmo negação, torpe avenida
Em meio às novidades, rotas mantas
E quando desabriga e desobriga
Perdendo esta magia, rara liga,
Esvaecida imagem morre ao léu,
Enquanto aprisiona diz tortura,
E quando nos liberta se afigura
Caminho para o Inferno ou para o Céu.


31813

Na paz que precisamos e queremos
Figura distorcida de um anseio,
Porquanto se prepara em vário veio
Às vezes noutros rumos esquecemos
O quanto do passado já vivemos,
E ainda vez em quando até rodeio
Cadáver do que fora mero meio
E nele novos dias percebemos.
Atrocidades tantas, luzes foscas,
Depois de certo tempo mesmo às moscas
O sentimento volta a incomodar,
Risonho ou quando tétrico, temível,
Num olvidável sonho inesquecível
Qual fosse cada fase de um luar...


31814


“Assim enfim felizes, viveremos”
Num ledo engano vejo este himeneu
Após o que pensara em apogeu
Mergulha no vazio, e até queremos
Viver o que deveras já perdemos
Bebendo cada gota em perigeu,
Resisto ao que pensara teu e meu,
E penso quanto em paz nós merecemos.
Pudesse renovável, mas não é,
E assim qual fora a borra de um café
Coagem renovada é dissabor.
E sendo tão factível às tormentas
No quanto a face escusa me apresentas,
Depois de certo tempo: o decompor.


31815

E possa me entregar ao nosso bem
Após vencer comuns vicissitudes,
Na etérea sensação das juventudes
O tempo contra o tempo sempre vem,
Ao se mostrar assim percebo alguém
Atrás de quem deveras tanto mudes,
E enquanto eu te iludi também me iludes
A verdade absoluta não convém.
Matando pouco a pouco, dia a dia,
O quanto disso tudo se recria,
Em filhos, netos, genros, vida afora.
E a velha face exposta do que fomos,
Capítulo final resume os tomos,
A capa-dura apenas nos decora...

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