sábado, 25 de dezembro de 2010

Não possa acreditar noutra saída
E nisto nada trama outro caminho
O mundo tantas vezes mais mesquinho
Traduz a sorte amarga e dividida,

Meu canto na verdade sem saída
E o tempo se apresenta em cada espinho,
E quando no vazio enfim me aninho
A luta noutra face resumida,

O medo de quem tanto quis a paz
E o rumo com certeza se desfaz
Gerando esta ilusão e nada além

Do quanto poderia e não soubera
Ousando ao enfrentar a dura fera
Enquanto na verdade o mal contém.


---------------------------------------x------------------------------------


Bebendo cada gota deste sonho
E nada mais pudesse acreditar
Gerando o quanto tento caminhar
E trago meu caminho onde o componho,

Vencendo o dia a dia eu me proponho
E sei do quanto possa navegar
Ousando na incerteza do lutar
E nisto outro cenário onde me ponho,

Ascendo ao que tentasse ser melhor
Apenas cada passo diz suor
E o manto se puindo noutro engano,

A vida se desenha em tom cruel
Somente procurando um novo céu
E nisto com certeza enfim me dano.


-------------------------------- x -----------------------------


Meu passo se traduz em nada além
Do quanto quis no mundo sem sentido
E nada mais pudesse e quando olvido
Bebendo este cenário aonde vem,

E trago o que seguisse e sei tão bem
Marcando com ternura o que lapido
E gera sem saber o manto ungido
No caso que deveras dita alguém,

Aquele que pudesse ser melhor
O mundo se apresenta num maior
Caminho mais feliz ou mesmo rude,

A vida não traduz tranqüilidade
E quando o mundo perde ou se degrade
Apenas a saudade enfim me ilude.


------------------------------x----------------------------


Ainda que pudesse acreditar
Nas ânsias costumeiras de quem sonha
E ter em minhas mãos a mais risonha
Vontade de viver e de lutar,

A sorte se desenha devagar
E o todo se demonstra aonde o ponha
E em cada novo verso que componha
Beber um claro raio de luar,

Singrar pelo passado e ter nas mãos
Além do que pudera em raros grãos
Sentidos sem proveito, noites ocas,

E quando percebesse o fim de tudo,
Galgando esta emoção, tanto me iludo
Unindo em frágil beijo as nossas bocas.



---------------------------- x -----------------------------


Já não me cabe apenas o que sinto
Tampouco poderiam ser diversos
Do quanto imaginara em poucos versos
E sigo o que me traz o velho instinto

Vulcânica expressão de um tempo extinto
E nele outros caminhos e universos
Os rumos tantas vezes são perversos
E deles com firmeza eu teimo e minto.

Vencido caminheiro das estrelas
Pudesse nos meus dias recolhê-las
E crer noutro momento em plena paz.

Mas quando se aproxima do futuro
Distante do que tento e mais procuro
Apenas o não ser me satisfaz.


--------------------------------- x --------------------------------



Mentiras entre engodos e não mais,
A senda mais audaz se trama aquém
Do quanto na verdade ainda vem
Marcando o meu destino em temporais,

Diversas ilusões em desiguais
Cenários onde o corte traz também
A senda aonde o mundo quis alguém
E os ermos de meus sonhos são banais

Pudesse acreditar em novo dia,
Tocando com ternura o que viria
Gerando meus momentos entre os medos,

Os dias se afastando dos meus olhos,
Aonde imaginei colheita, abrolhos
E os passos com certeza sempre ledos.



-------------------------------------x-------------------------------


Meus dias entre tantos sentimentos
Minha alma em erros tantos não pedisse
Sequer o que pudesse na mesmice
Viver entre os diversos pensamentos,

Expresso o coração e enfrento os ventos
A sorte se desdenha, uma tolice,
E o corte se anuncia enquanto o visse
Jogado contra as pedras, sofrimentos

E bebo destes goles com fartura
A vida não traduz outra procura
Senão a que se trama dia a dia

Depois de certo tempo o que me resta
Imagem tantas vezes mais funesta
E nada mais deveras eu teria.


--------------------------x------------------------



No fim de certo tempo, solidão
Encontra o que pudesse em novo dia
E a sorte com certeza não viria
E sei da luta imensa e indecisão,

Meus dias noutros erros moldarão
O quanto tantas vezes mais queria,
Revoltas dentro da alma e a fantasia
Expressa o que tentasse em direção.

Agora pouco resta do que sou,
Apenas o que tanto mergulhou
Nos ermos desta furna sem proveito,

E o quanto poderia ser diverso
Somente ultrapassando em cada verso
O sonho que em verdade quero e aceito.

---------------------------- x ----------------------------


Já não me caberia qualquer sorte
Nem mesmo a que trouxesse novo sonho
E quando na verdade eu me proponho
Vencendo o quanto pôde ser a morte

Aprofundando assim o imenso corte
Gerado pelo passo mais bisonho,
No fundo este momento onde me oponho
Transcende ao que talvez inda suporte,

Vestígios de um passado sem razão
As lutas noutra senda moverão
Os braços já cansados; velho embate

E quanto mais procuro algum alento
Maior o meu desejo e não invento
Senão este delírio que arrebate.


------------------------------x--------------------------



Já não me comportasse outro cenário
Tampouco o quanto resta dentro da alma,
A vida tantas vezes se me acalma
Não traz este caminho imaginário,

Vencendo a solidão, guardo no armário
A solidão de quem se fez em trauma
E bebo da incerteza em cada palma
E sei do meu viver e itinerário.

Depois de certo tempo, a negação
Dos ermos que deveras moldarão
A cena mais dorida em vida e pranto,

Após o descaminho mais ousado,
O corte me aproxima do passado
E ao nada que inda reste eu me adianto.

----------------------- x -------------------


Meu tempo de sonhar já se findara
E nada mais pudesse senão isto
E quando na verdade enfim desisto
A vida se apresenta mais amara,

E apenas poderia em tal seara
Viver o quanto quero e não insisto,
Mergulho no passado e se persisto
O tempo noutra face se escancara.

Jogado sobre o solo, nada levo
Senão este caminho duro e sevo
Resquícios de uma vida sem razão,

Ao menos poderia acreditar
No quanto meu momento a se moldar
Traria com certeza a direção.


------------------------- x ----------------------

Jazigo da esperança o desamor
Expressa o que tu sentes e destarte
O quanto de um desejo não reparte
Traduzindo nesta alma algum rancor,

A sorte dita espinho e mata a flor,
O canto se traduz e não comparte,
A luta se desenha em toda parte
E traça o que pudesse em rara dor,

Não tento uma saída que não tem,
Seguindo tantas vezes sem ninguém
Apenas o vazio diz do rumo,

E quantas vezes tento a solução
Dos ermos que pudesse em direção
Ao todo quanto tento e em vão consumo.


-------------------------- x ---------------------


Não tento novo passo e nem queria
Ousando dentro da alma um novo verso
O mundo se pudesse ser disperso
E trago o quanto é rude a sintonia,

Vagando sem saber o que teria
O manto mais audaz, rude e perverso
Navego sem saber e sigo imerso
Na noite sem sentido e mais sombria,

Meu canto se perdendo ao longe dita
A noite que pudesse ser bendita
Finita sensação de sonho e paz,

Ainda que tentasse novo rumo,
Aos poucos sem certeza eu me resumo
No quanto poderia ser capaz.


----------------------------- x ------------------------


Quisera tão somente um novo dia
E ver com minha luta o que virá
O todo se aproxima e desde já
A sorte com certeza não veria,

Apenas o que dita a fantasia
E nela uma esperança diz maná
O rumo sem sentido moldará
O quanto a noite invade e assim porfia,

Esbarro nos engodos de um passado
E quando solitário ainda brado
Tentando com certeza outro momento

Destarte a sensação de liberdade
Aos poucos meu caminho já degrade
E apenas o meu medo hora fomento.


-------------------------------x----------------------------


Não mais me caberia qualquer canto
Nem mesmo o que pudesse ainda ter
A vida se aproxima em desprazer
E nada mais deveras eu garanto,

E sei do quanto possa e se me espanto
Bebendo o que pudesse mais conter
No rumo desdenhoso passo a crer
E o mundo se desenha em dor e pranto,

Apenas o que tenho dentro em mim
Expressa o que pudesse até o fim,
Marcando com ternura um verso nobre,

Assim ao se moldar em ilusão
O tempo muda a velha direção
E o sonho noutro tanto nos recobre.


-------------------------------- x -----------------------


Um tempo após o tempo da existência
Gerasse novo rumo em nossa vida,
E quando se aproxima a despedida
Eu vejo no final a permanência

E o todo se transforma em tal ciência
E gera a mesma estrada repartida
E nisto o que pudesse e não duvida
Trazer dentro do olhar rara clemência,

O canto mais audaz, o vento manso,
A tempestade imensa quando avanço
E o ranço de um passado vivo ainda,

E nada do que possa ser diverso
Reinando sem limites no universo
Deveras com firmeza já nos blinda.


--------------------------- x --------------------------


O manto consagrado da esperança
Gerasse a proteção que tanto quero
E sei que de tal forma sou sincero
Enquanto o tempo mesmo sempre avança

Ainda quando pude em aliança
Vencer o descaminho atroz e fero,
O mundo sem sentido, quando espero
Gerasse no final desconfiança,

A rústica lembrança de um passado
O tempo no vazio anunciado
E o corte sem sentido do que tento,

Invisto cada verso no meu erro
E sei do quanto possa em tal desterro
Viver o meu imenso sofrimento.


--------------------------- x ------------------------


Olhando para trás já não percebes
Sequer o quanto pude acreditar
E nada mais se traça em teu luar
Ainda que invadisse as mesmas sebes

O quanto da esperança tu recebes
E o medo noutro rumo a se tomar
A luta não cansando de buscar
Os dias que doridos tu concebes.

Ascendo ao que pude e nada veio
Apenas meu olhar em tal anseio
Jogado sobre as pedras deste cais,

E quando me percebo solitário
Ainda sem saber do necessário
Cenário me aproximo em vendavais.


--------------- x ----------------------


Não tento outra saída e nem pudera
A vida em avidez dita o futuro
E quando na verdade eu configuro
O passo mais feroz da leda fera

Ainda que pudesse nesta esfera
Gerar outro momento atroz e duro,
Apenas do vazio eu me asseguro
E nada mais ditasse a primavera.

Espero o que inda resta e não mais veio
O mundo se aproxima e sigo alheio
Ao quanto na verdade não teria

Sequer o que pudesse noutro rumo
Bebendo com terror o que consumo
Vibrando a solidão tosca e sombria.

------------------------ x ------------------


Espraia o pensamento e bebe o sol
Tramando com terror o dia a dia
E nada do que possa me traria
Sinais do quanto existe em arrebol,

A vida se desenha e em tal farol
O quanto da emoção deveras guia
Marcando o que pudesse em utopia
Gerando amor que eu quis em raro escol.

Vacante coração já não comporta
E deixa sempre aberta a velha porta
E nada mais pudera além do vago,

E quando no final a sorte dita
O quanto se presume e se acredita
Traçando esta emoção enquanto a afago.


------------------------ x----------------------

2


No mar imenso aonde pude ver
As procelárias tantas e sequer
Ainda se imagina o quanto quer
Quem vive neste mundo em desprazer,

O manto se recobre e posso crer
No todo que decerto se vier
Trará o meu caminho onde qualquer
Manhã já renegasse o frágil ser,

Ao menos ser feliz quem sabe um dia,
E o mundo noutra face se veria
Gerando dentro da alma algum instante

E nada do que eu quis já se aproxima
Do tanto quanto pude e mata a rima
Aonde o meu vazio se garante.

--------------------------- x -------------
Das eras mais diversas poderia
Ousar noutro momento enquanto rude
A senda mais audaz que tanto ilude
Não deixa que veja em harmonia

O quanto na verdade esta alegria
Marcasse com fervor a juventude
E o todo desenhando esta atitude
Aonde se imagina a fantasia.

A vida não renova o quanto houvera
E desta já findada primavera
Apenas este inverno inda virá,

A luta sem descanso não sossega
Minha alma se presume alheia e cega
Mudando o meu caminho desde já.



------------------------- x-----------------------------------


Cosmopolita sonho dita um rumo
Diverso do que possa em claridade,
E o mundo se desenha e já degrade
O todo que tentasse e não resumo,

Apenas solidão enquanto esfumo
E o tanto se desenha atrás da grade
Enquanto mais lutasse a liberdade
Traduz o quanto quero em novo prumo.

Meu erro é conceber um raro sonho
E neste desejar tanto proponho
Vestindo tão somente esta ilusão,

Os dias mais audazes e doridos
Os olhos entre dias resumidos
As sombras com loucura tocarão.


-----------------------------------x------------------------------



Recônditos que adentro em paz e vejo
Somente algum detalhe e nada além
Do quanto poderia e me convém
E nisto outro momento diz desejo,

A cada novo passo um novo ensejo
E sei do quanto possa e sigo aquém
Viceja dentro da alma o mesmo alguém
E neste caminhar nada prevejo.

Seguindo cada passo sem destino
Aos poucos o final eu determino
Ousando na verdade o quanto quero

E trago no sentido da emoção
Os olhos sem saber da direção
E nisto não seria mais sincero.


--------------------- x ---------------------



Qual larva que tentasse uma crisálida
Após metamorfoses vida afora,
Meu tempo noutro engano se demora
Na sorte que pudesse e segue esquálida,

A vida se desenha aonde pálida
Moldando o quanto vejo e me apavora
Nadando contra a fúria que vigora
E mata esta expressão suave e cálida,

Apenas deixo a casca para trás
E o quanto sem destino se desfaz
Transforma o dia a dia em negação,

A marca mais dorida da esperança
Ao nada com certeza enfim me lança
E traz os dias torpes que virão.


-----------------------x----------------------------


Segredos entre tantos que carrego
O mundo não pudera ser assim
O tanto que trouxera vivo em mim
Num passo sem destino em rumo cego,

O todo determina aonde emprego
O tempo demonstrando enquanto eu vim
O nada se desenha e segue enfim,
Aonde poderia e além navego,

Meu canto se transforma em quase um hino
E quando o meu momento eu determino
Usando da esperança como apoio,

A senda mais suave dita em glória
Mudando com certeza a minha história
Separa o nobre trigo deste joio.


------------------------------- x--------------------------------




Telúrica ilusão trazendo ao sonho
Momento mais diverso do que pude
E sei o quanto morta a juventude
E nisto o todo audaz quero e proponho

E nada mais pudesse e se reponho
Meu canto aonde o nada mais ilude
Gerando dentro da alma o que transmude
E o tanto quanto possa mais risonho.

Ausento dos caminhos e procuro
Ainda que se mostre mais escuro
Cenário em turbulência ou mais atroz,

Seara se aproxima do que eu quero
E sendo este momento audaz e fero
Calando dentro da alma a velha voz,


--------------------- x -----------------------------


Ainda quando passa e não procedo
Da forma que queria quem pudera
Traçar a solidão maldita fera
Cerzindo o quanto nega algum segredo,

Meu mundo na verdade se concedo
E bebo a solidão aonde espera
A luta sem sentido destempera
E traça em meu olhar apenas medo,

O cântico em louvor já bastaria
E nada mais pudesse dia a dia
Tramar senão a queda inevitável,

Assim ao me tornar um sonhador,
Matando o quanto pude em raro amor
Traçando outro caminho indesejável.
------------------------------ x -------------------------


As horas mais diversas entre as quais
Pudesse adivinhar qualquer momento
E quando na verdade sempre tento
Os dias não seriam mais iguais,

Meu canto não teria em atos tais
Além do que tentasse o sentimento
E nada mais trouxesse onde alimento
Em rumos mais diversos, magistrais,

Não pude acreditar noutro cenário
E vejo o meu caminho temerário
No itinerário feito em dor e tédio,

Depois de certos dias, nada resta
Uma ilusão entrando pela fresta
A vida se aproxima em raro assédio.


------------------ x ----------------------



Não pude e não teria alguma chance
Sequer acreditasse noutro intento
E quantas vezes busco ou mesmo invento
Ainda que talvez já nada alcance

O mundo que deveras tanto canse
Traduz o quanto quero em sentimento
E vejo muito além o alheamento
E nada mais pudesse enquanto lance

Resumos de momentos variados
E neles outros dias mais ousados
Tramando o quanto possa em luz imensa,

Meu canto sem sentido e sem razão
As horas com certeza moldarão
Além do que minha alma quer e pensa.



------------------------------- x ---------------------


Na sorte mais ingrata que se veja
O tanto quanto pude e não viera
O corte desejado além da espera
Traduz realidade que lateja

E bebo esta esperança mais sobeja
E vendo atocaiada a antiga fera
Não posso e muito menos primavera
Transcende ao quanto quero e se preveja,

Mergulhos nos insanos sentimentos
E bebo dos audazes pensamentos
Vagando sem saber onde pudesse

A luta se desenha e marca e tece
E nisto os meus caminhos em lamentos
Sonegam o que trouxe em rara messe.


------------------------ x --------------------



Um barco que enfrentasse a correnteza
Marcando com temor o quanto pude
Espero com certeza esta atitude
E nisto a vida gera outra surpresa,

A luta se mostrasse mais ilesa
E nada do que possa em juventude
Enquanto cada engano desilude
A vida dita sempre esta certeza,

Esqueço os desenganos do passado
E quando outro momento busco e invado
Tramando algum alento após o fim,

Não quero acreditar neste vazio
E quando noutro passo eu desafio,
Marcando o quanto quero dentro em mim.

-------------------- x ----------------------

Já não me caberia outro tormento
Bebendo cada gole da esperança
E quando a vida traz o que se cansa
O medo na verdade eu alimento

E sinto sem sentido este elemento
Gerando o que pudera e não se alcança
A vida transbordando em leda lança
Marcando o quanto possa em sofrimento,

Matando a sensação de ser feliz
O mundo sem proveito contradiz
E traça o quanto pude num segundo,

Aquém desta emoção ainda unindo
O passo que queria ser infindo
Ao nada me levando e me aprofundo.

------------------------- x -----------------------------


Ousar na poesia e crer no fato
Do qual não mais escapa esta ilusão,
As horas noutro tempo moldarão
O quanto na verdade mal constato,

E bebo o que pudesse em tal regato
Vestindo dentro da alma a solidão
Aonde se pudera em solução
O rumo se aproxima mais ingrato,

Esbarro nos enganos e presumo
O todo desejado em raro sumo,
Resumo de momentos variados,

E nada que pudesse ser diverso
Traçasse com ternura cada verso
Envoltos noutros dias velhos fados.

---------------------- x -------------------------


Não quero acreditar noutra ilusão
E ter a cada passo um novo engano
E quando no final torto eu me dano
Marcando com terror a negação

Os dias doloridos mostrarão
Aonde se pudesse soberano
Vencer o que aproxima e mais profano
Momento dita a rara imprecisão,

Espero após a queda o novo passo
E quando na verdade o sonho eu traço
Expresso com meu verso o quanto eu quis

E sei do quanto pude e mesmo até
O mundo não vivesse além da fé
E molda a nossa vida em tal matiz.


-------------------------- x -------------------


O tempo se desenha de tal forma
E nada mais impede o que talvez
A vida noutra face já desfez
E pouco a pouco toma e nos transforma,

Ao menos o caminho se reforma
E gera o que em verdade tu não crês
Alheio ao quanto pude; insensatez
Moldando o que já fora alguma norma,

E o peso do passado me envergando
O todo que julgasse bem mais brando
Agora não permite novo sonho,

Ausento dos meus dias e presumo
O quanto poderia em raro sumo
E sinto este momento vão, medonho.


------------------------ x -------------------------


Apenas mostraria alguma sorte
Se o todo em paz trouxesse alguma luz,
E o quanto se deseja e nos conduz
Deveras noutro rumo não comporte,

A vida se desenha e sem suporte
O mundo se aproxima e nos seduz
Mostrando a solidão e traz por cruz
O dia sem sentido, audaz e forte.

Não tento outro momento e na verdade
O quanto se deseja e mesmo brade
Resulta do passado sem proveito

E quando no final o mundo esgota
A luta se desenha em nova rota
E neste caminhar eu me deleito.


---------------------------- x ---------------------------


Meu canto se aproxima do que eu quero
E tento acreditar em novo dia,
A luta quando mais o tempo adia
Traduz este momento atroz e fero,

Ainda que pudesse ser sincero
Não trago dentro da alma a fantasia
E sei do quanto resta em agonia
E bebo este momento mais austero,

No prazo determina o que virá
E sinto o desvario e desde já
Somente o que inda trago diz do fim,

Alheio ao que viesse noutro passo,
Ao mesmo tempo tento e sempre traço
O quanto inda resiste dentro em mim.


---------------------- x -----------------------------



Apenas desafio e nada mais
Os erros de que falo neste instante
Traduzem o que nada mais garante
E bebe da esperança os vendavais,

E sei do quanto possa até jamais
Vencendo o que pudera e se adiante
Marcando com ternura doravante
E nisto se presumem mais banais

Os tempos entre termos, sensações
E sei do quanto quis e agora expões
Na face verdadeira da emoção,

A luta sem cansaço, o medo expresso
E o canto que em verdade mal confesso
Ditando os dias turvos que virão.


--------------------------- x ------------------------------


Já não pudesse mesmo acreditar
Nos erros costumeiros de quem tenta
A sorte se aproxima e mais sangrenta
Impede qualquer raio de um luar

E toma com terror cada lugar
Ainda que se veja em tal tormenta
O mundo que deveras não aguenta
Sequer o quanto pude desejar,

Apenas o vazio desta vida
A sorte há tanto tempo corroída
E a luta sem certeza, ou mesmo rude

Na luta sem destino e sem proveito,
O quanto na verdade sempre aceito
E nisto este caminho desilude.


----------------------- x --------------------------


Não quero acreditar noutro momento
E nada mais pudesse imaginar
Ousando com ternura no lutar
E sei do quanto possa ou mesmo invento,

Não deixa este cenário em pensamento
E tanto poderia caminhar
Tramando dentro da alma este luar
E bebo com ternura o forte vento,

Seguindo cada passo rumo ao tanto
E nada mais pudera ou adianto
Acenos tão diversos da esperança

Quem luta sem saber de algum descanso
Trazendo este momento onde me canso
E a vida na verdade ao fim se lança.

-------------------------- x --------------------------


A senda mais suave e tão tranquila
Ainda quando pude imaginar
Restando dentro da alma, o caminhar
Enquanto o meu cenário ora desfila

Marcando com ternura o que perfila
Gerando com brandura este luar
E o canto se aproxima do lugar
Aonde na verdade amor destila,

Vestindo a mesma face em paz e luz
Cenário noutro tanto reconduz
O passo ao que pudesse ser diverso,

Gestando uma esperança aborto à vista
E nada mais suporta nem resista
O quanto sem sentido algum disperso.


------------------------------ x -------------------------------

Talvez inda sonhasse com meus passos
Entregue às fantasias mais sutis
E neste desejar o quanto eu quis
Deixando para trás dias escassos,

Seguindo esta incerteza, velhos traços
O quanto poderia ser feliz
Em dias mais audazes e gentis
Deixando para trás velhos espaços.

Meu mundo se aproxima do seu fim
E o tempo se desenha dentro em mim
Marcando com temor a fantasia

E nada do que eu possa ou mais queria
Dourando em esperança o meu jardim,
E nisto transformando esta agonia.

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Aos raios de um luar a vida passa
E trama o quanto quero e mesmo possa
Vencendo esta emoção superna e nossa
Vagando sem sentido além da praça,

Meu mundo me arremete e sempre à caça
Do quanto poderia além da troça
Trazendo dentro da alma o que me endossa
E gera a solução embora escassa.

Vertendo em cada luta esta emoção,
Os dias com certeza me trarão
Momentos mais diversos, sonho e caos

Depois de certo tempo em tal cenário
A vida renegando o itinerário
Expressa o quanto nega estes degraus.


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Subindo por escada imaginária
Vagando sem destino em raro espaço
A vida que deveras tento e traço
Ainda se desenha em procelária

A morte muitas vezes temerária
O corte se mostrara mais devasso
E o manto se traduz aonde eu caço
A noite como fosse uma corsária

A luta não se cansa de moldar
Além do que pudesse algum luar
Raiando no horizonte em luz intensa,

Minha alma sem temores segue em frente
E o todo quanto possa e se apresente
Traduz esta emoção que nos convença.


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Estrelas entre tantas dizem quanto
Do mundo se apresenta em novo rumo,
E quando nos teus passos me resumo
Bebendo cada sorte onde garanto,

E quero com ternura o que adianto
E neste desenhar eu me consumo
Tocado pela vida em raro sumo,
E nisto outro momento eu me agiganto,

Espero o que pudesse ser feliz
E dita o que em verdade já nos diz
Do mundo sem sentido e sem razão,

Não quero outro caminho senão isto,
E sei do quanto possa e não desisto
Sorvendo os dias claros que virão.


----------------------------------- x -----------------------------


Olhando cada parte deste tanto
Que a vida não trouxera ou renegara,
A luta se desenha e morta ou rara
A sorte no final já não garanto,

E bebo do caminho em tanto espanto
Arisco coração, leda seara,
A morte se desenha e se prepara
E traça o que pudesse e me adianto,

Esqueço cada verso e nada digo,
Ainda que pudesse algum abrigo
Apenas me condeno à solidão,

Espero a cada engano novo passo
E quando o coração em sonho escasso
Transbordo em dor e medo e negação.


-------------------------------- x ------------------------


No límpido caminho em liberdade
O tempo não traduz outro elemento
E quando na verdade busco e tento
Apenas encontrando a velha grade,

O rumo sem sentido já degrade
E marque o que pudesse em sentimento
E nada do caminho onde alimento
Gerando dentro da alma a claridade,

E tento acreditar noutra esperança
Embora a vida segue e sempre cansa
Quem vive com ternura outra emoção

Jazendo este vazio dentro da alma
A noite em tempestade não acalma
E gera tão somente esta explosão.


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Meu tempo não pudera ser diverso
Do quanto acreditei e nada pude
O mundo se mostrando sempre rude
Aonde se desenha o quanto verso

Regendo cada passo no universo
Marcando com ternura a juventude
Ou mesmo o que deveras nos ilude,
E sei deste momento mais perverso,

Acordo sem saber aonde eu siga
A luta na verdade mais antiga
Não deixa qualquer marca nos meus passos

E os dias sem sentido nem razão
Apenas outros tantos mostrarão
Os dias mais atrozes vãos e escassos.


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Minha alma poderia ser mais pura
E ter esta certeza onde não vejo
Sequer o quanto quero em azulejo
E nada mais ainda em paz procura

A vida se apresenta em amargura
E trago o passo audaz e mais sobejo
O medo se traduz e não desejo
Sequer o quanto quero em vã ternura

Ausente da esperança; nada trago
Apenas da ilusão tal tosco afago
E o rumo se perdendo sem sentido,

No caos gerando em nós o dissabor
Sentindo o meu caminho aonde for
E neste desenhar me dilapido.


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Reparo cada ausência e nada mais
Do todo desejado se trouxera
A vida mergulhando em tal quimera
Traduz o quanto possa em dias tais,

Não quero e não tentando em vendavais
Unindo com terror o que me espera
A morte prematura nega a esfera
E nela outros momentos são banais,

Esquiva como fosse a que se deu
A luta renegando o sonho meu
Marcando com terror o dia a dia,

Não posso acreditar na solução
E vejo outro caminho em negação
E o tempo com terror, a vida adia.


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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Já nada mais pudera quem teimava
Na luta sem descanso ou sem proveito
E quanto deste tempo sendo aceito
Gestando o coração em sonho e lava,

Minha alma sem sentido algum e escrava
Do quanto noutro tempo em raro leito
Moldando sem temor onde deleito
O corte acentuado rompe a trava.

Vestindo a solidão nada mais tento
Sequer o que pudesse contra o vento
E sendo de tal forma a fantasia

Gerando novamente o quanto pude
Espero outro momento e mesmo rude
A noite com certeza me invadia.


A morte vem rondando mansamente
E toca o quanto pude acreditar
Ousando no momento a se moldar
Toando sem sentidos corpo e mente

O mundo se mostrasse mais descrente
Regendo cada dia e me mostrar
Desnuda fantasia a remontar
O quanto na verdade impunemente.

Invisto cada passo no futuro
E sei do quanto possa e me asseguro
Presumo meus enganos costumeiros

E tento embora tolo viajante
Vencer o quanto possa e se garante
Gestando dentro da alma estes canteiros.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Contraditória luz aonde se permite
Apenas o vazio e nisto passo a crer
Possível fantasia em vasto amanhecer
Embora se perceba ausente algum limite

Atrevo-me a sonhar e nisto delimite
O quadro mais sombrio, e quando o pude ver
Tecendo dentro da alma o céu a se perder
No quanto em sordidez ainda se acredite.

Ultrizes emoções imolam quem se dera
Matando o que pudesse, imensa e vã quimera
Restando dentro da alma o medo e nada mais.


Não posso caminhar e ter esta incerteza
Apenas por sentir vontade de lutar
E o tempo se desenha aonde navegar
Seguindo contra a forte e imensa correnteza.

A vida se servindo em rara e vã surpresa
O medo não pudesse ao quanto denotar
Meu verso que atormenta o quanto quis amar
E nada mais se molde em dor mesmo se ilesa.

Ousando a crença enquanto o passo não vencesse
O mundo sem ternura o vasto oferecesse
Vagando sem destino, e nisto me presumo

Ao sórdido caminho imerso e sem guarida,
A noite desenhada há tanto resumida
No ocaso enquanto eu bebo inteiro o amaro sumo.


A morte na tocaia, o vento no meu rosto,
O sonho sem sentido o quanto fora exposto
Traçando dentro em nós momentos vis, venais.

COROA MAGNA DE SONETOS PTE 1

1

Eu quero o teu carinho, e não me canso
De cada vez mais firme procurar
O sonho em que perceba este remanso,
Gostoso de viver e desfrutar.

O coração batendo calmo e manso
Procura nos teus braços descansar.
Paraísos contigo eu sempre alcanço,
E sonho com delícias deste mar

Do amor que se mostrou ser mais capaz
De ter a solução para os problemas,
No riso mais feliz decerto traz

Riqueza que se encontra em raras gemas,
Amor que assim nasceu, em tanta paz,
Rompendo do passado, estas algemas...

2

Rompendo do passado, estas algemas
Que tanto maltrataram. Não me engano:
Amores vêm e vão; em piracemas,
Qual fossem estações várias de um ano.

Por isso, coração, a dor não temas;
Por mais que venha cedo o desengano,
Renascem outros sonhos destas gemas
E o tempo vai passando soberano.

Assim como os cometas libertários,
O amor não se permite prisioneiro.
Na amargura sem par dos solitários

Eu bebo desta fonte noite e dia,
E dela num mergulho alvissareiro,
Surgindo nos meus olhos, poesia...

3

Surgindo nos meus olhos, poesia;
Fazendo rebrilhar um sonho bom,
A lua se espalhando invade o dia,
E mostra a claridade em mesmo tom.

O quanto a noite em luzes principia
Garante ao manso dia o raro dom
Que é feito da beleza em fantasia,
A melodia acalma; suave som.

Trazendo para a vida a sensação
Da eterna juventude, inesgotável;
Aos poucos vem raiando uma emoção

Que entorna sobre nós felicidade,
Tornando o nosso solo mais arável
Verdeja em nosso peito, a liberdade...


4


Verdeja em nosso peito, a liberdade,
Rompendo estes grilhões que nos atavam,
Nas mãos que há tanto tempo já mostravam
Quanto é possível ter tranqüilidade.

Deixando para trás e sem saudade
Os dias em que as horas não passavam,
As frias madrugadas não deixavam
Sequer raiar aurora. Ansiedade...

Agora que percebo ser possível
O canto matinal dos passarinhos
Tornando o coração quase invencível

Mudando toda a sorte em um momento,
À sombra tão serena dos carinhos
Eu sinto a brisa mansa, em calmo vento.

5


Eu sinto a brisa mansa, em calmo vento
Roçando a minha pele, o teu sorriso
Poeira no meu peito toma assento
E o toque dos teus lábios; mais preciso.

A vida vem trazendo sem aviso
De todo o que passei; cada tormento,
Um novo amanhecer em que diviso
O fim dessa amargura e sofrimento.

Sabendo da colheita prometida,
Nos braços deste nobre jardineiro,
Amor vai transformando a minha vida,

Permite que eu mantenha o peito aberto,
Aguando em emoções o meu canteiro,
A seca do passado, enfim, deserto.


6



A seca do passado, enfim, deserto
E sinto a chuva mansa e promissora,
Prepara todo o solo e desde agora
Terei felicidade aqui por perto.

Quem veio de um caminho tão incerto,
Já sabe valorar a redentora
Presença de quem ama. A vida aflora
Tornando o coração bem mais experto.

No olhar de brilho farto, reluzente,
A maciez das mãos sobre meu peito,
Amor que assim domina toda a gente

Invade qual posseiro, benfazejo.
Felicidade plena é um direito
Trazendo a paz sincera que eu desejo.

7

Trazendo a paz sincera que eu desejo
Manhã vai renascendo em raro brilho.
A vida em mansidão; assim prevejo
No amor, doce refrão, belo estribilho.

A vida aproveitando o raro ensejo
Perfaz este caminho que hoje eu trilho,
E nele toda a glória que eu almejo
Da vida feita em paz, sem empecilho.

Vasculho pela casa e quando vejo
Tua nudez divina e maviosa,
Acende logo a chama do desejo

E o jogo recomeça em transparências,
Colhendo em minha cama, rara rosa
Alçando ao infinito em fluorescências.

8


Alçando ao infinito em fluorescências
Estendo em nosso quarto; mil estrelas,
Sentindo a raridade das essências,
Aromas sensuais que me revelas.

Delícia que se faz; doces ardências,
Culminam no prazer de assim contê-las
Dos raios do luar, calmas dolências
Permitem que se possa conhecê-las.

Assim caminha a terna madrugada
Na espera de um sublime amanhecer.
A lua tão serena, enamorada

Abraça a tua tez; prata morena,
E em meio a tantas ondas de prazer
Felicidade imensa, enfim se acena...




9




Felicidade imensa, enfim se acena
Depois da amarga curva do caminho.
A sorte que se mostra, tão serena,
Expõe em suas mãos, manso carinho

A vida se promete agora plena,
Retira desta senda um duro espinho,
O vento do passado inda envenena,
Porém em teu amor, eu já me aninho.

Farrapos do que fui; o fogo queima
E deles vem surgindo um claro manto.
Às vezes um temor ainda teima,

Mas quando em calmaria, amor eu canto
Funéreas tempestades vão embora,
A luz que é libertária, assim se aflora.


10

A luz que é libertária, assim se aflora
Moldando um dia claro, enlanguescente.
Vivendo o paraíso desde agora,
Percebo o quanto é bom o amor da gente.

A paz que num momento se assenhora
E toma a nossa vida num repente,
Promete: não irá jamais embora,
Deitando nos teus braços, tenramente.

Somamos nossos sonhos, sem temores.
O tempo se repleta nos amores
Que a vida já nos trouxe há tanto tempo.

Ao suplantarmos, juntos, contratempo,
Lavramos na aridez de um duro chão,
Colhendo as flores raras da emoção...


11


Colhendo as flores raras da emoção
Fazendo uma corbelha divinal.
Tocando mais profundo o coração,
O amor vai se tornando sem igual.

E mesmo que isso seja uma ilusão
Mergulho carinhoso e triunfal;
Caminho que me leva à sedução
Do corpo mais perfeito e sensual.

As mãos que se procuram noite afora,
O medo vai distante, se perdendo.
Prazer que eternamente revigora

Promessas desta vida que eu bem quis,
No gozo deste amor, sinto vertendo
Felicidades; feito um chafariz.

12


Felicidades; feito um chafariz
Brotando num olhar enamorado,
Gritando ao mundo todo: sou feliz!
Rompi com os grilhões do meu passado.

Agora que já tenho o bem que quis
A sorte me acompanha lado a lado.
O céu vai renovando o seu matiz
E o dia com certeza, iluminado.

Colhendo o que plantei em minha vida,
Minha alma no teu cais não mais perdida,
O tempo em sofrimento é tão remoto.

Nos lábios de quem amo mato a sede,
Deitando meu amor em mansa rede
Olhares no futuro em paz, eu boto.



13

Olhares no futuro em paz, eu boto
E vejo o dia claro que vem vindo.
O vento feito em brisa, agora eu noto,
Amor faz este mundo ser tão lindo.

A fonte do prazer jamais esgoto
E sinto o belo sol que vem surgindo,
Depois de um tempo amargo, ora remoto,
O medo de viver vai se extinguindo.

O quanto sou feliz contigo, amor,
Não cabe nos meus versos descrever,
O bom da vida mostra o seu valor

Em forma de alegria e de prazer.
Um novo mundo eu vejo recompor
Tramando um belo e raro amanhecer.




14

Tramando um belo e raro amanhecer
A noite se prepara em bela prata
No claro plenilúnio eu posso ver
As folhas dançarinas nesta mata.

Convite para a festa e pro prazer
Que aos poucos, vem chegando e me arremata.
Amor que não tem fim vem me dizer
O quanto esta paixão sempre arrebata

O peito enamorado. Rondo estrelas,
Nas asas deste sonho eu me liberto.
Contando vaga-lumes, tu atrelas

Teu barco e assim chegamos a um remanso.
Vivendo o nosso amor, em rumo certo,
Eu quero o teu carinho, e não me canso.


15


De cada vez mais firme procurar
Saída para as dores que carrego,
Invado num momento o teu luar
E bebo do teu rumo, feito cego.

No rum de tua boca, me embriago,
Sentindo o teu perfume pelos ares.
Tomando de teu corpo cada trago,
Estendo o meu prazer a raros mares.

A moça poetisa se mostrando
A deusa que eu queria em minha vida,
A fonte dos desejos me entornando
A glória de encontrar clara saída.

Assim um navegante benfazejo
Encontra o cais perfeito em teu desejo.


16

Encontra o cai perfeito em teu desejo
O amor que tantas vezes vagou só.
Bebendo a claridade que ora vejo,
Da saudade não sinto nem o pó

Deixado nas estradas que passei,
Em fartas ventanias levantado.
Agora que o caminho eu encontrei
Tristezas já são coisas do passado.

Retrato deste amor que me liberta,
Fornalhas em carinhos e prazeres.
A lágrima em meus olhos já deserta
A sorte está; querida onde estiveres.

E sinto ser possível, num sorriso,
Sentir a mansidão de um paraíso.

17


Sentir a mansidão de um paraíso
Depois do duro inferno que eu tivera.
No toque carinhoso o que eu preciso,
Bastante pra verter a primavera.

As cartas sobre a mesa, sorte/azar
A vida em correnteza nunca pára,
Depois de tanto tempo, vim buscar
A flor que com certeza me aguardara

Fazendo do canteiro um lugar nobre,
Perfumes adentrando na janela.
Amor que em maravilha se descobre,
Na glória que decerto se revela

Na boca sedutora da menina
No beijo sem igual que me alucina...



18

No beijo sem igual que me alucina,
Eu mato a minha sede totalmente.
A lua num instante se declina
E toca a nossa pele, claramente.

Loucuras que fazemos toda noite
Certeza de um desejo saciado.
Sem medo da tristeza, duro açoite,
Sem remorsos, libertos do pecado.

Aguando com delícias este jardim,
Decerto colheremos mil perfumes,
Mostrando o que melhor carrego em mim,
Eu tenho nos teus olhos, belos lumes.

Assim, num jogo aberto e sem segredos,
Vencemos os antigos, mortos, medos...

19


Vencemos os antigos, mortos, medos
A cada alvorecer em pleno gozo
Deixando mais distantes os degredos
De um tempo tantas vezes caprichoso.

Colhendo cada fruto do pomar,
Quarando as nossas roupas no varal,
Sentindo esta emoção aqui chegar,
Florindo em paz serena o meu quintal.

Das ladeiras que outrora transpassei,
Dos espinhos que foram tão freqüentes,
Destes cardos que tanto cultivei
Os acúleos; decerto, não mais sentes.

Seguimos; peito franco em alma aberta
Nos braços deste amor que nos desperta.

20



Nos braços deste amor que nos desperta,
Eu faço a refeição, farta merenda,
O amor quando demais, pra sempre alerta
Retira dos meus olhos qualquer venda.

Aos poucos adentrando no Nirvana,
Do amor eu faço a mais perfeita droga,
De um jeito mais moleque e tão sacana,
Minha alma em teus prazeres já se afoga.

Galgando mil galáxias num momento,
Vislumbro o raro céu em farta luz.
Montada em meu corcel, tomando assento
Estrela em tua pele, vem, reluz...

Do quanto eu te desejo e não me farto,
O paraíso chega ao nosso quarto...

21

O paraíso chega ao nosso quarto
Em forma constelar de raro brilho.
Do corpo desta estrela não me aparto
Bebendo extasiado cada trilho.

Sem nada que me impeça, alçando os céus,
Estampo em tua pele a tatuagem,
Marcando com meus lábios, rasgo os véus
Perfaço sem parada esta viagem.

Buscando em cada lume, o meu destino,
Vencido, o vencedor se mostra eterno.
O tempo de sonhar de ser menino,
Rasgando o paletó, desmancha o terno.

Salgando a minha pele; o teu desejo,
Um mundo tão sublime, agora eu vejo...

22

Um mundo tão sublime, agora eu vejo
Legando o medo estúpido ao passado.
Aproveito da noite cada ensejo
E bebo o teu prazer, extasiado...

Num repente que chega e me domina,
Calcando minha vida nos teus passos,
O vento das paixões quando alucina
Ocupa o coração, não deixa espaços.

Na barca dos meus sonhos aprisiono
Fazendo-te refém destas vontades.
A vida do teu lado nega o sono,
Prisões já representam liberdades.

Assim, em destemida romaria,
Amor tudo renova, dia-a-dia...



23


Amor tudo renova, dia-a-dia
Moldando este cenário fabuloso,
Seguindo cada passo da alegria,
Expressa a divindade em cada gozo.

Por mais que inda resista, não consigo
Vencer a tempestade que me tinge
Bebendo deste vinho eu vou contigo
Nas mãos abençoadas desta esfinge.

Trazendo em cada enigma a solução
Vencendo ao fim de tudo os meus problemas,
Da força deste amor, revolução
Marcando em paz e glória seus emblemas.

Não vejo e nem pretendo o fim do sonho,
Meu barco no teu mar, desejo e ponho...

24

Meu barco no teu mar, desejo e ponho
Encontro a praia feita de emoções
Certeza de um momento mais risonho,
Tocando bem mais fundo os corações.

Acesas esperanças que nos guiam
Transportam pensamentos, vou além,
Invernos tenebrosos ora estiam
Entregues ao calor do nosso bem.

Servindo a quem cativa, ama e parceira,
Não deixo um só segundo de buscar,
Estrela que se mostra a derradeira
Deitando fluorescências no meu mar.

Mulher que um dia eu quis, e não sabia,
E agora está comigo em harmonia...

25



E agora está comigo em harmonia
A dona dos meus sonhos, minha musa.
A vida do teu lado, em alegria,
Distante ela se torna mais confusa.

Nos olhos da pantera eu me vicio
Embora o bote seja assim fatal
Sorvendo do prazer em cada cio,
Amor que sei sem fim, descomunal.

Vencido pelos olhos desta fera,
Eu sinto que encontrei felicidade.
Amor que em amor vida tempera
Permite à vida sempre qualidade.

Eu sou o que tu queres, sabes disso.
Contigo a vida ganha novo viço...


26

Contigo a vida ganha novo viço,
Encontro finalmente o que buscava.
O amor interminável que eu cobiço
Não sabe em seu caminho, qualquer trava.

Em plena liberdade, prosseguimos,
Sem nada que nos cale, nem impeça.
Timões dos nossos barcos; conseguimos
Trazer na mesma rota, peça a peça.

Alvissareiro sonho que desfruto
A cada novo dia, mais te quero,
Bendito seja sempre o caro fruto
No amor que em minha vida é bom tempero.

Sabendo dos janeiros que passamos,
Libertos, sem grilhões, senões ou amos.


27


Libertos, sem grilhões, senões ou amos,
Levamos nossos barcos mar afora.
Perfeita sintonia que encontramos,
Permite esta viagem sem ter hora

Certeza que se tem de um manso cais,
Explica esta fantástica alegria,
Os dias são decerto magistrais,
Vivendo o bem maior da poesia.

Agora, companheira, em cada verso
Eu quero te dizer quanto eu te adoro,
Amor vai adentrando este universo
Em suas mansas mãos já me decoro

Trajando a paz que sei fenomenal,
Na eterna sensação de um carnaval...

28

Na eterna sensação de um carnaval,
Festejo nosso amor indivisível,
O gosto em tua boca, sem igual,
Além do que pensara previsível.

Recebo o doce alento de um carinho,
Entrego o coração a cada encanto.
Da glória soberana eu me avizinho,
Coberto pelo amor, perfeito manto.

As sendas que percorro; tão floridas,
Trazendo este perfume inebriante.
Atando dia-a-dia nossas vidas,
Eu quero usufruir a todo instante

Da força que tu dás só por amar,
De cada vez mais firme procurar.


29

O sonho em que perceba este remanso,
Depois das duras curvas do caminho,
A sorte que buscara, enfim alcanço
Sabendo que não vou jamais, sozinho.
No amor que me tornou suave e manso,
Decerto cada passo, agora alinho.

Erguendo para além destas montanhas
Meus olhos na procura deste olhar,
Mudando, de repente, minhas sanhas,
Percebo como é bom poder sonhar.
As luzes ao teu lado são tamanhas,
Fazendo a nossa estrada rebrilhar.

Eu sei o quanto quero estar contigo,
Vencendo qualquer forma de perigo...


30


Vencendo qualquer forma de perigo
Não temo mais a noite e os pesadelos,
Sabendo que encontrei em ti, abrigo,
Sentindo os teus carinhos. É bom tê-los,
Vivendo esta emoção sinto o perfume,
No toque mais suave em teus cabelos...

Encontro, finalmente o meu destino
Diverso da terrível solidão,
Um novo amanhecer, já descortino
Nos braços deste amor feito em paixão.
Depois de tanto tempo em desatino,
Já sei tudo o que eu quero, e a direção

Seguida por amor, louco cometa,
Flechado por Cupido e sua seta...

31


Flechado por Cupido e sua seta,
Não tenho mais escolha, sou teu par.
Colheita que se faz sempre completa
Desfruto toda a glória do pomar
Cevado pelo amor que se completa
Nos olhos que se emprenham de luar.

Persigo a cada noite a estrela guia,
Deixando o sofrimento em outra esfera.
O mundo se fartando de alegria
Permite reviver a primavera
Matando com suave fantasia
A dor da solidão, temível fera.

Somando nossos sonhos, infinitos
Invadem em momentos mais bonitos...

32

Invadem em momentos mais bonitos
Falenas procurando um vago lume,
Fazendo deste sonho, nossos ritos
Encharco a minha vida no perfume
Nascido nos canteiros infinitos,
Matando erva daninha, este ciúme...

Em versos e poemas não me canso,
Emérita emoção que já transborda.
O rio que percorro; agora manso,
Floresce mavioso em cada borda.
O sonho alvissareiro enfim alcanço
Atado em teu amor, serena corda.

Vibrando de emoção, vou todo dia,
Encontro o paraíso que eu queria.

33

Encontro o paraíso que eu queria
Depois de padecer por toda a vida.
Erguendo o pensamento à poesia
Percebo finalmente uma saída.
Repleta de emoção e de alegria,
Decerto pelos Céus já protegida.

Caminhos que perfaço sem cansaço,
Adentro ao mar imenso feito amor.
Deitando meu prazer em cada abraço,
Eu sinto o mundo inteiro a me propor
Um dia de bonança que ora traço
Os rumos deste bem libertador.

Passado que entranhara em minha pele,
O amor com seu poder; chega e repele.

34

O amor com seu poder; chega e repele,
As dores que vieram como em bando.
A cada novo sonho em que se atrele
Permite um novo dia, anunciando
A glória que se entranha em cada pele,
Contínua sensação, tudo tomando.

Guardara nos armários as saudades;
Heranças de um momento vil, cruel,
Ao ver nascer enfim, felicidades,
Um novo azul tomou todo o meu céu,
Promessas benfazejas, divindades
Entornam sobre nós o puro mel.

Sentado calmamente junto a Zeus,
Não quero e nem permito mais adeus...

35



Não quero e nem permito mais adeus,
Depois de ter enfim, o raro sol,
Sabendo que encontrei nos olhos teus,
Após a negra noite o meu farol,
Seguindo cada lume, enfrento os breus
Bebendo de teu brilho- girassol...

Os dias, sei que foram mais cruéis,
Perdi o meu caminho em meio ao vento,
Alçando uma esperança nos corcéis
Ligeiros e libertos, pensamento.
A vida vai girando em carrossel,
Nas mãos do sonhador, um cata-vento.

Nos mares deste amor, sou timoneiro,
Nos braços deste amor, um prisioneiro...

36


Nos braços deste amor, um prisioneiro
Não quer e nem permite o seu resgate,
Nas teias destes sonhos, vou inteiro
Tramando em dia claro, um arremate
Roubando cada cor do teu tinteiro
Distante da tristeza que maltrate.

Menino que encontrou o seu brinquedo,
Astrônomo que vê um astro novo,
Sabendo decifrar qualquer segredo,
O mel de tua boca agora eu provo,
Deixando o meu passado, amargo e ledo,
Nos lábios de quem amo, eu me renovo.

Podendo desfilar tal fantasia
Nas fortes corredeiras da alegria.

37



Nas fortes corredeiras da alegria
Eu deixo-me levar e não discuto,
O amor trazendo paz a quem sofria,
No canto mavioso que ora escuto
Eu sinto tanta paz, farta harmonia
Deixando para trás um gesto bruto.

Refém deste querer; assim me entrego,
Desejo sempre ser seu prisioneiro,
Outrora um andarilho em rumo cego,
Agora um benfazejo caminheiro,
Encontro o mar imenso em que navego
Sabendo do destino alvissareiro.

Teus lábios, minha fonte de prazer,
Contigo eu aprendi como viver.

38


Contigo eu aprendi como viver,
Depois de tropeçar em tantos erros,
Vislumbro o mais sublime amanhecer
No sol que surge sobre os altos cerros,
Erguendo o meu olhar eu posso ver
Aprisionadas dores, firmes ferros.

No aço do punhal que me ferira,
Há tempos esquecido sobre a mesa.
O amor acende em fúria, eterna pira
Deixando para outrem qualquer tristeza.
A terra em carrossel, não pára e gira
Mudando o rumo desta correnteza

Sabendo neste amor, a direção,
Enfrento com destreza, o furacão.

39

Enfrento com destreza, o furacão
Sabendo deste cais que me ofertaste,
A dores vão tomando arribação
Fazendo com o sol raro contraste.
Deveras encontrei a solução,
Podendo me apoiar na incrível haste

Formada pelos braços bem mais fortes,
Do amor que já me toma plenamente.
Ao ter em minha vida tais suportes,
Enfim, posso dizer que vou contente.
Cicatrizando sempre os frios cortes
Vislumbro a eternidade, num repente.

Enxergo finalmente um bom futuro,
Já tendo totalmente o que procuro...

40


Já tendo totalmente o que procuro
Depois de tanto tempo sem ninguém,
Amor vem sorrateiro e salta o muro,
Depressa coração, que o amor já vem.
Aguando em alegria um chão tão duro,
Eu colherei enfim, todo o teu bem.

Mesclando cores várias, eu percebo
A tela mais perfeita que sonhei.
O vento encantador que ora recebo
Demonstra a maravilha que hoje sei
Está na fonte pura, e dela eu bebo
O mel que com certeza eu procurei.

Os olhos de quem amo são estrelas,
Divina a sensação de recebê-las...



41


Divina a sensação de recebê-las,
Carícias que me encharcam de alegria,
Vibrando totalmente por contê-las
Tramando esta emoção, pura magia.
As noites prazerosas que revelas,
Permitem vislumbrar um claro dia.

Roçando a tua pele, devagar,
Beijando os seios fartos, rara glória
Invado e vou liberto por teu mar,
Sabendo que trarei nossa vitória,
Descubro em cada ilhota, onde ancorar
Mudando todo o rumo desta história.

Adentro teus caminhos, belas sendas,
Enquanto os meus segredos tu desvendas.

42


Enquanto os meus segredos tu desvendas,
Eu sigo peito aberto e destemido,
Tristezas são decerto simples lendas,
Destino em teu amor; sinto cumprido.
Não quero suportar antigas vendas,
Agora o céu se mostra colorido.

Mosaico multicor, caleidoscópio,
De todos os desejos, eu garanto,
O amor tem seu caminho todo próprio,
Mostrando ser possível raro encanto,
No doce de teus lábios o meu ópio,
Girando o tempo todo em cada canto.

Prazer inesquecível quando alcanço
O sonho em que perceba este remanso.

43

Gostoso de viver e desfrutar
O bem do amor imenso que tu trazes,
Tomando toda a casa, devagar,
Tocando bem mais fundo em nossas bases.

Viajo a noite inteira sem parar,
Ao ver a lua clara em novas fases,
Vontade de chegar e te pegar
Com olhos e desejos mais vorazes.

Amor que a gente vive e não se cansa,
Não deixa nenhum dia ser vazio.
Na boca esta loucura, doce e mansa.

No corpo um sol moreno irradiando,
A cada novo verso que hoje eu crio
Declaro quanto é bom seguir te amando...

44

Declaro quanto é bom seguir te amando,
Não tendo mais limites, vou ao fundo.
Um novo amanhecer se anunciado,
Tomando num instante, todo o mundo.

Felicidade encontro desde quando
Um coração outrora vagabundo,
Aos poucos sem juízo se entregando
Chegou ao mar imenso e mais profundo

Dos lábios desta deusa sem igual,
Carinho tão preciso e sensual,
Forrando nossa cama de ternura.

Singrando esta delícia de oceano,
Encontro o teu delírio soberano
Na boca abençoada, louca e pura...

45


Na boca abençoada, louca e pura,
Recolho cada gota de prazer,
Chegando assim às raias da loucura
Percebo a maravilha de viver.

A noite que já fora tão escura,
Clareia a cada novo alvorecer,
A dor da solidão encontra cura,
Nos braços da mulher, meu bem querer.

Trafego por espaços siderais,
Viajo em teus caminhos sensuais,
Em cada porto um manso ancoradouro,

Agora que descubro a bela rota,
Amor que tanto faço e não me esgota
Permite que eu vislumbre este tesouro...

46


Permite que eu vislumbre este tesouro
Os olhos que se mostram cristalinos.
Fazendo de teu corpo o bebedouro,
Percebo tão iguais nossos destinos.

A sorte deste sonho imorredouro
Está nos braços meigos e divinos,
Tu sabes espalhar gotas deste ouro
Tornando os meus caminhos diamantinos.

No quanto que te quero e sou feliz,
No quanto te desejo e vivo farto,
A lua toda noite em nosso quarto

Em cada raio nobre já nos diz,
Do brilho que se mostra num sorriso,
Portal do mais sagrado paraíso...


47


Portal do mais sagrado paraíso
Aberto aos corações enamorados,
Bastando tão somente algum sorriso,
Os rumos vão decerto transmudados.

Amor que vem chegando sem aviso,
Deixando bem distantes os passados,
Nos laços desse amor, desorganizo
Destinos desde antanho demarcados.

Não tendo o puro amor, pobre beócio
Não sabe distinguir rosa de espinho.
Dos gozos deste bem, quero ser sócio

Vivendo a cada dia mais feliz.
Quem segue solitário o seu caminho,
Será eternamente um aprendiz...

48


Será eternamente um aprendiz,
Distante da perfeita maestria
Aquele que não sabe do matiz
Que trama a maravilha a cada dia.

Do quanto que eu te quero e peço bis,
Eu vejo transbordar em alegria
No encanto que este amor agora diz,
Percebo todo o bem que mais queria.

Erguendo os meus olhares para além,
Recebo o farto brilho da esperança
Amor que nos convida para a dança

Já sabe quão perfeito o grande bem
Trazido por seus braços, no acalanto
Espalhando tal luz em cada canto.

49

Espalhando tal luz em cada canto,
O dia traz perfeito e raro sol,
Mostrando tão real e farto encanto
Contagiando tudo em arrebol.

Amor chega cobrindo com seu manto,
Tramando em noite escura este farol
Nos braços deste amor que eu quero tanto,
A vida não será mais um atol

Distante desta praia inalcançável,
Morrendo logo a areia assim desponta,
Amar não é somente um faz de conta,

Permite irmos além do imaginável.
No sonho em que se faz amor imenso,
Feliz, a cada dia mais eu penso...

50



Feliz, a cada dia mais eu penso
Na força soberana deste amor,
No qual trazendo um sonho tão imenso,
Eu vejo em minha vida a rara flor

Nascida num jardim tão belo e imenso,
Perfume tanta vez encantador,
Tornando o dia-a-dia menos tenso,
Aguando de esperança um sonhador.

Tocado pelas mãos da poesia,
Caminho mais liberto em glória plena.
A vida em teus braços já me acena

Tramando a mais perfeita fantasia.
Sentindo o teu perfume junto a mim,
Percebo renovado este jardim...

51


Percebo renovado este jardim
Depois do duro inverno que enfrentei,
A paz do teu sorriso chega assim
Mostrando todo amor que procurei.

Quem faz desta alegria meio e fim,
Concebe neste amor, a sua lei,
A boca delicada e carmesim,
O paraíso em vida que eu beijei.

Não quero mais a dor de estar sozinho,
No toque mais preciso e mais sutil,
Recebo o teu carinho tão gentil

Aqueço com paixões o nosso ninho.
No fogo que me queima e que me invade,
Amor transmite paz, felicidade...

52


Amor transmite paz, felicidade
Deixando o coração bater mais forte,
Recebo todo o dom da liberdade,
Fazendo destes sonhos o meu norte.

Prevendo um novo dia em claridade,
Permita em teu cais, amor aporte,
Vivendo a mais sublime realidade,
A fantasia serve de suporte.

O quanto te desejo e não me canso,
Na procura diuturna pelo brilho,
Cantando tão somente este estribilho,

Adentro aos teus jardins, calmo remanso.
Nos lumes de teus olhos, vejo a lua,
Espalha o teu reflexo pela rua...


53


Espalha o teu reflexo pela rua,
O brilho constelar de cada estrela,
A sorte vai comigo e continua
Sabendo da alegria de contê-la.

A deusa em minha cama, bela e nua,
Permite a maravilha de sabê-la,
Rainha de meus sonhos já flutua,
Cortando os sete mares, se revela.

O quanto te desejo, o quanto eu quero,
Viver cada momento do teu lado,
Amor que se mostrando tão sincero

Já traz a perfeição em cada passo.
O coração que está enamorado
Persegue o teu caminho a cada traço.

54


Persegue o teu caminho a cada traço,
Olhar que tanto quer o teu querer,
Vivendo este sublime e bel prazer,
Eu sinto a maravilha de um abraço

Tocando a tua pele, em cada espaço
Adentro cada parte do teu ser,
Já tendo tanta coisa por viver,
Não tenho nem mais sombras de cansaço.

Estendo ao meu amor, as minhas mãos,
Deixando os meus passados todos vãos,
Podendo vislumbrar felicidade.

Aquecendo o meu corpo, tua pele,
Ao mar de amor imenso me compele
Mudando em calmaria, a tempestade...


55

Mudando em calmaria, a tempestade,
Não temo mais sequer a ventania,
Vivendo o nosso amor no dia-a-dia,
Percebo junto a mim, tranqüilidade.

Caminho pelas ruas da cidade,
Encontro a solidão em agonia
Nos laços deste amor que agora invade,
A dor morre deveras tão sombria.

Somando nossos passos pela vida,
Iremos resgatar o que perdemos,
O barco recupera antigos remos,

Tomando esta tristeza de vencida,
Farturas de delícias sobre a mesa,
O amor enfrenta a dura correnteza...


56


O amor enfrenta a dura correnteza,
Não teme qualquer queda no caminho,
Tomado em alegria, com certeza,
Jamais irei voltar a ser sozinho.

Retiro qualquer pedra, urze ou espinho
Na força deste amor que não represa
Explode nas delícias de um carinho,
Transforma a dura fera em mansa presa.

Amor arando a terra devagar,
Regando com calor e precisão,
Não deixa mais a seca vigorar,

Tocando todo o solo em perfeição
Amor permite então raro pomar,
Gostoso de viver e desfrutar.

57

O coração batendo calmo e manso
Fazendo a minha vida mais tranqüila,
Das flores perfumadas do remanso,
O mel mais delicado se destila.

Na boca deste amor, sou colibri,
Roçando devagar, polinizando
Delícia sem igual, eu nunca vi,
O tempo de sonhar vai adoçando.

Bebendo desse mel a me fartar,
Não canso de querer, e sempre mais.
Na melíflua vontade de teu mar,
Meu barco vai partindo deste cais,

Sabendo que encontrei a calmaria,
Amor vem derramando poesia...

58

Amor vem derramando poesia
Nas ruas e calçadas, becos bares,
Tocado pelo bem que me queria
Percorro num minuto; os sete mares.

Revigorado pela fonte imensa
Do amor que não descansa e me faz bem.
Nos lábios de quem amo; a recompensa,
Mostrando todo o bom que a vida tem.

Um passageiro alado neste sonho,
Alcança mais depressa o puro céu,
Nas asas deste amor, agora eu ponho,
Pensamento veloz feito um corcel.

Já tendo todo o amor que outrora eu quis
Eu vivo a cada dia mais feliz...




59

Eu vivo a cada dia mais feliz
Sabendo que terei o teu carinho
No amor que a gente faz e peço bis,
Jamais me sentirei aqui sozinho.

Estrela se derramam pelo chão
Do quarto em que caminhas semi-nua
Espalhas pela cama, a tentação,
Minha alma enamorada; então flutua.

Alçando ao paraíso num momento,
Vagando pelos astros, sem destino.
Voando assim liberto, o pensamento,
Aos poucos, sem juízo, eu me alucino.

No amor em desatino, mil loucuras,
Forrando em nossas vidas tais ternuras.

60


Forrando em nossas vidas, tais ternuras
Aquecem toda a casa em fogo manso.
Bebendo da paixão, sem amarguras,
Prazer quase infinito, em ti alcanço.

Amor assim liberto e alvissareiro
Não é lugar comum, eu te garanto.
Rastreio os teus caminhos, sinto o cheiro
Que entranha em minha pele, o puro encanto.

Sentindo-me roçar os teus cabelos,
Teus seios em meus lábios, proteção.
As pernas misturadas em novelos,
Caminham para a mesma direção.

No ápice culminante do desejo
O vale dos prazeres quero e vejo.


61

O vale dos prazeres; quero e vejo,
Ouvindo este chorinho, Nazareth,
Passado vem chegando e num lampejo
De salto bem mais alto, vem André.

Brasileirinho andando sem Lamento
No bandolim divino de Jacob,
Oito Batutas chegam num momento,
Num Pingo d’água, eu sei que dão um Nó.

O cavaquinho trama com a flauta
Piano convidando pro sarau,
A refeição servida, sempre lauta
Demonstra este banquete musical.

Ao me lembrar de um Sovaco que é de Cobra,
O peito apaixonado já soçobra.


62


O peito apaixonado já soçobra
O barco vai cortando esta procela,
Enfrenta com malícia cada dobra,
Redobra o meu amor, saudade dela.

Recebo o que te dei, amor em dobro,
Dobrões neste tesouro descoberto,
O rumo/timoneiro, enfim recobro,
Navego a calmaria em mar aberto.

Sabendo que terei enfim, uma ilha
Aonde possa ver a bela ilhoa,
Nos vales encantados, sigo a trilha,
A vida do teu lado é muito boa!

Morena graciosa e sensual,
Sereia do meu mar, sensacional!


63



Sereia do meu mar, sensacional
Mulher que nesta praia trouxe o sol,
Delícia deste corpo sensual,
Espalha franca luz em arrebol.

Cascatas cristalinas; desce o rio,
Encontra neste mar, a sua foz.
O amor que nestes versos fantasio,
Permite um sonho lindo logo após.

Encostando a cabeça no teu colo,
Serei o que a sereia mais quiser.
Nas asas do prazer, cedo decolo,
Topando qualquer trama que vier.

Nas ondas eu prevejo a ventania
Marujo inebriado em maresia...

64


Marujo inebriado em maresia,
Encontra em plena areia, caracóis,
Deitando nesta praia a fantasia,
Dourando-se ao poder de vários sóis.

Somando o quanto quero e nada tinha
Enquanto a tempestade não passava
Ao ver esta emoção, agora minha,
Não tenho mais porteira e sequer trava.

Somente uma semente de esperança,
Ao solo mais profícuo vem chegando.
A vida frutifica na bonança,
Tristezas lá se vão, fugindo em bando

Perfumes do rosal, farta colheita,
Abrindo o coração que se deleita...


65



Abrindo o coração que se deleita
A festa prometida não termina,
Vontade que se faz, assim, aceita
Encharca de alegria qualquer mina.

Menina; vê se nina quem te quer
Não deixe pra amanhã, festeje agora,
Nos seios delicados da mulher,
Desejo de ficar, não ir embora.

Ser pente que passeia em teus cabelos,
Serpente que te encanta, um paraíso.
Vontade de saber e de vivê-los,
Momentos sem pecado e sem juízo.

Marcando nossa pele em tatuagem,
Juntinhos, sem destino, essa viagem...

66


Juntinhos, sem destino, essa viagem
Gostosa de ser feita, pela vida,
Amor não pode ser qualquer bobagem,
Promete na verdade, uma saída.

Tecendo todo dia a sua teia,
Ateia no meu peito, um fogaréu,
Atéia sensação adentra a veia,
Hasteia uma bandeira, eleva ao céu.

Assaz delicioso, o nosso amor,
Nas asas deste gozo estou liberto,
Libelos que hoje faço, com fervor,
Libélulas em rumo solto, incerto.

Insetos e cometas, seixos, rios;
Amores trazem mansos, loucos cios...

67


Amores trazem mansos, loucos cios,
Cascatas cristalinas, lenços brancos,
Nas ancas os desejos mais vadios,
Sacanas, os sorrisos quase francos.

Remansos; vou alçando em pensamento
Momentos em delícia, seios fartos.
Tramamos delicado sentimento
Promessa renascendo em novos partos.

À parte dos meus erros, sigo em frente,
Caçando estas pegadas que encontrei,
O mundo vai mudando e, de repente,
Nos sonhos- teu castelo – eu viro rei.

Rastelos, constelares, lumes, cores,
Aramos os canteiros, colho flores...


68


Aramos os canteiros, colho flores;
Fazendo então o mais belo buquê
Decoro nossa vida nestas cores,
Perfeita sintonia é o que se vê;

Albores divinais, perfeito lume,
No cimo dos meus olhos, monte e sol
A mão que na colheita tem perfume
Encontra a magnitude do arrebol.

Embosco teus desejos, de tocaia,
Aguardo a ventania que virá,
Levanta num segundo a tua saia,
Belezas sem igual encontro cá.

Colírio pros meus olhos, eu garanto,
Jardim que se floresce em teu encanto.

69


Jardim que se floresce em teu encanto,
Inesgotável fonte de prazer.
Deitando tua pele como um manto,
Não canso de plantar e de colher.

Além deste jardim, existe o mundo,
Girando vagabundo, carrossel,
Percorro toda a Terra num segundo,
Chegando de mansinho, vou ao céu.

Serenas serenatas que eu te faço,
Debaixo do sereno – madrugada,
Um novo alvorecer, eu quero e traço,
Fazendo a noite intensa, alvoroçada.

A marca da pantera em minha pele,
Ao fogo da vontade, me compele...

70

Ao fogo da vontade, me compele
O cheiro que se emana, delicado,
Do corpo que em nudez já se revele,
Caminho a ser sabido e desbravado.

Mergulho em cada ponto deste mapa,
Nadando enfrento a dura correnteza,
A noite prazerosa não me escapa,
Garante o meu banquete e sobremesa.

Depois de conhecer cada detalhe,
Nirvanas eu desfruto a cada dia.
Meu barco em tuas ilhas, sacro encalhe
Trazendo para a vida, a poesia.

Chegando devagar, a glória alcanço
O coração batendo calmo e manso.



71

Procura nos teus braços descansar,
O velho navegante sem destino.
Depois de ter vencido o vasto mar,
Voltando novamente a ser menino,
Encontra a maravilha a se mostrar,
Num porto delicado e feminino.

Recebo então notícias do que espero,
A nossa primavera interminável.
Do quanto que já tive e mais eu quero
Nos braços desse amor imaginável.
Sentindo o teu calor, doce tempero
Do tempo que se mostra inesgotável.

No vento que balança este coqueiro,
Amor da minha vida, o derradeiro...

72



Amor da minha vida, o derradeiro,
Felicidade traz em cada verso,
Unindo corações, um bandoleiro,
Liberto percorrendo este universo,
Mostrando todo o bem, um feiticeiro,
Atando o que já fora, assim, disperso.

As luzes que se entornam nesta estrada,
Denotam a beleza do farol,
Vislumbro a mais brilhante madrugada,
Promessa do mais forte e claro sol,
Derramo nossos sonhos na calçada,
Perfume que se espalha em arrebol.

Tomando assim as rédeas desta senda,
Amor tantos caminhos, já desvenda...


73


Amor tantos caminhos, já desvenda,
Certeza de um momento mais sublime,
Abrindo o coração, rasgando a venda
No quanto farto bem assim se estime.
No peito enamorado esta comenda
De fartas emoções, tanto suprime.

Eu quero estar contigo, dia-a-dia,
Cevando o que virá – raro tesouro,
Forjando alvorecer em alegria,
Nos braços de quem quero, ancoradouro,
Que seja nosso amor, o que dizia
O sonho mais feliz e duradouro.

Colhendo mil estrelas no caminho,
Jamais eu andarei ledo e sozinho...


74

Jamais eu andarei ledo e sozinho
Em plena dor esboço a reação
Fomentos de alegria em nosso ninho,
Aos poucos sinto vindo o furacão,
Recebo em tua boca, um doce vinho,
Forjado nos vinhais desta paixão.

Regatos e lagoas, placidez,
Amor sem tempestades segue assim,
O quanto que se quer e o que se fez
Transborda a maravilha dentro em mim,
Na mais perfeita glória e lucidez,
Irei contigo, amada, até o fim.

Do amor ouvindo agora o seu recado,
O sonho sempre bom de ser sonhado...


75




O sonho sempre bom de ser sonhado
É mais que um simples sonho: é realidade
Num canto mais audaz e bem traçado
Expresso a verdadeira liberdade.
Estando o tempo todo do teu lado,
Eu posso vislumbrar felicidade.

Metáforas, palavras simplesmente,
Em nosso amor se tornam mais sutis.
O vento da alegria nunca mente,
Promete um dia claro, enfim feliz.
Declaro o que me invade, e o que se sente
No peito sem rancor ou cicatriz.

Eu quero o teu querer, sendo absoluto,
No passo que se mostra resoluto...


76



No passo que se mostra resoluto,
O amor vai destemido, o tempo todo.
O quanto que desejo e tanto luto
Afasta do caminho qualquer lodo.
Vencendo com carinho o vento bruto,
Mostrando em mansidão, seu jeito e modo.

Das horas doloridas, solidão,
Amor traz a festança prometida.
No fogo que nos queima, uma paixão,
A dor já vai embora, distraída.
O tempo prometendo viração
Mudando num segundo a nossa vida.

Assim, um passageiro deste sonho,
Encontra o seu futuro, mais risonho...


77


Encontra o seu futuro, mais risonho,
Aquele se fez do amor, refém,
Cansado do que fora tão medonho,
Meu barco nos teus braços logo vem
Trazendo o quanto quero e te proponho,
Vivendo eternidade em nosso bem.

Nos copos cristalinos, aguardentes
Tomadas com loucura, insensatez,
Cravando em nossas costas, garras, dentes,
Amor em fantasias já se fez.
O medo de seguirmos penitentes,
Permite que este amor venha de vez

Mudando, de repente, o nosso rumo,
Amor inesgotável, eu assumo.

78

Amor inesgotável, eu assumo
Fazendo dele o moto predileto,
Bebendo gota a gota todo o sumo,
Nos laços deste sonho eu me completo,
Felicidade plena é o seu resumo,
Meu jogo mais freqüente e predileto.

Nas cinzas esquecidas no cinzeiro,
As marcas da presença delicada
Do amor que se fez livre e prisioneiro,
A vida em plenitude, anunciada.
Tomando este cenário por inteiro,
Reflete cada estrela na calçada.

Os olhos de quem quero, são meus guias
Espalham pela casa, as alegrias...

79


Espalham pela casa, as alegrias,
Sorrisos de bonança e de fartura.
Do quanto tanto queres, sei que crias
Um canto magistral rico em ternura.
Das rotas deste sonho, tantas vias
Encontram nos teus braços, paz e cura.

Nas somas de dois corpos que se buscam,
O amor mostra perene decisão,
Por mais que as horas outras nos ofuscam,
Amor já se promete na fusão.
Palavras que prefira não rebuscam
O quanto é necessária esta emoção.

Remoça enquanto nela eu me eternizo,
Negando a ventania e o vão granizo.

80


Negando a ventania e o vão granizo,
Amor faz deste estio, eterno mote.
O passo que se dá, sendo preciso,
Não deixa nem serpente, medo ou bote.
Fartura que se mostra em um sorriso,
Do mel de tua boca quero um pote.

O vento em mansidão, agora avisa
Da doce melodia que me alcança.
Palavra mais sublime e mais concisa,
Na brisa se transborda; nossa dança.
A cada novo verso mais se frisa
A força deste amor, uma esperança.

Rebenta, no caminho, pedregulhos,
Não deixa mais restar sequer entulhos.


81


Não deixa mais restar sequer entulhos,
Tomando em flores raras, meus caminhos.
Não vejo nesta andança, os pedregulhos
Arranco os cardos, tiro os seus espinhos
Fazendo nos teus braços tais mergulhos,
Trazendo aos corações sublimes ninhos.

Mordisco tua boca, devagar,
Os nossos corpos negam as fronteiras,
De tanto, me cansei de procurar,
Encontro finalmente estas videiras,
O vinho que me faz inebriar
Colhido pelas mãos tão feiticeiras.

Ser teu e ser somente o que quiseres,
Permite este banquete em mil talheres...

82

Permite este banquete em mil talheres
A tua tez serena e delicada,
Reinando entre milhares de mulheres,
A gueixa preferida, ensolarada.
Do jeito ou da maneira que vieres,
Minha alma sempre aberta, enamorada.

No quanto amor eu tenho, o quanto vivo,
Não uso mais disfarces, desmascaro
O tempo que vivera mais altivo,
Custou, tenho a certeza, muito caro.
Do amor que eu quero tanto, não me privo,
Servindo em minha vida, forte amparo.

A lua que escultura a tua imagem,
Não é mais, eu garanto; uma miragem...

83



Não é mais, eu garanto; uma miragem,
Tua beleza nua em minha cama.
Trazendo para a vida nova aragem,
Estende esta alegria feita em chama.
Não quero mais seguir, assim à margem
Do rio que em desejos já se inflama.

Nas conchas escutando este marulho,
Recebo deste sol, o farto brilho.
Não tendo mais a dor, eu tenho o orgulho
Fazendo de teus passos o meu trilho.
Na louca sensação deste mergulho
Não temo mais sequer um empecilho.

A boca que me beija, delicada,
As mãos desta mulher, princesa e fada...


84

As mãos desta mulher, princesa e fada
Um porto prometido, um bom descanso,
Viagem pela pele desnudada,
Depois da plenitude, este remanso
A noite vai passando, a madrugada,
O gozo mais sublime, enfim, alcanço.

Um velho caminheiro agora traz
Sorriso engalanado e sabe a sorte.
Do quanto amor se mostra então capaz,
Deitando neste cais, um pleno aporte
Do sonho que se fez teso e voraz,
Penetra sem defesas, ganha o Forte.

Quem sabe com destreza navegar,
Procura nos teus braços descansar.



85

Paraísos contigo eu sempre alcanço,
Sentindo o teu calor aqui comigo.
Amor que a gente faz e sem descanso
Transborda em gozo pleno o que eu persigo

Orgástica emoção, eu te afianço,
No mar de fantasias eu prossigo,
Trazendo contradança enquanto eu danço,
O tempo de sonhar; vivo contigo.

Marcando cada passo com encantos,
Requebras tuas ancas, teus quadris,
Amor vem borbulhando em chafariz,

Matando sem remédios os quebrantos
No quanto tanto quero ser teu par,
Prazer em cada canto desfrutar...


86


Prazer em cada canto desfrutar,
Fazendo do quintal, meu louco vício,
Comendo todo o fruto do pomar,
Não deixo depois disso nem indício.

O mel de cada fruta vem mostrar
O bom de se lavrar, sagrado ofício.
No solo promissor eu quero arar
Sabendo quanto é bom desde o início.

A moça que remoça um moço velho,
Um poço de esperanças traz a glória,
Sorriso sempre franco de vitória

Estampa o coração em pleno espelho.
Assim, somando prós no dia-a-dia,
Eu faço mais suave, a cantoria.

87


Eu faço mais suave, a cantoria,
Roçando este cenário multicor.
Bebendo deste vinho, eu bem queria,
Fazer do teu desejo o meu licor.

Na sede que me mata e me inebria,
Eu vejo este poder transformador,
Amor que se faz sempre em maestria,
Permite um novo sonho encantador.

Reparto o meu desejo em mil pedaços,
Em lânguidas manhãs, carinhos, aços,
Adagas e correntes já distantes.

Meu karma é ser somente teu parceiro,
Seguindo, cão sem dono, rastro e cheiro,
Teus passos pelas ruas, deslumbrantes.

88


Teus passos pelas ruas, deslumbrantes
Deixando demarcados os meus sonhos.
Sorrisos tão sutis e provocantes,
Fazendo os meus caminhos mais risonhos.

Felicidade outrora; nem instantes...
Momentos que passei foram bisonhos,
Colecionando ritos vis, tristonhos,
Não trago este vazio de outrora, antes.

Partícipes da festa que não finda,
Eu tenho em minhas mãos a luz tão linda
Dos olhos desta bela criatura.

Seguindo os rastros teus; encontro enfim,
O bem que procurei dentro de mim,
Teu corpo vai servindo de moldura...

89

Teu corpo vai servindo de moldura
À tela que se faz em noite clara,
Mudando em tanto lume, estrada escura,
Criando a fantasia audaz e rara.

Não quero mais saber desta amargura,
Não quero mais a dor que desampara,
No brilho que este amor me contemplara,
Encontro a solução que se procura.

Do quanto que eu carpi, nem lembro mais,
Um carpinteiro amor trama belezas.
Depois de conhecer as profundezas,

Agora em teus delírios sensuais,
Eu faço do prazer meu estribilho,
Cavalo dos meus sonhos, eu encilho...



90



Cavalo dos meus sonhos, eu encilho,
E sigo pela noite em liberdade,
Usando o nosso amor, divino trilho,
Encontro o paraíso em deidade.

Na sílfide em luz, me maravilho
Roubando o que sonhei felicidade,
Atinge; o pensamento, o tombadilho,
Permite se vislumbre a claridade.

No fogo que me queima e me extasia,
O gozo das vontades soberanas,
Repletas de querência e fantasia

Marcando com divina cicatriz,
No amor que, cedo invade; tenho ganas
De ser imensamente mais feliz.

91


De ser imensamente mais feliz,
Eu não me canso nunca de tentar,
Um verso enamorado vem e diz
Do quanto é belo e manso esse luar.

No céu que outrora fora opaco, cris,
Eu vejo um novo dia anunciar
O sol que na verdade tão bendiz
O coração que saiba, enfim, amar.

Transitam pelos ares, pensamentos,
Vagando o tempo inteiro, vão libertos.
Meus olhos claramente estão abertos

Deixando no passado os tais tormentos,
Assim, numa esperança que não cessa,
O amor é mais que sonho, que promessa...

92


O amor é mais que sonho, que promessa,
Um cais que procurei entre as procelas,
No gozo do prazer que me revelas,
O tempo não mais pára e não estressa.

A vida novamente recomeça
Bebendo das vontades, raras, belas.
No céu de nosso amor, divinas telas,
Que a mão de uma alegria sempre teça.

Com gosto de garapa e de café,
No riso da criança mais traquinas.
Explodem de desejos tantas minas,

Rompendo mais depressa estas galés.
Embora de teus sonhos, sou cativo,
A liberdade agora, no amor vivo...

93



A liberdade agora, no amor; vivo.
Singrando os ermos campos da saudade,
Percebo em nosso amor, tranqüilidade,
O peito vai aberto e segue altivo.

Do gozo deste sonho eu não me privo,
Vivendo enfim real felicidade.
A mansidão divina já me invade,
Mudando o meu caminho, redivivo.

Trazendo um copo d’água pro sedento,
Depois de atravessar vasto deserto,
Meu rumo com certeza, não deserto

Prosseguindo ao sabor do calmo vento
Eu sei que encontrarei o que desejo,
Final apoteótico, eu prevejo...



94


Final apoteótico, eu prevejo,
Depois de tanta insânia e solidão.
Olhando o meu passado, num lampejo,
Encontro tão somente a negação.

Vestindo esta esperança já desejo
Um dia em mais perfeita redenção.
Embora, do passado eu tenha pejo,
Aguardo nos teus braços, solução.

Somando o que tivemos – dores, mágoas,
Nas turvas, violentas, fortes águas,
Cascatas, corredeiras, e tufões,

Eu sinto que depois de tantos medos,
Juntinhos, desvendamos os segredos,
Libertos pelos fogos das paixões...


95



Libertos pelos fogos das paixões,
Não temos tempestades a temer.
Jogados mesmo em jaulas de leões,
Percebo em nossas mãos pleno poder.

Abrindo da esperança os tais portões
Sabemos quanto é bom sempre vencer.
Por mais que venham duros furacões,
A força deste amor eu posso ver.

Querendo o teu querer o tempo inteiro,
Recebo a mais sublime fortaleza.
Embora nesta vida, uma surpresa

Já seja um fato simples, corriqueiro,
Quem ama enfim recebe o seu troféu,
O peito enamorado diz: laurel!

96



O peito enamorado diz: laurel!
De todas as batalhas, vencedor.
Alçando num momento todo o céu,
Espalha em seu caminho, brilho e flor.

No quanto quero agora te propor,
Eu vejo o delicado e farto mel,
Trazendo à nossa vida o bom sabor
Matando o que já fora tão cruel.

Reféns desta divina sensação,
Andamos pelos bares da cidade,
Vivendo novamente a mocidade

Jogada há tanto tempo no porão.
Amor que se renova em atitude,
Segredo para eterna juventude...


97


Segredo para eterna juventude:
Somarmos nossos risos e desejos,
Sentindo a mansidão dessa atitude
Singramos paraísos em lampejos.

Sacrários que desvendo; um calmo açude,
Sorvendo deste gozo sem ter pejos.
Sinérgico poder que nunca mude
Selando com certeza estes ensejos.

Sou teu e sei o quanto isto me traz
Serenidade imensa para a vida.
Saveiro que encontrei e satisfaz

Sonhadores promessas, calmaria.
Seja nossa esperança a mais querida,
Salpicando ternura e fantasia...


98


Salpicando ternura e fantasia
Recolho a doce fruta imaginada,
Cevando nosso amor, no dia a dia,
Colheita com certeza assegurada.

Encontro todo o bem que mais queria,
Na boca tão gostosa e delicada.
A mão de quem carinha com magia,
Permite que se creia em deusa e fada.

Desfilo meus desejos em teu porto,
Recebo o vento manso da esperança.
O mar do amor imenso nunca morto,

Trazendo ao coração paz e remanso.
No amor que em noite clara assim avança
Paraísos contigo eu sempre alcanço.


99


E sonho com delícias deste mar
Depois de estar sozinho em fria areia,
O vento vem chegando devagar,
Tramando ao fim do dia, a lua cheia.

Sabendo quanto quero o teu querer,
Sereia encantadora me domina.
Vivendo a fantasia em teu prazer,
Encontro com certeza a rara mina.

Na fonte delicada dos teus lábios,
Sacio minha sede, estou feliz.
Meu barco percebendo os astrolábios
Adentra o cais do amor, sabe o matiz.

Depois da tarde cris, vou finalmente,
Deitando esta vontade, claramente...

100

Deitando esta vontade, claramente
Escrevo no teu corpo meus prazeres.
Sentindo todo o fogo num repente,
Esqueço os meus problemas e afazeres.

Amor que não se aprende no colégio,
De fato é nosso prumo, nossa meta.
Amar é com certeza um privilégio,
Quem dera se eu pudesse ser poeta,

Cantar o nosso amor que não tem fim,
Razão de minha vida. Determina
O rumo que encontrei, melhor pra mim
Na fome insaciável que alucina.

Vibrando de prazer e de loucura,
Amor, o meu destino, já moldura...


101

Amor, o meu destino já moldura,
Fazendo do meu braço, o seu esteio.
Tocado pelos laços da candura,
Não tenho mais sequer qualquer receio

De ter a liberdade de poder
Amar além do cais, eternamente.
Vivendo o quanto resta por viver,
Aguando da esperança esta semente.

Mergulho no oceano de nós dois,
Adentro cada parte deste porto.
Sem medo do que venha, assim, depois
Às tramas deste amor eu me transporto,

O teu perfume encharca a minha casa,
De toda esta loucura, o peito apraza...


102


De toda esta loucura, o peito apraza
Alcança, num momento a cordilheira
Dos sonhos ideais calor e brasa,
Tomando a minha vida, por inteira.

Servindo a quem se fez o servidor,
Amando além de tudo, com firmeza.
O passo lado a lado, alentador,
Toda a beleza em vida já represa.

Acima do que pude perceber,
Alçando em liberdade, mais profundo,
Recebo em tuas mãos farto prazer,
Meus olhos nos teus olhos; aprofundo.

Inundas com carinhos, minha vida,
Encontro a redenção antes perdida...


103


Encontro a redenção antes perdida,
Na trama que se entranha dia a dia
Não quero mais saber de despedida,
Meu sonho junto ao teu, eu sei se alia.

Refaço minha vida dos escombros,
Do quanto que já tive e assim perdi,
Olhando para o sol por sobre os ombros,
Eu vejo tão somente o que há em ti.

Resquícios das antigas garatujas,
Apenas são cruéis caricaturas.
As noites sem amor, frias e sujas,
As horas na verdade são torturas.

Agora, vivo alerta em louca espera,
Colhendo o que plantei, na primavera...


104

Colhendo o que plantei, na primavera,
Florido este jardim feito esperança.
Não temo mais tocaia e mato a fera,
Usando tão somente a temperança.

Olhando para longe, inda me vejo,
Sozinho percorrendo cada senda,
Nas mãos imaculadas do desejo,
Enigma crucial já se desvenda.

O amor quando em amor, amor produz,
Resiste a qualquer chuva ou tempestade.
No facho encantador da intensa luz,
Eu posso perceber tranqüilidade

Tomando a minha vida em mansa paz,
Mostrando quanto o amor se faz capaz...

105


Mostrando quanto o amor se faz capaz,
Eu sigo cada rastro que ele deixa,
Vivendo em sua glória, o bem tenaz,
Não tenho em minha vida, qualquer queixa.

Num ritmo tão frenético, não paro,
Revigorando a força em carrossel.
O medo do destino, vil, amaro,
Esbarra nos teus lábios, fonte, mel.

Não quero mais carpir a solidão,
Tampouco me perder em plena estrada,
Deixando no passado algum senão,
Promessa de sonhar, sendo aguçada

Nos toques mais sutis de corpos nus,
Deixando para trás, o medo e a cruz...

106


Deixando para trás, o medo e a cruz,
Penetro o campo santo da esperança,
O manto que me cobre, reproduz,
A sorte em glória plena, uma aliança.

Medonhos pesadelos que se assomam,
Aos olhos dos que seguem solitários.
Meus braços nos teus braços já se tomam
Formando paraísos solidários.

O quanto quero ter e sempre busco,
Permite que eu te fale, com certeza.
Da luz que se não se faz em lusco-fusco,
Tocando a madrugada, real beleza.

Meus dias em teus passos prosseguindo,
Promessa do amanhã, deveras lindo...

107


Promessa do amanhã, deveras lindo
Eu vejo nos teus olhos, claro azul,
Futuro mavioso eu já deslindo
Matando o meu passado, amargo, blues.

Erguendo o pensamento, num instante,
Eu chego ao mais sublime sentimento.
O beijo que se rouba, triunfante,
Revigorando a vida num momento.

Eu quero estar contigo, e não me canso
De ter esta ilusão junto comigo.
Usufruindo agora do remanso,
Não temo qualquer dor, qualquer perigo.

Meus dias serão plenos de delícias,
Em meio a teus desejos e carícias...

108


Em meio a teus desejos e carícias,
A noite que se passa é benfazeja,
Tocado pelos gozos e malícias,
A pele ronda a pele e assim deseja.

Fartura que se mostra sem cessar,
Reféns desta loucura; vamos juntos,
Deitando nosso amor sob o luar,
Nas bocas que se buscam, mil assuntos.

Trazendo esta alegria, raro dom,
Anunciando assim, a clara aurora,
Debaixo dos lençóis, deste edredom,
Prazer interminável já se aflora.

Rondando pelas noites vaga-lumes,
Encontram no teu corpo estes perfumes...

109


Encontram no teu corpo estes perfumes
As flores que plantei no meu canteiro,
Ao lardo das tristezas e queixumes,
Encontro o doce bem alvissareiro

Forjando uma emoção que nunca pára,
Raríssima beleza sem igual,
A mão que me conduz, também ampara,
Da deusa tão sublime e magistral.

Reinando sobre todos os mortais,
Trazendo o doce alento de um sorriso,
Vencendo estas saudades infernais,
Promete toda a glória em paraíso.

Eu quero ter e ser o teu desejo,
Eternidade em sonhos, que prevejo...

110

Eternidade em sonhos, que prevejo,
Qual mãe que se remete ao filho amado,
Depois de tanto tempo ainda vejo,
O teu sorriso feito um Eldorado.

Marcando cada fase desta vida,
A companheira sempre está comigo,
Revendo o que se fez noite querida,
Eu tenho todo amor que inda persigo.

Vasculho pelos céus, constelações,
Na prata desta lua, eu te encontrei,
Deitado sob as tramas das paixões,
Alucinadamente me fiz rei.

Da dura tempestade, insana fúria,
O fogo do prazer, santa luxúria...

111



O fogo do prazer, santa luxúria
Expondo a minha face sem retoques.
Vencendo sem temor qualquer injúria
Amor vai sem limite e sem estoques,

Marujo que se encontra em temporal,
O vento pode até causar estragos,
Vivendo uma esperança sem igual,
Dos medos me inebrio em largos tragos.

Nos lagos que prometem calmaria,
Depositando os sonhos mais sutis.
Amor raro tesouro em pedraria,
Expressa um sonho raro e mais feliz.

O quanto que te quero, amor estampo,
Aberto o coração, sagrado campo...

112


Aberto o coração, sagrado campo
Estende na varanda a clara lua,
No brilho em que se mostra um pirilampo,
Reflexos vão tomando toda a rua.

Eu quero ser o quanto tu mais queres,
O quase; há tanto tempo sublimei
Na plenitude encontro os meus poderes,
Fazendo deste sonho regra e lei,

Numa metamorfose incansável,
Mosaicos multicores vão surgindo,
Caleidoscópio vivo, imaginável,
Adentro este cenário, perseguindo

Eu sinto o vento insano a me tocar,
E sonho com delícias deste mar.

113


Do amor que se mostrou ser mais capaz
Eu trago este sorriso franco e belo,
No gozo da alegria a vida traz
Um sentimento calmo e tão singelo.
Somente o amor profundo satisfaz
Portando toda a glória em que revelo

Os sonhos de um mineiro enamorado,
Vestindo esta esperança em fantasia.
Viver o quanto posso do teu lado
Demonstra todo o bem que em que se via
Um canto pelos cantos, encantado,
Forrado pelas mãos da poesia,

Mostrando a lua clara plenamente,
Deitando sua prata sobre a gente...

114


Deitando sua prata sobre a gente
A noite enluarada já promete
Um sonho tão fantástico, envolvente,
Aos braços da emoção nos arremete.
A cada nova noite se pressente
O bom de ser da dama, o seu valete.

Eu quero estar no jogo mais gostoso,
Na intensa sedução dos olhos mansos,
Bebendo cada gota deste gozo
Cobrindo em farta luz os meus remansos.
O dia renascendo mavioso,
Colhendo os frutos todos dos descansos.

Prenúncio que se faz em realidade,
Moldando a mais divina liberdade.

115



Moldando a mais divina liberdade
Em meio a tantas pedras no caminho,
O canto de um amor em amizade,
Demonstra o caminhar ledo e sozinho
Daquele que sedento de vaidade
Esquece quão importa um bom carinho.

O amor na plenitude do perdão,
Permite uma amizade que se cante,
Deixando para trás a solidão,
O medo de viver queda distante,
Encontra a mais sublime perfeição
Vivendo lado a lado a cada instante.

Amiga, meu amor eu te ofereço,
Apoio mais seguro num tropeço...


116


Apoio mais seguro num tropeço,
Percebo em tuas mãos quentes, macias,
As flores, com ternura eu ofereço,
Fazendo benfazejos nossos dias.
Futuro feito em paz; deveras teço
Dourando as minhas horas, alegrias.

No amor abençoado enceto os laços
Forjando o quanto quero ser feliz.
Seguindo os teus caminhos, nossos passos,
Eu vejo que terei o que prediz
Os sonhos mais sutis, sem embaraços,
Sem ao menos deixar vil cicatriz.

Alçando ao infinito em cada verso,
Não quero o caminhar, ledo e disperso...

117



Não quero o caminhar, ledo e disperso,
Prefiro estar contigo o tempo inteiro.
A cada novo sonho, outro universo
Vestindo deste amor, bom feiticeiro.
O quanto que tivera em mar diverso
Percebo no teu passo, e vou inteiro.

Desfruto deste sonho interminável,
Do amor feito delícia sem delitos.
O tempo de viver, inesgotável,
Promessa de vagar por infinitos
Caminhos onde o bem seja palpável,
Em dias mais corretos e benditos.

O amor quando prediz uma aliança
Encharca a nossa vida em esperança.

118


Encharca a nossa vida em esperança
O gotejar do amor que nunca pára.
Convite à fantasia em pura dança
Estende a maravilha, bela e rara.
Nos olhos tão brilhantes da criança
A vida que faz tempo; imaginara.

Espelha o doce encanto do festejo,
Trazendo para nós um belo sonho.
No amor que tanto eu quero; o meu desejo
Nas asas libertárias cedo ponho,
Final em apogeu; decerto almejo,
Fazendo o amanhecer bem mais risonho.

Alvíssaras ao peito que se entrega,
Vivendo sem temor, calmo, navega.


119



Vivendo sem temor, calmo, navega
Os mares mais distantes, timoneiro.
O quanto se percebe nesta entrega,
Do amor que é tão somente verdadeiro.
Na perfeição do sonho, nunca nega
O brilho em aquarelas, derradeiro.

O parto que promete uma bonança,
Embora em tantas dores, luz e encanto.
A noite que encharca na lembrança
Permite à lua; imenso e claro manto.
O tempo de sonhar traz em fiança
O riso contumaz, a prece e o canto.

Do pântano das mágoas, movediço,
A flor de uma esperança ganha viço...

120


A flor de uma esperança ganha viço
Mudando num momento o meu jardim,
O amor que se fez mágoa, vil, postiço
Morrendo pouco a pouco dentro em mim.
O sol do novo amor, ora cobiço,
Matando essa tristeza, agora, enfim.

A sorte deste sonho em claro assédio,
Carrega toda a luz dentro de si.
Percebo que encontrei raro remédio
Deixando para trás o que vivi.
O tempo que tivera em puro tédio
Garanto, meu amor, eu esqueci.

Manhã que renasceu, em paz, sorrindo,
Mostrando o sol intenso, claro e lindo...

121


Mostrando o sol intenso, claro e lindo
O amanhecer se fez em magnitude.
Enquanto em raios límpidos surgindo
O dia modifica uma atitude,
Forjando uma esperança em que deslindo
O vento que decerto, o rumo mude.

Colheitas entre frutos, grãos e flores,
Expondo em renascer, toda a riqueza.
Atado pelas mãos dos bons amores,
Eu sinto a força plena da beleza,
O céu traz em mosaicos tantas cores,
Parece que um bom Deus, agora reza.

Altares entre nuvens, olhos belos,
Rolando pelos céus, raros novelos.


122

Rolando pelos céus, raros novelos.
Descendo em lantejoulas fulgurantes
Tocando a maciez de teus cabelos,
Espalham tanta luz que por instantes,
Na louca sedução, já posso vê-los
Reinando sobre a terra, deslumbrantes.

Tramando em cada face mil sorrisos,
Esplêndidas, divinas fantasias,
Nos lumes que se mostram; os avisos
Prometem transformar os novos dias
Em dias mais felizes e precisos,
Vivendo as mais sublimes alegrias.

Em cada mão percebo um manso aceno,
Dourando nossa vida em amor pleno...

123


Dourando nossa vida em amor pleno
Tesouros que encontrei; nosso caminho.
Antídoto perfeito pro veneno
Exposto em cada curva, cada espinho.
O resto de meus dias; vou sereno,
Bebendo do teu corpo o doce vinho.

Carpira por momentos mais diversos,
A vida se mostrando em sortilégios.
Os dias que se foram mais perversos,
Negando para a sorte, os privilégios
Agora a mansidão invade os versos
Em cantos mais suavas, finos, régios.

Não vejo outra saída, nem pretendo,
Nos braços deste sonho, eu vou vivendo...


124

Nos braços deste sonho, eu vou vivendo,
Colhendo todo o mel, qual beija flor
Os dias que passei, ora revendo,
Deságuam neste mar encantador;
Segredos que em delírios eu desvendo
Espalham pelos céus o puro amor.

Quem ama, na verdade nada teme,
Sequer pensa em partir, seguir em frente.
Amor quando na vida se faz leme,
Permite que se lute e que se tente
A terra em pleno amor, por mais que treme,
Ao porto nos levando, finalmente.

A par do que mais quero nesta vida,
Amor é com certeza uma saída.

125

Amor é com certeza uma saída,
No duro labirinto da existência.
Quem tem amor percebe que esta vida
Não é assim somente penitência.
Cabeça, com certeza segue erguida,
Mantendo em nosso amor, pura inocência.

Olhando o meu passado vejo o trilho
Por onde tantas vezes me perdi.
O peito que sonhava; um andarilho,
Deságua na esperança e chega a ti.
O quanto que em meus sonhos, sinto o brilho
Depois de tanto tempo que perdi.

Prevê depois da curva desta estrada
Estrela matutina, já raiada...

126

Estrela matutina, já raiada
Espalha pelos céus rastros de luz.
Ao ver a maravilha em alvorada,
O vento da esperança me conduz
Ao colo da mulher amante amada
Fartura de alegrias reproduz

Desertos que encontrei, sem ter oásis,
Indômitos corcéis que cavalguei.
A vida vai mudando, tramas, fases,
Estrelas frágeis, vãs; emoldurei.
O movediço sonho sem ter bases,
Durante muito tempo, eu me entreguei.

Encontro este retrato feito em paz,
Do amor que se mostrou ser mais capaz.

127


De ter a solução para os problemas,
Percebo o quanto é bom viver liberto,
Ao lado de quem ama nunca temas,
O rumo que encontraste é o mais certo.

Por isso meu amigo em raras gemas
A vida nascerá neste deserto,
O peito quando aberto, traz emblemas
De luzes e de sonhos bons, coberto.

A força da amizade se mostrando
A cada novo dia já faz crer
No amor que em claridade se entornando

Um sonho quando feito em liberdade
Permite vislumbrar pleno prazer,
Vivendo a força incrível da amizade.


128


Vivendo a força incrível da amizade,
Espalho os grãos, ceifeiro da esperança.
No mapa da total felicidade,
O máximo da glória já se alcança.

Quem dera se, por fim, a humanidade
Dançasse em alegria a mesma dança
Tramando num festejo a mocidade
Na eterna fantasia da criança.

Amiga, companheira e camarada,
O tempo de viver se faz agora,
No encanto da magia comemora

Aquele que se deu em plenitude.
Nas mãos desta emoção abençoada
Jamais será decerto, amargo e rude...


129


Jamais será decerto, amargo e rude,
Quem tem numa amizade, a senhoria.
Mudando num momento de atitude
Espalha sobre a terra tal magia.

No passo transformado, eu também pude
Prever em meu caminho esta harmonia.
Rompendo em força intensa, antigo açude
Uma esperança expressa esta alegria.

Algemas que rompi do meu passado,
Na visceral vontade de conter
Bem mais que simples fonte de prazer

Encantos deste dia anunciado
Trazendo todo o bem que outrora eu quis,
Mudando do meu céu, todo o matiz.

130


Mudando do meu céu, todo o matiz,
Eu crio uma fantástica ilusão.
Pensando ser deveras tão feliz,
Encaro com mais força esta explosão

Não temo mais o corte e a cicatriz,
Exponho, destemido, o coração.
Amor vem dominando e já me diz
Do fogo em desvario da paixão.

Acendo o meu cigarro, tiro um trago,
Nos olhos da esperança, quando afago
Espalho os meus caminhos, vou sem medo.

O cheiro do café adentra o quarto,
Do gozo deste amor, eu não me farto,
Descubro a bela fonte e seu segredo...


131



Descubro a bela fonte e seu segredo,
Tesouros escondidos sob a saia,
No samba de meus sonhos, tal enredo
Encontra a luz da lua que desmaia

Forrando meu caminho desde cedo,
Que a sorte deste jogo nunca traia
Do amor que se fez sonho, reza e credo,
Mulher deusa, cativa, rainha, aia.

Num esplendor o brilho do adereço,
Aplausos sempre fartos da emoção.
O quanto que eu te quero, não tem preço,

Revejo este desfile vencedor,
Nas cordas da guitarra ou violão,
O ritmo deste sonho, encantador.



132


O ritmo deste sonho, encantador
Espalha na avenida da esperança
O vento tão gostoso, alentador,
Fazendo em explosão, divina dança.

Marcado pelos traços de um amor
O tempo delicado agora alcança
O peito deste louco trovador,
Fazendo desde já total festança.

Ensaios que tivemos no passado,
Nas alas da alegria, desfilamos.
O gozo deste dia iluminado,

Aos poucos toda a vida em harmonia,
Retalhos de cetim, quando encontramos,
Relembram o esplendor da fantasia.


133


Relembram o esplendor da fantasia
Imagens que vivemos, com certeza.
Estrada feita em rara pedraria,
Expresso o nosso amor, rara beleza.

Mostrando na avenida a valentia
Vencendo em destemor a correnteza,
Enredo que se fez em poesia,
Matando qualquer forma de tristeza.

O sonho desfraldando esta bandeira,
Resiste a qualquer cinza em quarta-feira
Na força de um passista coração,

Uma esperança vê de camarote,
Cavalo galopante, nega trote
Chegando à apoteose da paixão.

134


Chegando à apoteose da paixão,
Não deixo mais pedaços na avenida.
Amor iluminando o barracão
Grandiosidade toma a nossa vida.

Atados pelo mais forte cordão
Levamos qualquer mágoa de vencida.
Pisando com suor o mesmo chão,
Vitória anunciada e já cumprida.

Sem ter alegorias, sempre junto,
O amor abrindo as alas da esperança.
A força que se mostra no conjunto

Garante nota dez, eu te garanto.
Contrapartida feita em contradança
Demonstra em sintonia, o nosso encanto...


135


Demonstra em sintonia, o nosso encanto,
O quanto tanto quero o teu amor.
Vestindo do sorriso, o leve manto,
Bebendo gota a gota este licor.

Nos olhos de quem quero, eu me agiganto,
Decerto sou eterno vencedor.
Legando ao meu passado qualquer pranto,
Um novo canto; agora, irei compor.

Usando o teu carinho em estribilho,
Uma alegria serve de refrão,
A melodia vai sem empecilho,

Um hino em tom maior, felicidade.
O verso se bordando em emoção,
Expressa em cada rima, a liberdade...


136

Expressa em cada rima, a liberdade,
O gosto da maçã em cantoria.
Num ritmo mais febril toma a cidade,
Chegando a cada praça, rua ou via.

O som que enamorado eu tanto ouvia,
Depressa o coração adentra, invade.
A luz em redenção que assim surgia,
Aos poucos foi virando tempestade.

Moleque que cresceu entre alamedas,
Pinçando cada cena que vivera,
Adentra, sonhador, pelas veredas

Em flóreas esperanças demonstradas,
Percebe o renascer da primavera,
Nas sílfides divinas, belas fadas...


137


Nas sílfides divinas, belas fadas,
Encontro o teu retrato, rara imagem,
Presenças deslumbrantes e encantadas
Trazendo ao trovador, a nova aragem.

De todas as delícias encontradas
Durante tanto tempo de viagem,
Estrelas pelos campos espalhadas,
Tramando amanhecer noutra roupagem.

Escrevo mil poemas para ti,
Decerto são tão poucos, pois mereces
Além de poesias; rezas preces.

O sonho mais audaz que já vivi,
Refém desta magia deslumbrante,
Mergulho sem limite, a cada instante...


138



Mergulho sem limite, a cada instante
Nos mares que tu trazes, num sorriso,
Uma escultura nobre e radiante
No toque dum artista mais preciso,

Vibrando em luz suprema, delirante,
Expressa a perfeição de um paraíso.
No colo desta deusa, aconchegante,
O sonho mais feliz, claro e conciso

Pilares de um altar, rara nobreza,
Intrépido caminho que hoje eu traço,
Outrora um vagamundo na incerteza,

Agora um cantador enamorado,
Aos poucos vem tomando todo o espaço,
Alaga em fantasia, o ledo prado...



139


Alaga em fantasia, o ledo prado,
A forte correnteza deste sonho,
Audácia se mostrando lado a lado,
No barco em que esperança; cedo, eu ponho.

Futuro num momento anunciado
Mostrado mais feliz, calmo e risonho.
Do outrora tão distante e duro Fado,
Marcado por um rumo mais bisonho

Eu vejo ressurgir em mansa paz,
O quanto que jamais pude pensar.
No bem que nosso amor, em lumes, traz,

Sementes de alegria vão brotando,
O riso em farta glória se granando
Amor que não se cansa de brilhar...


140

Amor que não se cansa de brilhar
Um gerador de sonhos traça o rumo,
Nas tramas deste amor, eu me perfumo,
Destilo cada flor, bebo o luar.

Quem dera se eu pudesse navegar,
Sentindo em meu saveiro todo o prumo
Da vida em que se toma todo o sumo,
No inesquecível doce a inebriar.

No ritmo em perfeição; nossa cadência,
Os rastros permitindo a florescência
Dizendo a cada verso que não temas,

A par do que se forma; encantador,
Amor se vangloria, sabedor,
De ter a solução para os problemas.


141


No riso mais feliz decerto traz
Explicações que busco há tanto tempo.
Falar do quanto quero e sou capaz,
Vencendo a tempestade em contratempo

Expressa finalmente esta verdade
Do quanto que se trama a cada dia.
Cevando assim suprema liberdade,
Permite se entender farta alegria

Nos olhos sonhadores de quem ama,
Estrela que irradia, o meu farol.
Da doce calmaria acende a chama,
Meu peito se tornando um girassol.

Servindo, desta forma, ao servidor,
Entrego-me às loucuras deste amor...

142

Entrego-me às loucuras deste amor
Em lúdicas promessas riso e gozo,
Dos sonhos, caprichoso benfeitor
Formando um mar imenso e caudaloso.

Tocando astros invade em espiral
As plêiades diversas, multiformes,
Espetacular luz em festival,
Estrelas e galáxias, bens enormes.

Tiaras espalhadas no meu céu,
Intempestivo fogo anunciando
Galope sem igual deste corcel
Que aos poucos, toda a cena vai tomando.

A dor enclausurada em mausoléus
Esconde-se em distantes, negros véus...

143

Esconde-se; em distantes, negros véus,
Os olhos da pantera tão faminta.
Das cores que eu herdei dos velhos céus,
Aos poucos se perdendo toda a tinta.

Extremas sensações, o tempo cala,
Agora a mansidão fazendo a festa.
O sol ao adentrar o quarto e a sala,
Abrindo no meu peito enorme fresta.

Capachos dos meus sonhos; bolorentos,
Na porta principal de minha casa,
Não quero mais saber dos teus ungüentos,
O tempo de sonhar já foi e atrasa.

O amor que tempestade, um dia fez,
Tocado pela calma lucidez...

144



Tocado pela calma lucidez
Paixão vai amainando pouco a pouco,
O que restou exige sensatez
Não posso e nem mais quero seguir louco

Amor que necessita calmaria
Expressa o bem supremo de uma vida.
Deixando para trás a fantasia
Agora abre em meu peito uma saída.

Curado das feridas do passado,
Expresso em meus versos, mansidão.
O tempo de viver, anunciado
Acalma, com certeza, este vulcão.

Estendo um plenilúnio na varanda,
A vida agora em paz, já não desanda...


145


A vida agora em paz, já não desanda
Quarando uma esperança no meu peito.
Os olhos vão rodando na ciranda
Mergulho no teu lago, satisfeito,

Palavra desejosa e mais sagaz
Esconde mil detalhes, subterfúgios,
Quem quer o amor que traga a boa paz,
Encontra nele os gozos dos refúgios.

São tantos os meandros deste jogo,
No qual não há sequer um vencedor.
Querendo o teu anseio desde logo,
Aprendo a ser um novo jogador.

Os rios vão buscando a mansa foz,
Vencendo a corredeira mais atroz...

146


Vencendo a corredeira mais atroz
Canoa dos meus sonhos já flutua,
Ouvindo o coração escuto a voz
Reflexo da mais bela e plena lua.

Amar é ser apenas passageiro
Da nau que se faz solta em noite imensa,
Levada pelas mãos de um gondoleiro
Que sabe que a viagem recompensa.

Na areia movediça da esperança
Eu traço o meu destino junto ao teu.
O velho coração assim alcança
O quanto o tempo outrora carcomeu

Refeito em um momento mais sereno,
Secando da tristeza o seu veneno...

147


Secando da tristeza o seu veneno,
Fazendo da alegria o meu repasto
Prevejo anunciado o canto ameno
Do amor que feito pleno segue vasto.

Emplastos aliviam os tormentos
Traçando a mais suave cicatriz.
Bebendo da ilusão os fortes ventos,
Esparramando o mote mais feliz.

No pote de meus méis, meios procuro
De ter o quanto quero e até mereça.
Vencendo esta aridez de um solo duro
Montando o nosso amor, quebra cabeça,

Entorno nas canecas da alegria
O vinho que este amor me prometia...

148


O vinho que este amor me prometia
Tomado em grandes goles trama a luz,
O fogo deste jogo que inebria,
Transforma toda a senda e me conduz

Levando aos oceanos da esperança.
Na seda desta pele imaculada,
A lua reproduz-se clara e mansa
Num argentino brilho invade a estrada.

Fartura de beleza; eu vejo em ti,
Estrela vespertina toma os céus,
O quanto que plantei, reproduzi
Erguendo no horizonte cianos véus.

Primícias que prometem raro brilho,
Cevando o coração de um andarilho.

149


Cevando o coração de um andarilho
O amor por vezes mostra-se exigente,
Levando a solidão ao triste exílio
Exibe o corpo audaz em chama ardente.

Arpoadores mãos que me tocaram,
Ceifeiras emoções, finas promessas.
Teus olhos, com certeza conquistaram,
As setas que sorrindo, já arremessas.

Destino se moldando em luzes várias
Ao subverter assim, velhos oráculos,
Enobrecendo versos antes párias
Coloca sobre mim, os seus tentáculos.

A par do que imaginas ser um jogo,
Em teu amor, por certo eu já me afogo...

150

Em teu amor, por certo eu já me afogo,
Não quero solução pra esse naufrágio.
Mergulho no teu corpo em brasa e fogo,
Expondo o coração audaz, mas frágil.

Percorro os teus caminhos, passo a passo,
Acendo o doce encanto da ilusão,
O quanto te acompanho no compasso
Ascendo mais depressa à imensidão.

Arcanas tempestades, nem as vejo.
O manto da emoção já me recobre,
Toando toda noite este desejo,
Formata o sentimento vero e nobre.

Partícipe da festa, riso insano,
O amor que se faz santo em mar profano...


151



O amor que se faz santo em mar profano,
Deitando sobre nós efervescências
Do fogo que nos toma sem um dano,
Desejos sem ter laivos de decências.

Luxúrias nesta orgástica emoção,
Delitos cometidos sem pecados,
Provocam a total revolução,
Os mitos; todos eles, derrubados.

As línguas penetrando cada toca,
Incandescências tramam nossa cama,
A transparência que chama e que provoca,
Aos poucos, possuindo, nos inflama.

Vasculham cada ponto, os nossos dedos,
Descobrem mil mistérios e segredos...

152



Descobrem mil mistérios e segredos,
As ânsias que se moldam nesta entrega,
Ungindo com prazeres nossos credos,
O quanto que se quer jamais se nega.

Parceiros desta estranha jogatina,
Aonde não se sabe um vencedor,
Enquanto em doce insânia desatina
Componho em teu jardim espinho e flor.

No embalo desta festa anunciada,
O corpo que se entranha em belo porto,
Varamos sem limites, madrugada,
Até que ao recomeço eu me reporto

Farturas de colheitas, gozos, riso...
Expressão que me resta: paraíso...

153



Expressão que me resta: paraíso,
Apenas, tão somente e nada mais.
Verbete que se mostra mais conciso
Ao demonstrar loucuras sensuais.

Na plêiade de gozos insensatos,
Na cama, no suor, beijo e saliva.
Nudez em que se espalham tais retratos,
Deixando a flor querida sempre viva.

O rio vai descendo em turbilhões,
Encharca suas margens, chega às furnas,
Mistura de desejos e paixões
Aguada pelos olhos das ternuras.

Partícipe da festa que não cessa,
Ao sol incandescente recomeça...

154

Ao sol incandescente recomeça
O dia feito em glória e tempestade.
Sabendo recolher peça por peça
Eu vejo em nosso caso, a liberdade.

Não temo mais sorrisos nem sarcasmos,
A manta que nos cobre é feita em luz,
Tocado pelos sonhos dos orgasmos
O sol em nosso quarto reproduz

Serenos vendavais do gozo pleno,
Bonanças que são feitas dos suores,
Delicadeza em cada bom veneno
Demonstram fortes brilhos bem maiores.

Saber reconhecer que a mansa paz,
No riso mais feliz, decerto traz...


155



Riqueza que se encontra em raras gemas,
Uma amizade é sempre benfazeja,
Trazendo com certeza como emblemas
A solidariedade que deseja
Aquele que sabendo dos problemas,
Felicidade em paz, decerto almeja,

Esteja onde estiver, esteja certa,
Que a glória da alegria não se esquece,
A sorte de demonstra sempre alerta,
Um belo amanhecer, em luz e prece,
Florindo a senda amarga e até deserta,
Canteiros de esperanças; logo tece.

Assim no campo santo da amizade,
Eu vejo com mais calma, a liberdade...


156


Eu vejo com mais calma, a liberdade
Depois de atravessar o duro inverno,
Recebo com total felicidade
Sorriso da mulher que eu amo, terno.
Que tenha em nosso amor, tranqüilidade,
Distante do passado, quase inferno.

Não tendo mais o medo de viver,
Refaço a cada dia, a primavera,
Forjado pelos dons deste prazer,
Aquieta-se em instantes, leda fera,
Assim, sinto possível conceber
A vida que sonhara. Quem me dera!

Um riso de esperança no meu rosto,
Meu peito enamorado segue exposto...


157


Meu peito enamorado segue exposto
Aos ventos e loucuras, temporais,
Acima do que quero tal preposto
Permite na verdade, um novo cais
Aonde o que vivera em frio agosto
Transborde melodias sensuais.

À margem dos recados recebidos,
Eu sigo sem temer o que virá,
Amor ao seduzir os meus sentidos
Expressa o que eu desejo desde já.
Os dias entre gozos repartidos,
Espelham o que de nós renascerá.

As frutas espalhadas no quintal,
O beijo que se mostra sem igual...


158


O beijo que se mostra sem igual,
Ao pressupor vitórias e derrotas,
Do quanto te desejo, nada mal,
Prazeres arrebentam as compotas.
Cadência refletindo vendaval
Emerge nos momentos em que brotas.

O corte mais profundo, lança em riste,
A trama que se mostra repetida,
Não quero ser apenas um ser triste
Espreito de viés, nova saída.
Amor batendo forte tanto insiste
Que muda a direção de minha vida.

Meus olhos se perdendo em noite vaga,
No mar desta ilusão amor naufraga.

159


No mar desta ilusão, amor naufraga,
Deixando uma esperança como ilhoa.
Ilhotas da ilusão na dura vaga
Afundam a jangada, esta canoa.
A vida tantas vezes vem e afaga,
No fundo, mesmo assim, eu sei que é boa.

Petardos de esperanças salgam tudo,
Vadio coração não tem segredos.
O quanto que eu te quero, fico mudo,
Ancoradouros sonhos, meus enredos,
Nos quais eu com certeza inda me iludo,
E bebo a tempestade destes medos.

Eu te amo e nada disso me interessa,
Vem logo que o meu peito já tem pressa.


160


Vem logo que o meu peito já tem pressa.
Assim dizia a noite ao claro sol,
Tomando toda a sorte como avessa,
Deixando a tempestade em arrebol,
O vento que se mostra e se confessa
Permite o coração qual girassol.

Faróis dos olhos, faço e me inebrio,
O medo se arremessa de um penhasco,
Não tendo quase nada, o sonho eu rio,
Embora tantas vezes, finja um asco.
Deitando o meu prazer já principio,
Morrendo sob as ordens do carrasco,


Enquanto tu transitas mil estrelas,
O amor entre as cobertas me revelas...


161

O amor entre as cobertas me revelas,
Jogando as pernas, abres paraísos,
Entranho neste mar, recebo as velas,
Em formas de desejos mais precisos.
Ao gozo recebido faço as telas
Marcando ponto a ponto, sem avisos.

Juízo? Não mais quero e nem pergunto
Se o tempo se mostrou em claridade.
O quanto necessito sempre junto
Roubar deste cenário a liberdade.
Não tendo mais sequer um novo assunto
Descubro assim total felicidade.

Mergulho nos matizes mais diversos
Bebendo gozos antes tão dispersos...


162



Bebendo gozos antes tão dispersos
Encontro o que mais quis em minha vida,
Espelhos que prometem universos
Deixando a porta aberta na saída.
Não quero os arremedos mais perversos
Nem mesmo as cotas todas divididas.

O ramo do arvoredo da esperança
Em novas alianças vira mata.
Na louca sensação do quanto avança
A vida que em leilões tudo arremata.
Cascatas redivivas, luz alcança
Nem mesmo uma saudade me maltrata.

Eu quero o teu carinho e não discuto,
O amor é sem juízo, audaz e astuto...


163


O amor é sem juízo, audaz e astuto,
A cada novo riso, traquinagens,
No quanto te desejo o quanto luto
Vertendo em meu caminho tais miragens,
Um velho sem limites segue arguto
Fazendo no teu corpo tais viagens.

Paragens que se mostram sem igual,
Mentiras transformadas em verdades.
O beijo tão gostoso e sensual
Invade nossa cama em claridades.
Encontro muitas vezes casual,
Provoca maremotos nas cidades.

Curtida a minha pele neste sol,
Bronzeio o coração em girassol...

164

Bronzeio o coração em girassol,
Cataventando a luz em riso manso.
Amor vai invadindo este arrebol,
Nos pés que titubeiam, logo tranço.
Às vezes discutindo futebol,
Notícias que me mandas; não alcanço.

Remanso estipulado há tantos anos,
Meandros deste mar em sanidade.
Não quero mais mudanças em meus planos.
O medo não terá facilidade,
Vencendo os meus antigos desenganos
Amor que agora eu tenho, é de verdade.

Menina vê se nina o velho peito,
Fazendo do teu modo, do teu jeito...

165


Fazendo do teu modo, do teu jeito,
Tu trazes o meu peito todo em festa,
Eu vivo, na verdade satisfeito
Do quanto que inda tenho e o que me resta
Vivendo o que percebo é de direito,
Amor quanto em amor amores gesta.

Mecânicas palavras escondidas
Em trâmites diversos já percorro
As mãos que se mostraram decididas,
Prefaciando as luzes e o socorro
Mudando num momento as nossas vidas
Trazendo mil prazeres; gozo em jorro.

Nos morros da alegria, um alpinista,
Encontra a mais sublime e bela vista...

166

Encontra a mais sublime e bela vista,
Quem sobe o sacro amor em cordilheira.
Planície sem igual dali se avista
Mudança muito além da corriqueira,
Nos mares, fortes ondas, clara crista,
O manto da esperança verdadeira.

Cadáveres de sonhos espalhados
Nas praias onde morrem, desde cedo,
Teus olhos nestes mares espelhados
Desvendam do amor qualquer segredo.
Risonhas transparências nestes prados
Afogam num segundo, dor e medo.

Maravilhosamente sou teu par,
Nas ânsias e alegrias, sei te amar...

167


Nas ânsias e alegrias, sei te amar,
Misturo o quanto tenho e o que eu queria,
Jogando minhas mãos adentrando o ar
Catando pelas ruínas, poesia.
Palácios tão diversos encontrar
Emoldurando assim farta alegria.

Sem ter mais quem me dome ou quem me cale,
Eu tenho uma certeza que se entranha
Na pele de quem quer que não se empale
A vida de uma forma tão estranha,
Percebo a mansidão deste teu vale,
Descendo calmamente esta montanha.

Trapaças de uma sorte; eu reconheço,
Deixando para trás qualquer tropeço.




168

Deixando para trás qualquer tropeço
Macabras ilusões foram dispersas,
Além do que desejo e sei mereço,
As horas são benditas, mas diversas,
Não tendo tudo aquilo que ofereço,
As dívidas que trago são perversas.

Mas versas sobre sonhos em teus cantos,
Encantos profanados muitas vezes.
Vestindo da alegria velhos mantos
Não quero em nosso amor deuses ou reses,
Reveses encarando sem ter prantos
Espelho o quanto queres e desprezes

Amor não tendo mais sequer algemas
Riqueza que se encontra em raras gemas.


169



Amor que assim nasceu, em tanta paz
Embala os meus desejos, treina uma alma,
Perdido em nossa noite sou capaz
No quanto que eu te quero, tudo acalma.

Cabeça se entregando ao capataz,
Amor não tem juízo e nem tem calma.
Bebendo com fartura, sigo audaz,
E vejo a vida mansa imune ao trauma.

Sem passo que permita nova queda,
O tempo não suprime e não mais veda,
Deixando à perfeição a tez do mito.

Beirando o teu caminho, traço os rastros,
Mergulho o meu olhar nestes teus astros
No quanto em nosso amor eu acredito...


170


No quanto em nosso amor eu acredito,
Eu faço estas despesas da esperança.
O vento não destrói forte granito
Nem mesmo a tempestade já me alcança,

Porém amor que é feito em arenito,
Esvai-se no sabor da calma andança.
O bem que eu te desejo é infinito
Por mais que seja longe, não se cansa.

Marcando minha pele em tatuagem,
O amor vai penetrando sem fronteiras,
No peito que serviu como estalagem,

Corcéis das alegrias derradeiras
Galopam sem ter medo da chegada,
Vibrando cada dia, em alvorada...

171


Vibrando cada dia, em alvorada,
Estendo na varanda o meu varal,
O tempo de viver vence a jornada
Estampa a minha foto em teu jornal.

Manchete com certeza anunciada,
Tocando a nossa pele, sensual.
O verso se moldando a cada estada
Aguarda este consenso no final.

Bom dia, tantas vezes, arremete
Ao quanto nós teremos pela frente,
O medo se fazendo descontente

Depois do erro imenso que comete,
Deixando de restar em nosso amor,
Aos poucos, vou sentindo decompor...

172

Aos poucos, vou sentindo decompor
O resto de tristeza que inda havia.
A dor que em outro lado já jazia
Permite um novo sonho encantador.

O velho coração de um sonhador,
Nas mãos sacramentadas da alegria
Fomenta fatalmente a fantasia
Moldando o quanto quero a te propor.

Das cinzas, renascendo uma esperança
Não sabe quanto vale o que se apraza.
O vento reavivando cada brasa

Estabelece a força que se mostra na aliança,
Amar e não ser amo, dono, algoz
Espalha em claridade o brado e a voz...


173

Espalha em claridade o brado e a voz
A lúcida emoção que se assenhora,
Não tendo mais porque fugir agora
Eu tento um canto novo, mais feroz.

Cortando como faca o medo algoz,
Exclamo em poesia o que me aflora,
Quem sabe, com certeza não tem hora
Mergulha em cachoeira e bebe a foz.

Mortalhas que eu trouxera do passado,
Jogadas na fogueira/inquisição
Os olhos vão seguindo a procissão

Sabendo do que eu quero, mudo o Fado,
Nos pés a liberdade sem correntes,
O amor vivo rangendo os nossos dentes.


174

O amor vivo rangendo os nossos dentes
Na gula que se mostra insaciável.
Olhar ensandecido incontrolável
Catando os teus carinhos mais freqüentes.

No quanto que te quero e tu pressentes
O fim tão benfazejo e desejável,
No toque de teus lábios tão amável
Eu sonho com cultivos e sementes.

Preparo a terra, aguando o dia todo,
Retiro do caminho, todo o lodo
Arando em esperança o duro chão,

As horas de sonhar, decerto as mesmas,
Retiro do canteiro pragas, lesmas,
Do gozo faço a minha adubação...


175




Do gozo faço a minha adubação
Colhendo as flores belas do futuro,
O quanto que se mostra mais escuro
É tudo o que preciso: tentação.

Na ação já tresloucada, a sedução
Que farta; não concebe sequer muro,
Do fogo em explosão eu já em curo,
Negando o meu adeus, arribação.

O prazo de viver não se conhece,
Sequer o quanto temos pela frente,
Por isso não se esqueça de repente

Do quanto a vida, enfim, nos oferece,
Na boca delicada, carmesim,
Recolho o teu perfume de jasmim...


176



Recolho o teu perfume de jasmim
Estrela vespertina dos meus sonhos,
O medo de viver dias tristonhos
Há tempos se afastou, chegou ao fim.

No verso que fizeste para mim,
Não vejo mais os cantos enfadonhos
Que outrora se mostrando mais bisonhos
Secaram tolamente o meu jardim.

Marcando os meus momentos com teus lábios,
Espero finalmente os astrolábios
Que possam me fazer teu timoneiro.

Nos prismas que tu trazes em teu peito,
Mosaico de vontade gozo e pleito
Expressa toda cor deste tinteiro.

177


Expressa toda cor deste tinteiro.
Arco-íris de esperanças que me trazes,
Nos primas deste sonho derradeiro
As luas vão mudando suas fases.

O quanto de carinho tu me fazes
Permite que um canto alegre e mais ligeiro,
Permutas que conheço por inteiro,
Abalam meus princípios, minhas bases.

Eu parto do começo e chego enfim,
Ao alvo que se mostra em plenitude.
Refaço a tão distante juventude

Renovo o velho sonho dentro em mim.
A vida do teu lado, sem viés,
Sem medos ou correntes nos meus pés...


178


Sem medos ou correntes nos meus pés,
Um velho repentista em madrigal
Fazendo nestes versos rapapés
Esculpi tua face magistral.

Riscando do passado estas galés,
Mergulho no teu corpo angelical
Deitando no teu colo cafunés,
Expressam todo o nosso ritual.

Atravessando os mares, fantasias,
Agradecendo a todos estes sóis,
Trazendo em sustenidos e bemóis

As mais divinas, raras, sinfonias.
Amor incandescente estrela guia,
Deitando sobre nós a poesia...


179




Deitando sobre nós a poesia
A noite se luziu em serenatas.
Estranha sensação traz agonia
Ardendo em nosso peito, feito matas.

Espalha o quanto trouxe em alquimia,
Ardendo em tantos corpos vis chibatas,
No quanto que te quero e não desatas
Estendo o coração em noite fria.

Mascaro os meus temores em sorrisos,
Embora o peito exposto a tais granizos
Não deixa de cantar o quanto quer.

Na boca delicada e carmesim,
O beijo que esperei trouxe pra mim,
O fogo abençoado da mulher...

180

O fogo abençoado da mulher
Rolando em minha cama noite afora
Do jeito que o diabo sempre quer,
Exalta toda a festa desde agora.

Coroa todo o gesto que eu fizer
Na cor que em coração cedo decora.
Contigo o meu amor não vai embora
Já tenho em meu banquete um bom talher.

O quanto fui outrora temeroso,
Não tem mais no presente, semelhança,
Bebendo cada taça de esperança

Inebriado, sinto o forte gozo
Que chega da menina sem receios,
Tocando com meus dedos belos seios...

181


Tocando com meus dedos belos seios,
Preparo uma surpresa pro final.
Não vejo mais motivos pros anseios
Que formam nesta vida um vil jogral.

O fato necessário e principal
Permite que eu prossiga pelos veios
Numa afluência mansa e triunfal,
Chegando ao quanto eu quero sem rodeios.

Os meios pelos quais eu vou à festa
Cavalgo a noite inteira em lua mansa.
O beijo da alegria já me alcança

O prazo do viver ainda resta.
Atesto a precisão do meu fuzil,
A seta que te entranha é mais gentil.

182


A seta que te entranha é mais gentil,
Penetra tua pele e chega ao fundo,
Vencido pelo amor em um segundo,
O mundo finalmente já floriu.

Coração sem juízo e vagabundo,
Escreve de maneira tão sutil
O campo constelar em pleno abril,
Mudando a direção, sou giramundo.

Não somo, nem divido, eu multiplico,
Não quero na verdade ser mais rico
O bem que agora tenho satisfaz.


Do amor faço meu ouro e minha prata,
Na boca da morena e da mulata,
Amor que assim nasceu; em tanta paz...


183


Rompendo do passado, estas algemas
A liberdade surge no horizonte,
Escrevo como quem em outros temas
Prenunciou a glória do desmonte

No parto que se fez em força e viço,
O meu destino entregue em tuas mãos,
Do quanto de prazer que inda cobiço,
Abrindo neste solo, sacros vãos

Que deixem transpirar uma esperança
Aguando com vontade o meu sertão,
Nos olhos da menina, uma lembrança
Causando no meu peito, comoção.

Somando cada gota que lacrimas,
Um oceano pleno em belas rimas.

184

Um oceano pleno em belas rimas
Invade a nossa praia, ganha a areia,
Moldando esta canção em raras primas,
A lua benfeitora está mais cheia.

Deitando na varanda brilhos tantos,
Estabelece o quanto sou feliz.
Entregue a tal magia, teus encantos,
O verso assim demarca o bem que eu quis.

Estrela enlanguescente em noite plena,
Vagando pelos céus de um trovador,
A mão enamorada logo acena
E mostra ser bem claro nosso amor.

Nas marcas tatuadas, riso e festa,
Amor bebe e provoca esta tempesta.


185


Amor bebe e provoca esta tempesta
Bendita solução que eu procurava,
Invade, incendiário uma floresta
Vulcânica emoção, ardente lava.

Não tramo outra saída nem pretendo,
Esgares do passado são sombrios.
Olhar tão vigoroso já revendo
Os dias melancólicos, vazios.

Mas quando vejo enfim, o rosto belo,
Daquela que se fez a solução.
O amor que tanto quis ora revelo
E deixo transbordar inundação.

Sorriso tão matreiro de um moleque,
Amor chega e domina, abrindo o leque.


186


Amor chega e domina, abrindo o leque
Tomando assim de assalto a minha vida.
Não deixa que esta fonte agora seque,
Fartura nos seus seios prometida.

Emprego minha voz, alço infinitos,
Não quero mais qualquer caricatura
Do quanto que se fez em nossos ritos,
Lotando os meus caminhos de ternura.

Brandura procurada e desejada,
Fortuna que não canso de querer.
Nas mãos tu tens a sorte anunciada,
Forrando meu destino em teu prazer.

Não peço mais desculpas, nem as quero,
No bem de nosso sonho eu me tempero.


187

No bem de nosso sonho eu me tempero
E cato meus pedaços pelo chão,
O quanto que recebo, mais eu gero
Toando em nosso amor esta adição.

Extraditando o medo e as vãs tristezas,
No enredo vou secando a solidão,
Vencido pelas doces correntezas,
Mergulho nos teus braços a paixão.

Emérito percurso que hoje enceto
Buscando em meu passado estas raízes,
Encontro o raro lume e como inseto
Adentro tuas sendas sem ter crises.

Crisântemos, jasmins e monsenhores,
Jardins de nossos sonhos multicores...

188


Jardins de nossos sonhos multicores
Caleidoscópio vivo que carrego,
Enfileirando lumes sedutores
Eu sei que não irei seguir mais cego.

Adaga penetrando mansamente,
A seta deste deus, louco menino.
O tempo de viver vai de repente
Mudando totalmente o meu destino.

Não deixa nem pegadas no areal,
Tentáculos da sorte me tocando,
Amor vem como um louco vendaval
E todo este cenário vai mudando.

A vida em desamor já fragiliza,
Desaba uma esperança em qualquer brisa...


189


Desaba uma esperança em qualquer brisa,
Se amor foi feito em solo movediço.
A mão do agricultor se aromatiza
No bem de cada flor, perfeito viço.

Eu trago o peito aberto, sem defesas,
Não temo mais as dores que virão.
A primavera exposta em tais belezas
Entrega ao nosso amor, forte verão.

Amor que se mostrando solidário
Metamorfoseando, me domina.
Não quero prosseguir mais solitário
Retendo a fonte clara, doce mina.

Bebendo cada gota deste arroio,
Amor já separou trigo de joio...


190


Amor já separou trigo de joio,
Nas plêiades de sonhos constelares,
Desejos vêm chegando num comboio,
Abóio meu destino em teus teares.

Carpi durante a vida, fui incréu,
O vento fez da dor uma bonança,
Liberto o pensamento almejo o céu
Na trama cada ramo, amor alcança.

Amansa o mais terrível pesadelo,
Abalroando assim velhos piratas,
Abençoado gozo de vivê-lo,
Roubando desta lua, raras pratas.

Atando o quanto quero e o que tu queres,
Veremos neste amor plenos poderes...

191



Veremos neste amor plenos poderes
Um déspota que entorna brilho calmo,
Do jeito que tu sonhas e preferes,
Amor vai destilando na alma um salmo.

Marujo que prepara a redenção
Sabendo construir um manso porto.
Do verbo já se fez anunciação
Deixando o sofrimento exposto e morto.

Na decomposta imagem de um passado,
Arcaico, vil, senil, demente, insano,
Atesto em meu prazer o enunciado
Calando o que trouxera desengano.

Metrificando sonhos em palavras,
No amor encontro enfim benditas lavras...

192

No amor encontro enfim benditas lavras,
Perfeitas nossas cevas, têm colheitas
Enquanto amor profundo, eu sei que lavras
Aguando o teu canteiro enquanto deitas.

Expresso com vigor o sentimento
Que deixa transfundir farta emoção;
O quanto é necessário todo alento
A quem perdeu o rumo e a direção.

O tempo em viração promete a paz,
Explícita vontade de saber
Do bem que tão sublime satisfaz
Secando o desatino a converter

Da dor deste ferrão em doce mel
Mudando, de repente o seu papel...

193

Mudando, de repente o seu papel,
Estreito os nossos laços, sem temor.
As nuvens vão dançando em nosso céu,
Traçando este cenário encantador.

Metáforas entranham nossos dias,
Porteiras do meu peito estão abertas,
Além do que mais queres; tu já crias
Desenhos em palavras sábias, certas.

Cirandas espalhadas por estrelas,
Escarpas não impedem nossos passos,
O barco sem destino abrindo as velas,
Ganhando a plenitude dos espaços.

Refletem cada sonho que tivemos,
Fortalecendo assim, os nossos remos...


194



Fortalecendo assim, os nossos remos,
Vencemos correntezas agressivas.
O quanto que decerto nós sabemos
Mantém as nossas luzes sempre vivas.

A sorte já lançada em novos dados,
Abarca estes destinos confluentes,
Os gozos destes sonhos desfraldados
Ensinam o que queres e pressentes.

Além da metafísica e dos anjos,
Arcanjos, querubins se transformando,
Cuidando dos antigos desarranjos,
Antídotos decerto inoculando.

Eu quero o sentimento mais perene,
Que a sorte de viver não me envenene...

195


Que a sorte de viver não me envenene,
Nem traga ao nosso amor, ruído e traça.
No quanto que eu quero, em cada gene
Hereditariamente, nos enlaça.

Na praça dois acordes dissonantes,
Instantes são iguais, nada os separa.
Te quero totalmente e assim bem antes
A verve deste sonho se entranhara.

Na clara e não sutil diversidade,
Somamos e fazemos arvoredos.
Nas ruas e calçadas da cidade,
Espalhamos os nossos bons enredos.

Na rede dos teus braços me encontrando,
Não sei e nem pergunto desde quando...

196

Não sei e nem pergunto desde quando,
Apenas vou seguindo o meu caminho.
O mundo vai aos poucos desabando,
Porém jamais me encontrará sozinho.

Por mais que sejam parcos os recursos,
A lente deste amor, aumentativa.
Os rios vão seguindo mansos cursos,
Mantendo a fantasia mais altiva.

Vivas ecoando na platéia,
Um Bravo que se escuta em cada voz,
Tristezas fugidias, alcatéia
Debanda em noite clara. Nada após.

Tesouros demonstrando raras gemas,
Rompendo do passado, estas algemas...


197

Que tanto maltrataram; não me engano,
Os prados se inundaram desde quando
Mudando de repente cada plano,
O teto dos meus sonhos desabando.
O amor por mais incrível quase insano
Entranha em meu caminho, decorando.

Na boca da morena carmesim,
O doce feito em mel, pura garapa,
No campo dos prazeres o alecrim
Tempera o que mais quero e não me escapa.
Bebendo da alegria, o farto gim,
Amor já delimita o nosso mapa.

Trapaças eu não vejo e as renego,
Nos braços da morena, eu já me apego...

198



Nos braços da morena, eu já me apego,
Roçando corpo a corpo, o fogo acende.
No jogo em que me afogo, amor carrego,
Não tendo mais corrente que me prende
Por mais que tantas vezes siga cego
À luz do teu olhar amor ascende.

Morena em cada cena sou teu par,
Percorro este cenário e vou liberto
Do quanto que aprendi contigo a amar
É tudo o que desejo, um rumo certo.
Meu passo mesmo manso e devagar,
Nos passos da morena eu sempre acerto.

Atores desta peça interminável,
Na mina em que se emana água potável...

199


Na mina em que se emana água potável
Não deixo de beber toda semana
Amor quando se mostra inesgotável
É fonte que se basta, soberana.
No quanto o nosso amor é invejável
Jamais a vida amarga e desengana.

Cacimba da esperança nunca seca,
A cada novo sonho, sempre aumenta.
Quem vive amor profano já não peca
A vida sem desejos segue lenta,
Menina que te quero mais sapeca,
No jogo que domina, tanto inventa.

Eu quero o que tu queres, nada mais,
Desejos e loucuras sem iguais...



200


Desejos e loucuras sem iguais
Nas rendas organdis, em transparência.
Dançando em mil requebros sensuais,
Amor com maestria na regência
Permite que eu navegue sempre mais,
Atrás da louca insana incandescência.

Adentro as casamatas, tocas, grutas,
Vencendo qualquer tipo de defesa,
Enquanto sem vontades finges lutas
A noite salpicada em tal beleza
Promete o paladar de doces frutas,
No prato principal e sobremesa.

Perpetuando o gozo que não cessa,
Amor a sacra face da promessa...

201


Amor; a sacra face da promessa
Estende nos altares soluções.
Vendendo o quanto resta sem ter pressa
Entrego-me às diversas sensações
Na vida que virá, e mesmo nessa,
Eu quero o fogo eterno das paixões.

Decifro sem cifrões a mesa farta,
Nas ricas esperanças deste sonho,
O vento que me traz jamais se aparta
E nele, a cada dia, o gozo eu ponho.
O tempo sem amor já se descarta
E a carta sobre a mesa, é um bem bisonho.

Bisando cada beijo em tua pele,
Ao salvador pecado se compele...

202

Ao salvador pecado se compele
Na jogatina louca deste amor.
Nem mesmo a solidão que assim congele
Consegue naufragar a bela flor.
Roubando tal magia, roço a pele
E sinto o quanto é bom ser sonhador.

Nas ancas do corcel na madrugada,
Galopo o tempo inteiro, sem parar.
Recebo do jardim rara florada,
Trafego sem limites o luar
Procuro o que desejo e na caçada
Encontro o pronto amor a se entregar.

Tingindo-me da luz que tu me dás,
Eu vejo finalmente, insana paz...

203



Eu vejo finalmente, insana paz
Sem medo ou sensação de ser cativo
Vivendo o quanto o sonho inda me traz
De nada em minha vida eu já me privo.
O beijo da morena, um capataz
Capaz de me tornar um morto vivo.

Acero preparado; o fogo ateio
Colheita prometida pro futuro,
Bebendo do prazer de cada seio,
Acendo toda a chama neste escuro.
Sabendo o que mais quero, sem receio,
Encontro o que em verdade assim procuro.

E curo tais mazelas, vencedor.
Abrindo então as travas, vivo o amor.

204

Abrindo então as travas, vivo o amor,
As trevas; assassino em teu jogral,
No verso em que pretendo recompor
Palavra se tornando sensual
Estendo o meu canteiro em plena flor,
Trazendo em minha cama todo astral.

Astrologicamente incompatíveis,
Na bacia das almas, vamos nós.
Vencendo as tempestades, noutros níveis
Jamais caminharemos soltos, sós.
As mãos que nos empurram, invisíveis
Entregam às tristezas, medos dós.

O vento que balança este coqueiro
Entranha o mais gostoso e doce cheiro...


205


Entranha o mais gostoso e doce cheiro
Na pele de quem quer e não descansa,
Do jeito que se pensa, verdadeiro
Amor o tempo inteiro é lua mansa.
Do sonho em que navego, gondoleiro
Deixando à solidão sequer lembrança.

Nas praças os coretos fazem festa,
Um suburbano trem faz reboliço
Mergulho todo o tempo que me resta
E quero muito além de apenas isso
Amor sem ter juízo, sempre presta
Gozo compartilhado, o que eu cobiço.

Nas danças e delícias, danações.
Delitos espalhando tentações...


206



Delitos espalhando tentações
As mãos vão procurando os seus caminhos,
Abrindo calmamente estes botões
Brotando o bom prazer em vários ninhos.
As flores em diversas plantações
Perfumam muito além dos seus espinhos.

Espio cada furna desta senda,
Expio meus pecados no teu jogo.
Amor que tudo sabe e já desvenda
Acende com vigor o nosso fogo.
O resto da viagem? Pura lenda,
O quanto de desejo em ti me afogo.

Não pago mais os erros cometidos,
Os juros que paguei, vão incluídos...

207


Os juros que paguei, vão incluídos
Na conta interminável que encontrei,
Destinos; já faz tempo, desabridos,
Depois de tudo aquilo que sonhei
Os dias na verdade são cumpridos
Nas esperanças tolas, nossa lei.

Errei ao ter teu nome no meu peito?
Foi simples tatuagem, nada mais?
Não quero mais o gosto contrafeito
Do jeito que tu queres? Só jamais.
Mas sei que tu desejas nosso leito.
Morena o mais perfeito e belo cais.

Falar que o nosso amor foi simples fato,
Perdoe-me querida, é desacato!

208

Perdoe-me querida, é desacato;
O tempo de sonhar não acabou.
Lembrando com certeza eu me retrato
No fogo tão divino que queimou
Não resta nem sequer mesmo este prato
O vento, este barraco derrubou.

Poreja em minha pele o teu perfume,
Estás sempre comigo, noite e dia.
Entrego meu amor mais que o costume
E vejo em teu olhar a poesia
Jogada pelos cantos, o ciúme
Matando o quanto bem amor dizia.

Melancolia chega de mansinho,
Não quero em desamor, viver sozinho...


209


Não quero em desamor, viver sozinho,
Recolho os meus pedaços deste chão,
Gravetos de saudades no meu ninho
Aguardam pela nossa floração.
Ouvindo uma esperança canarinho
Aguardo em nosso caso, a solução.

Soluços espalhados no jardim,
Espelhos sem reflexo em mortos brilhos.
Não posso conceber sequer o fim
Marujo não conhece os empecilhos.
Deságuo a solidão em rum e gim
Percorro sem destino audazes trilhos.

Mensagens em garrafas noutras ilhas
Não falam de beleza ou maravilhas...



210



Não falam de beleza ou maravilhas
Os versos que me invadem nesta noite.
Recebo da ilusão diversas trilhas,
Só resta o que me corta, o frio açoite.
Distante dos teus olhos, tantas milhas,
A solidão cegando o meu pernoite.

Acoite este desejo, ser feliz,
O mar que naveguei promete a seca
Não quero tão somente por um triz
Viver o que me resta. Busco a Meca
Aonde possa ter sem cicatriz
O amor que tanto flui e jamais seca.

Mudando o antigo sonho, em cada plano
Que tanto maltrataram. Não me engano.

211


Amores vêm e vão; em piracemas,
Subindo as cachoeiras da esperança.
Felicidade e dor a vida alcança
Resolve enquanto cria mais problemas.

Enquanto tudo vives, nada temas,
Apenas se entregar à contradança;
Por mais que a noite chegue calma e mansa,
Amor em luz diversa muda os temas.

Enquanto o quanto tenho for mais forte,
Participemos logo desta festa.
Depois, a vida chega e traz o corte

Do todo que vivemos, pouco resta.
Mergulhe então sabendo disso tudo.
Ao mesmo tempo sonho e desiludo..

212


Ao mesmo tempo sonho e desiludo
Contudo não me canso de sonhar,
Tragando a noite inteira neste bar,
O quanto que me impedes, mais ajudo.

Não tendo o que perder eu vou com tudo,
Miúdo o coração que não tentar.
Às vezes mais depressa ou devagar,
O rumo a cada instante, eu sei que mudo.

Amar, amara senda que me adoça,
No quase que perdi, decerto eu ganho.
Na cama a mais sutil e bela moça

No cheiro da menina a tentação.
Amor é sentimento muito estranho,
Molhando, acende o fogo da paixão...

213


Molhando, acende o fogo da paixão
E faz tal reboliço em minha vida
Que aos pouco vou perdendo a direção
A colisão se mostra divertida.

Perguntas sem respostas ou saída,
O mar em que embrenhando imensidão
Às vezes numa farpa recebida,
Vazio vai secando todo o chão.

Eu vejo o teu retrato no meu rosto,
Embora tantas vezes mal exposto
Amplia uma verdade que não sinto.

De todo bem que tenho em meu caminho,
Cedendo a força imensa de um carinho,
Inundo de desejo o teu recinto...


214

Inundo de desejo o teu recinto,
Afogo esta vontade de te ter.
Nas cores deste sonho eu já me pinto
Bebendo a conta-gota o teu prazer.

Vulcão que imaginara estar extinto
Trazendo tanta lava a percorrer
No jogo feito amor, às vezes minto,
Mas sempre um bom motivo eu penso ter.

Percalços nesta estrada tão diversa,
Beiradas escondendo as armadilhas.
A nuvem que cobria vai dispersa,

Porém o temporal virá depois.
No quanto quero o sonho de nós dois,
O amor vai prosseguindo em outras trilhas...



215


O amor vai prosseguindo em outras trilhas
Capota numa curva e volta a pé.
Da lua que transforma uma maré
Amor esconde em si diversas ilhas.

Às vezes nebulosas maravilhas,
Em outras vou seguindo pela fé.
O medo de saber prende em galé,
As horas são medonhas, andarilhas.

Antilhas e planetas mais distantes,
Revoltas em batalha interminável.
Sementes de meus sonhos tão mutantes

Aradas pelas lágrimas, brotando.
Amor é detenção afiançável,
Não sabe, porém quanto ou mesmo quando...


216


Não sabe, porém quanto ou mesmo quando
Capítulo final desta novela.
O mundo em minhas costas desabando,
Não quero nem saber quanto revela.

Apenas vou abrindo a minha vela
Por mares mais distantes, vou singrando.
A doce tempestade vem chegando,
E a solidão sozinha se rebela.

Marasmos não suporto, nisso eu creio.
Mergulho nos teus seios sem receio
E vivo tão somente por viver.

Colhendo neste solo do meu jeito,
O quanto que eu desejo, insatisfeito,
Roubando toda a forma de prazer...


217


Roubando toda a forma de prazer
Qual fosse um bom pirata chego ao cais
Desejo o tempo inteiro e sempre mais,
Não tenho mais temor, quero saber

O mapa dos tesouros; posso crer,
Que leve aos teus requebros sensuais.
Orgásticas loucuras magistrais
Além do que eu podia, assim prever.

Caçando a noite inteira o teu desejo,
Saudade meu amor deste molejo
Rebolativa deusa em minha cama.

Quasares e luares, sanduíches
As noites sem ninguém em azeviches
Apagam o que sobra desta chama...


218


Apagam o que sobra desta chama,
Os ventos sem juízos da saudade.
Procuro quem me fale, mas quem há-de
Se o tempo sacripanta não reclama.

Parceiros desse jogo, céu e lama,
Ao mesmo tempo treva e claridade,
Vem logo que esta noite tudo inflama
Depois só restará diversidade.

Perversos os caminhos deste amor.
Friável, mas perfeito em suas rimas.
Marasmo destruindo tais estimas

Impedem que se eleve o nosso andor.
Carcaças do que fomos? Esquecidas.
O vento renovando nossas vidas...


219


O vento renovando nossas vidas,
Inverno sucumbindo à primavera.
Não quero que percebas, pois duvidas
Da cárie que maltrata a louca fera.

Rolando pelos céus, a cada esfera
As marcas tão distintas das feridas
Em tempos de batalhas recebidas
Curadas pelo amor em luz sincera.

São meras garatujas do que tive,
Ferrões que prometeram tanto mel,
Aonde na verdade nunca estive

Escrevo num pedaço de papel,
Guardado na garrafa dos meus sonhos,
Os mares são gigantes e medonhos...


220



Os mares são gigantes e medonhos,
Engolem os riachos, disso eu sei.
Quem dera se inda fossem mais risonhos
Os rios que sem foz, eu naveguei.

Sorrisos muitas vezes são bisonhos,
Matreiras soluções que desfraldei,
Mudando de repente toda a lei,
Matando os velhos trágicos, tristonhos.

Enfronho o meu desejo nos lençóis,
Assoreando o quanto bem te quis.
Vestindo de manhã ardentes sóis

Somamos amos, olhos, vida e brisa.
Viver e conviver com cicatriz,
Tacanhamente amor nunca me avisa.

221


Tacanhamente amor nunca me avisa,
E foge de repente, faz mistério.
Amor é bicho insano, um caso sério
Sereia que em serpente se matiza.

Por mais que a superfície seja lisa
O amor não deixa rumo e nem critério.
Derruba da esperança o seu império
E mesmo na carcaça aromatiza.

Mobílias deste sonho são fugazes,
Na liquidez da vida, simples gases,
Na fútil fortaleza de papel,

Amor vai se perdendo sem juízo,
Partindo derrubando cada guizo
Granizo que caiu em ciano céu.


222


Granizo que caiu em ciano céu,
Surpresa prometida a cada dia.
O medo se transforma em agonia,
A noite se rebela e muda o véu.

Do quanto que já fui, outrora incréu,
O quase vai tomando a poesia,
Não tendo mais porquês a vida cria
Em plena liberdade, outro corcel.

Um Ícaro que perde a sensatez,
Misteriosamente hipnotizado.
Não posso mais ficar aqui calado,

Sentindo o quanto bem amor me fez,
Depois ao entornar sua maldade,
Provoca a mais total disparidade...


223


Provoca a mais total disparidade
O lusco fusco intenso desse jogo
Queimando pouco a pouco a liberdade,
Não ouve da verdade qualquer rogo.

No quanto que eu desejo a noite invade,
Tramando o desencanto em que revogo
O sonho de saber felicidade
Na trama dos delírios eu me jogo.

As teias se entrelaçam, devagar,
Não posso e nem consigo divagar
Sobre os momentos úteis desta sanha.

Palavras vão girando em minha mente,
O quanto que inda quero se desmente
Deixando uma verdade tão tacanha...


224

Deixando uma verdade tão tacanha
Montanhas espiando um vale imenso.
Batalha tantas vezes quase ganha,
Vencida num momento bem mais tenso.

O quanto que se pode é o que se ganha,
E neste jogo enfim me recompenso.
Marcando com palavras cada sanha
Mudando o meu destino, eu me convenço;

Não segue na verdade, convenções,
Um passageiro alado; em vãos, liberto;
Eternas e benditas mutações,

Trazendo nos seus rumos, muitos temas.
Não temas meu amor, disso estou certo,
Amores vêm e vão; em piracemas.



225




Qual fossem estações várias de um ano,
Amores se sucedem em minha vida
Vivendo tão somente sem ter plano,
A cada novo tempo, a despedida.

Incidem nos meus sonhos vários sóis
Diversos sentimentos misturados,
Na areia deste mar, mil caracóis
Em cores e formatos variados.

À boca a mão não leva quase nada,
O creme da alegria é tão escasso.
Depois do pesadelo, a gargalhada,
Caminho em que tropeço, eu me desfaço.

Mas sigo face a face com a fera,
Abrindo no meu peito esta cratera...


226


Abrindo no meu peito esta cratera
Espero outro momento pra contar,
O verso que não fiz inda tempera
Gerando cada raio de luar

Que adentra esta tapera, novamente,
E regenera o sonho antes vencido.
Poema que se mostra num repente
Aos poucos pelo tempo corroído.

Ouvindo o que dizias; sacramentos.
Não quero conceber outra imersão.
Adubo que se faz dos excrementos
Garante um bem maior à plantação.

Nas cinzas do cigarro que ofereces
Amor faz seus leilões, suas quermesses...

227


Amor faz seus leilões, suas quermesses,
Rolando assim os dados morre aos poucos.
O quanto em nosso amor desenhos teces
Os gritos desperados seguem roucos.

Loucuras a granel; coleciono.
Mentiras estampadas no teu rosto.
Sabendo quanto herdei deste abandono,
O abono recebido está exposto

No beijo da medusa, estas serpentes,
Nos olhos desta Musa, uma aflição
Entranham nesta carne, fortes dentes,
Amor vai me açoitando até o chão.

Não perco meu sentido e nem raiz.
Descambo em outra andança por um triz...


228



Descambo em outra andança por um triz,
Farrapos estendidos na janela.
Melífera ilusão não pede bis,
Nem mesmo esconde ausência de aquarela.

Das celas tão profanas, a masmorra,
Nas selas dos meus sonhos, liberdade,
Selando uma emoção que me socorra
Talvez insira enfim, tranqüilidade.

Iníquos quanto inócuos os meus dias,
Intactas maravilhas; não mais vejo.
Amor se vinculando às agonias
Ensangüentado vinho que porejo.

Dos louros da vitória, sequer sombra,
Fantasma feito amor, decerto assombra...


229

Fantasma feito amor, decerto assombra,
Fazendo o coração virar sonâmbulo.
Do quanto que já fui nem resta sombra,
Vagando pelas ruas qual noctâmbulo.

Nas ânsias sem remanso e se descanso,
Petardos desferidos pelas dores,
Um sonho que virá eu te afianço
Talvez inda refaça velhas flores.

Satânicos prenúncios desta sanha,
Assanham meus sorrisos, volto à farra;
A boca desdentada ainda me apanha
E morde, lentamente, dente e garra.

Trazendo este cadáver no meu peito,
Eu rolo a noite inteira; insatisfeito...


230




Eu rolo a noite inteira; insatisfeito,
Beijando os meus escombros, bebo e lambo
O veio que se explode no meu peito,
Sorrindo do que resta, um vil molambo.

Escambos que fizemos no passado,
Estragos provocados por granizos.
No quanto de ironia é demarcado
O dia que vivemos sem juízos.

Transito entre as estrelas decadentes,
Espelho o quanto em nada já criei.
Não quero saber tráfego entrementes,
Meu barco noutro cais eu ancorei.

Olhar se transformando, catatônico,
Amor vai prosseguindo, assim, agônico...


231

Amor vai prosseguindo, assim, agônico
Mecânica ilusão não deixa rastros,
Em meio a tal cenário, arquitetônico
Caminho que aproxima vários astros.

Emplastros colocados nas feridas
Estranhas cicatrizes são formadas,
Do medo de sonhar já não duvidas,
Facetas tão diversas tatuadas.

Aladas mocidades, tempo passa.
A cruz que hoje carrego não mais pesa.
Saudades se perdendo na fumaça
Quem ama na verdade não despreza

Apenas ao sentir o fim da farsa
Na morte encontra o seu melhor comparsa...


232


Na morte encontra o seu melhor comparsa
Aquele a quem amor abandonara.
Uma esperança tola assim se esgarça
A graça se tornando bem mais rara.

Na praça dos delírios, sem carícias,
Estendo cada face deste aborto.
Morrendo sem saber das tais delícias
Sevícias encontrando em cada porto.

Aporto o meu desejo em outra senda,
O manto de retalhos da ilusão
Cobrindo o meu olhar, temível venda,
Desvenda os seus segredos, coração.

Tragando o meu cigarro, vou sem rumo,
No charco de minha alma eu me perfumo...


233


No charco de minha alma eu me perfumo
Catando o que restou – podres pedaços.
Olhando pro vazio, os sonhos fumo
E deixo nos escombros, velhos traços.

Atrasos em momentos cruciais,
Nas setas deste estúpido menino,
Quebrando os meus antigos castiçais
Oráculo macula o meu destino.

Na gula de viver felicidade,
Engulo esta fumaça do passado,
Regula cada sonho, uma saudade,
Maquio meu sorriso maltratado.

Manadas de tristezas me rondando,
As dores vêm chegando, bando a bando...


234

As dores vêm chegando, bando a bando,
Mas vejo no cortiço uma mansão
Vivendo o quanto quero desde quando
O tempo se mostrou em viração.

Carrego no meu peito o verso leve
Que molde num momento a liberdade.
A vida nos teus braços já se atreve
E ronda o tempo inteiro claridade.

Estúpida tristeza não mais quer
Saber do peito aberto que poreja
O gosto delicado da mulher,
Decerto o que se quer e se deseja.

As dores vêm chegando? Pobre delas...
Os barcos vão abrindo novas velas...

235

Os barcos vão abrindo novas velas,
Jogando os velhos trapos em teu mar.
O quanto tu me queres e revelas
Ensina que inda posso, enfim, sonhar.

Ondeio tuas praias, vou arisco,
E bebo cada gota de teu sal.
Não quero mais saber de correr risco,
Riscando do passado todo o mal.

Amalgamando o sonho benfazejo,
Esculpi teu retrato no meu peito,
Agora que percebo o quanto almejo
Estendo o meu olhar, já satisfeito

Desfeito este quebranto, sigo em frente,
Vivendo o teu encanto, novamente...

236


Vivendo o teu encanto, novamente
Eu tramo no final, grande vitória
O jogo que jogara anteriormente
Deixara tão somente em mim, escória.

Sorria teu amor, tanto eu te peço,
O manto dos teus lábios me recobre.
O amor que é feito em glória e sem tropeço,
Permite ao coração um gesto nobre.

De público eu declaro quanto eu amo
A doce criatura que se entranha
Olhar enamorado eu já derramo,
Voando sobre nuvens e montanha.

Na sanha que hoje assanha os teus cabelos,
Eriçam-se em desejos tantos pelos...


237



Eriçam-se em desejos tantos pelos
Da fera que me espreita nessa cama.
Carinhos tão gostosos de sabê-los
No fogo da loucura a vida inflama.

Não quero nessa trama refrigério,
Nem mesmo uma pacata lucidez,
O tempo vai passando e sem critério
Eu bebo tão somente insensatez.

Na tez amorenada desta musa,
O quanto desejei louco prazer.
Levando vorazmente a tua blusa
E sinto o fogaréu reacender.

Amor vem prometendo ventania
Tramando em nós perfeita sincronia...



238



Tramando em nós perfeita sincronia,
Amor em luz harmônica vigora,
O bem que se mostrou em alegria
Já sabe o que mais quer e quer agora.

Estrelas derramadas pela sala,
Irradiando lumes florescentes.
A gente vendo tudo não se cala
E beija com vontade, unhas, dentes.

Repare nesta lua na varanda,
A moça já não quer nem mais partir.
A vida recomeça essa ciranda,
E o tempo não tem tempo de impedir.

Amores se renovam noutro plano,
Qual fossem estações várias de um ano.


239


Por isso, coração, a dor não temas,
É fato quanto quero o seu remanso.
Temáticas pacíficas seus lemas,
Remoço o sentimento e sempre alcanço
A vida tão distante dos problemas,
Destarte a cada dia mais avanço.

E traço cada passo em noite imensa,
Vagando sem temores, vou ao vento.
Em toda sensação de recompensa,
Mais forte vai ficando o sentimento.
O medo determina a noite tensa,
O sonho em carrossel nega o tormento.

Capaz de ser feliz quem ama tanto,
Mandingas desfazendo um vil quebranto...

240


Mandingas desfazendo um vil quebranto,
Sonatas invadindo a madrugada,
Coleto das estrelas cada encanto
Desfio nosso amor numa alvorada.
Decoro nossa vida em pleno canto
No tanto que essa luz é desejada.

Do nada vou cerzindo a plenitude,
Cevando o meu destino em forte laço.
A cada amanhecer, nova atitude,
Permite novamente este regaço
Do sol que traduzido por saúde
Invade nosso mundo passo a passo.

Cadenciando o sonho eu encontrei
O amor que tantas vezes procurei.

241

O amor que tantas vezes procurei
Nos bares, nas boates, nos bordéis,
Igrejas, santuários vasculhei
Nas ondas beduínos carrosséis.
Carcaças desleixadas encontrei,
Abelhas destilando puros féis.

Farsantes heresias, outras tendas,
Escárnios e carinhos divididos.
Nos olhos da alegria ponho vendas
Tocando mais profundo os meus sentidos.
O quanto que eu desejo e não desvendas
Fazendo os nossos risos proibidos.

Nas idas, tantas vindas, eu não canso
Um mar de amor; imenso, agora alcanço...

242



Um mar de amor; imenso, agora alcanço...
Mareio entre as estrelas e as procelas.
Na areia que me aquece, o meu remanso
Depois da tempestade que revelas.
Futuro sorridente, sempre manso,
Mostrando o paraíso em ricas telas.

Na boca o doce gosto de hortelã,
Irradiando brilhos pela casa,
Saboreando agora esta maçã,
Veneno serpenteia e tanto abrasa.
O quanto é desejável o amanhã
A vida se encontrando não se atrasa.

Os cardos esquecidos nos caminhos,
Deixados pelos cantos sem espinhos...


243


Deixados pelos cantos sem espinhos,
Os medos não têm mais razão de ser.
Segredos que já foram mais daninhos,
Agora não conseguem subverter
O denso carretel feito em carinhos
Gostosa sensação de audaz prazer.

Perecem as tristezas esfaimadas,
Jogadas nos quintais ledos, baldios,
As horas do teu lado tão mimadas,
Encontram finalmente este desvio,
Ao ver o fim soberbo das estradas
O coração não quer ser mais vadio.

Recrio meus castelos e princesa,
Comendo no teu corpo a sobremesa...

244

Comendo no teu corpo a sobremesa
Eu quero ser eterno comensal.
Sabendo quanto é boa esta surpresa
Prazeres escondidos no bornal.
Depois ao perceber tanta beleza
Eu faço o meu retorno triunfal.

O amor é ritual, assim professo
Meus credos, minhas preces, orações.
Virando a minha vida pelo avesso,
Nos versos eu declaro tais paixões.
Aos braços deste encanto eu me arremesso
E deixo vir incêndios aos milhões.


Tristeza se guardando na masmorra,
Não tendo quem escute nem socorra...

245



Não tendo quem escute nem socorra,
Um prisioneiro aguarda o julgamento.
O quanto se deseja que não morra
Parece que se esvai em sofrimento.
Saudade neste instante chega e jorra
Molhando em força incrível, toma tento.

Atento, vou vencendo estas quimeras,
Refém do paraíso em que te achei,
Revivo a mansidão de antigas eras,
E sinto o quanto posso ser teu rei.
Errantes emoções, nas quais temperas
Aromas que tu trazes, sentirei

Enquanto houver um rastro de alegria,
Tramando em nossa vida, tal magia...

246



Tramando em nossa vida, tal magia
Espalho o teu sorriso pelo quarto,
Partícipe da festa eu já dizia
Do quanto em nosso amor quero e reparto.
O bem se transformando em fantasia,
Espelha a maravilha feita em parto.

O peito em sentimento nobre, eu abro,
Rompendo este silêncio que atordoa,
Quem teve um pesadelo mais macabro
Percebe o quanto a vida se faz boa,
Decora a nossa casa um candelabro
Ardências preciosas da coroa.

Girando o tempo inteiro, carrossel,
Vagando pelas noites, ganha o céu...

247


Vagando pelas noites, ganha o céu
Estrelas decorando os meus momentos.
O quanto que desejo trama o mel,
Mergulho em ti meus vários sentimentos.
Orgulhos e mentiras, mundo incréu,
Deitando em novas luas pensamentos.

Não tendo mais quem salve ou me conforte,
Não quero tais confrontos pela vida.
Empenhorando em ti caminho e sorte,
Eu vejo nossa história decidida.
Teus braços me servindo de suporte,
Cicatrizando agora esta ferida.

Mesquinharias; guardo na gaveta,
Minha alma na tua alma se completa...



248


Minha alma na tua alma se completa
Esmeros delicados influindo.
A vida que eu queria qual cometa,
Aos poucos em carinhos diluindo.
Amar e ser feliz se mostra a meta
De quem quer um futuro claro e lindo.

Um límpido azulejo invade o espaço
Decoro em pedras raras, cristalinas
O campo do prazer, divino paço,
Em raras expressões diamantinas.
O amor cerrando assim, com firme laço,
Explode em luas fartas, belas minas.

Termino cada verso te clamando
Ao mundo que entre nós vai se mostrando...

249


Ao mundo que entre nós vai se mostrando,
Adentro o pensamento libertário.
O céu de uma esperança iluminando
O vento que já foi mais temerário,
Agora o novo dia anunciando,
Demonstra um paraíso relicário.

São vários os motivos, te garanto,
Que fazem deste sonho, realidade.
Cevando em nossa vida tal encanto
Decerto encontrarei felicidade.
Eu quero te dizer que eu te amo tanto
Além do que é possível, na verdade.

Nas tramas deste amor eu sigo em frente,
No fogo que me faz calmo e contente...


250


No fogo que me faz calmo e contente
Acendo o meu sorriso, e vou à plena.
Contagiando assim, toda essa gente,
A vida pode ser bem mais amena.
O quanto que plantei, amor pressente
Vivendo a noite clara e tão serena.

Não vejo mais sequer velhas fronteiras,
Andamos pareados pela vida.
As horas vão passando mais ligeiras,
A solidão agora anda perdida,
Couraças que criamos mais guerreiras
Protegem contra a dor, trauma ou ferida.

Espalhas pelas noites fluorescências
Calando as mais temíveis penitências...


251



Calando as mais temíveis penitências,
O amor abriu as portas da alegria,
Não vejo tão somente coincidências
Percebo este poder feito alquimia.
Espalha assim o amor, benevolências
Trazendo a luz intensa a cada dia.

Impávidos olhares no horizonte,
Traduzem claras nuvens- esperanças.
No quanto o meu desejo sempre aponte
O riso prometido nas festanças,
Marcado por franqueza, viva fonte,
Na plena fortaleza em alianças.

Arcando com meus erros, sou feliz,
Um velho sonhador, vero aprendiz...


252


Um velho sonhador, vero aprendiz
Não cansa de aprender e quer bem mais.
O mesmo enunciado às vezes diz
Do barco que se foi sem ter um cais,
Ao mesmo tempo, amor já contradiz
E mostra ancoradouros magistrais.

Assim nas intempéries que encontrar,
Não deixe que o temor tudo destrua.
Seguindo cada raio de luar,
A noite com certeza é toda sua.
Vencendo a timidez, posso encontrar
A dama de meus sonhos bela e nua.

Amor não reconhece mais problemas,
Por isso, coração, a dor não temas.


253

Por mais que venha cedo o desengano,
O dia nascerá, tenha certeza,
A vida refazendo cada plano
Permite que se encare a correnteza

Amor um sentimento tão humano
Espalha em quem o sente tal beleza,
No gozo deste sonho soberano
A sorte põe comida sobre a mesa.

Leveza em cada passo, flutuando,
Alçando ao infinito, riso solto.
No mar anteriormente tão revolto

O barco calmamente navegando.
Palavras que se trocam, mais gentis,
No encanto deste canto, eu sou feliz...


254


No encanto deste canto, eu sou feliz,
Expresso em cada verso uma alegria.
No riso escancarado deste dia
Eu ouço o que eu queria, amor me diz.

Menino que se fez bom aprendiz
Abrindo uma porteira, a fantasia,
Recebe das estrelas tal matiz
Mudando toda escura cercania.

As cercas que ultrapasso a cada sonho,
Os rios caudalosos da saudade.
Meu barco nos teus rumos; cedo ponho

E sigo sem qualquer contrariedade
Vivendo sem ter medo de viver,
Cevando, vou colhendo o meu prazer...

255


Cevando, vou colhendo o meu prazer;
Acendo a brasa intensa da paixão,
O quanto que inda tenho de saber
Às vezes me transtorna uma emoção.

Decrépito, este velho passa a crer
Que a vida tem sentido e solução.
A cada novo fruto passo a ver
Amor chegando à minha direção.

Preparo os alçapões, enteso a linha,
A fisga na mirada, já se alinha
E o tempo da colheita não se esgota.

Recolho o quanto posso, vou à luta,
Silêncio no meu peito não se escuta
A solidão morrendo, tão remota...


256


A solidão morrendo, tão remota,
Explode num terrível pesadelo.
O amor que a gente tem, nunca tem cota,
Nos braços deste sonho a envolvê-lo.

Vontade de te ter jamais se esgota,
No doce balançar de teu cabelo
As luzes vêm chegando; em mansa frota
Os laços se entrelaçam num novelo.

Mosaicos infinitos, tantas cores,
Expressam os diversos sentimentos,
As flores invadindo os pensamentos

Dourando em esperança estes amores.
Atores desta peça universal,
Vivendo tão somente o bem e o mal...


257


Vivendo tão somente o bem e o mal,
Girando essa coroa o tempo segue
No gesto mais humano, magistral
Amor já não concebe quem o negue.

O quanto de desejo é ritual
Permite que alegrias eu navegue,
Bebendo do licor fenomenal
A vida calmamente assim prossegue.

Retendo cada brilho desta lua,
Deitando essa beleza no meu quarto,
O amor fazendo em nós divino parto,

Trazendo a maravilha intensa e nua
Permite que eu te fale sorridente,
Louvando todo amor que é só da gente...


258


Louvando todo amor que é só da gente,
Não quero usar imagens rebuscadas,
As luzes não serão mais ofuscadas
Iluminando a vida plenamente.

Por mais que uma saudade ainda tente
Mudar os rumos todos das estradas,
Amor fazendo em nós as escaladas
Permite uma viagem mais contente.

Garapa nos teus lábios, moça bela,
Menina que se fez estrela guia,
Entorna em meus passos poesia,

Amor pintando assim a rara tela,
Cenários tão diversos traduzidos,
Caminhos que seguimos mais unidos...

259


Caminhos que seguimos mais unidos
São largos sem ter pedras ou espinhos.
Os ventos da esperança são sentidos
Batendo nas janelas, abrem ninhos.

Os pós destas estradas; revolvidos,
Polvilham tais angústias nos sozinhos,
Porém quem tem os sonhos divididos
Recebem tão somente bons carinhos.

Os cardos arrancados, urzes, pedras
Nas mãos do amor; querida, eu sei não medras
E vences qualquer muro, vai liberta.

Palavra que encontrei pra traduzir
O bem que tantas vezes vi surgir,
Felicidade assim, em alma aberta.

260

Felicidade assim, em alma aberta
Adentra pela porta e faz a festa.
Amor vai arrombando qualquer fresta
Trazendo uma palavra sempre certa.

A solidão vazia, nos deserta
Somente a fantasia plena resta,
Sorriso benfazejo nos atesta
O quanto amor intenso nos liberta.

Encontro no teu corpo esta pepita
E dela o meu tesouro cristalino.
Aos olhos deste amor já me declino

Declaro todo bem que se acredita
Forrar a nossa vida em ouro puro,
Tramando um dia a dia com apuro...


261


Tramando um dia a dia com apuro
A moça do meu lado já sorri.
O quanto que passara em trilho escuro
Até chegar agora junto a ti.

Eu quero ser feliz, isso eu te juro,
E sinto que o lugar é bem aqui
Vivendo o nosso amor sincero e puro
Felicidade, enfim, reconheci.

Mulher que me extasia em mil prazeres,
Divina criatura que é só minha,
Meu peito no teu colo assim se aninha

Rendido à divindade dos poderes
Que emanas num momento de alegria,
Trazendo ao peito amargo, uma euforia...


262


Trazendo ao peito amargo, uma euforia
Mesclando estes sabores mais diversos,
Eu teço este cenário com meus versos
Volvendo o meu olhar ao manso dia.

Sabendo o quanto em ti eu já teria
Juntando sentimentos mais dispersos,
Matando outros menores e perversos,
Rendido a tal poder me salvaria

De antigas emoções inconseqüentes,
Vazias tempestades tão freqüentes
Em eloqüentes sonhos professados.

Os delinqüentes dias não voltaram,
De rosas velhos liquens se pintaram
Dourando o acinzentado dos passados.


263


Dourando o acinzentado dos passados
Deitando sobre nós os belos sóis,
Trazendo em teus cabelos caracóis
Brilhantes diamantes derramados.

Nos tons destes mares azulados,
Não quero que sejamos quais atóis.
Colhendo de teus olhos meus faróis
Caminhos tão diversos vislumbrados.

Eu quero e necessito desta luz,
Que aos poucos me domina e me conduz
Ao manto constelar de raro brilho.

Vivendo cada dia mais feliz,
Eu tenho e já recolho o que bem quis,
Calando o coração tão andarilho...

264


Calando o coração tão andarilho
A voz do amor se fez inquestionável.
Na fonte do prazer inesgotável
Derramo o quanto quero e maravilho.

Não vejo mais qualquer um empecilho
E sigo percorrendo o passo amável,
No mar do amor imenso, navegável
Eu traço com certeza o bem que trilho.

Por mais que tantas vezes enganado,
Andando por caminho torto, errado,
Eu inda tinha um resto de esperança

De ter após a dura tempestade
Algum caminho solto, em liberdade
Trazendo enfim um pouco de bonança.


265

Trazendo enfim um pouco de bonança
A quem por tanto tempo procurava
A cada ventania que encontrava
Distante percebia uma esperança.

Nos braços de quem quero, uma aliança
Vencendo a tempestade, forte e brava,
A sorte não se faz contada fava
Aos olhos de quem nega a contradança.

Olhando o meu passado em cinzas tons,
A melodia feita em tristes sons
Jamais permitiria algum prazer.

Ao ter tua presença do meu lado,
Matando em alegria o meu passado
Da fonte da alegria, eu vou beber...

266

Da fonte da alegria, eu vou beber
Descendo a correnteza da utopia,
O dia em claridade irá nascer,
Vencendo com certeza a noite fria.

O quanto que desfruto do prazer
De ter o teu amor, reter sangria,
Sabendo o quão sublime um bem querer
Tramando em nossa vida esta magia.

Felicidade viva em cada riso,
Amor que vem chegando sem aviso,
Mudando novamente cada plano.

Não temo me entregar, mergulho fundo,
Nos faustos deste sonho eu me aprofundo.
Por mais que venha cedo o desengano.

267




Renascem outros sonhos destas gemas
Explicitando assim, meu sentimento,
Rompendo num instante tais algemas
Eu vejo a vida leve, sem tormento.

Ungüentos que encontrei em teu carinho,
Palavras benfazejas, riso franco.
O sol vai penetrando de mansinho,
Promessa que se faz de um dia branco.

Nas ancas do corcel sigo liberto,
Chegando ao infinito dos teus braços,
O futuro que outrora fora incerto,
Agora se mostrando em novos traços

Permite que se sonhe e se imagine,
Um mundo aonde amor nunca termine...



268

Um mundo aonde amor nunca termine
Depois do amanhecer em plena luz,
Felicidade imensa se define
No olhar que uma esperança reproduz.

Alado cavaleiro, ganho espaços
E vivo a liberdade de poder
Atado com firmeza nestes laços
Saber, sendo cativo, ter prazer.

Amor não pressupõe farto heroísmo
Tampouco quero os louros da vitória.
Não tendo masoquismo nem sadismo,
No gozo em plenitude, toda a glória.

Assim ao cavalgar astros diversos,
Espalho no infinito claros versos...

269


Espalho no infinito claros versos
E bebo as calmarias que encontrar,
Vagando em liberdade os universos,
Nos braços deste amor faço o meu lar.

Lauréis; não imagino na chegada,
Nem mesmo uma fanfarra nem festejos
Apenas a manhã iluminada
Roubada destes sonhos mais sobejos.

Vagando nos meus céus, estrelas puras,
Reinando sobre os cantos, francos olhos.
Recolho tantas flores, sempre em molhos

Banhado pelos raios das ternuras,
Ferrolhos dos meus medos sem entrave,
Dos cofres eu encontro cada chave...

270

Dos cofres eu encontro cada chave,
Segredos desvendados; já faz tempo...
A vida do teu lado vai suave,
Não temo nos caminhos, contratempo.

Apenas me permito ser feliz,
Roçando a tua pele a noite mansa,
Não quero mais amores tão servis,
Imensa calmaria, assim me alcança.

Amor robotizado sem malícia,
Calor quando amornado traz marasmos.
Mosaico de prazer feito em carícia,
Tramando em nossa cama mil orgasmos.

Sarcasmos escondidos nos mormaços,
Não quero e nem suporto, mesmo os traços...




271


Não quero e nem suporto, mesmo os traços
Dos rastros da caçada da pantera.
O quanto já perdi fora dos braços
Daquela que eu desejo e que me espera.

No sexo performático, mentiras,
Circenses e sutis demonstrações.
Dos lençóis não sobrando senão tiras,
O fogo se espalhando nos colchões.

Resíduos deste tempo, eu jogo fora.
O amor não necessita disso não.
O bom de nossa vida, eu colho agora,
Na luz que se demonstra em mansidão.

Não temo mais as dores do ciúme,
Colhendo desta flor todo o perfume...


272


Colhendo desta flor todo o perfume,
Valeu a pena o tempo de cultivo.
É necessário além de algum costume
Trazer o coração atento e vivo.

Avivo nosso amor a cada dia,
Numa estação diversa, o trem prossegue.
Vencendo o sempre atroz melancolia
Não me deixo vencer, jamais entregue.

Caminho pelas ruas; vou aos bares,
E compro os meus cigarros, tiro um trago,
Às vezes mal percebo estes luares,
A lua encontro aqui, a cada afago.

Sentindo o vento doce no meu rosto,
Amor seguindo manso em peito exposto...


273


Amor seguindo manso em peito exposto
Trazendo todo o bem do amor em mim,
O quanto que eu perdi, sinto reposto
No gozo deste amor, que sei sem fim.

Afinidades tantas, par a par,
Vivemos o que somos nada mais.
Nos gomos da esperança desfrutar
Os cantos dos encantos magistrais.

Serenos os espaços que sabemos,
Cabemos onde a sorte já nos pôs,
O amor vem preparando nossos remos,
O sonho em maravilha se compôs.

Postergo uma tristeza, mato o medo,
Formato em nosso sonho, um novo enredo...


274


Formato em nosso sonho, um novo enredo
Na luta inesgotável, dia a dia,
A sorte não adia o seu segredo
O vento vem beijando em alegria.

Ferido passarinho sem ter asas,
Não sabe mais voar, restando aqui.
Amor reacendendo tantas brasas
Permite que eu me cure assim, em ti.

Concebo a cantoria em liberdade,
Espelho o teu sorriso em minha face,
Amor que sendo forte é de verdade,
No colo que se quer e que se abrace.

Cheirinho de café pela manhã,
A vida recomeça a cada afã...


275


A vida recomeça a cada afã,
Mudança prometida nestes ventos.
O gozo tão sublime da maçã
Entorna em minha vida, os sentimentos.

Amor que em fantasias acontece,
Expressa a mais divina realidade.
O quanto tanto tenho não se esquece
Amar é seduzir a liberdade...

Rolando nos teus braços, perco o fuso,
Redemoinhos tantos encontrados.
Do mel que tu me trazes, quero e abuso,
Canções e melodias, risos, fados...

O quanto te desejo o bem que fez,
Tocando insanidade, insensatez...

276

Tocando insanidade, insensatez,
O mar vai se mostrando na janela,
No horizonte a lua então se fez
Prateia num momento os olhos dela.

Singela criatura em noite clara,
Do amor que tanto eu tenho aqui comigo,
A vida neste instante se declara
Trazendo todo o sonho que eu persigo.

Passeio em arrebóis, simples cometa,
Chegando de mansinho e devagar.
Loucura que se quer e se cometa
Roubando nos seus olhos verde mar.

Beijando calmamente a bela flor,
Um colibri se entrega ao franco amor...

277



Um colibri se entrega ao franco amor
E vaga pelos campos sem destino,
Vivendo o quanto tenho a te propor
Aos poucos mansamente me alucino

No azul de teu olhar, estrela guia,
Reflexos destes mares que concebo
O amor ao invadir a poesia
Expressa todo o bem que agora eu bebo.

Na fonte inesgotável me inebrio,
Cantando todo amor que agora eu sinto,
O coração sem sonhos vai vazio,
Minha alma viciada neste absinto

Não quer e não percebe outra emoção,
Apenas neste amor vê floração...


278

Apenas neste amor vê floração
Jardim que tantas vezes cultivei.
E mesmo que encontrar a negação,
Amor se faz desejo, regra e lei.

A par destes momentos ao teu lado,
Não quero outra alegria em minha vida,
Seguindo o meu caminho enamorado,
A dor de uma saudade vai perdida.

Gostando simplesmente de poder
Dizer o quanto eu quero e não me canso,
Coleto a cada dia, o bel prazer
Na fonte que se mostra num remanso.

Jogando a solidão em mar profundo,
Não deixo de te amar um só segundo.


279



Não deixo de te amar um só segundo
A cristalina imagem que se assoma
Nas teias deste sonho eu me aprofundo
E a vida multiplica mais que soma.

Floradas espalhadas no jardim,
Aromas tão diversos, vou sentindo.
O quanto que te quero, sempre assim,
Eu sinto esta ventura que vem vindo

Trazida pela noite em lua calma,
Espalhando alegrias na varanda,
O vento da alegria dentro da alma
Convite à fantasia, uma ciranda

Girando entre as estrelas nunca pára,
O bem do amor fantástico antepara...

280


O bem do amor fantástico antepara
Permite ao caminheiro uma estalagem,
Cicatrizando assim qualquer escara,
Perfaz em calmaria esta viagem

Da vida que não cessa e nem descansa,
Em vales e montanhas, construída.
A sorte que se quer mostra a aliança
Que deve ser; decerto, uma saída.

Podemos enfrentar os terremotos
Que sempre irão chegar, esteja certa.
Por mais que vendavais sejam remotos,
Às vezes a alegria nos deserta,

Pepitas de um amor rompendo algemas,
Renascem outros sonhos destas gemas

281

E o tempo vai passando soberano...
Por mais que a vida trague a tempestade,
Vivendo tão somente o quanto explano
Estendo no caminho a liberdade.
Não quero mais saber de desengano
Colhendo a flor divina da amizade.

Menina que se fez amante amiga,
Trazendo esta florada ao meu canteiro.
No quanto a vida às vezes desabriga
Eu quero ser amigo e companheiro.
Ao ter em meu caminho a forte viga
Percorro sem temor, o mundo inteiro

Na força da amizade, amor sincero,
Eu tenho o que desejo e que mais quero...

282

Eu tenho o que desejo e que mais quero,
Contando com o apoio de quem amo.
Uma amizade cria um novo acero
Na proteção que eu sonho e já reclamo.
Por mais que o tempo seja amaro e fero
Defesas ao teu lado, amiga, eu tramo.

Não quero nem sicrana nem beltrana,
Somente o teu amparo satisfaz,
A vida pode ser muito sacana,
Mas saiba, a fortaleza sempre traz
O quanto é necessária e soberana
A vida que se mostra feita em paz.

Assim ao caminhar da humanidade,
Poder de um pleno amor, em amizade...

283


Poder de um pleno amor, em amizade;
Não deixa nossa vida tão exposta.
Na força que se mostra em liberdade,
A sorte de perdida vai reposta.
No amor que Deus nos deu, tranqüilidade
Trazendo para a dor, firme resposta.

No altaneiro sonho que eu trago,
O rosto da alegria eu já concebo.
Tomando da amizade cada trago,
Felicidade imensa, eu sei que bebo.
Na mão que acaricia; manso afago
Promessa desta luz que enfim percebo.

Distante do calor da mão amiga,
Eu sei que a chuva forte desabriga...

284


Eu sei que a chuva forte desabriga
Quem não souber que a vida compartilha
Criada entre nós dois a firme liga
Permite caminharmos qualquer trilha.
No amor que nos uniu; amada amiga,
Depois da tempestade a maravilha.

A vida se renova a cada afã
E deixa que se possa perceber
Na luz que nos tomando na manhã
Um novo e mais intenso alvorecer,
Não deixe que esta luz pereça; vã,
É nela que encontramos o poder.

Amar e ser feliz tranquilamente,
Andando lado a lado se pressente...

285


Andando lado a lado se pressente
Sabores preciosos dia-a-dia
Olhando para a lua, de repente,
Percebo imensa força em alegria
O quanto que se tem frequentemente
Traduz em nossa vida a fantasia.

Porém a solidão devora tudo,
Não deixa restar nada do que somos,
Calando o coração, eu fico mudo,
A fruta que não nega os doces gomos
Mostrando este caminho em que me iludo
Esconde na verdade o que já fomos.

Mas quando uma amizade se faz plena,
A vida vai em paz, segue serena...


286

A vida vai em paz, segue serena
Nas tramas tão suaves deste sonho.
Amor quando demais tanto envenena
Embora trague um dia mais risonho.
Palavra delicada e mais amena,
Acalma um pesadelo tão bisonho.

Enfrento a tempestade e o furacão
Teus olhos me servindo de farol,
No quanto se mostrou em sedução
O brilho deste amor, amigo sol.
Vivendo a cada dia uma explosão,
Eu sigo pela vida, girassol...

Catando cada rastro que deixaste
Sabendo o quanto em mim, iluminaste.

287


Sabendo o quanto em mim, iluminaste
Deixando uma saudade sem ter rumo,
A vida se passando em um contraste
Permite que se beba todo o sumo
Negando toda forma de desgaste,
Amor que tanto quero, eu sempre assumo.

Querências e vontades espalhadas
Toando melodias divinais.
Adentram serenatas, madrugadas,
Em jogos que desejo, sensuais.
As mãos quando em carícia entrelaçadas,
Expressam cantorias magistrais

Eu quero ser apenas passageiro
Do sonho que se mostra por inteiro.


288

Do sonho que se mostra por inteiro
Apenas os detalhes; não recordo,
Seguindo teu perfume, em cada cheiro
Amor vai penetrando e sobe a bordo.
Do barco imaginário e derradeiro,
Nos braços de quem amo; agora acordo.

E vejo que em verdade eu sou feliz,
Não quero e nem consigo disfarçar,
Amor vem clareando um céu tão cris
Derrama sobre nós belo luar.
Do quanto que te quero e peço bis,
Jamais me cansarei, enfim de amar...

Ao ver as folhas secas pelo chão,
Do outono que entranhei, colho o verão...

289



Do outono que entranhei, colho o verão
E dele cada fruto em meu quintal.
As aves vão voltando em migração
As roupas vão secando no varal
Por mais que venha agora outra estação
O ritmo deste amor é sempre igual.

Usufruindo sempre deste fogo,
Amor me fortalece e me conquista,
Vibrando tão somente no teu jogo,
A praia do meu barco já se avista
E vendo este farol vou desde logo
Querer do amor bem mais que algum turista.

Não posso resistir à tentação,
Do fogaréu intenso, este vulcão...

290


Do fogaréu intenso, este vulcão
Trazendo o teu sorriso tão ardente,
Promessa calorosa de um verão
No quanto te desejo, amor se sente.
Atenda ao meu chamado, coração
E venha me fazer, bem mais contente.

Somando nossos corpos, infinitos
Expondo num momento o paraíso.
Usando dos prazeres, nossos ritos
Permitem um caminho mais preciso.
Os dias do teu lado são bonitos
Expressam fielmente este sorriso.

Agora que encontrei felicidade
Eu sinto a cada dia mais saudade...


291


Eu sinto a cada dia mais saudade
Dos lábios tão gostosos da morena,
Vivendo a cada dia, ansiedade
De poder reviver divina cena
Amar e ser feliz: realidade
Crivando nossa vida em luz amena.

Menina que desejo tanto, tanto,
Estrela que me guia pela vida;
Tomado totalmente, em teu encanto
Percebo a sorte imensa concebida,
Vencendo qualquer dor, cruel quebranto,
A sorte se mostrando resolvida.

Assim, ao encontrar tuas pegadas,
Eu sinto em mãos macias, belas fadas...

292


Eu sinto em mãos macias, belas fadas
Roçando a minha pele, mil desejos.
As emoções agora anunciadas
Sentidos e quereres mais sobejos.
Nos beijos e carícias, madrugadas
Passando entre loucuras e lampejos.

Teu corpo, a mais divina catedral,
Nas preces e delírios, fonte e gozo.
Satélite que vaga pelo astral
Num ritmo desvairado e caprichoso,
Amor que nos invade, magistral
Delito que se faz, tempestuoso.

Nas pétalas dos sonhos multicores,
Estrelas espiando belas flores...


293


Estrelas espiando belas flores
Extremas sensações vão prometendo,
Estando par a par aonde fores
Estranhas emoções se convertendo
Entranho as ilusões destes amores
Estradas dos meus sonhos percorrendo;

Encontro em tuas mãos o meu destino,
Depois de me perder por tantos anos.
Cavalgo em noite clara e me alucino
Tramando em liberdade; novos planos,
O velho retornando a ser menino
Esquece em devaneios, desenganos...

Na boca sensual da namorada
A fonte insaciável desvendada...

294


A fonte insaciável desvendada,
Derrama-se em riacho, ganha o mar.
O quanto procurei numa alvorada
O sol que nunca veio me dourar.
Ao ver a mansidão anunciada
Nos braços da mulher vou me entregar

Na dança, a contradança prometida,
Nos olhos o farol que assim me guia,
Mudando todo o rumo desta vida,
Eu posso perceber farta alegria,
A solidão se esvai, vaga perdida
Morrendo pouco a pouco, a cada dia.

Ao léu vai se perdendo o desengano,
E o tempo vai passando soberano.


295


Assim como os cometas libertários,
Sem dono, sem juízo, sem paragem.
Os olhos que se foram solitários
Embrenham no passado essa viagem.

Vazios corações celibatários
Não sabem, pensam ser qualquer miragem
Perdendo dos seus rios, estuários
Esquecem de beber, do amor a aragem.

Destinos vãos, incertos, solidão...
O quanto tive e nada percebera,
Aos poucos me transformo numa fera

Clausura penso ser a solução.
Mas tendo tua mão sobre o meu rosto,
O peito se tornando, aberto, exposto...


296


O peito se tornando, aberto, exposto
Demonstra assim o quanto amor domina.
O tempo de viver já determina
De toda a minha história, cada gosto.

Amanhecer me encontra mais disposto,
Frondosa e necessária a minha sina
Setembro apascentando o frio agosto,
A primavera chega; em clara mina.

Assim, ao ver as flores pelos campos,
Vagando pelas noites pirilampos
Mostrando em lusco fusco outro caminho.

O coração que outrora fora vago,
Agora ao perceber um manso afago
Não quer e nem pretende andar sozinho...


297


Não quer e nem pretende andar sozinho
Erguendo a cada passo a sua fronte
Aquele a quem amor se deu em ninho,
Trazendo farta luz neste horizonte.

Quem tanto andara só, em desalinho,
Bebendo desta glória em mansa fonte,
Decora com delícias seu caminho
Reconhecendo amor, divina ponte

Que leva num momento ao rumo certo,
Vencendo as tempestades que encontrara,
A luz que nos guiando se faz rara

Oásis mais perfeito de um deserto
Expressa em nosso peito a fantasia,
Propondo com firmeza, uma alegria...


298


Propondo com firmeza, uma alegria
Abençoando a vida de quem sonha,
Espalha a mansidão em noite fria,
Promessa de outra senda mais risonha.

O quanto te desejo e te queria,
Quem ama não mais teme ou se envergonha
Espalha pelas ruas, poesia
Deixando a solidão morrer, tristonha.

Servindo com carinho ao servidor,
Levado pelas mãos da imensa paz,
Amor a cada dia já nos traz

Um novo alvorecer encantador.
Expresso em cada verso esta verdade,
Amor vem renovando a mocidade...


299

Amor vem renovando a mocidade,
Na juventude eterna de minha alma.
Portando tão somente a santa calma,
Estende os braços mansos, liberdade.

O gosto da alegria agora invade,
Reconhecendo o solo como a palma
Da mão que se mostrando em igualdade
Permite todo o sonho que me acalma.

Sem traumas vou seguindo cada passo
Da doce fantasia que busquei,
Dançando mesmo ritmo, no compasso

Das luzes espalhadas no ambiente,
Amor transforma tudo, de repente...
Mudando toda a sorte que encontrei.


300


Mudando toda a sorte que encontrei
Durante o vendaval de um pesadelo,
No bem transformador a nova lei,
Roçando cada fio de cabelo.

Revelo o quanto quero e procurei
Vivendo sem ao menos por tê-lo,
Amor insaciável nobre rei
Ao menos poderia em ti revê-lo.

Assim ao ver a pele semi nua
Da musa que se fez a doce amante,
Minha alma neste instante já flutua

E vaga em noite clara, lua mansa.
Um canto tão formoso e deslumbrante
A sorte de viver, amor, alcança...

301


A sorte de viver, amor, alcança
E deixa no passado toda a dor.
No quanto quero a vida recompor
O tempo de sonhar trama a festança.

Amor que pressupõe tal confiança
Deveras um farnel encantador.
Alvíssaras ao gozo com louvor
Marcando nosso mundo em aliança.

Enoveladas pernas sem fronteiras,
Misturas delicadas e sutis.
As horas preferidas, costumeiras

Adentram madrugadas, ganham dias.
Cansado de viver só por um triz
Entrego-me ao calor das fantasias...


302


Entrego-me ao calor das fantasias
E danço a noite inteira sem parar,
Percorrem teus salões, loucas magias,
Deixando farta luz a transbordar.

Nas marcas tatuadas, noites frias,
Os olhos procurando um novo olhar
Que possa num momento transformar
Destino que mal sabes tu cumprias

De ser a minha amante deusa e musa,
A ninfa desnudada no meu quarto.
Amor que se refaz do duro parto

Aquece em mão suave e tão confusa.
Difunde este perfume pela casa,
Aos poucos lenta chama nos abrasa...


303


Aos poucos lenta chama nos abrasa,
E o fogaréu se torna inevitável.
A vida feita agora não defasa
Permite que se mostre interminável.

Distante de Saigon, Bagdá ou Gaza
O dia vai passando mais amável,
A paz anda rondando a nossa casa,
O sonho se tornando inigualável.

Apenas quero ter o que não tive
Andar pelos lugares onde estive
Num tempo em que o amor se fez venal.

Erijo um monumento no meu peito,
Tramando um novo dia de outro jeito
Felicidade sendo natural...


304


Felicidade sendo natural
Meu rio vai seguindo calmamente
Levado pelas mãos desta corrente
Desaba numa foz fenomenal.

O sonho que se fez meu ritual
Percebe o quanto quero andar contente
Tomando a direção, já se pressente
Um dia em harmonia, sem igual.

Não quero mais sentir a solidão
Batendo em minha porta, a noite inteira.
Vencendo a ventania, abro o portão

O tempo vai mudando suas cores,
Atando em meus caminhos os amores
A noite vem surgindo alvissareira...


305


A noite vem surgindo alvissareira
Depois da tempestade que passou,
O quanto se deseja o que inda sou
Demonstra a sorte feita uma bandeira.

A luz que se mostrou ser derradeira
Tomando cada casa se afastou,
Amor que é muito mais do que se queira
Em novo alvorecer me dominou.,

Agora vou liberto sem ter medos,
Conhecendo estes jogos e segredos
Enfrento a qualquer hora uma batalha

Sabendo decifrar os seus sinais,
Eu quero o nosso amor e muito mais,
Felicidade imensa assim se espalha...


306


Felicidade imensa assim se espalha
Tomando toda a terra, num segundo,
Amor que se promete invade o mundo
Enfrenta o fino corte da navalha.

A dor tão carniceira, velha gralha
Tocando o coração de um giramundo
Pesando em minhas costas tal cangalha
Causando um mal enorme e mais profundo

Rondando a noite inteira, numa espreita
Enquanto a lua frágil já se deita
Tocaias preparando em noite imensa.

Ao ver tal reboliço amor me chama,
Apascentando assim a dura trama
Derrama em mil prazeres, recompensa...

307



Derrama em mil prazeres, recompensa
O bem do amor que tanto se entregou,
O pesadelo insano já domou
E torna a minha noite menos tensa.

Felicidade agora segue imensa
Tristeza no meu peito, enfim passou,
Vivendo tão somente o que restou
A sorte de sonhar se mostra intensa.

O quanto te desejo nunca nego,
Andara tanto tempo amargo e cego
Agora me permito ser feliz.

Vencendo toda forma de tristeza
Coloco este banquete sobre a mesa
Prenunciando o bem que tanto quis...


308


Prenunciando o bem que tanto quis
O vento benfazejo da esperança
Permite que eu me mostre mais feliz
Na força que se dá tal contradança.

Olhar que num desejo já descansa
Adentra toda a sala enquanto diz
Do quanto é necessária a noite mansa,
Dourando em nossa cama, mais e bis.

Deslizes cometidos no passado,
Jogados na janela dos enganos.
Os cantos que se mostram soberanos

Mudando num momento a sina, o fado
Vagando pela noite, temerários,
Assim como os cometas libertários.

309


O amor não se permite prisioneiro.
Um canto libertário se faz mote
Além do que pensara costumeiro
Na fonte que jamais aqui se esgote

Insaciável, busco a cada dia
Matar esta vontade que não cessa;
Deixando bem distante uma agonia
Roubando de teus olhos tal promessa.

Arcanas emoções, velhos caminhos,
Partícipes da festa que hoje eu vejo,
Em meio aos mais suaves, doces vinhos,
Nas mãos imprescindíveis do desejo

Num balé sensual, a noite passa,
No corpo da mulher beleza e graça.


310


No corpo da mulher; beleza e graça
Em sutis sensações doce delírio.
A mão que me acarinha e que me abraça
Impede em minha vida algum martírio.

Estradas que procuro em noite imensa,
Vestígios espalhados pelo chão.
Amor desafiando qualquer crença
Permite a mais sublime louvação.

No ser que se fez deusa enquanto Musa,
Segredos desvendados, sonhos feitos.
Do gozo imaginável, amor abusa
E come sem limite tais confeitos.

Esplêndida manhã que se anuncia
Impávida impressão de calmaria...


311


Impávida impressão de calmaria
Mostrando quão possível ser feliz.
O Amor ao espalhar farta alegria
Expressa o que emoção há tempos diz.

Cardumes constelares vão passando
Em noite iluminada, brilho farto.
A sensação de paz já nos tomando
Transmite esta esperança como um parto.

Colecionara dores, tristes sonhos,
Refém de uma amargura hereditária,
Olhares sem destino, vis, tristonhos,
Vivendo tão somente como um pária.

Nas mãos tão delicadas de um amor,
Novo caminho e rumo a se compor...

312



Novo caminho e rumo a se compor
Mudando a direção de antigos ventos.
Esperança entornando em cada flor
As cores dos sublimes sentimentos...

Nas tendas, nos luares e varandas,
Guarida que encontrei, braços serenos;
Meus sonhos e destinos, tu comandas,
Promessa de outros dias mais amenos.

Assim, ao te seguir eu me encontrei,
Legando ao meu passado a dor atroz.
Recolho em minha estrada o que plantei
Amor fortalecendo nossos nós.

Depois de tanto tempo, este eremita,
Percebe a vida calma e mais bonita...

313


Percebe a vida calma e mais bonita
Um velho trovador em versos mansos.
Já tendo todo o sonho em que acredita
Descansa toda noite em teus remansos.

No colo da mulher tão desejada
Uma certeza imensa se descreve,
A boca mais suave a ser beijada
Calando dentro em mim inverno e neve.

A vida me trazendo o refrigério
Que tanto procurara, há tanto tempo.
Desejo se tornando firme, férreo
Vencendo qualquer medo ou contratempo.

Semeias esperança em meu caminho
Inebriante sonho, um raro vinho...

314


Inebriante sonho, um raro vinho,
Melíflua sensação de gozo pleno.
Chegando em minha vida de mansinho,
Um mundo tão suave e mais ameno.

Descrevo em ti meu sonho predileto,
Alvissareira luz que imaginara,
A cada nova noite eu me completo
Tocando a bela estrela, imensa e rara.

Jogada pelos cantos deste quarto,
Saudade se esvaindo pouco a pouco.
Da sílfide perfeita eu não me aparto,
À dor os meus ouvidos são de mouco.

Néons vão clareando os passos teus,
Deixando para trás qualquer adeus...


315


Deixando para trás qualquer adeus
Do quanto que pensara nada ter,
Ao ver esta beleza imersa em breus
Refaço minhas ganas de prazer.

Outrora, a insegurança me impedira
De ver a luz após a tempestade.
Olhar do amor, farol, luzente pira
Mudando todo o rumo, claridade.

Nascido entre calcários e resinas,
Estrumes como adubo da minha alma.
Num átimo, tu vens e descortinas
Depois do vendaval sublime calma.

Assim, repondo o trilho de meus dias,
Encontro ancoradouro d’alegrias...

316

Encontro ancoradouro d’alegrias
No porto feito em braços, luz e glória
Vencendo as noites frágeis e tão frias
Bebendo com prazer cada vitória

Estendo os meus tapetes da esperança
Ardentes emoções se revezando,
O mar que se mostrou em temperança
Aos poucos minha vida vai tomando.

O quanto eu te desejo e não me canso
De ver a cada sol o teu olhar,
Um dia se prepara cedo manso
Bordando no meu céu lume solar.

Assinas com teus lábios tal promessa,
O tempo de sonhar já recomeça...


317


O tempo de sonhar já recomeça!
Quem dera se eu pudesse plenamente
Fazer de uma emoção sublime peça
Que impeça o sofrimento novamente.

Demente fantasia que eu criara,
Espreita que jamais se confirmou,
O bote da tristeza desampara
Matando o que inda resto do que sou.

Vivendo por viver, o tempo passa,
Girando em carrossel noites e dias.
A sorte pouco a pouco se esfumaça
Entregue às mais ignaras utopias.

Decifro os seus sinais; sou devorado.
Cadáveres que trago do passado...


318


Cadáveres que trago do passado
Entranham nos meus versos, degeneram.
O quanto que pensara fosse um brado
Agora os sons diversos desesperam.

Carcaças espalhadas pelas ruas,
Na mendicância crua, esparramada.
Enquanto mansamente continuas,
Não resta dos meus sonhos quase nada.

Apenas um sepulcro dentro da alma,
Vestígios do que fomos, vãos carinhos.
Colecionando dores, vivo o trauma
Da solidão imensa em nossos ninhos.

Assídua tempestade não se vai,
A tela ao fim da peça nunca cai...

319

A tela ao fim da peça nunca cai,
Palhaço agonizando no cenário.
O velho que pensara samurai
Não passa de imbecil ser temerário.

Algozes dos meus sonhos, os teus lábios
Ressecam com sarcasmo uma ilusão.
A frota sem destino ou astrolábios
Promete neste inferno, atracação.

O inverno recomeça a cada dia,
Amanhecendo em névoas, morto o sol.
Apenas me restou melancolia
A seca vai tomando este arrebol.

As garças vão embora, nada resta,
A solidão adentra em cada fresta...


320




A solidão adentra em cada fresta
Inundando de lágrimas a casa.
Nos olhos revolvidos em tempesta
O tempo nunca passa e já se atrasa.

A brasa que se esvai em fogo lento,
Matando uma provável esperança;
Mergulho no vazio e sempre tento
Inútil sensação de uma aliança

Sem álibi que possa me salvar
Estendo os meus olhares na varanda,
A noite vai passando devagar,
O passo sem destino assim desanda

E tudo o que pensara ser feliz,
No esgoto se perdendo, contradiz...


321


No esgoto se perdendo, contradiz,
Histórias que pensara serem belas,
O tempo devorando e por um triz
O barco inda mantém algumas velas.

Revelas o que queres, negação.
Ações intempestivas, derrocada.
Aos poucos vou perdendo todo o chão
Caminho em direção ao mesmo nada

Que um dia retratara minha vida.
Na tímida ilusão, ingênuos risos,
A faca aprofundando tal ferida,
A morte vem chegando sem avisos.

Quem sabe no final alguma luz.
Cicatrizando uma alma feita em pus...

322


Cicatrizando uma alma feita em pus
O fardo se tornara bem mais leve,
À transgressão insana já me opus,
Porém amor sem tréguas já se atreve

E rouba cada gota desta chuva,
Formando com mil lágrimas o açude
Cabendo nos meus sonhos como luva,
Mudando de repente uma atitude

Outrora tão passiva e mais pacata,
Num ato de rebelde insanidade.
O laço num instante se desata
Trazendo em ar mais puro, a liberdade.

Aprendo num momento alvissareiro:
O amor não se permite prisioneiro.


323


Na amargura sem par dos solitários
Segui por tanto tempo em minha vida,
Os olhos se tornando temerários
Distantes da emoção de uma saída.

Esgueiro pelas ruas, vou sem nexo,
Caminho entre mortalhas e sarjetas,
O quanto amar se mostra mais complexo
Em tramas imperfeitas e incompletas

Peçonhas encontradas em sorrisos,
Venais espectadores destes sonhos,
Minha alma se esparrama em falsos guizos,
Saltimbancos vorazes e medonhos.

Enfadonhos os dias se sucedem,
As mãos seguem vazias, nada pedem...


324


As mãos seguem vazias, nada pedem,
Esperam tão somente por milagres.
Dos sonhos que já tive, as bases cedem
Meus vinhos se transformam em vinagres.

A carne se esvaindo em tantas rugas,
A porta se fechando a cada dia.
Impossibilitando minhas fugas,
Amordaçando a voz da poesia.

Catando o que restara, assim de mim,
Encontro meus escombros nas caladas.
Não tendo primavera em meu jardim,
As roupas da esperança estão mofadas.

O riso em ironia de um canalha,
Tomando a minha senda já se espalha...


325


Tomando a minha senda já se espalha
Amarga e tão temível, dura praga,
No fio em que se mostra tal navalha,
A mão que me tortura, vem e afaga.

A saga continua a cada dia,
Arcando com meu peso, não sustento
O sonho de beber da fantasia
Morrendo, vai matando o sentimento.

Esboço, ao fim, alguma reação
Mas nada impedirá terrível sorte,
A vida me tomando em podridão
Prepara sutilmente a minha morte.

A flor que sem pendão jamais granou,
Apenas, os desertos espalhou...

326


Apenas os desertos espalhou
Os olhos de quem marca a primavera
Na seca que decerto nos tomou,
O gesto incoercível desta fera.

Caminha sutilmente e de tocaia
Espreita cada passo que se dá.
Armadilha na qual a sorte traia
Tocando a minha vida desde já

Jazendo pouco a pouco, uma esperança
Expressa em ironias, cada lavra.
A maldição mais sórdida me alcança
Avinagrando assim, minha palavra.

Sou menos do que pude imaginar,
Mortalha abandonada em preamar...

327


Mortalha abandonada em preamar
Jogada em plena areia, vai e volta.
Numa onda interminável viajar
Na imensidão do mar, noite revolta.

Estrelas espiando este cenário
Das dores entranhadas numa praia.
No canto tão amargo e solitário
A morte se aproxima e de tocaia

Espera um derradeiro brado agônico
Carcome uma esperança relutante.
A voz vai se perdendo e quase afônico
Esperança se esvai no mesmo instante.

Agora que não restam ilusões
Dominam, tal cenário, as solidões...

328


Dominam, tal cenário, as solidões,
Emoldurando as telas, o vazio.
Rolando pelas trevas, amplidões
Fantasmas que imagino, cedo crio.

Arrasto pelos pés, duras correntes,
Estrangulando os sonhos que tivera,
Os gritos desumanos e dementes
Prenunciando a vinda desta fera.

Refúgios renegados já faz tempo,
Apenas o silêncio ainda eu ouço
Reflexos da vida em contratempo
Do parapeito entranho o calabouço

Bem antes que esperança me socorra,
Adentro a profundeza da masmorra...

329


Adentro a profundeza da masmorra,
Levado pelos braços da saudade.
Imagem do que tive já se borra
Amortalhando assim a claridade.

O quanto amor se fez autofagia,
Estremas as unções que tu me destes,
Carpindo as mais sinceras fantasias,
Epidêmicas dores, velhas pestes.

Um mantra repetido à exaustão
Um dia prometera nova sorte.
Saudade do que fora uma ilusão
Condena uma esperança, assim à morte.

O pátio dos meus sonhos vai vazio,
Mergulho no passado, insano e frio...


330


Mergulho no passado, insano e frio
Estendo uma saudade no varal,
Recolho cada gota do vazio
Que um dia transbordou neste embornal.

A vida escarifica pouco a pouco
Aumenta esta ferida no meu peito,
O grito que se faz audaz e rouco
Estronda tão distante e nega o preito.

Argúcia se mostrando sempre inútil,
Escancarando a face desumana
Do tempo que se molda insano e fútil
Matando ao mesmo tempo desengana.

Soprando sobre nós a tempestade
Formada pelas chagas da saudade...


331


Formada pelas chagas da saudade
Mortalha que me cobre em noite escura,
A mão de quem se deu em falsidade
Durante a vida inteira me procura

E rasga, num momento, uma esperança
Vendendo seus pedaços numa esquina.
O medo de sonhar, quando me alcança
Um pouco do que resta inda extermina.

Minando uma existência outrora em paz,
Fadando a minha senda ao desengano,
Farrapos do que fui; saudade traz,
Num ato em desvario, desumano.

A morte da alegria assim tecida,
Tomando todo o céu de minha vida.

332

Tomando todo o céu de minha vida
As nuvens vão negando uma esperança.
A sanha há tanto tempo decidida
Esfarrapando o sonho, já me cansa.

O quase que domina minha história,
Descreve em solidão tudo que tive.
Por puro regozijo da memória
Refaço estes caminhos onde estive.

Migalhas de alegrias relembradas,
Aumentam dissabores, amarguras,
As esperanças todas já logradas
Entranham nos meus olhos tais torturas.

Somando o nada ao nada que me dás,
O fogo da saudade é mais audaz...


333


O fogo da saudade é mais audaz,
Não deixa sobrevir qualquer concórdia.
Enquanto a solidão amarga traz
A vida sem mudanças, monocórdia.

Ardendo nos meus olhos tal fumaça
Que enquanto não cessar o fogaréu
Aos poucos o que resta, assim esgarça
Fadando à treva imensa, este meu céu.

A carapuça agora já me cabe,
Não tenho outras palavras por dizer,
Bem antes que o castelo, enfim desabe,
Quem sabe, tenho a sorte de morrer.

Vivendo na mais frágil frialdade,
A pele se esvaindo na saudade...


334


A pele se esvaindo na saudade,
Expõe minhas entranhas, vagos lumes.
Carpindo a perda amarga, na verdade
A vida não me traz qualquer perfume.

Abutres vão fazendo os seus repastos
No corpo carcomido, entregue às moscas.
Sonhara com amores puros castos,
As luzes se tornaram bem mais foscas.

O beijo da pantera ao fim do dia,
Gargalha em ironia, extasiada.
Do quanto que pensara em fantasia
Não sobra, com certeza, quase nada

Somente um gesto antigo e renitente,
Expressa alguma luz neste poente...

335


Expressa alguma luz neste poente
Os olhos de uma amiga, coisa rara.
O quanto em vida fora um penitente
Ao final desta história a mão ampara.

Tragado pelo mar, redemoinhos,
Entregue a mais completa solidão.
Na ausência tão perene de carinhos
Acostumado ao mesmo, eterno não.

Eu vejo uma esperança que se forma
No vento da amizade benfazeja.
No peito prometendo uma reforma,
A luz tão delicada em que se veja

O brilho redentor da liberdade,
No olhar tão sedutor de uma amizade...

336

No olhar tão sedutor de uma amizade
Minha última esperança de vitória.
Quem sabe no final, tranqüilidade
Refaça todo o rumo desta história.

Imerso em noite negra eu não previra
As tramas tão sutis, inesperadas,
Por mais que eu sei que o mundo sempre gira
Não pude perceber novas estradas

Que foram se formando em meus caminhos,
Unindo nossas mãos, fortalecendo.
Ao ver que assim tirávamos espinhos
Um canto mais suave se tecendo.

Adentram nossos sonhos solidários,
Na amargura sem par dos solitários.


337


Eu bebo desta fonte noite e dia-
Insânia com carinhos misturada
Ferrolho que emoção decerto abria
Imagem que restou; imaculada.

O verso em que desenho o meu futuro
Esbarra numa métrica infeliz.
O chão vai se moldando árido e duro
Residual desejo que ontem quis

As cinzas do cigarro se espalhando
Nos céus que imaginara serem nossos.
Migalhas do que eu quero vão tomando
O quanto são profundos velhos poços

A lua que se fora enamorada
Dormita em noite vã, fria e nublada...


338

Dormita em noite vã, fria e nublada
Aquela que se fez minha esperança,
História há tanto tempo mal forjada
Deixando uma poeira na lembrança

Do pó no qual amor ora se fez
O risco de tropeço é inerente.
O fardo tão pesado, insensatez,
É tudo o que se tem; o que se sente.

Estendo ao infinito os meus olhares
Enfronho a solidão neste horizonte.
Aonde eu percebi que tu locares
O sonho; já secou a antiga fonte

Que eu sei, pressagiara uma ilusão,
Amor em amplitude, ao rés do chão...

339


Amor em amplitude, ao rés do chão,
Expira se não for tão bem cuidado,
Saudade vem florindo este botão
Perfumes se aproximam, lado a lado.

O Fado sem enfado nos permite
Viés em positivas referências.
Espera que ao amor já se credite
Calando as mais prováveis insolvências.

Sorvendo cada gota deste sonho,
Nas fráguas estelares eu navego,
Meu barco nestas frotas logo eu ponho
Mudando este destino em duplo cego

Agora que conheço tuas trilhas,
Renego as incertezas, andarilhas...

340


Renego as incertezas, andarilhas,
Acendo, com firmeza este farol,
Depois de navegar distantes ilhas
Aporto à maravilha de um atol,

Legando ao meu passado tais naufrágios
Expressas ilusões de um peito só.
Amor agora paga com mil ágios
Fazendo-me surgir do amargo pó.

Matéria que se fez outrora bruta,
Agora lapidada e cristalina
Mostrando-se deveras tão arguta
Cenário em cores claras já domina.

Elaborando um novo alvorecer
Emaranhando em nós, todo o prazer...

341



Emaranhando em nós, todo o prazer
O jogo vai chegando a um termo bom.
Apaziguados, ambos podem ver
O céu se matizando em manso tom.

Aromas que penetram as narinas
De flores tão diversas, perfumosas.
Enquanto tu seduzes, já dominas
Cevando noites belas, maviosas.

Amor em total brilho e com presteza
Não deixa mais sequer que alguém duvide
Da força que ao vencer a correnteza
A sorte em um momento assim decide.

Expresso em cada verso esta verdade:
Amor em plena paz traz liberdade.

342


Amor em plena paz traz liberdade.
Rompendo estas algemas, peito aberto,
Encaro a mais temível tempestade
Aguando de esperanças meu deserto.

Numa expressão comum, mas verdadeira
Uma união permite a fortaleza
Quem tem esta certeza por bandeira
Já sabe que quem ama não despreza

Todo o poder que vem desta emoção,
Louvando assim por certo, o poderio
Do quanto em artimanhas, tal paixão
Aquece e desfigura qualquer frio.

Soando como voz mais libertária
Às vezes é cruel, totalitária...


343

Às vezes é cruel, totalitária,
A mão que nos permite caminhar.
Por vezes nossa amiga ou adversária
Estende enquanto nega este luar.

Aragens tão diversas e complexas,
Extremas emoções se perfilando.
Em formas muitas vezes desconexas
Ódio e paixão um fogo ardente e brando.

Altar vezes profano, outras sagrado,
Espúrias indigências, mil tesouros,
Desértica presença em rico brado,
Efêmeros momentos duradouros.

No sim que se redoma em negação
Antíteses expressam a paixão...

344


Antíteses expressam a paixão!
Metade que te adora já sorri
Enquanto em outra parte a negação
Traduz o que em verdade concebi.

Não quero e te desejo a cada instante
Renego tua luz, mas sou falena.
O vento que me tortura num instante
Esconde a brisa mansa e tão serena.

Fartura traz a seca e me deserta,
Fragilidade emprega força imensa;
Estrada sonegada vai aberta
Na fome que se aplaca, a recompensa.

Neste agridoce fruto sobre a mesa,
Delícia que se toma em incerteza...


345


Delícia que se toma em incerteza
Um indomável sonho que aprisiona
Em supetão impede uma defesa
Ao mesmo tempo doma e se faz dona

Do quanto que inda tenho de só meu,
Paixão não quer saber, inda duvida.
De tudo que tivera e se perdeu,
Não quer e nem permite que divida.

As dívidas pagando com meu sangue,
O gosto quase podre da maçã.
A praia se perdendo neste mangue
Bendita solução para o amanhã;

Na mansa corredeira uma explosão,
Causando a mais feroz inundação.

346


Causando a mais feroz inundação
O que era gotejar já se transforma
A vida não detém tal furacão
Que muda num momento a sua forma

E o que era placidez não mais comporta
Ebulição extrema rompe o cais,
Abrindo em supetão, arromba a porta
Em pânicos divinos, sensuais.

O quanto que se entorna eu não duvido
O amor quando em total efervescência
Expandindo o arrebol com alarido
Mostrando a mais cruel, viva potência.

No fogo que se faz tão inclemente,
Conturba enquanto acalma toda a gente...

347


Conturba enquanto acalma toda a gente
O corte tão suave da navalha
O fogo que se mostra de repente
Num momento maior assim se espalha.

Não vendo sequer credo, cor ou raça
Amor é tempestade redentora.
Vigia enquanto toma toda a praça
Felicidade intensa e sofredora.

Algoz que amaciando nos domina,
Estrela desabada em noite escura;
Transborda em mar imenso a calma mina,
Amaciando a pedra outrora dura.

Amor sem ter juízo, em sanidade
Permite que se mude a humanidade...


348

Permite que se mude a humanidade
O braço mais suave de quem toca
Ao transmitir amor em amizade,
Exprime a sutileza desta troca

Na qual os vencedores são os dois,
Sem termos de vitória ou redenção.
A glória se mostrando no depois
Expressa a maravilha do perdão

A face carcomida da mentira
Toda excrescência podre da vaidade,
Ao pélago profundo amor atira
Sobrando tão somente uma amizade.

O quanto que é preciso ser feliz,
Apenas amizade sabe e diz..


349

Apenas amizade sabe e diz
Do jogo que se faz mais envolvente
A vida se permite ao aprendiz
Mostrando o que se quer, após, da gente.

A par destes caminhos, sigo ereto
Bebendo em cada fonte água mais pura.
Amor já não suporta qualquer veto,
É feito em perfeição quando em ternura.

Aprendo a cada dia mais um pouco,
É necessário sempre estar atento.
A solidão de um brado quase rouco
Condena uma esperança ao sofrimento.

Por isso, minha amiga, amada amante
Espalhe em teu caminho um diamante...

350



Espalhe em teu caminho um diamante
E faça deste sol teu companheiro.
O brilho que se mostra num instante
Permite que se aqueça o mundo inteiro.

Assim ao perceber quanta beleza
Espelha-se em teu rosto tu verás,
A força natural da correnteza
Trazendo para todos nós, a paz.

E nela uma verdade imorredoura
A mais sublime glória se pressente
Na luz que nos suprime enquanto doura
Mostrando quanto amor se faz urgente

Sabendo do poder da fantasia.
Eu bebo desta fonte noite e dia

351


E dela num mergulho alvissareiro;
Estrelas que dominam céu e mar,
O canto de promessa é verdadeiro
O derradeiro gesto diz amar.

Empresto o coração ao sonho leve
De quem em tantas vezes foi sutil,
A mão que te acarinha, que te enleve
E leve o que se mostre mais gentil.

Nas tílias e verbenas, o jardim,
Forrando os nossos sonhos em mil cores,
Vicejam; sobretudo, dentro em mim
As mais divinas belas, raras flores

Espalham tal aroma que inebria
Espelha o nosso amor, plena alegria...

352


Espelha o nosso amor, plena alegria.
Há tanto que desejo esta verdade.
A noite em que mergulho, outrora fria,
Inexpressiva fonte de saudade

Agora modifica tal enredo
E deixa que se veja um novo sol.
Amor ao perceber este segredo
Acende em nossa vida o seu farol.

Ancoro meu navio neste porto,
Fomento uma ilusão que não mais cessa.
O mar que outrora fora ledo e morto
Encharca a minha vida na promessa

Da enorme fantasia que alimenta
Acalmando a amargura, violenta...

353


Acalmando a amargura, violenta,
Meus dias serão mansos, nisso eu creio.
A força dominante que apascenta
Percebe e reconhece logo o veio

Aonde ao derramar as fartas luzes
Os olhos da esperança vão sublimes,
No quanto dentro da alma reproduzes
É tudo na verdade o que suprimes.

O pranto que se seca com carinhos
Ainda nos permite ver o sol.
Tomando em amizade estes caminhos
O brilho dominando este arrebol.

Esqueça toda a mágoa que tiver.
Felicidade é tudo o que se quer...


354

Felicidade é tudo o que se quer!
Certeza; eu tenho disso e não discuto,
Nos braços carinhosos da mulher
A calma que apascenta um fero bruto.

O regozijo imenso que se dá
Vencendo hostilidades inerentes
Querendo e conseguindo desde já
Além do que pensaras ou pressentes.

Presentes em meus dias corriqueiros,
Estradas vicinais vão se estreitando
Nos olhos destes mansos mensageiros
O mundo sem angústia nos cercando.

Em plena sensação de uma harmonia
Eu louvo o nosso amor em cantoria..

355



Eu louvo o nosso amor em cantoria
E faço os versos todos em repente.
O amor ao transbordar tanta euforia
Percebe e me concede estar contente.

Amor nunca se aprende num colégio,
É força que, inerente, já nos doma.
Amar não poder ser um sacrilégio
Em desamor se faz uma redoma

Que impede qualquer vento, qualquer brilho,
Matando uma esperança no marasmo.
Permita-me seguir teu passo e trilho,
Certeza de vibrarmos num orgasmo

A glória deste encanto que sem fim,
Apoderou-se inteiro, já de mim...

356



Apoderou-se inteiro, já de mim
O sentimento nobre e soberano,
Tomando em redenção o meu jardim,
Professa um canto ameno sem engano.

Celebro a cada noite em harmonia
Bebendo desta fonte cristalina.
Concebo fielmente tal magia
Que emana deste amor e nos domina.

Carrego nos meus lábios a lembrança
De cada beijo dado em noite clara,
A vida se fazendo em temperança
A quem andara só, decerto ampara.

Secando cada lágrima, um sorriso
De toda a sorte e glória, um doce aviso...

357

De toda a sorte e glória, um doce aviso
Chegando calmamente à nossa casa.
O vento da esperança é mais preciso
Mantendo sempre acesa cada chama.

Partilhas que se fazem são promessas
De um tempo em que virá tanta fartura.
No quanto que tu sabes e professas
A cada novo dia, com candura.

Uma amizade mostra quanto é belo
O caminhar sem medo ou aflição.
Expia com carinhos tal flagelo
Que causa a mais cruel arribação

Dos sonhos e dos risos mais gentis,
Mostrando que é possível ser feliz.


358



Mostrando que é possível ser feliz
Estendo uma esperança na varanda.
A sorte benfazeja já condiz
Com toda esta alegria que comanda

O sonho de um eterno trovador
Enamorado ser que não se cansa
De sempre revelar o bem do amor
Trazendo a vida calma e sempre mansa.

Por isso, num repente eu tanto falo
Do quanto necessito deste bem.
Eu quero ser cativo, e teu vassalo
Sabendo quando o sonho, agora tem

De uma realidade promissora
Vivendo toda a sorte desde agora.


359



Vivendo toda a sorte desde agora
Eu deixo para trás o que sofrera,
A força da alegria revigora
Apascentando a dor, temível fera.

No gesto mais amável a conquista
De toda a fantasia em brado forte.
O quanto em amizade já se avista
Um novo caminhar, um manso norte.

Assim entre as montanhas, cordilheiras,
Encontro um vale imenso em placidez.
De todas as terríveis bandalheiras
A paz tão esperada já se fez.

O quanto és minha amiga me permite
Sonhar o que se quer e se acredite...

360




Sonhar o que se quer e se acredite
É tudo o que mais quero em minha vida.
Vivendo a cada dia sem limite
Eternidade, a meta a ser cumprida.

Mesclando mil sabores eu entendo
Que tudo pode ser tão diferente,
Futuro mais pacífico; estou vendo
Rondando em calmaria toda a gente

Que deixa-se levar por um segundo
Nos braços deste sonho imaculado.
Numa extensão que englobe todo mundo
O bem que se professa, demonstrado.

Compartilhando assim, da claridade,
Entendo a salvação feita amizade...


361


Entendo a salvação feita amizade
Que possa em sintonia nos mostrar
O rumo em que se quer felicidade
Toando um sonho bom de se sonhar.

Janelas do meu peito sempre abertas
Permitem que eu entenda toda a luz
Rasgando das tristezas as cobertas
Alerta em paz intensa reproduz

O som que antes ouvira tão somente
Na boca de uma mãe extasiada,
Uma expressão divina que contente
A sorte que se mostra delicada.

Assim nesta corrente interminável
O mundo pode ser bem mais amável...

362

O mundo pode ser bem mais amável
Se todos perceberem quanto é bom,
Um novo amanhecer mais confiável
Cantando toda a Terra em mesmo tom.

Diversidades tolas esquecidas,
Vencidos preconceitos idiotas.
Abrindo com certeza em nossas vidas
De todas as barragens, as compotas

Assim quem sabe um dia se perceba
O quanto o ser humano se faz frágil
Por mais que em toda glória se embebeda
Apenas o amor cessa o naufrágio

Da espécie que se fez tão prepotente,
Mudando nossa história, de repente...


363

Mudando nossa história, de repente,
Um vento vem chegando de mansinho.
Necessidade mostra o quanto urgente
Cuidarmos com carinho deste ninho

Deixando como herança há tantos anos,
Ao ser que se pensara ser perfeito.
Soberba dominando os soberanos
Matando pouco a pouco e desse jeito

Apenas o vazio sobrevive
À fome insaciável desta fera
Que em nós, tenha a certeza sempre vive
Negando aos nossos filhos, primavera.

Poder ensandecido do dinheiro,
No orgulho que se mostra corriqueiro.


364


No orgulho que se mostra corriqueiro
O canto se tornando melancólico
Do outrora sentimento lisonjeiro –
Passado com certeza mais bucólico-

Não resta sequer sombra e nem resquícios
Do quanto fomos filhos mais gentis.
Agora em nossos olhos tantos vícios
Tornando-nos decerto bem mais vis

Eu vejo um fim cruel a quem não sabe
Beber da farta fonte da amizade.
E antes que esperança já desabe
Permita-se viver felicidade

Ao conhecer a paz, bem verdadeiro,
E dela num mergulho alvissareiro.

365


Surgindo nos meus olhos, poesia,
Espalho um canto alegre pelos ares.
Viceja toda a glória que se erguia
Cevando em fantasia estes pomares.

Crivando em luzes calmas passos claros,
Estende ao infinito, o pensamento,
Momentos mais felizes são tão raros,
Vivamos, pois o pleno sentimento

O quase tantas vezes foi meu hino.
Num estribilho insano e dolorido.
Agora ao perceber amor-menino
Destino do teu lado está cumprido.

Sou teu e nada mais importará
Te quero a cada instante, desde já...

366

Te quero a cada instante, desde já;
Vencendo qualquer curva que vier,
O canto que decerto nos trará
Beleza em raridade que puder

Sementes espalhadas nos canteiros,
Uma esperança sempre renovada,
Os dias que virão; alvissareiros,
Deixando para trás a curva, estrada.

No sopro tão bendito do amor pleno,
Sinceridade espelha o que nos toma.
Sentindo a doce aragem de um sereno,
Na fruta do prazer que já se coma

Resumos de momentos tão perfeitos,
Os rios vão seguindo mansos leitos...


367


Os rios vão seguindo mansos leitos
Deixando as cachoeiras para trás.
De todos os problemas já refeitos
Colhemos toda a luz que amor nos traz.

Celestes movimentos são eternos
E neles nosso amor se refletindo.
Distantes, bem distantes os invernos
No sol que sem limites vem surgindo

Forrando estas manhãs em claridade,
Nos lumes de teus olhos, meus faróis.
Além do que sonhei, tranqüilidade
Espalha em nossos dias, girassóis.

Um carrossel de sonhos anuncia
O amor que se refaz a cada dia...


368


O amor que se refaz a cada dia
Está na poesia, em cada canto,
Versando sobre toda esta alquimia
Traduzo em cada verso meu encanto.

Poreja em minha vida a luz sublime
Do quase que perdi, agora eu tenho.
Além de todo o sonho que se estime,
A vida se permite tem tal engenho

Riscando em nossos dias perfeição.
Nos traços em que vejo o florescer
Nas flóreas sendas tenho esta impressão
Perfume de alegrias e prazer

Deitando sobre nós o brilho mágico
Matando o que se fora, outrora trágico...


369

Matando o que se fora, outrora trágico
Um sonho que se fez audaz e insano,
Do quanto tive em vida um momento álgico
Coberto em solidão e desengano

Agora viro a página, em tão cálido
Caminho transformado em solução.
O céu que já nascera vago e pálido
Promete ao renascer uma explosão.

Do quanto amor se mostra enfim, mimético
Eu vejo o meu reflexo num mosaico.
Recebo este arejar doce e poético
Deixando o sofrimento vil e arcaico

Guardado num recanto e ali atônico
Calado pelo encanto – amor harmônico...

370



Calado pelo encanto – amor harmônico,
O verso que se fez em pessimismo.
O brado em solidão morrendo afônico,
Amor causando em nós um cataclismo.

Furores sem limites, fogaréu,
Ardências e calores, jogo feito.
Aladas fantasias, risco e céu.
Floradas de esperança no meu peito

Alcanço o que queria e desejava
Embora a lava queime nossos pés,
O quanto tantas vezes procurava,
Em sonhos, catedrais, altares, sés

Debulho os nossos ritos, faço a festa
O quanto ser feliz é o que nos resta.


371

O quanto ser feliz é o que nos resta
Amor já não suporta qualquer baque.
Toda felicidade a que se empresta
Não veste black tie, tampouco fraque

Amor sem ser de araque é sempre assim,
Faz festa tão somente por poder
Viver o que melhor encontro em mim,
Sem medo de ganhar ou de perder.

Acendo o quanto quer a cada instante,
Não teme as curvas, tolas, bebe espinho.
Em si, amor se mostra triunfante
Produz e se inebria em puro vinho

As vinhas de um amor; esteja certa
São feitas no lençol sob a coberta...


372

São feitas no lençol sob a coberta;
As tramas de um desejo que não cessa,
A porta quando está decerto aberta
Garante o cumprimento da promessa.

Bebericando o gozo ensandecido,
Acesas as fornalhas, não descanso.
Prazer que só é bom se dividido,
Depois de toda festa traz remanso.

No colo da mulher enamorada,
Nos seios e na boca, sem mistérios,
A noite desenhando a madrugada
Forrando em nossos sonhos, mil impérios.

As pernas e as vontades confundidas
Garantem em loucuras, nossas vidas...


373

Garantem em loucuras, nossas vidas;
As velhas serventias desta cama,
Nas nossas emoções já repartidas
A garantia prévia que nos chama.

Um dia abençoado, raro e belo.
Depois de tantos medos no passado,
Permite que se possa recebê-lo,
Amor em raio intenso demarcado.

Não tenho mais sequer ansiedade,
Nem mesmo algum resquício de uma mágoa,
Tocado pela força em tempestade,
Inundo o coração com a farta água

Bendita pelo amor que se faz veio
Dizendo tão somente por que veio...


374

Dizendo tão somente por que veio
Amor em nosso peito se deleita,
Vivendo sem destino e sem receio,
A gente se completa enquanto deita.

No quanto assim mergulho amor já sabe
E mostra toda a glória num segundo
Na vida de quem ama sempre cabe
O bem que se irradia pelo mundo.

Do jeito que vier, eu nada temo,
Estampo em meu sorriso, tal vitória
De todos os momentos, o supremo,
Transforma calmamente nossa história.

Assim, a cada dia, nova estrada
Expressa a noite imensa, enluarada.

375

Expressa a noite imensa, enluarada
O brilho sobre as flores no jardim,
Beleza que se mostra a cada estada
Do amor que sem limite existe em mim.

Floresce a cada sonho, uma esperança
Trazendo o teu perfume, rara flor.
O quanto que restou traz a lembrança
De um dia tão perfeito, encantador.

Canteiros entre belos colibris,
Expressam toda a sorte de viver.
Os lábios delicados e gentis,
Promessa de alegria e de prazer,

Cuidando tenramente, com carinho,
Afasto do rosal, qualquer espinho...


376


Afasto do rosal, qualquer espinho
Que possa macular teus pés tão belos.
O quanto tantas vezes fui sozinho
Arando em aridez sem ter rastelos

Castelos que criara, derrocados,
Apenas incertezas recolhidas.
Os versos que fizera, maltratados,
Expressam uma ausência de saídas.

Depois que pude ver tanta fartura
Nos braços da mulher que imaginara,
A mão que me acarinha em tal ternura
Permite que eu encontre em noite clara

A luz de uma fantástica emoção.
Carregue pelos céus, meu coração!

377


Carregue pelos céus, meu coração,
Levando assim, contigo uma esperança
De toda a mais perfeita tentação
Ao ter tua presença, a luz alcança

A dança que se faz em festa plena
Permite que se estenda sobre nós,
Beleza em que alegria nos acena
Deixando bem distante a dor atroz.

Amar é ser feliz? Às vezes sim.
Porém quando se trata de um tropeço
A luz vai se afastando, então de mim
Por mais que eu já repita: eu não mereço!

Amor com dor traz rima pobre e fria,
Matando toda a sorte que eu queria...

378

Matando toda a sorte que eu queria,
O coração se faz tão indefeso,
Não posso suportar tanta agonia
Trazida neste olhar, duro desprezo.

Se eu prezo o teu amor por que me negas?
Eu vivo tão somente por saber
O quanto caminhei sozinho às cegas
Na busca solitária por prazer

Depois de tanto tempo entregue ao nada,
Restando tão somente este vazio,
Adentro a mais dorida madrugada
E mesmo em tanta dor, um sonho eu crio,

De ter; junto contigo um novo dia,
Surgindo nos meus olhos, poesia...


379


Fazendo rebrilhar um sonho bom
Depois da negra noite em minha vida,
Promessa de se ter em novo tom
Manhã tão benfazeja ressurgida.

Não sei o quanto tenho que sonhar
Tampouco quanto tenho que pedir,
O vento que chegando deste mar
Não pode na verdade me impedir

De ter um canto amigo e mais liberto
Vencendo as ventanias do passado.
O passo se promete ser decerto;
Mais firme; corajoso e delicado.

O coração outrora tão partido,
Nos laços da amizade, decidido!

380


Nos laços da amizade, decidido;
Percorro meus caminhos, passo a passo.
Andara solitário e combalido
Agora nos teus braços me refaço.

A dor de ter perdido, cedo, o rumo,
Levara o pensamento ao desespero
De toda esta emoção que em paz assumo,
A vida modifica o seu tempero.

Recebo o teu carinho, minha amiga,
E faço de meu verso este estandarte
Ao permitir que a sorte assim prossiga,
Eu sei quanto é possível, adorar-te.

Deixando o canto triste, amargurado,
Jogado em algum canto do passado...


381





Jogado em algum canto do passado,
O sofrimento morre em pura inveja,
Agora que eu tenho do meu lado,
Encontro toda a luz que se deseja,

Num beijo e num sorriso, doces méis
Em toda plenitude deste sonho
Vagando por estrelas os corcéis
Do amor que eu quero tanto e te proponho

Nos abraços tão quentes que trocamos,
Senti tua presença e teu perfume.
O quanto na verdade nos amamos,
Permite que se mostre em raro lume

A sorte tão sublime e desejada
Da vida que se sente, assim, amada...


382



Da vida que se sente, assim, amada
Recolho meus momentos mais felizes,
A lua se espalhando na calçada
Promete em profusão raros matizes.

Canções vão percorrendo nossos ares,
Mergulhos em fantástica alegria.
Aonde e da maneira que sonhares
De ti farei a minha estrela guia.

Carrego dentro em mim a tua luz
E dela faço o rumo de meus passos.
A solidão que fora algoz e cruz
Sucumbe, cedo, à força dos teus braços.

É bom gritar ao mundo que hoje és minha.
Minha alma na tua alma já se aninha...

383


Minha alma na tua alma já se aninha,
Roçando com fervor os meus sentidos.
Não quero uma esperança assim sozinha
Morrendo entre mil beijos já perdidos.

Eu sinto que talvez possa sonhar
Depois de tantos anos pesadelos
Tocando a tua pele devagar,
Roçando com meus lábios teus cabelos

Sentindo o teu aroma inesquecível,
As peles que se encontram, mil promessas,
Deixando no passado, a dor incrível
Em noites tão vazias quão possessas.

Somando nossas forças, posso crer
Num novo e mavioso alvorecer...


384


Num novo e mavioso alvorecer,
A vida prometera um paraíso,
Porém na madrugada eu pude ver
Um passo tão difícil e impreciso

De quem eu aprendera, num momento
Falar em paz imensa e sedução.
O fogo que queimara embora lento
Um dia talvez fosse qual vulcão.

A noite que se fez então mais fria
Matou o que se quis e o que sonhei,
O dia renasceu sem poesia.
De tudo o que eu quisera, nada sei.

Distante do que eu pude imaginar,
Hoje eu decidi: vou te deixar!

385

Hoje eu decidi: vou te deixar
Liberta de qualquer algema e cruz,
Sabendo o quanto tenho pra te dar
Reconhecendo em ti a própria luz.

Amar é ser liberto, disso eu sei,
E tento conceber felicidade
Vivendo o que sei que viverei
Nos braços deste sonho em liberdade.

Que seja sempre assim o nosso amor,
Raiz que se permite florescer,
No encanto que se faz libertador
Vivenciando todo o bem querer

Sem medo, sem quimeras ou prisões,
Rompendo para sempre tais grilhões...

386


Rompendo para sempre tais grilhões
Que podem transtornar a caminhada,
Envolto nas sublimes sensações
Amor já não permite a derrocada.

Na calmaria a força da atitude
Que trama com pureza esta festança.
Amor quando perfeito em plenitude
Permite que se encontre a temperança.

Primeiro amor; ensaio para a peça
Uma obra prima sempre caprichosa
A cada temporada recomeça
A formidável cena fabulosa

Buscando em todo ensaio, a perfeição
Fantástico delírio em explosão...

387


Fantástico delírio em explosão
O que sinto por ti já me domina,
Amor trazendo sempre a perfeição
De todo o meu caminho, fonte e mina.

Viver o que pudesse enfim me dar
Um riso bem mais franco e mais sincero
Assim que eu conheci, pude notar
O quanto que eu desejo e agora quero

Aquela que se fez enamorada,
Rainha dos castelos que eu criei.
Mulher em raro brilho, enluarada,
Fazendo-me sentir, deveras, rei.

Eu te amo, simplesmente e nada mais.
Em ti tenho a certeza deste cais...

388




Em ti tenho a certeza deste cais
Que um dia fora sonho tão somente.
Vivendo estas promessas magistrais
Eu sinto que serei bem mais contente.

Juntando os pedacinhos do que somos,
Unindo nossos passos, posso crer
Que a fruta saborosa em tantos gomos
Agora no pomar vou recolher.

Bebendo deste sumo inigualável
Matando a minha sede neste pote.
Além do que pensara imaginável
Refaço em alegria um velho mote

Colando nossos corpos, o desejo
Guiando nossas vidas num lampejo...

389


Guiando nossas vidas num lampejo
O pensamento invade e num segundo
Formata toda a forma de desejo
Levando a sensação de um novo mundo.

Recebo o teu carinho a cada dia
Com toda uma emoção que nunca cessa.
Sangrando em nosso canto a poesia
Expressa toda a forma de promessa.

Revolve os sentimentos, trama o gozo
Encanta enquanto traça em nova senda
Um mundo com certeza mavioso,
Segredos da alegria, amor desvenda.

E saiba, neste sonho belo, intenso,
Apaixonadamente eu sempre penso...


390


Apaixonadamente eu sempre penso
No quanto eu poderia te dizer
Outrora solitário em mar imenso
Vazios já cansei de percorrer.

O verso que se fez enamorado
Deitando uma esperança no meu peito
Carpindo o quanto fora desgraçado
Morrendo pouco a pouco, insatisfeito.

Das rimas que encontrei: amor e dor,
A solidão rimando com paixão
Cenário que se mostra alentador
Nos olhos da mulher em sedução

Um canto mais ameno me dizia
O quanto eu quero ser a poesia.


391

O quanto eu quero ser a poesia.
Estende em nossa vida este tapete
Mudando todo o rumo, amor nos cria
Um sonho que eu bem sei não se repete;

Estrelas espalhadas no colchão
As luzes na ribalta da esperança
Rodando em carrossel tal turbilhão
Aos poucos consolida esta aliança

Sentir tua presença junto a mim,
É ser um ser liberto sem algemas.
Consigo conceber o amor enfim,
Distante das mentiras e dilemas.

Eu sinto o quanto é bom poder dizer
Do amor que nos emprenha de prazer...


392

Do amor que nos emprenha de prazer
Deixando a solidão audaz tão só,
O canto quando encanta deixa ver
Distante nesta estrada, todo o pó.

Um coração que fora solitário
Ao ter tanto carinho se refaz.
Do quanto o medo foi autoritário
Amor se fez presente e mais capaz.

A paz que ele professa se espalhando
Em todos os momentos, já permite
Viver além de tudo sempre e quando
Um mundo sem fronteias ou limite

A lua derramando argênteo tom
Fazendo rebrilhar um sonho bom.

393


A lua se espalhando invade o dia
Formando com o sol, belo casal,
Forrando toda a Terra em poesia
Num gesto tão divino e magistral

Fomenta assim a sorte que se dá
A quem sempre deseja ser feliz.
Quem dera se eu tivesse desde já
Aquela que busquei e tanto quis.

Mulher da lua plena, rara estrela
Que brilha eternamente dentro em mim.
Vontade de poder sempre contê-la
Num sonho sem igual, tão belo assim.

Vivendo a fantasia, alegremente,
Manhã extasiante se pressente.


394

Manhã extasiante se pressente
Nos olhos da mulher maravilhosa
Que faz a minha vida ser contente
Estrela que me guia, fabulosa.

Plantando o coração em fértil solo,
Arando com cuidado e com firmeza
Amor quando em verdade não tem dolo
Enfrenta calmamente a correnteza;

De todos os meus sonhos, sei que trago
Um canto mais suave e mais bonito
Na vida que se dá calor e afago
Um mundo em paz total, eu acredito

Somando nossas forças, não mais temas
Rompemos desde já tantas algemas.

395


Rompemos desde já tantas algemas
No canto libertário que nos guia.
A vida que se mostra em mil problemas
Encontra na esperança a fantasia

E deixa toda a dor que antes tivera
Adormecer num canto desta casa.
Deixando bem distante a dura fera
A sorte renascendo em mansa brasa.

O medo de viver tanto maltrata
Aquele que não sonha e nem percebe
O quanto se permite e se resgata
O bem que uma alegria já concebe.

Do verso que se fez em solidão
Renasce bem mais forte uma ilusão.

396

Renasce bem mais forte uma ilusão
No peito de quem tenta ser feliz.
Rondando em minha cama, um furacão
Expressa o que eu quisera e amor me diz.

Mergulho nos teus braços, deusa amante
Singrando os loucos mares da esperança.
O quanto necessito a cada instante
Da vida que se faz em temperança

Nos olhos de quem sonha com a lua
O brilho não se apaga, é sempre forte
O canto em madrigais já continua
Riscando com desejos trama o norte

Assim, somando forças vou contigo
Vencendo toda forma de perigo...


397


Vencendo toda forma de perigo
Que possa tocaiar nossa esperança
O quanto que desejo e já persigo
Promete uma manhã mais calma e mansa

Porém por tantas vezes vi meu mundo
Caindo e desabando, sem sentido.
O coração feroz e vagabundo
Durante tanto tempo andou perdido.

Agora ao perceber um novo vento
Que pode me trazer felicidade
Poeira novamente toma assento
Deixando bem distante esta saudade.

Não quero mais seguir sem ter destino,
Um belo alvorecer eu descortino...


398

Um belo alvorecer eu descortino,
Com cheiro de café, fogão à lenha.
Lembranças dos meus tempos de menino,
Saudade, por favor, eu peço, venha

E traga o rosto belo de quem fora
A deusa que eu sonhara, há tanto tempo;
Vontade de voltar a ter agora
A vida sem cansaço ou contratempo.

O galo que cantando de manhã
Acorda todo mundo e faz a festa
A vida recomeça em duro afã
Delícia de viver o que me resta

Tomando cada gole de alegria
Roubado neste sonho, uma utopia...


399



Roubado neste sonho, uma utopia;
O gosto da morena sensual.
Vertendo em minha cama a fantasia
Do gozo prometido, sem igual.

A boca que me roça e que me entesa
Expressa a maravilha a cada toque,
Amor que a gente quer e que se preza
Vem de mansinho e nunca de reboque

Cadenciando o passo chego já
Trazendo o coração porta estandarte
A vida neste instante brilhará
Reinando a fantasia em toda parte

Bebendo deste amor que não tem fim,
Em pétalas divinas, meu jardim...


400


Em pétalas divinas, meu jardim
Floresce com perfeita sintonia
Mostrando o que melhor existe em mim,
Forjando com paixão a poesia.

No dia que virá em luz e flama,
O tempo não permite outro final.
O quanto a gente quer e já se inflama
No jogo que não cessa, sensual;

Consensos encontrados, vamos nessa
Que o tempo nunca deixa de passar.
Assim que esta vontade recomeça
O jogo nunca pode terminar.

Refaço este caminho e não me canso,
Deitando nos teus braços meu remanso.


401


Deitando nos teus braços meu remanso
Cabocla sertaneja, um gozo, um riso.
De tudo o que eu mais quero eu afianço
Está neste teu corpo mais preciso.

Ventando sobre nós a mansidão
O campo se promete em verde intenso.
Vencendo toda angústia e solidão
No quanto eu sou feliz agora, eu penso.

Fumando o meu cigarro, o peito aberto,
Alertas entre espreitas e tocaias,
Do rumo que pensara ser incerto
Encontro finalmente mar e praias

Deitando o nosso amor em lua cheia
Castelos construídos são de areia...

402


Castelos construídos são de areia,
Decerto o mar virá e nada sobra.
A solidão se mostra em fria teia
O quanto amor nos deu, a vida cobra.

Recobro os meus sentidos, vou sozinho
E o peito solitário bebe o vento
Deixando em pensamento antigo ninho.
Agora a noite trama o sofrimento

Momentos de paixão? Eu sei que tive
Platéias delirantes, mil cenários.
Nas mãos todo o vazio que retive
Decerto amores foram temporários

O quanto que pensei que fosses minha
Perdeu-se numa noite vã, sozinha...


403


Perdeu-se numa noite vã, sozinha,
O rumo que pensara ter achado.
Encanto que eu quisera e nunca vinha
Deixando o coração desabrigado

Migrantes amarguras retornando
Depois de tanto tempo. Fui feliz.
Agora só pergunto aonde e quando
Terei aquilo tudo que bem quis

E um dia fora meu, ao menos quase.
A vida preparando uma surpresa
Repete como a lua cada fase
O peito enamorado, simples presa

Do jogo de viver, fria pantera,
Ao preparar seu bote já me espera...

404

Ao preparar seu bote já me espera
A fria solidão, velha parceira.
Inverno que adentrou a primavera
Hiberna uma ilusão, amarga esteira.

O quanto que eu pensava enfim poder
Sorrir depois da enchente que encontrara
Aguando meu canteiro eu pude ver,
A flor que se mostrou divina e rara.

Porém a vida trama num falsete
E mata o que pensei ser esperança
Da festa prometida, sem confete
Acaba num momento o riso e a dança.

Catando o que restou desta ilusão
Exponho nestes versos, coração...


405

Exponho nestes versos, coração
Um velho bandoleiro sem juízo;
Rasgado pelas forças da paixão
Caminha sem destinos, impreciso.

Forrando a sua cama em ledo espinho
Vestindo esta mortalha simplesmente
Vagando em noite fria, vai sozinho
Inebriado sonha tenazmente

E pensa no sorriso da morena
Que um dia veio cedo e já partiu.
Ao longe uma esperança ainda acena,
Num toque tão estúpido e sutil

A morte se anuncia a cada gota
Da chuva que teimosa não se esgota...


406


Da chuva que teimosa não se esgota
Nublando toda a Terra, traz em águas
Imagem destrutiva e sempre rota
Tramando no meu peito tantas mágoas.

Retratam cada parte deste sonho
Que agora eu posso ver em pesadelo.
O barco noutro mar, teimoso eu ponho
E sei que assim jamais irei revê-lo.

Mas tento, num instante olhar o céu,
Sonhando com o azul que nunca veio.
Galopa o pensamento qual corcel
Buscando a liberdade sem receio.

Olhando para a noite uma utopia:
A lua se espalhando invade o dia.

407

E mostra a claridade em mesmo tom
Aquela se fez amante e amiga,
O verso se espalhando tem o dom
De produzir o sonho que me abriga

Urtigas que colhi em teu jardim
Retratam todo o bem que tu me destes,
Mantendo a fantasia até o fim
Recolho em meu caminho tombos, pestes.

Carcaças carcomidas deste amor
Montanhas de vazias esperanças.
Do nada simplesmente vou compor
Os cantos que tu trazes; tuas danças.

Depois de certo tempo eu percebi
O quanto de amigável resta aqui

408

O quanto de amigável resta aqui
Depois do que sonhei e não retive
O amor que tantas vezes persegui
E sei que dentro em mim, resiste e vive.

Somando o que perdi e o que ganhei
Elas por elas. Sinto que valeu.
A porta que em momentos adentrei
Agora tão distante se perdeu.

Mas peço que tu lembres da estadia
Do amor que tantas vezes foi inútil.
Embora minha pobre poesia
Pareça aos teus ouvidos, sempre fútil

Espelha na verdade o sentimento
Marcado em solidão e sofrimento...


409

Marcado em solidão e sofrimento
Eu tento um novo verso que refaça
O tempo de sonhar que em pleno vento
Aos poucos, firmemente se esfumaça.

Na praça e nos coretos do passado
Meninas e cinemas, lua, encantos.
Agora tão somente o mesmo enfado
Espalha a solidão aos quatro cantos.

Mesclando minhas dores com as tuas
Odores misturados, bom suor.
As carnes nesta cama, fomes nuas
Prometem movimento bem melhor

Nas ancas e quadris, doces balanços
A lua se refaz em raios mansos...

410


A lua se refaz em raios mansos
Deitada sobre um campo magistral
Olhando para as fontes e os remansos
Permite que se tenha o visual

De sendas promissoras entre flores
Marcantes esplanadas sem mistérios.
Algozes; entretanto em tantas dores
Matando as esperanças sem critérios.

Serenas, as estrelas vão guiando
Em meio a tantas trevas, caminheiros
Que o reino de esperanças usurpando
Estraçalham venais, seus companheiros.

No amor entregue às traças e baratas
As hóstias escondidas, nestas matas...

411


As hóstias escondidas, nestas matas,
Sanguinolentas marcas entranhadas.
Os olhos derramados em cascatas
Dos pães apodrecidos, mais fornadas.

O riso em tempestade, o gozo fútil
O amor que não se deixa mais flagrar
Arando em terra seca, árida, inútil
Apenas o vazio a encontrar

Deixando o gosto amargo em cada boca
Formando um turbilhão em desespero.
O medo vai tomando cada toca
Na ponta do fuzil, novo tempero.

No quanto pude crer em solução
Vi fogaréus sem dó nem compaixão...


412

Vi fogaréus sem dó nem compaixão
Descendo sobre todos, pesadelos.
A marca da fatal destruição
Rondando sobre nós frios novelos.

A tempestade ardendo em lava e chama,
Mesclando num mosaico, sangue e pus.
O verbo se fazendo em nova trama
E toda esta loucura já faz jus

Ao quanto que se teve e se perdeu,
O manto que viera em santo abrigo
Aos poucos dentre tantos concebeu
Vitórias deste joio sobre o trigo

Assim, numa loucura que não cessa,
Eu vejo ser cumprida a tal promessa...


413

Eu vejo ser cumprida a tal promessa
Que há tanto fora feito e nunca ouvida.
A mão que esfacelada assim se engessa
Não vê quanto sublime a própria vida

Numa avidez sem par, abutres rondam
A carne mal nascida, agora exposta
Milhares de tempestas já se estrondam
E cortam, mais profundo em fina posta

Aposta já perdida e sem remédio
O gozo do prazer não antepara
A morte a cada dia faz assédio
Uma alegria agora, é peça rara.

Neste museu de dores e fumaça
Amor amortalhado em cada praça.


414




Amor amortalhado em cada praça,
Vendido nas esquinas e motéis.
O jeito que se dá já não disfarça
Secando em amargura, velhos méis.

O mês que se passou, ano que vem,
O tempo nada muda, só repete
Nos olhos refletindo este ninguém
No fio da navalha ou canivete.

Jogada nas senzalas, a esperança
Estritamente cega não vê nada.
Matando no princípio, a temperança
Em mão sem ilusões já desarmada

O quanto que sonhamos... idiotas
Amor já capotando em novas rotas...


415


Amor já capotando em novas rotas
Vagando pelas noites mais escuras
Abrindo em tempestade tais compotas
Alaga e não promete mais as curas.

Vendidas nas igrejas e nos bancos
Das praças e farmácias, drogas tolas.
Encontro estes sorrisos bem mais francos
Apenas nos fuzis, balas, pistolas.

E assim, seguindo intenso vendaval,
Aborto a cada dia um verso audaz.
Na pútrida emoção, velho jogral
Mostrando o quanto penso e sou capaz

Comendo deste prato inusitado,
Amor vai tropeçando, estabanado...


416



Amor vai tropeçando, estabanado,
Sarcástica ilusão, vil covardia.
Andando o tempo inteiro, baseado
Na antiga sensação de galhardia

Eu vejo em ironia o quanto ris,
Fantasmas de mim mesmo pela sala.
Do todo que pensara ser feliz
Apenas a minha alma, vã vassala.

Na vala da esperança, uma sarjeta
Esgoto toda a sorte num momento.
Quem dera se eu pudesse, qual cometa,
Liberto receber o doce vento

Que morre bem distante desta cena,
A mortandade segue amarga, amena...



417




A mortandade segue amarga, amena,
Calando todo sonho mais piegas
A boca que me beija e me envenena
Caminha em noite imensa, sempre às cegas.

Egrégio de outro tempo; eu vejo tudo
E novamente omito o que hoje sinto.
Seguindo o mau caminho, sigo mudo
Em trevas o futuro agora eu pinto.

Aceito tão passivo tais verdades,
Na faca que se aponta numa esquina
Os olhos vão negando as claridades
A podre sensação já descortina

O amor que não devia ser assim,
Matando o que inda resta dentro em mim...


418


Matando o que inda resta dentro em mim,
Exponho o meu cadáver pelas ruas.
Jogando creolina em meu jardim
As bocas que se mordem seguem cruas.

A cada novo guizo, cascavéis
A cada novo porto, o meu naufrágio.
Deixando para trás velhos corcéis
O peito vai ficando exposto e frágil.

Carcaças de esperanças num esgoto,
Estrelas derrapando no teu céu,
Bebendo cada gota do vinhoto
Vendido em drogarias como mel.

Se eu fosse o que pudesse, mas não creio
No amor que se faz cinza e sem recheio...


419


No amor que se faz cinza e sem recheio
Cerzido pelas mãos de Satanás
O quanto que pensara sem receio
Agora não verei sequer a paz.

O jeito é traduzir um pesadelo,
Mordaças colocando em cada boca.
Vencido pelo anseio de retê-lo
A morte vai batendo em cada toca.

Na troca de favores, jogatinas,
Nos bares, cabarés, ruas, calçadas,
Na carne destruída das meninas
As graças concebidas, destroçadas.

Atando estes grilhões a cada pé
Aluguel que se faz de toda fé.

420


Aluguel que se faz de toda fé,
Na prostituição deste cordeiro
Vendido em cada templo, igreja ou Sé
Exposto ao mais temível carniceiro.

Amigo, o que fizeram, pois de Ti?
Exposto a tais velhacos mais famintos
No quanto que ensinaste, eu aprendi
No sangue derramado, rubros tintos

Lavando toda a Terra do pecado,
Ungüento salvador logo esquecido
Nos olhos deste Amigo iluminado
Caminho a ser, deveras construído

Derrama sobre nós Teu sonho bom
E mostra a claridade em mesmo tom.

421


O quanto a noite em luzes principia
Permite que se sonhe colorido
Porém a tempestade e a ventania
Sonegam qualquer lume ali contido.

Eu sei que talvez seja um exagero
Um verso que se faz em pessimismo
De tudo que em verdade, penso e gero
Não quero só falar em cataclismo.

Mas quando vejo o abismo se alargando
Na estúpida rapina que se trama
Castelo da esperança desabando,
A voz já não se cala e assim declama

Sonhando com a força da amizade
Deixada há tanto tempo, na saudade...

422

Deixada há tanto tempo, na saudade,
A luz que se pensara redentora.
A gralha vai negando a liberdade
Crocita sempre aqui, não vai embora.

O lobo que em matilhas segue a caça
Prepara em noite escura o seu ataque
Trazendo em agonia a velha traça
Busca o melhor momento para o saque.

Capacho de si mesmo, homem algoz
Estampa em sua face a fome insana,
O bote que se dá bem mais feroz,
Demonstra a dura espécie desumana.

Quem dera amor raiasse na manhã,
A vida não seria torpe e vã.

423


A vida não seria torpe e vã
Se o amor não fosse apenas tal miragem.
O quanto poderia neste afã
Realizar contigo esta viagem.

Porém a vida trama outras verdades
E deixa a solidão, fatal herança,
Não quero ter somente as vaidades
Estúpidas, cruéis de uma esperança

Eu quero muito além de um simples cais,
Ancoradouro sempre mais seguro.
Decerto que eu procuro, agora mais,
Que um simples clarear em céu escuro.

Bem mais que estar feliz e satisfeito,
Eu quero em nosso caso, amor perfeito.


424


Eu quero em nosso caso, amor perfeito
Sem ter o que tirar nem mesmo pôr
Que traga todo o gozo que é direito
De quem se fez em vida um sonhador.

A mansidão distante da rotina,
O gesto benfazejo da amizade
O fogo por detrás desta cortina,
O sexo feito em plena liberdade.

O riso mais safado e mais moleque,
Um canto de alegria que não cessa
Abrindo no horizonte todo o leque
Vivendo muito além de uma promessa.

Amor sem preconceitos ou limite,
Permite que num Deus eu acredite.


425

Permite que num Deus eu acredite
Convites que fazemos sem ter hora.
Não quero e nem aceito mais palpite
Eu quero o nosso amor decerto, agora.

Eu quero que tu venhas me salvar
Do medo de morrer em solidão,
Bebendo tua boca devagar,
A chuva se espalhando no sertão.

Buscando em noite escura, o meu abrigo
Encontro nos teus braços o meu cais,
Vivendo todo o sonho que persigo,
Eu juro, não te deixo nunca mais.

Vem logo ser a prenda que eu sonhara,
Uma estrela absoluta em noite clara...


426


Uma estrela absoluta em noite clara
Dançando em minha cama faz a festa
Amor que a todo tempo se declara
Ateia tanto fogo na floresta

Abusa em ser feliz e dar prazer,
Vencendo qualquer trama, sem receio
Guiando pela vida a converter
Em sorte o que se fez em tanto anseio.

Trazendo tanta febre pro meu quarto
Explode em fogaréu gozo e delícia.
Depois deitando em ti, feliz e farto
Começo novamente e com perícia

O jogo matinal que não termina,
Adoço com prazer a fonte e a mina.


427


Adoço com prazer a fonte e a mina
Seduzido e feliz peço de novo
O jogo que me entranha e já domina,
E nele toda noite me renovo.

Eu provo desta insânia e quero bis,
Vencido pelo gozo que se dá
Eterna sensação de um aprendiz
Que quer e nunca mais te deixará.

Bem mais do que podia ter um dia,
Medida sempre justa feita em riso,
O amor que assim se esbalda em poesia
Resume o que pensei ser paraíso.

Esfinge que se mostra decifrada
A vida vai passando iluminada...

428


A vida vai passando iluminada
Deitando o corpo nu sobre meus braços.
A carne em tua carne tatuada
Atada por estreitos, firmes laços.

Perpétua sensação de ser alguém,
Vivenciando a glória de poder
Sentir a maravilha que hoje vem
Cobrir a minha pele de prazer.

Espelha em teu sorriso, franco, aberto
Certeza de quem sabe o que bem quer,
Aguando em esperanças meu deserto
Delírio feito em forma de mulher

Caminho te buscando a cada instante
Estrela que surgiu, rara e brilhante...


429



Estrela que surgiu, rara e brilhante,
Extrema fantasia em noite clara.
O tempo de viver ser teu amante
A cada verso amor, já se declara

Aclara meus caminhos, redentora,
Louvando estas pegadas que tu deixas
Vencendo as tempestades desde agora
Não tenho mais rancores sequer queixas.

Mergulho em cada fonte, sem temores,
Adentro cada senda, bebo a fonte.
Matizes tão diversos, raras flores
O sol vem me mostrar belo horizonte

Teu corpo, cais profano e delicado,
Sem medo sem juízo e sem pecado...

430


Sem medo sem juízo e sem pecado
Eu vago a noite inteira nos teus braços,
O amor extasiante em seu recado
Permite que se vejam belos traços

Unindo nossos sonhos e desejos.
O revolucionário sentimento
Estremecendo a casa em relampejos
Espalha sobre nós o louco vento

E singra pela noite em cais insanos,
Rasgando as nossas roupas, nos lençóis
Mantendo bem distante os desenganos
Misturam pernas, pêlos, caracóis...

Nas sanhas sem senzalas, em covis,
Os gozos mais atrozes e gentis...


431


Os gozos mais atrozes e gentis,
Espetáculo audaz e sem platéia
Cenário inebriante pede bis.
A vida vai seguindo insana; atéia.

Chegando de manhã mais sorrateiro
O sol vem penetrando em nosso quarto
Corpo ainda desnudo, feiticeiro
Deitado num prazer imenso e farto.

Jogadas pelo chão, cinzas e vestes,
O tempo não tem tempo de esperara
No gozo em que sorris, tu me revestes
Do quanto que eu pensei e já sonhara.

No mar de amor que invade nossa cama,
Inundação em gozos nos inflama...

432




Inundação em gozos nos inflama
Demonstra toda a força da paixão.
O quanto desejei ter tua chama
Tomando com loucura o barracão;

Incêndios programados que aliviam
As dores que trazemos de outros dias.
Nos jogos que decerto nos viciam
Delícias derramando poesias.

Amor que na verdade não precisa
Do verso pra saber que tem valor.
Sabendo quando quer ser brasa ou brisa
Estrela deste mundo encantador

No palco desfilamos velhas cenas
Divinas explosões; doces e amenas...

433



Divinas explosões; doces e amenas
Espocam nesta noite maviosa
Aguçam dos vizinhos as antenas
E deixam toda a rua em polvorosa.

Felizes dois amantes, dança e festa
Melindres são deixados porta afora
O fogo que se espalha cedo atesta
Do quanto amor nos cura e revigora.

Chacoalha a nossa cama, arrasta os pés
Bagunça o meu coreto em reboliço.
O barco soçobrando o seu convés
Prenunciando o gozo que cobiço.

Atiro-me em teus braços, trapezista,
Sem ter seque platéia que me assista



434


Sem ter seque platéia que me assista
Eu sigo o tempo inteiro do teu lado.
Passando o que passei numa revista
Entendo por que estou maravilhado.

A moça que se deu em farta graça
Invade o pensamento e não me larga,
Destino com suave tinta traça
Estrada da esperança, agora larga.

Embarga a voz de quem se fez em pranto,
Vestido de tristeza e solidão,
Toando com ternura um novo canto
Encontra a mais sublime perfeição

Já sabe decifrar com alegria,
O quanto a noite em luzes principia.


435


Garante ao manso dia o raro dom
O amor quando se expressa em sentimento.
Nos beijos eu percebo o quanto é bom
A gente se entregar ao doce vento.

Vivendo a fantasia em noite clara,
Vencendo qualquer chuva que vier
O amor que em alegria se declara
Do jeito e da maneira que puder.

Palavras que se trocam; mil convites
Perdendo todo o rumo, vou liberto,
No gozo que se dá já sem limites,
Percebo o quanto audaz, sigo liberto

Nas noites que varei a te buscar,
O sonho tão gostoso de sonhar...

436


O sonho tão gostoso de sonhar
Entrando em nossa casa abre a janela
Adentra de mansinho, devagar
Enquanto a maravilha se revela

Nas coxas e nas pernas da morena
Deitada em minha cama, deusa e musa.
A lua enamorada bebe a cena
E brilha enquanto a amada tira a blusa.

Confusas nossas tramas nos lençóis
Mistura que se faz deliciosa.
Em plena madrugada, vários sóis
Mormaços entre rendas cor de rosa

Bandida que me leva em noite escura,
Do quanto que me adora mente e jura...

437



Do quanto que me adora mente e jura,
Mas deixa o coração em plena festa;
Na boca que me beija sem tortura
A sorte que se quer e já se empresta.

Colado em tua pele, tatuagem
Vencendo a tempestade que virá
Areia movediça dá coragem
Desejo sempre e tanto desde já.

Saltando sobre colchas de retalho
Bacante se mostrando toda nua,
O grito em fogo intenso; eu logo espalho
E o tempo de sonhar se perpetua.

Serpentes que te entranham e te rabiscam
Desejos e prazeres se confiscam...


438


Desejos e prazeres se confiscam
Nas chamas que se querem e se buscam,
Em lutas sensuais carnes se riscam
E os brilhos sem limites sempre ofuscam.

O quanto determina cada ensaio
No jogo principal, ferventes ritos.
Deitando esta vontade, eu já me espraio
Entregue aos teus destinos, sonhos, mitos.

Fomentos e delírios, riso farto,
Momento inesquecível, fogaréu...
Lareiras incendeiam todo o quarto
Trazendo sobre a cama imenso céu.

Depois de tanto tempo quase agônico
Amor se mostra em canto harmônico...

439

Amor se mostra em canto harmônico,
Tramando a melodia inesquecível,
Amor que se fazendo assim, sinfônico
Estende sobre nós um som incrível;

Na lírica presença deste encanto
Solfejos, cançonetas versos soltos
Deitando nosso jogo em mesmo manto
Os mares dos prazeres são revoltos.

Estradas e caminhos percorridos
Depois da luta inglória do passado
Desejos e vontades incontidos
Jorrando um bem divino, ilimitado.

Eu quero nesta sanha estar contigo
Teu corpo sendo sempre o meu abrigo.

440



Teu corpo sendo sempre o meu abrigo
Durante as tempestades e os reveses,
O quanto te desejo e não consigo
Vencer os descaminhos e os vieses.

À noite vem chegando como um verso
A voz que me inebria e me acalanta,
No gozo do desejo, não disperso
Meu sonho num momento se agiganta

E chega, mansamente no teu quarto
Deitando o meu prazer no louco cio
Do quanto te desejo e não me aparto,
Decerto em tal carinho eu me vicio.

Vontade de chegar e te tocar,
No fogo dos prazeres, me acalmar...


441


No fogo dos prazeres, me acalmar;
E neste paradoxo sigo a vida,
Decifro os teus sinais, adentro o mar
Não deixo mais que venha a despedida.

Acerco-me de ti a cada instante
Meu karma delicado e tão gostoso,
Teu corpo já desnudo e provocante
Convoca para a festa feita em gozo.

Amor não se comenta em bastidores
Apenas vivencia nossos sonhos.
Aonde tu quiseres como fores
Momentos mais felizes e risonhos,

Do jeito e da maneira que puder,
A caça que se faz quando bem quer.


442



A caça que se faz quando bem quer
Um dia se mostrando em outra senda,
No rosto tão bonito da mulher
Segredo que decerto não desvenda

No quanto amor se entrega sem limites,
Não vejo mais teus rastros pela casa.
Eu peço e necessito que acredites
A chama deste sonho está sem brasa

E morre tão somente em frio intenso,
Vertendo a dor em forma de ilusão.
Parece que o amor é contra-senso
Vazio aumenta a força do tufão.

Não posso te esquecer nem um segundo,
No abismo em solidão eu me aprofundo...

443

No abismo em solidão eu me aprofundo
Procuro então a corda que me leve
E traga num momento mais fecundo
Um riso sempre franco, mesmo breve.

Enlevos de outros braços que permitam
Ainda alguma forma de sonhar,
Os dias em que as dores delimitam
O tempo de viver e procurar

Encantos onde a vida permitir
Carícias noutro porto, ancoradouros.
A força que me possa compelir
Na busca por fantásticos tesouros

A cada novo dia mais desejo
Amor que seja mais que um relampejo...

444



Amor que seja mais que um relampejo
Permite que eu vasculhe todo o templo
O quanto te desejo sempre almejo
O sonho pelo qual, amor contemplo.

Exemplos encontrados nos caminhos
Demonstram que inda posso ser feliz;
Não quero andar distante dos carinhos
Que a moça num momento quer e diz.

Parelhos nós iremos bem mais libertos
Vencendo quaisquer lutas que virão.
Se os nossos corações estão abertos
Decerto reveremos o verão.

Assim em pleno estio, sol e brilho,
Faremos redentores cada trilho...

445

Faremos redentores cada trilho
Que possa nos dizer felicidade.
O coração audaz de um andarilho
Não teme sentir dor, traz liberdade.

O parto que se fez em redenção
Já trouxe este rebento magistral.
Amor na mais sublime tentação
Espalha este desejo sem igual.

Agarro tuas mãos e vou à festa
De todos os sentidos, sem receios.
A blusa que se abrindo mostra em fresta
Delícia sensual de belos seios.

Na doce sedução destas romãs,
As luzes irradiam, cortesãs...


446


As luzes irradiam, cortesãs,
Chamando para a dança e pro festejo
As horas que se foram, tolas, vãs,
Agora vão entregues ao desejo

De ter tua nudez em minha pele,
Acesas as vontades que revelas,
Ao fogo do teu corpo amor compele
Meu barco se perdendo, insanas velas.

Soprando sobre nós o minuano,
Guardando na guaiaca teu sorriso,
O tempo é rei, deveras soberano,
Mas sabe decifrar quanto é preciso

A quem se faz eterno navegante
Chegar ao infinito num instante...


447


Chegar ao infinito num instante
Depois de percorrer distantes léguas
Amor se faz sublime e dominante
Não deixa e nem permite simples tréguas

Adentro os templos todos deste amor
Refaço em cada prece uma oração
Que feita com ternura e com fervor
Permite que eu encontre a solução.

De tanto que eu errei a vida afora
Por tanto que eu sofri, ora eu persigo
A fonte que alimenta e revigora
Abrindo nos caminhos o postigo

Eu quero o teu querer e nada mais,
Aporto o meu desejo no teu cais...


448

Aporto o meu desejo no teu cais
E encontro o que buscara a vida inteira,
Depois destes mergulhos abissais
Agora tenho em ti a companheira

Que mostra ser possível noutro passo
Vivenciar o fogo das paixões.
O quanto te desejo, amor eu traço
Espaços infinitos, tentações.

Perceba quanto o sol já nos aquece
E mesmo num mormaço nos suprime,
Amor que quando vem rejuvenesce
No encanto que quem ama não reprime


Estende sobre nós e em vento bom,
Garante ao manso dia o raro dom.



449





Que é feito da beleza em fantasia,
O sonho mais perfeito, disso eu sei.
O quanto que, decerto eu te queria
Em cada poesia mergulhei.

A chuva vai caindo mansamente
Desejo umedecendo os teus sorrisos
Amar e ser feliz se faz urgente
Vontades desabando sem avisos

Formando vendavais em tempestade
Rugindo em nossos peitos, fera insana,
Riscando todo o céu desta cidade
No gozo que em prazeres cedo emana

O fogo tão guloso, intensa chama
Tua presença amor logo reclama...


450

Tua presença amor logo reclama
Chamando para a noite tão vadia,
Arrisco e se petisco vem e chama
Mistura de loucuras e magia.

Teu corpo se entregando à festa plena
Bailando em minha pele escrava e musa
Alucinante mágica serena
Debaixo desta saia e desta blusa.

Na cicatriz profunda em ferro e fogo
Marcada eternamente nas entranhas.
Buscando este mergulho desde logo
Sangrando nas delícias, risos manhas,

As bocas se procuram; doces, cruas
As peles se vasculham, frágeis, nuas...

451


As peles se vasculham, frágeis, nuas
Rolando pelas noites bebem tudo,
Nos bares e motéis, sarjetas, ruas
O quanto que te quero e não me iludo.

Mudando a direção de antigos ventos
Quem sabe poderei chegar a ti?
Em tantos descaminhos, por momentos
Do pouco que eu sabia me esqueci

Um canto libertário se perdendo
Em tantas discrepâncias, vagas rotas.
A lua melancólica envolvendo
As nossas peles, gastas, velhas, rotas.

Rogando por talvez um alegria
O bem que tantas vezes mal queria...

452


O bem que tantas vezes mal queria
Usando este disfarce mais canalha
Vencendo os meus fantasmas, ironia
Já dando todo o tom desta batalha.

Acendo o meu cigarro, vou à festa
Encontro os meus cadáveres na rua
Depondo sobre a cama o que me resta
Percebo esta mulher agora nua

Rolando sobre as colchas e os lençóis
Roçando a minha pele com a sua
Girando carrosséis e girassóis
O jogo novamente continua;

Mudando enfim o rumo desta história
Não quero mais derrota nem vitória...


453

Não quero mais derrota nem vitória
Que possa transtornar o meu caminho.
O quanto em nosso amor se fez vanglória
Não deve bagunçar o nosso ninho.

Teu corpo; é necessário que eu te diga,
É fonte de prazer inesgotável,
Por mais que te pretendo minha amiga
Falar que eu te desejo? Inevitável.

Sem cobertas, desnuda em cada sonho
Rasgando num galope as tempestades.
O todo mais sincero eu te proponho
Riscando pelos céus felicidades.

Tocando a maciez de teus cabelos,
Nas pernas, entrelaces e novelos...


454


Nas pernas, entrelaces e novelos
Certificando sempre quanto é bom
Sentidos entranhados, e ao contê-los
Descubro o bem da vida, sacro dom.

Notícias espalhando na cidade
Falando deste incêndio que produzes
Divina epidemia em liberdade
Trazendo em tantas camas fartas luzes.

Jardineiros, garis, babás, meganhas
Estudantes e mestres; prostitutas
Conhecem tuas frondes, grutas, manhas
Nas noites mais soturnas, mais astutas

Incendiando as ruas da cidade
Bebendo gota a gota à saciedade...

455

Bebendo gota a gota à saciedade
Eu quero o teu prazer, moça bonita
Vasculho cada ponto em liberdade,
A boca que me morde caça e frita

Agita no meu peito o paradeiro,
Armado pelos dentes, a coragem
Entrega-se em sentido verdadeiro
Fazendo no teu corpo esta viagem.

Caçando o que eu queria na nudez
Deitando neste sol o meu fervor.
A graça tresloucando a lucidez
Sacia todo o vício, furta a cor.

Suores encharcando o nosso leito,
Traduzem nosso amor, mais que perfeito...



456



Traduzem nosso amor, mais que perfeito
O cálice em que bebo o teu prazer,
Abarca tantos sonhos, nosso leito
Na luta que não traz nenhum poder.

Escravos e vassalos vão distantes
Do bem que tantas vezes se fez claro,
Os sentimentos livres, por instantes
Permitem cada verso em que declaro

O quanto existe em nós que não se apaga
Do fogo que emoldura esta paixão.
Mulher sílfide, deusa, reina maga
Causando a mais feliz revolução.

Beijando cada beijo com ternura,
Insânia que domina enquanto cura...


457

Insânia que domina enquanto cura
Não deixa qualquer dúvida: Eu te quero.
Na calada da noite com ternura
O quanto te desejo amores gero.

Parturiente sonho que nos guia
Cortando nossa carne mansamente.
Homérica vontade em poesia
Gerando tanto encanto novamente.

O mundo vai rodando em girassol,
Buscando cada fonte mais audaz.
O vento que se entorna em arrebol
Aos poucos nos domina e satisfaz.

Eu singro meus pecados bebo a fera
Promessa de florais em primavera...


458


Promessa de florais em primavera
No jogo que se mostra cara a cara,
Não quero mais talvez e nem quem dera
O quase que se foi, já desampara.

O rito sem gravata e sensatez
Merece que se bise esta canção.
O vinho que se bebe a cada vez
Permite que se entenda esta emoção.

Monções e vendavais eu nem mais temo,
Apenas vou seguindo a correnteza,
Se eu tenho em minhas mãos o barco e o remo
Não tenho que penar qualquer tristeza

Vendendo sempre o peixe de um amor,
Eu tenho um novo mundo a te propor...



459

Eu tenho um novo mundo a te propor
Formado pelos cacos que vivemos.
O quanto pode ser alentador
Transmite o que em verdade percebemos.

O dia se fazendo em bailes, risos
Baladas de um amor que não tem ritos.
Sonâmbulos caminhos sem avisos
Extremam nossos passos, vãos, aflitos.

Na boca da moçoila este batom.
Molambulando a vida, a solidão
Esquece do desejo certo e bom
Rondando o velho mundo amargo cão.

Trafegam nossos gozos por atalhos
Pedaços que se fazem dos retalhos...

460


Pedaços que se fazem dos retalhos
Nas colchas da esperança definidos,
Prazeres em misturas, atos falhos
Durante tanto tempo divididos;

Lanhando em nossas costas tempestades
Cortando nossa carne em vãos profundos.
Os risos, gargalhadas, nas cidades
Estrelas mergulhando em torpes mundos.

Assim, dois viajantes sem destino
Descendo pelos rios, corredeiras,
Toando uma emoção em desatino
Fazendo dos desejos as bandeiras

Espelham pelas ruas cicatrizes,
Apesar dos pesares, mais felizes...



461



Apesar dos pesares, mais felizes
Corremos para o mar, buscando a foz
Deixando no passado estes deslizes
Amor que é tantas vezes qual algoz.

Em nós a profusão de lua, estrela
Estende na varanda um farto brilho.
Delírios de poder; sempre, sabê-la
Na prata que emoldura nosso trilho

Um andarilho vaga em noite imensa
Em buscas sem limites vago insano.
Na boca da mulher, a recompensa
O tempo se promete sem engano

E assim, ao adentrar salgado mar,
Eu vejo o mel da vida se espalhar...


462

Eu vejo o mel da vida se espalhar
Nos campos da esperança e da emoção,
Roubando cada raio do luar
A noite se transcorre em sedução.

A moça do meu lado, satisfeita,
O riso se permite em franco gozo
A gente ao mesmo tempo se deleita
E planta um novo sonho fabuloso.

Recebo de teus lábios, a promessa
De um dia mais feliz de se viver
A cada novo instante recomeça
Idílio de ternura e de prazer

Assim, eu vivo amor no dia a dia
Que é feito da beleza em fantasia.


463


A melodia acalma; suave som
Que invade a madrugada, ganha o dia.
Na boca da morena este batom
Roçando a minha pele com magia.

Recende a todo o bem que a vida trama
Num gesto em perfeição, sublime e audaz
Enquanto o dia nasce e o sol nos chama
A vida recomeça em pleno gás.

Suave transparência, camisola,
Teus seios delicados e bonitos
O pensamento clama, alma decola
Trazendo novamente loucos ritos.

A melodia invade e nos convida,
Amor não reconhece despedida...


464

Amor não reconhece despedida
Num moto assim perpétuo nada pára
Mudando a direção, domina a vida
Enquanto, tantas vezes, desampara.

Adentra as fortalezas, vence a guerra
A força que ele emana; irresistível
O quanto de desejos que ele encerra
Perfaz um sonho nobre, indivisível.

Rompendo os paradigmas, nos liberta
Areia movediça fabulosa
Por mais que a sensatez depressa alerta
Vontade se mostrando caprichosa

Espalha nestas sendas armadilhas
Douradas em loucura e maravilhas...


465


Douradas em loucura e maravilhas
Quebrando estas redomas do passado,
Não vejo em meu caminho mais as ilhas
Distantes deste mar novo e encantado.

A carapaça eu rompo com sorriso,
Tocado pelas mãos de uma amizade.
A cada novo dia mais eu friso
O quanto é necessária a liberdade

Que às vezes se mostrando tão distante
Parece-nos difícil de encontrar.
Enquanto um sol profuso e radiante
Expressa a fantasia em luz solar.

Sabendo e percebendo tal poder,
Na força da amizade eu passo a crer...

466


Na força da amizade eu passo a crer
Sabendo quanto quero ser feliz.
O vento da alegria me faz ver
O quanto que tivera em cores cris

O mundo tão diverso dos meus sonhos,
Em quedas nos penhascos da existência
Abismos que encontrara tão medonhos
Criando e recriando a penitência

Quebrando pouco a pouco uma esperança
Trazendo a solidão depois de tudo,
O medo que me toma, vil herança
Deixando o coração cego e miúdo

Agora que eu percebo, finalmente
À luz desta amizade eu vou contente...

467

À luz desta amizade eu vou contente
E nada impedirá meu firme passo,
Vivendo o que sonhara, plenamente,
Não temo descaminhos nem cansaço

Abraço os teus sorrisos, companheira
E deles faço o mote necessário
No quanto se reforça esta bandeira
O mundo não se mostra temerário.

Eu quero estar contigo sem demora
Singrando entre procelas, o oceano.
Felicidade eu sinto já se aflora
Deixando para trás o desengano.

Contando com teus braços, minha amiga,
A sorte tão volátil nos abriga...

468

A sorte tão volátil nos abriga
E ao mesmo tempo este abandono;
Por mais que a luz se mostre apoio e viga
O amor vai se perdendo no oceano.

Nas velhas fantasias que eu cultivo
Apenas as saudades são fiéis.
Um canto de esperança embora altivo
Encontra tão somente amargos féis.

Vieses que se mostram mais constantes
Trafegam no meu peito sem destinos.
Quem dera se eu pudesse por instantes
Conter os mais temidos desatinos.

Nas noites que varei em solidão
Saudade toma o rumo, a direção...

469


Saudade toma o rumo, a direção
Do barco que se fez em tempestade,
Vivendo tão somente a negação
Quem dera se encontrasse a liberdade

Promessas esquecidas no caminho
Já são somente marcas, cicatrizes.
Depois de tanto tempo andar sozinho,
Esqueço de outras cores ou matizes.

Mosaico de emoções que se desnudam,
Expressam o que eu quis e não contive.
Por vezes ilusões chegam e ajudam
Assim uma esperança sobrevive.

Dementes os meus dias sem ninguém.
Apenas a saudade, amarga, vem...

470

Apenas a saudade, amarga, vem
Moldura que não deixa prosseguir
A tela que se pinta pede alguém
O medo não se esquece de impedir.

Arrasa minha casa queima tudo
Saudade da mulher que nunca veio
Olhando o seu retrato eu já me iludo
Beijando sua face eu sonho seio.

Não sei o que se mostra no sorriso,
Vontade de voltar ou de negação.
A noite vem chegando e sem aviso
Transforma todo amor em devoção

Pesando em minhas costas como cruz
Saudade num vazio se traduz...


471




Saudade num vazio se traduz
Vontade de pular do precipício
O quanto a vida nega em força e luz
Não deixa que se entenda a dor em vício.

Crisântemos morrendo em meu jardim,
Hemorragias lentas e constantes
Matando o quanto a vida trouxe assim,
Os olhos penitentes e farsantes.

Não quero mais viver tanta saudade
Espinhos que espalhaste em cada andança
Viúvo de mim mesmo, a treva invade
Cruentas sensações, desesperança.

Ao ver a tua foto sobre a mesa,
O rio nega a foz e a correnteza...

472

O rio nega a foz e a correnteza
Rolando pelas pedras, seixos, mágoas.
Arcando com o vento da tristeza
A sorte se deserta, seca as águas.

A sede que matara a cada sonho
Na boca delicada em prontidão
Revejo o quanto quero e te proponho
Um novo amanhecer, novo clarão.

Cevando em nossa vida esta guerrilha
Que um dia vencerá qualquer poder.
A luz que se irradia mostra a trilha
Levando fatalmente ao bel prazer.

Precisos sentimentos, com bravura
Amor já se embebeda em tal ternura...


473


Amor já se embebeda em tal ternura
Deixada como um rastro em teus caminhos
Amante sensação promete a cura
Bebendo a maravilha destes vinhos.

Arcanas ventanias se aplacaram
O libertário sonho enfim chegou.
Os olhos desejosos me mostraram
O quanto amor se entranha e me tocou.

Amores entre rumos tão diversos
Nos ódios que encontrara anteriormente
Vizinhos sentimentos, universos
Dispersos que se mudam totalmente.

Do gozo de viver já se assenhora
Amor que vem sem medos e sem hora...


474

Amor que vem sem medos e sem hora
Batalha que se faz a cada dia
Se eu tanto me entreguei pretendo agora
Produto que se dá em alegria

Saudade anda rosnando, calo a boca
Mas tendo no final da peça, os bravos
Amor não se perturba e já se toca
Catando todo o mel em fartos favos.

O dia renascendo sem ter pressa
A festa recomeça. Amanhecer
Do jeito que se quer e se confessa,
Suor do sol que vem nos receber.

Compondo cada verso homenageio
A Musa já sem blusa em belo seio...

475

A Musa já sem blusa em belo seio
Na pele bronzeada bebe a praia,
O vento vem chegando e sem receio
Levanta, expondo as coxas, sua saia.

A vida me virando assim do avesso
Entranha em minha pele; incorpora a alma
Voltando novamente recomeço
Somente esta semente, amor, me acalma.

No corpo da delgada bailarina
Enteso esta vontade insaciável
Um passo delicado me domina
No amor que se deduz interminável

Amáveis fantasias, redenção
Amor em verdadeira infestação.

476


Amor em verdadeira infestação
Epidemia santa e desejada.
Repete sempre o mesmo e bom refrão
Deixando a vida calma, extasiada.

Do nada que viera sem remédios,
Agora o quanto tenho já me orgulha.
Embora as dores tramem seus assédios
A mão da fantasia vem; debulha.

Santificada luz que nos entranha
Aurora multicor que se anuncia
O sol deitando luz sobre a montanha
Moldura inesquecível, raro dia

Tomando qual divino e claro dom
A melodia acalma; suave som.



477



Trazendo para a vida a sensação
De todo este carinho que nos toma,
O vento que se fora furacão
Agora nos domina em vasta soma.

A noite se aproxima calmamente
Deixando para trás a tarde atroz
Renasce com a lua novamente
O gosto de escutar a tua voz.

Do quanto coração se fez mendigo
Buscando nas esquinas, companhia
Eu quero que tu saibas e te digo
Em ti eu tenho tudo o que queria.

Depois do vendaval vejo a bonança
Sinônimo de paz e temperança...


478



Sinônimo de paz e temperança
Amor não necessita de segredos
O quanto eu te desejo já te alcança
Não tenha mais, amor temíveis medos

Eu sei que vou te amar o tempo inteiro
Segredo em teus ouvidos tais verdades.
Mergulho em cada verso, e bebo o cheiro
Deixando para trás tristes saudades.

A vida recomeça ao mesmo instante
Que sinto o teu perfume junto a mim,
Teu corpo sensual e provocante
Traduz o que pretendo e quero, enfim.

Sagrando o nosso sonho a vida tece
Na bela catedral, ternura e prece...


479

Na bela catedral, ternura e prece
Clamando em harmonia uma esperança.
O quanto te desejo e não parece
Deixando bem distante a confiança.

Afianço em cada verso o sentimento
Que seja na verdade suficiente
Mostrando a calmaria deste vento
Que toca o coração; domina a gente.

Não chores mais querida, estou aqui
Decerto imaginaste outros caminhos.
Não sabes que em teu canto eu percebi
Dolência dos divinos, raros vinhos.

Espero que me ouvindo, seque o pranto
Em ti eu concebi perfeito encanto...

480


Em ti eu concebi perfeito encanto
Vislumbro finalmente a luz de um cais.
Nas sanhas deste amor eu me agiganto
E encontro o brilho raro dos cristais.

Inebriadamente dominado
Retrato; em cada verso, o meu desejo
O gozo da alegria em alto brado
Promete a vida em louco relampejo.

Sem pedras no caminho e sem algemas,
Prossigo a noite inteira em passo firme.
Distante dos distúrbios e problemas
Amor enfim permite que eu me afirme

Colhendo em meu canteiro uma esperança
A vida se vislumbra calma e mansa...


481


A vida se vislumbra calma e mansa
Num acalanto breve e tão sereno.
A paz em pleno amor assim se alcança
Secando o que se fora vil veneno.

Estendo na varanda o teu sorriso,
Sem ódios ou vinganças, mais unidos
O quanto é necessário e sei preciso
Desejos e carinhos concebidos.

Sem juras ou desvios das promessas
Costuramos um dia mais feliz.
No todo que eu te quero já confessas
Amor que outrora fora por um triz.

Rasgando estas agendas do passado,
O dia mais ameno, anunciado...

482




O dia mais ameno, anunciado
Notícia que não li nem nos jornais,
Apenas por estar apaixonado
Prevejo estes luares magistrais.

Não quero penitência nem polícia
Tampouco uma censura que nos tolha.
Plantando em tua pele tal delícia
No gozo prometido a minha escolha.

Meninas em jardins, belos jasmins
Florescem entre mil sonhos, colibris,
As bocas da esperança, carmesins
Dourando o meu caminho mais feliz.

Sem cercas meu quintal cede ao cultivo
Nas sombras do arvoredo, agora eu vivo...

483


Nas sombras do arvoredo, agora eu vivo,
Depois de tanto tempo maltratado,
Do sonho que tivera, vou cativo
Trazendo em minhas costas tal legado.

Sumindo pelas ruas, qual miragem,
Espalhas como rastros, as estrelas,
Quem dera se eu pudesse em tatuagem
Sentir o quanto em luz não me revelas.

Expondo em cada passo a poesia
Formando clara trilha nas calçadas.
Bailando sobre as trevas, sempre eu via
Em plena madrugada, estas pegadas.

Aflito, suspirando, caço o sol,
Teus olhos me servindo de farol...

484



Teus olhos me servindo de farol,
Levando o pensamento à eternidade.
Em toda a poesia do arrebol
Eu vejo renascer felicidade.

Quanto terei ainda de viver
Distante do que pude vislumbrar
Percebo o quanto amor tem o poder
De um dia seduzir, noutro matar.

Dançando sob o som deste bolero
Expresso em cada verso que componho
O quanto eu te desejo e sempre quero
Do velho cancioneiro, o mesmo sonho

Da casa pequenina no sertão
Jardim em tão sublime floração...

485

Jardim em tão sublime floração
Também tem seus espinhos, disso eu sei.
O quanto em nosso sonho é redenção
Durante tanto tempo eu estranhei.

A rosa que permite um bom perfume
Espalha com vigor no meu caminho
Em forma de desejo, o seu ciúme
Mostrando claramente cada espinho.

A dança necessita contradança
O medo nunca pode derrotar
O gozo tão sublime em temperança
Deixando cada coisa em seu lugar.

Amor jamais permite calabouço,
O vento do prazer em ti eu ouço...

486



O vento do prazer em ti eu ouço
Orquestra convidando para a festa.
A noite que passou; simples esboço
Do quanto em maravilha amor empresta.

Dançando esta balada, a vida vem
Bebendo cada gota da alegria
Desejo em madrugada o nosso bem
Na redentora espera em poesia.

Teu nome no meu corpo, cicatriz,
Marcado em perfeição, qual tatuagem.
Canção que agora escuto já me diz
Do quanto sou feliz nesta viagem

Que é feita em sintonia, mesmo tom,
Roubando a cada volta o teu batom.

487


Roubando a cada volta o teu batom
Na dança interminável noite afora.
Ouço maravilhado o belo som
Que em toda melodia já se aflora.

Temperos deste sonho sem ter fim,
Sobejas emoções nos decorando,
Alentos que se espalham no jardim
Do tempo sem ter onde, quanto ou quando.

Não quero descaminhos nem mortalhas
Apenas o sorriso promissor
Desejos preciosos quando atalhas
Expressam perfeição em nosso amor.

Bebendo cada gota de suor
Prevejo um mundo novo e bem melhor...

488


Prevejo um mundo novo e bem melhor
Deixando para trás qualquer tormento.
Vontades e desejos; sei de cor,
Encontro tão somente um doce alento

Nos seios que hoje beijo com ternura,
Meus olhos em teus olhos, num mergulho
Contando estas estrelas, noite apura
Quedando tão distante, pedregulho...

Sonhando em desvario, alucinando,
Não tenho mais segredos, nem os quero.
A sorte pelas ruas entornando
Matando o meu passado, duro e fero.

Espreito finalmente a liberdade,
Aprendo a traduzir felicidade...


489


Aprendo a traduzir felicidade
Entregue a tal magia deslumbrante
Outrora recebera da saudade
Um gosto em azedume, nauseante

Herdando dos amores, o lirismo,
Mortalhas esquecidas sem bravatas,
Saltando sobre imenso e grave abismo
Os sonhos mais felizes tu resgatas

Criando em raro encanto um verso breve,
Destinos que se tocam; sinas, fados,
Saudades para longe, o vento leve
Deixando no lugar serenos prados.

Acendo novamente esta fogueira
Na flama que se entorna, verdadeira.

490

Na flama que se entorna, verdadeira
De um jeito mais audaz eu vejo a vida,
Serena e tantas vezes feiticeira
Pegando a solidão desprevenida.

Distante das pendengas e litígios
Agora vamos juntos noite afora.
Do quanto que sofremos, nem vestígios
A força feita amor nos revigora.

Quasares e pulsares, luz intensa
Nas vias siderais, nossos caminhos.
Amor já prometendo a recompensa
Encharca de desejos, camas, ninhos.

No todo se mostrando em vibração,
Trazendo para a vida a sensação.




491


Da eterna juventude, inesgotável;
Humanidade busca a mina, a fonte
Um sonho que se mostra interminável,
Vazios; entretanto, no horizonte.

Quem dera se eu tivesse a mocidade
E nela refizesse os meus caminhos.
Talvez inda restasse a claridade
No libertário encanto, passarinhos.

Ao ter o teu sorriso amada amiga,
Eu vejo ser possível, pelo menos,
O traje que em delícias nos abriga
Trazendo dias calmos, mais amenos.

Assim ao recobrar uma esperança
A fonte dos desejos já se alcança...

492

A fonte dos desejos já se alcança
Emblemática luz que assim me guia.
Ao ter em teu carinho tal fiança
A vida se entranhando em poesia.

Perguntas que não faço e nem pretendo
Caladas no meu peito me transtornam,
O quanto tão distante ando vivendo
Silêncios em respostas se retornam.

Rodando em noites vagas bar em bar
Recolho estas mensagens que deixaste.
A vida vem num lento transformar
Criando a cada noite este contraste.

No amor que eu encontrei a salvação
Eu bebo toda angústia em perdição...

493

Eu bebo toda angústia em perdição
No quanto que me negas, envenenas.
Amor se decifrando em turbilhão,
Carícias e mentiras todas plenas.

Apenas o que sonho e não traduzo
Encontro nos teus olhos, mil néons,
Olhares que distantes reproduzo
Momentos tão diversos, vários tons.

Revelas em teus lábios primaveras,
Porém depois de tudo, colho invernos.
Refém dos desenganos mansas feras
Modelos diferentes, mesmos ternos.

Remendos que provocam mil presságios
Vagando em tempestades, sei naufrágios...

494


Vagando em tempestades, sei naufrágios
E vivo em temerosa insensatez
Do quanto procurei pagando os ágios
Amor em luz intensa já se fez.

Portando em altivez, a nova senda,
Coloca nos meus olhos, vendas tantas.
Encanta enquanto trai, logo desvenda
Palavras infernais, mentiras santas.

Correndo pela noite sem destino,
Atino o quanto eu quis e não sabia.
Voltando a recolher sonho menino
Adentro o paraíso em fantasia.

Sonhando com amor o tempo inteiro,
Eu acordo abraçando o travesseiro...

495

Eu acordo abraçando o travesseiro
Relembro do cenário deste sonho.
Apenas o recado no cinzeiro
Jogado sobre o nada recomponho.

Num truque assim banal, a vida passa,
Nas cordas trapezistas, palcos, risos.
Expressam o final desta trapaça
No encanto de palhaços, falsos guizos.

Avisos de espetáculos vindouros,
Salões de festa, danças, refletores,
Os sonhos do quem dera duradouros
Momentos sem finesse em dissabores.

Olhar enamorado sobressalta
Deitando sobre as luzes da ribalta.

496



Deitando sobre as luzes da ribalta
Um sonho em espetáculo promete
Calando as solidões amarga malta
A vida aos teus carinhos me arremete.

Bailando nos teus braços, sonho e luz,
Recebo a redentora poesia
Que entranha em minha pele e me conduza
A toda sorte imensa que eu queria.

Saltando sobre as pedras que encontrei
Estrela em claro brilho me domina,
O amor que em nossa vida se fez lei
Permite no pernoite a rica mina

Aonde se escondeu raro tesouro,
Nos raios deste sonho, eu já me douro...

497

Nos raios deste sonho, eu já me douro
E faço de meu verso um instrumento
Que possa permitir um duradouro
Caminho percorrido sem tormento.

Amor que se mostrando bom garçom
Deixando de bandeja uma esperança
Permite que se cante em maior tom
Convite para a festa em contradança.

Descendo pelas ruas, vai à luta
Adentra nos botecos e nas feiras
Amor em sua face mais astuta
Já sabe dominando o que mais queiras

Dobrando cada esquina com cuidado,
Expressa em alegria o seu legado...


498


Expressa em alegria o seu legado
Mensagem proferida com prazer.
O quanto amor se mostra bem cuidado
Permite em nova senda renascer.

Trabalho o dia inteiro, chego à noite
Encontro nos teus braços meu descanso,
Por sob estes lençóis, ternura, açoite
Vigora a lei do quanto mais alcanço.

Diamantina luz que nos abraça,
Mergulhos em vontades e loucuras.
Deixando de caçar sou tua caça
Em dentes, bocas, línguas, as torturas.

A vida se esfumaça em esquadrilhas
Deitando em nossa cama maravilhas...

499


Deitando em nossa cama maravilhas
Esqueço dividendo e crediário
Amor em loucas sanhas, riscos, trilhas,
No fogo que se mostra um bem diário.

Balões rondando a noite, em tal festança,
Quadrilhas dançarinas, claras francas,
O quanto nós trançamos nossa dança
Depois de certo tempo me desancas.

Tomando em tua boca o meu quentão
Salvo conduto encontro em tuas pernas,
No jogo que se faz ebulição
As horas sem limites são eternas.

Asperges fantasias nos meus olhos
Encontro as alegrias, colho em molhos...

500


Encontro as alegrias, colho em molhos
Deixando os vis espinhos para traz
Colheita que se fez mata os abrolhos
Permite a vida calma feita em paz.

Mas quando ouço esta voz em aflição
Clamando por socorro, eu não consigo
Seguir em calmaria a procissão,
Estendo as minhas mãos, e dou abrigo.

Não sabes quanto eu quero o teu querer
E dele faço o mote mais sincero.
Não posso de teu canto me esquecer
Vem logo, minha amada, eu já te espero

E quero no compasso mais perfeito
Amor que é meu destino e nosso pleito...

501


Amor que é meu destino e nosso pleito
Tomando em suas mãos rosa dos ventos,
Legando ao desespero o rumo estreito
Tocado pela insânia em vis tormentos.

No quanto este machado encontra o sândalo
Deixando quem maltrata agora pálido
O amor em nossa vida, num escândalo
Decora com desejos sonho cálido.

Não quero este destino amargo e trágico
De quem em desvario vai atônico
O riso da esperança se fez mágico
Moldando alvorecer bem mais harmônico

Sinfônica explosão em versos métricos
Matando os dias rudes, negros, tétricos...

502


Matando os dias rudes, negros, tétricos
A mansa sensação do amor se fez
Em rumos mais perfeitos e simétricos
O quanto é necessária a lucidez.

Sem lágrimas ou lástimas que entranhem
Rondando entre paredes, pedras, trevas,
Distante destas feras que me estranhem
As luzes revoando em finas levas

Cevando as mais profícuas claridades
Afeito a tais vontades incessantes.
Os olhos vão bebendo estas verdades
E raiam nos teus sóis mais escaldantes

O quanto desde outrora em flóreas sendas
Amor que me inoculas cria lendas...

503



Amor que me inoculas cria lendas
E nele me vicio a cada dia.
Deitando nosso sonho nessas tendas
Defronte, tão somente a fantasia.

Insanas ardentias nos tomando,
Nas sombras de teus braços, acalanto.
O mar em fortaleza nos banhando
Traçando o meu destino em puro encanto.

No quanto tanto quero o teu querer
O quando se mostrando desde agora
O rio que em delícia a se verter
Converte todo o gozo que se aflora

Frondosas esperanças, alamedas,
Desejos que eu bem quero e me segredas...

504


Desejos que eu bem quero e me segredas
De toda a poesia que eu fizer
Deixando as amarguras cegas, ledas,
Sentindo o teu perfume de mulher

Descreves com teus lábios nossa sanha
Tocando a nossa pele em arrepios,
Vontade de te ter tanto me assanha
Envolto em teus prazeres, gozos, cios.

Somando nossos corpos, sem fronteiras
Podemos vislumbrar o paraíso
Além destas vontades costumeiras
Inigualável sonho sem aviso

Trazendo este recado tão amável
Da eterna juventude, inesgotável.


505

Aos poucos vem raiando uma emoção
Que em lutas desiguais nos apascenta
Causando o mais temível turbilhão,
A força redentora e violenta.

Amor em terremotos nos invade
Na extrema convulsão nos tranqüiliza
Além deste desejo e da vontade
Em plena tempestade trama a brisa.

No fogaréu insano em que me perco
A sorte se mostrando movediça
Amor é da esperança um fino esterco
Santificando a fúria da cobiça.

Ao mesmo instante; cobra enquanto apena
É prenda que se faz, voraz e amena...


506


É prenda que se faz, voraz e amena,
Morena que demente me enlouquece
O quanto me seduz tanto envenena
Vontade feita em gueixa se oferece,

Bandida que em vazante é minha foz,
Estrela que seduz, sou girassol,
Do todo que se mostra em nada após
Estremecendo assim todo arrebol.

À toa sem ter culpa no cartório
Catando os seus retalhos pelas ruas,
Embora o meu futuro seja inglório
Eu quero os cernes, todos, carnes nuas

Perpétua redenção em noite clara,
O tempo de sonhar marca e declara.

507


O tempo de sonhar marca e declara
Em plena liberdade, o sentimento.
O quanto se permite em noite rara
Beber o temporal a cada intento.

Se eu tento ser feliz, problema meu,
Embora muitas vezes vá sozinho.
Apelo que em desejos concebeu
A sanha de ser livre passarinho.

Vontades e desejos, tantos. Tive-os,
Em todos os momentos desta vida.
Os céus que procurara; claros, níveos
Talvez inda mostrassem a saída.

Amor em rouxinol por noite afora,
Somente a cotovia canta agora...

508


Somente a cotovia canta agora
Depois da madrugada em lua altiva.
A santa se mostrando se assenhora
Deixando alma vadia então cativa.

Mentiras entre fardos e façanhas,
Sorrisos de ironia, remendando
O quanto se perdeu em outras sanhas
O dia renascendo, vai moldando.

Não quero mais nem juras nem promessas
Espinhos cultivados no rosal
A febre que falsária me confessas
Ardendo nos meus olhos feito cal.

O projeto de vida desabou
Na boca que mordendo me beijou.

509


Na boca que mordendo me beijou
Bijuterias fingem ser tesouro
O couro que em teus lábios desancou
Matando o que pensei ancoradouro.

A lebre levantada já fugiu
Na cajadada em falso, fiquei só.
Castelo de esperança cai sutil
Restando em minha cama o vago pó.

Vadeia pela noite a meretriz
Vendida nos bordéis, pintando borda
Levando toda espera do infeliz
Rebenta do meu lado, a mesma corda.

Acordos pendurados na janela,
Vontade de voltar e ser só dela...

510


Vontade de voltar e ser só dela
Embora amor pesando feito cruz
Em noite solitária se revela
O quanto desejei; jamais me opus...

Rabiscas o teu nome em minha pele
Sagrando o nosso amor, cais infinito.
Que o tempo nunca passe e se congele
Marcando em tatuagem nosso rito.

Não quero mais rigor ou tempestade,
Apenas o remanso em que se dá
Encanto que se faz diversidade
Desejo e peço agora, desde já

Retalho em minhas costas, faca e foice.
Amor que tanto eu quis... acabou. Foi-se...

511


Amor que tanto eu quis... acabou. Foi-se...
Agonizando eu sigo cada rastro;
Do corcel que sonhei restou o coice
Bandeira já rasgada sem o mastro.

Meu leito de viúvo segue vago,
A chuva desabando no telhado
Em plena madrugada enquanto vago
Eu bebo a tempestade do passado...

Quem sabe em bocas cruas, lábios quentes
Alguma solução ainda tenha.
Na insensatez dos sonhos, entrementes
Lareira em esperança busca a lenha...

O vento que virá em proteção
Acende tão somente uma ilusão...

512

Acende tão somente uma ilusão
O gosto da maçã em tua boca.
Sentindo a mais sublime tentação
Meu sonho no teu corpo já se aloca.

Amor que aromatiza enquanto cura,
Extrai todo o desejo em gozo pleno.
Cansado de viver só na procura
Encontro o que buscara – encanto ameno.

Recebo cada afeto com sorriso,
Esplêndidas manhãs se prometendo.
A sorte que chegando sem aviso
Caminho que ao teu lado, assim desvendo.

De todo o sentimento, se faz dona;
O brilho em minha vida vem à tona...

513


O brilho em minha vida vem à tona
Nos olhos da menina que busquei
Enquanto a solidão já me abandona
Eu penso neste amor que eu encontrei

Vestígios do que eu fui; não mais percebo
Resquícios dos escombros, vento leva.
Agora que alegria farta eu bebo
Soberbo sentimento impede a treva.

Um servo deste amor, leal cativo
Vassalo da esperança, cavaleiro
Que em meio ao vendaval seguiu altivo
Sentindo do jardim, o rastro e o cheiro.

Relembro cada frase que disseste,
Do amor eu teço, agora, cada veste...


514

Do amor eu teço, agora, cada veste,
Queimando o que já fora uma mortalha,
De todo este prazer que tu me deste
As armas para a luta, vil batalha.

Atento a cada passo, vou em frente;
Sem nada que me prenda, solto o sonho,
Preciso que tu saibas claramente
O quanto que te quero e já proponho.

Vencer as mais difíceis cordilheiras
Levado pelas mãos da fantasia.
As almas prosseguindo são romeiras
Bebendo a fonte rara da alegria.

Na visceral vontade de te ter
O quanto é necessário o bem querer.

515

O quanto é necessário o bem querer!
Menina que se fez mulher e amante,
Em teus carinhos posso conceber
No palco- minha vida, luz vibrante.

“Minha alma cheira a talco”, renascida
Fortalecendo os sonhos que eu tivera,
Refaço em cada passo, a nossa vida
Condeno nosso amor à primavera.

Embora o tempo seja sempre o rei,
Contigo ele caminha mansamente.
A ti, a cada verso dediquei
O sonho de viver eternamente.

Mirando em teu olhar, vejo e confesso
Das minhas esperanças, o regresso...


516



Das minhas esperanças, o regresso
Voltando das batalhas, duras lutas.
O quanto eu te ofereço, agora eu peço,
E sei que temerosa, já relutas.

Presságios que tivera; traiçoeiros,
Marcaram cada dia em tua vida.
Deitando a solidão nos travesseiros
A travessia; eu sinto, está perdida.

Mas tendo alguma luz ao fim de tudo,
No túnel feito em tempo e temporal.
Do quanto que desejo, resto mudo,
Olhando imenso mar, descomunal.

Sonhando com desditas e falências,
Eu penso ter cumprido as penitências...


517


Eu penso ter cumprido as penitências
Expondo esta carcaça do que fui,
Buscando tão somente tais clemências
O tempo de viver, vazio flui.

Na mística esperança abandonada,
Os dados com certeza mal lançados
Não deixam que se veja quase nada
Senão os olhos vagos, destroçados.

Colibris seguindo sem as flores,
As flores sem sequer um colibri,
Mergulho nos mosaicos multicores
Do nada que me deste, eu me perdi.

Quem dera se colhesse alguma sorte
Mudando em transparência, opaco norte...

518

Mudando em transparência, opaco norte
Recolho as minhas baixas no caminho.
Azar que em minha vida foi consorte
Do reflorestamento ceva espinho

Grileiro da esperança, risos fáceis,
Delitos cometidos, sobretaxas,
Bailando sobre nós estrelas gráceis
Barris em ilusões, velhas cachaças

Não acho o que buscara em cada bar
Na ronda pela vida, num bordejo
Atrelo o meu luar ao teu olhar
Coleto com prazer, fiel desejo.

Porém riscando em luz esta amplidão,
Aos poucos vem raiando uma emoção.




533

Tornando o nosso solo mais arável
A força da amizade determina
O tanto quanto vejo interminável
O gotejar sincero desta mina.

Não posso vislumbrar outro caminho,
Nem mesmo quero o lume de outra fonte.
O sol vem renascendo de mansinho,
Já prometendo assim, belo horizonte.

O quanto na amizade amor se ceva
Estampa na colheita sacrossanta.
As dores vão em bando, numa leva,
O brilho nos meus olhos se agiganta

A voz que se levanta entoa um brado
Calando o canto amargo do passado...


534


Calando o canto amargo do passado,
Lúgubre cantochão em ladainha,
Amor em nosso peito emoldurado
Permite uma colheita em rara vinha.

Se eu vinha de um destino traiçoeiro,
Agora em tom maior, a melodia
Adentra e modifica o cancioneiro
Perfaz pura emoção, nova harmonia.

A voz que se mostrara quase agônica
Expressa a fantasia de um tenor.
Mudando em alegria, antiga tônica
Recobre este cenário em farto amor.

Homérico caminho que deságua
No gozo do desejo, aborta a mágoa...

535


No gozo do desejo, aborta a mágoa
O verso ensandecido que permite
Estende sobre nós calor e frágua
Deflagra uma explosão já sem limite.

Jazendo toda a dor que um dia eu tive
Asperge com hissope, o meu canteiro.
Um helianto em paz agora vive
Bebendo o lume intenso e verdadeiro

Apátrida emoção tomando o globo,
Permite que o rebanho siga em paz.
Amor apascentando o fero lobo,
Esplêndido raiar a todos traz.

Jamais, deste caminho, que eu me afaste,
Apóia cada passo, dourada haste...

536


Apóia cada passo, dourada haste
Que ergueste com cuidado em noite mansa.
Do quanto tanto amor tu me entregaste
A sorte desejada já se alcança.

Amor que se assenhora dos meus versos,
Forrando a minha vida em calmaria.
Legando à solidão vento reverso,
Expressa tão somente poesia...

Talvez possas pensar ser pleonasmo,
Falar do amor da forma que eu bendigo
Embora repetido, sem marasmo
Telúrica expressão; sempre persigo.

Atrelado no amor vou a reboque
Usando cada verso qual bodoque...


537


Usando cada verso qual bodoque
Decerto acerto o alvo que eu queria,
O quanto em sentimento não se estoque
A sorte se fazendo senhoria.

Enfoques tão diversos, mesmo palco,
Atalhos; reconheço e meço bem
A dor que tantas vezes já recalco,
Teimosa ao fim da noite sempre vem.

Mantendo sempre acesa a nossa chama,
Vou sarcasticamente noutro rumo.
Apaixonadamente a vida chama
Depressa pros seus braços, sigo e rumo.

Meu passo nos teus laços, eu conserto
Preconizando ao fim, raro concerto.

538



Preconizando ao fim, raro concerto
Eu tenho esta certeza que não cala.
Depois deste caminho, agora aberto
A luz já vem tomando toda a sala.

No embalo destes versos, sigo assim,
Metade te adorando, outra também.
O quanto de melhor existe em mim,
Reflete todo amor que a gente tem.

A solidão viúva que se enluta
Não vê qualquer saída, segue só.
Vencendo com carinho uma árdua luta
Renasço totalmente deste pó.

O ocaso prometido? Esmorecido.
Temor soltando um último gemido...

539



Temor soltando um último gemido
Percebe quanto é belo o teu sorriso,
Meu canto tantas vezes combalido
Agora se tornando mais conciso

Estampa em decassílabos, os motes
Que embora repetidos; agraciam
Os sonhos mesmo estando em fartos lotes
Decerto me conquistam e viciam.

Teu rosto em que se espelha tal ventura
Nos lábios emanando intenso brilho,
Sorridentemente se procura
A sorte de sonhar sem empecilho.

Meiguice em formas belas e sutis,
Expressa o quanto agora, sou feliz...

540


Expressa o quanto agora sou feliz
O verso enamorado que poreja
Em minha pele e pede sempre o bis,
Além do que se sonha e se deseja.

Amor tão meteórico; é verdade,
Porém já me apascenta e me permite
Viver o quanto quero em liberdade,
Sem medo de aceitar qualquer palpite.

O coração que outrora se fez velho,
Agora não espelha mais tristezas.
Não quero e nem aceito mais conselho,
Somente irei seguir as correntezas.

No delta deste rio, maravilhas,
Estampam perfeição de raras trilhas...


541



Estampam perfeição de raras trilhas,
Palavras proferidas, tão serenas.
Distante dos teus braços, léguas, milhas,
Eu vejo no horizonte raras cenas.

Caminho para a sorte, em noites; abres
Tocando em maestria esta canção.
Cansado das feridas, velhos sabres,
Aberto está decerto o coração.

Ouvindo esta sonata benfazeja
Estendo os meus olhares para ti.
Permites que eu vislumbre e mesmo veja
Um eldorado em glória feito aqui.

Do tanto que eu te quero, já repito
Amor quebrando o medo, vil granito...

542

Amor quebrando o medo, vil granito
Espalha a mais perfeita redenção,
Outrora caminheiro sempre aflito
Perdendo o seu destino e direção.

Agora perfilado com a sorte
Adentra a senda clara e mais perfeita.
Amor que se permite ser suporte
Iluminando a casa enquanto deita

Seus raios sobre nós, dois viajantes
Em farta profusão de luzes, brilhos,
Se fossemos do amor, principiantes
Talvez não vislumbrássemos tais trilhos.

E assim um argonauta esquecendo ira
Aos braços deste sonho já se atira...

543


Aos braços deste sonho já se atira
O bem que tantas vezes fora fonte
Ouvindo a perfeição expressa em lira,
Eu sinto o sol tocando a minha fronte

E pronto para encantos meteóricos
Aberto o coração eu continuo.
Meus versos prosseguindo agora eufóricos
Procuram com delícias nosso duo.

Entregue a tais delírios, nada temo
Sequer o vendaval que, sei, virá;
Meu barco necessita de teu remo,
E quero navegar, contigo, já.

Quem sabe deste amor que não tem hora,
No encanto deste canto, revigora...

544



No encanto deste canto, revigora
O tempo que se fez em farta mesa.
Adentro uma esperança mundo afora
E bebo o que se mostra em tal clareza.

Recebo o gozo franco de um sorriso
Expressão divinal de um dia em paz,
Alcanço da alegria, último piso
Repriso todo o sonho que amor traz.

Na casa recoberta por sapê
Redemoinho insano nos espera.
No quanto que eu desejo o que se crê
Transforma em palacete esta tapera.

A fera solitária não resiste
Morrendo abandonada, amarga e triste...


545


Morrendo abandonada, amarga e triste
Quem fora solidão se leva ao léu.
De um pássaro esse amor se fez alpiste
Permite que se eleve e ganhe o céu.

A par desta vontade não me esqueço
Do quanto ser feliz é meu destino.
A vida muitas vezes cobra um preço
Maior que pensara ou imagino.

Talvez inda consiga transformar
Em parto o que se fez cruel aborto.
Entranho o pensamento, ganho o mar,
Só falta estar contigo, ter meu porto.

A porta em fantasias segue aberta
Enquanto amor deveras me desperta...

546


Enquanto amor deveras me desperta
Relembro desta rua abandonada
Deixada no passado, vã deserta
Aos braços da saudade malfadada.

Janela há tanto tempo descerrada
Impede que eu consiga penetrar
Nos braços da princesa imaginada
Jogada num terrível lupanar

A rua aonde amor, frágil, nasceu
Agora se transforma em simples beco
A voz que tantas vezes se perdeu
Distante não produz sequer mais eco.

Quem dera se eu tivesse um canto amável,
Tornando o nosso solo mais arável.

547



Verdeja em nosso peito, a liberdade,
Quarando nossas roupas no varal
Dos sonhos estampados na saudade
Que ronda a nossa casa em vendaval.

Aval que procurara no passado
Insônias provocadas pela ausência
De quem andara sempre lado a lado
E agora me deixou. Vã penitência.

Não quero estar liberto, pois cativo
Do sonho mais feliz que eu pude ter.
Apenas, tão somente sobrevivo
Distante deste amor, vou sem prazer.

Maldita liberdade que verdeja,
Em lágrimas meu peito, assim goteja...


548




Em lágrimas meu peito, assim goteja
Ao ver-te tão distante dos meus braços
O gozo mais sublime se deseja
Marcando a nossa noite em bons compassos.

Ouvindo uma guarânia que dizia
Saudades do primeiro amor que tive
Em Ypacarai, a poesia
Nos braços da emoção já sobrevive.

Minha Cunhataí escute o canto
Do amor em labaredas nos tomando.
Numa harpa delicada, tanto encanto
Uma expressiva lua nos banhando.

Beijando a tua boca, amor quiçá
O dia em farta luz renascerá...


549



O dia em farta luz renascerá
Tomando este cenário raro e belo.
O quanto eu te desejo e digo já
Expressa um renascer calmo e singelo.

Rastelo em minhas mãos anunciando
Arado campo em flores cultivado,
O tempo permitindo desde quando
Amor se fez intenso em alto brado.

Regando com firmeza em paz serena
Avencas e crisântemos, jasmins e rosas,
Canteiro tão prolífero em verbena
Celeiro de delícias fabulosas.

Nas tílias que plantaste dentro em mim,
Perfuma intensamente este jardim...

550




Perfuma intensamente este jardim
Florada multicor que tento ver.
Matizes se misturam, mas no fim,
Quem dera se eu tivesse o bel prazer

De ter deste mosaico uma clareza,
Porém a miopia furta cores
E impede que eu vislumbre tal beleza
Sem óculos, a nuvem vem às flores.

Enganadoras formas me confundem,
Nos côncavos, convexos, meu calvário.
Salobras águas tantas já se fundem
Além do quanto fora imaginário.

Assim ao conceber teu sentimento
Sem nada discernir, mas juro, eu tento...

551




Sem nada discernir, mas juro, eu tento;
Deixado em algum canto, solitário;
Porém a tua voz; ouço no vento
E encanto se fazendo intento vário.

Meus lábios são mais ágeis, asseguro,
Descobrem teus enredos, sendas, sanhas,
Desejo tão profano, eu te procuro
Enquanto tais vontades tu assanhas.

Roçando tua pele com a minha,
Atrito genial, maravilhoso.
O quanto dentro em ti amor aninha
Explode em tentação ternura e gozo.

Quem fora solidão conhece o fogo
Lambuza enquanto abusa deste jogo...


552


Lambuza enquanto abusa deste jogo
A festa que repito e não me cansa.
Na ardência da morena eu já me afogo
Brincando em seus cabelos, cada trança;

Fiança que buscara há tantos anos,
Nos fios desta teia eu me encontrei.
Legando ao meu passado os desenganos
Nos planos deste amor eu mergulhei.

Nas tocas e nas grutas, furnas, sendas,
Eu vejo ser possível uma água clara,
No fogo que depressa quero, acendas
Paixão e insensatez, gozo declara.

Entradas e bandeiras, eldorados,
Esmeraldinos trilhos desvendados..


553


Esmeraldinos trilhos desvendados
Tesouros que encontrei em vales belos.
Lançando a minha sorte nestes dados
Roçando a minha pele teus cabelos.

Sabê-los divinais quanto aromáticos
Sedosa sensação entre meus dedos.
Ao vento se libertos, emblemáticos
Afagam e convidam para enredos

Diversos e decerto maviosos
Fogoso este corcel em disparada
Adentra campos ricos, valiosos
Fartura em teu prazer é demonstrada.

Assim somando o quanto com te quero
Do amor que assim me dás, amor eu gero...

554



Do amor que assim me dás, amor eu gero
Perpetuando o moto mais sensível.
A vida se apurando com esmero
Proporcionando um gozo tão incrível.

Passível de vencer qualquer porteira
Ateia fogaréus em cataclismos.
Além da insensatez já corriqueira
Mergulha sem temores, mil abismos.

Parceiros em dueto; nada cala
A voz que amor emana em poesia.
A maciez que agora nos embala
Pressente em mansidão um novo dia.

Meu último suspiro num soneto
A ti dedicarei, eu te prometo!

555



A ti dedicarei, eu te prometo,
Os versos que se entornam na canção.
Aos braços de quem amo eu me arremeto
E solto um grito enorme na amplidão.

No chão que tantas vezes foi tão duro
As mãos de um trovador teimam sementes.
O quanto é necessário com apuro
Vencer as tempestades em torrentes

Pressente que se veja em escultura
As formas desta sílfide sem par,
Na pele entronizada tal ventura
De um dia todo o sonho desfrutar.

Eleva o pensamento, alçando um trono,
Reavivando império em abandono...

556


Reavivando império em abandono
Argêntea luz de lua enamorada
Acalentando em brilho todo o sono
Que vem depois do amor, louca jornada...

Na tez de tua pele este contraste
Que é feito em brônzea senda assim desnuda.
Do quanto em farta noite provocaste
A pele de meus sonhos faz a muda.

Decifro cada enigma que propões
E ganho em recompensa esta fartura
Das tramas que em silêncios tu compões
Desvendo cada página em candura.

A lua se entregando nesta pândega
Dos paraísos transpõe cada alfândega...

557

Dos paraísos transpõe cada alfândega
Amor que traz pureza em alvo cisne.
A solidão entranha leda pândega
Tocada por fuligem, plúmbeo tisne

Ebúrnea insensatez já prolifera
Deixando amor calado e sem domínio.
Nas mãos desta temível, dura fera,
Pressinto o desenlace em assassínio.

Porém amor toando um brado audaz
Perfaz novo caminho, em senda flórea
O quanto este prazer nos satisfaz
Estende a solidão, vã, merencória

Recebo em explosão, ventos solares,
Estrelas em tiaras e colares...


558


Estrelas em tiaras e colares
Adentram na janela dos meus sonhos,
A luz ao penetrar raros altares
Expressa nossos dias mais risonhos.

Medonhos os caminhos que eu vencera
Em noites solitárias, tão vazias.
O quanto apascentara rudes feras
Seguindo estas pegadas mais sombrias

A pérfida esperança me traindo
Deixando em seu lugar apenas nada,
Ao ver o teu sorriso já se abrindo
A vida proporciona uma guinada.

Negando desde então tal virulência
Meu barco vai seguindo com fluência...

559

Meu barco vai seguindo com fluência,
Deixando as corredeiras para trás
Ao ter em braços mansos confluência
Uma esperança altiva amor me traz.

Não sendo mais capacho da tristeza
À mesa se convida num banquete
A festa que se faz viva surpresa
Impede que o amor vire joguete

Nas mãos de uma venal desesperança
A barca dos meus sonhos segue em frente.
Legando o que eu vivera à vil lembrança
Agora amor se mostra douto lente.

Parturiente lume em que me entranho
Expressa nosso jogo, agora ganho...

560


Expressa nosso jogo, agora ganho,
O riso sempre franco nos teus lábios
Nas águas mais tranqüilas eu me banho
Sem rumo, timoneiro ou astrolábios.

São sábios os desígnios de quem deixa
O encanto feito amor nos comandar.
Roçando em minha pele uma madeixa
Sem pressa faz o gozo se aflorar.

Tocando em maciez como um tentáculo
As mãos encontram cais, perfeito abrigo,
Gerando em divindade este espetáculo
Exprime todo encanto que eu persigo.

Na senda deste amor tal claridade,
Verdeja em nosso peito, a liberdade...


561



Rompendo estes grilhões que nos atavam
Aos dias infelizes que tivemos
Os olhos em delícias já se lavam,
Do gozo da alegria enfim sabemos.

Sem ter tua presença, o que serei?
Apenas um saveiro sem destino,
O quanto tantas vezes procurei
Deixado para trás em desatino.

A noite sem estrelas, mar desértico
A vida sem sentidos, dor imensa,
Enigma que se fez demais hermético
A luta sem vitória ou recompensa.

Um canto sem respostas vão; vazio
Inverno que se dá sem ter estio...



562


Inverno que se dá sem ter estio
Distante em meu passado foi à toa.
Vem à tona o desejo em que me fio
A noite do prazer de novo soa.

Tocando na vitrola um velho blues
Chamando para a festa dos sentidos.
Os olhos da vontade são azuis
Acendem meu amor, minhas libidos.

Energia que se emana nesta dança
O tempo de sonhar já não se acaba.
Vivendo o meu destino, uma esperança
Na mata, na tapera, casa ou taba.

Os signos se combinam, com certeza
Astros convidando cama e mesa...

563

Astros convidando cama e mesa,
Fazendo com que eu creia mais em mim,
A vida preparando uma surpresa
A presa se rendendo, perto o fim.

O inverno se entregando à primavera
Além do que eu esperava vi você
Deitando o seu prazer que me tempera
No quanto que eu desejo sem cadê;

Revigorando o tempo de sonhar,
Agora eu sou feliz e não sonego
O canto que chegando devagar
Trazendo o mar de amor que ora navego

Entrego de bandeja o coração
Envolto pelas teias da paixão...

564



Envolto pelas teias da paixão
Menina me embalando nesta rede
Carinho modifica a direção
Nos lábios vou matando a minha sede.

Menina que protege e me acalanta
Guiando cada passo, estrela guia
Vontade de ficar contigo é tanta
Que encanta com fervor e alegria.

Magia que se mostra no balanço
Da moça galopando o seu corcel,
Dançando no teu jogo eu não me canso
Alcança com prazer, invado o céu.

Menina que me guia; estrela e chama,
Rolando sideral invade a cama...

565


Rolando, sideral invade a cama
Estrela tão vadia e delicada,
À lua em fonte clara já me inflama
Deliciosamente alucinada.

Reféns desta loucura; vamos fundo
Girando em carrossel, prazer e gozo,
Vibrando um sonho audaz e vagabundo
O tempo vai passando tão gostoso

Libidos e vontades, mil desejos,
Nos cantos deste quarto, nossas vestes
Por cima dos lençóis, os relampejos
Delírios multicores que me destes

Tocando mansamente os meus sentidos,
Caminhos em loucura percorridos...


566


Caminhos em loucura percorridos
Seguindo esta jangada mar adentro,
Cervejas e prazeres embebidos,
Temperos em dendê mel e coentro

No centro do cenário a moça nua,
Rodando sobre a mesa dos meus sonhos,
O corpo ensolarado, agora sua
Encantos entre cantos tão risonhos.

Na praia, areia, gozos de sereia
Acendendo a fogueira no lual,
O fogo do desejo a lua ateia
Andança nesta dança sensual.

Balançando os seus seios e cabelos,
Das coxas a promessa de novelos...


567

Das coxas a promessa de novelos
Em becos e caminhos, à vontade.
Roçando as nossas carnes, bocas, pêlos
O dia nascerá tranqüilidade.

Liberta borboleta foi crisálida
Que há tempos cultivei no meu jardim,
Da moça que sem viço, feia e pálida
Refeita em maravilha chega assim

Causando um reboliço no meu peito
Domina toda a cena, costa a costa
No delicado porte, este trejeito
Do jeito que se quer e que se gosta.

Arromba em um segundo os meus umbrais,
Bebendo desta fonte eu quero mais...

568


Bebendo desta fonte eu quero mais
Embora a moça esteja tão aflita,
Os sonhos que se foram desiguais
Ainda te mostrando tão bonita.

Eu quero tacar fogo no cenário,
Deitar o que já fomos novamente,
Tirando a velha roupa deste armário
Cevar nosso jardim, plantar semente

Que brote em mesmo palco nova cena
Na transparência audaz, rebolativa,
A vida num vacilo se apequena
Mantenha então a chama sempre viva

Vem logo na colheita que é só tua,
De preferência chegue, agora e nua..


569



De preferência chegue, agora e nua
Alegria voltando em nossa vida.
O corpo que se quer, alma flutua
Levando esta tristeza de vencida.

No cheiro de café, cigarro e broa
No gole de cachaça, a boca espreita
A vida vai passando à toa e boa
Carinho que se pede e não se enjeita.

Do jeito que o diabo sempre quis,
Fazendo toda sorte de loucuras,
Comendo desta fruta eu sou feliz
Mentiras que se dão em tantas juras.

Na cura das mazelas tão antigas.
Deixando para trás as velhas brigas...


570

Deixando para trás as velhas brigas,
As águas vão passando em meu caminho,
Mandingas, galho arruda, rezas, figas
A chuva me tocando de mansinho.

No horizonte tão belo, sonho eu crio,
Crivando em azulejo nosso céu.
O quanto fora vago e até sombrio
Permite que ressurja um claro véu.

Verão vai terminando, chega outono
Eu lembro o triste inverno que passei
Pensara condenado ao abandono.
A solidão quimera feita em lei.

Nas previsões do astral meu signo e o teu
Combinação perfeita que se deu...

571


Combinação perfeita que se deu
Há tempos concebida sem remédio.
Do quanto que eu te quero; sonho meu,
A sorte vem fazendo manso assédio.

Sem tédio nem ressaltos, passo firme,
Cruzando todo o céu, vago cometa.
A cada novo enquanto que se afirme
Vigora cada gozo que eu cometa.

A nave vai seguindo sem tremores,
Diversas emoções riso sincero.
No céu feito em mosaicos multicores
O todo que desejo e sempre espero.

Na madeira de lei do pensamento,
Nosso amor estradeiro, solto ao vento...

572


Nosso amor estradeiro, solto ao vento,
Tijolo por tijolo faz promessa
De toda a liberdade em sentimento
A cada novo dia recomeça;

Pedra, pau, caco, vidro, pesca, anzol,
Conversa na ribeira, sol a pino,
Um cata-vento toca o girassol,
Voltando num momento a ser menino.

Neste hino que se faz em canto leve,
Amor não tem conserto, segue assim,
Às vezes sem juízo, ele se atreve
E bebe todo o rum, cachaça e gim,

Vai bêbado nas ruas da cidade
Gritando em seu louvor, felicidade...

573


Gritando em seu louvor, felicidade
Catando estes gravetos, faço a lenha.
Por tanto que queria na verdade
Amor que sem vergonha sempre venha.

Contendo este conjunto de emoções
Arpoa qualquer verso que virá.
No seio da morena, as seduções
Chamando para a glória desde já.

Jazendo uma saudade pelos cantos,
Do amor que a noite nunca, cega, fuja
Esmoler vai pedindo a tantos santos,
A solidão, apenas garatuja.

No quanto que se fez caricatura,
Agora uma obra prima, se emoldura...


574


Agora uma obra prima, se emoldura
Nos batuques do peito em desvario.
Telefone tocando em noite escura
Convida para a dança que hoje crio.

Retrato mais fiel – felicidade
Atabaque vibrando dentro em mim
Chamando ao ritual da liberdade
Clareia o que se fez tão lindo assim.

Ao passo em que a tristeza já se vai,
Amor trazendo o sol na madrugada,
A luz virando a mãe, o riso é pai
O sonho é o rebento desejado.

Os olhos da esperança faiscavam,
Rompendo estes grilhões que nos atavam.

575

Nas mãos que há tanto tempo já mostravam
O gozo da alegria interminável
Estrelas radiantes que chegavam
Mistério desta mágica insondável.

A morte, eu sei; fatídico tormento
Por vezes torturando vem à tona
Grilhões que desde sempre eu arrebento
Às vezes me jogando contra a lona.

Fazer o quê? Sonhar o que me resta
Abrindo cada fresta desta porta.
Saudade de outro amor me desembesta
O fio da esperança, o medo corta.

Enquanto esta saudade me alucina
Meu peito necessita uma faxina...


576

Meu peito necessita uma faxina
Operário incansável acumulando
Caçando qualquer forma feminina,
Pesado, vai aos poucos desabando.

Cevando uma agonia quer o brilho
Do quanto que se faz, já nem destila,
Amores do passado quando empilho
Entopem de tristeza esta mochila.

Cochilo, e sem perdão, amor de novo,
Fazendo do meu peito um armazém.
Uma apostila antiga que reprovo
Às vezes nem perturba, mas já vem...

Na turba que se entranha eu me empaco,
Só peço, por favor, não encha o saco!

577


Só peço, por favor, não encha o saco;
O trem descarrilou, perdeu o rumo.
Do jogo que se fez, quebrando o taco
Em sinuca de bico, caço o prumo.

Assumo os meus pecados, erros, vícios,
Também o que fazer se sou à toa;
Os ossos fraturados, dos ofícios
Chuvisca me minha vida esta garoa.

Coroa que se fez em moça bela,
Vendendo com sarcasmo tal burrice,
Morrendo sem destino a pobre estrela
Não sabe nem sequer o que me disse.

Apenas vai rolando no porão
Pensando ser ainda a solução...

578


Pensando ser ainda a solução
A rosa pendurada na janela
Espreita o que se passa no colchão
E pensa que inda sou somente dela.

Congela a sua vida num retrato
Há tempos descorado na parede.
Rompido na verdade este contrato
Não quero e nem desejo sua sede.

Acende tão somente um fogo brando
E pensa em fogaréu, pobre coitada.
Um edifício arcaico desabando
Depois não sobra, saiba, quase nada.

Boneca que se fez em pano roto,
Jogando o sentimento em pleno esgoto...


579

Jogando o sentimento em pleno esgoto
Cadarço que se deu desamarrado,
Teu beijo traduzido em perdigoto
Apenas verso podre e descorado.

Não tenho mais coragem, te garanto
De beber uma água suja e tão salobra
Legando o nosso caso ao desencanto
Eu sinto o teu veneno, fria cobra.

Agora a vida cobra a solução
E nisso vou seguindo em peito aberto.
Apenas um bolor no antigo pão
Criando tão somente este deserto.

Não quero mais ouvir tuas mazelas,
Meu barco singra o mar em novas velas...


580

Meu barco singra o mar em novas velas
Do quanto que eu vivi, pragas, carunchos
Cavalo sem arreio e sem ter selas,
Na calma procurada em ervas, funchos

Os trunfos que inda tenho sob a manga
Permitem novo jogo em franca luta.
Não quero mais olhar esta baranga
Que finge ser esperta audaz e astuta.

Prefiro o cheiro doce da morena
Que atrás da velha curva vem surgindo.
Mostrando uma esperança que me acena
De um dia mais gostoso, calmo e lindo.

Ateia fogaréu e não se nega,
O vinho mais gostoso desta adega...

581


O vinho mais gostoso desta adega,
Eu sei, minha querida, é só você
No farto que produz a doce entrega
Eu sinto, enamorado, este buquê.

Ao crer na imensa sorte que hoje vem
Dourar o pensamento, feito em luz.
Certeza de que eu tenho agora o bem
Quem em mágicas palavras me conduz

Permite que eu me encante sempre mais
E tenha uma alegria sem igual,
O amor em noites quentes, sensuais
Inebriado sonho em festival.

No aval deste prazer que encontro enfim,
Eu bebo cada gota até o fim...



582



Eu bebo cada gota até o fim
Das águas em que banhas tua pele,
Entornas teus prazeres sobre mim
E ao jogo mais voraz, amor compele

Atrelo dentro em ti o fogo intenso
Pintando a tela rara em tal moldura,
No quanto sou feliz contigo eu penso
Refazendo, sutil, louca procura.

No embalo deste jogo em ziguezague
Fronteiras não mais vejo e nem as quero.
Que a chama deste amor jamais se apague,
É nela que decerto eu me tempero

E faço destas águas o meu mar,
Bebendo a noite inteira sem parar...



583


Bebendo a noite inteira sem parar
Do quanto te desejo e nunca nego.
Aos poucos vou chegando devagar
Vagando sem limites, eu me entrego.

O tanto que eu sofri, nem me dou conta
Asperges no meu corpo farto mel,
Destino tantas vezes nos apronta,
Permite a liberdade de um corcel

Nas asas deste Pégaso pressinto
O amor chegando ao máximo, apogeu
Na boca que se dá, divino absinto
O quanto tanto és minha, já sou teu.

Na linha do horizonte, a tua face
Sem nuvem nem tempestas que a embace...


584


Sem nuvem nem tempestas que a embace
A noite perfilada em mil estrelas,
Amor vai preparando em desenlace
A sorte de poder sempre contê-las.

Ao vê-las eu me lembro de teus olhos,
Divina criatura que me fez
Distante das ericas, dos abrolhos
Viver em fantasia, insensatez.

Derramas tuas luzes sobre mim,
Inundas nossa cama em gozo farto
Desejo que se deu; tão lindo assim,
No quanto que em prazeres eu reparto

Fazendo do meu lar um tabernáculo
A cada nova noite um espetáculo!


585

A cada nova noite um espetáculo
Marcado pela leve transparência,
Das mãos sempre vorazes um tentáculo
Procura com delícias a dolência

Do doce balançar de teus quadris,
Na gula em que voraz eu me vicio,
Orgástica loucura pede bis
Gerando e recriando eterno cio.

Perfaço com loucuras a viagem
Por entre tuas sanhas, belas sendas,
Na nudez encontra tal roupagem
Dois corpos vão atados, sem emendas.

A lua emoldurando da janela
A cena que em delícias se revela...

586


A cena que em delícias se revela...
Dos seios da mulher bela morena
Estende em minha cama a rara tela
Que em gozos e promessas já se acena.

Apenas a nudez que se desfralda
Formando tal cenário inesquecível,
O amor vai sem limites e se esbalda,
Fartura que se mostra além do crível.

Criando fantasias, jogos feitos,
Numa expressão divina e sem pecado,
Vontades e desejos são aceitos
Em cada novo rumo desbravado.

Assim, bisando audazes, nossos coitos,
Galopes que se mostram tão afoitos...

587

Galopes que se mostram tão afoitos
Pertuitos desvendados permitindo
Delicadeza feita em loucos coitos
Estrela em nossos corpos refletindo.

Audácia inesgotável, inclemências
Ardumes em cardumes de prazeres,
Deixando para trás falsas decências
Mergulhos que se dão em nossos seres.

No incrível balançar, intensidade.
Penetro pela furna umedecida,
Encharco meu querer em tempestade
A fonte que se dá; é recebida.

Assim nesta volúpia que não cessa,
Amor em fogo intenso se confessa...

588

Amor em fogo intenso se confessa
Permite um acalanto que sossegue
O coração que outrora foi promessa
E agora não existe quem mais negue.

Sonega-se a tristeza, cala a dor,
Um artesão da sorte já traduz
Um quadro que se mostra encantador
Raiado em plenitude, farta luz.

Os calos que trazia em cada palma
Do quanto eu desejei e nada tinha,
Desfeitos pela imensa e mansa calma
Mostrando que esta glória ainda é minha.

Caminhos encontrados me guiavam,
Nas mãos que há tanto tempo já mostravam.



589




Quanto é possível ter tranqüilidade
O tempo segue em paz, por Deus ungido
O sonho mais perfeito nos invade,
Do amor que tanto dizes não duvido.

A vida se passando sem receios
No tempo que se faz, amante e amigo
Encontro em fantasia os belos veios
Prazer alucinante que eu persigo.

Eu quero essa morena soberana
À cada novo encontro outro convite
Tocando com carinho em noite insana.
Amor que a gente quer não tem limite.

Gostosa maravilha eu posso ver
No jogo de se dar e receber.



590


No jogo de se dar e receber
Eu quero esta manhã bem resolvida
No sonho em maravilha eu posso ver
Razão para beber intensa a vida.


No fogo deste beijo, o mel, a boca
Um sonho sem igual se prometendo
O gozo que se faz e se provoca
Aos poucos vem com calma me envolvendo


Com calma e com doçura, meu intento
A trama que jamais, decerto cansa,
Orgástico prazer tão violento
Causando um paradoxo em noite mansa.

Vem logo reflorir o meu jardim.
Eu quero só te dar amor sem fim...


591

Eu quero só te dar amor sem fim
Além deste infinito céu imenso.
Tomado em esperanças hoje eu vim
Falar tudo o que sonho, e agora penso.

No tenso amanhecer de minha vida,
O sol que me queimara num mormaço
Ao perceber no amor uma saída
Riscou meu horizonte me fino traço.

Zênite se mostrando em azulejo
Formando inesquecível e rara tela,
O quanto que eu te quero e mais desejo
A cada novo verso se revela.

Mulher que me domina e me cativa,
A flor que eu cultivei pra sempre viva...


592



A flor que eu cultivei pra sempre viva
Expressa a fortaleza de um canteiro
Estendo minhas mãos, a alma cultiva
Promessa de um amor mais verdadeiro.

O cheiro que entranhaste dentro em mim,
Decerto que jamais eu perderei.
Amor o mais perfeito espadachim
Defende com firmeza a sua lei.

O tanto que eu te quero não se mede,
Apenas se vislumbra no infinito.
Nem mesmo a solidão agora impede
O sonho mais audaz, sempre bonito.

De ter por companhia benfazeja
A luz desta mulher que se deseja...


593


A luz desta mulher que se deseja
Espalha pelos cantos desta casa
O fogaréu que intenso já lateja
No corpo de quem viva imensa brasa.

A cargo desta insânia sigo a vida,
Em via tão diversa acerto o prumo.
Primordial caminho, uma saída
Que a cada nova noite assim consumo.

No sumo de teus lábios me lambuzo
E bebo até fartar, mas peço mais,
O tempo vai perdendo rumo e fuso
Em meio aos mais divinos vendavais.

No cais eu desemboco os meus navios,
Criados pelos sonhos, loucos cios...


594


Criados pelos sonhos, loucos cios
Dourando nossos dias, ronda explícita
A vida se mostrando em vários fios
Da forma vezes sana outras ilícita

Pecados profanando cada altar
Do amor que outrora fora ingênuo e calmo
Agora que começa a maturar
Do corpo desta deusa cada salmo

Permite em louvação que se dedique
O quanto deste amor eu já desejo.
Rebenta com vontade cada dique
E o gozo sem igual cedo despejo

No corpo da mulher que é fonte e mina,
A fixação me toma e assim fascina...

595


A fixação me toma e assim fascina
Fazendo do sonhar monotonia.
O corpo tão perfeito da menina
Diversas emoções decerto cria.

Do quanto havia outrora em tristezas,
Agora se perfaz felicidade.
Tomando já de assalto tais defesas
Penetra com audácia e liberdade.

Agora não consigo disfarçar
Nem mesmo assim pretendo outro caminho.
Tocado pela força do luar
Argêntea solução, eu já adivinho

E bebo cada gota de suor,
No mundo que se faz sempre melhor...


596



No mundo que se faz sempre melhor
Depois de ter sentido o teu calor,
Um canto que se eleva bem maior
Expressa na verdade o nosso amor.

Compor os meus poemas junto a ti,
Decerto faz a vida sem liberta,
O quanto que busquei; reconheci
Na tua pele, rara descoberta.

Agora companheiros de viagem,
Sentindo a maravilha de se ter
No amor que se permite alunissagem
Prateando nosso céu em bem querer.

Pulsantes corações em harmonia,
Encharcam nossa vida em poesia...


597


Encharcam nossa vida em poesia
Os versos que compões, divina dama,
Se neles reconheço a maestria
Embevecido bebo cada trama.

Quasímodo que busca em Esmeralda
Beleza que já sabe não terá,
Meu peito enamorado assim desfralda
O encanto que procuro sempre e já.

Nas sendas mais divinas reconheço
O quanto a vida é nobre e disso faço
Após a caminhada sem tropeço
A força que se emana em cada traço

De todos os poemas que tu fazes,
A lua de meus sonhos muda as fases...

598




A lua de meus sonhos muda as fases
Desnuda, em plenilúnio, chega aqui.
Lirismo inevitável, tantas frases
Sagrando todo o amor que vejo em ti.

Atônito caminho pelas ruas,
Buscando a lua imensa que sonhara,
Ao ver estas estrelas belas, nuas,
Verdade se tornando bem mais clara.

Tua nudez entranha nos meus olhos,
Miragem que decerto já me ilude.
Colhendo a fantasia feita em molhos
Amor vai me inundando, sacro açude.

Espetáculo feito em várias cores
Caleidoscópio, eu vejo em tantas flores..


599



Caleidoscópio, eu vejo em tantas flores
Mostrando uma beleza interminável,
Por onde tu seguires, onde fores
Reflexos de um prazer inesgotável.

Ditando sobre nós a redenção
Teus passos me servindo como guias
A vida transportando em turbilhão
Eterna maravilha em melodias.

Nas ilhas que deveras foram tantas
Durante minha dura caminhada,
Agora que em verdade tu me encantas
Não temo nem soçobro em derrocada.

Deixando bem distante o meu calvário
Encontro o paraíso imaginário...


600

Encontro o paraíso imaginário
Na cama da mulher bela e morena.
A lua se derrama no cenário
Prazer inesquecível já se acena,

Plena satisfação em gozo imenso,
Reféns do mesmo ardor, nós vamos fundo.
Somente em teu deleite, sempre penso
Não deixo de querer nem um segundo.

Afundo o meu caminho em tuas tramas,
Bebendo cada gota do rocio
Por vezes carinhosa me reclamas,
E todo o jogo logo eu principio

Num ópio delicado e fabuloso,
Amor que a gente faz, sempre gostoso...

601


Amor que a gente faz, sempre gostoso,
Estampa em nossos corpos maravilhas.
De tudo o quanto eu tive, harmonioso
Caminho que me leva a belas trilhas.

Os vales percorridos, as montanhas,
Decoro com vontade a geografia
Enquanto tu provocas e me assanhas
O fogo novamente principia

E o incêndio não se acaba e nem se aplaca,
Devora o pensamento, num instante.
No cerne do desejo, fina faca
Que adentra o coração de um viandante.

Teu corpo provocante me convida,
À festa em que se gesta nova vida...

602


À festa em que se gesta nova vida
O peito já se abrindo não discute,
A noite vai chegando distraída
Verdade em cada sonho já se embute

Parelhos os caminhos de quem ama,
Refazem mocidade e juventude.
A sorte num momento vem e inflama
Mudando de conversa e de atitude.

Assim, um caminheiro antes sozinho,
Agora persevera e segue em frente,
No colo deste amor quando eu me aninho
Pressinto um novo encanto mais presente.

Vislumbro com firmeza e com vontade
Quanto é possível ter tranqüilidade.


603


Deixando para trás e sem saudade,
Os erros cometidos no passado,
Talvez ainda veja a claridade
Chegando de mansinho pro meu lado.

Vivemos tantas vezes noutras vidas
O sonho feito amor em claro lume.
As horas vão passando distraídas,
Mas sinto ainda forte o teu perfume.

Correndo para a foz, o rio enfrenta
Diversas cachoeiras e cascatas,
Paixão que agora chega, violenta
Enquanto os meus caminhos arrebatas.

Tomando nossos versos, peito aberto,
Encontrarei o amor, disso estou certo...


604

Encontrarei o amor, disso estou certo
Batendo na janela do meu quarto,
Se quando do teu lado, amor desperto
Eu vejo o quanto o tempo se faz farto.

Não quero e nem me aparto deste rumo
Que é feito com certeza em luz divina.
Tocando no teu corpo eu sempre assumo
O quanto esta fornalha me alucina.

Tristezas são deixadas ao relento,
A vida se transforma e me entontece,
Sentindo a profusão em sentimento,
Na pele da mulher o sonho tece

Bordados em mosaicos, traduzindo
A perfeição do amor deveras lindo...

605


A perfeição do amor deveras lindo
Recende ao fogo ardente de um desejo
Que aos poucos nos entranha e vai fluindo
Causando intensamente o relampejo

No qual nós dois seguimos sem limites
Eterna procissão de gozos tantos,
Senhora de meus sonhos, acredites
Na força sem igual de teus encantos.

Intensa labareda a nos tomar,
Na força que não cede em fortaleza,
Nas ondas dos teus braços, bebo o mar
Seguindo passo a passo a correnteza

Deitando todo amor que existe em nós,
No gozo mais audaz, divina foz...

606

No gozo mais audaz, divina foz
O brilho que se mostra encantador,
O tempo que se fora amargo algoz
Agora se entregando ao bem do amor.

Na ponta dos meus dedos, luz intensa
Permite que se possa conduzir
Felicidade, maga recompensa
Eternamente sonho a reluzir.

Vencendo os meus temores mais antigos,
A velha lamparina a querosene
Em braços e carinhos tão amigos
Permite que em potência já se acene

O raio deslumbrante de um farol,
Tomando a nossa vida como um sol.

607



Tomando a nossa vida como um sol
Poder desta amizade virtual,
O quanto que de ti sou girassol
Permite um canto leve em doce aval.

Vestindo de ilusões, querida amiga,
A vida que é tão dura e nos maltrata.
Que toda esta certeza já consiga
Vencer a solidão que se arrebata

Nos corações que às vezes vão vazios
Distantes desta luz que se irradia,
Unindo nessa rede sem ter fios
Gerando tantas vezes a alegria.

No quanto mesmo longe, sei verdade
Toando em harmonia uma amizade...



608

Toando em harmonia uma amizade
Eu sigo sem temores meu caminho,
Ao ver e conceber tal claridade
Decerto não irei jamais sozinho.

Ao canto que se faz em harmonia
Louvores entoando a cada verso,
Contigo, minha amiga, encaro o dia
Aberto o coração, jamais disperso,

Olhando com firmeza este horizonte
Que se mostra decerto em amplitude,
Eu bebo com certeza a bela fonte
Que espalha pelo mundo a juventude.

Contigo, minha amada e boa amiga,
A vida se baseia em forte viga...


609


A vida se baseia em forte viga
E encara a tempestade ou vendaval,
O quanto se demonstra enquanto abriga
O bem desta amizade é sem igual.

Retendo nos meus olhos tua imagem
Depois de tanta luta em minha vida,
Agora uma esperança em nova aragem
Permite que se veja uma saída

No duro labirinto da existência
Que torna a caminhada mais perversa,
Não quero mais sequer tal penitência
O canto em alegria mostra e versa

Destino transformado, num instante
Expressa um canto alegre e triunfante...


610


Expressa um canto alegre e triunfante
Vigor que esta amizade representa
Dos sonhos, meu amor é debutante
E tantas armadilhas; logo enfrenta.

Não fosse o teu apoio, amiga minha
A vida com certeza não teria
O porte que decerto se avizinha
Trazendo este clarão a cada dia.

Subindo com firmezas tais escarpas
Não temo mais a queda nem o corte.
Caminho que entre pedras, urzes, farpas
Sonega com certeza, aborta o norte.

Porém quando contigo, eu nada temo,
Nos braços da amizade encontro o remo...


611

Nos braços da amizade encontro o remo
E o rumo que deveras procurara,
O quanto nosso trato, assim supremo
Permite que esta vida siga clara.

Vencendo as mais difíceis armadilhas
Que a vida nos prepara e nunca poupa
Reveste em alegrias nossas trilhas,
Uma esperança imersa em fina roupa.

Do quanto que na estopa do passado
Agora se bordando em fios de ouro
Futuro possa ser iluminado
E a paz nosso sublime ancoradouro.

Assim, amiga eu vejo a solução
Matando em nascedouro a solidão...

612

Matando em nascedouro a solidão,
O gozo da alegria determina
Que a fonte que se entorna de emoção
Permite no horizonte a rara mina.

A força cristalina deste amor,
Apaixonadamente já nos toma,
Dourando em meu canteiro a fina flor,
É multiplicação, bem mais que soma.

Amor um bem preciso, um dom eclético
Que faz de todo o sonho, realidade.
O quanto que te vi em tom profético
Agora vislumbrado em claridade.

Verdades estampadas no teu rosto,
O fogo da paixão se mostra exposto...

613

O fogo da paixão se mostra exposto
Incendiando tudo à nossa frente,
Sentindo em tua pele, raro gosto
O quanto de prazer já se pressente!

Sonhar tua nudez, clarividência
Caminho tão profano e desejado.
O sol que nos queimando em florescência
Estampa o gozo audaz e procurado.

Carícias que trocamos são promessas
De um dia mais feliz que eu sei, virá,
O quanto me desejas e confessas
Mostra minha vontade desde já.

Assim, dois viajantes da esperança,
Entranham com delírio a mesma dança...

614




Entranham com delírio a mesma dança
Meus olhos que te buscam nestes sonhos,
O gozo da alegria já se alcança
Deixando para trás dias tristonhos.

Realce que se mostra em cada verso
Denota todo o bem que eu também quis.
Viver em harmonia este universo
Demonstra o quanto quero ser feliz.

Contendo a cada olhar o teu retrato,
Reluz em nós um brilho inigualável.
A fantasia inunda este regato
Legando ao mar beleza incomparável.

Sentir o teu perfume junto a mim,
Demonstra quão divino este jardim....


615

Demonstra quão divino este jardim
Do jeito e da maneira que tu vês
Transborda o que melhor existe em mim,
Usando tantas vezes tais clichês

Nas colchas em crochês de uma esperança
Nas rendas ou cetins, seda, organdi.
Um tecelão em versos tenta e trança
O quanto de beleza encontra em ti.

O vasto mar aonde num naufrágio
Eu mergulhei desejos e vontades,
O amor velho avarento cobrando ágio
Com juros cobra sonhos, claridades.

Mas pago de bom grado, até repito,
Toando um libertário brado em rito...


616


Toando um libertário brado em rito
O peito que se fez enamorado
No qual, por tantas vezes acredito,
Mesmo que mude agora o enunciado.

Palavra que desejo o que tu queres,
Não tenho mais escolhas, sou só teu.
A festa já se fez noutros talheres,
O rio nos teus braços me verteu.

O mesmo cantochão repetitivo
Fazendo da tristeza um estribilho,
Tornou meu coração um seu cativo
Selando o meu destino de andarilho.

Caminho me afastando da ansiedade,
Deixando para trás e sem saudade.


617


Os dias em que as horas não passavam,
Distantes de quem tanto eu desejara
Os olhos nos espaços procuravam
O rastro desta estrela bela e clara.

Ao ter tua presença em plenitude
Eu percebi o quanto sou feliz.
Renova-se deveras juventude
No encanto que teu verso já me diz.

Amado; eu vou seguindo, a fronte ereta
Olhando pro horizonte que deslinda
A fonte da esperança em que completa
Manhã que se anuncia, imensa e linda.

Agora que contigo vou em frente,
O mundo se transforma totalmente...


618



O mundo se transforma totalmente
Expondo o quanto quero e te desejo,
Chegando ao teu prazer completamente
Eu tramo o quanto sonho e assim prevejo.

Almejo cada gozo que virá
Rolando das entranhas, cachoeiras
Rocios preciosos desde já
Cevando nossas luas costumeiras.

Expondo tal nudez ou transparência
Ditando todo o rumo que eu proponho,
Amor não é somente coincidência
É toda a realidade exposta em sonho.

O beijo mais audaz e delicado,
O gosto tão sublime de um pecado.

619


O gosto tão sublime de um pecado
Convida a minha Musa para a dança
Quem vive esta esperança é consolado
A cada novo embarque na lembrança.

Meu rio desemborca neste mar
Amargas ilusões se esvaem em bando
As andorinhas chegam devagar,
O céu vai novamente clareando.

Andando por desérticas paragens
Durante tanto tempo eu esperei
Felicidade imensa nas aragens
Nas quais por ledas vezes me entranhei.

Distante das marés, da fina areia,
Ouvindo o canto nobre da sereia.

620




Ouvindo o canto nobre da sereia
Repito o que mais quero neste instante
Minha alma na verdade sempre anseia
Roubar o mais sublime diamante

Exposto em fortaleza inalcançável,
Tramando com certeza uma saudade,
A boca tão sublime, imaginável
Expressa dos prazeres, a vontade.

Coragem não preciso pra sonhar
Com o doce molejo da morena
Que chega de mansinho e vem falar
Do quanto este desejo toma a cena.

Colhendo cada beijo destes lábios,
Amores se mostrando sempre sábios...

621




Amores se mostrando sempre sábios
Não deixam que os sorrisos já se percam,
No rumo necessário em astrolábios
De toda a garantia sempre acercam,

Secando quaisquer mágoas que vierem,
Encanto sem igual se prometendo.
Do jeito e da maneira que quiserem
Em sonhos, solidões se convertendo.

Minha alma que em amor se desfalece
Encontra nos teus braços, seu abrigo,
Divina catedral entregue à prece
Estampa todo o amor que inda persigo.

Não vejo nossos rumos mais perdidos,
No amor que roça assim nossos sentidos...


622




No amor que roça assim nossos sentidos
Qual vento que se faz em mansa brisa,
Os olhos se procuram, percebidos
Do quanto em harmonia amor matiza

A vida de quem sonha e não se cala,
Deixando o coração de outrem já mudo.
Encantos entranhando quarto e sala
Adentram nossa vida, vêm com tudo;

Etéreas sensações, liberto vôo
Alçando os mais distantes pensamentos,
No canto que proferes sempre entôo
Tocado por tão raros sentimentos.

Permita que eu te fale num poema
Do quanto amor é nosso, raro emblema.


623


Do quanto amor é nosso; raro emblema
Que mostra a perfeição de um sentir puro.
Rompendo com vigor qualquer algema
Nos braços deste sonho eu me depuro.

A rosa que adentrara na janela.
Modinha que o poeta deslindou
Perfume que eu roubei da moça bela
Durante tanto tempo me entranhou.

Do quanto eu te agradeço Bittencourt
Toda a ternura feita em melodia,
No lusco fusco abaixo este abajur
E a noite vai singrando em poesia.

O sonho pequenino se agiganta
Minha alma enamorada, agora canta...

624


Minha alma enamorada, agora canta,
Ao ver chegar o Rio de Janeiro,
Descendo do avião, saudade tanta,
Entrego o coração me dou inteiro.

Lembrando de Ipanema, o Corcovado,
O jogo do Fogão, Maracanã
O tempo de viver dói um bocado,
A sorte inda resiste no amanhã;

Um gole de cerveja, um mexilhão,
As pernas das morenas pela areia,
Meu Rio vai mostrando na canção
Encantos da cidade, uma sereia.

Saudades da cidade, o mar sem fim,
Rio, você foi feito para mim!

625


Rio, você foi feito para mim,
Nas moças que passeiam pela praia
Na Rua do Passeio, no jardim,
O vento levantando a sua saia,

Vislumbre em morenice belas pernas.
Do Lido, em Ipanema, no Recreio,
As horas não se passam, são eternas.
A vida se promete sem anseio.

O quanto o Rio é belo disse Tom,
Concordo e não discuto, peço bis
Descendo pela praia do Leblon
Eu vejo o quanto posso ser feliz,

O vento vem chegando; mansa brisa,
O gozo de viver, depressa avisa...


626


O gozo de viver, depressa avisa,
Deitando no aconchego, meu carinho,
Galopa o meu cavalo em mão precisa
Vagando pelo espaço, passarinho.

Ao ver-me nos teus braços, liberdade,
Sentindo todo o mundo festejar,
Tocado pela imensa claridade
Encontro nos teus braços, o luar.

Vontade de voar, estar liberto
Ganhar toda a amplidão por um momento,
O rumo que procuro, estando aberto
Chegando de mansinho queima lento.

O vento que se espalha sobre nós,
Alçando o pensamento, vem veloz...

627


Alçando o pensamento, vem veloz
Erguendo o seu olhar sobre montanhas,
O tempo toma conta atando os nós
Transforma num segundo velhas manhas,

Manias que cultivo dia a dia,
Algumas; reconheço, são bisonhas,
Poeta que disfarça enquanto cria
As marcas que carrega; bem tristonhas.

Brincando com palavras, trovador
Não sabe discernir o que inda quer,
Cantando o mesmo mote, diz amor,
Pensando o tempo inteiro na mulher

Que é deusa, musa, ninfa e companheira,
Embora idealizada; verdadeira...

628


Embora idealizada; verdadeira,
A sensação do amor que tanto aflige,
Queria ser a loa derradeira,
E ter a perfeição que amor exige.

A noite tão distante do teu colo,
Expõe cada pedaço do que sou.
Arando tantas vezes, duro solo,
Apenas cardo, espinho, o que brotou.

Ternura que se dá e desabriga,
Pranteia o coração vagando ao léu.
De lágrimas minha alma já se irriga
Buscando um azulejo em cinza céu.

Meu canto se tornando, agora triste
Pergunta se esta estrela ainda existe...

629



Pergunta se esta estrela ainda existe
O sonho de quem tanto quis amar,
Uma esperança tola ainda insiste
E bebe cada raio do luar

Espreita que se fez deveras fútil,
Do nada que recebo; nada tenho,
Uma ilusão se mostra dura, inútil
Apenas nas tristezas eu me embrenho.

Saudade vem chegando de mansinho,
Não me deixa sequer um só momento,
A noite vai pesando em desalinho,
Restando tão somente este tormento.

Dizendo desta estrela que partiu,
Seu rumo, ninguém sabe, ninguém viu...


630

Seu rumo, ninguém sabe, ninguém viu,
Nem mesmo em suspeição eu posso ver
O quanto fora outrora mais gentil
O amor que se perdeu, matou prazer.

Restando na memória tão somente
Lembranças do que tive já faz tempo.
Aborto que negou qualquer semente
Gerando este vazio em contratempo.

Saudade dominando a minha noite
Tomando este cenário em luz opaca,
Negando a paz, transtorna o meu pernoite
Cravando no meu peito a fria estaca.

Ingênuas ilusões já desbravavam
Os dias em que as horas não passavam.

631


As frias madrugadas não deixavam
Prever-se um claro sol, uma alvorada.
O quanto que meus olhos procuravam
Depois de certo tempo, o mesmo nada.

Retrato em preto e branco do passado,
Apenas focaliza eterno não.
Às vezes num olhar mal disfarçado
Ainda encontro luz neste porão.

Voando em lusco-fusco, um vaga-lume
Resiste e sobrevive dentro em mim,
E quem sabe por vício do costume
Lutando, solitário até o fim

Eu quero crer no amor, mau ladrilheiro,
Ladrão do diamante verdadeiro...


632


Ladrão do diamante verdadeiro,
O sonho saqueando a realidade.
Levando amor que eu tinha; derradeiro,
Deixando tão somente esta saudade...

Palavra que entristece quem a sente
Relembra o que eu vivi e foi tão bom,
Por mais que o dia venha para a gente,
Lembranças carcomendo em mesmo tom.

Monótona e difícil cantinela
Que insiste mal a noite vê chegar,
O amor que tanto eu quis ora revela
Apenas a vontade de voltar

E crer que inda é possível reviver,
Realçando somente o que é prazer...


633



Realçando somente o que é prazer
Saudade faz sorrir e faz chorar,
De todo bem que outrora pude ter
Às vezes eu começo a relembrar.

E quando nada vejo, a dor me invade
Trazendo uma tristeza inevitável.
Roubando toda a paz, tranqüilidade
Numa agonia amarga, interminável.

A mesma ladainha se repete,
Num sabor muitas vezes agridoce
Olhando para espelho tête a tête
A vida em carrossel, como se fosse.

Volátil sensação que determina
O retroalimentar da mesma mina.

634


O retroalimentar da mesma mina
Numa inerente força que não cessa,
Enquanto esta saudade me domina
A sorte não permite uma promessa

De um dia que seria em paz intensa,
Levando à calmaria, o vendaval.
Por mais que a gente lute, a vida é tensa
Causando uma agonia sem igual.

A par do que tivemos noutros tempos
Lembrança volta e meia vem à tona.
Gerando novamente contratempos
Teimosamente a paz nos abandona

Tal moto perpetua os sofrimentos
Meu barco já não tem rosa dos ventos...


635





Meu barco já não tem rosa dos ventos
Perdendo a direção, busca o naufrágio.
Envolto em tais cruéis pressentimentos
O coração se torna então mais frágil.

O dia silencioso em pleno caos
Levando o meu sorriso de vencida,
Quem dera se pudesse em novas naus
Saber aonde existe uma saída.

Perdido entre tempestas, vendavais,
Não tenho mais suporte, eu me perdi.
Encontro ao fim da noite um belo cais,
Mostrando a solução. E estava aqui

Nos sonhos e delírios, fantasia,
A eterna companheira: poesia...


636



A eterna companheira: poesia
Jamais me abandonou e está comigo,
Nos mundos mais diversos que ela cria
O quanto que desejo e até persigo.

De todas as mulheres que eu já tive
Durante a minha vida, um sonhador.
Apenas poesia sobrevive
Toando a melodia em puro amor.

Por mais que enfrente imensos vendavais,
Ou mesmo a calmaria chegue enfim,
Dos sonhos delicados, sensuais
Eu vejo a força intensa dentro em mim

Daquela que se faz eterna amante,
O par que é predileto e sei constante...

637


O par que é predileto e sei constante
Traçando eternidades ao meu lado,
Sorriso tão fugaz e provocante
Um gozo tantas vezes disfarçado

De quem em ironia leva a vida,
Sarcasmos dominando este cenário.
História que se faz mal resolvida
Promete um novo dia temerário.

Assim, querida amiga, eu te proponho
Quem sabe renovando o guarda roupa
Ainda eu possa crer que existe o sonho,
E a dor sendo enganada vai e poupa

O coração de quem amou demais
Levada num momento a outro cais...

638




Levada num momento a outro cais,
Embarcação se mostra renitente
O quanto que sonhei noutros astrais
Naufrágio com certeza se pressente.

Potentes vendavais que nos tombaram,
Serenas praias nunca eu percebi.
Apenas ilusões afiançaram
O resultado encontro agora, aqui.

O vago que persiste no meu peito
Retrata o que não tive, mas busquei.
Quem sabe na amizade encontre um jeito
Mudando de cenário, reino e rei.

No palco das temíveis ilusões,
Os ventos em diversas direções...

639



Os ventos em diversas direções
Redemoinho grave que nos toma,
No trama inaplacável das paixões
Percebo esta razão entrando em coma.

Numa explosão em fogo, ilimitada,
Incêndios indomáveis no meu peito,
Depois de cada curva, a derrocada
O tempo sorridente e contrafeito.

Afeito a tais loucuras, sonhador,
Não temo os resultados deste jogo,
Coloco sem juízo e sem rancor
As mãos neste temido, imenso fogo.

Embora chamuscado tanta vez,
Não quero e nem suporto a sensatez...


640



Não quero e nem suporto a sensatez
Na pênsil ponte eterna da saudade,
No quanto amor maltrata; ele se fez
Num vai e vem de guerra e liberdade.

Desnudando minha alma intempestiva
Fazendo reboliço em minha vida.
Amor tanto repele e me cativa
Transtorna de repente toda a lida.

Na ávida sensação do nada ter,
Esfaimado jamais está contente.
Tocado pelas ondas do prazer
Naufrágio interminável se pressente.

Enquanto eu tento a fuga eu fico aqui,
Rendido totalmente, eu me perdi...

641



Rendido totalmente, eu me perdi
Ouvindo este chamado, agora eu sigo,
Buscando toda a luz que existe em ti,
Legando ao dejà vu qualquer perigo.

Sentir quanto é possível receber
A luz do sol em plena claridade,
O bom da vida mostra que o prazer
Permite vislumbrar felicidade.

Olhando o que vivera; sonho algum,
A dor deste vazio inda remexe,
Porém do amor agora, em claro zoom,
Eu vejo o teu sorriso, como um flash.

Bebendo desta fonte inesgotável,
O amor se faz num brilho inexplicável...

642



O amor se faz num brilho inexplicável
Tomando todo o palco da existência
Um rio totalmente navegável
Afável sentimento, sem dolência...

Cardumes de esperanças, piracemas,
Diversas emoções se multiplicam.
Rompendo com firmeza estas algemas
Os laços redentores glorificam.

Agora o que se fez outrora algoz
Estampa de soslaio algum sorriso.
Enquanto amor aumenta a sua voz
Criando um mundo claro e mais preciso

A solidão se esvai, sem rumo ou meta,
O peito de esperanças se repleta...


643



O peito de esperanças se repleta
Não deixa mais espaços pra tristeza
A refeição, querida se é completa
Permite um bom banquete em cada mesa.

Decerto tantas vezes imagino
A dor ou a saudade como amiga,
Cansado de viver tal desatino
Permito que o amor sempre consiga

Vencer minhas defesas, velho dique,
Promessa de gostosa inundação.
Se o barco, no caminho for a pique,
Eu tive, pelo menos a emoção.

Assim eu não permito tais dilemas,
Há tempos que eu rompi tristes algemas...

644



Há tempos que eu rompi tristes algemas
Seguindo passo a passo o meu caminho,
Por isso, companheira não mais temas
O tempo maturou o nosso vinho.

Sentindo este perfume, este buquê
Eu vejo finalmente, que acertei,
Olhando o meu passado o que se vê
São erros cometidos, noutra grei.

Durante muito tempo em minha vida
Meu passo se mostrou quase que errático,
A sorte tantas vezes distraída
Não tinha mais sentido, estava estático

Enquanto os sonhos chamas procuravam,
As frias madrugadas não deixavam.


645




Sequer raiar aurora, a ansiedade
Não deixa e determina a negritude
Que toma todo o céu. Felicidade,
Longínquo e quase seco, arcano açude.

Apelos que eu já fiz sem ter resposta,
Convites esquecidos sobre a mesa.
Há tempos que eu perdi qualquer aposta,
O quanto que eu sonhara, sem defesa.

Envolto pelos braços do vazio
Saudade pelo menos, lenitivo...
Queria te dizer do vento frio,
Mas nada mais consigo, sobrevivo...

De tanto te esperar, chuva, tempesta.
Caricatura, apenas, o que resta...


646

Caricatura, apenas, o que resta
Deste amor que arrasou o quarteirão,
Do quanto tive outrora riso e festa
Naufraga a mais sutil embarcação;

Projetos que eu tivera no passado,
Agora estão pra sempre engavetados.
Do amor um bandoleiro desarmado
Gravetos de arvoredos mal plantados.

Espinho que se encrava na garganta
Escravo desta imensa estupidez.
A deusa que se fez rainha e santa
Mostrando suas garras de uma vez.

Nas altas madrugadas te procuro,
Apenas o que vejo: o céu escuro...

647


Apenas o que vejo: o céu escuro
Tomando todo o palco, amanhecer.
Sumindo pelas ruas, eu te juro
Que um dia ainda tento te esquecer.

A noite vai passando, eu na espera,
A moça diz que um dia vai voltar,
Quem sabe ela trazendo a primavera
De novo eu possa enfim recomeçar.

Faz tempo que saiu pra dar plantão,
Depois do carnaval, Vila Isabel
Pensei que ela voltasse, foi em vão,
Decerto noutra tenda faz seu mel.

Restando este vazio, e tanto anseio,
Aguardo um telegrama, carta, e-mail.

648


Aguardo um telegrama, carta, e-mail,
Mas nada de notícias, vou à luta.
Apenas carregando este receio
Da vida que se deu em massa bruta.

Da brita da esperança faço a casa,
Porém ela não quer viver comigo,
Às vezes incendeia intensa brasa
Depois, virando o rosto: nem te ligo!

Amigo o quê fazer se eu gosto dela?
Perfuma mesmo longe, o meu jardim,
É filha com certeza da costela
Quebrada há tanto tempo dentro em mim.

Parece que é vingança desta moça,
Destino preparando cada troça!

649


Destino preparando cada troça
Às vezes me pegando de surpresa
No fogo que queimou minha palhoça
Quem fora caçador agora é presa.

Bebendo uma cachaça no boteco
Eu vejo as belas pernas, rijas coxas,
Em pensamento; amigo, eu sempre peco.
Porém as esperanças ficam coxas

E nada do que eu quis se realiza,
Nem mesmo qualquer sombra de prazer.
Vivendo tão somente de uma brisa
Sem nada pra sonhar ou pra comer.

Eu sinto que talvez não tenha cura,
No amor que se fez mais bela moldura...


650


No amor que se fez mais bela moldura
Encontro agora a chave do segredo,
Brotando dentre nós rara ternura,
Eu quero e te desejo desde cedo.

Não temas nosso passo em direção
Ao mais belo e sublime amanhecer,
O quanto nos devora esta emoção
Também já nos permite conceber

Em meio a tempestades, o sentido
Que faz a nossa vida ter um rumo,
O bem que eu te desejo, decidido
Permite finalmente um novo prumo.

O sumo deste encanto eu quero inteiro,
Vivendo amor intenso e verdadeiro...


651

Vivendo amor intenso e verdadeiro
Não canso de querer e sempre mais.
Além deste desejo costumeiro
Não quero mais caminhos desiguais.

Seguindo par a par a mesma estrada
Olhando com firmeza a direção,
A vida se permite iluminada
Revigorando em paz, nossa emoção.

Repare na beleza do horizonte
Que a vida preparou só para nós.
Por mais que muitas vezes desaponte
A sorte vai firmando laços, nós.

Somente recolhendo o fruto bom,
A vida se promete em claro tom.


652

A vida se promete em claro tom
Pra quem se dá com força e com vontade.
O tempo desejado, claro e bom,
Talvez possa impedir cruel saudade.

O quanto ela se mostra qual raiz
Que aos poucos vira praga no canteiro.
Um novo sonho muda este matiz
Permite muito além do corriqueiro

Um canto mais sublime que acalente
O peito em que se deu a solidão.
De toda esta esperança eu ando crente
Estando do teu lado. Eu cevo o chão

Plantando a fantasia no meu peito,
Espero na colheita, amor perfeito...

653



Espero na colheita, amor perfeito,
Valorizando assim o jardineiro
Que tanto se dedica e deste jeito
Aguarda a flor mais bela do canteiro...

Sabendo ser possível nosso sonho,
Não temo mais sequer os vendavais,
O quanto eu te desejo e já proponho
Além do corriqueiro, muito mais.

Amor que não permita terremotos,
Que viva intensamente por si só,
Por mais distante, olhares tão remotos
Não deixe que se perca em fino pó

O amor que nos transforma e nos embala
Tomando toda casa, o quarto, a sala...

654

Tomando toda casa, o quarto, a sala
Tristeza não permite mais que eu veja
Beleza aonde a vida não se cala
E a dor deste vazio inda poreja.

O quanto que eu te quero e nada vês
Talvez seja difícil conceber
No quanto eu te desejo, mas não crês
Distante dos meus sonhos de prazer.

Às vezes ao olhar o teu retrato,
Eu sinto o minuano me tocando.
Guaiaca vai vazia, adentro o mato,
Castelo de ilusões já desabando.

Percorro em pensamento, vou ao Sul,
Buscando o céu mais claro em pleno azul.


655



Buscando o céu mais claro em pleno azul
Espaços percorrendo num segundo,
Olhar entristecido, o peito blues
Rondando vai ao léu, qual giramundo.

Tua presença está sempre comigo,
Embora não te veja junto a mim.
Imagem deslumbrante que persigo,
Carrego o tempo inteiro, sempre assim.

Olhando para os lados vejo um vulto
Andando passo a passo o tempo inteiro,
Amor sempre presente, embora oculto
Exala em fantasia, aroma e cheiro.

O quanto que eu te quero! Amor imenso;
Não sabes, mas somente nele eu penso...


656


Não sabes, mas somente nele eu penso,
No amor que nos transtorna e nos domina,
Um sentimento enorme, firme e denso
A cada novo verso me alucina.

Quem dera flutuar, alçar espaços,
E junto a ti vencer as amplidões.
Estreitam-se deveras nossos laços,
Tocados pelo fogo em turbilhões.

Eu te convido agora para a dança
Que é feita com loucura e fantasia;
Felicidade plena já se alcança
No mundo em que o amor em sonhos cria

Levando ao mais sublime patamar,
Mostrando quanto é bom poder te amar...

657



Mostrando quanto é bom poder te amar
Por tantas vezes tive a rara glória
De ter em minha boca e paladar
O gosto que transcende uma vitória

O fruto que eu julgara inacessível,
Desejo soberano e sem limites
Agora que percebo e sei ser crível
Imploro: meu carinho, não evites.

Seguindo cada passo que tu dás,
Encontro o que almejara a vida inteira.
O quanto em harmonia eu sinto a paz
Imensa e com certeza verdadeira

Transforma totalmente o que eu pensara,
Manhã vai se mostrando bem mais clara...


658


Manhã vai se mostrando bem mais clara
Tomando toda a praia em raro sol
O verso mais audaz ora declara
O quanto sou de ti um girassol.

Os ventos assanhando os teus cabelos,
As marcas de teus pés na branca areia.
Delírios tão gostosos de vivê-los
Tanto amor adentrando em minha veia.

Sereia que se fez em fantasia,
Desejo te buscar a cada instante
As ilusões que amor, insano cria
Permitem cada raio deslumbrante.

Não suporto esperar, eis a verdade,
Sequer raiar aurora. Ansiedade

659


Agora que percebo ser possível
Mesmo que inconstante coração
Demonstre um muro alto, intransponível,
Encontro as minhas asas na paixão.

Castelos de mentiras que criaste
Defesa em fortaleza, mas tão frágil,
O vento feito amor causa desgaste
O barco da ilusão cede em naufrágio.

Eu tenho estes momentos dentro em mim,
Recordações que vão e sempre voltam,
No amor que agora eu sei, não tem mais fim,
Supera mesmo as ondas que revoltam

Tomadas por procelas e tempestas
Amor vai adentrando pelas frestas...

660


Amor vai adentrando pelas frestas
Sei que ao meu coração cabe escolher
O quanto de desejo já me emprestas
Atesta quanto eu posso recolher.

Tanto cabe sonhar com outros dias,
Caminhos que a saudade mal traçou
Deságuam nesta foz melancolias
Roubando o quanto o sonho me entregou.

Vou tentando; e daí? Nem mais pergunto
O todo não se prende num detalhe.
Contigo caminhando longe ou junto
O barco; jamais quero que se encalhe.

Nem mesmo que destrua ancoradouro,
O amor que eu preconizo: duradouro...

661


O amor que eu preconizo: duradouro
Resiste a qualquer vento, estrela guia
No céu emoldurando este tesouro
O quanto brilha entorna poesia.

Domina os meus caminhos traça trilhos,
Estampa nos meus olhos universos,
Perpetuando o sonho em nossos filhos
Recolhe os pensamentos mais dispersos.

No verso da moeda, a solidão
Farrapo desgrenhado, este astro triste
Fazendo da alegria arribação,
Batendo em nossa porta, volta, insiste.

Antídoto perfeito para a fera,
Sorriso eternizando a primavera...


662

Sorriso eternizando a primavera
Acalma um coração tão leviano
Cansado de sofrer a dura espera
Envolto em tanta dor e desengano.

Tramando o que sonhou felicidade
Depois de tantas vezes naufragar,
Mergulho em frias águas; na verdade
Não deixa que se veja o bem do mar.

Dragões, serpentes, lutas e procelas
O quanto imaginei enfim um porto,
Porém sempre faltavam tantas velas,
Deixando o cais distante, o sonho morto.

O canto que entoaste qual sereia,
Levando para a praia, ganha a areia...


663






Levando para a praia, ganha a areia
Depois de atravessar as pradarias,
Corcel que se encantou pela sereia
Em raras e formosas pedrarias.

Diamantino sonho segue os rastros
Deixados pela prenda em seu caminho.
Seguindo em noite clara, guias, astros
Bebendo da alegria o farto vinho.

Cansado de viver em desengano,
Eu me espalho agora pela vida,
Tocado pelo frio em minuano,
A sorte está decerto decidida.

Cevando todo o amargo da esperança
Felicidade imensa, amor alcança...

664





Felicidade imensa, amor alcança
Nas ondas em volúpia desenhadas.
O vento quantas vezes traz lembrança
Das horas que se foram, transtornadas.

Lateja dentro em mim esta vontade
Vencendo os desafios, refazendo
As sendas que vislumbram claridade
Espaços benfazejos percorrendo.

Da vida que se fez chuva e granizo,
No tempo em que sozinho eu hibernei,
Ao ter de uma esperança, enfim, o aviso
Nos braços deste sonho eu acordei.

Distante deste mar em turbulência
Nas mãos do imenso amor vejo clemência...


665


Nas mãos do imenso amor vejo clemência
Rolando estas estrelas no meu céu.
Depois de tanto tempo em penitência
Sem nuvens, sobre mim um claro véu.

Não quero em minha vida validade,
Amor que necessito nem tem prazo,
A cura que se dá em liberdade
Não deve ser somente por acaso.

Tampouco nosso amor não tem limite
Nem mesmo se permite grade, algema,
No quanto neste sonho se acredite
Encontro a jóia rara em rica gema.

Da lama ao apogeu, tanto degrau
Amor vencendo a tudo, triunfal...

666

Amor vencendo a tudo, triunfal
Desvenda tantas lendas no caminho.
O quanto eu te desejo sensual,
Acende em explosão e aquece o ninho.

No canto que se mostra fascinante,
Encantos que eu coleto vida afora,
A lua sorridente neste instante
Com raios prateados nos decora.

Na doce melodia, os madrigais
Convidam para o belo amanhecer.
Desejo e cada vez te quero mais,
Entranhas em perfume, todo o ser.

Servindo ao grande amor, não me interessa
Se a vida corre mansa ou vai depressa...

667

Se a vida corre mansa ou vai depressa
O barco se livrando do naufrágio.
Desejo? Não conheço quem o meça,
É pago por quem ama, sempre em ágio.

O canto das sereias me convida
Ao gozo sem igual à lua cheia,
Ninguém do quanto eu quero mais duvida
Amor é festa imensa que recheia

O coração de um velho trovador
Deitando nas canções sua esperança,
Nos braços do poder transformador
A sorte se propõe em aliança.

A festa que fizeste dentro em mim
Alegra do começo até o fim...


668




Alegra do começo até o fim
O sonho que me trouxe para ti.
Se o São Francisco eu trago dentro em mim,
Descendo para o Sul eu descobri

Nas margens do Guaíba uma sereia
Embora fluvial, seu canto atrai,
Do sertanejo mote em lua cheia
Na busca deste encanto o peito vai.

Nas águas azuladas deste rio,
O coração que em secas se criou,
Aos poucos sem domínio eu me vicio,
Bebendo deste amor que me tocou.

Descendo estas montanhas das Gerais
Encontro nas coxilhas o meu cais...



669

Encontro nas coxilhas o meu cais
Mineiro coração de um sonhador.
Um cantador de eternos madrigais
Percebe as mãos serenas de um amor.

Tomado pelo sonho imperioso
Urgência em ser feliz sela o cortejo.
Qual pavilhão do céu, maravilhoso,
A lua refletindo o meu desejo.

Encontro em passarela desfilando
As cores deste amor, raro troféu,
O vento da alegria me mostrando
Este azulejo imenso, claro céu.

Avenida em aquarela verdejante
Uma esperança em glória, radiante...

670


Uma esperança em glória, radiante
Permite que se doure a fantasia,
Nos olhos de quem ama, num instante
A vida se transforma em tal magia.

Cobertos pelos imenso e claro manto,
Seguimos sem olhar sequer pra trás.
Desejo transformado em puro encanto
Promete esta colheita feita em paz.

Craveja em diamantes meu destino,
Criando um Eldorado em fortaleza.
Encanto deste sonho esmeraldino
Trazendo para nós farta beleza.

Na mão que acaricia e adoça a vida
De tantas expressões, a preferida...

671



De tantas expressões, a preferida
Aquela que se mostra em puro ardor,
Servindo enquanto em luzes é servida
Traduz intensamente o bom do amor.

Teu cheiro se entranhando em minha pele
Teu gosto permanece nos meus lábios,
À dança interminável me compele
Os versos sedutores, belos, sábios...

Esplendores fantásticos sutis,
Vencendo assim receios e temores.
Podendo, finalmente ser feliz,
Deixando para trás velhos rancores.

Trazendo empolgação, tanta alegria,
Amor quando demais, já contagia...


672


Amor quando demais, já contagia
E deixa a nossa casa em plena festa
Vivendo a mais sublime fantasia
A vida em esperanças, sorte gesta.

O quanto tantas vezes fui sozinho,
Um ledo caminheiro sempre ao léu,
O amor veio chegando de mansinho,
Abrindo uma porteira para o céu.

Capacho da tristeza, frágil cativo,
Não tinha outro estribilho, solidão;
Do sonho que alimenta e mantém vivo
A seca dominando o coração.

Tocar felicidade? É bem plausível,
Agora que percebo ser possível.







673



O canto matinal dos passarinhos
Relembra antigos tempos de criança
Tocando levemente esta lembrança
Adoça com certeza os velhos ninhos

Sentindo mansamente os teus carinhos
Renova-se no meu peito uma esperança
E a glória de viver de novo alcança
Deixando para trás pedras e espinhos.

O quanto tantas vezes fui feliz,
O gosto alvissareiro da amizade
Permite bem mais firme cada passo.

Às vezes a tristeza contradiz.
Mas tendo um sonho feito em liberdade.
O meu destino agora eu já refaço...


674



O meu destino agora eu já refaço
E traço com firmeza nova senda.
Ao ter bem junto a mim a bela prenda
Esqueço totalmente do cansaço

Buscando nestes céus maior espaço
Mistérios nossa vida, assim desvenda,
Deitando uma alegria em mesma tenda
Contigo caminhando passo a passo.

Recebo o teu gostar como reflexo
Do quanto que eu te gosto e te desejo.
Vibrando dentro em nós amor intenso.

A vida vai ganhando rumo e nexo,
Um paraíso em vida, enfim prevejo,
Sonhando com teu bem me recompenso...


675




Sonhando com teu bem me recompenso
Concebo um dia claro e deslumbrante
O quanto é necessário que se cante
Mostrando este carinho tão imenso.

Em ti somente e sempre tanto eu penso
Não deixo de lembrar nenhum instante
Por mais que a vida às vezes desencante
Da força em sentimento eu me convenço.

Sentindo o teu perfume delicado,
Eu quero e necessito te dizer
Do amor que se mostrando sina e fado

Permite que eu sinta realizado;
Tocando a minha pele, o teu prazer
Deixando-me pra sempre apaixonado.


676


Deixando-me pra sempre apaixonado
Um sonho em aliança já se espraia
Prossigo o meu caminho do teu lado
Avista-se do mar areia e praia.

A vida noutro tempo em amargura
Vivendo um temporal quase constante
Uma esperança vibra enquanto cura
Trazendo alvorecer bem mais brilhante.

Deixando no passado um frio inverno
Recebo do futuro este carinho,
Amor que se permite ser eterno
Matiza em alegria qualquer ninho.

Vagando em liberdade, ganho espaços
Contando na chegada, com teus braços...



677

Contando na chegada, com teus braços
Do que já fora outrora um vago esboço
Fortalecendo a vida em novos traços
Permite que se veja tal colosso.

Nas sendas delicadas do porvir,
Ao pressupor assim real grandeza
Sem nada que me impeça de seguir
A vida descortina a fortaleza

Que toma a nossa vida e brilhará
Certeza que se mostra sem igual,
Permite que se sonhe desde já
Prazer de intensidade magistral.

Dourando de esperança esta amplidão,
Amor já pressupõe libertação.


678


Amor já pressupõe libertação
E o coração audaz agora brada
Mudando num momento a direção
Florindo em primavera a nossa estrada.

Olhando para os céus vislumbro um Deus
No qual toda a grandeza assim se encerra.
Revejo então a luz dos olhos teus,
Ao ver o sol que toma a vasta terra.

Andara caminheiro, em tantas plagas,
Marchando com a força destes ventos,
Os mares da esperança em calmas vagas,
Refletem toda a paz dos firmamentos.

O quanto de esperança sei do mar
Permite, a cada instante, mais te amar...

679



Permite, a cada instante, mais te amar,
As melodias raras, mesmos tons
Deitando sob os rastros do luar
Espalhas claridades em néons.

Apascentando o medo, cruel fera
Que espreita na tocaia, o coração.
Nos braços deste sonho amor tempera
A glória de seguir na direção

Do sol que intenso, aquece todo o mundo,
Recebo o bom calor em forte abraço
Desejo eternizado em um segundo,
Na sede de formar intenso laço.

Qual mar a se entregar à mansa areia,
Bendito seja amor que a paz semeia...


680

Bendito seja amor que a paz semeia
E torna o meu caminho luminoso,
A vida que em amor já se permeia
Permite que se veja a chama e o gozo.

O rio da esperança adentrando a alma
Abrindo em novas sendas, paraísos,
Decerto multiplica enquanto acalma
Trazendo para todos bons sorrisos.

No amor a mais sublime redenção,
Arauto de um momento mais perfeito,
Retendo forte lume na amplidão
Entranha em alegria cada peito.

Na sede de viver felicidade,
O gozo em sedução depressa invade..


681




O gozo em sedução depressa invade
O coração de quem se deu sem medo,
Calando num momento a tempestade
Amor já vai mudando antigo enredo.

Seara deste sonho; tão formosa
Em flóreas escaladas alça infinitos
Perfume inebriante de uma rosa,
Odorífero prado em novos ritos.

Nas Formas de luares, cristalinas
Espalhas entre nós imagens claras,
Vencendo estas cinzentas, vãs neblinas,
Adoça nossas vidas tão amaras.

Constelações supremas, almas puras
No amor encontram vivas as ternuras...

682

No amor encontram vivas as ternuras
Quem sonha com momentos mais serenos
Tocando nossas almas com canduras
Deixando para trás cruéis venenos.

Volúpica vontade de poder
Alçar etéreos campos libertários,
Edênica esperança passo a ter
Qual rio que se dá em estuários

Trazendo uma promessa feita em mar,
Vivenciando os sonhos mais dispersos,
Podendo finalmente desfrutar
Cantando os mais sutis, suaves versos.

Diáfanas imagens se levantam
Enquanto os corações felizes cantam...

683


Enquanto os corações felizes cantam
Do céu se espalham raios em cristal,
O quanto os sentimentos já se encantam
Permite a claridade magistral.

Amor que em pura essência traz a graça
Delicadeza extrema em liberdade.
A vida nos teus braços calma passa
Deixando um rastro pleno em liberdade.

Vestido de desejos, em lascívia
Amor se torna audaz e convulsivo,
Manhã que se aproxima, clara e nívea
Trazendo em perfeição um lenitivo

Calando esta geleira, solidão,
Mudando destes ventos, direção.


684

Mudando destes ventos, direção
Um flamejante barco ronda a noite
Nos seios da mulher, a sedução
No colo deste sonho, o meu pernoite.

Do quanto a vida fora insânia e treva
O coração apenas um granito,
Amor em precisão prepara e ceva
Um rumo que se mostre mais bonito.

Na boca tão voraz da dura fera
Um grito desumano ronda a casa,
Porém amor refaz a primavera
Incendiando a vida nos abrasa.

Os desencantos rudes, mais atrozes
Calaram já faz tempo nossas vozes...


685

Calaram já faz tempo nossas vozes
Deitando sobre todos; a amargura
De tantas esperanças vis algozes
Aos quais nem mesmo a morte, enfim, depura.

Enquanto o manso amor aqui floria
Espinhos espalhados pelos ventos,
Matando em nascedouro a poesia
Gerando em triste aborto estes tormentos

Na podridão dos olhos da pantera
O vício no hemorrágico banquete
Recobrem com mortalha a primavera
Fazendo de minha alma atroz joguete

Esparramando a dor tão simplesmente
O desamor sorri; cruel serpente...


686



O desamor sorri; cruel serpente
Tomando toda a terra por instantes,
De tudo o que perdi; já se pressente
Servis momentos tolos, revoltantes.

Acesa a fria chama no meu peito,
Revejo o que passei e o que perdi.
O rio na vazante esquece o leito
Somente a treva em vida eu conheci.

Após a noite feita em pesadelos,
Mergulho na escaldante e movediça
Areia que tecendo os seus novelos
Destrói enquanto vence qualquer liça.

Distante, bem distante dos meus ninhos
O canto matinal dos passarinhos.

687

Tornando o coração quase invencível
A força inusitada em sentimento
Enquanto amor não seja perecível
Transforma toda a vida em um momento.

Expresso em cada verso esta certeza
De ter além de tudo, a sorte imensa
Sabendo que vencendo a correnteza
Terei ao fim do jogo a recompensa.

O canto em que se dá transformação
Encanta e já domina toda a sorte.
Amor causando em nós farta emoção
Mudando num segundo nosso norte

Estende uma esperança no varal
Tramando maravilhas sem igual...

688




Tramando maravilhas sem igual
Eu vejo quanto eu gosto de você
Meu mundo feito em paz, por ritual
Do jeito e da maneira em que se vê

Estampa eternidade em cada verso,
Revelando o poder de uma alegria,
Juntando todo o sonho já disperso
Molduras de esperança, ele recria.

O tempo de viver é desde já
Não temo os temporais que eu sei, virão
A mão do puro amor me levará
Causando a mais sutil revolução

E assim do bem que a vida traz agora,
Felicidade imensa se assenhora...

689

Felicidade imensa se assenhora
Do peito de quem busca amor sincero,
De tudo o que eu desejo desde agora
Eu tenho, tendo amor, o que mais quero.

Estendo minhas mãos, convido à dança
Harmoniosamente passo a passo,
A glória mais suprema em temperança
Permite ao manso amor maior espaço.

Qual lua que ilumina em vária fase
No amor evoluções são percebidas,
Mantendo com firmeza a mesma base
As tramas são deveras concebidas

Selando o meu destino com firmeza
Amor não teme mais a correnteza.

690


Amor não teme mais a correnteza
Nem mesmo a tempestade ou vendaval.
O quanto se pressente a sobremesa
Transforma este banquete magistral.

Beber em tua boca esta aguardente
Divina que inebria e me fascina.
Amar é ser deveras mais clemente
Vivenciando o bem que determina

Um dia mais feliz que eu sei virá
Depois de fartas dores no passado.
Sabendo que esta estrela brilhará
Eternamente eu sigo lado a lado

Alados pensamentos vão ao céu
Roubando da alegria o farto mel...

691

Roubando da alegria o farto mel
Meus sonhos embalados pelo canto
Da Musa que se fez em claro véu
Tomando esta amplidão em raro encanto.

Por tanto que eu te quero e sempre quis
Eu sinto que terei a boa sorte
De ser e perceber bem mais feliz
A vida que se dá em novo norte.

No aporte deste sonho dentro em mim,
Mergulho nas fagulhas, ganho o mar
Alvíssaras encontro no jardim,
Nas flores de beleza já sem par.

Nas leves transparências posso ver
Um mundo que permite mais prazer...

692


Um mundo que permite mais prazer
Desejos se tornando magistrais
Vontade de ganhar e me perder
Nas sendas mais sublimes, sensuais

Sentir o teu perfume me entranhando,
Tocar a tua boca mansamente,
O vento do prazer nos procurando
Mostrando um mundo insano plenamente.

Querendo o teu querer eu não me canso
Da bela fantasia que nos move.
Nos braços de quem amo, eu já me lanço
E o fogo em alegria me comove.

Teu corpo navegando a noite inteira
Num mundo todo nosso e sem fronteira...


693



Num mundo todo nosso e sem fronteira
Eu sigo sem limites flórea senda,
Entrega que se dá tão verdadeira
Amor em plenitude se desvenda

Desnuda a nossa pele, faz a farra
Chegando de mansinho nos convida
Enquanto em contradança nos amarra
E muda num momento a nossa vida.

Eu quero estar contigo e não descanso
Enquanto eu não puder sentir teu gozo
Bebendo cada gota, logo alcanço
Este Eldorado insano e tão gostoso.

Vem logo que o desejo nos domina,
Volúpia sem limites me alucina...

694


Volúpia sem limites me alucina
Tua nudez – convite irrecusável
Loucura, insensatez cedo fascina
No gozo em plenitude imaginável

A fonte dos desejos, teu rocio,
Orvalha nossa cama, nos repleta
No jogo que tu tramas me vicio
A refeição servida vem completa,

Comendo e repetindo cada prato,
Até chegar enfim saciedade,
Em devaneios tantos, me retrato,
Percebo a perfeição em qualidade.

Teus seios, tua pele, belas pernas,
As noites do teu lado sempre ternas...

695

As noites do teu lado sempre ternas
Em total transparência tu caminhas
Adentro tuas furnas e cisternas
Vontades que são tuas, também minhas.

Nos corpos que se dão, sofregamente
Luxúrias e desejos percebidos
O fogo nos transtorna totalmente
Em gozos e suores embebidos.

Gemidos e sussurros, rios, mares,
Destinos entrelaçam nossos rumos.
Desfruto das delícias dos pomares
De cada fruto bebo todo o sumo,

Desejo de te ter sempre comigo,
Nos corpos sem fronteira, eu já me abrigo...


696


Nos corpos sem fronteira, eu já me abrigo
Nas locas, tocas, furnas eu me entranho,
No gozo insaciável eu persigo
O amor que assim se dá, forte e tamanho.

Total insensatez em fogo intenso
Estampa nos teus olhos maravilhas,
Urgências nos tocando, eu quero e penso
Poder já desvendar as tuas trilhas

E ter a recompensa mais gostosa
Na orgástica loucura que se entorna,
A noite que se dá maravilhosa
Decerto em lua intensa ela retorna

Trazendo a mesma sede que inebria
No jogo que nos doma e sevicia...

697



No jogo que nos doma e sevicia
Enlanguescente deusa em transparência
Rolando em minha cama principia
Incêndio delicado em rara ardência.

Tocando a maciez de tua pele,
Percorro cada parte e sem descanso,
A toda esta loucura amor compele
Nas pernas confundidas, meu remanso.

Alcanço a liberdade em plenitude
No orgástico caminho quer percorro,
O gozo mais profano em atitude
Trazendo à solidão, paz e socorro.

Assim enamorados sem juízo
Encontro do teu lado o paraíso...

698


Encontro do teu lado o paraíso
Inebriadamente o mundo explana
O fogo necessário e mais preciso
Na chama que se faz divina, insana.

Refém deste prazer o amor empresta
Os lumes necessários, desejados,
A cada nova noite a mesma festa
Em sonhos e carinhos perfilados.

Na catedral do amor, a sacra prece
Que é feita em elegância, em alegria
O corpo que se mostra e se oferece
Deleita-se no ardor desta magia

Eu quero estar contigo a cada orgasmo,
Amor que não se permite mais marasmo...


699



Amor que não se permite mais marasmo
Nem quer qualquer rotina como guia.
Tampouco o frio olhar parado e pasmo
Que amor sem fantasias cedo cria.

Eu quero esta fornalha que se acende
A cada novo toque mais audaz
Ao gozo mais ardente amor recende
E desse jeito sempre satisfaz.

Não vejo outra saída nem pretendo,
Apenas me entranhar e ser só teu,
Segredo, eu reconheço e já desvendo
Entregue ao farto sonho teu e meu,

Tu sabes quanto eu quero o teu prazer,
Na fonte tão gostosa de beber...


700


Na fonte tão gostosa de beber
Mergulho a minha sede e me inebrio
Derramas sobre mim teu bem querer
Realizando assim, divino cio.

O vício de deitar amor insano
Cobertas e lençóis vão pelo chão
O tempo se mostrando soberano
Na cama esta divina inundação.

Eu sinto que o poder do amor transgride
Por ser tão libertário nada teme,
Decerto minha amada não duvide
A vida nos teus braços, remo e leme

Desejo feito amor, é força incrível,
Tornando o coração quase invencível.


701

Mudando toda a sorte em um momento
As fases deste amor bebem da lua.
Às vezes diminui, noutras aumento
Porém o sentimento continua.

Nascendo de mansinho em lua nova
Aos poucos como em mágica envolvente
Quanto mais se pensa mais se prova
Até que em outra fase está crescente.

Chegando ao apogeu nada receia
Poeira toma assento noutro instante
A lua que se fez tão plena e cheia
Depois de certo tempo na minguante.

Mas saiba que entre as fases do luar
Eu nunca deixarei de sempre amar...


702

Eu nunca deixarei de sempre amar
Crisálida se faz em borboleta
Levando em suas asas o luar
Mantendo a claridade como meta

Completamente solta vai liberta
Buscando sempre a luz da estrela guia,
Do quanto a vida; às vezes, nos alerta
Ao mesmo tempo foge enquanto cria

Atravessando a noite encontro o lume
E dele tantas vezes sobrevivo.
No vício extasiante de costume
Decerto deste algoz, vivo cativo.

No quanto que inebria a claridade
Esqueço; hipnotizado, a liberdade...

703

Esqueço, hipnotizado, a liberdade
E vivo a minha vida sem destaque
O quanto se espalhando a mortandade
Permite que se entenda o contra ataque.

Nos baques que tomei a vida afora,
Mofino e mesmo entendo o que não tenho.
Pensando no vazio, eu vou embora
Sem hora de voltar, nada retenho.

A fêmea em minha cama, moça bela,
Estrela de cinema ou meretriz,
Às vezes num sorriso me revela
O quanto na verdade nada diz

Quisera ser feliz, mas quem me dera,
A fera dá seu bote sem espera...



704


A fera dá seu bote sem espera
E cria diamantes, todos falsos,
O tempo sem ter rédeas não me espera
E deixa no caminho cadafalsos

A falsa poesia feita em prosa
De tudo o que mais quero, sem ciência
A moça se espetando em minha rosa
Percebe não ser simples coincidência

O verso sem estrela e sem jardim,
A lua que não veio, o frio intenso.
Jornada que percorro dentro em mim,
O parto na verdade é sempre tenso.

Deste imenso monólito que sou
Apenas um resquício, o que sobrou...

705

Apenas um resquício, o que sobrou
Do dia em luz mais frágil e tão tacanha.
O sol que por momentos me enganou
Esconde-se detrás desta montanha.

Ambição de nudez em carnaval
O preço que se paga vale a pena?
Farol que se disfarça em sensual
Segredo repetindo a velha cena.

Molambos que coleto enquanto peno
Apenas fingimentos e lençóis.
O resto serpenteia o seu veneno,
Deixando quase nada, mesmo após.

Apostas que perdi, a vida mente
Enquanto luz me banha corpo e mente...

706



Enquanto luz me banha corpo e mente
Algo entre nós merece que se diga
Embora tantas vezes não comente
Demente; vou bem fundo e quero briga.

Abriga neste escuro cada grão
Semente que me encanta enquanto rega
Apega-se à pegada em precisão;
Entrega -se, afinal andando cega.

No fundo o que não tenho; o que desejo.
Gritando para todos; falsas tendas
Armadas nos desertos, neste ensejo
Ganhando bibelôs, bijus e prendas.

Falsária que se omite no perigo,
Amor vai sem motivo e nega abrigo...

707

Amor vai sem motivo e nega abrigo
A noite é mais estreita pra quem ama.
Debaixo do luar tento e prossigo
Buscando quando deito além da chama.

Em todo feriado se repete
Festejos em funéreas catedrais.
A língua se fazendo em canivete
Cortante sensação de quero mais.

Atrás de cada sonho, eu não desisto
Insisto e se puder inda repito.
Não quero mais ser Judas nem ser Cristo
Meu verso às vezes bom; noutras maldito.

A dor é sempre igual, ou forte ou fraca,
Amor sem serventia sempre empaca...


708

Amor sem serventia sempre empaca,
Embarca na canoa mais furada,
Não vale nosso amor meia pataca
Na fraca sensação do mesmo nada.

Atada nos meus pés, amor é hobby,
Estrela vai sem brilho, mas não quer
Enquanto não descobre, ela não sobe
Não sabe do poder de uma mulher.

Que quer e que domina logo a cena.
No poço feito em tempo não mergulha.
Humano sentimento mente e acena
Criando tão somente medo e bulha.

Se pulha sou não sei e nem admito,
Apenas já repito um velho rito...

709


Apenas já repito um velho rito,
Prometo o que não posso mais cumprir.
Não quero e não pretendo ser teu mito,
Nem vômito, num frêmito fingir.

Da poça nego a lama, escondo o barro,
Da moça em minha cama, quero o gozo.
Tuberculosamente quando escarro
O tempo vai rondado, caprichoso.

Raiz de tantos erros no passado,
Aflora em mais cruel sofreguidão.
Prefiro que prossiga assim velado,
A ter que perpetrar a negação.

Se vão inda caminho e sei das senhas.
Eu quero mesmo assim, que logo venhas.


710

Eu quero mesmo assim, que logo venhas.
Amar é se entregar mergulhar fundo.
No quanto ainda queimam nossas lenhas
Persisto quase inútil, vagabundo.

Na banda em que se umbanda a força e fé,
Girando o tempo passa em carrossel.
A sanha se permite em rodapé
Embora olhando sempre para o céu.

A face oculta mostra mil segredos
Parindo expectativas desumanas.
Assim se fazem nossos velhos credos,
Ao mesmo tempo ris enquanto enganas.

No teatro mambembe da existência,
Para amar é preciso ter ciência...

711

Para amar é preciso ter ciência
Quem nunca faz decerto já não erra,
Cumprindo por cumprir a penitência
Vacância presumida nega a terra.

À sombra deste som, semeio ao vento
Bemóis e sustenidos, flor em flor.
Pressinto o vão e tento o sentimento
Na máscara gentil do estranho amor.

A mesma claridade que me cega
Às vezes já permite revelar-se
O gozo que previsto é chique ou brega,
Mas causa quase sempre a vã catarse.

Irmã, imã mulher verde esperança
No enredo deste abraço, a moça dança...


712


No enredo deste abraço, a moça dança,
Piando um bem-te-vi de galho em galho,
O quanto se trafica na lembrança
Embora mesmo rude, eu te agasalho.

Se eu falho ou se remendo, vou à luta
Amanhecendo, cede este carinho.
Na rede, às vezes mansa outra mais bruta
Astuta ela me nega colo e ninho.

Retrato em sobressalto na parede,
A grama serve mesmo de colchão;
Na sede deste sonho, esteira ou rede
A sede se matando lama ou chão.

Deitada junto a mim as pernas bambas,
As bocas, duas mágicas mocambas.

713

As bocas, duas mágicas mocambas.
Sem eira seguem beiras descem rios,
O quanto se procuram; querem ambas
Beberem destas águas em rocios.

Nos cios, ócios, vícios, recomeçam
Na caça que não cansa mansa fera.
Às vezes as palavras se tropeçam
Das línguas todo o gozo já se espera.

Silêncio vale mais que mil palavras,
Porém nesta linguagem se confundem
Cevando com vontade mesmas lavras
Serpentes mal se tocam numa fundem.

No jogo, esconde-esconde sensual,
Palavreado usado, universal...

714


Palavreado usado, universal
Na cama, lama, grama ou nos motéis.
As vozes em ruído gutural
Espalham molhos, rios, quentes méis.

Nas margens as roseiras, os florais,
Os ritos se repetem, noite adentro.
O tanto que desejo e vejo mais
Amor rondas nas beiras e eu concentro

Nas ondas pensamentos vão e vem.
As águas, corredeiras, ancas, pernas.
O quanto tanto espero deste bem
As fantasias ânsias sempre ternas.

A direção que bebe o cata-vento
Mudando toda a sorte em um momento



715


À sombra tão serena dos carinhos
Tua presença invade a minha mente
Contente, se pressente outros caminhos
Os ninhos vão mudando de repente.

Nos olhos e narinas, forma e cheiro,
Ouvidos, boca e tato, paladar
O canto vem chegando alvissareiro
Gostoso se beber e de tocar.

Transborda pela casa, abre a janela
Entranha o travesseiro e o cobertor
Cavalo da esperança já se sela
Trafega pelos céus buscando amor.

No jorro de palavras, frases feitas,
Delícias vão brotando enquanto deitas...

716


Delícias vão brotando enquanto deitas
Espreitas em tocais, tocas sanhas,
Das massas maravilhas quando feitas
Desvendam os segredos das montanhas

As monjas escondendo seus pecados,
Esponjas engolindo cada marca
Nos olhos velhos dias, novos fados
Recados a saudade sempre abarca.

Atraco no teu cais embarcações
Do tempo que se foi quer voltar,
Apenas procurando soluções
Senões eu já cansei de procurar.

Saudade renovando o que se fez
Transtorno em que se nega a lucidez...


717


Transtorno em que se nega a lucidez
Viagem que se faz secretamente,
Permitindo uma espécie de prenhez,
Adentra sem licença, a nossa mente.

Arrasta em rodopio, remoendo
Na mó que perpetua a mesma história
Do nada novamente vou colhendo
O fruto apodrecido na memória.

O quanto andava só, sem pena ou dó,
Das dores, sem pendores bebo um trago,
Refeito de mim mesmo, volto ao pó,
Volátil sensação do ausente afago.

Saudade que desgasta, atrai e afasta
Às vezes em silêncio, solto um basta!

718


Às vezes em silêncio, solto um basta!
A veste que me cabe se rasgou.
Não vejo e nem sossego, nego casta
O traste que me deste desbotou,

O quanto não te engulo, coagula
Sangrenta madrugada que se foi.
Olhar que me desperta certa gula
Vontade de beber, comer um boi.

Afoito faço em ti minha senzala
A bala que se perde assim me encontra.
Amor sem mais sentido, quando fala,
Decerto quase sempre vem do contra.

Aprontas prontamente tuas manhas,
Não luto, estou de luto, sempre ganhas...

719


Não luto, estou de luto, sempre ganhas
Tamanha esta vontade que te entranha
Abocanhando todas minhas sanhas
O gozo sem limites vem e assanha.

Na valsa, salsa, a farsa se faz festa
Refestelada estampas seus bemóis
Atesta o quanto gesta, o nada resta
Acende num instante tantos sóis.

Na fé, teu ceticismo me amedronta
Na contramão da vida sigo as teias
Promessa me arremessa à mesa pronta
Convites sem limites; incendeias.

Teu corpo, uma morfina que amofina
Ao mesmo tempo entorna e me alucina...

720


Ao mesmo tempo entorna e me alucina
Ninguém me engana e nem tampouco salva
Da selva busco em relva, cais e mina,
Contente; eu vou seguindo sem ressalva.

Apraze cada frase que me dás
Alegra sem ter regra a negra noite.
Deleite do que enfeite satisfaz,
Sorriso em ironia vira açoite.

Os pés que se entortando dão meu rumo
Estendes teus retalhos na janela.
Cascalhos do que fomos; sempre assumo,
No prumo de costume a paz revela

Girando em trama e cama, vida afora,
Eu quero desde sempre e mesmo agora...

721


Eu quero desde sempre e mesmo agora
Jogado neste palco sem platéia
O tempo sem ter vento revigora
A marca da pantera, vil atéia.

Nesta alcatéia a teia feita em ostra
Promete perolar o meu caminho.
O quanto de demonstra quando mostra
Nudez ensandecendo cama e ninho.

Glorificando o templo em que adormeço,
Mormaços são bem vindos, vidros quebram
O quanto que se fez no recomeço,
Quadris sobre lençóis belos requebram.

Em ébrias fantasias, cios crias,
Causando em reboliço, as alegrias...

722


Causando em reboliço, as alegrias,
Por mais que sejam frias madrugadas
Nos madrigais; as horas quando estias
Espiam entre as estrelas alvoradas.

Atadas nossas crias nossos risos,
Jamais se saberá quem começou.
Azuis bebendo as trevas são precisos
Enquanto o sol, mais tímido, raiou.

Na luz que entranha, arranha cada olhar,
Cantares encharcando este arvoredo.
Segredo que se mostra a desvendar
Mantendo o fogo aceso desde cedo.

Num acalanto um manto tenta em canto
Tateio tatuado em teu encanto...

723

Tateio tatuado em teu encanto
Embalos e balanços noite afora
O colo em que se aquieta enquanto canto
Ao mesmo tempo atrela e revigora.

Na chama do luar, ares diversos,
O sono vem chegando devagar,
Vagando sobre fatos, frases versos,
Toando esta cantiga de ninar.

Cantarolando agora na lembrança
Arranjos feitos bois de caras pretas
Volátil como o sonho da criança
Jorrando em meteoros seus cometas.

Assim em noite mansa e lua clara
Amor tanto se faz quanto declara...

724

Amor tanto se faz quanto declara,
Agora vai caçado feito fera
A boca que eu beijara resta amara
Ao abrir entre nós clara cratera.

O ninho que se fez em pleno amor
Mortiço não resiste e vai sem viço
Entregue à sensação deste bolor,
Por mais que tantas vezes, lenha atiço.

Se um dia inda pudesse ver distantes
Mortalhas deste amor que se fez luto.
Talvez inda pudesse por instantes
Fugir da solidão, um vão tumulto.

Escuto a tua voz toando loas,
Às águas inundando estas canoas...

725

As águas inundando estas canoas...
Em plásticos remendos, alagados,
O quanto que tu pecas não perdoas
Usando de má-fé com afogados.

No fogo que se espalha nos cinemas,
As mãos feitas em imãs buscam seios.
Decerto ao procurarem as algemas
Não guardam sem noção calam receios.

Depois de certo tempo, anel e festa
Em juras sem tortura ou agonia.
Por noves meses ganha cada gesta
Repete desde então tal melodia.

Nascendo do nascido outro rebento,
Já se condena à paz feita em tormento..

726


Já se condena à paz feita em tormento
Amor que nada colhe, mas que planta,
O tempo em contratempo passa lento,
No rosto da morena sacripanta.

No mimo sem estímulo o meu leme
Estampa o quanto é lírico o sorver-te
O frio em serventia trata e teme
Por mais que a chuva intensa sempre aperte.

Mereço esta jornada? O nada eu jorro
E corro, vou atrás; mas nada achei
Guinada que se deu, pede socorro
O verso catalítico entranhei

Amor que apocalíptico se esvai,
Elipse em carrossel, rondando cai...

727


Elipse em carrossel, rondando cai,
E a máscara não tapa e nem esconde.
Enquanto a nervo aflito se contrai
Amor perdendo tempo, esquece o bonde.

Aonde fiz a casa de sapê
Tapera não espera mais resposta.
Procuro e tão somente vem cadê
No quê do quanto quero não se aposta.

Tostando nossas costas farto sol,
Soleiras invadindo num mormaço.
Nas brônzeas cercanias, no arrebol,
Rebola essa morena a cada abraço.

Compasso mais perfeito em contradança
O fogo que ela espalha já me alcança...

728

O fogo que ela espalha já me alcança
Criança moça feita bela musa.
Abusa, tira a blusa em contradança
Balança os seus quadris, vem sem recusa.

Cafuza me confunde e faz de mim
Semente que plantada no canteiro
Expressa e se confessa até o fim
Maltrata em pouca e boas, jardineiro.

Na nata desta nata sensação
O verso traz complexos sentimentos
Sem nexo vou buscando diversão
Versão que dou aos acontecimentos.

Nas asas destas sanhas, passarinhos
À sombra tão serena dos carinhos.


729


Eu sinto a brisa mansa, em calmo vento
Mostrando um ar tão puro em dia claro.
Carinho nos tomando o pensamento
Servindo com firmeza de anteparo.

O quanto é necessária uma atenção
Permite que se vá com passo firme,
O vento em que se dá transformação
Sublime, sempre faz com que se afirme

O tempo que em outrora revoltoso
Agora em calmaria nos invade.
Sentindo este perfume tão gostoso,
Apascentando sempre a tempestade.

Não quero recompensa, eu te garanto,
Bastando que se entregue ao raro encanto...

730


Bastando que se entregue ao raro encanto
Por vezes eu me ausento, mas retorno.
Aqui minha morada templo e canto
Amor saiu tostado do teu forno.

Embornal em que trago a liberdade,
Tristeza vai deixando a gente em paz.
Capaz de tempestade e claridade
Amor emoldurado não compraz.

Atrás do que se foi e não mais volta
À solta pelas ruas e calçadas.
A pele da morena, plena escolta
Cantantes esperanças, madrugadas.

Às vezes posso ser até pernóstico
Do amor que nós tivemos, nem acróstico...

731


Do amor que nós tivemos, nem acróstico,
Estúpida quimera que tempera
Um coração que teima em ser agnóstico
Sem óstios, hóstias, beija amarga fera.

Acendo o meu cigarro, bebo o vinho
Entendo cada senda como sanha
A cada passo assolo o sol sozinho
O verde se espalhando na montanha.

Apanho os meus bonés espero esquife
A paz celestial, o que pretendo.
O amor que não se mede vai patife
Em todos os meus poros mel vertendo.

Mas saiba que te quero bem, ainda.
Palavra que me dizes é bem vinda...

732



Palavra que me dizes é bem vinda
E muda minha vida num segundo,
Perceba que na lua que deslinda
A prata vai tomando todo o mundo.

No quanto que eu pressinto transparência
Com toda esta elegância em sentimento.
Aos poucos neste lume tanta ardência
O fogo da paixão queimando lento.

Se eu tento a cada intento, atento bem
Explodindo as intensas emoções
O vento abençoando sempre vem
Gerando inundação nos corações.

Padrões eu nem respeito, sou teu par.
A par do quanto é bom teu caminhar...

733




A par do quanto é bom teu caminhar
Estampo o teu retrato na camisa,
A brisa avisa e invade devagar
O tempo ao mesmo instante se ameniza.

Depois deste granizo que caiu,
Matando minha sede em tua boca
O verso que se versa mais gentil
Atraca meu saveiro em bela toca

Retoca cada passo com ternura,
Texturas delicadas, belos seios,
A gente de contente não tem cura
Não tema quando exprimo os meus anseios.

Na rede sem moinhos, nosso céu,
Redemoinhos giram carrossel...

734

Redemoinhos giram carrossel
Princesa adolescendo qual bacante
Deixando como um rastro feito em mel
Aborda o seu centauro ao mesmo instante.

Rodando nas roldanas, nos moinhos,
Baladas embalando lisergismos
Alucinadamente trama vinhos
Causando mais furores, sinergismos

Cataclismos provoca, ebulição
Calcinha à mostra leva a tempestade
Poder que sempre traz transformação
Moleca desfilando mocidade

Ficante oficial do condomínio,
Amor exerce sempre o seu fascínio...

735


Amor exerce sempre o seu fascínio;
Um hino que se entoa em noite intensa
Sentindo este poder, pleno domínio
O quanto que se quer é o que se pensa.

Despensas não dispensas, logo lotas
Das sórdidas mordidas que me deste
O Judas já perdeu as suas botas
Em léguas a distância em que se investe.

Afasto o desgastado pensamento
E minto quando digo que esqueci.
Não temo e na verdade ainda tento
Beber o que melhor existe em ti.

Lição que não se aprende no colégio,
Amor quando é sincero. Um privilégio...



736


Amor quando é sincero. Um privilégio
Que poucos podem ter em sua vida.
Poder que nos transforma, em fogo régio
Permite que se tenha uma saída

Em todos os problemas romperá
Algemas emblemáticas ferinas.
O vento quando inventa venta cá
Adentra pelos poros e narinas.

Inebriante sonho que fomenta
A fome de viver e ser feliz.
Sinceridade sempre representa
O que em pleno amor, eu sempre quis.

Eternidade dá-se a quem se deu,
No amor que sendo nosso é teu e meu.


737


No amor que sendo nosso é teu e meu.
Um coração ateu já se encontrou
Se toda a direção ele perdeu
Agora vai mostrando quem eu sou.

Soleiras e sobrados adentrando
Errando muitas vezes, logo acerta
Desperta, faz a festa desde quando
Amor serve de aviso, sempre alerta.

Cobertas entre fronhas, travesseiros
Nudez se prateando em lua cheia.
Procurando entre as flores do canteiro
Amor alvissareiro me incendeia

E tece entre mil teias, belas telas,
Corcel no qual a vida; logo atrelas...


738


Corcel no qual a vida; logo atrelas,
Estrelas vai transpondo num galope
Repondo neste céu as velhas velas
Não quer pastor, nem padre ou mesmo pope

Arcanjos em arranjos mais diversos
Não tendo ortodoxia se faz terno.
O quanto cavalgar teus universos
Permite ao terno um corte mais moderno.

No inverno eterno sonho, eu ponho em ti,
Reponho todo estoque e recomeço.
Partindo do princípio que eu venci
Comemorando tive o meu tropeço.

Se eu peço e não impeço o novo dia,
Estendo no varal farta alegria...

739


Estendo no varal farta alegria
Sem alfa nem tampouco ômega ou pi.
Somando o que ganhei com o devia
Refaço toda a conta e sei perdi.

Decido a minha sorte, jogo os dados,
Rolando no tapete dos meus sonhos.
Os dias justamente estão fadados
A serem ou melhores ou medonhos.

No norte baseado nestas lendas,
O corte se entranhando em minha pele
Se a sela não serviu quero contendas
O quanto deste sonho não se vele.

Revelo ao fim da festa por que vim,
Bebendo de teu corpo, meio e fim.


740

Bebendo de teu corpo, meio e fim,
No cálice divino multiforme
Sabendo quanto quero sigo assim
Desvendo a cada novo informe.

Amor se performático permite
Malabarismos enquanto arquitetura.
O canto que me encanta sem limite
Decora enquanto mira a partitura

Numa aquarela insana, nos mosaicos
Em asteriscos riscos programados.
Ariscos asteróides tão prosaicos
Arcaicos sentimentos consagrados.

Sagrando, sangra sempre peles, lábios,
Revendo anotações em alfarrábios

741

Revendo anotações em alfarrábios
Eu vejo que se estampa em um retrato
Os lábios que se foram sempre sábios
Com astrolábios sigo o nosso trato.

Audácia sem falácia e sem desculpa
Com lupa eu posso ver o gozo estúpido
Daquela que sem vela estende a culpa
Com olhos sensuais e um jeito cúpido.

Na típica mentira atira os guizos
Abalroando o barco abarca a sanha
Deitando em minhas costas lanhos, frisos
Partida que eu pensara estar já ganha

Agora se perdendo em pouco tempo,
Mostrou que fui somente um passatempo...
.

742


Mostrou que fui somente um passatempo
O riso em ironia da pantera
Que quer ou não serviu de contratempo
Causando cruel seca em primavera


Tempera a minha vida numa espreita
Tapera que se fez outrora casa.
Na lua que se entorna enquanto deita
Eu sinto o coração loução em brasa.

Loções que se aspergiram giram mundo,
As soluções somente foram chistes
O beijo em que se dá por um segundo
Imunda sensação de olhares tristes.

Depois que se passou este tormento,
Eu sinto a brisa mansa, em calmo vento


743


Roçando a minha pele, o teu sorriso
Enigmaticamente não traduzo
Porém a cada vez eu bebo e biso
Embora ainda seja tão confuso.

Se a carapuça cabe e não me acaba
Cabalas e mosaicos descortinas.
Candeias incendeiam nossa taba
Estava com os olhos nas neblinas

Ao subverter as ordens que me deste
Estive justamente onde não quis
Crisântemo em mormaço se reveste
O quanto que negaste fez feliz.

Quem dera se dourasses meu martírio
Dos olhos da morena o meu colírio...

744

Dos olhos da morena o meu colírio...
Não sei e nem pretendo tal torrente
Seguindo a procissão atrás do círio
Amor embora audaz é penitente.

Intento contra o tento que não tenho
Queimando os meus incensos derradeiros
Sem senso muitas vezes, fecho o cenho.
Das senhas escondidas meus tinteiros.

Nas sanhas programadas; gramas vejo.
Nos veios são velados os protestos.
O quase se traduz em meu desejo
Os dias sem amores são infestos.

Nos indigestos risos de indigentes
Amor eu trago preso nos meus dentes...

745

Amor eu trago preso nos meus dentes,
Mas mentes, as masmorras são meus leitos.
Cachorras nossas sortes tão dementes
Descrentes as estampas ganham peitos.

Nas campas o descanso derradeiro,
No picadeiro feito de lençóis
O gosto tão amargo e corriqueiro
Negando na varanda luas, sóis.

Ciranda que tentei nunca deu certo,
Concerto que se deu em desafino.
Aberto este caminho pro deserto,
O gozo deste amor mordaz e fino.

Menino que tentou ser estilingue
Na pedra do caminho que se extingue...

746

Na pedra do caminho que se extingue
A sorte abandonada ao nada tive.
A boca que procura ser bilíngüe
Não beija mais o sonho que retive.

Estive nas estivas e nos cais,
Apenas encontrei velhos estorvos.
O quanto teu prazer não vem jamais
Rondando nossa cama vários corvos

Crocitam serenatas em falsete,
Repetem nunca mais até que enfade
A mão que se prepara em tal confete
Espeta um canivete feito em jade

Jagunços de nós mesmos, rosa espinho.
Nas asas as gaiolas, passarinho...


747


Nas asas as gaiolas, passarinho,
O pão que este diabo não amassa
Agarra em precisão canções e pinho,
Da carne apodrecida faz a massa.

Na praça sem disfarce vai a toda.
Atola, cedo, os pés na mesma lama,
O tempo sem limites sempre roda
Roldana que se espalha em nossa cama.

Aplaina este contraste inevitável
Revitaliza o fogo da lareira,
O quanto se podia ser sonhável
Esbarra neste amor velha trincheira.

Cardápios mais diversos, sexo e gozo,
Prometem um jantar maravilhoso...


748


Prometem um jantar maravilhoso
Em lauta refeição pernas abertas
De um jeito mais audaz sempre guloso
Jogando pelo chão essas cobertas.

Alertas entre tramas e misturas
Fronteiras esquecidas, penetradas
Marcadas por carinhos e ternuras
Procuras tantas vezes delicadas.

Colírios para os olhos, transparências
Pecados escolhidos quase a dedos,
Que falem que entre nós não há decências
Descubram eles mesmos os segredos

Que fazem dos enredos, redes, teias.
Enquanto tu provocas e incendeias...

749

Enquanto tu provocas e incendeias
Entranho em pororocas o teu mar,
Estrelas passeando mesmo alheias
Insistem em tocar e iluminar.

Minando estas defesas, feitas farsas
Abraços e carícias cios, sinas.
As roupas; amarrotas, rota esgarças
Enquanto o jogo inteiro tu dominas.

Vertigens entre estreitos labirintos
Com cócegas às cegas mãos avançam.
No chão, calças, vestidos, botas, cintos,
Nudez em nossa cama, chamas lançam.

Encanto sem perguntas vai cumprido.
E assim sou vencedor, mesmo vencido

750


E assim sou vencedor, mesmo vencido
Jogado contra a lona saio rindo.
Amor que me pegara distraído
Agora se tornando audaz e lindo.

Abrindo estes caminhos vida afora
Cercando de loucura estes beirais
Delícia que esfaimada me devora
Deixando este sabor de quero mais.

Convites para festa de hoje à noite
Entrada permitida pra quem quer
Sentindo a tua língua em doce açoite
Penetro os teus desejos, se vier.

Assim nós vamos juntos, não se esqueça
Mergulhe em bel prazer e compareça...



751


Mergulhe em bel prazer e compareça
Dançando a mesma dança, um vanerão,
Amor que assim não tiro da cabeça
Aos poucos vai virando uma paixão.

No ritmo alucinante par a par,
Cevando o mate amargo desta vida
Percebo o vento vindo devagar
Um vivente procura uma saída.

Adentra o teu rincão, tão guapa prenda
No amor que é trilegal, nosso sustento.
Segredos que tu guardas se desvenda
Bebendo gole em gole, o sentimento.

Que o negrinho proteja o tempo inteiro,
Guardando na guaiaca o gosto e o cheiro...



752


Guardando na guaiaca o gosto e o cheiro
Daquela que se deu em fogo ardente,
Acendo a cada noite o fogareiro
Vislumbro um paraíso de repente.

Das peles que se buscam e se querem,
Os corpos que se invadem na procura
Riqueza sem limites já se auferem
Cobrindo a nossa noite de ternura.

Estendo a nossa rede na varanda
Tocado pela lua sertaneja
Dançando em mesmo tom nossa ciranda,
O quanto que se quer amor deseja.

Assim na serenata que enlanguesce
A cada anoitecer a mesma prece...


753




A cada anoitecer a mesma prece
Pedindo que tu venhas para mim,
Destino caprichoso agora tece
Amor que se percebe forte assim.

Tomando nossos corpos, mesma chama,
Chamando para a noite intensa e maga,
O quanto eu te desejo e já se inflama
Fogaréu que a distância não apaga.

Deitando sobre nós vital beleza
Entorna suavemente uma esperança
Vontade se mantendo agora acesa
Teu rosto não me sai mais da lembrança;

Eu te amo e nunca nego este querer,
Quem dera teus carinhos, receber...


754



Quem dera teus carinhos receber
Atando nossos corpos, entrelaces,
Rolando nesta cama com prazer
Eu caço enquanto quero que me caces.

Da fera que ronrona enlanguescida
As garras afiadas me acarinham.
A presa deve ser bem dividida
Prazeres e vontades se avizinham.

Formando em mesmos laços unigênitos
Unidos em loucura e tentação
Dos corpos conjunção em tantos frêmitos
Causando a mais completa ebulição

Nas velas que se dão; um só pavio
Espalha sobre a cama, em nós, rocio...


755



Espalha sobre a cama, em nós, rocio
Pulsando bem mais forte o coração,
A cada novo dia me vicio
E principio assim, revolução.

Que a vida seja sempre em harmonia,
Sem desencontros, perdas ou discórdias.
Nos sonhos e desejos sintonia
Amor se faz em loas monocórdias.

Concórdia dominando nossos cantos
Recantos percorridos e sabidos
Toando melodias, bons encantos
Vontades e prazeres concebidos

Libidos embebidas num só gozo,
Amor que se faz denso e prazeroso




756

Amor que se faz denso e prazeroso
Trazendo um espetáculo sem par,
Teu corpo assim bonito e tão cheiroso
Perfuma toda a casa, devagar.

Arcando com as ganas de te ter,
Contando estes segundos que não passam,
Vontade de chegar e de poder
Sentir pernas que tocando se enlaçam.

Fagulhas vão virando fogaréu
As chamas tomam conta do cenário.
Flutuo, vejo vindo o claro céu
Num gozo sem igual, profano e vário

Percebo qual portal do paraíso,
Roçando a minha pele, o teu sorriso.


757


Poeira no meu peito toma assento
O vendaval agora se faz brisa
Bisando eternamente o sentimento
Que em plena sintonia já me avisa

Do quanto se faz caro este querer,
Mudando totalmente este cenário.
Vazios no meu peito; vem preencher
Amor muito maior que imaginário.

Aquários multicores da alegria,
Dourando o dia a dia em raro sol.
O quanto te desejo em harmonia
Estende a fantasia em arrebol.

Cometa irradiante da esperança,
O peito de quem ama é só festança!

758

O peito de quem ama é só festança;
Riacho atravessando o vilarejo
No litoral o mar traz a lembrança
Do tempo em que, riacho, era desejo...

Eu me pego no sonho a procurar
Sintomas e sinais do que virá.
Quem dera se amor fosse o farto mar
Aonde o pobre arroio chegará.

As águas vão buscando paciência,
Um dia, no final da nossa história,
Na areia desta praia a florescência
Do sol ao laurear clara vitória.

Quem tem imensidão como destino,
Jamais se perderá em desatino...

759

Jamais se perderá em desatino
Quem vive a fantasia e não deserta
Certezas desde o tempo em que menino
Mantinha o peito em porta sempre aberta.

As chuvas que apanhei, a escuridão,
As marcas tatuadas dia a dia,
O tanto que tivera em negação
Agora vaga lume me irradia.

Da tétrica manhã que ameaçava
O resto do caminho em temporais
Minha alma em alegrias já se lava
Tocando com firmeza porto e cais.

Coragem que decora o coração
Permite deste amor, declaração...


760


Permite deste amor, declaração;
O fato em me farta em fortaleza
Dou nó num pingo d’água, a cada ação
Comendo em alegria a sobremesa.

A vida que se foi em rolimã
Agora passa tempo e passa rio
Boca da noite engole esta manhã
A sorte se equilibra em fino fio.

Acolho os cacarecos, ecos meus
Reflito o que do nada se criou.
Os olhos em frangalhos caçam breus.
Ateus vão demonstrando o que restou.

O monstro da lagoa, à toa, à tona,
Amor sem ter limites me abandona...


761

Amor sem ter limites me abandona
Nas sombras do que fomos; a saudade
Mostrada em senhorio, sonhos clona,
Fantasma vem rondando a realidade.

Quem há de me dizer o rumo certo
Se incerto, quase inseto vôo à toa.
E mesmo que à distância longe ou perto
O quanto que eu vivi ainda ecoa.

Reside dentro em mim tal locatária
Que faz o que bem quer e não me deixa.
Amor que me tornou um simples pária
Deixando em seu lugar saudade e queixa

Borrifa nos meus olhos incerteza
Recolhe os seus talheres, deixa a mesa...

762

Recolhe os seus talheres, deixa a mesa;
Banquete dos sentidos, noite afora...
Vencida com desejos, fortaleza
Beleza incomparável o céu decora.

Como eu te amo! Jamais te esquecerei
Felicidade, apenas um retrato
Do bem que tantas vezes desfrutei
E agora, em solidão tanto maltrato...

Simplesmente amar, sonho abandonado...
Seguir tuas pegadas, mas mentindo
Dizendo que isto é coisa do passado,
Que o dia que nasceu se fez tão lindo...

Saudade, simples foto na gaveta.
Partindo, já retorna, qual cometa...

763


Partindo, já retorna, qual cometa,
Às vezes vem em voz, noutras perfume,
Voltando em carrossel a mesma seta
Trazendo esta lembrança de costume...

Quem dera se eu pudesse te esquecer!
Quem sabe noutro tempo em nova vida.
Porém a roda viva me faz crer,
Esperança adormece, e vai perdida.

As ondas não se olvidam mais da praia,
A areia se tornando movediça.
Talvez a solidão já se distraia
Mudando a realidade tão mortiça.

O barco que soçobra, de repente,
Encontre o seu aprumo e siga em frente.

764


Encontre o seu aprumo e siga em frente,
Ganhando a eternidade em manso beijo
O amor que se procura se pressente
Num mundo mais gentil que em ti prevejo...

Meu verso vasculhando, ganha o céu,
Procura por pegadas, cada rastro
Deixado pelos passos de um corcel
Nos seios da mulher, puro alabastro,

Estendo as minhas mãos, alvejo o gozo
Aonde eu possa em paz, adormecer.
Por vezes o destino é caprichoso
E impede o mais sublime amanhecer.

Mas quando tem o sopro da alegria,
Sossega, calmamente, a ventania..

765



Sossega, calmamente, a ventania,
Palavra mais amiga que permita
Deter em nossas mãos toda a magia
Na qual quem sabe amar vive e acredita.

Amiga, tantas vezes eu percebo
Que a vida mesmo ingrata vale a pena.
Tranqüilidade e paz agora eu bebo,
Enquanto a vida vem, serena e plena.

O quanto é necessário a meta, o rumo,
Permite que se trace o meu destino.
Na força da amizade, eu já presumo
O passo que se dá mais firme e fino.

Contra a palavra amarga e violenta
Meu verso; eu sei que nada representa.


766

Meu verso; eu sei que nada representa.
Um trovador estúpido e sem tino,
Inutilmente cisma e sempre tenta
Buscar em polimento um canto fino

Patrão, pois me perdoe tal audácia
Da taça de cristal nem sei a cor.
Se eu falo do sertão, falas de acácia
Aguando o meu canteiro, esqueço a flor.

De todas as palavras que eu conheço,
Apenas um tem significado
E nela todo o mote que ofereço,
Deixando o que eu não tive, no passado.

Não falo da morena ou liberdade
Apenas te proponho uma amizade...


767


Apenas te proponho uma amizade.
Eu sei que é muito pouco ou quase nada,
Riqueza significa a claridade
Que sonhas toda noite ou madrugada.

Um velho sertanejo me dizia
Cantando uma toada bem antiga,
Nos braços da amizade uma alegria
Da vida a fortaleza, bela viga.

Olhando a lua mansa no sertão
Relembro num momento de Catulo,
As aves vão voando arribação,
Uma esperança morre no casulo.

Mas tendo aqui comigo a companheira
A chuva dentro da alma vem ligeira...

768



A chuva dentro da alma vem ligeira
Molhando os olhos tristes da morena.
A luz da nossa lua feiticeira
Nascendo atrás do monte já me acena.

A noite que virá em claridade,
Promete uma beleza a polvilhar
Os olhos de quem quer felicidade
Deitada sob os raios do luar.

Os pássaros da noite vêm chegando
Mistérios entre trevas, vaga-lumes
O vento da saudade me tocando
Dama da noite entorna os seus perfumes...

Dedilho uma viola sertaneja
Amor em minhas veias já poreja...

769


Amor em minhas veias já poreja
Felicidade vira precisão.
Quem tem o amor que sonha e mais deseja
Daquilo que ora eu falo, sabe não...

Saudade de você, moça bonita
Que um dia já se foi pra não voltar.
Meu pensamento sofre e acredita
Que a moça a qualquer hora vai chegar.

Os meses vou contando nos meus dedos,
As horas nunca passam, se arrastando.
Estrelas conhecendo os meus segredos,
O véu da bela noite decorando.

Assim, o coração sofrido em chama,
Teu nome em agonia, sempre chama...

770


Teu nome em agonia, sempre chama,
Viola que eu dedilho, toda noite.
Vontade de te ter, logo reclama,
O vento da saudade é frio açoite.

Patrão traz essa moça para mim,
Não posso mais viver tão longe dela,
Da praga que nasceu no meu jardim,
Vontade sem juízo se revela

De ter este carinho que foi meu,
Batendo no meu peito esta tristeza,
O sonho em outros cantos se perdeu,
A fome vem chegando à minha mesa...

Se um dia ela voltar, sem sofrimento,
Poeira no meu peito toma assento.


771




E o toque dos teus lábios; mais preciso,
Permite que eu me sinta satisfeito
De tudo nesta vida que eu preciso
Amor em paraíso dá seu jeito.

Afeito a tal vontade eu nada falo
Apenas vou sentindo a suavidade
Do beijo dado em forma de regalo
Marcando com carinho esta verdade,

Pela cidade afora, feito um louco,
Não olho para trás, atiço o vento,
E bebo da alegria pouco a pouco
Enfoco sem sufoco o pensamento

E vejo retratada a tua imagem,
Amor que para a vida, dá coragem...


772


Amor que para a vida, dá coragem
Raríssimo esplendor em lua mansa
Permite a realidade sem miragem
Imagem mais sublime em esperança.

Tatuagem formada a ferro e fogo,
Gozando da perfeita sintonia,
Criada sem lamúria, choro ou rogo,
Expressão divina da alegria...

Escuto a tua voz airoso sonho,
Esplêndido luar em prata nobre,
Olhar em teu olhar, sereno, ponho;
A lua em fantasia nos recobre.

Descubro o quanto posso ser feliz,
Amor que uma tristeza contradiz...


773


Amor que uma tristeza contradiz
Deixando um rastro claro de esperança;
Avança com pujança em bel matiz
Alcança a temperança, feliz dança.

Na trança dos cabelos da morena
Novelos e venenos, seios plenos,
Atento a perfeição da rara cena,
Percebo e bebo sumos, sais, amenos.

Perenes estadias no teu mar,
Martírios esquecidos; lidas novas
É preciso decerto navegar
Enquanto em tantos gozos me renovas.

Os olhos da justiça e da inocência
No amor é muito além da coincidência...

774


No amor é muito além da coincidência,
O gozo repartido e reclamado.
Amada sensação sem penitência
Clemência se afastando do passado.

Atados finalmente; mente e pele,
Selando o meu futuro nos teus laços.
Nos maços de cigarro se revele
O quanto foram torpes os meus passos...

Bêbado de luz, sigo os teus rastros,
Mosaicos, arabescos, hieroglifos
Decifro o que me dizem tolos astros,
Embaixo destes sonhos, mesmos grifos.

Amor não se traduz em simples gráficos,
Nos beijos e carinhos, nossos tráficos...

775




Nos beijos e carinhos, nossos tráficos
Uma expressão fantástica de paz
Capaz de sonegar momentos trágicos
No quanto amor se entrega, um sonho traz.

Sereno sentimento, vento manso,
Helênica beleza na mulher
Que em plena tentação agora alcanço,
Remanso em transparência que se quer.

Sequer guardando sobras ou retalhos
Atalhos descobertos mudam sinas,
Das árvores em flores, ramos galhos
Tu sabes quantas vezes me dominas

Minando estas defesas que eu tivera,
Dignificando amor em primavera...


776



Dignificando amor em primavera
A rosa que se deu matando espinhos
Saltando sobre a dor, triste cratera
Cuspindo em sentimentos mais mesquinhos.

A quilha do meu barco resistindo
A toda ventania que vier,
Beijando o rosto claro, manso e lindo
Retrato mais perfeito da mulher

Que quer e que consegue o que pretende
Estende suas mãos, e vem comigo,
O abrigo necessário se desvende
No canto em que entoando eu te persigo.

Consigo recolher a claridade
Deixada pelo amor em liberdade...

777

Deixada pelo amor em liberdade
Pegada solta em pó poeira, areia
Sereia que se deu bar e cidade
Estende o seu tapete em lua cheia.

Na teia em que se enreda a fantasia
Fantasmas do que fui vão sem destino,
Menino que ilusão, temente cria,
Na argila da esperança, eu me alucino.

Um hino que se faça, um verso solto,
Batalhas esquecidas, novo prumo.
O mar que se mostrara mais revolto;
Agora em calmaria, entranha o sumo

Da sorte que se esfuma, mas retorna,
Amor que nos pertence, luz entorna...

778

Amor que nos pertence, luz entorna
Clareia toda a senda, acende a festa.
No canto da araponga, qual bigorna,
A chuva do passado não infesta.

Nas frestas fresas abrem orifícios
Delícias e carícias adentrando,
No gozo e no prazer, ofícios, vícios
Bandeiras da alegria se mostrando

Desfraldam, cobrem fráguas, penas mágoas
Não deixam que se veja o que passou.
Descendo em sedução as fartas águas
Recolho os teus sinais, sei o que sou.

Naturalmente a vida segue o curso,
Toada pelo amor e seu discurso...

779

Toada pelo amor e seu discurso
Viola enluarada nos convida,
Doce esperança segue o seu percurso
E muda todo o curso desta vida.

Uma ávida manhã que se promete
Da havida despedida, nasce o sonho,
A lida que em batalhas se arremete
Reflete o canto leve e mais risonho.

Eu sonho com teus lúdicos brinquedos,
Acendo o teu olhar, afino o tom,
Magia em que se urdiam teus enredos
Sugerem que ressurja um dia bom.

Bonança benfazeja que se entoa,
Cantando já me diz que a vida é boa...

780



Cantando já me diz que a vida é boa,
Momento que ressoa desse jeito
Afeito à precisão desta canoa
Alcanço o teu realce, satisfeito.

Relances, vão girando em minha frente
E de repente vejo a mesma imagem
Que um dia me fazendo mais contente
Preciosamente vira tatuagem.

Ourives lapidando a jóia rara,
Eu quero este momento eternizado,
Além do sonhara, imaginara
Em brilhos nosso amor é temperado.

Dos pampas às montanhas quero mais,
Na foz de nossos sonhos, porto e cais...


781

Na foz de nossos sonhos, porto e cais,
Os seixos permanecem neste rio.
O quanto que enfrentamos vendavais
Em magistrais viagens fantasio.

Se eu crio o que deveras acredito,
Repito em cada verso o mesmo plano
Quebrando em maciez duro granito
Ao infinito chego e não me engano.

Arcano pensamento em realejo
Tentando adivinhar o meu futuro,
Apenas o que agora inda prevejo
O céu em que das trevas eu depuro.

Parede que se dá, cores, afrescos,
Mosaico feito em braços, arabescos...




782

Mosaico feito em braços, arabescos
Em refrigério sonhos que desfilo.
Momentos que enfrentei, dias dantescos
Tormento tão difícil de senti-lo.

Estilos diferentes, mesmo aprumo,
Estio dominando a direção.
Estrídulos distantes, perco o rumo,
Estímulo renova esta estação.

Na ação que tantas vezes eu reclamo,
Monção que assim me inunda, apaixonando.
Menção ao tempo amargo ainda exclamo
Noção do que vivi já destoando.

Andando, o peito aberto, exposto ao vento,
Bebendo o bom licor do sentimento...

783

Bebendo o bom licor do sentimento
Eu tento ser mais tenro até me acalmo,
Dos salmos que ora entoas, meu provento,
Inferno em céu nublado resta calmo.

Amor obnibilando o que inda existe
Da bílis que domara em amargura
Tomando em fel a vida, cega e triste
Espúria violação, fria tortura.

Mendigo da esperança; fui à foz
Dos sonhos que bendigo, mas não toco,
Persisto neste intento, aumento a voz
E quero perceber amor in loco.

Loquaz soltando a esmo, verso e fala,
A paz do amor inflama quarto e sala...

784



A paz do amor inflama quarto e sala
E invade totalmente o coração,
Meu brado em alegria, ninguém cala,
Nem mesmo muda rumo ou direção.

Do pão multiplicado, afasto a fome,
Do chão já divido uma igualdade
Fantasma da injustiça, corre e some,
Nos olhos de quem ama, a liberdade.

Fraternidade alcanço nos teus passos,
Em laços solidários bem traçada.
A luz irradiando nos espaços
A poesia em todos, entranhada.

O paraíso, em ti, amor, diviso,
E o toque dos teus lábios; mais preciso.


785



A vida vem trazendo sem aviso
A perfeição em forma de mulher,
Um beijo sorrateiro roubo e biso
Por ele topo tudo o que vier.

Quero a tua pele, a tua cor
Revirando fronhas, travesseiros,
Proponho sem limites, nosso amor,
Em aconchego, toques, peles, cheiros...

Quero ficar até o fim do dia
Conhecendo os caminhos, me perdendo
Até que decorando a geografia,
Aproves com louvor sem ter adendo.

Debaixo desta manga uma cartada
Em plena calmaria, a trovoada...


786

Em plena calmaria, a trovoada
Depois da tempestade, calmaria
A gente sem amor não vale nada
A noite sem você prossegue fria.

Estampo no meu rosto esta vontade
De ter a companhia de quem amo,
Depressa vem querida que a saudade
Não deixa no arvoredo qualquer ramo.

Aroma delicado da morena
Chegando bem juntinho das narinas,
Enquanto a lua tenta roubar cena
Seus olhos iluminam as cortinas

Calando dentro em mim qualquer tristeza
Amor faz o banquete e a sobremesa...

787

Amor faz o banquete e a sobremesa
Sobre a mesa, debaixo dos lençóis,
A presa se encontrando nessa empresa
Represa dentro em si divinos sóis.

A sós, ninguém segura quem se dá
Sem medo sem vergonhas ou juízo.
O fogo atiça aí e queima cá,
Cadenciando o passo mais preciso.

Preciso te falar, fique à vontade,
Não tenho outro desejo em minha vida,
Senão esta fornalha que me invade,
Incêndio sem final ou despedida.

Não quero e nem suporto desperdício
Amor que vem completo, santo vício...

788


Amor que vem completo, santo vício
Deixando o Santo Oficio arrepiado,
Rondando tantas vezes precipício
Desejo sem igual propiciado.

Sem trâmites formais, burocracia,
Amor se faz audaz e não discute,
Vontade toda noite principia
Durante uma alvorada, repercute.

Escute esta canção que o vento traz,
Atrás de cada raio de luar
Por mais que sem limites roube a paz,
Eu quero dele sempre desfrutar.

Refuto qualquer coisa que sonegue
Amor que em mar imenso já navegue...

789

Amor que em mar imenso já navegue
Apega-se ao gozo feito em cais,
Na adega do meu sonho ele prossegue
Inebriando sempre e muito mais.

No encanto deste canto, cada adorno
É feito com ternura e com carinho,
Ao tempo que sofri não mais retorno
Entornas tanta luz em meu caminho.

Amiga, amante, amada companheira
A Musa predileta, a minha Diva,
Contigo eu marcharei a vida inteira,
Minha alma de tua alma anda cativa.

Vivamos nosso amor profundamente,
Sem medo do que venha de repente.


790



Sem medo do que venha de repente,
Estendo o coração nesta soleira,
O vento que me toma; fatalmente,
Deitando minha sorte nesta esteira

Trará como bandeira uma esperança
Que possa transformar todo o caminho,
Estando sob a lua enorme e mansa,
Percebo deste Porto, o doce vinho.

Não temas mais a noite; não se assuste,
Por mais que em pesadelos, solidão,
A vida necessita; eu sei de ajuste
Mas fala bem mais forte esta emoção.

Não deixe que se aplaque o fogaréu,
Mergulhe sem limites nosso céu...

791


Mergulhe sem limites nosso céu,
Entre estrelas, pulsares e quasares
Galopa em liberdade este corcel
Deixando no passado tais azares

Que um dia polvilharam nossa estrada
Fazendo de um encanto, pesadelo,
O quanto a paz por nós é desejada
É sonho tão difícil de contê-lo

A par desta fantástica ilusão
A vida se fazendo em fantasia,
De um claro amanhecer, a percepção
Demonstra um novo tempo que se cria.

Aonde uma amizade sobrevenha,
Sabendo ser amor a nossa senha.


792


Sabendo ser amor a nossa senha,
Meu verso se embebeda no perdão
Que cada novo verso já contenha
Uma amizade plena de emoção.

Assim ao caminharmos lado a lado,
Enfrentaremos qualquer intempérie
Ao ter a sensação de um Eldorado,
A vida recomeça em nova série

O sonho que se fez em utopia
De um mundo bem mais justo e mais amigo.
E mesmo que inda venha a noite fria,
O dia nos protege do perigo.

E acima das complexas diferenças,
É na amizade a força destas crenças...


793


É na amizade a força destas crenças
Que possam permitir um novo tempo,
Distante das antigas desavenças
Não vejo mais sequer um contratempo

Que possa nos calar se a voz é forte
Além deste estribilho num coral,
Selando em paz intensa nossa sorte,
Matando em nascedouro todo o mal.

Ascendo em esperança ao que se expõe
Em luzes tão sublimes e magnéticas.
O verso que em justiça se compõe
Tentando usar figuras tão poéticas

Com força e com vontade agora flui
No poder da amizade se conclui...

794


No poder da amizade se conclui
Que a mansidão vencendo a dura fera
Aos poucos na esperança vai e influi,
E nesta confluência a primavera

Exposta com total tranqüilidade
Criando um patamar superior
Aonde deva haver a liberdade
Com a tranqüilidade interior.

Assim, ao mitigar toda a tristeza,
Sementes espalhando sobre a terra,
Permite que se vença a correnteza
Ganhando esta batalha, venço a guerra.

Em paz, olhando o céu e o firmamento,
Poeira em calmaria toma assento...

795

Poeira em calmaria toma assento,
Enquanto a chuva cai tão mansamente.
Ouvindo a tua voz, decerto eu tento
Mudar este destino totalmente.

A mente te buscando já percebe
O quanto que lagrimas nesta tarde.
De lágrimas o chão em dor se embebe,
Pedindo que o amor não mais retarde.

Eu gostaria agora de poder,
Estar do lado teu, te consolar,
Não sabes quanto é grande o bem querer,
Tampouco quanto eu quero, enfim te amar...

Das lágrimas que, inúteis, tu derramas,
Quem dera se eu pudesse arder em chamas...

796


Quem dera se eu pudesse arder em chamas,
Queimando sob as luzes da paixão,
Minha alma cativada, quando inflamas,
Mergulha na total satisfação...

Amargas esperanças; cultivara
Ouvindo o mesmo não repetitivo.
Se mesmo a natureza desampara
Propondo eternamente o ser cativo

No quarto sempre escuro do desejo
O medo em relampejo trovejando
O quanto que te quero e sempre almejo
Aos poucos se perdendo e desabando.

Abandonado e só, nada me resta.
Amor em solidão tristezas gesta...

797

Amor em solidão tristezas gesta
E empresta esta mortalha que ora visto.
Outrora quem vivera em riso e resta
Agora em solidão anda malvisto.

Assisto ao meu velório feito em vida,
A sorte de viver já não me alcança
Estrada que tentara vai perdida,
Mordaça me calando sem fiança.

A trama em que me enredo, solitária
Expressa o que restou de um sonhador.
Não quero mais a luta temerária
Eternamente enfim, sou perdedor.

Recebo o vento frio da saudade,
Matando o que restou da claridade...


798

Matando o que restou da claridade
Sem lua o cavaleiro segue em solo,
O quanto é necessária uma amizade
Não serve nem de apoio ou mais consolo.

Assolam os momentos, fúrias, dores,
Argutas as quimeras na tocaia
Espalham seus espinhos, secam flores,
Algoz feito esperança toma a praia

E invade o que restou de quem sonhara,
Deixando tão somente uma carcaça.
A jóia cultivada, mesmo rara,
Perdida em meio a nuvens de fumaça;

A morte que sonega o paraíso,
A vida vem trazendo sem aviso.



799

De todo o que passei; cada tormento
Deixando a mais profunda cicatriz
Não tendo em meus caminhos mais alento,
Vagando quase sombra, um infeliz.

Atrizes que se foram, palco estúpido.
Num último momento, mau cenário,
Olhar que me devora, atroz e cúpido,
Estende o seu sorriso temerário

No crocitar terrível, na rapina,
O bico que penetra no meu cerne,
Quem dera se minha alma em leve crina
Alçasse uma esperança que me hiberne.

Talvez inda restasse uma ilusão,
A noite se esgarçando em podridão...

800

A noite se esgarçando em podridão
Deixando o meu esgoto sempre às claras
Inverno desbotando este verão,
Enquanto de outros sonhos me declaras.

Escaras que acumulo pela vida,
Feridas que se fazem mais presentes.
Não vejo mais sequer uma saída,
A faca segurando entre meus dentes.

Mostrando minhas garras, meus farrapos
Vivendas que ontem foram doces lares,
Nos pêndulos do tempo velhos trapos
Estendem suas cores nos altares.

Solares do passado tão distante,
Cenário desta insânia deslumbrante.


801


Cenário desta insânia deslumbrante
A cama feita em trágicos lençóis
Farol que se perdeu a cada instante
Negando uma alvorada plena em sóis.

Se de soslaio eu vejo antiga cena
A lúgubre passagem repetida,
O quanto que o desejo me envenena
Matando minha sorte de saída.

Assíduo expectador da fantasia,
Há tempos que eu perdi força e vontade.
Noite que solitária já se esfria
Prenúncio do vazio em tempestade.

A faca que se entranha no meu peito,
Por ironia, eu sei ser teu direito...

802


Por ironia, eu sei ser teu direito
O riso que sarcástico entoaste.
Serpente que se entranha no meu leito
Causando com a lua este contraste.

Os vermes que carrego dentro em mim,
Aos poucos devorando o que me resta.
Na pútrida agonia, chego ao fim,
Meu corpo apodrecido tudo empesta.

Os olhos arrancados, as galés
Atado a tais correntes, pés em chama,
O corte se aprofunda e de viés,
Escara dentro da alma já se inflama.

O beijo cadavérico da sorte,
Expõe como saída, o frio, a morte...


803


Expõe como saída, o frio, a morte,
Paixão que se abortou há tantos anos,
Aprofundando em mim temível corte,
Mudando esta viagem nega planos.

Os desenganos todos que carrego,
Não posso e nem consigo questionar,
Quem sabe que se esvai, calado e cego,
Não sabe ou reconhece mais o mar.

Quem dera simplesmente ser feliz,
Cantar em liberdade amor imenso.
Destino lamentável já não quis
Futuro pressuponho amargo e tenso.

Intensas labaredas das paixões,
Morreram em cruéis desilusões...


804

Morreram em cruéis desilusões
As pétreas esperanças, fatais erros,
Do quanto foram luzes, emoções
Morrendo dentro em mim, frios desterros.

Ardumes me tomando olhar tão rubro,
Especiarias tive e não cuidei,
Agora em solidão eu me descubro,
Amarga sensação que eu entranhei.

A carne decomposta, nauseante
Aroma que se espalha pelas ruas,
Tivesse em pleno amor algum instante
Minha alma navegando em claras luas.

Mas resta tão somente o riso inglório
Irônico festejo em meu velório...


805


Irônico festejo em meu velório
Gargalham os abutres, vou exangue.
Os restos vãos expostos num empório
Na taça cristalina, rum e sangue.

As vísceras expostas, bacanais,
Orgástica e vampírica luxúria.
Instintos demonstrados, bestiais
Nos olhos tresloucados, riso e fúria.

Incúrias espalhadas pela casa,
Tetânicas molduras tão voláteis,
O fogo da mentira que me abrasa
Tentaculares pêndulos contráteis.

E o lúbrico sorriso com sarcasmo
Da morte que perpetra um vão orgasmo.

806


Da morte que perpetra um vão orgasmo
Levando uma crisálida em vencida
Depois de tanto tempo, no marasmo,
A boca se esfacela e nega a vida.

Procelas que embebi na minha estada
Deixando suas marcas mais profundas.
No peito que se entrega, uma estocada
Causada pelas mãos, cruéis, imundas

Daquela que se fez negra penumbra,
Depois de me entregar em corpo, em alma,
Somente este vazio se vislumbra,
Uma agonia amarga, agora acalma.

E neste paradoxo, pouco sobra
Do peito que em tempestas já soçobra...


807

Do peito que em tempestas já soçobra
Uma expressão terrível quase agônica
O quanto fui feliz agora cobra
A sorte em nova face arquitetônica.

A tônica do amor repetitivo,
Expressão nefasta agora trama.
Do quanto que já fui de ti, cativo,
A melodia amarga os tons e exclama.

Descendo pelos ralos, esperança,
Esgota-se no mangue da ilusão.
Esgotos e sarjetas, nova dança
Mudando ao fim da noite, este refrão...

Minha alma desdenhada e carcomida,
Nas mãos a fantasia apodrecida...


808

Nas mãos a fantasia apodrecida
Dos carnavais orgásticos que tive,
Non bote da serpente a minha vida
Expressa o que sonhei e não contive.

Desilusão se mostra mais constante,
Arcando com meus erros, chega o fim,
O cheiro de minha alma nauseante
Apodrecendo cedo o meu jardim.

Enfim posso rever aonde errei,
Ao ter tão simplesmente a negação.
Em tétricos caminhos, naveguei
Deixando os meus escombros pelo chão.

Agora sem ter rumo e só; descambo,
Arrasto-me nas ruas, qual molambo...

809


Arrasto-me nas ruas, qual molambo,
Um verme que se deu ao limbo eterno,
A sorte que meus sonhos fez escambo
Lambendo minhas pernas cria o inferno.

Partícipe da orgástica folia,
Entregue a mais completa insensatez,
Gritando tantas vezes a alforria
Os olhos em temível languidez

Atrelo o meu futuro ao meu passado
E leio este capitulo final,
Deitando o meu olhar aliviado
Percebo que restei sem bem nem mal.

Correntes carregas vida afora,
A sombra do que fui já me devora...

810

A sombra do que fui já me devora,
Deixando tão somente uma saída,
Se o olhar que inda te trago se descora,
Quem sabe renascendo em nova vida

Após meu funeral em luz sombria
Permita ao eremita ser feliz.
A morte me fascina. A fantasia
Criada noutra senda expõe e diz.

O vaso que se quebra jamais é
Do jeito que se fora noutro tempo,
Vivendo com loucura, risco e fé,
Talvez ainda vença o contratempo

Armado qual cilada a cada passo,
Negando à fantasia o seu espaço...


811



Negando à fantasia o seu espaço,
Pressinto num momento de inquietude
Que ainda me permito ao teu abraço
Mudando de caminho e de atitude.

Quem sabe na amizade o meu sustento,
Trazendo algum alento, uma esperança.
O quanto que eu desejo e mesmo tempo
Criar alguma forma de aliança

Que possa permitir algum remédio,
A droga que fascina e me entontece
Legando à solidão a dor e o tédio,
Um novo amanhecer assim se tece.

Nos braços que estiveram do meu lado,
Um novo amanhecer tão esperado...


812


Um novo amanhecer tão esperado
Encontro na bonança após a chuva,
Olhar por tantas vezes maltratado
Entende uma amizade como luva

Que apóia enquanto aquece e trama a cura,
Deixando o que passei nesta gaveta.
Agora quem se entrega com doçura
Transmuda a direção da fria seta.

Completa sensação de liberdade,
Depois de uma agonia interminável,
Nas sendas tão macias da amizade,
Um novo amanhecer decerto amável.

A direção mudada pelo vento,
De todo o que passei; cada tormento.


813



Um novo amanhecer em que diviso
Nudez maravilhosa em minha cama,
Mulher que à noite veio sem aviso,
Provoca maremoto enquanto inflama.

Roçando a minha pele, o seu desejo
Expresso na vontade de se dar,
Delícia que se entrega enquanto vejo
Na transparência o quanto é bom amar.

Mergulho nestas tramas meus carinhos
Arisca, tu sonegas, mas bem queres,
Descubro em tuas sendas os caminhos,
Do jeito e da maneira que vieres.

Em sonhos me enlouqueço enquanto espio
O porejar sublime, teu rocio...

814


O porejar sublime, teu rocio
Tomado gota a gota me inebria.
Do quanto eu te proponho e me vicio
A noite em mil loucuras principia.

Nas grutas, furnas, locas, explosões,
Inundação de gozos e de risos,
Na cama em que se entregam furacões
Certeza de delírios mata os sisos.

Rolando sobre nós estrelas nuas,
Uma arquejante insânia nos colore.
Entregue a tais prazeres continuas,
Teu corpo que eu perceba e que eu decore

Os rumos que me levam aos orgasmos,
Sem medo, sem limites, sem marasmos...

815


Sem medo, sem limites, sem marasmos,
Estendo o meu prazer, recebo o teu,
A noite nos jograis que sem sarcasmos
Em sonhos, a alegria concebeu.

Alheia a tais profanas caminhadas,
A lua nos observa em claros raios,
As tramas mais sublimes decoradas,
Corcéis alçando céus, libertos, baios.

Vislumbro em transparência o gozo pleno,
Desnuda em minha cama, esta morena
Responde da vontade todo aceno,
Deixando a nossa vida mais amena...

Amor que sem pecados extasia,
Decerto de gostoso já vicia.

816


Decerto de gostoso já vicia
O grande amor que entranha as nossas vidas.
No quanto teu carinho protegia
As horas não se foram distraídas.

Na beleza infindável de teus olhos,
O sonho se mostrando sempre bom,
O trigo separado dos abrolhos
Estende em harmonia um novo tom

Este anjo que tu és já me permite
Viver a sensação do manso sono,
Amor que na verdade é sem limite
Cativa e não concebe um abandono.

Deitando meu carinho em tua guarda,
Felicidade imensa já se aguarda...

817

Felicidade imensa já se aguarda
Depois da triste curva do caminho,
A dor que tantas vezes nos retarda
Esquece-se na paz em que me aninho.

Deitando no teu colo o meu desejo,
Asperges sobre mim a tempestade
O quanto que ao teu lado assim prevejo
Um mundo com sublime liberdade.

Teu corpo, uma divina catedral
Erguida em homenagem ao prazer
No amor que se faz louco ritual,
O fogo feito em lava a se verter

Vulcânica explosão, lírico sonho,
No formidável mar meu barco eu ponho...


818


No formidável mar meu barco eu ponho,
Distante dos naufrágios e quimeras,
Outrora um navegante tão tristonho
Exposto às solidões, temíveis feras,

Agora ao descobrir tuas veredas
Não vejo outro tesouro entranho esta ilha.
Na busca deste gozo que concedas,
Gerando tão somente a maravilha

De ser e de poder estar contigo,
O tempo que me resta, solto ao vento,
Em ti encontro a paz, calor e abrigo,
Não tenho outro caminho ou pensamento.

Bebendo desta fonte inebriante,
Eu quero mais agora e a cada instante...


819

Eu quero mais agora e a cada instante
Rompantes, noite afora, sem demora.
Embora amor às vezes, um mutante
Que em tantas fantasias se decora.

As lágrimas nos céus do meu passado
Causaram tanta chuva e temporal.
No aval de teu carinho, desfraldado
O tempo que se faz em festival.

Ao refazer leituras do que sou,
Encontro alguns sinais de novo estio.
O vento que em outra hora congelou
Trazendo tão somente o duro frio

Agora feito brisa, chega manso,
O dom da calmaria, enfim, alcanço...

820


O dom da calmaria, enfim, alcanço
Rolando em plena noite um som suave.
O canto que se espalha calmo e manso
Retira do caminho, pedra, entrave...

Na nave dos meus sonhos chego a ti,
O quanto que te gosto, não consigo
Falar em simples verso o que senti,
Na música a tocar, tudo o que digo.

Escute a melodia, ela diz tudo
Nas notas da canção, neste estribilho,
Por mais que eu fique aqui, calado e mudo
Retrato que se mostra, tom que eu trilho.

Declaração de amor simples balada,
Não falo e nem preciso dizer nada...


821



Não falo e nem preciso dizer nada
Tu sabes deste amor que há tempos sinto.
Nas noites, na viola enluarada
Em cores mais diversas, traço e pinto.

Das velhas garatujas, nem lembranças
Caricaturas minhas esquecidas,
Das tintas mais brilhantes as fianças
Permitem noites raras, coloridas...

Na tela que se mostra em quarto e cama,
Emoldurada cena eu não esqueço,
As luzes se misturam nesta trama,
Às forças primitivas obedeço

E traço com pincéis minha obra prima,
Moldada em maravilha, sonho e estima...

822


Moldada em maravilha, sonho e estima
Vontade de chegar perto de ti,
Amor é muito além de simples rima,
É tudo o que sonhei, e quero aqui.

Atando nossos corpos, mãos além,
Roçando em fantasia cada poro,
Guiando o pensamento, o gozo vem,
No corpo que vasculho e já decoro.

Intenso fervilhar, dança febril,
Partilha que se busca sem demora,
O lábio mais audaz segue sutil,
Meu corpo flutuando nega escora

E vaga no infinito de teus seios,
Descobre em tuas sendas, ricos veios...


823

Descobre em tuas sendas, ricos veios,
Quem sabe a dançarina inesquecível
Bailando em liberdade, sem receios
Inebriando sempre em luz incrível.

Os passos desta dança bem ritmados
As coxas se tocando, mãos passeiam.
Desejos e vontades são rimados
O quanto que se querem; já se anseiam...

Revelações em formas tão iguais,
As línguas passeando, mais sedentas,
Os toques tão macios, sensuais,
Ao mesmo tempo negas quando atentas.

Depois as roupas viram testemunhas,
Dos versos que em loucuras tu compunhas...


824


Dos versos que em loucuras tu compunhas
Diversas fantasias e sonetos,
Nos corpos que se lanham; dentes, unhas,
Nas peles parcerias e duetos.

Riscando o teto estrelas multicores,
Aéreas borboletas vão libertas,
Na cama fecundando belas flores,
As janelas e a porta estão abertas.

Milhares de crisálidas preparam
O amanhecer supremo da esperança.
Enquanto as maravilhas se declaram,
Performática e rara nossa dança.

Embalos repetidos não nos cansam,
Apenas recomeçam sempre avançam.

825


Apenas recomeçam sempre avançam
Os jogos que fazemos gozo e sonho.
Enquanto as nossas pernas já se trançam
O verso mais gostoso, enfim, componho.

Se eu ponho os meus saveiros no teu mar,
Mergulho o meu prazer em mansas águas.
Enquanto este desejo dominar
Em mim com fartas ondas tu deságuas...

As mágoas esquecidas, peito aberto,
Armando um temporal e inundação,
Deixando em polvorosa o vil deserto,
Nos poros, os suores, explosão...

E bêbado da orgástica aguardente,
Como um replay eu jogo novamente...


826


Como um replay eu jogo novamente
Se eu ganho ou perco, já venci.
O tempo não importa, plenamente
Ondeio o meu prazer dentro de ti.

No corpo da morena um ópio, um vício
Recendes à total insensatez
No abismo incontrolável, precipício
Bebendo toda a lua de uma vez.

A dois se fez esplêndida batalha
Aonde o vencedor vencido está
Perfume pela casa que se espalha
Eternamente em nós mergulhará.

Do sol que tu me dás cedo matizo
Um novo amanhecer em que diviso.


827




O fim dessa amargura e sofrimento
Que expõe a face oculta da pantera,
Lambendo a sua cria, num momento
Adentra em nossa pele, amarga fera.

Andando sem destino pelas ruas,
Crianças são expostas qual troféu,
Enquanto sutilmente as carnes cruas
Vendidas mais baratas que papel

Jogadas sempre às traças por quem anda
Olhando para estrelas de cinema
O que se disse outrora já desanda
Amor não pode ser só um problema

Vencendo as injustiças, na verdade,
Ouçamos a voz mansa da amizade...

828


Ouçamos a voz mansa da amizade
Clamando por um sonho mais liberto
Trazendo em pleno amor, fraternidade
Mostrando este caminho sempre certo.

Deitando sobre todos claramente
A paz na qual se deve prosseguir.
É necessário sempre que se tente,
Não podemos, amiga, desistir.

Atrás de um sonho imenso de justiça
Lutemos sem descanso vida afora,
Humanidade imersa na cobiça
Em lágrimas e sangue se decora.

Olhando para frente inda acredito
Num canto libertário e mais bonito...

829


Num canto libertário e mais bonito
Eu posso imaginar um novo tempo,
Vencendo em mansidão duro granito
Deixando no passado o contratempo.

Um sonho guerrilheiro em que se faça
O novo amanhecer em liberdade,
Por mais que nos destrua a fria traça
O dia irá trazer felicidade.

Encanto que não seja solitário,
Expressa uma alegria em cada peito,
O amor que se demonstra solidário
Nos laços da amizade sendo feito

Estampa em nossos olhos maravilhas,
Dourando em harmonia as novas trilhas...

830

Dourando em harmonia as novas trilhas
Abrindo do passado os vãos sombrios.
As almas antes sós, vãs andarilhas
Feridas fatalmente nos seus brios

Recebem com alento um sonho bom
Aonde se percebe uma alegria
Mudando totalmente o velho tom
No qual a nossa sorte, enfim se urgia.

Surgia neste sonho em plena paz
O riso da esperança, uma ilusão,
Mostrando ser possível e capaz
Nas tramas de um amor, revolução!

Porém ao acordar e ver de perto,
Miragem volta a ser triste deserto...

831


Miragem volta a ser triste deserto
Na seca que retorna eternamente,
O carrossel da vida sempre incerto
Permite que se veja claramente

No rosto da criança esfarrapada
A fome que se espalha, de justiça.
A marca em nossa pele tatuada
Impede que esperança ressurja e viça.

Algozes de nós mesmos, insensatos
Distante da amizade, a podridão
Espalha pelas ruas, pelos matos,
Matando em nascedouro a solução.

Assim, como idiotas e imbecis
Deixamos nossas vidas por um triz...


832


Deixamos nossa vida por um triz
Nas vezes em que, tolos inda cremos
Que a sorte de viver nos faz feliz,
Por mais que destrocemos nossos remos;

O barco se perdendo em mau destino
Não deixa que veja mais o cais.
Olhares de uma infância em desatino
Exposta a carniceiros tão venais.

No campo e na cidade a mesma face
Da fome se espalhando dia-a-dia.
Quem dera se pudesse ou encontrasse
Viver ao fim de tudo, uma alegria

No canto mais sublime da amizade
O rosto tão suave da verdade...


833


O rosto tão suave da verdade
Explicitando a vida que se faz
Distante do que possa em liberdade
Trazer a todo ser, imensa paz.

O canto libertário adentra o ninho,
Porém farta injustiça engaiolando
Não deixa sobrevir ao passarinho
O belo que se entorna deslumbrando

O céu que se permite em azulejo,
Mas assum preto cego jamais vê
Restando tão somente este desejo
De um dia o novo encanto em que se crê

E sabe-se capaz de iluminar
Mudando a face algoz a nos tocar...

834


Mudando a face algoz a nos tocar
Uma esperança feita em amizade
Talvez inda consiga transformar,
Trazer a quem deseja a liberdade.

Desértico país que se deixou
Levar pelos carrascos mais temidos,
O céu que em tempestades se nublou,
Mata-borrão sorvendo tais gemidos,

Estampa em ironia, ordem progresso,
Bandeira que jamais foi nossa glória,
Nas artimanhas vis deste Congresso,
A face do poder expõe a escória.

Abutres rapineiros não se cansam,
Enquanto os pés mendigos não descansam...

835



Enquanto os pés mendigos não descansam
O medo se espalhando nos olhares
Daqueles que buscando não alcançam
São frutas que apodrecem nos pomares

Porém uma vingança já se estampa
Nas mãos destes meninos esfaimados,
Ao não temer a sorte feita em campa
Nem mesmo os sangues vários derramados.

Guerrilha que se mostra ressurgida
Baseados nas bocas, cocaínas,
A bala que te encontra, não perdida
Expõe tantas feridas das esquinas.

A fera adolescente que hoje mata
Especular reflexo, só retrata...

836


Especular reflexo, só retrata
O olhar em que haveria ingenuidade
De tanto que se fere e se maltrata
Os cães sempre procuram igualdade.

Da súcia que devia legislar
O rosto que se expõe, em podridão
Permite que se veja o mesmo olhar
Daquele que trafica, exploração.

Na luta que de dá nem concha ou mar,
Os erros cometidos são de todos.
Numa omissão difícil de explicar
Criamos pra nós mesmos vários lodos.

Fuzil, ora brinquedo de criança
Expressa, em realidade, uma vingança...



837




Expressa, em realidade, uma vingança
Reféns da súcia imunda que crocita
Na lama que nos toma; a mesma dança
Mascara a cruel face, sempre aflita.

Nas tramas tantos quês entrelaçados
Explicam os velórios da esperança
Os dias que vivemos, derrotadas,
Moldando o que teremos na lembrança;

Os filhos do poder e seus escravos,
Os olhos embotados da miséria.
Quem dera em mares loucos, frios, bravos
Uma expressão mais firme e bem mais séria

Permita que se mostre em amizade,
O quanto que é possível liberdade...


838


O quanto que é possível liberdade
No peito de quem luta por justiça,
No amor vejo a possível claridade
Matando a fera amarga da cobiça.

Há tempos um judeu em fantasia
Imolado por crer num novo tempo
Aonde amor, perdão, já poderia
Vencer qualquer problema ou contratempo.

Daquilo que Ele disse, muita gente
Vendendo o que de Graça recebeu
Expulsa do hospital, todo ser crente
Que a força da serpente não venceu.

Assim, em ironia e podridão,
A corja vende amor, rouba o perdão.


839


A corja vende amor, rouba o perdão
Nos bancos das Igrejas, tribunais
Abutre se disfarça em vendilhão
Engorda a súcia cada vez bem mais.

Quem dera se eu tivesse o mesmo açoite
Que um dia o Bom Judeu usou sem dó,
Talvez ainda pudesse em plena noite
Mostrar o amanhecer, dourar o pó

Do qual nós fomos feitos, e voltamos
Depois da caminhada sobre a Terra,
Cuspindo nos venais e cruéis amos
Sentindo o puro amor que assim se encerra

Nos olhos de um amigo em cruz, liberto,
Aguando em esperanças o deserto...


840



Aguando em esperanças o deserto
Destino transformado totalmente,
O peito em amor puro vai liberto
Trazendo alvorecer bem mais contente.

No poço em que se fez escuridão,
Amor mostra possível farta luz.
O tempo em que se deu ingratidão
Às mãos de um novo sonho nos conduz.

Na cruz em que se estampa o bom cordeiro,
O amor que assim se deu em sacrifício
Permite que se mostre verdadeiro
O amor como caminho e como ofício.

Nos olhos do judeu, em doce alento,
O fim dessa amargura e sofrimento.


841



Sabendo da colheita prometida,
Eu mostro as minhas mãos sempre vazias,
Promessa tantas vezes esquecida
Estende suas dores e agonias.

Durante tanto tempo amargo sonho
Calando a nossa voz, negando a paz.
O monstro soerguido, vil medonho,
Mostrando o quanto pode ser capaz.

Capachos desta insânia; perseguimos
As falsas impressões em lumes frágeis.
Na manta das mentiras nos cobrimos,
Os inimigos sempre são mais ágeis.

Quem sabe se lutarmos... Mas esqueça,
Amortalhado amor, pregando peça...

842

Amortalhado amor, pregando peça
Num mambo o meu molambo coração
Às vezes devagar, noutra se apressa
E traz por resultado a negação.

Do mar que outrora fora serenado,
Apenas tempestade, o que restou.
Vibrando o sonho um dia desfraldado,
Marcado por insânia ainda estou,

Da lua se esmerando em raios claros,
A maresia faz-se mais presente.
Momentos mais felizes são tão raros,
Tristeza normalmente é o que se sente.

Assim, entre retalhos e cetins,
Eu tento ainda crer nos teus jardins.

843


Eu tento ainda crer nos teus jardins
Por mais que chagas; tantas; já fizeste
A seca que se deu matou jasmins
Amor não sobrevive ao menor teste.

A dor não me seria mais completa
Se tu não me trouxeste o teu sorriso.
Assim a farsa plena se completa
No riso que entornaste este granizo.

Aguardo então teu bote no final,
Repondo em minha adega amargo vinho.
O quanto que já foi tão desigual
Amor no qual decerto não me aninho.

Mas eu me vingarei, esteja certa,
Mantendo no meu peito, a porta aberta.


844



Mantendo no meu peito, a porta aberta
Adentra-se este sonho que me trazes
De todo o que pressinto, estando alerta
A vida se renova em várias fases.

Dormir eu te garanto não mais quero
Se agora o meu sorriso é mais intenso.
Além de qualquer sonho eu me tempero
No amor que nos teus braços, tenho imenso.

Encantos espalhados pela casa,
Estrelas debruçadas na janela.
Calor que veramente assim me abrasa
Amor em plenitude se revela

E chama para o gozo, tais magias
Realizando as nossas fantasias...

845

Realizando as nossas fantasias
Encontro nos teus laços minha cura,
O quanto desejara em noites frias
Estar sempre distante da amargura.

Minha alma que em teus braços se demora
Expressa o quanto a vida faz contente
Traçando meu destino revigora
O amor que se pretende ser da gente.

Agente da esperança, um canto breve
Espalha em arrebol, tranqüilidade,
A solidão se cala e não se atreve,
Expressa no vazio a liberdade

Bebendo com fartura nesta fonte,
O sol volta a luzir meu horizonte...

846

O sol volta a luzir meu horizonte
Numa expressão de enorme lucidez,
Por mais que a vida, às vezes desaponte
Amor em alegria já se fez.

Meus olhos percebendo tal beleza
Exposta em atitudes mais serenas,
Entrega-se ao banquete em lauta mesa
Carícias sem limites, raras, plenas.

Agora me livrando dos meus erros,
Estendo as minhas mãos, te convidando,
Lançarmos nossas asas sobre os cerros
Divina fantasia desfraldando.

O quanto tanto amor se fez gentil,
Diverso do que outrora fora vil...

847



Diverso do que outrora fora vil
Solidão, nosso amor nos extasia.
Beleza sem igual jamais se viu,
Traçando em realidade, a fantasia.

Dois corpos que se tocam plenamente
Por sobre estes lençóis, sedas, cetins,
Fragrâncias divinais rondam a gente
Mostrando a plenitude dos jardins.

Enamorados vamos noite afora,
Suspiros e gemidos, doce alento.
Eu quero teu amor, e desde agora
Não tenho sequer outro pensamento.

Desejo nestas noites sensuais,
Somente ser só teu e nada mais.

848

Somente ser só teu e nada mais!
A voz que repetia o mesmo mote
Entregue à fantasia feita cais
Estende em farto mel, divino pote.

Sem cotas nem limites, sempre teu
Caminho percorrido em bela noite
Entregue à luz suprema, esquece o breu
Já tendo a claridade em que se acoite.

A trama que se expressa claramente
Nos diz do amor intenso e sem limites
No qual eu me sentindo assim contente
Não quero e nem permito mais palpites.

Fiel ao nosso sonho; sou feliz
Contendo todo amor que outrora eu quis.


849




Contendo todo amor que outrora eu quis
Senhora dos meus sonhos, amante amiga,
Do medo não restou nem cicatriz,
Ausência não passou de mera intriga.

O tempo de sonhar se faz agora,
Coletando as estrelas mais distantes
O quanto em maravilha se decora
Fazendo das tristezas vis farsantes.

Bem antes do que tenho em alegria,
Andara pela vida, simplesmente,
Ao ter bem junto a ti vital magia
Felicidade plena se pressente.

Vivendo com certeza, raras glórias.
Arcando com meus erros e vitórias.


850

Arcando com meus erros e vitórias
Jamais me arrependendo, sigo em frente.
Lauréis entre derrotas tão inglórias
Depois de tudo, em ti, ando contente.

Aprendo a cada dia em novo enfoque
Olhar com mansidão este horizonte.
Por mais que tão distante eu nunca toque
A lua tão sublime enfeita o monte.

Porém quanto é possível perceber
A magnitude plena deste amor.
No dar sem procurar nem receber
Felicidade expressa o seu valor.

Assim amar além e sem fronteira
Uma emoção maior, pois verdadeira...

851


Uma emoção maior, pois verdadeira
Derrama sobre nós tanta fartura,
Além desta alegria costumeira
Amor promete paz enquanto cura.

Na alvura dos lençóis, o jogo intenso,
No qual não se permite mais engano,
Em ti eu nunca nego, sempre penso,
Um nobre sentimento soberano.

Relego qualquer dor, prefiro a sorte
Que é feita nos teus olhos, meus faróis.
A vida se permite em tal suporte
Trazendo segurança aos arrebóis.

Depois de terremotos e tsunamis,
Não temo mais as dores, vis infames...

852

Não temo mais as dores, vis infames
Extensões terríveis do passado,
Por mais que tantas vezes tu reclames,
Eu continuo sempre do teu lado.

Mesquinharias; deixo e vou em frente,
Não quero reviver os sofrimentos,
Às vezes nosso amor, cedo pressente
A tempestade feita em duros ventos.

Abrindo em guarda-sol minha esperança,
Tempero com carinho os disparates.
A voz em agonia então se lança,
Impede que o amor; cedo maltrates.

Um álibi que trago aqui comigo,
O meu passado feito em desabrigo...


853


O meu passado feito em desabrigo
Deixando no meu peito a cicatriz,
Agora ao ter o sonho que persigo,
Eu sinto finalmente ser feliz.

Não quero mais o riso tão atroz
De quem se deu ao luxo de um sarcasmo.
Às vezes escutando a tua voz
Eu fico sem defesas, mesmo pasmo.

Porém entendo enfim, os teus ciúmes,
Em expressão diversa, diz amor.
Ouvindo em calmaria tais queixumes,
Respiro sem espinhos, bela flor.

Amor que se permite ao colibri,
Beleza assim igual, eu nunca vi...


854


Beleza assim igual, eu nunca vi,
Estrela que me guia sobre mares
Distantes emoções vivendo em ti
Além do que permitem os luares.

Marés que se transformam todo dia,
Nas praias, nas areias caracóis,
Cabelos entranhados de magia,
Estendem alegrias, raros sóis.

A par desta vontade que nos toma,
Meu verso se tornando mais sutil,
Querendo no teu corpo, bela soma,
O que o passado em trevas impediu.

Encontro fartas bênçãos nesta vida
Sabendo da colheita prometida.


855

Nos braços deste nobre jardineiro,
Amor já se pretende em colibri,
Voando sobre um céu chega ligeiro
Na flor maravilhosa que hoje eu vi.

Menino sonhador, agora velho
Guardando o tempo inteiro esta esperança,
Amor no qual em paz procuro espelho
Causando no meu peito, temperança.

Às franjas desta lua, a serenata
Em trovas, delicados madrigais,
A lua que ressurge cor de prata
Estende raios belos, magistrais.

Assim, um sonhador em versos canta
Amor que nos recobre, rara manta...

856



Amor que nos recobre, rara manta,
Não deixa que um inverno nos maltrate
No olhar da prenda bela que me encanta,
Calor que me traduz amargo mate.

Do coração mineiro, um minuano
Chegando aos pampas, manda estas notícias
Do sentimento nobre e sem engano
Da sorte que virá, claras primícias...

Prelúdio em que a vida prenuncia
Um dia feito em glória e plenitude.
Estando sempre em tua companhia
Eu vejo ressurgida a juventude.

Amar é ter nas mãos tantas estrelas,
Num ato de loucura, enfim, bebê-las...


857

Num ato de loucura, enfim, bebê-las
Esperanças que são estrelas guias,
Teus braços em meus braços quando atrelas
Permites multidões de fantasias.

A par desta vontade de te ter,
Eu canto e não me canso, alçando os céus,
De magas alegrias e prazer
Recobrem nossas sortes, claros véus...

Parceira tão constante em minha vida,
No quanto eu te desejo não me calo,
A glória de sonhar é permitida
Seguindo mesmo passo, mesmo embalo

Muito além do que eu possa declarar,
Entrego nos teus braços, lua e mar...


858


Entrego nos teus braços, lua e mar,
No limiar da vida eu te proponho,
Bem mais do que te amar, eu me entranhar
Em ti, suavemente como um sonho.

Estar dentro de ti cada momento
Num só respiro um passo sempre igual,
Dois corpos vencerão qualquer tormento,
Intento que nos doura, magistral.

Fazer da poesia, a nossa amante,
E ter a cada verso, esta certeza
Do quanto amor imenso e fascinante
Impede qualquer forma de tristeza.

Num ato tresloucado, tu és eu,
Meu mundo no teu mundo se perdeu...


859



Meu mundo no teu mundo se perdeu
Num mágico momento inesquecível,
Amor que é nosso encanto concebeu
Além do que se fora, outrora crível

Um mundo sem abismo ou avarias,
Numa expressão perfeita em seus detalhes,
Teus sonhos em meus cantos quando alias
A tela já se doura em teus entalhes.

Distante das outrora movediças
Areias que enfrentei nos descaminhos,
Vencendo em minha vida antigas liças
Entrego-me ao delírio dos carinhos

Que trazes ora em forma de um anzol,
Pescando para nós divino sol...


860


Pescando para nós divino sol
Amor em nossos nós fez provisão,
A sorte perseguindo este farol
Encontra em mar profano esta paixão.

Que é feita de delícias sem igual,
Resiste a qualquer força ou tempestade,
Trazendo mil estrelas no bornal,
Em noite escura é plena em claridade;

A liberdade ainda que tardia
Nos olhos de quem amo já traduz
Além de simples, frágil fantasia
É forte e inesquecível, pura luz.

Sou teu e nosso amor ninguém impede,
Na força que domina e não se mede...

861


Na força que domina e não se mede
O tempo vai mudando a minha história,
Carinho que se pede e se concede
Legado que carrego na memória.

Relembro o teu olhar que em mansidão,
Mostrara qual sentido prosseguir,
Pois, o vento mudando a direção
Não deixa nem mais rastros pra seguir.

À noite ou na temível madrugada,
A solidão reflete este vazio
Do quanto eu tivera sobrou nada,
Somente o desespero amargo e frio.

Saudades vão roubando toda a cena,
Lembrança deste amor, cura e envenena...


862

Lembrança deste amor, cura e envenena
E a só tempo trama e já destrói
Qual maremoto em noite mais serena
O quanto que maltrata sempre dói.

Sói, pois acontecer que uma saudade
Estúpida quimera mostra as garras,
Além do que alegria inda arrecade
Tristezas vão firmando vis amarras.

Assim, neste agridoce eu me tempero
E bebo às vezes luzes, noutras trevas,
Portanto enfim construo ou degenero
Secando meu jardim preparo as cevas.

Antíteses retratam fielmente,
Saudade que me invade, de repente...


863


Saudade que me invade, de repente
Num átimo se torna mais cruel,
O quanto se permite reticente
Nublando num momento todo o céu.

Assíduo, freqüento os seus espaços
E neles bebo farta inspiração.
Distante dos amores, dos abraços,
Saudade se transforma em lampião.

Na luz bruxuleante se deforma
A face do que outrora eu conheci.
Sem nexo, sem juízo e sequer norma,
Ao longe eu me encontro sempre aqui.

Sorvendo da tristeza em alegria,
Saudade se maltrata, já vicia...


864


Saudade se maltrata, já vicia
De um vício delicado embora fero,
Trazendo o que eu vivera em outro dia,
Nos olhos da saudade sempre espero

Momento que se foi pra nunca mais
Renasce em virulência inigualável,
No quanto muitas vezes maltratais
Agora com perfume mais amável.

Por vezes o meu verso segue fútil,
Falando do que tive e não retive.
Do todo que se fez agora inútil,
Ainda algum resquício sobrevive.

Lembrando desta foto na gaveta,
Saudade vai e volta qual cometa...


865

Saudade vai e volta qual cometa,
Comenta sem juízo o coração,
Retorna sobre nós a mesma seta
Que um dia veio em nossa direção.

Das águas que passadas inda movem
Moinhos persistentes e venais.
Os olhos inda agora se comovem
Ao verem maravilhas infernais.

A paz se distancia enquanto chega
O vento da saudade em ventania.
Por mais que além do cais, lembrança cega
Mantém este desmonte da alegria.

Mergulho novamente neste poço,
O amor que antes de tudo, foi só nosso...


866


O amor que antes de tudo, agora é nosso
Estende em suas mãos felicidade.
Além do que eu desejo e sei que posso,
Prefiro o canto leve, em liberdade.

Nos olhos de quem fora tão somente
Na minha vida um zero e nada mais,
Por mais que da saudade inda comente
Demonstra seus instintos mais boçais.

Ao ter em minhas mãos tanta fartura
Do amor que agora eu posso vislumbrar,
Por mais que uma imbecil já não se cura,
Eu bebo a tempestade devagar...

Saudade, na verdade a voz entoa,
Lembrando quando a vida foi tão boa...


867


Lembrando quando a vida foi tão boa,
Meus versos retornando à mocidade,
Do cheiro do café, cigarro e broa,
Eu tenho, aqui garanto, uma saudade.

Da pescaria à tarde com meu pai,
Da minha mãe na sala de jantar,
O tempo sem limites já se esvai,
Quem dera se eu pudesse retornar,

Beber a liberdade deste vento,
“ Os jogos de botões sobre a calçada”
Nos olhos tão somente este tormento,
De tudo o que pensara, restou nada.

A vida se findando trama a fuga,
Nos espelhos saudade se fez ruga...


868


Nos espelhos saudade se fez ruga
Reflexo do que fui e já perdi.
A força que restou, o tempo suga,
Restando-me lembrar do que vivi.

A vida engaiolou este menino,
Que um dia, libertário se perdeu.
Porejo uma esperança, ainda mino
Vontade de tocar o que foi meu.

Mas nada do que tenho... senão isto,
Uma ilusão no amor que agora nasce,
Teimosamente tento e não desisto,
Por mais que a vida às vezes tanto embace.

Eu sinto a solução, mergulho inteiro
Nos braços deste nobre jardineiro.

869



Amor vai transformando a minha vida
O rio que permite a um moinho
Além d’água que escorre em despedida
Uma energia feita de carinho.

Porém quando se encontra a rara pedra,
Ourives feito amor quer lapidar.
Na ausência o peito sofre, alma se medra
E quer mais uma vez recomeçar.

Viver os dias mansos novamente,
Felicidade em forma de emoção,
Contagiante sonho que acorrente
Os passos numa mesma direção.

Tu és; tenha a certeza, este motivo
Mantendo o sentimento sempre vivo...

870

Mantendo o sentimento sempre vivo
Loucuras muitas vezes necessárias
Trazendo o pensamento sempre altivo
Vencendo estas tristezas, adversárias...

Às turras com diversas emoções,
Eu tento desvendar tantos segredos,
O quanto se permite que as lições
Ajudem a mudar velhos enredos.

Amor quando se faz numa partilha
É força insuperável, tenho dito.
Não quero mais cair nesta armadilha
De um rosto inexpressivo, mas bonito.

Eu busco a mais perfeita companheira,
Estando do meu lado, a vida inteira...

871


Estando do meu lado, a vida inteira,
Não há o que temer, eu te garanto.
Vencer uma tristeza corriqueira
Calar com alegria qualquer pranto

Mostrar quanta esperança sobrevive
Depois da mais temida tempestade.
Colher experiências de onde estive
Cevar a fortaleza da amizade.

Criar e respeitar diverso espaço
Saber quanto é possível ser feliz
Sem ter a força estúpida do laço,
No amor a escravidão se contradiz.

Assim, no amor que faz seu jubileu
Felicidade enfim se conheceu...


872


Felicidade enfim se conheceu
Depois de termos tido nosso inverno,
A luz negando a treva cala o breu,
Amor agora manso se faz terno.

Eu peço-te perdão pelos meus erros,
Enganos cometidos no passado.
Não quero mais saber destes desterros,
O dia se anuncia iluminado.

Saber pedir perdão e prosseguir
Às vezes é difícil, eu reconheço,
Porém se a solidão se faz sentir,
Refaço-me depois deste tropeço.

Convido-te, querida, para a festa
Bonança que se dá; pós a tempesta...

873



Bonança que se dá; pós a tempesta...
Trazendo um louco incêndio em nossa cama,
O quanto eu te desejo amor atesta
E para a festa insana já nos chama.

Carícias e carinhos que trocamos,
Cumplicidade eterna que estremece
As estruturas todas; balançamos
Envolvimento em luz, amor já tece.

Amortecendo assim, os desenganos,
Mudando a direção dos velhos ventos.
Nos olhos que rebrilham, novos planos,
Tomando com vigor os sentimentos.

As nossas mãos unidas sempre em prol
Do amor, um deslumbrante e raro sol...

874




Do amor, um deslumbrante e raro sol,
Recebo cada raio com louvor,
Num frêmito que invade este arrebol
Eu vejo um novo dia a se compor.

O tempo que tivera em solidão
Servindo como ponto de partida
Permite que se entenda por lição
Mudando a direção de nossa vida.

Serpente adormecida, porém viva,
Tristeza preparando um novo bote,
Mantendo esta cabeça sempre altiva,
Fazendo da alegria nosso mote

Eu sinto que possamos caminhar
Mesmo que em passo lento, devagar...

875

Mesmo que em passo lento, devagar
O peito sempre erguido, eu vou em frente,
Não temo a virulência a se mostrar
No bote venenoso da serpente.

Eu tenho na verdade uma noção
Do quanto é necessário ter cuidado.
Quem busca no amor satisfação
Às vezes, quase sempre é maltratado.

Fazer no nosso amor, experiência
Uma armadilha, eu sei, já se prepara.
Quem reconhece e disso tem ciência
Cuidando de um amor qual jóia rara

Encontrará em paz, perenidade,
Vivenciando a luz da liberdade...

876


Vivenciando a luz da liberdade
Eu sinto a brisa mansa e tão certeira
Que traz por sensação, felicidade
E espalha-se divina e tão certeira.

Do mar que em calmaria já nos banha,
Nas ondas este eterno vai e vem.
O amor que nos tempera, o vento assanha;
Poder ilimitado eu sei que tem.

Cobrindo nossos corpos, roça a pele,
Convite que se faz à maravilha
Do sonho que se entranha e nos compele
À mais sublime senda, flórea trilha.

Assim, enamorados sentimentos
Entregues às delícias destes ventos...


877




Entregues às delícias destes ventos
Que trazem tua voz bem junto a mim.
A paz que se permite em sentimentos
Estampa o que mais quero até o fim.

No aroma que se emana do teu ser,
No frêmito indomável da alegria,
Eu quero e necessito me embeber
Da glória que este amor tanto irradia.

A direção que tanto eu persegui,
O rumo procurado há tantos anos.
Eu reconheço agora, encontro em ti,
Calando eternamente os meus enganos.

Meus dedos no teu corpo deslizando,
Um dia mais em perfeição se deslindando...

878

Um dia mais em perfeição se deslindando
Moldando este cenário inebriante,
Pergunto sem respostas desde quando
O amor se desenhou. Em qual instante?

Questionamento estúpido; tu dizes,
Concordo, mas queria descobrir
Se somos com certeza; tão felizes,
Eu quero saber onde, e se devo ir

Um ébrio que caminha em noite insana,
Insone mal contém-se de alegria
Da sorte de sonhar, ele se ufana
Não quer que raia nunca um novo dia

Temendo que este sonho se esvaeça
Nas estrelas, decerto, ele tropeça...

879


Nas estrelas, decerto, ele tropeça
Amor qual andarilho em noite imensa.
Por mais que seu caminho não se impeça
A vida às vezes segue audaz e tensa.

Descrente do poder que sempre tem,
O amor em liberdade, alçando o céu,
Procura tão somente por alguém
Que venha em galopante carrossel,

Girando se entontece e quase cai,
A sede não se mata simplesmente,
Amor quer redenção, o seu Sinai,
Mas louca convulsão já se pressente

Fazendo deste sonho, um pesadelo,
Nos braços da paixão, firme novelo...



880




Nos braços da paixão, firme novelo
Convido à contradança a moça bela,
O vento que se entranha, posso vê-lo
Tocando a tua pele e me revela

Um gosto de infindável maravilha,
Selando o nosso sonho, leva ao céu,
Um pássaro liberto dessa anilha
Levado em fantasia segue ao léu.

Mas tendo a tua mão que me conduz,
Eu posso perceber com liberdade
A noite que se faz em plena luz
Estrelas que derramam claridade.

Assim, no amor, a sorte que se alcança
Permite imaculada, a nossa andança...



881


Permite imaculada, a nossa andança
A luz que me transtorna e me domina,
O quanto em plena noite amor avança
E bebe extasiado desta mina

Emana mil desejos, incontidos,
Nos beijos tanto alento a vida traz,
Tocando em manso vento os meus sentidos,
A vida se fazendo em plena paz.

Seguindo passo a passo, este caminho
Que é feito em doce mel, e liberdade,
Durante a tempestade eu já me aninho
Contigo encontro enfim, a saciedade.

E disso faço o mote predileto,
No gozo que se dá eu me completo....


882

No gozo que se dá eu me completo
E bebo até fartar-me, esta aguardente.
À vida neste instante em tom dileto
Mergulho sem limites, totalmente.

Olhando para trás é que se sabe
O quanto que eu errei, quantas mentiras.
Além do que decerto inda me cabe
Às vezes cruelmente tu atiras

Verdades que maltratam. Tal tolice
Provoca num momento, uma implosão
Eu sei que insanamente eu já desdisse
Causando em mal estar, revolução.

Porém numa presença assaz querida,
Amor vai transformando a minha vida.



883


Permite que eu mantenha o peito aberto,
Vontade de te ter; junto comigo,
E tendo o teu prazer aqui bem perto,
Desperto e encontro tudo o que persigo.

Deslizo em tua pele com meus dedos,
Adentro por teus mares e horizonte,
Ao desvendar, assim, os teus segredos,
Percebo e já desfruto em cada fonte

Do gozo magistral, porto divino
Ancoradouro em chamas se umedece
Enquanto ao mesmo tempo eu me alucino,
Eu tenho o que mais quero e me apetece.

Do amor feito em loucura, insânia e paz,
Volúpia que me traga e satisfaz...

884

Volúpia que me traga e satisfaz
Paixão inesgotável que me toma,
Deixando o sofrimento para trás
Em nós se perpetua a clara soma

Que faz que a vida sempre valha a pena,
Tornando este caminho mais suave.
Amor jamais se mede, esquece a trena
Liberto pelos ares, qual rara ave

Encontra em cordilheiras o seu ninho,
Muito além do horizonte vislumbrado
Tocado fartamente por carinho,
Soltando em voz intensa um claro brado,

Na plena magnitude do condor
Pairando sobre nós o bem do amor...


885



Pairando sobre nós o bem do amor
Convida para a festa que virá
Trazendo em seu poder transformador
O dia que sublime nascerá.

Teus olhos me guiando, farto encanto,
Ternura benfazeja de um farol,
Do imenso sol, um simples helianto
Entrega-se à beleza do arrebol.

Seguindo os claros raios matinais
Eu sei que não irei mais me iludir,
Magníficos caminhos magistrais
Encontrei somente por seguir

Os rastros que tu deixas nesta estrada,
Raros brilhos em forma de pegada...


886


Raros brilhos em forma de pegada
Fazendo com que eu chegue ao paraíso.
Em fantasia adentro a madrugada
Perdendo-me no toque mais preciso.

Nos teus braços encontro-me com Deus,
Tua fragilidade me entontece
Eu quero tão somente os sonhos teus,
Delírios que se fazem luz e prece.

Tuas palavras tolas, riso franco.
Te quero toda minha, em corpo e em alma,
Bebendo do luar, argênteo e branco
Claridade que, terna, sempre acalma.

Não que me perder jamais de ti,
As bênçãos que eu procuro, encontro aqui...

887

As bênçãos que eu procuro, encontro aqui
Depois de tanta andança pela vida,
Areias tão distantes, mares vi,
A lua dos meus sonhos, já perdida

Estende em seus tapetes, a saudade.
Vagando em versos tantos, vim,
Buscando no jardim, felicidade
Guardando a rosa mansa dentro em mim.

Vestida de cetim, eu sou teu rei
Por tantas aventuras que tivemos,
Descanso o caminhar onde encontrei
O mar em barcos leves, fortes remos.

Eu quero ser teu par por onde eu for,
Meu verso predileto, o nosso amor...

888


Meu verso predileto, o nosso amor
Bem distante da guerra, eternas tréguas
Navego o mar constante em esplendor
Por milhas, anos luzes, vastas léguas.

E sei que terei sempre o manso cais
Aonde o coração já sabe e diz
Do quanto amor ao ser assim demais
Num brado, grita ao mundo: sou feliz!

Em nossa parceria a solução,
Rompendo as tais algemas do passado,
Ao fundo ouvindo a voz: libertação,
O sonho sempre bom de ser sonhado.

Quando eu te conheci estava certo;
Portal do paraíso, em paz, aberto...


889


Portal do paraíso, em paz, aberto,
Delícias em banquetes bem servidos.
Depois de tanto tempo em rumo incerto;
Prazeres e desejos divididos.

Ouvindo a tua voz, tua presença
Tomando a minha vida em plenitude,
Não quero e nem procuro desavença
Que o vento do passado se transmude

E mostre em calmaria e tempestade
Bonança após a forte ventania,
Bebendo enfim total felicidade,
Eu vejo tão somente a poesia

Que emanas em teus olhos, tua tez,
Na insânia que se dá em lucidez...

890



Na insânia que se dá em lucidez
Tomando esta aguardente inebriante,
Do quanto em nosso amor, a luz se fez
Estampa delicada e fascinante.

Desejo num prazer manifestado
Amor que se faz grão, semente e luz,
Em paz e maravilha germinado
Num círculo infindável reproduz.

Do amor que gera amor e se alimenta
Do sonho, da alegria, e liberdade
A cada novo dia mais aumenta
E nele mesmo, amor, amor invade.

Assim perpetuamos fantasia,
O sentimento brota e se recria...

891

O sentimento brota e se recria
No eterno carrossel feito esperança,
Girando numa eterna alegoria,
Ressuscitando enquanto a vida avança.

Semeadura em solo mais fecundo,
Nas mãos de um lavrador que assim se entrega,
Do quanto de desejos eu me inundo,
A terra já responde em mansa entrega.

Amor assim não morre, sobrevive
À dura caminhada pela vida,
Aonde eu procurei, por onde estive
Resposta a tanto tempo percebida.

Mosaicos entranhados, vida afora.
Bonança em tempestade revigora...

892


Bonança em tempestade revigora
O fato consumado; assim te quero
Sem tempo sem destino e sem ter hora
E nele me renovo e regenero.

Espero sempre o tempo de voltar,
Traçando o meu caminho junto ao teu,
Deitando sob os raios do luar
Esqueço que carrego eterno breu.

Porteira arrebentada sigo em frente
Acendo uma fogueira pela estrada
Por mais que a gente pense e sempre tente
Não deixo que se perca quase nada.

Seguindo nosso amor, raro colosso,
A vida segue em paz, sem alvoroço...

893


A vida segue em paz, sem alvoroço
Banquete que se faz a cada dia,
Amor é meu café, jantar e almoço
Remoço-me nas mãos da poesia.

E crio em fantasia o mais perfeito
Caminho aonde eu possa me entranhar
Abrindo o coração exponho o peito
E bebo cada gota do luar.

Argúcia em que se mostra a moça bela
Revela o quanto amor se faz moleque
No leque de prazeres, quero tê-la
Por mais que com loucura assim se peque.

Explicações; não tenho e nem pergunto,
Contigo a vida inteira, ficar junto...

894

Contigo a vida inteira, ficar junto,
É disso que eu preciso e te asseguro,
Não tenho em minha vida, novo assunto,
Vivendo o nosso amor, sincero e puro.

Escuros que deixei há tanto tempo
Decerto descaminhos conhecidos.
Dispenso com franqueza o contratempo,
Em paz os meus algozes convertidos.

Extremas ilusão tanto maltratam
Enquanto a realidade é sempre crua.
Porém os sentimentos se resgatam
E a vida, sem remédios, continua.

Não quero em nosso amor mais ingerências
Já basta de torturas, penitências...

895


Já basta de torturas, penitências,
A vida não se faz em tempestades
O quanto foram duras coincidências
As horas sem amor, tranqüilidade.

Eu tento e mal disfarço, ser feliz
E nada neste mundo impedirá
Que eu tenha tudo aquilo que eu bem quis,
Desejo a vida inteira, desde já...

Afãs, labutas, lidas corriqueiras
Jamais me impedirão de prosseguir
Estendo nos meus versos as bandeiras
E nelas meu prazer a repartir.

Partir de mãos vazias? Não pretendo.
Fogueiras de emoções, desejo e acendo.

896


Fogueiras de emoções, desejo e acendo
Um velho trovador tem seus macetes,
Meus erros; reconheço e os revendo
Eu rasgo a fantasia, e os meus coletes

Confetes espalhados na avenida
Resíduos da ilusão de um carnaval
A sorte muitas vezes distraída,
Entorna a fantasia no bornal.

No aval da vida em lágrimas eu traço
O meu futuro, agora com firmeza.
Seguindo a poesia passo a passo,
De todo o sentimento eu ponho a mesa.

Amor que se mostrando descoberto,
Permite que eu mantenha o peito aberto.



897




Aguando em emoções o meu canteiro
Percebo o raro sol que já me toma,
Além do brilho manso e corriqueiro,
A claridade exposta não se doma

Tomando conta agora do jardim,
Trazendo em claridade amor e dor,
Além do que eu pensara traz pra mim
Reflexos de alegria e dissabor.

Outrora em meus veleiros naufragados
A negritude em pleno dia claro;
Meus olhos em tristezas alagados
Deixando-me somente o desamparo.

Porém ao ver o sol tão deslumbrante,
Saudade dos teus olhos... num instante...


898

Saudade dos teus olhos... num instante;
Meu rumo se perdendo em luz imensa.
Por mais que eu te procure, até me encante,
Não tenho mais sequer a recompensa.

Pensando o quanto a vida já me deu
Eu vejo que inda posso ser feliz,
Porém meu barco outrora se perdeu
Deixando tão somente a cicatriz

Que trago tatuada em minha pele,
Marcada a ferro e fogo e sem perdão,
Destino em outros olhos que se sele,
Mas nada vai calar meu coração.

Arcando com tais dívidas, passado,
Caminhando comigo, lado a lado...


899

Caminhando comigo, lado a lado,
Aladas esperanças vêm à tona,
Atadas minhas mãos em outro prado,
Calado; o sentimento inda ressona.

Abandonado, eu tento um novo curso,
De tudo o que já tive; nada resta.
Mudando novamente o meu percurso
Adentro a ventania que se empresta

À sorte de quem fora e não voltou,
Partícipe de um duro pesadelo.
Saudade em minha pele se entranhou,
Deixando ao coração, o frio e o gelo.

Dos elos que se quebram, liberdade?
Apenas tão somente esta saudade...


900


Apenas tão somente esta saudade
Vagalumeia sempre junto a mim,
Por mais que na janela exista a grade,
E inda resista até que chegue o fim,

Não posso mais lutar contra a verdade,
Resquícios que carrego de onde eu vim
Impedem toda a paz, tranqüilidade
Não deixam sobrar quase nada, enfim.

As nuvens de falena neste lume
Retornam toda noite no meu quarto,
Da cena repetida, embora farto,

Ainda me embebendo o teu perfume
Crocitando estes corvos ancestrais
Ao mesmo instante dizem: nunca mais!

901

Ao mesmo instante dizem: nunca mais
As vozes do passado que me atentam,
O quanto foi difícil ver o cais!
Miragens, olhos tristes sempre inventam

Tentando reviver o que passou.
Refaço o meu caminho e nada vejo,
Nem mesmo ainda sinto quem eu sou
Escravo da vontade, do desejo,

As noites são insones, na penumbra
Apenas teu retrato vai e vem.
Alguma luz decerto se vislumbra.
Levanto esperançoso. Nada tem

Senão esta saudade feita em chaga.
A solidão que amarga, atroz, me afaga...

902




A solidão que amarga, atroz, me afaga
Enquanto olhar opaco lacrimeja
Lembrança do que fomos; mesmo vaga,
No peito abandonado inda troveja.

Um tempo que perdido, nada trouxe
Senão este vazio que carrego.
Um dia mais suave, calmo e doce,
Redunda no meu passo frio e cego.

Noctâmbulo, procuro os teus carinhos
E bebo em falsos guizos, a alegria
Saudade se entornando em copos, vinhos
Ao mesmo tempo dói e me inebria.

Perdidas ilusões... Ermas estradas,
As horas não serão recuperadas...



903



As horas não serão recuperadas,
A vida que se foi não se repete,
Vagando em solidão por madrugadas
Saudade faz do amor simples joguete.

Decerto que jamais eu merecia
Destino, duro algoz, sempre cruel,
Quem sabe... Na verdade a fantasia
Expressa-se em amargo, eterno fel.

No véu das nuvens vejo o teu reflexo,
Insano; eu bebo o riso que perdi,
O meu caminho segue sem ter nexo,
Eu nada sou, distante assim de ti.

O risco de viver, a dor fomenta,
A noite vai sombria e violenta...

904


A noite vai sombria e violenta,
Expondo o coração à tempestade,
Olhar angustiado ainda tenta
Buscar em plena treva, a claridade.

Sarcástico luar já se escondeu,
Felicidade? Apenas qual miragem,
Em falso testemunho me escolheu
Irônica e terrível fria pajem.

As páginas viradas? Quem me dera!
Talvez inda pudesse ser feliz.
Não tendo mais sementes, primavera
Não deixa nem ao menos cicatriz.

De todos os meus sonhos, nada resta
A vida, sem ninguém, segue funesta...

905


A vida, sem ninguém, segue funesta;
Melancolia em noite solitária.
Apenas o vazio ainda atesta
Minha ilusão que sei desnecessária.

Teria ainda um resto de esperança
Rondando a minha casa se eu tivesse
Ao menos, do passado uma lembrança.
Quem vive sem ninguém sempre padece...

Sem nada que me lembre uma partilha,
O coração sozinho e vagabundo
Entranha na esperança. Amarga trilha
Na qual, pobre iludido, eu me aprofundo.

Revendo desde agora o que vivi,
Deságua nesta ausência, amor, de ti...

906



Deságua nesta ausência, amor, de ti;
Um mar em esperanças navegado,
Do todo que buscara; agora eu vi
Um dia em claridade anunciado.

Teus olhos radiantes já me guiam
Levando por estradas promissoras,
Momentos prazerosos quês e criam
Palavras benfazejas, redentoras.

Vontade de querer e estar contigo,
Razão que agora eu vejo para a vida.
O quanto que eu te desejo e já consigo
Saber da fantasia amanhecida

Nos braços carinhosos deste alguém,
Felicidade, eu sinto e quero, vem...

907


Felicidade, eu sinto e quero, vem
Qual luz que se reflete em teu olhar.
Na noite anunciada do meu bem
Amor em plenitude traz luar.

Ao perceber subindo pela escada
Tua presença em lume iridescente
Minha alma desabrida, enamorada
Transborda em fogaréus completamente.

Sentindo que aproximas, peito aberto,
O teu perfume adentrando na casa,
Dos sonhos, num momento, estou desperto
Entregue à maravilha feita em brasa.

Expondo na nudez, um paraíso,
A vida me apascenta num sorriso...


908


A vida me apascenta num sorriso,
Expressão mais perfeita pro que eu sinto.
O quanto que te quero; sempre friso,
Saída que encontrei do labirinto

Aonde tantas vezes me vi só,
Buscando uma princesa no final.
Por vezes o destino dando um nó
Cegara em falsa luz negando astral.

Eu quero o teu gostar e nele tramo
A senda perfumada e sem espinhos.
Teu nome tantas vezes eu reclamo
Entregue aos teus desejos, teus carinhos.

Qual Ariadne fora pra Teseu,
A luz que me redime, oculta o breu...




909



A luz que me redime, oculta o breu
E traz a mais perfeita sensação
Na qual o meu caminho se perdeu
Movido pela imensa sedução

Hipnotizado eu sigo e cedo alcanço
O gozo em fantasias, desejado.
A vida prosseguindo sem ter ranço
Das mágoas que eu trouxera do passado.

Sabores se confundem, mel e sal,
O teu suor entranha em minha pele
Na lânguida presença sensual,
A forma mais sublime se revele

Meu sonho te tocando mais voraz,
Expressa o meu desejo sempre audaz..

910


Expressa o meu desejo sempre audaz
A doce insanidade que nos toma,
O quanto a vida necessita a paz
Rompendo em sedução velha redoma.

Palavras e sentidos já se expondo
Em versos, em cantiga, madrigais,
O tempo de sonhar se recompondo
Querendo novamente e muito mais.

Um velho jardineiro se permite
Fazer do sonho adubo mais constante
Alçando este infinito e sem limite
Encontra o que deseja ao mesmo instante

Em que eu vislumbro amor mais verdadeiro
Aguando em emoções o meu canteiro.

911

A seca do passado, enfim, deserto
Ouvindo uma alegria em temporal,
Dos meus grilhões, agora eu me liberto
Na imensa fortaleza sem igual

Formada pelo encanto de teus olhos,
Deixando a solidão, adentro os sonhos,
Arranco dos caminhos tais abrolhos
Prevejo novos dias mais risonhos,

Sem ais e sem tormentas que me impeçam
De ter uma esperança, mesmo breve,
Os cantos mais sublimes recomeçam,
Felicidade chega e se atreve

Neste arco-íris tão raro de se ver
A fonte luminosa do prazer.


912


A fonte luminosa do prazer
Estampada nos olhos de quem amo,
Permite num momento perceber
A vida sem senzala, escravo ou amo.

Cativas com sublime liberdade
Expressa na completa fantasia,
Em espirais encontro na verdade
O quanto farto amor desejaria.

Sentir completamente esta presença
Que muda, num segundo, a minha rota,
O coração liberto sempre pensa
Na luz que dos teus olhos vem e brota.

Segredo desvendado, aberta a porta,
O sentimento em ti, feliz aporta...



913



O sentimento em ti, feliz aporta.
Durante a vida inteira eu procurei,
Minha esperança estando quase morta
Encanto nos teus braços; vislumbrei,

Estando do teu lado, sigo em frente
Não temo mais sequer os temporais,
Felicidade em glória se pressente
Tramando após naufrágio um manso cais.

Acasos tantas vezes acontecem
E neles eu percebo esta alquimia
Das mãos e dos desejos que obedecem
Aos sonhos que trazemos, fantasia.

Completos, dois parceiros em dueto,
Ao farto amanhecer eu me arremeto...


914

Ao farto amanhecer eu me arremeto!
Irmão da tempestade, sem alento,
Das dores, o parceiro predileto,
Vivendo a cada dia um vão tormento.

A vida preparando em despedida
Da fria cimitarra o fundo corte,
A sombra da esperança esvaecida
Negando ao fim de tudo rota e norte.

Vivendo sem razão e sem porquês
A dura solidão já me entranhou.
Eu quero que me entendas, mas não crês
No quanto o coração; amor criou.

Na leda fantasia eu posso ver,
O sonho, pouco a pouco se perder.

915



O sonho, pouco a pouco se perder!
Na busca quase insana por alguém
Que possa demonstrar quanto querer
Nos sonhos de quem ama, sempre vem.

Porém ao receber da imensa dor,
O abraço em ironias tão venais
A vida se entregando num sol-pôr
Esboça seus reflexos abissais.

De toda fantasia que se anseia
Nem mesmo algum retalho inda sobrou.
A sorte se perdendo em fria teia
Demonstra, na verdade, quem eu sou.

Um ser que se entranhou em descaminhos,
Avinagrando, enfim, suaves vinhos...


916

Avinagrando, enfim, suaves vinhos
Desesperança chega e num momento,
Por falta de emoções, ledos carinhos
Permite um maremoto violento

Causando esta total devastação
Secando os meus canteiros, vou desértico.
As nuvens retornando, um furacão,
Cataclismo que traz fim apoplético.

Estrelas se perdendo, turbilhões,
Restando tão somente este vazio,
O vento prometido nos tufões
Imensos pesadelos hoje eu crio

Desfilo minha angústia pelos ares,
Adentro em fantasia, os lupanares...

917


Adentro em fantasia, os lupanares,
Sedento de prazeres e de gozos,
No amor ensandecido, os meus altares
Delícias em delitos caprichosos.

Acendes tal vontade e com fartura
Entregas teus desejos para mim.
Depois de tanto tempo em vã procura,
Voluptuosamente agora eu vim

Beber deste teu rio em cachoeira,
Descendo mansamente até a foz.
Paixão que se promete derradeira
Estende ao infinito a louca voz.

Clamando por teu corpo, insanamente,
Mergulho nos teus braços, de repente...


918



Mergulho nos teus braços, de repente,
Um sol em plenitude feito amor,
Amanhecer deveras claro e quente
Expressa um paraíso encantador.

Ardências em desejos e loucuras,
Fazendo da esperança o nosso mote,
Ausente das estúpidas agruras
Felicidade agora dá seu bote.

Tocado pela força da esperança
Adentro o mar em glórias concebido.
Recebo o teu afeto qual bonança
Nas tramas deste amor, vou embebido.

Assim, vivenciando imensa glória
Eu sinto em nosso sonho, esta vitória...

919


Eu sinto em nosso sonho, esta vitória
Que um dia prometida, agora veio.
Entregue a tais momentos nossa história
É feita em alegria, sem receio.

O tempo de viver já não se atrasa,
Adentro este infinito dentro em ti.
Do corpo de quem amo, a minha casa
Em total liberdade, eu converti.

A par do que se passa em nossa vida,
Eu sigo sempre em frente e não descanso.
E tendo em pleno amor, minha guarida,
Felicidade extrema; agora alcanço.

Eu sei do quanto eu pude do universo
Saber a cada frase, em cada verso...

920


Saber a cada frase, em cada verso
Os erros cometidos perdoar,
Sentindo que se dá em mar diverso
Às vezes nos proíbe navegar.

Por isso é que te peço assim querida,
Que possas meus enganos esquecer.
Quem redime em carinhos minha vida
Estampa em glória plena o meu prazer.

Nos olhos da pantera, solidão,
Eu vejo refletidos os pecados
Que um dia não serviram de lição
E foram, na verdade revelados.

Mas tendo o sentimento raro e nobre,
Perdão com sua teia, amor recobre.


921



Perdão com sua teia, amor recobre
Moldando em bela tela uma obra prima,
Um erro que depressa se descobre
Não pode destruir a farta estima.

Primando por estar sempre contigo,
Eu tive, na verdade este tropeço.
Por isso, essa alegria que persigo,
Pergunto – meu amor eu não mereço?

Escute a voz que vem do coração
E deixe-se levar em um momento.
A força inquestionável do perdão
Aplaca em calmaria algum tormento.

Se necessário, mesmo de joelhos,
Os olhos pranteados, já vermelhos...

922



Os olhos pranteados, já vermelhos
Demonstram todo amor que nos envolve
Seguindo do desejo os seus conselhos,
Poeira do que fomos não revolve.

Mirando firmemente no horizonte
Deixando o que vivemos para trás,
Do amor que agora bebo; mansa fonte,
Uma esperança viva já se traz.

Algozes sofrimentos que tivemos,
Estúpidas mentiras que enfrentamos,
Nas mãos das ilusões decerto lemos,
O quanto que em prazeres nós tramamos.

Assim enamorados mais fiéis,
Sabemos da alegria, os fartos méis...


923



Sabemos da alegria, os fartos méis
Que tanto procuramos vida afora
Por isso galopando estes corcéis
Penetro em esperança desde agora.

Teu corpo, um delicado ancoradouro
Permite que se pense eternidade,
No amor que se faz lume duradouro
Encontro a mais sublime claridade.

Deitando nos teus braços, cachoeiras,
Cascatas, corredeiras da emoção.
Desfraldo num momento estas bandeiras
No teu corpo encontrei atracação.

Mensagens recebidas traduzindo
Um canto que se dá, maior e lindo...


924


Um canto que se dá, maior e lindo
Transforma em primavera, antigo inverno.
Tristeza em solidão vai se esvaindo
O vento benfazejo se faz terno.

Sentindo que inda posso ser feliz,
Estampo no meu rosto este sorriso.
Um velho que se torna um aprendiz,
Fazendo do seu passo o mais preciso.

Assim, sem temer mais os vendavais,
Espelho novamente a juventude.
O quanto te desejo e quero mais,
Mudando em pouco tempo de atitude

Com o meu peito agora a descoberto
A seca do passado, enfim, deserto.


925



E sinto a chuva mansa e promissora
Tocando minha pele quando cantas,
Vivendo a maravilha desde agora
Promessas e carícias, sempre tantas.

Esquife das tristezas, nosso amor
Um tráfico sublime de emoções.
Porquanto tantas vezes sedutor
Explode sem quaisquer explicações

Percebo nestas lúdicas mensagens
Os mágicos caminhos percorridos,
Depois das mais estúpidas bobagens
Agora tenho os sonhos concebidos

Trazendo realidades tão brilhantes
Nas sendas mais longínquas e distantes.


926

Nas sendas mais longínquas e distantes
Amor percorre em sonho e não se cansa,
Uma alegria imensa já se alcança,
Trazendo uma emoção mesmo que instantes.

Amor perfila os cantos nas estantes
Que adornam belas almas de esperança.
Mitiga o sofrimento e faz criança
Àqueles que em luzeiros deslumbrantes

Adornam cada passo pelas sendas
Dourando com Amor as belas trilhas,
Levando o pensamento à calmaria.

Amor protagoniza santas lendas,
E molda em tantos olhos maravilhas,
É mote principal das poesias...


927

É mote principal das poesias
O amor, insaciável mandatário
Enquanto muitas vezes fantasias
Realidade muda itinerário.

Mas saiba que estarei sempre contigo
Havendo a tempestade que vier
O vento da esperança abre o postigo
E amor faz a festança que quiser.

Mulher que, redimindo, traz a cura
Livrando a minha vida deste tédio.
Nos olhos com doçura e com brandura,
Expressa com certeza toda a cura.

Antes de perceber este caminho,
Querida, tantas vezes fui sozinho.


928


Querida, tantas vezes fui sozinho
Meu canto parecia tumular.
Depois de tanto tempo caminhar
Por entre pedras, urzes, duro espinho,

Ao ter a plenitude de um carinho
De quem desejo tanto, fui achar
O rumo que eu cansei de procurar,
Deitando do teu lado, de mansinho

E na cumplicidade deste amor,
Que mostra sem censuras ou pudor
Uma realidade nua e crua,

De termos mil vontades e desejos,
Que mesmo em sonhos, doces nossos beijos
Na fantasia intensa, amor flutua...

929




Na fantasia intensa, amor flutua
Num ato de divina insanidade,
Deitando sobre nós a clara lua
Permite vislumbrar felicidade.

Quem há de duvidar desta potência
Que estende tanto encanto em meu jardim.
Aroma em que se dá paz e clemência,
Exala tal fragrância sobre mim.

Assim sem duvidar da fortaleza
Que é feita com carinho e com ternura,
Espalha em meu canteiro esta beleza
Além do que se quer e se procura

Por isso, eu não me canso de falar,
De todas as maneiras hei de amar!


930



De todas as maneiras hei de amar,
Em gozo, fogo fátuo, loucamente,
Aos poucos bem mansinho devorar
Juntar teu corpo ao meu tão vorazmente.

Fazendo-te feliz, ao me dourar
Do sol em que irradias, mais ardente,
Na tesa sensação de te adentrar
Na fúria que se molda amor urgente.

Teus seios, pernas, boca, corpo imerso
Em louca fantasia, uma fornalha,
Cabendo dentro em ti meu universo

Que explode em alegria e gozo intenso,
Amor que não permite qualquer falha,
E nunca se perdeu, jamais disperso...


931

E nunca se perdeu, jamais disperso
Aquele a quem amor se deu inteiro.
Exprimo com ternura em cada verso
O sentimento livre e verdadeiro.

Rondando as minhas noites, sonho manso,
Fragrante maravilha que me entranha.
Nirvana desejado; agora alcanço
Lançando o meu olhar sobre a montanha

Encontro, no luar teu brilho intenso,
Espelho de minha alma, constelar
No quanto eu te desejo e sempre penso
Traduz completamente o bem de amar.

Além do entorpecente que vicia,
Amor é soberana fantasia.

932


Amor é soberana fantasia
Que molda a vida em doces emoções,
Refém das alegrias, das paixões,
Amor tão cedo enleva cada dia

No manto divinal da poesia,
Pressente novos rumos, direções
E sabe contornar os furacões,
Além do imenso mar, amor se guia

Por astros e fantásticas vertentes,
Supera as cordilheiras, vence os medos.
Quisera Amor além dos infinitos

Deixar enamorados mais contentes,
Ao delegar a todos os segredos
Moldando o nosso amor em vários ritos...


933


Moldando o nosso amor em vários ritos
Palavras já traduzem as vontades
Distante de ilusões, temíveis mitos
Aplaco nos teus braços, as saudades.

Amor com suas setas me atingindo,
Um alvo muito fácil, isso eu não nego,
No espelho de minha alma refletindo
Promessa em ventanias, de sossego.

Por vezes me pegando distraído
Amor se mostra audaz, noutras sereno.
Em calmaria acende uma libido
No gozo mais suave eu me enveneno.

Em meio a fartas trevas radiantes,
Perfaz Amor, caminhos intrigantes.


934


Perfaz, Amor, caminhos intrigantes,
Deixando a Sorte, assim quase que ao léu.
Moldando uma esperança em belo véu,
Seus passos são robustos e gigantes.

Embora tantas vezes mostrando, antes,
Os erros que o transformam, vil, cruel,
Amor é feito um barco de papel
Vencendo tempestades em rompantes.

Alvíssaras; proclama o deus Amor
A todos os que dele, seguidores.
Pertuitos e caminhos, percorridos

Nas sendas onde um simples trovador
Em versos deposita suas flores,
Louvando os tempos belos, sonhos idos...


935



Louvando os tempos belos, sonhos idos
Sentindo a suave brisa me chamando
Destinos e caminhos revolvidos,
Desejo tua sombra me inundando.

Ouvindo a tua voz que já reclama
Carinhos e prazeres; vejo o vulto
Que incide em minha vida, fogo e chama,
Na redenção sublime, qual um culto.

Presença mais constante, mesmo ausente
Soprando calmamente me inebria.
E quanto mais se quer, bem mais se sente
Realidade em plena fantasia.

Oculta sensação a me propor
Felicidade intensa, doce amor.

936

Felicidade intensa, doce amor
Melífera emoção em verso e riso,
Promessa de sabermos paraíso
No canto mais gostoso de compor.

A liberdade, quero, ao te propor
Um passo que jamais seja indeciso,
Num ato sem temores, mais conciso,
Tenacidade em passos, com vigor.

Assim, profícua sorte nos trará
A guia feita em bela concordância
Ao conceder a paz, felicidade.

Amor que encontro em ti libertará
Deixando para trás toda ganância
Em si denota a sacra eternidade...


937


Em si denota a sacra eternidade,
A tradução perfeita que se busca
Trazendo fantasia à realidade,
Um cais que em sossega a antiga busca.

Amor em harmonia, um bel concerto
Em lúdicas estâncias versos, som.
Ao pressupor caminho em paz, aberto,
Expressa a divindade em raro dom.

Gravada em nossa pele, tatuada
Em líricas palavras, sentimento.
Arando uma esperança em foice e enxada
Espalha sobre a terra o bom ungüento

Calando dentro em nós a redenção,
Bendita e benfazeja floração...

938

Bendita e benfazeja floração
Alvíssaras espalha sobre a Terra,
Alquímica esperança traz poção
Na qual a fantasia se descerra...

Do quão cerrada a minha vida
Em cofres esquecidos no meu peito,
Ao ter a minha sorte amanhecida
Encanto se redime, satisfeito.

Do jeito que vier, apenas venha,
Janelas de minha alma, agora abertas,
Da chama da ilusão, amor é lenha
As sendas mais sublimes descobertas,

A vida em esperança já se aflora,
E sinto a chuva mansa e promissora.


939



Prepara todo o solo e desde agora
Rastelo da esperança trama a ceva
A cena num instante se decora
Negando o que se fora eterna treva.

Brilhando no horizonte, imensa luz
Tomando todo o palco em emoção.
Os olhos de quem amo; reproduz
Cenário de real inspiração.

Inspiração perfeita para os versos,
Traduz felicidade, o teu olhar,
Os passos do andarilho, antes dispersos
Encontram por que sempre caminhar.

Seguindo este caminho em maravilha,
Amor é feito em sonho e quer partilha.


940


Amor é feito em sonho e quer partilha,
Da qual ao receber um forte enlace,
Em solidez jamais quer que se esgarce
A força que o tomando, maravilha.

Arando um bom jardim, roseira e tília
Amor não permitindo um só disfarce
Mostrando em alegria, a sua face,
Navega uma emoção, distantes milhas.

A par do sentimento que não cala,
Desnuda uma esperança em bela flor,
Na senda que se mostra pura e terna,

Adentra o pátio, a casa, quarto e sala,
E trama a boa sorte a se propor
Àquela que se faz amada, eterna...


941




Àquela que se faz amada, eterna;
Esplêndida alvorada em minha vida,
Eu canto o doce amor no qual se externa
A paz que o sonho traz, retribuída.

O quanto eu te desejo e não mereço!
Prazer em magnitude emoldurado
Às ordens e quereres obedeço
Querência de ficar sempre ao teu lado.

As ervas que, daninhas, sobrevenham
Não podem destruir nosso canteiro,
Venenos que talvez, elas contenham
Apenas valorizam jardineiro.

Fomento da alegria que se alcança
Amor, doce florada da esperança

942


Amor, doce florada da esperança
Aguado pelas lágrimas e risos.
Cevado por carinhos mais precisos,
Por sendas belas, ricas, amor trança.

E quando vai granando logo alcança
Os frutos que se mostram sem avisos,
Embora tantas vezes imprecisos,
No novo semear, toda a fiança.

Barco à deriva, riscos e tempestas,
Amor ao soçobrar, quando resiste,
Demonstra a solidez tão desejada.

Por mais que o casco tenha duras frestas,
Amor se verdadeiro, tanto insiste
Brotando mesmo em terra mal arada.

943

Amor que remedia também cura
E marca em cicatriz deixando leve
Aquele a quem amar tanto se atreve
No enleio feito em paz, viva ternura.

Amor que uma alma livra enquanto apura
E mostra-se divino até se breve,
Derrete o sofrimento feito em neve
Apascentando o céu, reflete alvura.

Amor sem ter enfado, em Fados muda
Capaz de renascer a cada dia.
Refestelando a vida em pura glória

Ao pobre solitário tanto ajuda
Que aos poucos, dominando contagia
Louvando em sorte plena, esta vitória...


944


Louvando em sorte plena, esta vitória
Molhando os teus cabelos, tua pele
Embora muitas vezes merencória
Que a força do destino assim nos sele.

Teu corpo umedecido por meus lábios
Suores e prazeres que trocamos,
Os dedos caminheiros sempre sábios
Percebem do arvoredo tantos ramos

Nesta alameda insana e delicada
Veredas de delícias; reconheço.
Ao sonhar com a festa anunciada
Amor em plenitude eu te confesso.

Só quero desde sempre e novamente
Beijar a tua boca docemente.

945


Beijar a tua boca docemente,
Deitando-te em meu colo, com carinho,
Beber da vida a glória feita em vinho,
No porto, ancoradouro em que se sente

A vida bem melhor e totalmente
Entregue à boa sorte no caminho,
Vencendo os empecilhos, de mansinho,
Poder estar contigo e ser contente.

Não temo as tempestades, pois bonança
Encontro nos teus braços, minha amada,
Em ondas que se entregam à alva areia.

Nos passos deste amor, toda a fiança
Com uma ternura imensa sempre é dada,
Numa ilusão divina, devaneia...


946

Numa ilusão divina, devaneia
O pensamento e encontra esta mulher
Maré feita esperança sempre cheia,
Expressa todo o bem que já se quer.

O rio vai descendo em cachoeiras,
Nas curvas e meandros toca as margens.
Descendo por teu corpo em corredeiras,
Bendigo, extasiado, tais viagens.

Neste desenho mágico, eu me embrenho
Invado tuas matas ciliares
Beleza ao meu dispor, não me contenho
Adentro o mais sublime dos altares

No quadro divinal a se compor,
Sobejas esperanças; traça amor.


947


Sobejas esperanças; traça amor
Carícias deste vento em nossa pele,
Prazer ao qual amor, cedo compele,
Em cada poro invade um bem maior,

Do qual, no qual me sinto um sonhador,
Sem medo de sofrer, que o tempo sele
O sentimento imenso e não congele
Tomando a vida em mágico calor.

Levando para ti perfume e cheiro,
Do amor que sendo raro e verdadeiro
Por si e tão somente em si, vigora.

Na brisa que, suave, acaricia,
O toque soberano da alegria,
Desejo que tu sintas desde agora.


948

Desejo que tu sintas desde agora
Suave paladar que já se impera
Na lei que nos domina vida afora:
Amor que nos amores amor gera.

Se é dando que eu recebo muito mais,
Nas cores deste sonho eu me matizo,
Dos gozos mais incríveis, triunfais
Multiplicado amor contabilizo.

Em progressão geométrica, infinitos
Prazeres nunca devem ser guardados
Corações solitários são aflitos
Ao sofrimento sempre malfadados.

Por isso, peito aberto em pleno vento,
Jamais eu negaria um sentimento



949

Jamais eu negaria um sentimento
Que é feito dia a dia em esperança,
Bem sei, foi pesadelo, a noite avança
E nela não te esqueço um só momento.

Ouvindo o desabafo qual lamento,
Não tenho nem resquícios na lembrança
De ter negado amor que sempre alcança
Poder de dominar meu pensamento.

Vencer quaisquer tempestas, eu prometo,
Estando junto a ti, morena bela,
Imensidão decerto se revela

Em cada novo dia que passamos,
Se algum erro, querida, enfim cometo,
Não vou negar jamais, o quanto amamos...


950


Não vou negar jamais, o quanto amamos
Estarmos bem juntinhos toda noite,
Calor que em madrugadas procuramos,
Já tendo quem nos guarde, nos acoite

Sabemos desfrutar e com carinho
Podemos nos dizer enamorados,
O amor veio chegando de mansinho
Mudando em alegrias, velhos fados.

Enfados? Não carrego, nem tristezas,
Na nossa refeição cotidiana
As honras vagam camas, deixam mesas.
Quem sabe, reconhece e não se engana.

Suprema sensação de intensa chama
Enleio feito em versos, amor trama.





951




Enleio feito em versos, amor trama,
Das sutilezas molda uma esperança
De ter ao descrever divina dança
A sorte que emoldura a quem tanto ama.

Amor quando refaz em cada rama
Um arvoredo enorme, sempre alcança
Aos céus aonde um gesto de fiança
Demonstra quanto amor, Amor reclama.

Vinhedos de raríssima beleza
Se, cuidados com zelo e com ternura,
Nas mãos de um lavrador, total carinho,

Darão, isto eu garanto, com certeza,
Colheita em perfeição promete pura
A produção de um belo e doce vinho...


952


A produção de um belo e doce vinho
É feita com volúpia e com prazer,
No colo da morena eu já me aninho
No jogo de se dar e receber.

A vida que se fora como um fardo
Agora se permite em festa plena.
Quem dera se eu pudesse ser um bardo
E traduzir em versos tela e cena.

Mas ouça este repente que ora eu faço
Clamando o meu amor ao mundo inteiro.
Deitando calmamente em cada abraço,
Traduzo o que pressente um jardineiro

Que sabe o que deseja e sem ter hora
Prepara todo o solo desde agora.


953

Terei felicidade aqui por perto
Fazendo do meu sonho realidade
Por mais que amor pareça ser incerto,
Decerto vem com força e com vontade.

Quem há de enfim negar o seu poder
Burlando as tais defesas, vai ao fundo.
Mudando todo o rumo, passo a crer
No quanto amor se faz um giramundo.

Corsário que invencível nos aborda,
Deixando o sentimento em turbulência.
Unidos pela frágil e bela corda
Ao mesmo tempo fúrias e clemência

Expressa-se num alto e doce brado
Um canto que se faz apaixonado.

954


Um canto que se faz apaixonado,
Sem medos ou rancores, só por ser,
Vivendo em fantasia o bem querer,
Andando, o tempo inteiro, lado a lado.

Depois de termos feito do passado,
Um velho que andrajoso a perecer
Vagara sem destino por prazer,
Querendo o que jamais lhe fora dado,

Percebo a juventude de nós dois,
Inteira primavera em bela flor,
Recebo o doce vento, que é veloz,

Na busca do durante e do depois,
Na eternidade plena deste amor,
Nascido em força intensa e vivo em nós...



955


Nascido em força intensa e vivo em nós
O claro e intenso fogo da paixão,
A vida se divide; antes e após.
Aposta em que faz revolução.

Na comoção que causa em nossa vida,
Numa ávida loucura que não cessa,
Confessa-se na força desabrida
Que a cada novo dia recomeça.

O corcel indomável que te espera
Deitada em minha cama, exposta e nua,
A pele bronzeada da pantera
A boca que se dá faminta e crua,

A fome insaciável que entornaste
Debaixo dos lençóis, me declaraste.


956

Debaixo dos lençóis, me declaraste
Amor que sem limites, nos tomou.
E quando suavemente, me tocaste
A vida em alegria se inundou.

Do teu amor, bem sei que não falaste,
O teu carinho imenso já falou,
Estrelas, nesta cama transbordaste,
O meu caminho todo, iluminou...

A linha que escreveste com teus lábios,
Jamais vai se apagar dentro de mim...
Desejos se procuram, são bem sábios..

Palavras... Não precisas nem dizer,
Pois tudo o que sonhei, trouxeste sim,
No idioma universal, tanto prazer...


957


No idioma universal, tanto prazer
De línguas mais audazes e felizes,
O quanto de loucura possa ter
Na trama em farta chama sem deslizes.

Nem sei mais quantas vezes, perco a conta,
Em múltiplos orgasmos repartidos,
A lua ao ver tal cena, fica tonta
Os medos e os temores são vencidos.

No orvalho matinal, se recomeça
O jogo em que me dou extasiado,
As roupas arrancadas peça a peça
Provoco e ao mesmo tempo provocado

Tempesta feita em raios, relampejos
Deságuo nos teus cios, meus desejos


958


Deságuo nos teus cios, meus desejos
De toda a plenitude feita em gozo,
Dos deuses que nós fomos, mar formoso
Intenso em loucos, doces, raros beijos.

Os dias que se passam, mais sobejos,
Sabor que encontro em ti, sempre gostoso,
Teu toque tão gentil e carinhoso,
Distante de temores, duros pejos.

Vencendo a solidão, triste marasmo,
Desfruto a maravilha de um orgasmo
Em senda assim florida e majestosa.

Delícias de saber, mulher divina,
Que a noite em fantasia te domina,
Em cada beijo meu, a deusa goza.


959


Em cada beijo meu, a deusa goza
Com farta provisão se refestela
Na entrega que se faz voluptuosa
A moça em transparência, mansa e bela.

Revela o que se mostra de soslaio,
Da esguia silhueta em lusco-fusco
De todo este desejo, eu sou lacaio,
A realização completa, eu busco.

E tendo o que pretendo não me canso,
Exploro cada entrada, fonte e mina.
Encontro em placidez, calmo remanso
E a paz em pleno amor se descortina.

Galopas meus prazeres, qual corcel
Amor que em plenilúnio ganha o céu

960

Amor que em plenilúnio ganha o céu
Vestido de cometas e de estrelas,
A sensação de em mãos, poder retê-las,
Aos poucos invadindo um bel dossel

Cortinas se entreabrindo descem véu
E como se pudesse percebê-las,
Amor se permitindo recebê-las
Desfila um sentimento em doce mel.

A lua escancarada na varanda,
Demonstra em claridade, amor perfeito,
Divina se entregando ao raro encanto,

Sorrindo ao deus Amor, tudo comanda,
E ao ver assim o mundo satisfeito,
Um deus supremo abriu seu alvo manto...



961

Um deus supremo abriu seu alvo manto
Permitindo o deslumbre desta cena,
E nela se desfralda todo o encanto,
Mostrando quanto a vida vale à pena.

Fagulhas que incendeiam nossas sanhas,
Estímulos diversos nos excitam
Enquanto em mil delírios tu me assanhas
Vontades não se calam e já gritam

Orgástica loucura prometida,
Resenhas entre senhas e sinais.
A fonte inesgotável rega a vida
Em águas cristalinas, sensuais.

Tramado entre cativas liberdades
Amor que é manso guia em tempestades.



962



Amor que é manso guia em tempestades,
Avança e não permite sobressalto,
Voando, o pensamento vai ao alto
E mostra bem distantes veleidades,

Amor cruzando os campos e cidades,
Não deixa em seu caminho um só ressalto,
Tomando o nosso peito, vem de assalto
E doura com ternuras e verdades,

Fazendo estas estradas gloriosas,
Florindo cada passo que se dá,
Na busca de um eterno sentimento.

Amor ao espalhar divinas rosas,
Percebendo q ue a paz florescerá
Invade, apascentando um vil tormento...


963



Invade, apascentando um vil tormento
Paixão que me inebria e me entontece,
O quanto revoltoso, o sentimento
Ao mesmo tempo nega e se oferece.

Redijo em cada verso, entôo em loas
Expresso o quão sedento estou agora,
O canto que te trago; sempre ecoas
E a sede se aplacando revigora

Exausto, adormecendo no teu colo,
Completo, pois repleto de prazer
Fecundo com ternura, a terra e o solo,
Depois, é só com calma recolher

Da vida que se dá sem penitência
Amor, uma divina providência.

964



Amor, uma divina providência
Em puros sentimentos verdadeiros,
Guiado por carinhos/timoneiros,
É feito dia a dia em convivência.

Amor jamais permite a penitência,
Trazendo no seu bojo doces cheiros,
Divinos, sensuais e feiticeiros,
Mostrando em perfeição total clemência.

Amor que em canto louva a bela fonte,
Imersa entre estes prados, esperanças.
Um oceano feito em água doce,

Abrindo de repente, no horizonte
Um sol que molda os brilhos onde alcanças
Além do que pensamos que amor fosse...


965

Além do que pensamos que amor fosse
Num átimo desvenda os meus segredos,
No canto que me encante e me remoce
O doce de viver afasta os medos.

Meus credos já deixados no passado,
Em meio às mais insanas inverdades.
Agora em placidez sigo ao teu lado
Rompendo da gaiola, velhas grades.

Amar e ser feliz, o que me resta.
E nada mais procuro em minha vida,
Da solidão amarga, faço a festa
Enquanto a morte dorme, distraída...

Lamentos esquecidos, relegados,
Os sofrimentos mortos, renegados...


966


Os sofrimentos mortos, renegados
Jamais impedirão que no futuro,
Os dias que virão; iluminados
Outorguem ao passado, o céu escuro.

Deparo-me com olhos radiantes
Após a noite em trevas que passei.
Bem mais do que sonhara por instantes
Amor se faz princípio, meta e lei.

Mortalhas esquecidas; não as vejo
Tampouco uma saudade bate à porta.
Neste horizonte feito em azulejo
A brisa tão suave já se aporta.

Regando em emoções, ledo deserto,
Terei felicidade aqui por perto


967


Quem veio de um caminho tão incerto
Depois destes tropeços já percebe
A sorte desejada, agora, perto,
Dourando em alegria a sua sebe.

Estive tantas vezes noutras rotas
Perdido sem saber onde encontrar
As soluções outrora tão remotas,
Tomando a minha vida, devagar.

Por mais que as ilusões e as esperanças
Deixassem suas marcas, o receio
Cravando em minha pele frias lanças
Negavam o caminho, rumo e veio.

Em ti encontro enfim, paz prometida
Nas andanças diversas desta vida



968

Nas andanças diversas desta vida,
Perdendo alguma vez outra ganhando,
Do amor que soberano desfrutando,
Encontro a sorte imensa, que esculpida

No corpo magistral da bela diva
Que em meio a meus castelos, imagino,
Aquele velho sonho de menino
Agora com presença mais cativa

No peito de um modesto trovador,
Aguando com carinhos o jardim
Que teima em resistir dentro de mim,
Trazendo para sempre a bela flor

Que mostra com detalhe a fortaleza
Do amor que emoldurou em ti, princesa...


969


Do amor que emoldurou em ti princesa
A tela mais sublime em gozo e glória,
O corpo se entregando em sobremesa,
Mudando o torpe rumo desta história.

Mergulho no teu colo, esta vontade
De ter o teu amor bem junto a mim,
Razão de poder ter felicidade,
Num sonho que não pode ter mais fim,

Tu tens este poder de seduzir
Deixando-me à feição que tu quiseres
Sem nada na verdade pra impedir
Este banquete é feito em mil talheres.

Adentro em perfeição novos caminhos
Pensando nos teus beijos e carinhos...


970




Pensando nos teus beijos e carinhos,
Teus seios, tua boca e teu suor,
Deitando em nossa cama, sedas, linhos,
Caminhos do teu corpo, eu sei de cor.

Encontro nos teus braços, belos ninhos,
De todos os meus sonhos, o melhor.
Bebendo em tua boca, aos tragos, vinhos
Volúpia se tornando bem maior.

Vivendo em cada noite, um paraíso,
Entrego-me aos teus beijos, teu sorriso..
Sentindo em tantas lavas a erupção

Que entorna em nossa cama, a brasa ardente,
Numa explosão completa, o peito sente,
O teu amor, querida, é redenção.


971



O teu amor, querida, é redenção
A quem durante a vida se perdeu.
Aflora no meu peito esta emoção,
Do amor que sei somente é teu e meu.

Rasgando em alegria o coração,
Pois todo este carinho me venceu,
Causando em alegria, comoção,
Dourando em rara prata, a treva e o breu.

Agora vou cativo deste sonho,
Promessa de outro dia mais risonho...
Que em plena tempestade me aflorou.

Outrora um passageiro sem destino,
Trazendo tão somente em desatino
Saudade de quem foi e não voltou.



972

Saudade de quem foi e não voltou
Deixando simples sombra no caminho.
De tudo o que eu pensei nada restou,
Somente esta saudade onde me aninho.

O canto deste sonho me chamou
De volta a percorrer velho caminho
Mudando a direção só encontrou
Invés da rosa bela, amargo espinho

Que leva, num instante à mesma cama
Aonde em toda noite ardia em chama
E agora já renega este himeneu.

Enquanto a vida passa em sofrimento,
Eu sinto como fosse um vão tormento
Saudade de teu corpo junto ao meu,



973


Saudade de teu corpo junto ao meu,
Rolando sem juízo e sem limites.
Depois que tu partiste, resta o breu,
Apenas a saudade a dar palpites

Refaço o brilho intenso, que era o teu,
E nisso tudo quero que acredites,
Do quanto que eu te quis, nada perdeu,
Por isso é que te peço: não me evites.


De tudo o que carrego nesta vida,
Tu és a parte nobre, mas sofrida.
Aquela que não posso repartir.

Das crises aprendendo pouco a pouco,
Cansado de gritar, qual fora um louco
Não quero mais falar; quero sentir



974

Não quero mais falar; quero sentir
Teu corpo em noite clara, maviosa.
No brilho de teus olhos, refletir
A lua que luzindo é fabulosa.

Somente o que me resta é te pedir
Que voltes para mim, bela e fogosa,
O gozo mais gostoso repetir
Na noite que se dá voluptuosa

Senão esta saudade a maltratar,
Pode, mais depressa, me matar,
Por isso é que sedento agora, após

Meu corpo desbravando cada mina
Que emana em nossa noite e determina
As marcas dos amores nos lençóis...

975




As marcas dos amores nos lençóis,
Ficaram, são guardadas com carinho.
Depois de tanto tempo, tantos sóis,
Espero que tu voltes de mansinho,

Brilhando com a força de faróis,
Voltando como um pássaro ao seu ninho,
Trazendo a claridade aos arrebóis
Em florescência rara este caminho

Portando em suas margens, liberdade
Matando, com certeza, esta saudade
Deixando a sensação de eterno abrigo.

Depois de caminhar o tempo inteiro,
Um andarilho feito prisioneiro
Eu quero te sentir junto comigo,



976


Eu quero te sentir junto comigo,
Colando nossas peles, num momento
Retorna; por favor, ao teu abrigo,
Não deixe que me invada este tormento,

Tudo o que mais quero, enfim, persigo,
É ter o teu amor, teu sentimento.
Trazendo à nossa vida puro trigo,
Apascentando sempre o forte vento.

Mas venha antes que a morte, de surpresa,
Me escolha, traiçoeira, como presa
E faça deste amor o seu troféu.

A sorte nos seus braços já me toma,
Vertigem que se dá em carrossel,
Amor desesperado que me doma



977



Amor desesperado que me doma,
Vontade de saber divino gosto
Da boca que faminta já me chama,
Beleza que conheço no teu rosto,

O teu perfume doce de jasmim,
O toque de teu corpo me inebria,
O beijo mais gostoso, prometido,
No amor que me domina e me vicia,

Expondo em cada verso uma loucura,
Trazendo para mim felicidade,
Eu quero te encontrar, e te dizer
Do amor que nos assola, de verdade...

Senão a noite trama em negação
Tristeza dominando o coração...

978




Tristeza dominando o coração,
Não deixa mais um resto de esperança,
Tomado pela dor da solidão,
Apenas a saudade inda me alcança.

Quem dera se tivesse outra emoção.
À noite esta tristeza em fria lança
Transborda qual venal infestação
Negando à sorte e glória uma fiança.

Destroça o que sobrou dentro de mim,
Aguardo tão somente um triste fim
Na mão que ensandecida agora crava

Punhais em aço e brasa, fogo intenso
Distante de quem amo e sempre penso
Saudade me queimando feito lava.

979


Saudade me queimando feito lava,
Ardendo assim me invade o coração,
Durante todo o tempo em que pensava
Na força deste amor, na tentação

Felicidade então, a sorte trava
Mudando em tempestade a direção
Qual fosse a fera imensa, firme e brava
Rasgando a minha pele mostra então

O tempo em que sozinho eu te buscara,
Estrela radiante bela e rara.
Dos sonhos, os mais claros, coloridos.

Agora que a saudade faz a festa
Apenas, com certeza inda me resta
Raivosa a noite imensa em seus bramidos.



980



Raivosa a noite imensa em seus bramidos,
Num momento cruel, assim me abala,
Dos sonhos e caminhos percorridos,
A dor vai aumentando em alta escala,

Meus dias vão perdendo os seus sentidos,
À dor que me invadiu, nada se iguala.
Os dias vãos aos poucos se esvaindo
O peito exposto à dor, já nada fala

Quem dera se eu pudesse – esperança.
Porém esta saudade é fina lança
Trespassa o coração, inflado, aberto.

Que posso então fazer senão sonhar,
Tristeza vem matando devagar
Quem veio de um caminho tão incerto

981



Já sabe valorar a redentora
Presença da amizade em nossa vida
Aquela que se dá sem ter nem hora
Não teme nem sequer a despedida.

Assim, ao te falar, querida, agora
Do quanto é necessária uma saída
O canto que se emana revigora
A paz que é tantas vezes distraída.

Lutando contras as forças oponentes
Enfrento as ventanias em torrentes
Mergulho neste sonho, e vou inteiro.

Tentando demonstrar em amizade
O quanto pode ter tranqüilidade,
Durante tanto tempo, amor guerreiro,


982


Durante tanto tempo, amor guerreiro,
Tomando o coração fez suas leis,
De todos os que eu tive, amor primeiro,
Levando a mais total insensatez.

Nas tramas deste sonho feiticeiro
Perdendo a mais completa lucidez
Ainda estou sentindo o doce cheiro
Daquela que se foi, e assim se fez

Meu último desejo, meu suspiro,
Saudade me cortando como um tiro.
Não deixa que eu respire calmamente

Ardendo sem sequer um lenitivo,
Agora eu me percebo qual cativo
Na chama da saudade, de repente.

983




Na chama da saudade, de repente,
Ardendo em mais cruel e quente fogo,
Meu coração se mostra renitente
E foge num momento deste jogo,


No qual não adianta qualquer rogo,
Nem mesmo uma palavra condizente
Assim tua lembrança, tão ardente,
Refaz o sofrimento e desde logo,


Marcando no meu peito tais feridas
Tatuam com imagens más, doridas
Matando o que se fora liberdade.

Na luta desigual, por toda a vida,
Desde o começo, a sorte já perdida...
Vencer esta saudade, quem há de?



984


Vencer esta saudade, quem há de?
Procuro pelos olhos, nada vejo,
Apenas refletindo a claridade,
Entregue plenamente a tal desejo,

Matando em teu retrato, esta saudade,
Mesmo que seja apenas relampejo
A mansidão aos poucos já me invade
Mudando em paz o rumo que eu almejo.

No vento da lembrança em mansa brisa,
A dor que me invadiu, já se ameniza
Transforma o meu destino por inteiro.

E agora caminhando lado a lado
Sou teu, amado, amante, enamorado
Cativo, teu senhor e prisioneiro.


985


Cativo, teu senhor e prisioneiro,
Vencido e vencedor da bela liça,
Bebendo o teu prazer sou teu inteiro,
No corpo sensual, santa cobiça,

Encontro no teu céu o meu tinteiro,
Vontade de te ter pra sempre atiça.
A vida que já fora tão mortiça
Esboça um canto alegre, alvissareiro.

E teu, somente teu, enquanto és minha,
Vassalo, sou teu rei, minha rainha
Estrela que se quer, o sonho alcança

Assim, sem fantasia ou adereço
Recebo muito além do que ofereço
Tomado pelo vento da esperança.


986

Tomado pelo vento da esperança
Bebendo amargo vinho da tristeza,
A voz de quem desejo já me alcança
Realça ao pôr do sol, sua beleza.

Quem sabe nosso amor, nossa aliança
Ainda venha à noite em sobremesa...
Trazendo para a vida a confiança
Que sempre nos ampara em fortaleza

Não fale mais, amor, na despedida.
Amor vai redimir a nossa vida!
Mudando num momento antiga cena.

Às vezes tão distante, outras, lendário
Introduzindo luz neste cenário;
Amor, mesmo que em versos vale a pena,


987

Amor, mesmo que em versos vale a pena,
Ascende a Deus em luzes sem igual.
Mudando em nossa vida toda cena,
Num gesto em que se mostra sensual,

Vontade de prazer amor acena,
Encantos que me dás, sensacional
Perfume que entontece e que envenena
Delícia deslumbrante, magistral

Meus sonhos te encontrando, amada em flor,
Traduzem novo dia, encantador
Canteiro tão sublime pleno em viço.

Vivendo em fantasia, um peito rude
Ao perceber refeita a juventude,
Não quero te perder, tu sabes disso.


988

Não quero te perder, tu sabes disso,
Cultivo em meu canteiro, nosso sonho.
Em ti encontro a rosa em pleno viço,
E um mundo mais feliz, eu te proponho,

Desejo que me toma, assim cobiço,
Viver eternamente um bem risonho
Felicidade expressa um compromisso
No mundo em fantasia que componho,

De ser teu companheiro e teu amado,
Estando o tempo inteiro do teu lado
Cansado de vagar, de léu em léu.

Não posso mais sequer aterrissar
Tampouco posso enfim recomeçar
Depois de ter tocado imenso céu.



989




Depois de ter tocado imenso céu,
Achado que era Deus por um momento,
Provado da ilusão, perfeito mel,
Ausência se tornando sofrimento.

Vagando sem destino o meu corcel,
Refaz esta ventura em pensamento
Felicidade? Um barco de papel
Que esvai e se destroça em fogo lento.

E; viva, uma saudade faz do afago
A tempestade imensa em calmo lago
Deixando como herança, ausência, o nada.

Marcado por lembrança algoz, ardente
Quem dera se eu pudesse, de repente
Viver o que perdi na longa estrada,

990


Viver o que perdi na longa estrada,
Sabendo que talvez não tenha mais
O brilho da mulher, divina amada,
Meu barco não encontra o velho cais,

Apenas minha vida, vai alçada
Ao sonho de saber que a noite traz
Uma esperança feita em alvorada
De um dia amanhecido em plena paz.

Lembranças do que fomos, e perdemos.
Unindo nossas forças, nossos remos.
No nada que se dá depois da curva

Talvez inda resista algum orvalho
Trazendo distraído em ato falho
O cheiro de uma terra após a chuva.

991



O cheiro de uma terra após a chuva,
O rosto da manhã em claridade,
Saudade já me cabe como luva
E traz de novo em sonho a liberdade.

Qual canto em tristezas de viúva
A vida ressuscita-se em saudade.
Uma esperança enfrenta na saúva
O verde destroçado que me invade

Mendigo cada toque do passado,
Tentando reviver, recuperado,
O dia que se foi em fino trato.

Porém nesta incerteza eu vago só,
E como se buscasse o mesmo pó
Meus olhos inda miram teu retrato,



992

Meus olhos inda miram teu retrato,
Espelhos de minha alma são só teus.
O dia se tornou cruel de fato,
Apenas me restando o triste adeus.

Na ventania imensa, o meu regato
Procura renascer momentos meus
Que foram sem destino e sem formato
Apenas refletindo olhos ateus

E assim, seguindo a sombra de mim mesmo,
Caminho e tantas vezes; vou a esmo.
Bebendo a lua vaga e merencória.

Olhando volta e meia o meu reflexo
A vida sempre traz sem rumo ou nexo
Recordações tão vivas na memória.


993


Recordações tão vivas na memória,
Marcantes os momentos que vivi.
Guardada fielmente em minha história,
Alçando o pensamento volto a ti.

Saudade se demonstra em plena glória,
De um tempo que jamais eu esqueci.
Relego ao sentimento, vil escória
O tempo em que sozinho eu me perdi

Marcando em cada gesto, volta à tona,
O que jamais morreu, tão só ressona
E mesmo em agonia trama flores.

Do quanto que sofri e não mereço
Promessas do sublime recomeço
Vieste dirimindo minhas dores.

994



Vieste dirimindo minhas dores,
Mostrando a nova vida, maviosa.
De todas as sonhadas, belas flores,
Rainha do jardim, divina rosa

Agora irei contigo aonde fores,
Estrela que me guia, radiosa.
Aurora da esperança em raras cores
Cegando a lua sempre caprichosa.

Amor, imenso sonho em plenitude,
Refaz no entardecer a juventude...
Decerto em raios claros se decora.

Olhando para a estrela que me guia,
Amor em plena paz e sintonia
Já sabe valorar a redentora


995

Presença de quem ama. A vida aflora
Qual fora redenção em noite clara,
O quanto que se quer nos revigora
E o passo com firmeza mais se ampara.

Bebendo esta alegria desde agora
A vida não será jamais amara.
Quem sabe quanto é bom não se demora
E a sorte com vigor, amor aclara;

Vivendo este momento inesquecível
Na força que me faz quase invencível
Beleza sem igual é o que se vê.

Tocado pela força deste encanto,
Deixando assim bem claro neste canto
Apaixonado eu sigo por você.



996


Apaixonado eu sigo por você,
A cada novo dia, mais feliz.
O meu olhar procura e sempre lê
Palavras que meu peito agora diz,

Do amor no qual meu verso vive e crê
Inspiração jorrando em chafariz
Num palacete ou casa de sapê
Amor já faz de tudo o que bem quis

Sabendo que sou seu, amada prenda
Segredos desta vida, amor desvenda
E todas as tristezas; ameniza.

O quanto que eu desejo o seu carinho,
Na calmaria expressa em nosso ninho
A sua voz escuto nesta brisa.



997


A sua voz escuto nesta brisa.
Que toca os meus cabelos mansamente.
O vento neste toque já me avisa
Do sonho que busquei, completamente.

A boca delicada e mais precisa,
Mostrando esta alegria, docemente
A sorte redentora aromatiza
Felicidade um sonho mais freqüente.

As estrelas que espalhas pelo chão,
Refletem num momento, esta paixão
Cobrindo este horizonte em claro véu.

Liberto, destemido e sem algemas,
Em meio a tantas crises e problemas
Meu verso vasculhando, ganha o céu


998


Meu verso vasculhando, ganha o céu,
Procura por pegadas, cada rastro
Deixado pelos passos de um corcel
Nos seios da mulher, puro alabastro,

Os olhos descortinam claro véu,
Quem dera se eu pudesse ser um astro
Rodando o firmamento em carrossel
Erguendo o pensamento sem ter lastro

Ganhando a eternidade em manso beijo,
Num mundo mais gentil que em ti prevejo.
Deixando-me levar em correnteza.

Assim, ao parearmos nosso rumo,
Bebendo da alegria o farto sumo
Não quero mais saber desta tristeza.


999


Não quero mais saber desta tristeza
Que um dia, foi sincera companhia,
Rompendo das paixões, cada represa,
Num mar de amor intenso, em ventania,

Transborda inundações, na correnteza
Voraz que me transporta em alegria
A vida não se poupa serve à mesa
Imensa variedade em iguaria

Encontro a solução para os meus ais,
No amor que me invadiu, meu porto e cais
Promessa de festanças raras, ternas,

Expresso neste canto uma vontade
De entrar e conhecer à saciedade
Fornalhas entreabertas, coxas pernas.



1000


Fornalhas entreabertas, coxas pernas,
Tocando com meus lábios as virilhas,
Paixões que nos devoram, são eternas,
Promessas de loucuras, maravilhas.

Carícias fulgurantes e tão ternas,
Entrando em cada loca, tuas ilhas.
Distante dos teus olhos quando hibernas
A vida sem destino, noutras trilhas

Sentindo o meu prazer já latejando
Enquanto o teu em mim, se derramando.
No escambo que me deixa satisfeito.

A soma em que se dá já multiplica
E o gozo desfrutado agora explica:
Amar e ser feliz: sonho perfeito.



1001


Amar e ser feliz: sonho perfeito,
Embora tantas vezes impossível.
Fazendo da alegria um grande feito,
Percebo a tua luz, mulher incrível

Mostrando que o amor é meu direito,
Felicidade é um sonho bem plausível.
Desejo desde agora satisfeito
Alçando os sentimentos noutro nível.

Eu quero te louvar a cada verso,
Jamais de teu caminho, irei disperso.
A chama que me guia e me conduz

Imerso em fantasias posso ver
Que,deusa da alegria e do prazer
Tu és a minha glória feita em luz.



1002


Tu és a minha glória feita em luz,
Palavras de carinho e de desejo,
Meu sonho a cada noite reproduz
Delícias que encontrei no doce beijo

De corpos que se entregam e vão nus
Na fúria dos prazeres. Num lampejo
Amor em si compensa qualquer cruz.

A noite se transforma em claro dia,
E entorna na alvorada, a fantasia
Cevando uma alegria dentro em mim.

A flor mais benfazeja que plantei
Castelo que em meus sonhos eu criei,
Tu és uma esperança sem ter fim,


1003



Tu és uma esperança sem ter fim,
A paz que eu tanto quis, encontro em ti.
Vibrando todo amor que sinto em mim,
Eu posso enfim, dizer, já recolhi

A flor maravilhosa em meu jardim,
O sonho mais bonito que vivi,
Da sorte e da alegria um estopim
Nos laços deste sonho eu me prendi

O mar de uma emoção que nunca cessa,
Amor não é somente uma promessa!
É lua que se dá tão gloriosa

Destino se forrando nestes laços
Eu traço eternidade nos meus passos
Bebendo desta fonte maviosa.


1004



Bebendo desta fonte maviosa,
Delícias e delírios: sou feliz.
Manhã se apresentando radiosa.
Meu canto te chamando sempre quis

O gozo desta vida fabulosa,
Marcando com divina cicatriz
Canteiro em que nasceu sublime rosa
De todos os meus ritos, aprendiz.

A pele que te toca em noite imensa,
Fadada a ter completa recompensa
Recebe com doçura a ventania

Que chega de teus lábios, ocas, minas,
Em forma tão perfeitas; femininas,
Tu és o canto livre da alegria.


1005

Tu és o canto livre da alegria,
Vestida de emoção, minha alma clama,
Envolta nos teus braços, já sabia
De toda a sorte farta de quem ama,

Rasgando todo o véu, na poesia
Ao renovar a vida, muda a trama,
Meu canto nestes sonhos se desfia
E invade um paraíso em branda chama

Nas teias de teus braços, adormeço,
Numa alvorada em paz, o recomeço
Trazendo uma esperança por bandeira

Distante das tristezas tantas léguas,
Das lidas mais temíveis nestas tréguas
Encontro em nosso amor a luz primeira...


1006

Encontro em nosso amor a luz primeira...
Em passos bem mais firmes, decididos,
De crer numa esperança derradeira,
As angústias e os medos já vencidos,

Mostrando ser a sorte lisonjeira
E os dias sem espinhos, percorridos.
Impedem que se perca em mil pruridos
Uma esperança além de corriqueira

Amor que se tornando mais prudente
Permite um novo encanto e doma a gente.
Transforma totalmente as nossas vidas.

Amor que em sua ausência, trama o vago,
Vivendo sem carinho e sem afago,
As horas, na distância, tão compridas.


1007


As horas, na distância, tão compridas,
Os barcos em tempestas, soçobrados.
Porém se aqui te encontro, nossas vidas
Em modo benfazejo, sobraçados,

Seguimos pelas sendas mais floridas,
Nos corpos que se buscam, imantados.
Secando as tempestades desvalidas
Impregnam em clareza e paz os prados

Nos mares deste amor vou navegando,
E os olhos se procuram, se tocando.
Espalham nevoeiro que malsã

Há tempos ocultara o claro sol,
No amor tão verdadeiro, o meu farol,
Recebo o brilho manso da manhã


1008

Recebo o brilho manso da manhã
No sol que já se emana, acolhedor,
A vida se permite em doce afã
Emoldurando em nós, o puro amor.

Não permitindo assim tristeza vã,
Um canto enfim bendito a se compor.
Expressa este desejo de maçã
No corpo desta musa, encantador.

Somando nossas forças, minha amada,
Promessas redentoras de florada
Do gozo em plenitude se assenhora.

Nas mãos de uma divina fortaleza
Sublime tradução de uma beleza
Presença de quem ama; a vida aflora.



1009

Tornando o coração bem mais experto
Por mais que o temporal ainda venha
Deixando para trás qualquer deserto
A vida traz o fogo e trama a lenha.

Assim, o que se mostra mesmo perto
Às vezes em distância esconde a senha.
O amor no qual desejo enfim desperto
Proclama em esperança esta resenha.

O tempo de sonhar já se apresenta
Em meio à força crua e violenta
Fazendo deste amor o que bem quis.

Porém ao ver imensa claridade
Entregue à mais perfeita liberdade
Não temo nem o corte, ou cicatriz.



1010


Não temo nem o corte, ou cicatriz
Transforma-se em sublime tatuagem.
Outrora, simplesmente um aprendiz
Aprende a conhecer nesta viagem

O quanto se é possível ser feliz,
Vestindo este desejo. E na roupagem
Carrego a vida apenas por um triz
Negando quaisquer luzes: é miragem.

De nossos corpos nus e sem pudores,
Audazes, nossos sonhos tentadores.
No qual minha vontade enfim se aninha.

Fazendo desta história quase um hino,
O gozo mais sublime eu descortino
Pensando em tua pele junto à minha.


1011



Pensando em tua pele junto à minha,
Apaixonadamente num mergulho,
Meu mundo, num momento já se alinha,
Deixando para trás qualquer orgulho,

Da solidão que; um dia, à noite vinha,
Não resta nem espinho ou pedregulho.
Tristezas do passado eu já debulho,
Preparo o meu plantio, ceva e vinha.

Os dias tão terríveis do passado,
Renascem neste sol do amor, dourado.
Poder inusitado e redentor.

Arcando com meus erros sigo em frente
E em meio à fantasia se pressente
Amor em louca entrega, no furor


1012





Amor em louca entrega, no furor
Dos corpos imantados que se tocam,
Vestido de desejo e sem pudor,
Prazeres sem limites desembocam

Explodindo em orgástico torpor.
Os gozos misturados que se entocam
Estando o tempo inteiro ao teu dispor
Humores em mosaico já se trocam.

Nas grutas e nas locas, pedem bis.
Deixando o corpo amante então feliz
Às voltas com destino caprichoso.

O quanto que alimenta os nossos dias
Toando a cada dia fantasias.
Amor, um sentimento poderoso.



1013



Amor, um sentimento poderoso,
Às vezes violento, outras gentil
Amansa um coração mais belicoso,
Porém algumas vezes faz ser vil

Aquele quem outrora carinhoso
A quem domina faz então servil,
Da vida eu quero mais que um simples gozo
O toque tão suave, assim gentil

Tomando a nossa vida num segundo,
Mudando de repente, o nosso mundo
Encontra da alegria, fonte e mina.


Porém se tantas vezes vou sedento
Não tenho outro caminho, e neste intento
Amor festa cruel que nos ensina


1014

Amor festa cruel que nos ensina
Que nada nesta vida traz em deixa
Total perenidade, me alucina
E nada do que fomos ele deixa,

Na fúria das paixões, força divina,
Incontida transforma santa em gueixa
Enquanto ao mesmo tempo gozo mina
Escuto mesmo ao longe a mansa queixa,

Desfere manso golpe em nosso peito,
Não deixa solução nem outro jeito.
Destino em calmaria se cumprindo.

Assim nesta total insanidade
Em sofrimento, paz e claridade
Envolto nos seus braços, vou seguindo.


1015



Envolto nos seus braços, vou seguindo,
Procuro no teu colo, um acalanto,
Amor feito disforme é sempre lindo,
Rebenta em emoção, inunda em pranto,

Na lábia do menino, vou fluindo,
Entregue sem limites, amo tanto;
A lua que nos banha reluzindo
Expressa em fantasia cada canto.

E nada do que possas me dizer,
Trará além do amor, maior prazer
No céu que se ilumina em florescência

Nos olhos decorados por cobiça
Vontade sem limites vem e atiça,
Roçando os meus instintos, sem clemência



1016



Roçando os meus instintos, sem clemência,
Invade a madrugada em pesadelos.
Da moça que se mostra em inocência,
Sentir doce perfume em seus cabelos,

Sorvendo em sua pele a indecência
Enredo-me em seu corpo, bons novelos.
Esqueço o que sofri em tua ausência
Tocando os corpos, peles, bocas, pêlos.

Fazendo desta noite em euforia,
Volúpia enlanguescente, santa orgia
Trazendo em paz sublime o que eu almejo.

Meu barco da tempesta refugia
Buscando ancoradouro em alegria
Aporto neste cais cada desejo.


1017


Aporto neste cais cada desejo,
Avanço por limites mais audazes,
Usando sutileza, assim prevejo
Momentos de loucura, tão vorazes.

Nas pernas que em prendem, já latejo
Agradecendo a força das tenazes
Na festa que se faz em louco ensejo
O quanto satisfeita satisfazes.

E o gozo mais profano se revela
Na intensa maravilha que singela
Um lago em placidez bebendo a lava

Assim na ardência feita em calmaria
O sonho mais feliz usufruía
Amor que uma amizade sustentava.

1018

Amor que uma amizade sustentava,
Felicidade plena bendizia,
Uma esperança a mais sempre abrigava,
Trazendo claridade para o dia,

Meu mundo no teu colo se abrigava,
Formando uma ilusão em poesia,
Rompendo qualquer lacre, nega a trava
Contendo a mais sublime fantasia

Distante destas dores do passado,
Moldava um bom futuro do teu lado
Traçando este buquê, juiz, anel.

Assim num himeneu termina história
Tornando nossa estrada bem mais flórea
Nas tramas, nossa cama, feita em céu.


1019

Nas tramas, nossa cama, feita em céu,
Rolando a noite inteira em mil delícias,
Sorvendo cada gota do teu mel,
Tocando em tua pele, com malícias,

Rompendo a madrugada, rasgo o véu,
Desnudo-te e me entregas mais carícias,
A vida vai cumprindo o seu papel
Distante das loucuras e sevicias

Amor sem preconceitos perde o nexo,
Em Eros espelhado, louco sexo.
Inflama enquanto em ânsias já me abrasa.

Marcando nossa pele, tatuagem,
Trazendo para a vida mansa aragem
Tua nudez desfila pela casa.


1020

Tua nudez desfila pela casa,
Recebo o forte brilho que transbordas,
Tomado pelo fogo desta brasa,
Desejos mais audazes já me acordas,

Vontades e quereres, tudo abrasa,
Voracidade imensa, assim recordas
Rompendo velhos nós, esquece as cordas
E o tempo de viver jamais se atrasa

E volto à juventude num segundo,
De teu prazer intenso enfim me inundo.
Permitindo decerto uma guinada

A sorte procurando ancoradouro
Estampando promessas de tesouro
Reféns desta loucura, minha amada.



1021


Reféns desta loucura, minha amada,
Bebendo do teu corpo cada gozo,
A noite se entregando à madrugada
Fazendo o nosso amor bem mais gostoso,

Eu quero mergulhar de alma lavada,
Tocando cada ponto, bem fogoso.
Amor passando a ser da minha alçada
Fazendo este caminho fabuloso.

As chamas que se emanam de nós dois,
Fagulhas neste incêndio do depois
Provoca em temporais o relampejo.

Sentindo a perfeição de teu perfume
Da imensa cordilheira, além do cume
Acolho o teu carinho em meu desejo.


1022

Acolho o teu carinho em meu desejo,
Teus rastros pelo quarto, amor, persigo,
Querendo desfrutar de cada beijo,
Eterno companheiro, amante amigo,

A transparência exposta sempre vejo,
Servindo, com certeza de um abrigo
Momentos preciosos que eu almejo
Buscando o teu carinho, assim prossigo.

Quem fora um aprendiz amor declara
Mostrando que apreendeu a jóia rara
E traz a sua imagem sempre perto.

Amor que enlanguescendo, a paz expõe
Além do que procura e se propõe,
Tornando o coração bem mais experto.

1023

No olhar de brilho farto, reluzente
Eu vejo refletido o coração
Por mais que a solidão ainda tente
Resiste no meu peito esta emoção

Que borda com beleza e maravilha
Os dias que virão- felicidades.
O quanto tantas vezes alma andarilha
Andando pelos campos e cidades

Buscando bar em bar sem nada ver
Senão esta vontade de ficar
Às vezes o desejo de morrer
Sem nada pra sorrir, comemorar.

De quem se fez inútil fantasia
Decerto, o meu amor já saberia


1024

Decerto, o meu amor já saberia
Quem tanto desejei em luz tamanha,
Vibrando certamente de alegria,
A sorte- ser feliz, amor, nos banha,

E o canto da promessa me dizia,
Do encanto que se molda em nossa entranha,
A vida sem amor e poesia
Decerto, sem motivos, vai estranha

Vivendo neste amor, perfeita glória,
O medo transformado na vitória
A cada novo tempo; conquistada.

Com ar de quem venceu dura batalha
Escapando do fio da navalha
Recebo cada beijo teu; amada.


1025

Recebo cada beijo teu, amada,
Amiga de meus dias/tempestades,
A vida em outra lua vai raiada,
Repleta de desejos, claridades.

Minha alma de tua alma enamorada,
Procura no teu corpo saciedades.
A sorte no caminho desfraldada
Estende as mais sublimes liberdades

Assim, dois caminheiros que se tocam,
Ao mesmo tempo acolhem, se provocam...
Nas lutas e batalhas do querer.

Mas somente de ti ando cativo
Do amor no qual resisto e sobrevivo
Sou teu e nada mais pode conter

1026


Sou teu e nada mais pode conter
Amor em amizade construído,
Meu rumo é procurar o teu prazer,
Meu passo se mostrando decidido

Permite que eu conceba amanhecer
Deitado no teu colo, distraído.
O sol em brilho forte, eu posso ver
No dia em perfeição já concebido

Eu quero ser teu par, a noite inteira,
Promessa de alegria verdadeira
Tempestas sensuais chegam e assolam

No quanto vamos juntos vida afora
Na fome de viver que revigora
Assim, dois passarinhos se engaiolam.



1027


Assim, dois passarinhos se engaiolam,
Ao mesmo tempo livres, vão ao céu.
Meus braços nestas asas já decolam,
Adoço o paladar em rico mel,

De uma felicidade que é total,
Encontro o que eu tanto procurara,
No toque delicado e sensual
A vida mansamente nos ampara

Ser teu é minha sina, o meu destino,
Não posso mais fugir e nem o quero.
O quanto te desejo e não domino
Porquanto tantas vezes eu te espero

Em ti a minha glória derradeira
Amiga, amada amante e companheira.


1028


Amiga, amada amante e companheira,
Eu quero estar contigo o que me resta
Da vida na emoção que derradeira,
Reflete no meu peito plena festa,

Amor que procurei a vida inteira,
Uma esperança imensa agora gesta
Abrindo no meu peito esta clareira
Felicidade intensa já se empresta

De um tempo em que o amor feito amizade,
Denote aos dois cativos, liberdade
Que a sorte de sonhar sempre prossiga

Tornando realidade o nosso sonho,
A paz sem falsidade eu te proponho
Amiga, o meu desejo já te abriga.



1029


Amiga, o meu desejo já te abriga,
Mulher em sonho claro manso e leve,
Meu peito em plenitude assim me obriga
Enquanto a voz audaz, cedo se atreve

Falar de uma emoção que é tão antiga,
Palavra de carinho se faz breve,
Estio dentro da alma que prossiga
Negando o duro inverno e a fria neve

Amor este moleque peregrino,
Na ceva da esperança um ser divino,
Que os olhos sonhadores procuraram

Porém quando me vi mais distraído
Olhar sempre distante, vão, perdido
As suas lanças, setas, me tocaram.


1030

As suas lanças, setas, me tocaram,
E assim me enlouqueceram, estou certo,
Os castelos mais firmes desabaram,
Meu coração se mostra então aberto,

O quanto de carinhos eu te oferto
Os sonhos não mentiram nem calaram
E velhos sentimentos se mostraram,
Apenas movediços. Mal desperto

E vejo nos teus olhos tal magia,
Amiga, transtornando o dia a dia.
Num rumo tão cruel e encantador.

Assim vou prosseguindo sem descanso.
Tranqüilidade e paz agora alcanço
Vencido pelo fogo deste amor


1031



Vencido pelo fogo deste amor
Recebo a fantasia feita em vento,
Tentando, num segundo recompor,
A audácia se fazendo sentimento,

Vontade de sentir o teu calor,
Mas nada dá firmeza ao meu intento.
Um novo enredo então; venho propor
Embora nele eu veja o sofrimento

E assim, apaixonado, passo a crer,
No amor em amizade, bel prazer
Mesmo que mude o tom, sou teu amigo.

Nos dias que virão tanto embaraço,
O quanto vai mudando o nosso passo,
Tentando disfarçar, mas não consigo.


1032



Tentando disfarçar, mas não consigo,
Se cada verso meu dirijo a ti,
Queria ser somente teu amigo,
Porém no emaranhado eu me perdi.

Quem sempre me acolheu em manso abrigo,
Agora reluzente brilha aqui,
Além do que em verdade eu já persigo
O quanto te desejo, descobri.

No peito de quem ama e não comporta,
A força deste amor, arromba a porta
Promessa de terrível desencanto

Amiga, me perdoe, na verdade
O quanto amor se fez numa amizade
Envergonhado, expresso neste canto

1033


Envergonhado, expresso neste canto
Uma maneira a mais pra te falar,
De toda esta loucura em puro encanto,
Trazendo uma amargura a desnudar

Meu coração, tirando o fino manto
Que tantas vezes pode disfarçar
Agora vai se expondo e neste tanto
Esboça um novo jeito de sonhar

O amor que eu já sentia e nunca quis
Admitir, mas me faz ser mais feliz...
Tomando minha vida, é um tormento

Podendo destruir, eu não espero,
Manter sempre mais forte, o que mais quero;
Uma amizade feita num momento




1034



Uma amizade feita num momento
Em que a vida se mostra em desengano,
Acalma com seus braços, meu tormento,
Aquece o coração e muda o plano,

Mostrando ser possível sentimento
Supremo sobre todos soberano,
O fogo me consome brando, lento
Deixando um rastro manso, mas insano.

Com a pureza imensa, um diamante,
Do amor feito sublime e mais constante
Espero andar contigo lado a lado,

Podendo nos trazer em redenção
Mudando finalmente a direção
Um passo quando firme e se bem dado.


1035


Um passo quando firme e se bem dado,
Permite vislumbrar amor divino,
Não deixa o coração jamais irado,
Promete um novo tempo cristalino,

Matando uma tristeza do passado,
Tornando o peito amargo qual menino
Que um dia se viu só e abandonado
E agora um bem maior já descortino

Chamados da alegria, enfim responde,
Exposto ao vento leve, não se esconde
Quem tem os olhos sempre abençoados

Bem diferente, eu falo e te asseguro
De um coração estúpido e inseguro:
Aquele cujos passos vão guiados.


1036

Aquele cujos passos, vão guiados
Pela amizade imensa que se sente,
Tem olhos nos espaços assentados,
E toda a glória o faz ser mais contente,

Seus dias com certeza são honrados,
E a voz do coração tão envolvente.
Expressa o que deseja em altos brados
Vivendo amor de forma previdente;

Não sabe de outro dia mais horrendo,
As flamas da alegria, recebendo
Mudando o seu caminho de repente.

A vida se transforma ao mesmo instante
Em que sinto o reflexo deslumbrante
No olhar de brilho farto, reluzente.


1037


A maciez das mãos sobre meu peito
Permite que se tenha algum alento.
A gente tantas vezes vai desfeito
Entregue aos dissabores, sofrimentos.

Do céu risonho apenas pesadelos,
Meus olhos procurando algum descanso
Encontram no horizonte, frios, gelos
Distante me afastando de um remanso.

De tanto que eu sonhei e nada tive,
Das esperanças restou arribação
Apenas teu carinho sobrevive
E nele algum resquício de ilusão.

Meu verso se perdendo em noite fria
A sorte pouco a pouco se esvazia...

1038


A sorte pouco a pouco se esvazia
Não restando sequer um riso franco
A solidão matando a fantasia
Corcel já não galopa; velho e manco.

O quanto que eu tentei e nada fiz,
E tudo o que eu temia, aconteceu.
Uma esperança, eterna meretriz
Levando o que restou do que foi meu.

Palavras que me dizes, de consolo,
Não servem para nada, me perdoe.
Durante tanto tempo, simples tolo
Que em vagas tempestades inda voe

A marca das angústias demarcada
Na pele pelas dores tatuada...

1039


Na pele pelas dores tatuada
A decomposição já se declara.
Do todo que sonhara, quase nada
Restando, a vida então me desampara.

Um coração audaz, aventureiro
Durante tanto tempo inda lutou.
Porém o sofrimento corriqueiro
Aos poucos, meu castelo derrubou.

Esgueirando em esgotos, galerias,
Arrasto estas correntes pela vida.
As noites solitárias, duras, frias,
Uma alma que vagando, vai perdida.

Assim, exposto aos ventos inclementes,
Entregue aos desatinos, penitentes...

1040


Entregue aos desatinos, penitentes
Carrego em minhas costas esta cruz.
Os olhos se perdendo sempre ausentes
Falena em desespero pede a luz.

Algozes, as correntes que me cortam,
Esfacelando a carne, expondo os ossos
As fantasias tolas já se abortam,
Restando tão somente os meus destroços.

O tempo de sonhar não mais existe
O canto que ora entôo é de agonia.
Seguindo pela rua, amargo e triste
Nublado, em névoas densas, o meu dia.

Mas mesmo nesta estrada tão deserta
Irei sobreviver, esteja certa!

1041



Irei sobreviver, esteja certa!
Juntando os meus escombros, vou em frente.
As dores já serviram como alerta
O tempo vai mudar, disso estou crente.

O céu desanuvia num momento,
Um azulejo exposto faz pensar
No fim abençoado do tormento
Promessa de uma noite de luar.

Meus olhos na procura que não cessa
Procuram algum lume que inda luza.
Porém a noite em trevas segue imersa
A vida segue em mágoas, tão confusa.

Não posso mais sonhar. Ah! Quem me dera!
De tocaia, espreitando, a mesma fera...


1042

De tocaia, espreitando, a mesma fera
Que há tempos não permite mais que eu ria.
Nas garras e nos dentes da pantera
A morte da esperança e da alegria.

Seria tão somente um pesadelo
Não fora o gargalhar da besta infame.
No quanto a nada ter, eu me enovelo
Mentiras, vis ardis que a sorte trame.

O quanto desejei e nada veio,
Apenas a vontade de morrer.
A solidão chegando sem receio,
A vida vai passando sem prazer.

O tempo de sonhar? Pra sempre ausente,
O fim em solidão já se pressente...

1043

O fim em solidão já se pressente;
O canto em fantasia preconiza
Mudanças nestes ventos, na corrente
Trazendo a calmaria feita em brisa.

Durante tanto tempo andei sozinho,
Carrego em minhas costas cicatrizes,
Uma amizade estende em doce vinho
Esperança de dias mais felizes.

Durante tantos anos, cego e só,
Vivendo por viver e nada mais.
A cada novo sonho, um novo nó
Deixando bem distante o ledo cais.

Enquanto as esperanças desabavam
Tristezas sem igual me maltratavam.


1044


Tristezas sem igual me maltratavam,
E o mundo consumido em fogo lento.
Porém aqueles pobres que inda estavam
Deitados sob a treva em pensamento,

Durante tanto tempo inda lutavam,
Cansados desta dor feita em tormento.
Em bando as esperanças já chegavam
Trazendo finalmente o manso vento

Caminhos para a dor e os desenganos,
Restando sofrimentos desumanos.
Uma ilusão aos poucos extorquida.

Mas vejo na amizade, num clarão
Tramando em novo dia sem senão
A sorte que me foi já concedida.


1045

A sorte que me foi já concedida,
Mostrando em mansidão um belo aceno,
Mudando de repente a minha vida,
Moldando meu futuro mais ameno.

A paz tão desejada e bem querida
Num toque mais gentil, suave, ameno
Numa amizade plena e recebida,
Antídoto real para o veneno

Da negra solidão que assim não cabe,
No peito de quem tanto amor já sabe
E agora não caminha mais vazio.

Deixando no passado esta lembrança
Na cena que se esvai já sem fiança
Um coração que morre, estranho e frio,


1046

Um coração que morre, estranho e frio,
Sozinho, sem ninguém, desfigurado,
Deixando tão somente este vazio,
Num canto mais cruel, desesperado.

Matando em duro inverno, um forte estio,
Vivendo do que fora no passado,
No quanto mais desejo; eu principio
Um canto em solidão, agoniado.

Não deixa mais sobrar sequer lembrança,
Morrendo em nascedouro da esperança.
Aquele que se entrega ao mesmo nada.

Amores se perdendo sem destino,
A mente se revolta em desatino
Não sobra nem o sonho, atroz morada.




1047



Não sobra nem o sonho, atroz morada.
Das doces sensações mais valorosas,
A vida que em promessa foi dourada,
Salvando os seus espinhos, mata as rosas.

Não deixa na verdade sobrar nada,
Senão as sombras frias, belicosas.
Matando em negras nuvens a alvorada
As horas se esvaindo, caprichosas.

Assim vai descartando a eternidade,
Cegando a luz em plena claridade
Cevando amanhecer mais torporoso

Relega à própria sorte o seu porvir
Cansado de sonhar e de pedir
Um dia que em promessas, luminoso.




1048


Um dia que em promessas, luminoso,
Da sorte de viver vai se apartando,
Um mundo mais sublime e glorioso,
Os medos e as tristezas vão cortando,

Um céu que se mostrara mais formoso,
Aos poucos sem ninguém vai se nublando
E o tempo muitas vezes caprichoso
Os sonhos e castelos derrubando

E um canto de um amor desesperado
Retumba como um eco do passado
Como fora uma espécie de lamento.

O quanto que tentei e nada existe,
Meu canto lamuria e mostra, triste
A vida se perdendo num momento,

1049

A vida se perdendo num momento,
Distantes dos olhares que desejam
Que mude num repente, o duro vento,
E as sortes redentoras já porejam,

Singrando com volúpia o pensamento,
Amores do passado inda trovejam.
Cortando a minha pele, sofrimento
Impede que outras sendas se prevejam

As horas aos amores consagradas,
Perdidas, noutros dias, maltratadas...
Vazio no meu peito vai reinando.

As andorinhas seguem migrações,
Distantes deste olhar, arribações,
Porém numa amizade irão voltando.



1050


Porém numa amizade irão voltando
As pombas que se foram noutro dia.
E aos poucos meus desejos retornando,
Mudando num momento a ventania,

Amiga, com teus braços, demonstrando
Que ainda é bem possível a alegria.
A fantasia surge decorando
O céu que em esperança se tingia

Meus olhos nos teus olhos refletidos,
E os dias mais felizes, percebidos
Permitem que eu caminhe satisfeito

Sentindo a mansidão já refletida
Na cena que se faz tão repetida:
A maciez das mãos sobre meu peito


1051


Amor que assim domina toda a gente
Não deixa ficar pedra sobre pedra,
O coração batendo mais contente
Enfrenta a tempestade e nunca medra.

Assim no canto breve e mais suave
A vida vai passando sem tremores.
Não tendo quem impeça ou quem entrave
Estende na varanda os seus fulgores

Entendo o teu sorriso qual convite
À festa interminável em alegria.
O sentimento intenso e sem limite
Permite não somente a fantasia.


Supera em plena paz altas montanhas
Amor que se demonstra em tais façanhas.



1052




Amor que se demonstra em tais façanhas,
Deixando a nossa vida mais formosa,
Adentra sem limites as entranhas,
Acalentando a sorte gloriosa

Deixando para trás dores tamanhas,
A vida se transforma, fabulosa.
Trazendo luz intensa às velhas sanhas
A noite passa a ser maravilhosa

Amor é de quem sonha, o companheiro
Que levará ao canto derradeiro
O quanto em paz e glória eu sempre espero.

Defronte esta quimera temerária
Que Deus me dê a força necessária
Diante de um momento duro e fero.


1053

Diante de um momento duro e fero,
Amor vai nos tomando em seu feitiço,
É tudo na verdade, o que mais quero,
Refaço em nosso amor, o brilho e o viço,

Nos braços deste amor, eu me tempero,
E um mundo mais ameno, enfim, cobiço.
O sonho pelo qual me regenero
E ao mesmo tempo encanto e me enfeitiço

Amor se derramando em forte chama,
Mudando num segundo toda a trama.
Expressa em perfeição uma esperança

Benquisto pelos deuses, eu garanto
Tomado totalmente por encanto
Quem tem no seu amor toda a fiança

1054


Quem tem no seu amor toda a fiança
Reveste o seu caminho em plena glória,
Ao sonho mais sublime já se lança,
Mudando o rumo incerto desta história.

Voltando num momento a ser criança,
Garante para si toda a vitória,
Rompendo com a vida merencória
Agora com um Deus faz aliança

O amor torna mais brando um cavaleiro
E mostra um mundo novo e verdadeiro
Em vozes, pensamentos repartidos.

O trovador prossegue se mostrando
E mesmo em desafino vai cantando
Meus versos que serão sempre esquecidos.


1055

Meus versos que serão sempre esquecidos,
Falando deste amor em clara aurora,
Os medos e as tristezas dirimidos,
A luz em plenitude vencedora,

Meus cantos invadindo os teus ouvidos
Num sonho mais sutil, amor aflora,
Tocando mansamente os meus sentidos
Eu quero ser feliz e desde agora.

E o dia se refaz, deveras forte,
Vencendo qualquer medo, até da morte
Trazendo em nossa vida, este colosso

Do amor que se faz pleno em claridade.
E assim, ao perceber felicidade,
Falar de nosso amor, querida eu posso,


1056


Falar de nosso amor, querida eu posso,
Pois nele mergulhei em puro encanto,
Um sonho em liberdade, assim esboço,
Viver felicidade sem espanto.

Nos traços desta luz eu me remoço,
E de alegria, amada, aqui eu canto.
Além do que desejo e sei que posso
Eu te amo sempre mais, e tanto, tanto...

Cruzando na esperança de outros mares,
Encontro em cada espelho, os teus olhares...
Trazendo ao dia-a-dia, a confiança.

Depois de vagar cego pela rua,
O sonho em maravilha assim flutua
Meu canto te buscando já te alcança.

1057

Meu canto te buscando já te alcança,
Enaltecendo sempre a liberdade
Aonde o meu olhara em esperança
Percebe num momento a claridade,

Nos braços de quem quero, amor me lança
Mostrando assim cabal felicidade,
A noite vai surgindo sempre mansa
A calma em plenitude agora invade

Além do que meu sonho já me mande,
Encontro um mar intenso, belo e grande.
Tomando o coração, me faz contente.

Florindo em nosso peito, amor sincero
Expressa em fantasia o que eu mais quero:
Jardim de uma alegria, florescente.



1058

Jardim de uma alegria, florescente,
Deitando no meu colo, a minha amada,
O coração, feliz adolescente,
Escuta em tua voz, uma chamada,

E grita ao doce amor sempre presente,
Já dando em minha vida uma guinada,
O quanto ser feliz tão simplesmente
Na mágica emoção anunciada.

A trama que em teus lábios se mostrou,
Em teu sorriso manso me entregou
Deixando para trás qualquer mistério.

Assim, ao perceber tanta meiguice
Relembro de outro alguém que um dia disse:
Amor não tem juízo e nem critério.




1059

Amor não tem juízo e nem critério,
Invade o peito em sonho lisonjeiro,
Formado pelas sendas de um mistério
Amor se sublime companheiro,

Adentra o coração, sem vitupério,
Dos sonhos o perfeito cavaleiro,
Amor é na verdade um caso sério
Um deus que se fez mago e feiticeiro

Aquece um sentimento outrora frio,
E esvai em mansidão, plácido rio.
Ao cativar propõe a liberdade.

Equânime invadindo rico ou pobre,
Em plena insanidade se faz nobre
Amor é feito pária em majestade,



1060
Amor é feito pária em majestade,
Tomando o nosso corpo como um templo,
Retorna na velhice, a mocidade,
Do poder absoluto um bom exemplo,

Contemplo a maravilha que se estampa
Nos olhos divinais desta mulher,
A prenda mais bonita do meu pampa
Do jeito e da maneira que vier

E vejo meus caminhos mais formosos
Atados nos teus passos, flor do campo
Nos olhos deste amor, maravilhosos
Beleza sem igual de um pirilampo

Tristeza se despede em ledo olvido
Seu passo, pelos sonhos, vai movido.


1061


Seu passo, pelos sonhos, vai movido,
Marcando em seu compasso, ritmo eterno,
Nos traços deste amor, vou envolvido,
Distante da tristeza de um inverno,

Seguindo pelo amor engrandecido,
Jamais em solidão, meu peito hiberno,
Por Deus o sentimento foi urgido
Quem ama já se afasta de um inferno.

Amor, que me envolvendo mostra e sente
Um mundo mais airoso, e mais contente...
Reflexo deste sonho iluminado.

Eu vejo em teu semblante este farol
Numa expressão divina, traz o sol,
Olhar que, pelo amor, abençoado.


1062

Olhar que, pelo amor, abençoado,
Na sorte em que meu peito já se ufana
Mudando qual farol, a sina e o fado
Além do que sonhara e não se engana

Um coração por ti apaixonado,
Rainha dos meus sonhos, soberana.
Meu verso enamorado agora explana
O quanto em nosso amor sigo encantado.

Teus passos com certeza edificaram
Os rumos que meus dias encontraram
Nas sendas mais sublimes, maviosas.

Ao reviver assim a primavera
Apascentando assim temível fera:
Memórias de outros tempos, gloriosas.



1063


Memórias de outros tempos, gloriosas,
Aos poucos meu caminho vão mudando,
Espalham mil canteiros, belas rosas,
E as dores com certeza, devastando,

As horas ao teu lado, valorosas,
Do medo de viver me libertando
Encaro estradas sempre caprichosas
Meu canto a cada canto retumbando

Eternamente sei que irei amar-te,
Vivendo a plenitude em qualquer parte.
O tempo de viver é soberano.

Fazendo deste amor uma colheita
A sorte em berço esplêndido se deita:
coração lateja em sonho insano.

1064

coração lateja em sonho insano,
Distante das loucuras que fizeram
Os olhos de quem ama, em desengano,
Rumando por estrelas, já tiveram

Momentos de carinho, mas temprano,
Os medos/sofrimentos que vieram
Mudando a direção em outro plano
Carícias e delírios se esqueceram.

Cobrindo de tristezas, negra manta,
O brilho das estrelas logo espanta.
Porém tudo ressurge novamente

Nos beijos carinhosos de uma prenda
A vida em alegrias traz por prenda
Amor que assim domina toda a gente.


1065

Invade qual posseiro, benfazejo.
O amor que não se cala e nos entranha
Vislumbra todo o sonho que eu desejo,
A sorte nos teus braços sem barganha.

Durante muito tempo eu procurara
Espelho de minha alma noutra face,
A vida que se fora assaz amara
Num novo amanhecer, destino trace

E deixe este perfume mavioso
De flores sem igual no meu jardim.
Amor, por tantas vezes caprichoso
Expressa esta vontade dentro em mim.

Pensara no amor como passado,
Porém eu encontrei, emocionado,


1066


Porém eu encontrei, emocionado,
um sol de uma alegria mais ardente.
Depois do canto triste demonstrado,
Promete ressurgir alegremente,

Matando esta tristeza do passado,
Mudando deste mar, fria corrente,
Meu canto nos teus cantos ecoado
Já vê tranqüilidade, simplesmente.

Quem sabe neste amor, firme e perene,
A vida finalmente, enfim, se acene...
Deixando de ser tola e caprichosa.

Tornando mais palpável, sentimento,
Permite que se veja num momento
A sorte que já fora vaporosa,

1067


A sorte que já fora vaporosa,
Nos olhos de quem amo, logo muda,
Trazendo em noite clara e tão formosa
Dourada sensação de grande ajuda

Da flama que me invade mais fogosa
Que venha em noite clara e não me iluda.
Presença sem igual, maravilhosa
Deixando uma tristeza quieta e muda,

Espalho o meu cantar pelo universo,
Cantando o pleno amor a cada verso
E nele encontro rumo, acerto a rota.

Ao lado deste amor que nada cessa
Revivo muito além de uma promessa
Uma amizade imensa, mas remota.


1068

Uma amizade imensa, mas remota,
Precisa ser deveras bem cuidada,
Amor em amizade se denota
Paisagem tão divina e desejada.

Nos mares; mais unida a nossa frota
Enfrenta sem temor qualquer armada
Assim uma esperança sempre brota
No peito de quem tem por bem amada

Aquela cujos braços estendeu,
E a dor em alegria converteu
Calando em calmaria um vão tormento.

Torrentes de emoção que não se calam
Os olhos mais brilhantes já nos falam:
Uma amizade é mais que um sentimento.



1069

Uma amizade é mais que um sentimento,
É um pacto que fazemos pela vida.
Por mais que seja duro este lamento,
E a sorte se demonstre distraída,

O sonho se renova no momento
Cevado pela força concebida
Às vezes solitário em vão eu tento
Achar do labirinto uma saída.

Porém ao ter aqui a companhia
Daquela que transmite em harmonia
A paz olhando em mesma direção,

Nesta união perfeita em dois seres,
Dividem irmamente os seus quereres
Amiga nunca segue em solidão.

1070

Amiga nunca segue em solidão,
Tampouco se adianta numa andança
Ao lado na perfeita proteção,
Aonde o braço firme sempre alcança

Conhece o bom sentido do perdão,
Espelha em seu amigo uma esperança.
Garante com firmeza, a floração
Promessa de alegria e de mudança

Uma amizade feita em pulso forte,
Aponta com firmeza para o norte
Rompendo desde já velhas algemas.

Porém se caminhamos solitários
Em passos inseguros, temerários
Por vezes, encontramos os problemas.



1071

Por vezes, encontramos os problemas
Comuns do dia a dia, mas sabendo
Vencer com tanto apoio estes dilemas,
Palavras benfazejas recebendo,

Mostrando em nosso peito tais emblemas,
O mundo em segurança percorrendo,
As alegrias seguem piracemas
Vencendo as cachoeiras renascendo.


Podemos já falar de uma amizade
Cuja base se faz sinceridade
E em firmes fortalezas já nos ata.

Ao mesmo tempo em paz ela nos rege
Enquanto a sua mão sempre protege
Nos dias em que a vida nos maltrata


1072


Nos dias em que a vida nos maltrata
Ao termos a certeza benfazeja
De quem em nó mais firme o futuro ata,
Podemos alcançar o que deseja

O coração sincero, e assim resgata
O sonho bem mais puro em que se almeja
A sorte abençoada que arremata
Encanto que se quer, qualquer que seja

Felicidade plena e tão sincera,
Trazendo eternidade em primavera.
Tomando nossa vida plenamente

Deixando para trás qualquer tristeza
É necessária a rara fortaleza.
Não deixe que isto morra simplesmente

1073

Não deixe que isto morra, simplesmente
Tu morrerás também a cada dia,
Jardim que é feito em festa totalmente
Merecem bom cultivo em alegria.

Louvando esta esperança que contente
Encontro finalmente o que eu queria.
Num mundo tantas vezes vil, doente
Trazendo à vida paz feita harmonia

Uma amizade firme e verdadeira,
Permite que se encontre o que mais queira.
Vislumbre mais perfeito em claridade.

Plantando com ternura e com carinho
Percebo que recolho, sem espinho,
No coração amigo, uma bondade

1074

No coração amigo, uma bondade
Sincera que me deixa satisfeito,
Quem dera fosse assim humanidade,
O mundo poderia ter um jeito.

Trazendo para todos; liberdade,
Tocando bem mais fundo o nosso peito,
A calmaria encontro enquanto deito
Olhar que é feito em paz, tranqüilidade.

Mostrando ser possível a alegria,
Raiando em claridade, um belo dia.
A mão que nos protege e nos abriga

São poucas as pessoas que eu conheço
Capazes de amparar-nos num tropeço
Tu tens este poder, querida amiga.


1075


Tu tens este poder, querida amiga,
A luz de uma esperança brilha em ti,
Permite que, mais firme já prossiga
Caminho libertário aonde eu vi

A fortaleza imensa feita em viga,
Portando um sonho nobre. Percebi
Que além do que se quer e se consiga
É sempre bom poder estar aqui.

Pois nada se realiza nesta vida,
Se a força de lutar está perdida.
E temos tão somente uma inclemência;

A força que se emana nos teus braços
Estende com carinhos, com abraços
Nos laços da amizade, a consciência



1076


Nos laços da amizade, a consciência
De que tudo talvez seja possível,
É necessária toda a paciência,
O resultado eu sei, será incrível.

Perdão a quem nos fere e na clemência
Certeza de vivermos noutro nível
Aonde sem castigo ou penitência
O sonho- ser feliz- seja plausível.

Amor em perfeição, tão desejado,
Um mundo bem distinto do passado.
Aquece com ternura o nosso ninho.

Contigo minha amiga, em nova lei,
De peito aberto, agora eu sei que irei
Vencer as intempéries do caminho.


1077

Vencer as intempéries do caminho,
As pedras, sem sentido, vão rolar,
Deixando a flor vencer amargo espinho,
A vida em alegrias, perfumar,

Em cada coração, perfeito ninho,
Amor em plenitude a se encontrar
Que quando amadurece, como o vinho,
Só pode, dia-a-dia, valorar.

Nos rumos bem serenos da amizade,
Poder conceber solidariedade.
Na divisão perfeita destes remos.

Assim, olhos erguidos passo a passo,
Ganhando com firmeza cada espaço
Amigos, para sempre, nós seremos.



1078

Amigos, para sempre, nós seremos,
Ninguém nem nada pode mais fazer
Com que percamos norte, nossos remos
Serão a garantia do querer

Futuro em que por fim, nós poderemos
Gritar ao mundo todo que o poder
Nas mãos com alegria nós detemos
E nisso nossa glória em bel prazer

Quem tem esta alegria dentro em si
Já pode agradecer, pois tem ali
Suprema magnitude de um desejo

Que emana de um amor assim perfeito,
Trazendo a liberdade como pleito
Invade qual posseiro, benfazejo.


1079


Felicidade plena é um direito
Do qual não abro mão. Por ela eu luto
No amor um sonho sendo satisfeito
Permite que se veja num minuto

O quanto em nossa vida se deu jeito.
Quem sabe num amor ser mais astuto
Entrega-se ao poder que dito e feito
Sonega a solidão, impede o luto.

Assim um passageiro vai liberto,
Trazendo o seu caminho sempre aberto
Chegado aonde amores se tocavam.

Alados pensamentos, liberdade
Na busca pela eterna claridade
Meus sonhos mais distantes me levavam.

1080

Meus sonhos mais distantes me levavam,
Tomando num momento os meus sentidos,
Os medos e as angústias me cortavam,
Deixando meus castelos destruídos.

As dores, cada passo, vigiavam
Vazios, os meus dias, mal vividos
Apenas as tristezas me entranhavam,
Em sentimentos sempre empedernidos.

Nem mesmo as esperanças me escutaram,
Dos olhos, tantas lágrimas rolaram.
Deixando minha estrada sem saída.

Assim ao me sentir abandonado,
Não tendo mais quem ande do meu lado
Vagando sem destino pela vida.


1081

Vagando sem destino pela vida,
Apenas solidão como estandarte,
Estrada em duro espinho, já perdida,
O frio se espalhando em toda parte.

Não tendo mais sequer uma saída
O futuro morrendo não reparte
A sorte que se fora distraída
Sobrando tão somente este descarte

Amiga em noite dura, tempestade,
Mostrando ser possível liberdade
Proclama em sonho nobre e mais bonito

Encantos que concebo sem igual
Que mostre ser possível, no final
Alçar meu pensamento ao infinito.


1082

Alçar meu pensamento ao infinito,
Fazendo bem mais livre cada verso,
Um dia em alvorada, mais bonito,
Deixando assim distante um mar perverso.

Ecoa bem mais alto cada grito,
Agora estou na sorte, enfim, imerso,
Fazendo deste sonho um mote; um rito
Já não prossigo só, nem mais disperso

E canto essa alegria de poder,
Ver, novamente o dia amanhecer
Trazendo uma alegria que em torrente

Espalha a fantasia sobre nós
Tramando em claro amor sinceros nós
No sol de uma alvorada reluzente.


1083

No sol de uma alvorada reluzente,
Prenúncio de uma vida mais feliz.
Seguindo o meu caminho, vou contente,
Não levo nem sequer a cicatriz

De um tempo em que passei qual penitente,
Encontro na amizade o que mais quis.
Rompendo quaisquer elos da corrente
Que em lágrimas atadas, contradiz

Um mundo tão seguro em plena paz
Que a força da amizade já me traz.
Ao qual felicidade se oferece

Depois dos temporais e vendavais
Ao adentrar enfim, o porto e o cais,
A luz de uma amizade permanece


1084

A luz de uma amizade permanece
Depois do duro golpe, desengano
A senda de um carinho, logo tece
O canto que se mostra soberano,

Vivendo deste sonho, favorece
A quem percebe amor como seu plano
Expressa em alegrias sua prece
Fazendo o seu viver bem mais humano

Toando uma canção em toda parte,
Trazendo um bom calor, sempre reparte.
Retira do caminho espinho e entrave.

Vencendo as urzes todas nesta senda
Na sorte que o mistério se desvenda
Um passageiro segue nesta nave.




1085

Um passageiro segue nesta nave.
A Terra, que capota todo dia,
Buscando a liberdade invejando a ave
Distante de uma estrela feita guia,

Tropeça em suas pernas, duro entrave,
Não vê no próprio rosto a fantasia
Retirando dos olhos qualquer trave
Permite que se enxergue esta harmonia

De um tempo mais airoso e mais feliz,
Vivendo tão somente por um triz
Trazendo o passo manso, sem espinho.

Amiga em tuas mãos a solução
Mantendo a mesma rota e direção
Não deixe que se perca este caminho,



1086


Não deixe que se perca este caminho,
Na glória de poder se libertar,
Quem anda o tempo todo tão sozinho,
Talvez não possa nunca mais achar

Faltando proteção, e sem carinho
Difícil, com certeza navegar,
Porém se nos teus braços eu me aninho
Encontro o que cansei de procurar

Do amor que nos encontra em claridade,
Trazendo no seu bojo uma amizade
Eu vejo a vida em paz e sem problema

Mas quando estou distante de teus braços
Num trôpego destino, errantes passos,
Por vezes eu me encontro num dilema.


1087

Por vezes eu me encontro num dilema,
Sabendo que talvez não venha nada,
A vida não permite que outro lema
Transforme a direção da bela estrada,

Apenas resolver qualquer problema
Não traz a garantia que foi dada
Rompendo em calmaria a fria algema
Em mãos que se procuram, sempre atada;

De uma felicidade esplendorosa,
Que exige mão mais firme e caridosa
Minha alma se aproxima e não deserta.

Falando da tristeza em solidão
Que aflora vez em quando em nosso chão
Meu verso é tão somente um triste alerta,

1088

Meu verso é tão somente um triste alerta,
O mundo necessita da amizade,
Uma alma solitária já desperta
O vago de uma individualidade,

Porém se ela se encontra mais aberta
Recebe sem limites claridade
Os erros do caminho ela conserta
Traçando aos poucos paz e liberdade.

E alçando outro caminho brilhará,
E a todos com certeza, guiará
Segredos que conheço e concebi

Nos olhos deste Deus que é pleno amigo
Que há tempos eu procuro e até persigo
Falando em amizade chego a Ti


1089

Falando em amizade chego a Ti
Senhor dos meus caminhos, Deus amado.
Com alegria enorme eu percebi
Que estavas, companheiro do meu lado,

Na luz de uma esperança, eu vim aqui
Dizer do sentimento mais sagrado
Trazendo esta esperança que vivi
No encanto a cada dia abençoado

Deixado pelo Pai pra quem quisesse,
Um ato de real, divina prece
Trazendo à nossa vida com louvor

O encanto mais sublime em liberdade
Mostrando um novo mundo em amizade
Exemplo mais perfeito feito amor



1090


Exemplo mais perfeito feito amor
Precisa na verdade do perdão,
Um novo mundo veio nos propor,
Aonde já reinasse o coração.

Assassinado e morto sem pudor,
Deixou pra quem ouvisse esta lição,
Trazendo uma esperança a recompor
História que se perde em negação

De que é possível ter felicidade,
Vivendo em sua glória, uma amizade
É tudo o que deveras se pressente.

As sombras doloridas que carrego
A história que se fez em cunho cego
no tempo que passou inda se sente



1091

no tempo que passou inda se sente
que a maioria ainda se maltrata
Matando seu irmão tão cruelmente,
E destruindo em fogo, toda a mata,

Do Deus que se fez homem/penitente,
Lembrança que restou já não retrata
O quanto que se deu eternamente
E apenas amizade inda resgata

Sentido que Ele deu à liberdade,
A verdadeira solidariedade.
Da qual em verdade eu não desisto

Lutando sem temores nem descanso
Buscando ao fim da vida algum remanso.
Desculpe companheiro se inda insisto

1092

Desculpe companheiro se inda insisto,
Falando deste peso feito cruz,
Eu na verdade tento, e assim resisto,
Mostrando este caminho pleno em luz,

Dizendo deste irmão, querido Cristo,
Aquele que chamaram de Jesus,
Por quem em desamor foi tão malquisto
E ainda depois disso me conduz

Marcado pelas chagas da vingança,
Trazendo para todos, esperança!
Fazendo da amizade o maior pleito

Em voz tão mansa a todos Ele disse
A vida sem amor, leda tolice.
Felicidade plena é um direito


1093

Trazendo a paz sincera que eu desejo
O tempo de viver felicidade
Bebendo mais um pouco do desejo
Num ato em desacato, liberdade.

Amor que na berlinda encontra fresta
Do quanto que se fez quer sempre mais.
Apenas alegria é o que me resta
Na festa em que se gesta o porto, o cais.

A sorte é melindrosa; disso eu sei.
Ceifeiro que se fez um sonhador.
Em todos os cenários vasculhei,
Decerto nunca fui um bom ator.

Nas cores, aquarelas, que se pinte
Viver sem se entregar é um acinte!

1094

Viver sem se entregar é um acinte
Não poupe o bem querer e venha inteiro.
Do amor; eu na verdade qual pedinte
Aguardo como esmola, qualquer cheiro

Que venha da morena ao fim da tarde
Convite ao qual não posso recusar,
Sem guerras, sem barulho e sem alarde
Chegando mansamente, devagar.

Roçando pele a pele, boca a boca,
Barganhas entre danças sensuais.
Adoça com loucura qualquer toca
E pede, novamente muito mais.

Estrelas passeando pelo céu
Descerram constelares, cada véu...

1095


Descerram constelares, cada véu
Os astros que invejosos tanto admiram
Um bardo sonhador, um menestrel
Na lira usando versos que te miram

E falam da beleza sem igual,
Divina perfeição em brônzea tez
Na terra descoberta por Cabral
O porto mais seguro? Insensatez...

Desvendo tuas trilhas, bandeirante
E vejo um Eldorado ao meu dispor.
A fonte que se entrega, deslumbrante
Já tem no meu prazer, seu tradutor.

O nó que nos uniu; se corrediço
Não nega nem impede o belo viço.


1096


Não nega nem impede o belo viço
A primavera eterna que nos toma.
O quanto do prazer inda cobiço,
Permite o renascer mago do estroma.

Esfacelado o sonho de quem sofre
O desamor inerte e sem motivos,
Já tendo da emoção a chave e o cofre
Mantendo nossos sonhos sempre vivos

Descrevo com serena mansidão
O sentimento amigo e relevante
Que toma sem licença o coração
Nos olhos da morena provocante.

Mendigo deste olhar, eu quero bis,
Podendo declarar: enfim, feliz!

1097

Podendo declarar: enfim, feliz
Meu verso faz a festa e te conclama,
Deixando no passado este céu gris,
À dança em que se entrega a nova trama.

Eu sei que tantas vezes fomos tolos,
E nisso não deixo surpreender
Pelas sementes podres de outros solos
Cevadas sem desejo e sem prazer.

É claro que talvez ainda venha
A noite costumeira e nebulosa
Após nossa paixão queimar a lenha
Sendo a sorte assim, sempre caprichosa.

Mas saiba que decerto já valeu
O amor que quem encontra se perdeu...


1098


O amor que quem encontra se perdeu
Durante as loucas tramas da paixão
Que ao mesmo tempo mostra quanto teu
Deveras deve ser meu coração

Enquanto se entregando e nada tendo
Em troca, meu amor se faz sombrio,
Mas logo que percebo; enfim me rendo
Às chamas que renegam fome e frio.

Estrelas ouvirei, esteja certa,
Pois delas o reflexo sobre o quarto
Atravessando a janela agora aberta,
Expressa uma esperança, quase um parto.

Invade-me a certeza sempre de
Viver com plenitude, a claridade.


1099




Viver com plenitude, a claridade
De um sol que sempre mostra ser possível
O brilho sem igual. Não se retarde
Que o dia do teu lado é sempre incrível.

Ao desodorizar minha alma neste
Jardim de inesquecível perfeição,
Percebo quanto amor já nos reveste
Na mais sublime forma de expressão.

Aceite essas palavras muitas vezes
Escritas com a força do desejo
De ter o quanto quis, decerto há meses,
E agora bem mais próximo, aqui, vejo.

No par que nós fazemos noite afora
A liberdade em paz, cedo se aflora...


1100

A liberdade em paz, cedo se aflora
Nos olhos da morena que ao saber
Que eu quero vem chegando sem demora
Trazendo este delírio: o bem querer.

Na porta de chegada desta casa
Porteira sempre aberta da esperança
Dizendo que a vontade não se atrasa
Quando se perpetra em confiança.

É. Por vezes a estrada se interdita
Nos engarrafamentos da tristeza
Audaciosa chaga tão maldita
Estampada na fome sobre a mesa

Vazia, sem sequer uma iguaria.
Repasto que tu trazes: poesia...


1101


Repasto que tu trazes: poesia,
Banquete para os olhos com certeza.
O quanto cada sonho propicia
Atravessando a noite com destreza.

É certo que talvez ainda se possa
Falar de algumas nuvens em momentos
Aonde a fantasia vira troça
Em versos menos nobres, violentos.

Com toda pompa, expondo tanta fleuma
Que dissemine a paz, tranqüilidade,
Distante de qualquer luta ou celeuma,
Entendo a tão provável liberdade

Cadeiras espalhadas nas calçadas
Do tempo que se foi pra não voltar,
Estrelas em cantigas espalhadas
No chão acompanhando o bel luar,

Que ao furar com beleza o nosso zinco
Adentra o nosso peito já sem trinco...


1102



Adentra o nosso peito já sem trinco
Quarando uma esperança no varal
Do tempo em que se fez com todo afinco,
O sonho com certeza, magistral.

Metáforas à parte, eu sei o quanto
É necessário o sonho. Refazendo
O caminho que entranha pelo encanto
Da vida noutra vida se perdendo,

Eu posso perceber o quanto é belo
O sol que em nosso peito faz morada.
O corcel da alegria, quando selo,
Ao céu vai se elevando. Imensa estrada.

Imerso nos meus próprios sentimentos,
Expresso a força intensa destes ventos...


1103


Expresso a força intensa destes ventos
Em cada verso em que tento te falar
Traduzindo em palavras, pensamentos
Aonde possa amor desembocar.

Falar de tanto amor, sei que é tolice
De um pobre viajante em noite imensa.
Porém além de tudo o que eu te disse
Aqui. Vou procurando a recompensa.

Se o rio ao desaguar num oceano
Permite que se adoce tanto sal
Assim também o amargo e desumano
Sentimento se torna mais frugal.

A voz na qual meu sonho já se expressa
Ecoa pelos astros, mas sem pressa...

1104

Ecoa pelos astros, mas sem pressa
A verdade inegável e irrefutável
Sobretudo, na qual já se confessa
Um gozo outrora frágil e improvável.

Eu sei que; muitas vezes, eu menti
Ao falar sobre coisas que não sei.
Se em tantos descaminhos me perdi
Da rota, eu percebi a nova lei.

Estampada, em meu rosto, esta certeza
Buscada em arredios arrebóis,
Ao ver tua presença, com surpresa,
Deitada em minha cama, meus lençóis;

Sem titubear falo em destemor.
A verdadeira força vem do amor.

1105


A verdadeira força vem do amor!
Não tenho mais qualquer dúvida disso.
Se eu fui; em tua vida, um beija-flor
Refaço a cada beijo o compromisso.

No viço que se empresta à flor de lis
Plantada nos canteiros da esperança
Um velho jardineiro, este aprendiz
Retorna aos tempos belos de criança.

Amor, meu analgésico perfeito,
Na cura em que se dá o sofrimento
Estende os seus varais dentro do peito
Queimando em febre expressa o seu intento.

Dos erros, aprendi, eu te garanto,
Do amor, a mola mestra, luz e encanto...

1106


Do amor, a mola mestra, luz e encanto
Espalhados pela terra em noite mansa,
No quanto eu desejei já sem espanto
Permite imensidão na qual se lança.

É claro que um disfarce cai tão bem
Em momentos difíceis, eu não nego,
Mas sem esta presença, certo alguém
Caminha pela vida, amargo e cego.

A música que escuto; uma balada,
Falando dos amores impossíveis,
Paixão que é tantas vezes maltratada
Sob olhos bem mais duros, impassíveis,

Diversa do que canta o realejo,
Trazendo a paz sincera que eu desejo.


1107



Manhã vai renascendo em claro brilho
Testemunhando assim rara beleza
Na qual ao se entranhar esse andarilho
Encontra uma alegria, com surpresa.

A presa predileta da saudade
Que fora eterna caça, se liberta
Ao perceber a imensa claridade
Nesta manhã, divina descoberta.

Um menino vadio abrindo a porta
Do peito permitindo que se veja
A luz ressuscitando a quase morta
Esperança. Um sorriso se deseja.

Nos cabarés dos sonhos, um bolero
Traduz o que eu pretendo; o que mais quero...


1108


Traduz o que eu pretendo; o que mais quero
Depois de ter vencido as tempestades
Corriqueiras nas quais me degenero
Deixando em cicatrizes as saudades;

Esperança caminha em corda bamba
Nos espetáculos da vida. Nada
Do que fomos retorna. Já descamba
Entornando o farnel na longa estrada.

As lágrimas; coleto pelas curvas
Em capotagens tantas e freqüentes
Após as ventanias, várias chuvas.
Arrasto noite afora estas correntes.

Em noites tão ardentes e febris
Do amor eternamente um aprendiz.


1109

Do amor eternamente um aprendiz
Às vezes inda tenta algum remédio
Que possa permitir sem cicatriz
A vida sem rancores e sem tédio

Na cruz que inda carrego; os maus sinais
Prenunciando um dia tão nublado.
Mesmo que venham refletindo os ais;
Temporais. Sempre caminhei ao lado.

Sem novidades, a mentira basta
Alucinantes pesadelos voltam,
Do quanto fui; nesta diversa casta
As vagas e ondas, loucas, se revoltam

E no preciso instante sigo só
A vida agora retornando ao pó.


1110


A vida agora retornando ao pó
Ao demonstrar felicidade tinge
Meus olhos tristes sem perdão ou dó
Na solução que me propõe a esfinge.

Descendo uma ladeira sem frenagem
Encontro a capotagem como sina.
Ao perpetrar em sonhos tal viagem
Na curva amor derrapa e me alucina.

Partilhas enganosas se fizeram
Entre os mais corriqueiros sentimentos.
Apenas os meus olhos estiveram
Alertas. Recebendo em troco os ventos.

Analgesia às vezes enganosa
Demonstra a luz audaz e caprichosa.


1111


Demonstra a luz audaz e caprichosa
Espelho que inda teimo em carregar
Mesmo sabendo ser dispendiosa
A tralha dessa vida. Bar em bar...

Falar que na sarjeta encontro a paz
Talvez seja uma forma muito estúpida
De tentar enganar. Não sou capaz...
Amor se faz vontade voraz, cúpida.

Ao percorrer espaços sigo sem
Astrolábios, vagando em mar às vezes
Tempestuosos. Mesmo que inda alguém
Demonstre ser possível sem reveses...

Nos bastidores vejo a fantasia
Usada em noites falsas, de alegria...


1112

Usada em noites falsas, de alegria
Enganosa, sem nexo ou precisão
Esta fantasmagórica roupagem
Vendida nas quermesses da ilusão.

Bisando os velhos erros, sem encantos,
Estendo os meus olhos na procura
Por quem há tempos sigo pelos cantos
De minha alma, buscando paz e cura.

Ao nada ver, de novo eu me recolho
À insignificância costumeira.
Espelho refletindo este mesmo olho
Expresso no vazio, paz ligeira...

Operários e mestres pedem obras
Contento-me afinal, com suas sobras...

1113


Contento-me afinal, com suas sobras.
Por vezes eu tentei ter algo além
Calcando da esperança as suas dobras,
Mas nada veio e fico sem ninguém.

Os maremotos voltam, recomeçam,
Abalando demais esta estrutura.
Da escada as ilusões, quando tropeçam;
Em múltiplos pedaços, vã tortura.

Ruptura do que fomos e não veio
Nem mesmo pra poder nos redimir.
Reflexo desta angústia, o meu receio,
Por vezes inda volta a repetir

Os meus pecados. Tantos que não sei
Se ainda me iludir eu poderei...

1114


Se ainda me iludir eu poderei,
Pergunta que não cala e se repete
Nestas encruzilhadas que passei.
A sorte se comporta qual pivete!

Piquetes que fizemos, greves, guizos,
Granizos espalhados no meu peito
Atrás de outros momentos mais precisos
Não pude ter meu sonho satisfeito.

O amor sem paradeiro, o vento frágil
Levou para distantes cercanias.
O saldo que restou, queda e naufrágio
Sufrágio em que se foram alegrias.

O quanto representa o picadeiro
Demonstra o nosso caso por inteiro...

1115

Demonstra o nosso caso por inteiro,
As tantas tempestades que tivemos,
Inúteis totalmente. Eu me esgueiro,
Fugindo do reflexo em que nos vemos.

Dos píncaros ao solo. Simplesmente
Um retrato fiel do que nós somos.
Levados pelas mãos dessa corrente
Perdemos destes frutos sumo e gomos.

Os gnomos que protegem tal tesouro,
O amor, já sabem disso. Em zombaria
Permitem a visão do ancoradouro,
Que apenas em miragem, inda eu via.

Gargalhadas, mentiras, tanto engano.
Amor, bicho matreiro, algoz insano...

1116

Amor, bicho matreiro, algoz insano
Que não respeita o sonho de ninguém.
Entrando tantas vezes pelo cano
Espero no final o que não vem.

Se é tétrico o meu verso, e sem sentido,
Talvez o melhor mesmo; é me calar.
Mas digo, repetindo, não duvido
Que amor ainda possa ser meu par...

Sorrisos na platéia- eis a comédia.
Sem Bravos, sem louvores sem aplauso
Nas filigranas tolas da tragédia
Tentando disfarçar por vezes pauso.

Porém uma esperança é mais arguta
Fingindo-se feroz, foge da luta...


1117


Fingindo-se feroz, foge da luta
Que sempre recomeça dia a dia
A moça que se deu em força bruta
Estende sua mão audaz e fria.

Comedidas palavras, vou sozinho
Buscando o que não tive nem terei.
Às expensas do sonho; amargo vinho,
A sorte num momento avinagrei.

Nas greis que foram minhas tão somente
Encontro o que não quis. Velhacaria.
Da podre sensação de vil semente
Apenas a mentira eu colheria.

Colheres e talheres sobre a mesa,
Repasto que se faz; lauta tristeza...


1118


Repasto que se faz; lauta tristeza.
Irônicas palavras vão ao vento
Deixando como marca uma incerteza,
Aprofundando a dor e o sofrimento.

Armado de coragem, mas sem dentes,
A fera não terá bom resultado.
Estrelas coletadas são pingentes
O prédio da esperança desabado.

Mordendo o próprio rabo, uma saudade,
Abraça num carinho de jibóia
Fazendo em asfixia e falsidade
A sua mais audaz, cruel tramóia.

Deixando estas metáforas pra trás;
A vida não terá juízo e paz...

1119


A vida não terá juízo e paz
Senão para quem sabe do gargalo
Que afunilando os sonhos sempre traz
A morte e a solidão como regalo.

Ao cochilar se esquece da tocaia
Armada em arapuca pelo amor.
Por mais que uma esperança sempre traia
A tralha da ilusão do sonhador,

Eu teimo, inda persisto e quero briga
Se alguém fala da dor como destino.
Teimosamente o peito quer e abriga
O que restou nos olhos do menino.

No sorriso materno o velho apoio
A lágrima da ausência, em trigo é joio...

1120


A lágrima da ausência, em trigo é joio,
Somente o tempo irá poder dizer
Se é válido seguir este comboio
Que busca, insanamente por prazer.

Bem me quer, mal me quer, de que isso vale
Se no final da história eu vou sozinho?
Montanha valoriza qualquer vale
Assim, como na rosa, cor e espinho.

Mas deixa isso pra lá, venha comigo
Que o tempo sempre passa e não demora,
Escute e não releve o que eu te digo
Tudo na vida sempre tem sua hora.

Depois da tempestade: este estribilho:
Manhã vai renascendo em claro brilho.


1121


No amor, doce refrão, belo estribilho;
Um rei anunciado demonstrou
Que assim se faz perfeito e belo trilho
De tanto que ao amor se dedicou.

O nascimento pobre do menino
Herdeiro de um reinado tão submisso
Profética palavra do destino
Libertação, decerto o compromisso.

A vinda para as tribos de Judá
Representando enfim a redenção,
Porém a sua estrela brilhará
Tomando a mais diversa direção.

Filho adotivo em lar abençoado
Perfaz do amor intenso o seu legado...

1121


A vida em mansidão; assim prevejo.
Pensara ser possível esta mentira.
Agora em agonia o meu desejo
Esgarçado se perde em cada tira.

Muitas vezes pensei que a vida fosse
Simplesmente um suave caminhar.
Às vezes meio amaro, meio doce
Mas nada que pudesse me espantar.

Ah! Como um idiota eu não sabia
Das intrigas sutis e descabidas
Que fazem ser fatal a fantasia
Ao fechar as porteiras, sem saídas...

Em meio aos mais diversos burburinhos
Antíteses espalho em meus caminhos...


1122

Antíteses espalho em meus caminhos
Muitas vezes fatais incongruências
Misturando torturas e carinhos
Traduzem nestas somas, as demências.

Estapafúrdio verso que eu te fiz
Falava da total insanidade
Expressada no quanto fui feliz
E agora não herdei sequer saudade.

Ouvindo estas estrelas de Bilac
Apenas refletindo o sentimento
Que agora percebi que borrará
Meu céu em nuvem, raio e forte vento

Se eu tento ou se não tento não detenho,
Detento deste sonho que inda tenho...


1123


Detento deste sonho que inda tenho
Teimosamente eu sigo sem ter lastro.
Voltando novamente de onde eu venho
Uma esperança inerte agora eu castro.

No basta que hoje eu dei às ilusões,
Um ato de coragem, finalmente.
Fechando com firmeza estes portões
Eu sinto na verdade que sou gente.

Não quero carregar pesada cruz
Jogada em minhas costas pela vida.
Desgaste que se deu em sangue e pus
Aumentando deveras a ferida.

Numa ácida palavra eu te repito
Não quero esta mortalha como rito...

1124


Não quero esta mortalha como rito
E faço de meus versos um emblema.
Cansado de viver neste conflito
Prefiro que se rompa tal algema.

Se mesmo assim tristeza não der tréguas
Desisto e tão somente vou embora.
Por mais que inda caminhe por mil léguas
Não quero solidão, nem mesmo agora.

De que adianta ter tanta vontade
Se o tempo em tempestade nunca muda.
Viver o que me resta em liberdade
Apenas da emoção alguma ajuda

Sem ter as ilusões tão mercenárias,
As dores serão sempre temporárias...


1125


As dores serão sempre temporárias
No dia em que sonhar seja possível.
As marcas que carrego; temerárias,
Expressam o momento mais temível.

Factível de mentiras enganosas,
Amor é quase a sombra desumana
Aonde se negando jardim, rosas,
A solidão deveras desengana.

Se é fúnebre o destino que hoje trago
Nas mãos. Apenas posso te dizer
Que vale, mesmo, assim, qualquer afago,
Uma demonstração de bem querer.

Ao abrir qualquer fresta no meu peito,
Eu já me dou enfim, por satisfeito...

1126


Eu já me dou enfim, por satisfeito
Se eu vejo ainda, amor, alguma chance
De ter sempre comigo e do meu jeito
Resquício do que seja um bom romance.

No alcance dos meus olhas nada via
Somente escuridão tão costumeira.
Porém o coração em poesia
Entende que ilusão é passageira

E faz desta emoção sua cangalha
Carregando nas cores em que pinta
A tela em que esperança já se espalha
Trazendo o verde intenso como tinta.

No aboio lamentoso, o meu refrão
A forma mais freqüente de expressão...


1127

A forma mais freqüente de expressão
Calando a força intensa da labuta,
Mudando de papel e opinião
Por vezes minha voz já não se escuta.

Do fardo carregado qual troféu
As marcas entranhadas, tão profundas,
Por mais que isso pareça ser cruel
Não quero que com mágoas tu confundas.

Eu sei que prosseguindo sempre aquém
Do que eu queria, eu vivo consolado.
Mas quando ao pressentir cheiro de alguém
Que venha e sempre esteja do meu lado

Ilusão imbecil repete a cena,
A solidão irônica me acena...

1128

A solidão irônica me acena
Falando da fazenda que não tive
Cumprindo em minha vida antiga pena
No karma que me doma e sobrevive.

Alívios vez em quando nos marotos
Beijos roubados, loucas heresias...
Os trajes da esperança expostos, rotos
Expressam realidade. Alegorias...

Seriam proveitosos os meus versos
Se ainda propusessem a saída.
Mal qual! Vivendo dias mais perversos
Expresso num poema a despedida...

Ao largo deste sonho, amargos goles
Não quero, até te impeço que consoles...

1129


Não quero, até te impeço que consoles.
Errei! E ao assumir minhas bobagens
Permito que tu digas onde boles
Abrindo das feridas, suas margens.

Não creio ser venal o sentimento
Que diz da mais perfeita realidade.
Aborto que se fez neste rebento
Demonstração fiel da falsidade.

A mocidade expõe os seus defeitos
Mudando muitas vezes de atitude.
Depois ao descansarmos, nossos leitos
Revolvem o que fora juventude.

No choro abençoado de quem luta,
Às vezes ironia é mais astuta...

1130

Às vezes ironia é mais astuta
E faz da poesia o que bem quer.
A mão que tantas vezes se faz bruta
Acaricia o corpo da mulher...

Melífero poema tanto em voga
Em togas e reais magistraturas,
A lei em que se impera, não revoga
Em faces tresloucadas, caraduras.

Estruturas diversas desabando
Nas mãos desta arquiteta irresponsável.
O cálice da sorte se quebrando
Uma ilusão jamais é dispensável.

Intransponível ponte da esperança
De tanto que se esconde já me cansa...

1131


De tanto que se esconde já me cansa
O jogo de prazer que quer revide.
Trapaça em que se faz qualquer lambança
Não há mais quem conteste ou quem duvide.

Incide sobre nós a luz tão frágil
De um vaga-lume sonho, noite afora.
Ao mesmo tempo a dor, deveras ágil
A cada esquina salta e comemora.

Memória se perdendo com os anos
Remodelando a face da saudade.
Se eu mudo, de repente velhos planos
A vida me retorna à realidade...

Na boca desdentada, olhos frios,
Meus versos são senis, ermos, vazios...


1132


Meus versos são senis, ermos, vazios.
Traduzem a amargura insuperável.
Os passos que se dão sempre sombrios
Demonstram este câncer intratável.

Se eu faço com sarcasmo, a poesia,
Permito que tu venhas com mil pedras.
Enquanto a noite segue vaga e fria
Eu sei que no final das contas, medras.

As perdas que acumulo pela vida
Demonstram quantas vezes negação
Foi a resposta dada em despedida,
Jogando o meu castelo, cedo ao chão.

E sempre renascendo, sobrevivo,
Algemas sempre abertas, mas cativo...

1133

Algemas sempre abertas, mas cativo
Não quero mais fugir, sou teu escravo.
Enquanto em esperanças estou vivo
Meus olhos em teus olhos quero e lavo.

Agravos são constantes, não os nego
Apenas os carrego qual troféu.
Não tendo na verdade, algum apego,
Liberto sem limites, terra e céu.

Mas masco quanto tento algum escape,
Traquejos repetidos forma vício.
Na mão mesmo que traga algum tacape
Mapeio com olhar, meu precipício.

Fictício caminhar sem ter destino,
Aos poucos, suicídio eu determino...

1134

Aos poucos, suicídio eu determino
Depois desse cansaço que me pesa
Não é somente um gesto em desatino
A lida já se deu sem ter defesa.

Se um dia a poesia me tocasse
Além da fantasia sempre fútil,
A sorte mostraria em outra face
Que posso, finalmente ser mais útil.

Velhice tem seus contras, mas tem prós
E deles faço a minha resistência.
Do quanto a juventude foi atroz
Em paz senilidade traz clemência.

Após o temporal cruel ensejo,
A vida em mansidão; assim prevejo.





1135

No amor, doce refrão, belo estribilho;
Um rei anunciado demonstrou
Que assim se faz perfeito e belo trilho
De tanto que ao amor se dedicou.

O nascimento pobre do menino
Herdeiro de um reinado tão submisso
Profética palavra do destino
Libertação, decerto o compromisso.

A vinda para as tribos de Judá
Representando enfim a redenção,
Porém a sua estrela brilhará
Tomando a mais diversa direção.

Filho adotivo em lar abençoado
Perfaz do amor intenso o seu legado...

1136


Perfaz do amor intenso o seu legado
O carpinteiro, herdeiro de Davi,
Abrindo mão assim, de seu reinado
Percebe que bem mais havia ali

Aos sacerdotes trouxe em sapiência
Além do que julgaram ser possível.
Vibrando em sua voz farta clemência
Tornando amor um sonho divisível.

Deixando sua casa qual mendigo
Partiu numa viagem sem retorno.
Seu brado libertário e tão amigo
Contagiando tudo que há em torno.

A opção pelos mais pobres que ele fez
Aos olhos do poder: insensatez...


1137

Aos olhos do poder: insensatez
Falar de uma igualdade libertária
Do quanto se mostrando em altivez
A face desta gente audaz, sectária.

Andando pelas ruas, vai o rei
Exposto entre seus súditos mais pobres
No amor e no perdão a nova lei
Assustando decerto aqueles nobres.

Do vinho feito sangue, corpo em pão
Nos braços mais humildes de seu povo,
Abrindo com ternura o coração,
trazendo para todos, mundo novo.

Falando com parábolas, dizia
Do supremo poder de uma alegria.

1138



Do supremo poder de uma alegria
Festejos pela vida? Necessários.
No Deus que é feito amor já se recria
Momento mais sublime em lumes vários.

Andando nos bordéis, ruas vielas,
Distante dos palácios, das Igrejas,
Ao pensamento cede novas velas
Esperanças espalha; tão sobejas...

Mostrando em voz tão mansa o bom caminho
Que trama sem tropeço, o paraíso.
Ungindo com seu sangue feito em vinho
Trazendo em placidez calmo sorriso.

Lá vai este judeu um rei de fato,
De um Deus em perfeição, fiel retrato...


1139


De um Deus em perfeição, fiel retrato,
O filho de José da Galiléia,
Supera em calmaria, o desacato,
Expressa em pleno amor, a panacéia.

Da redenção de um povo em profecia
O verbo que se fez, foi muito além,
Enquanto em mansidão, tantos ungia
Para outros, decepção, deveras tem.

Milagres? Se ele fez não interessa.
Em palavras tão simples proferidas
Além do que se fora uma promessa
De todas as algemas, as saídas...

Aos poucos se espalhando a sua fama,
Ardil mais tenebroso, o poder trama...


1140



Ardil mais tenebroso, o poder trama
E as águias rapineiras numa espreita
Ao ver a poderosa e clara chama
Que sobre este deserto já se deita,

Aos poucos imbuídas de vingança
Preparam armadilha mais infame.
Escravo faz com amo uma aliança
E traz em agonia o seu ditame.

Cordeiro em sacrifício ao qual se deu
Numa barganha imunda foi vendido.
Do rei anunciado, este judeu
Num inimigo público vertido.

Por trinta dinheiros, traição.
Seria hoje, talvez, liquidação...

1141

Seria hoje, talvez, liquidação
Na porta das igrejas, nos altares
Aquele que pregava amor, perdão,
Entregue aos mais profanos lupanares.

O rei que dentre todos escolheu
Apenas miseráveis como amigos,
E nisso e só por isso se perdeu
Agora em vis irmãos, seus inimigos.

Areia que é vendida, uma água benta
Ofertas são pedidas por “milagres”
Que a corja sem limites tanto inventa
Mudando os vinhos todos em vinagres.

A mão que em ira santa se mostrou
Jamais tal farta incúria adivinhou...

1142


Jamais tal farta incúria adivinhou
Aquele que se deu em sacrifício
O corpo que o judeu crucificou
Agora por ganância em outro ofício.

Arrecadando assim, a dinheirama
Que entope os palacetes da canalha.
Nos bicos dos abutres se derrama
Fortuna descabida que amealha.

Nas músicas, batalha inconcebível
Onde amor raramente é declarado,
Numa cruzada insana, torta incrível
Eu vejo este judeu amortalhado.

Guerreiros de Jesus? Ah! Vão pro inferno!
O que ele nos mostrou? Perdão eterno!

1143

O que ele nos mostrou? Perdão eterno!
Amor sem ter fronteiras nem limites.
Verão que apascentando o frio inverno.
É nisso que ora peço que acredites.

Não banalize assim o ser supremo,
Não é um vil guerreiro. Estupidez!
Um ser ao qual eu amo, mas não temo
O resto? A mais completa insensatez!

Nas bancas de revista ou livrarias,
Encontrarás os discos mais recentes.
Cuidado com as vis piratarias
Percentagens revelam povos crentes.

A Bíblia que eu te vendo, a mais bonita,
De brinde levarás, da sorte, a fita!



1144

De brinde levarás, da sorte, a fita
Abençoada pelo Padre Bento
Garante a proteção quase infinita
Protege contra o raio e cessa o vento.

Se não tiver ainda satisfeito,
Eu tenho a medalhinha corta nós,
Encara um mau olhado, dando um jeito;
Redime o sofrimento, os nossos pós.

Na procissão dos santos milagreiros
A cura vem em gotas ou de enchente
Depende só da fé destes romeiros
Nos olhos imbecis de um penitente.

Também se tu quiseres muita grana,
A mão do salvador jamais engana.


1145

A mão do salvador jamais engana
Aquele que conhece o seu poder.
A mansidão se mostra soberana
E nela a salvação eu posso ver.

O peso que carregas; no perdão
Se mostra bem mais leve e mais suave.
O amor é verdadeira redenção,
Tirando quaisquer pesos que me entrave.

Os novos vendilhões colecionando
Canais de rádio, lotam as tevês
Agora não são poucos, vêm em bando
Comprando palacetes, como vês.

É duro perceber a hipocrisia,
No quanto é mais impune, mais vicia...

1146


No quanto é mais impune, mais vicia
Imensa ladroagem. Descarada.
Usar este cadáver? HERESIA
A boca do demônio escancarada

Aguarda depois disso, o seu banquete.
As carnes salientes dos pastores
Servindo de infernal, claro joguete.
O duro é agüentar podres odores!

Numa disputa assaz interessante
Qualquer discurso sempre vale à pena.
Barriga sensual de um elefante
Demonstra na verdade a crua cena.

Ovelha descuidada, num arroubo
Procura por pastor, encontra lobo...


1147

Procura por pastor, encontra lobo
Num disfarce venal, a boca aberta
Espreita tão gulosa, faz seu roubo,
Gritando num disfarce feito alerta.

O dízimo? Não basta. Quero mais
Eu quero estas ofertas benfazejas
Vencendo este diabo, o Satanás
Terás aqui comigo o que desejas

Porém, se não der certo, a culpa é tua.
Não tens a fé bastante para crer
Que a força de Jesus agora atua
É garantido, basta querer ver.

Curando até pereba de criança
Nos demônios que tens, farta matança!


1148


Nos demônios que tens, farta matança!
Amigo esqueça disso, vou ser claro
Aquele que nos deu tanta esperança
Aquele bom judeu, um deus preclaro

Falava bem mansinho e com clareza
Fazendo do perdão seu ponto forte,
Espalhando com brilho e sutileza
Cicatrizando em paz profundo corte.

Não creia nos diabos que te vendem,
Nem mesmo nos milagres “infalíveis”
As velas que decerto já se acendem
Escondem os desígnios mais terríveis.

E faça em calmaria o sacro trilho,
No amor, doce refrão, belo estribilho.

1149

A vida aproveitando o raro ensejo
Que é dado pelo sonho em noite mansa.
Ao ter felicidade ainda vejo
O quanto foi possível esperança.

Um dia que se emerge em calmaria
Depois da tempestade que assolou
Sem dar nenhum descanso medos cria,
Porém a fantasia iluminou...

Relembro o que passei longe de ti,
Vencido por saudade inusitada,
Agora que refaço o que vivi,
Minha alma atravessando a madrugada

Permite que se raie um novo sol,
Trazendo a claridade ao arrebol.


1150


Trazendo a claridade ao arrebol
Os olhos de quem foi e agora volta
Qual fora em minha vida um bom farol
Contendo no meu peito uma revolta

Há tempos preparada por vingança.
Jagunço coração percorre trilhas
Aonde a sorte vaga não alcança
Distante da alegria, léguas, milhas.

Um lobo de tocaia não desvia
O olhar, compenetrado aguarda a presa.
O bote, num instante propicia
Banquete que trará bem farta a mesa.

Um prato que se come sempre frio,
Inverno que se fez em pleno estio...


1151


Inverno que se fez em pleno estio
Nevando dentro da alma já me impede
De prosseguir. Meu passo qual vadio
Em meio às ilusões, reluta e cede.

Procuro o remetente da mensagem
Recebida durante o temporal.
Por mais que inda tentasse uma viagem
Que me trouxesse paz, vencendo o mal

Não pude nem tentar, houve o naufrágio
Aonde me perdi, sem ilha ou cais.
Amor na corda bamba por mais ágil
Que seja não domina os vendavais.

A queda em que se espera alguma vez
Permite que se tente um novo salto,
Mas quando insiste em nós a insensatez,
O muro já se torna, assim, mais alto.

E nada do que eu faça, pense ou diga
Refaz a quebradiça e frágil viga.


1152




Refaz a quebradiça e frágil viga
Que um dia se partira em mil pedaços
A força que se mostra enquanto abriga
Estreitando afinal, antigos laços.

À margem dos meus erros, inda tento
Vencer os medos todos, desengano...
Entregue aos dissabores deste vento
Destino vai traçando um novo plano

E mostra ao fim da tarde, a lua cheia,
Exemplo de real perenidade.
Meu pensamento então, solto, vagueia
Tentando vislumbrar tranqüilidade.

Irônico cenário. Em noite clara
Minha alma; escuridão, logo declara...

1153


Minha alma; escuridão, logo declara
Após as tentativas já frustradas
De ter em suas mãos a jóia rara
As esperanças foram maltratadas.

Cansado de ilusões, eu inda tento
Usar da fantasia mais sutil
Como um álibi. Nego o sentimento
E nada, simplesmente o que se viu.

Perdido nos teus braços – sonho breve,
Urgindo dentro em nós real encanto.
Porém a solidão audaz se atreve
Mudando assim o tom de nosso canto.

Quem sempre em tom maior tentou a vida,
Agora em mi menor, faz despedida...

1154


Agora em mi menor, faz despedida.
A noite que seria do meu bem
Depois da caminhada já perdida
Em negras trevas chega e quando vem

Deixando como um rastro este vazio,
Pernoita bem aqui, junto comigo.
Do quanto que não tenho o vago eu crio
Mudando noutra senda o que persigo.

Fiz dos meus sonhos rumo e fantasia,
Vadio pelas noites busco o gozo
Mas tendo tão somente a noite fria,
Meu verso se esvaindo, melindroso.

Perpetuamente eu sei que vou te amar.
Quem dera em primavera... amor, buscar.

1155



Quem dera em primavera... amor, buscar.
Eu vim aqui dizer dos meus intentos,
Vencer a fúria intensa deste mar
Bebendo o temporal exposto aos ventos.

Mas nada do que tive inda persiste
Sob os olhos sutis de um sonhador.
O verso que hoje faço, amargo e triste
Transmite tão somente medo e dor.

Não creio ser somente paranóia,
Tampouco vejo nisso, o meu final.
Amor que se mostrando como bóia
Acolhe qualquer novo ritual

Aonde eu possa ter alguma chance
Ao ver da fantasia outro nuance...

1156


Ao ver da fantasia outro nuance
Que possa traduzir uma esperança
Eu tento refazer nosso romance,
Facetas tão diversas da aliança

Na qual a tentativa, mesmo falha
Já pôde demonstrar alguma luz.
Embora em tuas mãos veja a mortalha
Uma ilusão audaz se reproduz.

Prenunciando um dia talvez claro,
As nuvens vão-se embora, resta azul
O céu aonde eu vejo o meu amparo,
As dores se arribando para o sul.

Na roda viva eu sinto que terei
Aquilo que, insensato, eu desejei...


1157

Aquilo que, insensato, eu desejei
Traduzido somente pelos versos
Aos quais a minha vida eu dediquei
Secando os afluentes mais perversos.

Mas nada do que tenho, eu te garanto
Foi feito em placidez. Tanta batalha...
Vencendo sem dar tréguas, desencanto,
Andando sobre o fio da navalha.

Por favor não evites meu amor,
É tudo o que restou, nada mais levo,
Perdoe se eu pareço um sonhador
Cativo deste sonho, simples servo,

Estendo o meu olhar ao infinito,
As lágrimas repetem velho rito...


1158


As lágrimas repetem velho rito
Enfumaçando os olhos de quem sonha.
Na busca por um dia mais bonito
Apenas novamente, a dor medonha...

Curvando pela estrada da ilusão
Capoto e não pressinto algum resgate.
Idade vai chegando, a solução
Distante, mas minha alma inda combate;

Coração, o idiota samurai
Sem armas faz da luta a sua glória.
A vida tantas vezes já me trai
Não resta nem sequer vaga memória

Dos dias em que tinha em mocidade
A força que virou mera saudade...


1159



A força que virou mera saudade
Depôs as suas armas, fortaleza.
Arvorando somente insanidade
Sem dentes esta fera virou presa.

É duro perceber que o tempo passa
E não deixa sequer uma ilusão.
Meus olhos embotados de fumaça
Confundem simpatia e sedução.

Apenas gargalhando em ironia
O corvo que traduz a juventude
Por sobre meu retrato repetia
Jamais retornarás, secou o açude...

E nesse crocitar tão repetido,
O sonho se esvaindo, vai perdido...


1160

O sonho se esvaindo, vai perdido
E nada do que fomos poderá
Trazer de volta à tona. Amanhecido
O dia que jamais retornará

Destôo deste cenário, olhos baços,
Já tive meus momentos, eu não nego.
Porém quando a velhice adentra os aços
Percebo que fui vão, inútil, cego...

Na face carcomida pelas rugas,
Mergulhos sem sentidos, inexatos
Perpetro de mim mesmo novas fugas
Que faço se estão secos, meus regatos?

Apenas permitir que a vida leve
Meu barco um cruzeiro atroz e breve...


1161

Meu barco um cruzeiro atroz e breve
Não vê mais qualquer cais que se apresente.
O verso mais teimoso inda se atreve,
Mas a neve derradeira é mais freqüente.

Arranco do meu peito uma esperança
De um dia novamente em riso farto.
A morte paulatina da criança
Adentra violenta, no meu quarto.

Sedento de mim mesmo mal percebo
Os dentes que perdi, cabelos brancos,
Da foto do que fomos inda bebo,
A vida segue em trancos e barrancos.

As ancas da morena? Quem me dera...
Inverno faz distante a primavera...


1162


Inverno faz distante a primavera
Quem sabe inda terei algum sorriso
Mesmo que enganoso da pantera
Expondo no final o paraíso.

Juízo coração, mas não tem jeito
Quem fora tão moleque no passado
Jamais se demonstrando satisfeito
Nunca se calará; repete o brado.

E vendo as coxas belas da mulata
Que passa em direção ao verde mar,
Requebros tão gentis. Laço reata
Permite que inda possa imaginar

Num último suspiro ainda vejo
A vida aproveitando o raro ensejo.


1163


Perfaz este caminho que hoje eu trilho
A mesma sensação do nada ter.
Expresso uma esperança em cada filho,
Diversa do que eu pude e soube ser.

As marcas deletérias do que fui
Não deixam sequer dúvidas, um zero.
Por vezes o passado ainda influi,
Porém a salvação, teimoso, espero.

Não tenho mais a força de encarar
A fera que resiste dentro em mim.
Percebo ser possível novo mar,
Meus pés estão cravados no jardim

Aonde os malmequeres tão daninhos
Insistem em florir meus descaminhos...

1164

Insistem em florir meus descaminhos
Deixando o que talvez fosse um momento
Maior feito em delírios e carinhos,
Mas sonegados, mudam seu intento

E fazem de um espinho minha herança.
Embebido num sonho, ainda me iludo
E tendo por mortalha esta esperança
Mergulho de cabeça e vou com tudo.

Às vezes me queria mais contido,
Porém em falsos lumes, me perdi.
Fantasia me pega distraído,
Transtorna, mas retorna e chega aqui.

Migalhas, na verdade, até aceito,
Mentindo pra mim mesmo, e satisfeito...


1165

Mentindo pra mim mesmo, e satisfeito,
Enganosos momentos usufruo
Com quem não disse nada, por despeito
Já me encaracolando ensaio um duo.

Atuo nos palanques imbecis
Falando de mim mesmo como fosse
Eterno enamorado. Mas que fiz
Senão em amarguras forjar doce.

Palhaço! Neste imenso picadeiro
Estendo as minhas mãos à fantasia.
Desnudando esta pele, vou inteiro
E tenho do que faço, uma alegria

Ao menos, enganando, faço rir,
Sem nada que inda possa me impedir...


1166


Sem nada que inda possa me impedir
Exponho os meus segredos, mas falseio
Escondo e até censuro, eu sei mentir,
Mas nada disso faço por receio.

Um tanto por bravata ou ironia,
Quem sabe inda terei um novo cais?
Partícipe da sonho que historia
O quanto desejei e nunca mais...

Matando o que se fez real espelho
Quebrando e lacerando a minha pele,
Ao ver o meu olhar, um simples velho
Que à morte, em ilusões, tanto repele.

Pois quando me retrato sou distinto
Daquele que disfarça, sempre minto...


1167

Daquele que disfarça, sempre minto
Não posso me mostrar, eis a verdade.
Bebendo da alegria um farto absinto
Inebriado vendo a falsidade.

Compre se quiser, mas que se dane!
Decerto não terás qualquer problema
E mesmo que este sonho tenha pane
É fácil se livrar de alguma algema.

Basta tão somente destruir
Os versos que te fiz em noite clara.
Decerto não irei mais te impedir
Já que realidade se declara

Mostrando o velho audaz e desdentado,
Com crueza serena retratado...


1168

Com crueza serena retratado
Meus signos são bem fáceis de entender.
Por vezes mesmo que esteja consternado
Ainda procurando algum prazer.

Refazendo meus passos pela casa
Eu vejo de mim mesmo em cada rastro
Que a vida ao me escutar sequer se atrasa
Meu barco já não tem âncora ou lastro.

Um mísero noctâmbulo que se esconde
Atrás de cada gole de cerveja
Decerto há tanto tempo perdeu bonde
Não tendo quase nada, inda deseja

Num único clarão algum resquício,
Impedindo, quem sabe, o precipício...


1169


Impedindo, quem sabe, o precipício
As mãos que se fizeram em bonança
No quanto é necessário como ofício
O ritual insano da esperança.

Metralho meus escombros pelas ruas,
Nas sombras do que tive inda me amparo.
Imagens de mulheres seminuas
O cão perdeu as garras, vai sem faro.

Macabros estilhaços me atingindo
Penetram minha pele, chegam fundo.
Do nada que carrego me tingindo
Aos poucos no vazio me aprofundo.

Segundos mais parecem horas, dias.
Esgarçam o que resta de alegrias...


1170


Esgarçam o que resta de alegrias
As mortalhas que sempre me acompanham,
Estrelas tão diversas, velhas guias
Sorrisos sem lamúria ainda apanham.

Mesclando dor e riso, sigo em frente
Embora o peso seja insuportável.
Por mais que uma ilusão deveras tente
Eu vejo o meu caminho palatável.

Querências mais diversas coleciono
E nelas retratado esse amor próprio
Capaz de se entregar ao abandono
Mesmo que pareça mais impróprio.

Num improvável canto, se eu me iludo,
Decerto, envergonhado, estarei mudo...


1171


Decerto, envergonhado, estarei mudo
Ao ver o meu retrato assim exposto.
Falsa impressão eu crio e mesmo ajudo
Mudando tantas vezes o meu rosto.

Não sou sequer poeta; quem me dera,
Nem menos sei cantar o que não tenho.
Um trovador nascido na tapera
Somente pode ter um duro cenho.

Sombrio pelas ruas e calçadas,
Caminho em solitário ritual.
Partidas e partilhas malfadadas
Repetem esta ronda sempre igual.

Seguindo meus princípios, não são poucos,
Meus passos são bem mansos, nunca loucos...


1172



Meus passos são bem mansos, nunca loucos;
De uma rotina sempre cansativa
Ouvidos quase inúteis, surdos, moucos,
Da temperança uma alma mais cativa.

Privado de esperanças doentias,
Tampouco tenho as ânsias propaladas
As noites vão sem brasa ou ardentias
Mas não ouso dizer que são geladas.

Apenas vou seguindo quase morno,
Estrelas nem percebo se há no céu.
Da luva dos meus sonhos, o contorno
Representando um verso solto ao léu.

Mas deixa isso pra lá, eu me apresento
Pacato cidadão em passo lento...


1173

Pacato cidadão em passo lento
Expondo as suas vísceras? Pra quê?
Por vezes fantasias que eu invento
Ilusões e mentiras. Ninguém crê!

Fogaréu se tornando leda brasa
Que nada mais acende e já se extingue.
O todo que não tive inda me embasa
Sem ter uma mentira que me vingue.

Dos pântanos um fátuo fogo surge
E mostra num segundo que eu fui.
Se eu corro é que o socorro não mais urge
E tudo o que criei agora rui.

Metaforicamente até me engano,
Um pária se imagina um soberano!

1174


Um pária se imagina um soberano!
Estupidez em forma tão diversa.
Falar de cada noite, em novo plano,
Não passa de lorota e de conversa.

Avesso às multidões, um eremita
Esconde-se dos olhos curiosos,
Somente se acuada, esta alma grita
Caprichos sempre tolos, melindrosos.

Quisera ter do lago a placidez
Eterna sem distúrbio ou explosões.
Calando a minha voz, por sua vez
Omito e não emito opiniões.

Bebendo a vida assim, vou gole em gole,
Sabendo que o vazio já me engole...


1175

Sabendo que o vazio já me engole
Eu deixo-me levar pelo fastio.
Não faço na verdade, corpo mole
Apenas vou vivendo no que crio.

Castelos idiotas sem princesas,
Quimeras que gerei, são meu retrato.
Os dentes não suportam fartas mesas,
Só resta a sopa amarga no meu prato.

Preciso procurar algum protético
Que dê uma esperança feita em pão.
No plano tantas vezes hipotético
Rastejo mansamente ao rés do chão.

Cigarro que eu devoro por inteiro,
Expressão mais fiel de um companheiro...


1176


Expressão mais fiel de um companheiro
O lobo solitário não conhece.
Sentindo da matilha rastro e cheiro
Nem mesmo aos seus instintos obedece.

Aguardo a minha morte calmamente,
A redenção final que procurava.
Por mais que algumas vezes inda tente
Percebo nos meus pés grilhões e trava.

No ofício em que me entrego, mal disfarço
O quanto que não tive e nem terei.
O riso se tornando mais esparso,
Em raridade imensa, desprezei.

Coração esgarçado, um andarilho,
Perfaz este caminho que hoje eu trilho.


1177

E nele toda a glória que eu almejo,
Amor que sempre trouxe em voz tão mansa
Além de simplesmente algum desejo
Espalhando entre nós, doce esperança.

Tantas vezes pensara desse jeito,
E sorria sem nada perceber
Estando plenamente satisfeito
Entregue às maravilhas do prazer.

Porém eu não sabia que depois
De toda essa bonança a chuva forte
Caindo ininterrupta sobre os dois
Causasse o mais temido e duro corte

Nefasta sensação de um frio aborto
Negando ancoradouro, esconde o porto...

1178

Negando ancoradouro, esconde o porto
Deixando os barcos todos à deriva
É como se estivesse em vida morto
Embora em teimosia, eu sobreviva.

Por mais que me revolte em sedição
Eu sei que nada disso valerá.
Eu sei que condenado à solidão,
O nada que ontem tive, terei lá.

Entregue aos pensamentos inda tento
Alguma solução, um ledo engano.
Algemas que carrego em sofrimento
Não deixam que eu encete um novo plano.

Assim, um contumaz sobrevivente
Começa a ladainha novamente...

1179

Começa a ladainha novamente
O coração que é feito insensatez;
Por mais que em solidão é penitente
Nos braços da ilusão ele se fez.

Neste redemoinho interminável,
Os temporais não deixam mais espaço
Tornando a calmaria inalcançável,
Porém teimosamente eu me refaço

E volto sempre à mesma cantilena
Num recomeço audaz que me atormenta,
A dor se anunciando volta plena,
Desilusão do nada se alimenta

E faz da minha vida um vão sem nexo,
Do que carrego na alma é só reflexo...

1180


Do que carrego na alma é só reflexo;
Este vazio imenso, o meu retrato.
A solidão em volta, o nada anexo
E os nós de uma esperança; assim desato.

Quem dera se pudesse, enfim morrer,
Beber dos campos verdes da ilusão,
Singrar os mares calmos e poder
Saber que inda me resta a salvação.

Mas nada do que toco inda reluz
Espalho o pessimismo aonde vou,
Olhar que se traduz em pena e cruz
Do quanto que imagino, nada sou.

Restando tão somente este vazio,
O limbo inexpressivo, eu já recrio...


1181


O limbo inexpressivo, eu já recrio
Não deixo nem pegadas no caminho.
A sensação do vago, eterno frio,
Apenas na saudade inda me aninho.

Rastejo pela vida, simplesmente,
Um verme que na inércia se alimenta,
Sem Éden, Eldorado que se invente
A vida vai monótona e tão lenta.

Nas cinzas dos cigarros eu me vejo
O pouco que sobrou de algum prazer,
Meu fim em agonia neste ensejo
É o que me resta agora pra dizer.

Colecionando os erros e os fracassos
Titubeante, eu tento novos passos...


1182


Titubeante, eu tento novos passos
E perco o que tentara ser um norte,
Às vezes inda busco em outros braços
Algo que represente algum suporte.

Mas nada do que invisto traz retorno,
Expondo nestes versos o que eu sou
O vento da alegria num contorno
Aqui jamais um dia, ele voltou.

Num sôfrego lamento, me esvaindo,
Estendo o meu olhar sobre o horizonte,
E mesmo que este céu se mostre lindo,
Há tempos da esperança, seca a fonte.

Atravessando em sonhos universos
Os raios que me tocam, vão dispersos...


1183




Os raios que me tocam, vão dispersos
Constelações vagando noite afora.
Quem dera se eu pudesse com meus versos
Trazer-te junto a mim, aqui e agora...

Saudade te procura e nada vendo,
Mergulha em solidão e a noite passa
Apenas no vazio se envolvendo
Erguendo esta cortina de fumaça...

Amor que foi talvez um talismã
Perdido nos volteios desta vida,
Sem rodeios, aguardo esta manhã
Em que tu venhas, mesmo distraída

Trazendo o que levou: felicidade,
Matando o que restou desta saudade.

1184


Matando o que restou desta saudade.
Teus lábios poderiam, num retorno
Trazer o que pensei ser claridade
E um se perdeu num sol tão morno.

Adorno os pensamentos com teus olhos
E neles refletindo o meu olhar,
Secando no canteiro urze e abrolhos
Fazendo uma esperança, enfim raiar.

Mas tocas minha pele e logo vais
Apenas uma sombra aqui comigo
Relembra o quanto eu te amo e quero mais
Do que somente um vento em desabrigo.

Mesquinho sentimento, possessão,
Do amor e da loucura, tradução...


1185


Do amor e da loucura, tradução
O tempo de sonhar que não se esgota.
Entregue aos desalinhos da paixão,
O sofrimento chega além da cota.

Recordo cada dia que eu vivi
Em meio a fantasias e desejos.
Olhando este vazio, volto a ti
Realce se fazendo em mil lampejos...

Um ébrio que caminha pelas ruas
Bebendo desta lua cada raio,
Enquanto que, distaste, continuas,
Sem ter qualquer apoio, sempre caio

Mas volto e nada vendo, ainda ponho
O sentimento imerso em cada sonho...

1186


O sentimento imerso em cada sonho
Fomenta os pesadelos mais temíveis,
Certeza de outro dia tão medonho,
Estende sobre a luz, trevas terríveis.

Dedilho esta viola sertaneja
E nela alçando eterna liberdade
Restando a lua imensa, alma deseja
Ao menos um vestígio em claridade.

Diversas tempestades, temporais,
Resumo do que um dia foi remanso
Memória de momentos sensuais
Olhar nesta ilusão, farto, eu descanso.

Partícipe dos gozos, mesmo falsos,
Encontro invés de sonhos, cadafalsos...


1187


Encontro invés de sonhos, cadafalsos,
Penumbra que invadiu o claro dia.
Os pés de uma esperança vão descalços
Tentando ao fim de tudo, a fantasia.

Amor além do amor, qual fanatismo
Não deixa que se pense. Eu te idolatro,
Distante do que tive em otimismo,
Penetro tão somente em sonhos, o atro.

Desato o que inda fora uma ilusão
Correndo qualquer risco, sigo em frente.
Aberto e sem juízo, o coração,
Carrega suas cruzes, penitente.

Metade do que sou; ao te perder,
Jogada na sarjeta, eu posso ver...


1188


Jogada na sarjeta, eu posso ver,
Minha alma que se fez esperançosa.
Morrendo pouco a pouco me faz crer
Que espinho se entranhou matando a rosa.

Agonizando, tento algum remédio
E nada que encontrei promete a cura.
O tempo se passando, o mesmo tédio
Espalha em minha vida, esta amargura.

No cálice em cristal da fantasia
Eu tanto que bebi, mas nada veio
Senão esta expressão feita agonia
Deixando por legado, algum receio.

Carrego os meus fantasmas sem ter dó
Carreto da esperança segue só...


1189


Carreto da esperança segue só
Atravessando serras e montanhas,
Pegadas se perdendo em tanto pó,
Aguarda por diversas, belas sanhas.

Porém o que carrega como frete,
Tristezas, dores, mágoas, solidão,
Nas indas e nas vindas se repete
Um estribilho amargo, um mau refrão.

Quem sabe, logo após alguma curva
Encontre finalmente o seu descanso,
Porém ao enfrentar tempesta e chuva
Pressinto que esta foz feita em remanso

Esteja noutro tempo, em nova vida,
A carga da esperança, apodrecida...


1190


A carga da esperança, apodrecida
Pesando em minhas costas feito cruz,
O quanto recebi em despedida
Impede que se veja alguma luz.

Assaz impertinente uma ilusão
Nos olhos da morena ainda cisma
E mesmo que se faça em negação
As cores distorcendo a luz em prisma

Após esta viagem pelos sonhos,
Talvez ainda reste uma alegria,
Dos dias e caminhos tão medonhos,
Um novo amanhecer, eu sinto, cria,

Bafejando esperança, amor, desejo,
E nele toda a glória que eu almejo.


1191


Da vida feita em paz, sem empecilho,
Eu quero e nem discuto, sempre mais
Os rumos da esperança quando eu trilho,
Esboçam sonhos raros, magistrais.

Enquanto muitas vezes o andarilho
Peito se desviando perde o cais
Felicidade estende o mago brilho
Que trama em maravilhas divinais.

Assim, posso dizer do amor que trago,
Reflexo em placidez de um manso lago
Nas mãos de uma mulher enamorada,

Não tendo nem sequer alguma queixa
Saudade, devagar, partindo deixa
Uma emoção sem par, glorificada...


1192


Uma emoção sem par, glorificada
Traduz tudo o que sinto; amor, agora.
Minha alma tantas vezes é tomada
Por sentimento imenso que assenhora

De todo o meu caminho, minha estrada,
Deixando bem distante e já sem hora
A lua que traria iluminada
O rumo, maltratando esta senhora

Que traz a claridade para a terra,
E a paz insofismável que descerra
Permite que se veja em claridade

O quanto a nossa vida se fez festa.
Apenas declarar, então me resta,
Em ti eu encontrei tranqüilidade:



1193

Em ti eu encontrei tranqüilidade
Deixando para trás o desencanto
Quem traz a dor cruel de uma saudade,
Distante de quem ama, sofre tanto,

Buscando achar talvez a liberdade,
Encontra este grilhão em cada canto.
A noite mostra em nebulosidade
Escuridão e treva como manto.

Fazendo de meu canto uma arma nobre,
Procuro retirar o que recobre
E impede que se veja de repente

A vida como deve e, sei, vai ser.
Sentindo em ti, deveras, meu prazer
Eu me entrego completa e simplesmente.


1194

Eu me entrego completa e simplesmente.
Num ato de perfeita lucidez
Meus olhos desta noite opalescente,
Certezas de um momento em limpidez,

Vencendo a tempestade, na corrente,
De toda uma esperança que se fez,
Trazendo com certeza mais contente,
Um sonho em que mergulho cada vez

Que a vida me propondo um novo obstáculo,
Encontro na amizade o meu tentáculo
Mostrando ser possível caminhar

Amor quando se faz em braço amigo,
Vencendo uma barreira, sem perigo,
Permite que se possa, enfim, sonhar...




1195

Permite que se possa, enfim, sonhar
Deixando para trás falsa ilusão
Com força sem igual, para lutar,
Contra estas intempéries, solidão,

Alando meus caminhos ao luar,
Voando na perfeita sensação
De ter tanta alegria a desfrutar
Quem sabe nisto eu veja a solução

Marcando cada passo com firmeza,
Nadando contra a dura correnteza.
Sabendo quais as pedras que se evite

Amor em plenitude, nosso amparo,
Um sentimento vivo, embora raro,
Recebe a luz que em glórias ele emite.


1196



Recebe a luz que em glórias ele emite
O sol que se faz pleno em aliança
Assim, um homem livre se permite
Seguir sem ter temores sua andança.

Lutando pelo bem em que acredite,
Usando do poder de uma esperança,
Não crê mais em fronteiras nem limite,
E a vida segue sempre calma e mansa

Pois sabe conhecer a liberdade
Ungida no poder desta amizade...
Seguindo, olhos abertos, o seu norte.

Percebe quanto vale um calmo abrigo
Nos braços mais sinceros de um amigo
Trazendo para a vida este suporte...


1197


Trazendo para a vida este suporte,
A dor em alegria se vertendo,
O vento da amizade, eu sei, é forte
E deixa que se sinta, assim, prevendo

Um novo amanhecer em novo norte
E toda uma emoção já vai contendo,
Mudando num momento a nossa sorte,
Distante de um caminho outrora horrendo

Em meio à solidão, dor mais extrema
Transforma em poesia um duro lema.
Transtorna totalmente a nossa vida.

Mas tendo um companheiro do meu lado,
O dia nascerá iluminado,
Reflexos desta luz já recebida.


1198

Reflexos desta luz já recebida.
Compondo a vida em paz, tranqüilidade
Sentindo a doce brisa prometida,
Em santa calmaria, uma amizade,

Não dando ao sofrimento uma guarida,
Permite que se tenha claridade,
Estrada solitária é tão comprida,
Caminho solidário é liberdade.

As forças que somadas, abrem frestas,
Permitem no final; sinceras festas
Na dança que em bonança, assim bendigo.

O mundo vai girando em carrossel,
Às vezes tanta treva, escuro véu,
Amigo reconhece o joio e o trigo...



1199
Amigo reconhece o joio e o trigo
E sabe num momento porque vim,
Meu verso enaltecendo o ser amigo,
Fomenta uma emoção que não tem fim.

Na proteção divina, este perigo
Afasta e vai distante já de mim,
Um homem que procura por abrigo,
Encontra na amizade o bom jardim,

Canteiro de esperanças bem plantado,
Caminho com destreza iluminado
Nas mãos de um Deus gentil se fez seu traço

O quanto tantas vezes fui sozinho,
Agora nos teus passos eu me aninho
Sabendo da amizade, o firme laço.

1200


Sabendo da amizade, o firme laço
Do quanto uma alma amiga é tão amada
Sinto o teu apoio a cada passo,
Não temo mais as curvas desta estrada,

Andança prometida agora eu faço,
Com força sem temer mais quase nada,
A voz soltando livre pelo espaço,
A noite a me levar, vai estrelada,

Numa amizade vejo a luz da lua,
E o passo rumo ao norte continua.
Buscando cada estrela em que prossiga

Na mansa caminhada em alegria
Do quanto na amizade amor se fia
Estende sobre nós eterna liga.


1201

Estende sobre nós eterna liga
Os raios mais incríveis de mil luas,
Estrelas esparramas, minha amiga,
Os rastros que tu deixas pelas ruas,

Permitem que nas trevas eu consiga,
Saber que em verdade sempre atuas
Teu colo, uma ternura que me abriga,
Demonstra aonde em sonhos continuas

Brilhando em cada passo, bendizendo
Caminho onde persisto percorrendo
Com sentimentos raros, belos, puros,

Assim sem mais temores, sigo em frente
Vivendo em doce afeto, felizmente,
Bem longe dos enganos, sem apuros.




1202

Bem longe dos enganos, sem apuros
Momentos tão felizes, derrotados...
Distante dos meus olhos, altos muros
Por sobre este concreto edificados,

Meus dias se passando tão escuros,
Na dor da solidão, já vão marcados,
Os solos da esperança são bem duros,
Não servem para ser mais semeados,

Não posso recolher as belas flores,
Deixando para trás sonhos, pendores.
Durante tantos anos, iludido.

O quanto que pensara ser feliz,
Uma esperança tola contradiz
Agora, em solidão, sigo vencido.


1203


Agora, em solidão, sigo vencido.
A morte redentora, chegará.
Vivendo em desenganos, vou partido,
Somente uma alegria poderá

Voltar a novamente dar sentido
A vida que decerto perco já,
Meu canto vai seguindo desvalido,
Não sei se novamente brilhará

A estrela de meus sonhos, fantasia,
Ninguém, somente a dor hoje me guia
Vazio decorando cada noite.

O quanto procurara uma alegria,
Apenas, tão somente fantasia
Aumenta o sofrimento no pernoite.


1204

Aumenta o sofrimento no pernoite
O vento da saudade tão doída,
Sentindo o frio imenso desta noite,
Percebo que não tenho outra saída,

Saudade me invadindo em seu açoite
Cortando as minhas carnes, despedida.
Quem sabe uma emoção inda me acoite
E mostre que esta paz não vai perdida,

Assim eu poderei cantar mais leve
E o mundo sorrirá, quem sabe, em breve.
Um canto em esperança eu engatilho.

Quem sabe no final de minha história
Ainda possa ter brilhos, em glória,
Da vida feita em paz, sem empecilho.


1205



Vasculho pela casa e quando vejo
Desfilando a beleza seminua
Aumenta com certeza o meu desejo
E a alma incandescida já flutua.

Bebendo da vontade, neste ensejo
O coração delira e toca a lua,
Ao mesmo tempo eu vejo num lampejo
A rainha da noite dourando a rua.

Do quanto que eu te quero e não me farto
Reflexos deste brilho no meu quarto
Trazendo em plena noite, intenso dia.

Assim quando pressinto esta presença
A lua se tornando cheia, imensa,
Espalha sobre nós sua magia...




1206


Espalha sobre nós sua magia
A mão que gera luz, tranqüilidade
Muitas vezes, calado eu não sabia
De um novo amanhecer em claridade,

Forrando o duro chão com poesia,
Mostrando ser possível liberdade,
Fartando meu caminho em alegria,
Fomentos que conheço na amizade,

Sentimento profundo e redentor,
Estrada para a paz e o puro amor.
No qual o meu caminho agora eu teço.

Acolhe nos seus braços o eremita
Que outrora se perdera em noite aflita,
Sabendo que encontrou seu recomeço.


1207

Sabendo que encontrou seu recomeço
Uma alma, ser feliz, decerto almeja
Assim, querida amiga eu agradeço,
Tua palavra amada e benfazeja,

Amparo para a queda, e pro tropeço,
A mão que me sustenta e que me beija,
Além do que bem sei, sequer mereço,
Permite que outra senda inda preveja

Depois da tempestade, esta bonança
Já faz brotar em mim, toda esperança...
Mudando o meu destino, num repente.

Enquanto houver o brilho da amizade,
Eu posso te dizer: felicidade
Não é uma palavra simplesmente.



1208

Não é uma palavra simplesmente,
Enfrenta a dura sina caprichosa,
Sentimento que toca toda gente
Tornando a vida bem mais gloriosa,

Sem jogos, por si própria faz contente
Quem tantas vezes soube desairosa
A sorte mais cruel e penitente,
Encontra na amizade mais piedosa

Certeza de um momento deslumbrante,
Que deixa a nossa vida ir adiante
Vencendo qualquer urze de mansinho.

Exalando o perfume mais sublime,
Apascentando alguém que tanto estime,
Maturando com festa, o doce vinho.



1209

Maturando com festa, o doce vinho
Amiga, em teu carinho, tu me encantas
Vencendo as intempéries do caminho,
As pedras, os espinhos, urzes tantas,

Quem segue pela vida e vai sozinho,
Não sabe destas mãos sublimes, santas
Que aquecem com certezas e carinho
Cobrindo em duro frio, quentes mantas,

Agasalhando a quem se quer tão bem,
Em noite solitária, amiga vem.
Há tempos que esta paz nós conhecemos.

Por vezes, solidão se faz presente,
Porém quando tu vens tranqüilamente,
O dia; em alegria recebemos...


1210


O dia; em alegria recebemos
Numa esperança de óculos, de lentes
Somando nossas forças combatemos
Os males que se mostram renitentes,

Unindo nossos braços, mesmos remos,
Atravessamos mares permanentes,
Sabendo do poder que agora temos,
Seguimos pela vida mais contentes.

Na força tão sagrada da amizade,
Lavrada com total fidelidade.
Adentra em calmaria quaisquer cais.

Marcando a nossa vida em tal compasso,
Os restos de tristeza; eu logo amasso,
Traçando tão somente um mundo em paz.


1211


Traçando tão somente um mundo em paz
Felicidade insiste em nova dança.
Amigos reconhecem que jamais
Nós devemos trair a confiança

O barco desta forma, perde o cais,
Quebrando o laço feito em aliança.
Quem age desta forma é incapaz
De ter uma amizade em que se alcança

A total plenitude desejada,
Fazendo da alma outrora desbotada
Um manto tão bonito de se ver.

Cenário que demonstra ser possível,
De um mundo tanta vez imprevisível
A fonte inesgotável do querer



1212


A fonte inesgotável do querer
Decerto eu encontrei querida, aqui,
Por isso é necessário te dizer
Do quanto sou feliz por ter em ti,

Além de uma certeza de prazer,
Carinho que tão logo eu conheci,
Querida amiga, pude me render
Depois de tantas dores que eu sofri.

Toda a pureza imensa em que prediz,
Um dia alvissareiro e mais feliz
Distante do que outrora me diziam

As noites em angústia percebidas,
Trazendo tanto alento às nossas vidas,
Que as luzes da amizade propiciam.



1213

Que as luzes da amizade propiciam
Felicidade? Há tempos eu sabia
Meus olhos num instante percorriam
Os campos onde amor se esmorecia.

Em outros sentimentos já se viam,
O brilho redentor de um novo dia,
Sabendo das estrelas que luziam,
Eu resolvi cantar santa alegria

Que faz de uma amizade, puro encanto,
Motivo bem mais forte para o canto
Tocando com certeza esta emoção.

A sorte de poder estar contigo
Usufruindo sempre deste abrigo,
Permite que se creia em salvação.



1214

Permite que se creia em salvação.
Palavra em carinho anunciada
Nas vozes mais alegres, coração,
A melodia faz-se delicada,

Quem sabe da amizade sem senão,
Percebe a vida enfim, iluminada,
No braço de uma amiga a redenção,
Mostrando no final a bela estrada

Aonde vagaremos passo a passo,
Sem medo da discórdia ou do cansaço
Trazendo um bem além do imaginável.

Percorro em meus versos, paraísos
Sentidos e palavras mais precisos
Tornando o meu caminho agora, afável...

1215

Tornando o meu caminho agora, afável
Eu vejo nos teus olhos, a magia.
Falando deste bem inesgotável,
Que é fonte mais segura de alegria,

Formada em água pura e mais potável,
Fomento em segurança que me guia
A cada novo dia demonstrável,
Trazendo a fortaleza que eu queria.

Somando nossas forças, ninguém vence
E da felicidade nos convence
As frutas que se dão nestes pomares.

Amargura perdendo o seu espaço,
A sorte que se quis abre o compasso
Fazendo na amizade, os seus altares...






1216

Fazendo na amizade, os seus altares
Eu vejo a perfeição do deus amor
Sentindo esta fragrância pelos ares,
Perfume de um jardim repleto em flor,

Alçando mais liberto por lugares
Distintos onde eu possa recompor
Meus dias que já foram mais vulgares
Agora na amizade a se propor,

Percebo que terei completamente,
Comigo cada passo, mais contente
Calando uma tristeza amarga, antiga,

Deixando em seu lugar uma esperança
Demonstração sublime da aliança
Fazendo com que o luta, mansa siga.




1217

Fazendo com que o luta, mansa siga
A sorte se espalhando por inteira
Alvíssaras, encontro em ti, amiga,
Tu és a sorte feita lisonjeira,

Permita que pra sempre assim prossiga,
Numa amizade imensa, esta bandeira,
Nem mesmo a morte quebra a forte viga
De uma amizade eterna e verdadeira.

Sabendo que tu vens sempre comigo,
Eu sou, com muito orgulho: teu amigo!
E disso tenho toda consciência

Do quanto é necessária esta alquimia
Que traz a quem procura uma alegria
Bastando apenas ter plena ciência...



1218

Bastando apenas ter plena ciência...
Do quanto em amizade a paz se alcança
A vida me trazendo em providência
O braço que denota segurança,

Mostrando pra quem sofre tal clemência
Uma alegria imensa em confiança,
Embora tantas vezes a prudência
Impede que outro sonho trague a lança

Cruel da solidão que sem cuidado,
Permite que a tristeza surja ao lado
Porém em amizade algum lampejo

Clarão que nos permite um raro sonho,
À caça dessa luz, sempre me ponho:
Vasculho pela casa; quando vejo.



1219

Tua nudez divina e maviosa
Durante muito tempo foi meu mote
Preferido. O jardim perdeu a rosa
Desperdiçando o mel quebrei o pote

Pouco sobrou de toda esta delícia.
Na penumbra procuro o teu retrato.
Apenas solidão me traz carícia.
Decerto eu tenho culpa neste fato,

Mas tento disfarçar, dou um sorriso
Que sei se meio irônico, porém
É tudo que inda resta. Inda diviso
Com teu corpo desnudo. Nada tem.

Ilusão catastrófica decerto,
Que se faço se este peito cisma aberto?

1220

Que se faço se este peito cisma aberto
Depois de tudo aquilo que eu passei?
Resistência? Camelo num deserto!
A roupa que me cabe, eu não usei

Teimando pela vida, quero a sorte
Da morena desnuda que se foi.
Não digo que a saudade inda me corte
Embora ruminando como um boi.

Voltando aos velhos dias o que faço
Se aquilo não retrata mais quem sou?
Caricatura apenas, noutro traço
Eu mostro tão somente o que restou.

Nada do que fomos me interessa,
A vida nunca pára e vai depressa...


1221

A vida nunca pára e vai depressa
Não deixa às vezes rastro nem pegada.
Porém nem todo engano se confessa
Eu sei que noves fora; sobra nada.

Sem picuinhas sigo a correnteza,
Mascaro a minha dor completamente
Meu verso vai sem nexo ou beleza,
Importa é que se faça simplesmente.

A mente quando mente o peito sabe,
Tranquilamente eu beijo esta saudade.
Mas antes que o soneto assim acabe
Ainda vou buscar felicidade.

Se há de haver talvez nem sei mais quando
A boca escancarada, te esperando...

1222




A boca escancarada, te esperando
Repete a velha e eterna ladainha.
Não quero minha sorte se espalhando
Apenas que tu sejas sempre minha.

Não tendo ouro nem mirra, sobra a birra
De quem por teimosia não desiste,
Uma alma apaixonada tanto espirra
Que ao fim do expediente fica triste.

Nem tanto Maomé vai à montanha
Portanto desta sanha eu não padeço.
Partida que se joga estando ganha
Não vejo, eu te garanto, eu adormeço.

O gosto da batalha é que me excita,
O bom cordeiro, amigo, é o que grita!

1223

O bom cordeiro, amigo, é o que grita
Fazendo tal alarde assusta o lobo,
Por mais que uma verdade é tão bonita
Não quero mais fazer papel de bobo.

Bebendo os teus orgasmos, acredito
Que eu possa merecer também cuidados,
Os olhos revirados no infinito,
Prazeres repartidos e bem dados.

Os dados que disponho me permitem
Falar de uma provável recompensa.
Mas mesmo que pudores delimitem
A noite será plena e tão intensa.

Não há quem vença mesmo a nossa luta?
Raposa fica quieta, sempre astuta...


1224


Raposa fica quieta, sempre astuta,
Mas faz revolução no galinheiro.
Tatu reconhecendo antiga gruta
Esquece do outro galo no poleiro.

Vem logo que cordeiro se disfarça
Uivando num completo desafino.
Tua delicadeza bela garça
Já faz um cidadão perder o tino.

Macaco reconhece se a cumbuca
Parece não ter nada ou nada tem.
A sorte se perdendo, está caduca
Procuro por carinho, vem ninguém.

Quem sabe noutro dia a moça venha.
Acendo, numa espreita, fogo e lenha...

1225

Acendo, numa espreita, fogo e lenha,
O frio vem sem freio e toma a casa.
Não tendo mais algema que detenha
A solidão esperta não se atrasa.

Quem dera se a fogueira se espalhasse
Tomando assim a casa e o quarteirão
O vento da esperança revoltasse
E a moça não seria uma ilusão.

Barganhas eu não faço, isso eu garanto,
Apenas eu preciso te dizer
Do quanto procurei o teu encanto
E nada no final eu pude ter.

Meu verso num avesso se compondo,
O que me salva é o mundo ser redondo...


1226

O que me salva é o mundo ser redondo
Vento que venta ali ventará cá.
Nas várias emoções amores sondo
Buscando o que deveras, negará

Verdade inquestionável e inexata
Mergulhos em mim mesmo? Naufraguei.
Escravo enamorado da chibata
Há tempos que tentei. Não escapei.

Escalpelando os sonhos, a pantera
Sorri em ironia inquestionável.
Ainda vou caçar a moça fera
Na volta que eu pressinto inevitável.

Macacos não me mordam nunca mais!
Necessito beber os temporais...

1227

Necessito beber os temporais
Embora eu não garanta a digestão,
Comendo este banquete eu quero mais,
Não vim aqui somente pelo pão.

Eu quero esta nudez que tu mostraste
Há tempos sob os olhos mais famintos.
Em mim bateu mais forte este desgaste
Causado por estúpidos helmintos

Mas nada que afetasse o maquinário.
Ainda funciona mais ou menos.
De ti, pelo que eu vejo em mostruário
Os traços continuam sendo plenos...

Acampo se preciso no quintal,
Aguardo este cortejo sem igual...


1228


Aguardo este cortejo sem igual
Da moça desfilando tal beleza
Aberta uma janela, magistral
Cena que se mostra com certeza.

Simples expectador deste cenário
O que fazer senão, imaginar.
A vida de surpresa e sem horário
Entorna sobre ti, claro luar.

Argêntea e brônzea tela inesquecível
Tingindo de esperanças o meu peito.
Inadiável sonho que impossível
Apenas em relâmpagos é feito.

Reflexos de um desejo em noite mansa,
Uma ilusão sublime então me alcança...


1229

Uma ilusão sublime então me alcança
Fotografia feita em noite clara,
A moça há tanto tempo já sem trança
Em perfeição divina se declara.

O quanto esta visagem me alucina
Permite que eu componha algum repente
Sabendo desta fonte, quero a mina,
Embora nada chegue, simplesmente.

Eu sei que não se dá pra qualquer um,
Nem mesmo tive um dia esta ilusão.
Porém tua nudez merece um zoom
Causando no meu sonho um furacão.

O vento bate a porta, fecha o cerco,
Na tela em fantasia eu já me perco...


1230

Na tela em fantasia eu já me perco
E vejo que se espalham mil estrelas
Amor que em alegria tem esterco
Já sabe como ousar, vence as procelas.

Quem dera se eu pudesse novamente
Conter em minhas mãos corpo moreno
Que mágico me leva plenamente
A um mundo mais audaz e mesmo obsceno.

Celeiro de desejos em delírios
Descerra em alegria, fartos gozos.
Deixando para trás velhos martírios,
Promete novos dias , maviosos.

Assim, ao desfrutar tanta beleza,
A vida vai se dando em correnteza...

1231

A vida vai se dando em correnteza
A quem não titubeia e quer bem mais.
Não tendo mais sequer qualquer surpresa
Meu barco vai à busca deste cais.

Ourives da esperança, o coração,
Não deixa de tentar felicidade.
Durante tanto tempo andara em vão
Agora já vislumbra em liberdade

O sonho de poder se abrir ao vento
Sem mágoas e temores no caminho.
Tocado pelo imenso sentimento,
Do amor puro e sincero eu me avizinho.

No quanto sou teu par e tu és minha,
A gente lado a lado, assim, caminha...


1232


A gente lado a lado, assim, caminha,
Se bem que na verdade, eu sei flutua.
Do quanto que em desejo se continha
Eu posso te ver bela insana e nua.

Num misto de alegria e de torpor,
Ao ver a maravilha deste templo,
O coração de um pobre sonhador,
Procura e não encontra algum exemplo

Aonde possa ver um verso exato
Que seja tão perfeito que não tenha
Mais dúvidas. Comendo neste prato
A sobremesa rara; esqueço a senha

Tomando toda a cena, fabulosa,
Tua nudez divina e maviosa.

1233


Acende logo a chama do desejo,
Carinho que explicita o que sentimos.
Deixando para lá temor e pejo
O quanto; em maravilha, descobrimos..

Em doses cavalares, prenuncio
A cura para os males. Desde então,
Fazendo tanto amor, horas a fio,
Encontro a procurada solução.

É claro que talvez a manhã nasça
E trague em novo rumo, outra promessa,
Porém ao traduzir em luz e graça
Amor não pregará nenhuma peça.

Porém enquanto a luz, farta brilhar,
Vem logo nesta andança ser meu par...

1234


Vem logo nesta andança ser meu par
Bebendo em fonte límpida do amor.
Nas noites delicadas de luar
Contigo eu posso ver tanto esplendor

A lua emoldurada é mensageira
Do artista genial que nos criou.
Outrora bem querer guardado em eira
Longínqua, mas amor tudo mudou.

De todos os mistérios e cabalas,
Paixão é com certeza o mais complexo.
Adentra em turbilhão, quartos e salas,
Na tempestade insana feita em sexo.

Depois; o tempo passa, a chama apaga.
Restando no meu peito, o frio, a chaga...

1235

Restando no meu peito, o frio, a chaga
Florindo no jardim, as violetas
Do trigo que plantei não sobrou baga
As horas em saudade, prediletas...

Permitem que inda beba deste gozo
Que um dia se mostrara inabalável.
O gosto de teu beijo tão mimoso
Persiste a cada sonho inigualável.

Quem dera se pudesse, novamente
Saber de teus carinhos e desejos.
Porém, por mais que na verdade ainda tente
Apenas restam medos tão sobejos.

Sabendo que jamais retornarás,
Saudade, tão somente, a noite traz...


1236


Saudade, tão somente, a noite traz,
Lâmpada da esperança segue acesa,
Embora tanta vez, ausente a paz,
No lusco fusco apenas a tristeza.

O quarto sempre, assim, ledo deserto,
Apenas o que resta, o meu sonhar
O chão que agora piso, tão incerto,
Ondas das emoções, areia e mar.

Pensando que inda houvesse sol e dia,
Pensamento tão distante. Pressenti
Que ainda novamente poderia
Viver o que em verdade não vivi.

Enredo que se fez em negação
Vagando no meu quarto uma ilusão...

1237


Vagando no meu quarto uma ilusão
Entre a sombra temível, frágil luz
Causada por talvez, desatenção
A um Eldorado falso me conduz.

Quem sabe, neste quarto tão silente,
Algum ruído estranho tenha ouvido.
Uma esperança alada, de repente,
Resquício preservado de um olvido.

O vento bate à porta, penso ser
Aquela que partiu pra nunca mais.
Ilusão... Porém, louco passo a crer
Que ainda adentrará pelos umbrais

Qual anjo em asas claras, a alegria.
Cismando a noite inteira. É fantasia...

1238



Cismando a noite inteira. É fantasia
Apenas o que bate na janela;
Subindo pela antiga escadaria
A sombra num momento me revela.

Despido de esperança, corpo e alma,
Em pedaços, deitado sobre a cama,
É necessário, eu sei, manter a calma,
Apenas solidão, temível chama

Resiste e não me deixa, persistente.
Paisagem desbotada adentra a cena,
Por mais que uma ilusão ainda tente,
Somente este vazio, ainda acena.

Meus passos se tornando bem mais lassos,
O nada agora ocupa estes espaços...

1239


O nada agora ocupa estes espaços.
De súbito uma esperança ainda bate
E traz em ilusão, magistrais laços.
Estrelas vão surgindo em toda parte.

Porém apenas vácuo. O fútil oco
Domina este cenário, e ao redor
O que sobrou de tudo, muito pouco
Prevejo a solidão inda maior.

Quem dera se pudesse ter um cais
Aonde desterrar minha tristeza,
Mas nada do que a vida inda me traz
Permite vislumbrar banquete e mesa.

Acesa a derradeira lamparina,
Entorpecido sonho me alucina...

1240


Entorpecido sonho me alucina,
Em perca paulatina, desatino.
Destino pouco a pouco, vai e mina,
Tornando o sentimento, um peregrino.

Meu barco abandonado num naufrágio
Há tempos desenhado em profecia.
Embora nunca cresse num pressagio
O tempo desfilou farta agonia.

O corpo se entregando sem vontade,
As cracas destruindo a sua quilha,
Retorna volta e meia na saudade,
Que vaga, em noite imensa, tanto trilha.

Sem força pra vencer os temporais,
Perdido, sem ver porto, esquece o cais...

1241


Perdido, sem ver porto, esquece o cais,
Em turbilhão procelas e tempestas.
Distante de horizontes magistrais,
As horas são temíveis e funestas.

A morte vem chegando e desde cedo
Amarguradamente já se atreve.
Felicidade? Apenas arremedo,
Quem dera se a agonia fosse breve...

Assim, após o leite derramado,
Sabendo que este cais não alcançou
O barco há tanto tempo naufragado,
Aos devaneios; tolo, se entregou.

Restando tão somente o rumo incerto,
No oceano interminável, mar aberto...

1242


No oceano interminável, mar aberto,
Por milhas; tantas milhas naveguei.
Insana maravilha de um deserto
Que dentro do meu peito, já salguei.

Farto desassossego é o que se espera
De quem sempre viveu quase dormindo
E pressentindo o fim da primavera
Pressente que o frio inverno já vem vindo.

Decerto que por perto inda terei,
Alguma fantasia, nova aventura,
Porém no exílio, eu vejo quem foi rei.
Caminho interminável, amargura.

Embora tão exausto não descansa,
Teimosamente entregue à esperança...

1243


Teimosamente entregue à esperança
Percorre por sublimes alamedas,
Olhar que em fantasia não alcança
Belezas em cetins, rendas e sedas.

Deitado sob a prata de um luar,
Relembra de um passado tão distante.
A flauta da ilusão já faz sonhar
A lira de um poeta delirante.

Ouvindo a sinfonia em paz noturna,
Crivando os seus ouvidos e sentidos,
Por mais que a solidão seja soturna,
Delírios deslumbrantes em ruídos

Permitem um sorriso que infantil,
Renova esse semblante já senil...

1244



Renova esse semblante já senil
Alguma sensação de poder ter
Ainda o teu frescor que juvenil
Não deixa o coração envelhecer.

Perdura então, assim, a mocidade
Que mesmo sendo falsa me alivia.
U’a réstia de alegria agora invade,
Embora eu mesmo saiba: é fantasia.

Eterna juventude propalada
Por mitos entre fontes e desejos.
A face pelas rugas já sulcada
Incrível que pareça, trai os pejos.

Por mais que seja só um sonho inerte,
Um riso nos meus lábios, calmo, verte...

1245

Um riso nos meus lábios, calmo, verte;
Trazendo para a vida algum proveito.
Vontade de poder sempre rever-te,
Deitando este prazer sobre o meu leito.

A vida fora inútil, com certeza,
Aflora em meu jardim a derradeira
Rosa que ao estampar tanta beleza
Expressa uma esperança, verdadeira.

Tuas mãos já sabem dos segredos,
Conhece destes cofres, sanha e senha,
Arrasta para longe velhos medos,
E em mata deslumbrante amor embrenha.

Castelos que criei, todos de areia,
Jamais resistirão à maré cheia...

1246


Jamais resistirão à maré cheia
Amores construídos sobre o nada.
Ao mesmo tempo a brasa que incendeia
Expressa a solidão anunciada.

Os dias que virão sombrios, frios,
Não deixam qualquer dúvida: acabou.
Da frota desmembrados os navios
Apenas o deserto, o que restou.

Olhar vai se perdendo no Levante,
Buscando algum resquício no oceano.
A sorte distraída e tão distante
Conclama num instante ao desengano.

Mas quando o teu sorriso, amada eu vejo,
Acende logo a chama do desejo.

1247

E o jogo recomeça em transparências,
A porta se fechando pra tormenta,
Nesta penumbra brilham florescências
Minha alma de teu corpo se alimenta.

Tomados por insânias e torpor
Revoltoso mar adentra o quarto,
Expondo depois disso no langor
Quebrantado, feliz, exausto e farto.

Problemas que enfrentei não vêm ao caso,
Apenas desfrutar deste direito
Antes que venha e chegue o duro ocaso,
Eu posso assim dizer que satisfeito

Vivi tudo o que eu tinha que viver,
Sabendo desfrutar cada prazer...


1246


Sabendo desfrutar cada prazer
Singrando sobre os medos, desenganos,
Aos poucos recomeço a perceber
Beleza desta nau sobre oceanos.

Ultrapassando o mar que sei imenso,
Desejos e vontade de existir
No amor que me ensandece, tanto penso
Que posso finalmente resistir.

Pois sei que nesta vaga que hoje vem,
Anunciando sempre a calmaria
Delícias e delírios; traz também
Aurora permitindo um claro dia.

Ouvindo entorpecido, sons de flauta,
A refeição servida é sempre lauta.


1247


A refeição servida é sempre lauta
Enquanto amor for regra, lei e norma,
Felicidade nunca sai da pauta
Um gozo interminável já se forma

Meu barco não espera capitão,
Apenas um teimoso timoneiro
Tomando desde sempre a direção,
Coração se mostrando por inteiro...

Os dias em carinho assinalados,
Superam qualquer treva desumana,
Os olhos nestes mares navegados
Permitem nova senda soberana;

Caminhos que distantes percorri,
Encontro o porto, agora. Está em ti...

1248

Encontro o porto, agora. Está em ti.
Deitando noites belas, gloriosas,
De tanto que pensara que perdi,
Manhãs vão renascendo caprichosas.

As rosas que plantei, brotando aqui,
Embora tantas vezes viciosas
Expressam todo amor que recebi
Em noites sem igual, tão valorosas.

Aos poucos da tristeza eu me liberto,
Encontro o teu carinho em toda parte,
Não tendo mais miragens, estou certo

Que o amor me conquistando em raro engenho
Mudando de bandeira e de estandarte
Expressa toda a luz que hoje eu contenho..

1249


Expressa toda a luz que hoje eu contenho
O canto mais sublime que se eleva
Distante do vazio de onde eu venho,
Negando a qualquer preço antiga treva

Nas tramas deste sonho eu já me embrenho,
Fazenda da esperança a minha ceva,
Jamais demonstrarei; de novo, o cenho
Entregue ao sentimento que me leva

Em passos sempre firmes, ao espaço
Libertário repleto de esperança.
A vida em tais fulgores segue, avança.

O quadro se permite em belo traço,
Deixando na distância uma amargura,
A solidão se faz caricatura...

1250


A solidão se faz caricatura,
A simples garatuja que se esquece,
O quanto me derramas de ternura
O peito enamorado te obedece.

A porta escancarada em noite clara
Permite que se encontre a rara lua,
Além do que pensara ou mais sonhara
A sorte em minha vida continua.

Contínuas emoções se revezando,
Num carrossel de gozo, alma se encanta,
Eternidade em paz se revelando,
Vontade se dourando em força tanta.

No corpo da mulher o ancoradouro
Nos lumes deste sonho, eu já me douro...

1251

Nos lumes deste sonho, eu já me douro
E tomo gole em gole o teu rocio.
Nossa explosão, manada que no estouro
Arrebenta as porteiras. Sonhos? Crio...

E deles bebo encantos, alquimias.
O sol que nos bronzeia nas manhãs
A lua que se deita em mãos vadias,
Prazeres, nossos loucos, bons afãs.

Resumos que buscamos em nós dois
Momentos de loucura, insana fúria
Na languidez divina do depois,
Persiste a maravilha da luxúria.

Lascívia nos domina e nos transtorna,
Orgástica emoção que assim se entorna...


1252

Orgástica emoção que assim se entorna
Tornando a nossa fonte incandescente.
Ateia fogo à noite; outrora morna,
A fome de prazer é sempre urgente.

No passo assim jamais cadenciado
A vida em vai e vem, redemoinho,
O dia que em delírio anunciado
Expõe a divindade do carinho.

Convulsas expressões de gozo e riso,
Fantástica explosão que nos domina,
Decerto quem conhece o paraíso
Não cansa de beber da insana mina

Vertendo sobre nós, farta delícia,
Na boca que sorri, santa malícia...

1253


Na boca que sorri, santa malícia
Expressão de pudica insensatez;
Sabendo deste sempre, nas primícias
Adivinhei sem medo do talvez.

A moça em timidez mal disfarçada
Chegando calmamente, se desnuda
Mostrando em provisão, ser abastada
Um pássaro que vi, em plena muda.

Agora em multicores, maravilha
E toma este cenário, sem perguntas.
Almas que se buscando encontram trilha
Aonde possam ir decerto, juntas.

No respiro ofegante sou corcel,
Viagem que fazemos rumo ao céu...

1254


Viagem que fazemos rumo ao céu,
Viajem sonhadores, pois, conosco.
Olhares desfilando sobre o véu
Das nuvens num profano e caro enrosco.

Encontro os meus pedaços no caminho,
Quebra cabeças monto neste instante.
Enquanto vou contigo e a ti me alinho
Percalços; ultrapasso, sigo avante.

Tolices são deixadas noutro plano.
Apenas emoção já no reveste
Do gozo que se espalha, então me ufano
Usando tua pele como veste.

Além do que eu sonhara, em ledo dia
Amor em fios de ouro, assim nos fia...

1255


Amor em fios de ouro, assim nos fia
E molda a maravilha em um momento.
Tomando de repente, o sentimento,
Espalha sobre nós farta alegria.

Permite que se tenha em novo dia
Além de um simples sonho, um alimento
Que trama com desejo e com magia,
A força inigualável deste vento.

A mais perfeita luz que num contraste
Expressa a maravilha em florescência
De toda esta emoção que me entornaste

Eu vejo o sol tramando um belo enredo
No amor que logo traz, clarividência
Prazer que nos consome desde cedo.

1256

Prazer que nos consome desde cedo
Entorna em nossa noite tal ternura
Que mesmo que ela venha, em treva, escura,
Seu brilho silencia e muda enredo.

Nos braços que em desejos eu me enredo
Descrédito trazendo pra amargura,
Encontro no teu corpo a luz que cura
Proteção contra os erros; cego o medo.

Mal me lembro daquele que em outra hora
Vivera tão somente solidão.
Ventura me tomando desde agora,

Deixando bem distante qualquer Parca,
O sonho em tuas mãos, amor abarca
Os gozos invadindo em procissão...


1257


Os gozos invadindo em procissão
Vestígios de castelos e princesas,
Reinados onde amor e tentação
Sentaram desfrutando insanas mesas.

Amor emoldurando a sensação
Além de simplesmente em incertezas
Divina e sensual transformação
Vencendo as mais temíveis fortalezas.

Não tente impor, querida, as tuas leis,
Amor não se permite qualquer trava,
Tampouco da ilusão te quero escrava

Falando das insânias dos poetas,
Nem mesmo imperadores, deuses, reis
Resistem ao Amor e suas setas.


1258

Resistem ao Amor e suas setas,
Apenas idiotas e imbecis.
Quem tem as alegrias como metas
Já sabe do que fala este aprendiz.

Em ritos tão comuns e consoantes,
Por toda a humanidade este estribilho.
Em plagas tão diversas e distantes
Amor vai desfilando o mesmo trilho.

Recebo como alento, esta presença
Um torvelinho belo de viver,
Pois nele se baseia qualquer crença
Não há quem possa a sanha subverter

Por mais que alguém procure, amor, negar,
O rio num momento; vê o mar...

1259

O rio num momento; vê o mar,
Na foz ao se entregar enfrenta o sal.
A força à qual se dá; descomunal,
Incrivelmente, faz-se navegar.

O quanto eu desejei e pude amar
Num rito tão fantástico, qual nau
Que adentra a fortaleza sem igual
Podendo calmamente desfrutar

De toda a maravilha assim exposta,
Nas águas e nas ondas do oceano.
Por mais que nas tempestas, desengano

A calmaria chega e por resposta,
Em mansa placidez se descortina
Sofreguidão que incita e me domina...


1260

Sofreguidão que incita e me domina
Não deixa mais pensar em outro rumo.
O quanto amor desejo, cedo assumo
Bebendo eternamente desta mina.

Morrer de amor, talvez a minha sina,
Querendo desta fruta todo o sumo,
Somente nos teus braços, eu me aprumo,
A mão que me comanda se declina

E toca o pensamento, não descansa.
Revivo cada sonho e na lembrança
Não vejo nem resquício de inclemências.

Um coração se faz em plenitude,
Trazendo novamente a juventude;
E o jogo recomeça em transparências.


1261


Colhendo em minha cama, rara rosa
A divina expressão de formosura,
Àquela a que se busca e se procura
Rainha do jardim, maravilhosa,

Porém ao colibri, tão caprichosa
A rosa em seus perfumes me tortura,
Embora se mostrando sempre pura,
Decerto eu sei da flor tão vaidosa.

Deitando sob o sol do Amor, declaro
O quanto é necessário perceber,
Que a vida num segundo põe reparo

A seta desairosa de Cupido,
Embebida no mais raro prazer
Omite a direção, rouba o sentido...

1262

Omite a direção, rouba o sentido,
O Amor em sua força indescritível
Provoca em nossa vida tal desnível
Que ao final eu persisto combalido.

Dia após dia eu sigo distraído
Amor que torna um sonho sempre crível
Pois mesmo que se tenha um incabível
Destino; no amor sempre concebido.

Fecunda procissão de gozos tantos,
Entregue aos seus presságios sigo em frente.
Na eterna sensação de uma procura.

Vencido por Amor e seus encantos,
Na vida cada passo se pressente,
Tramando um doce sonho em amargura...

1263

Tramando um doce sonho em amargura,
Amor prepara o bote e nos domina,
Porquanto é necessária tal morfina,
Pressinto nesta dor, a minha cura.

O sonho em realidade se mistura
E torna a fantasia cristalina.
Enquanto na verdade desatina
Cravando em cicatriz a assinatura.

Arcando com meus erros, nada temo,
Sequer a força insana da paixão
Domínio sem limites do terror.

Sabendo controlar o barco e o remo,
Entrego-me à fatal navegação
Nos braços indiscretos de um amor...

1264


Nos braços indiscretos de um amor
Às vezes eu acerto o meu caminho,
Porém o desacerto faz seu ninho,
E toma todo o cais, estivador.

O peso que carrego em pranto e dor,
Enquanto na verdade em desalinho,
Nos colos de outros sonhos eu me alinho,
Resumos de um eterno sofredor.

Alvíssaras e augúrios tão diversos,
Prenúncio de um difícil caminhar.
Alvorecendo em névoas, solitário,

Estendo meu olhar por universos
Não tendo nem reflexo a contemplar,
Nos sonhos: pesadelos, medos vários...

1265

Nos sonhos: pesadelos, medos vários
Procelas em remansos tão antigos.
Os braços que se dão reais amigos
Vencendo desatinos temerários.

Embora tão distantes campanários
Mostrando em rebimbares, os abrigos
Na frágil proteção contra os perigos
Diversos. Posso crer; desnecessários

Se eu tenho do meu lado a companheira
Que traz em amizade o seu encanto,
Mudando o meu destino e me levando

À fortaleza nobre e verdadeira
Na qual posso prever suave manto
Nas mãos de uma amizade se mostrando...


1266


Nas mãos de uma amizade se mostrando
A força inusitada que protege,
A solidão; temível, frio herege
Na força de um carinho, se entregando.

O quanto é necessário andar em bando,
Aonde o bem comum sempre nos rege.
Caminho junto a ti, na mesma sege
Belezas noutras senhas vislumbrando.

Assim ao percebermos a ventura
Que sempre acompanhou uma amizade
Concebo a libertária previsão

De um dia, bem distante da amargura,
Alçar em voz comum, felicidade,
Traçada pelo amor. Pelo perdão...

1267


Traçada pelo amor; pelo perdão,
A trilha tão sublime que hoje sigo,
Vivendo a sensação do amor amigo
Que expressa com certeza esta união.

Vencendo em destemor, por provisão
Carrega no bornal o vinho e o trigo,
Contigo sempre tenho o que persigo,
Jamais enfrento a dor da negação.

Por mais que seja amarga a nossa andança,
Espinhos tão freqüentes; desconheço,
Seguindo peito aberto, em alma pura.

No bem que se produz a luz se alcança
Deixando para trás qualquer tropeço,
No campo de meus sonhos, farta alvura...

1268

No campo de meus sonhos, farta alvura
Espalhando belezas entre as sendas.
Amor vai prosseguindo sem emendas
Nos laços generosos da ternura.

Não tendo mais notícias de tortura
Espero que este amor; logo desvendas,
Permita se realize velhas lendas,
Tornando o nosso céu pleno em brandura.

Acuro meus sentidos, vou em frente
Não tendo o que temer, nada detém
O coração que é feito em tanta paz.

Por mais que uma tristeza ainda tente,
Sabendo que encontrei, enfim, alguém,
Somente uma bonança, a vida traz...


1269


Somente uma bonança, a vida traz
Depois dos temporais que se fizeram
Temíveis. Encontrando em sonho audaz
Palavras que meus medos detiveram

Numa expressão divina, concebendo
Um dia em claridade inesquecível,
Da sorte de viver, tanto bebendo
Mudando o meu destino desprezível.

Aqueço as minhas mãos em teu carinho,
Estendo o coração, sinto a lareira
Vislumbro embriaguez em farto vinho,
Sentindo esta emoção já costumeira.

Meu verso se entranhando em tua pele,
À eternidade em vida nos compele...


1270

À eternidade em vida nos compele
A plenitude feita em sentimento.
Sentindo o teu perfume em minha pele
O fogo da paixão queimando lento

O quanto eu te desejo se revele,
A cada novo sonho ou pensamento
Por mais que a noite fria venha e gele
Nos braços deste amor, gozos fomento.

Há tempos que eu tentara te falar
Do quanto é necessário ser feliz,
Adentro a fantasia e devagar,

No colo da mulher, fonte agradável,
Buscando recolher tudo o que eu quis
Navego no oceano imensurável.

1271



Navego no oceano imensurável
Dos sonhos que povoam minha noite.
Além do que pensara imaginável,
Vislumbro a calmaria no pernoite.

Janelas sempre abertas bebem ventos,
Trazendo em mansa brisa o nome dela.
Tocado por divinos sentimentos,
O quanto eu te desejo se revela

Em cada verso feito com carinho,
No toque de teus lábios sobre os meus,
A noite se passando, um burburinho
Chegando de mansinho, cala adeus.

O tempo de viver e de sonhar,
Tomando a minha vida, num vagar...

1272

Tomando a minha vida, num vagar,
Eu sinto esta presença divinal,
O quanto desejei poder te amar.
Delírio em fantasia sem igual.

Meus olhos percorrendo os infinitos
Vislumbra em cada estrela os olhos teus.
Encantos destes mantos tão bonitos
Mostrando que em verdade existe um Deus.

Tomado por matizes tão diversos,
Mosaico de emoções caleidoscópio,
Tocando por carícias, velhos versos,
Entregam ao poder do amor, meu ópio.

Ao léu; andara qual um giramundo
Coração sem cuidado, vagabundo...

1273


Coração sem cuidado, vagabundo,
De tanto que sofreu; tréguas já pede.
Mudando o seu caminho num segundo,
Às tramas da paixão, não se comede.

E tenta em desvario, um novo encanto,
Eterno adorador; vive em senzalas.
Ceifando a cada sonho um novo pranto,
A vida preparando as suas malas

Esquece que talvez ainda reste
Uma esperança após a ventania.
Quem teve no passado, a dor e a peste
Agora em ilusão sonha alforria.

Assim, vagando sempre sem destino,
O peito esfacelado, eu me alucino...

1274


O peito esfacelado, eu me alucino
E perco o rumo, sigo em noite imensa,
Diverso do meu sonho de menino,
Amor nunca me trouxe recompensa.

Na mão que com firmeza descortino
Um porto que se mostre em luz intensa,
O medo que me toma, repentino,
Prevê depois de tudo, a manhã tensa.

Mas tendo a fantasia por parceira,
Não deixo de lutar e de sonhar,
Embora a vida seja caprichosa.

Quem sabe no jardim que eu bem queria,
Ainda possa um dia me entregar,
Colhendo em minha cama, rara rosa.



1275


Alçando ao infinito em fluorescências
Qual fora um fogo fátuo, uma esperança
Buscando da alegria providências,
Deveras persistente, não alcança.

Dos ais colecionados, luta e guerra,
Encontra os mais cruéis desfiladeiros.
O pensamento algoz cedo descerra
A seca que se deu neste ribeiro.

O mar que ensandecido não sossega,
Fazendo intempestiva, a natureza.
Uma alma desfilando quase cega
Impede que vislumbre-se beleza.

Distante da alegria se aborrece,
Nas mãos da solidão já se oferece...

1276


Nas mãos da solidão já se oferece
O sonho concebido em desencanto.
Ausência de ilusões nos entontece
Deixando em rastro amargo, farto espanto.

A mão que nos impele para cima,
A mesma que nos tomba e leva ao chão.
Calando o que seria alguma estima,
Percebo tão somente ingratidão.

Amar, um sentimento, sempre nobre,
Mas quando este vazio assim nos toma,
Saudade num instante nos descobre,
Causando este torpor, temível coma.

Na soma do que fomos; nada resta,
Tristeza sem limite nos empesta.

1277

Tristeza sem limite nos empesta
Trazendo este presságio tão funéreo,
Olhar que em fantasias já se empresta
Procura algum sinal, mesmo que etéreo.

Transborda numa enchente colossal,
Invade as mansas margens deste rio.
O pesadelo torna-se abissal,
Porém uma esperança eu fantasio.

A cova preparada como um porto,
Aguarda tão somente o ledo fim.
Aos dias mais felizes me reporto,
Mas sinto a seca imensa em meu jardim.

Desilusão se entorna em minha vida,
A morte prenuncia-se a saída.

1278


A morte prenuncia-se a saída,
Um derradeiro encanto para quem
Sonhando com a paz, em despedida
Encontra novamente este ninguém.

Quem sabe tantas vezes não duvida
Do quanto uma esperança sempre tem
De luz amenizando a dor da vida
Que inevitavelmente sempre vem.

Trazendo esta agonia como parte
Do todo que se esvai e só protela,
Procuro o teu retrato em cada tela

Desejo num vazio se reparte
Restando como fora um sacrilégio,
Sarcástico delírio, em privilégio.

1279

Sarcástico delírio, em privilégio,
Herança de amor que formidável
Tocando com seu braço algoz e régio
Tornou meu sonho quase que intragável.

Guardada em relicário, no signo Ânfora,
Etéreo sentimento se dilui,
O sonho naufragado sem uma âncora
Expressa numa ausência o que não fui.

Por mais que evite andar sobre cascalhos,
Não tendo outro caminho, o que fazer?
Os dias determinam atos falhos
Agonizante vida em desprazer.

Noctâmbulo vagando em noite fria,
O sonho em desencanto, medos cria.


1280

O sonho em desencanto, medos cria
Deixando por legado sempre o nada,
Nesta ausência absoluta, a poesia
Em fria cicatriz é tatuada.

O quanto que não vejo propicia
Ao ledo pensamento esta cilada
Aonde a clara estrela não mais guia
Na noite eternamente, em vão, nublada.

Acasos e mentiras falsos guizos,
Intrépido, inda tento um novo canto
Que possa desdizer amargo pranto

Em versos mais audazes e precisos.
Um ledo engano. A sorte se fez cega,
Meu sonho a um falso alpendre já se apega.

1281

Meu sonho a um falso alpendre já se apega;
Assim prevendo o tombo que virá;
Minha alma perfazendo em nova entrega
Procura solução, quem dera já.

O vinho avinagrando em minha adega
Mostrando que jamais rebrilhará
O sonho que meu canto inda navega
Distante da verdade morrerá.

Num vilipêndio audaz nada mais resta
Senão esta masmorra como herança,
Na frágil ilusão, noite indigesta

Perdido e sem destino, sigo assim;
Quem sabe dos escombros, esperança
Permita a mansidão dentro de mim...

1282


Permita a mansidão dentro de mim;
Ó noite enluarada do sertão.
Do sonho solitário de onde eu vim
Eu vejo tão somente arribação.

O corte se aprofunda a cada dia,
Tornando-se uma escara mais profunda.
Tocado pelas mãos da poesia
A vida em fantasias já se inunda.

Carcaças do que fomos, revolvidas,
Permitem se prever algum sucesso,
Em nós as esperanças vão perdidas.
Porém alguma luz inda te peço

E nela este cometa em carrossel,
Trazendo a calmaria ao nosso céu.

1283


Trazendo a calmaria ao nosso céu
A brisa que nos toca e nos enleva.
Restando neste pote um doce mel
Um vaga-lume dança em plena treva

Esmeraldino sonho que prediz
Um Eldorado. Talvez ilusão...
Mas mesmo que inda falsa faz feliz
A quem só recolhera o mesmo não.

Mendigo de esperanças, eremita
Aguarda pela estrela redentora
O peito em desalinho, agora grita,
Meu barco em ledo cais sonha e se ancora.

Partindo do vazio de onde venho,
A sorte mostrará seu raro engenho...

1284


A sorte mostrará seu raro engenho
E assim permitirá um riso franco.
E mesmo que inda mostre antigo cenho
O passo não será assim tão manco.

Restando disto tudo o que inda tenho
Guardado nos meus olhos, dia branco,
Meu rumo nestas sendas onde embrenho
Meus olhos, com certeza não estanco.

O canto em fantasia já se espalha,
Vencendo contra a dor uma batalha
Aguarda um novo dia, alvissareiro.

Sem medos nem tempestas, simplesmente
Vivendo por viver, mesmo descrente,
Mergulho neste sonho, por inteiro...

1285


Mergulho neste sonho, por inteiro
E nada temerei, esteja certa,
O canto em que se deu amor primeiro
Deixando esta porteira agora aberta.

Lembrando da delícia de teu cheiro,
Tristeza no meu peito se deserta.
Amor bendito seja, o feiticeiro,
Embora é necessário estar alerta

Não temo mais as curvas que virão,
Apenas quero o vento benfazejo
Tramando a mais perfeita solução,

Mudando assim o rumo destes ventos,
Felicidade plena então prevejo;
Mesmo que seja apenas por momentos..


1286

Mesmo que seja apenas por momentos,
Eu sinto que terei alguma chance
De ter em minhas mãos teus sentimentos,
Vivendo a maravilha de um romance.

Tocado pelos belos pensamentos,
Captando reticências num nuance
Percebo finalmente estes ungüentos
Por mais que a fantasia não se canse.

Eu quero poder ter o teu sorriso,
Pois nele já encontro este sinal
Do quanto ser feliz inda é possível.

Amor que chega sempre sem aviso,
Transforma um ser tão frágil e mortal
Num deus iluminado e imprevisível...

1287


Num deus iluminado e imprevisível
Que toma a nossa vida em fantasia,
Entrego-me sem medo e por incrível
Que pareça, percebo esta alegria.

Talvez inanidade: tu dirás.
Mas é o que inda resta dentro em mim,
Assim ainda creio ter em paz
A flor imaculada em meu jardim.

A par da luta intensa que não cessa,
Eu sinto a provisão se avolumando,
Nos olhos da esperança uma promessa
Calando qualquer forma de desmando.

Amargos sentimentos lá se vão,
Sobrando tão somente esta emoção...

1288

Sobrando tão somente esta emoção
Bastante pra viver um dia em paz.
Um gole de alegria satisfaz
A quem só encontrou desilusão.

Assim ao perceber a redenção
Que o gozo da alegria já nos traz
Eu sinto-me em verdade mais capaz
Enfrento, peito aberto, este tufão;

Sabendo da louvável temperança
Tramada nas divinas providências,
Eu vejo nos teus olhos, evidências

Capazes de trazer tal esperança
O paraíso em vida, o sonho alcança
Alçando ao infinito em fluorescências.


1289

Estendo; em nosso quarto, mil estrelas
Roubadas de teus olhos- fantasia
Na divina emoção de poder tê-las
Encanto sem igual, ilusão cria.

Fantástica emoção em raras telas,
O amor emoldurando esta alegria,
Do quanto eu te desejo e me revelas,
Guardada em meu olhar, fotografia.

Entregue a tal cenário eu adormeço
E sonho maravilhas multicores.
O céu antes grisalho se azuleja

Em versos e sorrisos agradeço
Ao deus que se fez guia dos amores,
Traçando essa beleza tão sobeja...

1290

Traçando essa beleza tão sobeja,
Meu sonho determina em ilusão
Além do que este oráculo preveja
Um mundo em mais sublime tentação.

A mão que em tantos brilhos já dardeja
Bem mais do que pensara, em devoção;
Felicidade extrema, ela deseja,
Permitindo real satisfação.

A lua sertaneja se derrama
Por sobre o quarto imerso em esperanças.
Mostrando um espetáculo sem fim.

Deitando nosso amor por sobre a chama
Causando um turbilhão em noites mansas,
Interminável festa dentro em mim...


1291


Interminável festa dentro em mim
Ao ter tua presença, amada amiga.
Vivendo esta alegria, sinto enfim,
Poder de uma ilusão, incrível viga.

Por vezes tão sozinho, nada via
Senão a mesma sombra transtornada,
Cansado desta inútil fantasia
Que traz, no dia-a-dia, o mesmo nada

No peito crocitando a sensação
Do agouro tão fatídico de um corvo
Repetindo deveras o refrão
Da negação estúpida em estorvo.

Imagem desdenhosa que se muda
No pássaro, ao chegar tempo de muda...

1292


No pássaro, ao chegar tempo de muda,
Promessa de outro tempo que virá
A sorte que tolhendo; dói aguda,
É véspera do sol que brilhará.

Poder que nos transforma; uma esperança,
Nem sempre prenuncia um tempo bom,
Mas quando benfazeja; tal mudança,
Expressa em nossa vida um raro tom.

Tomando tuas mãos, eu sigo em frente
Não temo tempestades, avarias
Em todo este delírio que se sente,
Certeza que virão benditos dias.

Porém quando se mostra uma ilusão,
A gente vai sem paz, perdendo o chão...

1293


A gente vai sem paz, perdendo o chão;
Ao ver que não restando quase nada,
A vida quando muda a direção
Adentra em solidão por outra estrada.

O brilho se ofuscou sem a demão
Necessária. Da sorte anunciada
E aos poucos destruída e sonegada
Eu vejo tão distantes vinho e pão.

Esperança, sem tréguas, carcomida,
Alegria fugaz segue sem rumo,
Deixando como rasto este vazio.

O quanto que sonhara em minha vida,
Esvai-se em noite fria, frágil fumo,
Fantasmas que hoje trago, eu mesmo crio...

1294


Fantasmas que hoje trago, eu mesmo crio,
Resíduos do que fomos. Nada mais...
O tempo transtornado em vento e frio
Impede que se veja um ledo cais.

Felicidade, um gozo que eu adio
Ao vislumbrar ao longe os temporais.
Porém o coração sempre vadio
Não cansa de lutar. Isso? Jamais!

Assim mesmo em descrédito; eu batalho
Tentando renascer das mesmas cinzas.
As tarde se refazem grises, cinzas,

Mas sei que mesmo após a poda, o galho
Trará com força plena, um novo fruto
Não desistindo nunca, então eu luto...

1295


Não desistindo nunca, então eu luto
Por mais que tenha apenas uma chance
Jamais carregarei em mim o triste luto,
Em cada nova cena, outro nuance

A voz de uma esperança; agora escuto,
Quem sabe ao fim de tudo, algum romance?
Embora uma ilusão com ar astuto
Durante a caminhada, nos pés, trance.

Somando os meus momentos de alegria,
São poucos, mas decerto inesquecíveis.
A cada novo verso se recria

Um mundo onde, talvez, fantasioso,
Os sons das emoções sejam audíveis,
Permitindo um cantar mais prazeroso...


1296



Permitindo um cantar mais prazeroso
Entôo em esperança um verso amigo,
Depois de um terremoto algum abrigo,
Aonde se vislumbre sorte e gozo.

Sabendo que o destino é caprichoso,
A paz que tanto quero e mais persigo
Separa na verdade joio e trigo
Fazendo este canteiro mavioso.

Do quanto a vida, amarga, já nos priva
Eu vejo num momento ser apenas
Prenúncio de bonança em novas cenas

Após da fantasia; ser cativa
Minha alma sonhadora, que sem meta,
Vagava tantas vezes incompleta...


1297


Vagava tantas vezes incompleta
Entregue às ilusões sempre frustradas;
Uma alma necessita estar repleta
De brilhos, em vontades demonstradas.

A fantasia torna-se concreta
Traçando em mansidão nossas estradas,
Felicidade, assim, mesmo discreta
Abrindo; do prazer, suas entradas.

Cansado de carpir em solidão,
Vencendo estas angústias tão cruéis,
Fartando em alegria, raros méis,

Encontro finalmente a solução.
Recebo deste céu, claro matiz,
Podendo enfim dizer: eu sou feliz!


1298

Podendo enfim dizer: eu sou feliz,
Depois deste infindável maremoto,
Carrego no meu peito a cicatriz
Do sofrimento, agora tão remoto.

Meu verso embevecido já te diz
Deste horizonte aberto, aonde eu boto
Meus olhos na procura de outro bis
Libertando-me em paz. Não mais vou roto.

Acordo entre teus braços, alegria,
E bebo em tua boca este porvir
De uma magnificência inenarrável.

Alegre sensação, incontrolável,
Sem nada que se mostre a impedir
Felicidade vem e aromatiza...

1299


Felicidade vem e aromatiza
Depois da longa espera que tivemos,
Do quanto em alegria nós bebemos,
A sorte com carinhos sempre frisa.

A voz que determina é mais concisa
E nela todo o sonho em que podemos
Seguir a nossa vida; pois contemos
O brilho em que esse amor se somatiza.

Helênica beleza do teu rosto
Deixando o sentimento assim exposto
Numa expressão de luz maravilhosa.

Uma espera feliz se torna, enfim,
Realidade em sedas e cetim.
A vida passa a ser deliciosa...


1300


A vida passa a ser deliciosa
No cálice perfeito em que mergulho
A boca mais audaz, maliciosa.
A senda sem espinho ou pedregulho.

Do quanto eu te desejo, e já me orgulho
De ter em minha vida; a fabulosa
Mulher que se entregando sem orgulho
Do mesmo gozo insano, se antegoza.

Assaz maravilhosa, a noite segue,
Sem blagues armadilhas ou rancores.
Não quero mais saber de uma mixórdia,

Vivendo em mansidão, plena concórdia
Acórdãos respeitados, bel prazer
Num sonho tão sublime de viver...

1301

Num sonho tão sublime de viver,
Ouvindo, em comoção, tal sinfonia
Que mostra a mais perfeita sintonia
Na qual eu quero, agora, me perder.

Entranha em convulsão todo o meu ser,
Imagem que se dá em maestria
Música se espalhando, amor porfia
E trama um novo tempo de prazer.

Partícipes do mesmo encantamento,
Não deixe que se esvaia tal beleza,
É nela que alegria se represa

O gozo que em delírios eu fomento
Perfaz a cada verso um bem supremo,
Nos laços de teus braços, eu me algemo...

1302


Nos laços de teus braços, eu me algemo;
E quero, necessito ser cativo
De todo este momento, em que me extremo
E nisso, só por isso, eu sobrevivo.

Amor quando se faz, assim, extremo
Não tendo mais segredos, segue vivo,
Olhar enamorado; não mais temo
Nem mesmos de emoções, ora me privo.

Estímulos diversos que encontramos
A cada novo dia, só fomentam
Amores que queremos. Tu revelas

Em gesto delicado o que buscamos,
Distante das tristezas que atormentam,
Estendo; em nosso quarto, mil estrelas.


1303



Sentindo a raridade das essências
Que espalhas nos canteiros, esperança;
A placidez imensa já se alcança
Deixando bem distante as penitências.

Depois das ventanias e inclemências
Encontro novamente a confiança
Na qual o amor se entrega e por fiança
Aplaca em mansidão as emergências.

Amar é poder ter além de um sonho,
Realidade em paz que persevera.
Infinito florir de primavera

Aonde além de tudo, eu te proponho
Um cais em harmonia em que se externa
A vida em alegria, calma e terna...


1304


A vida em alegria, calma e terna
Na procissão de luzes e de estrelas,
Na tenra fantasia, não hiberna
E deixa as nossas noites bem mais belas.

A força conclamada em paz interna
Permite que ilusões, que sempre ao vê-las
O barco sem tempestas não se aderna.
As horas; tão gostoso assim vivê-las.

Sorrisos já não são simples centelhas,
No mesmo brilho agora, tu espelhas
Raiar inesquecível, deslumbrante.

Mantendo sempre acesa essa lareira,
A chama além do sonho que se queira
Na duradoura flama de um instante...

1305


Na duradoura flama de um instante
Estendo os braços meus e te procuro,
Deixando bem distante o céu escuro
Encontro a fantasia, delirante.

Amor não se guardando em uma estante
Suplanta com vontade, espinho e muro,
De todas as tristezas, me depuro
E vivo finalmente em paz constante.

Amar é não temer vicissitude,
Bebendo em fontes claras, juventude,
Eternizando enfim quaisquer momentos

Aonde uma bonança já se expresse.
Amar é se entregar a Deus, e em prece
Cegar em luz pacífica, os tormentos...


1306


Cegar em luz pacífica, os tormentos,
Teimando em ser feliz mesmo que venha
A negra solidão. Mantendo a lenha
Acesa, enfrentar sempre fortes ventos.

A vida proporciona os seus proventos
Por mais que tanto medo, às vezes tenha,
Escrevo em mansidão minha resenha
Sabendo das feridas, sei de ungüentos.

Numa expressão audaz e flamejante
Amor em força intensa e deslumbrante
Estende a claridade em meu quintal.

Aguando com sorrisos, a alegria,
Um novo alvorecer me propicia
Retratos deste sonho sem igual...


1307


Retratos deste sonho sem igual
Numa moldura feita em ouro e prata.
Desejo de te ter já me arrebata,
E eu bebo deste raro ritual.

Amor que tantas vezes, triunfal
Toando a fantasia nos retrata
Na força que jamais algo desata
Vencendo em harmonia qualquer mal.

Atônicas tristezas lá se vão
Tomadas por gentil arribação
Jamais retornarão, tenho a certeza.

Assim, ao debruçar-me na janela
Eu vejo que este sonho se revela
Com olhos embebidos em beleza...

1308


Com olhos embebidos em beleza,
Inebriado bebo, gole a gole
O quanto esta alegria já nos bole
Tomando em nossa vida, com surpresa.

Sabendo ser de ti, apenas presa
Não quero quem dos medos me console,
Se a boca desta fera assim me engole,
Desejo me fartar à mesma mesa.

Amor, um vencedor neste escrutínio
Permite que se veja com fascínio
Manhã de eterno sonho em carnaval.

Não temo mais, da vida, uma tramóia
Sabendo que encontrei sublime jóia
Gozando essa ventura magistral.

1309


Gozando essa ventura magistral,
De ser teu companheiro e ser teu par,
Da fonte inesgotável quero estar
Ao lado e ser por isso, triunfal.

Decerto um ser sublime e divinal
Pôde em perfeição rara, transformar
Transportando do Céu feito luar
O brilho em maravilha sem igual.

A mãe, amante, amiga e camarada,
Decerto eu não te canto neste dia,
É pouco, na verdade, quase nada.

Pois para quem nos traz a vida e o gozo,
A vida inteira, enfim não bastaria,
Para cantar um ser tão fabuloso...

1310


Para cantar um ser tão fabuloso
Não tenho mais palavras, simplesmente
Por mais que o verso teime e ainda tente,
Embora algumas vezes melindroso,

Falar do quão sublime e caprichoso
Desejo que tomando a minha mente,
Permita que eu te fale num repente
Do quanto o nosso amor é tão gostoso.

A par do encantamento em que se dá
A mais perfeita forma de expressão,
Beijando a tua boca, desde já

Eu vejo a fantasia que me trazes
Tomando com certeza o coração,
Tornando nossos sonhos mais audazes...

1311


Tornando nossos sonhos mais audazes,
Mergulho nos teus braços, sem pudores.
Colhendo em profusão, as belas flores,
A lua se desnuda em várias fases.

Os lábios se procuram mais vorazes,
Em beijos e carinhos sedutores,
Misturas de vontades entre ardores
Na trama em que se dão; de amores, ases.

Sentindo o teu perfume junto a mim,
Delego ao sofrimento, o descaminho.
Da glória feita insânia, eu me avizinho,

Desejo do começo até o fim
Estar junto contigo o tempo inteiro.
Amor além de tudo, verdadeiro...

1312


Amor além de tudo, verdadeiro;
Impulsionando a vida nos propõe
Um dia em que esperança recompõe
O passo mais altivo e alvissareiro.

O quanto em alegria se repõe
O tempo que se foi noutro viveiro,
A luz se decompondo num tinteiro
Dentro do peito, o brilho intenso põe.

Ações que nos permitam traduzir
A glória de poder estarmos juntos,
Na força inusitada dos conjuntos

Jamais alguém virá nos impedir
De termos dentro em nós; vital certeza
Vencendo calmamente, a correnteza...


1313


Vencendo calmamente, a correnteza,
Prossigo par a par com quem eu amo.
A vida proporciona tal defesa
Dourando no arvoredo, cada ramo.

Amor não quer senzala nem quer amo,
Apenas simplesmente com leveza,
Permite neste canto que ora eu tramo
Beber da fantasia, a realeza...

Vitória sempre régia de um amor,
Na imensidade bela, a rara flor
Estampa a divindade feita em glória.

Amor enaltecendo cada passo,
Adentra o coração e ocupa espaço
Deixando a solidão, tão merencória...


1314


Deixando a solidão, tão merencória,
Distante dos meus versos, sigo em frente,
No amor e no carinho tal vanglória
Enaltecendo a paz que se pressente.

Quem fora no passado, pária, escória
Um simples e tão frágil penitente
Mudando num momento, a minha história
Amor estava sempre aqui, latente.

Rondando o pensamento, tanta vez,
Amor ao traduzir-se insensatez
Pedia em cada noite a plenitude.

Roçando a nossa pele, em arrepios,
Eu desço em emoção, nascentes, rios
Volvendo a perceber a juventude...


1315


Volvendo a perceber a juventude
Deixada nos barrancos da existência,
A vida ao se mostrar em inocência
Permite que deveras já se mude

O curso deste rio, em atitude,
Trazendo ao velho a luz da paciência
E disso, meu amor; tenho ciência
Embora eu sei que sou, às vezes rude.

O quanto te querer sempre faz bem
E quanto a fantasia nos convém
Expressa num delírio esta ternura.

As bocas se atraindo num segundo,
Atando o coração tão vagabundo,
De sofrimento e dores, me depura...


1316



De sofrimento e dores, me depura
O sentimento calmo que me trazes.
Saudades que por vezes tão vorazes,
Estampam nos meus olhos, a amargura.

A vida é tantas vezes cruel, dura
A solidão me prende em vis tenazes,
Porém eu sei que mesmo em frias fases,
Derramas com carinho, esta ternura.

Alvorecendo o sonho indescritível
No qual o pensamento, imprevisível
Demonstra ser além de coincidências

As luzes em que brilhas sobre mim,
Emanas maravilhas no jardim,
Sentindo a raridade das essências.

1317

Aromas sensuais que me revelas
Rolando em minha cama, desejosa,
De toda esta alegria que se goza
Jamais me fartarei. Abertas velas

Meu barco navegando sobre as telas
Criadas sobre a luz maravilhosa
Aonde a fantasia gloriosa,
Já rompe; libertária, antigas celas.

Voa livremente o meu corcel
Sem selas nem estribos nem arreios,
Minha boca tocando os belos seios

Sugando em maravilha, leite e mel.
Deste Atlas reconheço vales, montes,
Nascentes dos meus gozos, raras fontes...


1318


Nascentes dos meus gozos, raras fontes
Adentro qual intrépido turista,
A cada novo ponto que se avista
Amplio do desejo; os horizontes.

Em vales, cordilheiras, grutas, montes
Geógrafo em prazer passa em revista
E toda a maravilha cedo lista
Ecólogo não quer outros desmontes.

Apenas desfrutar esta beleza
Que é dádiva sublime, com certeza
Da mãe Natura em festa, em fantasia.

Orgásticas lições; vou aprendendo,
Enquanto este rocio, percebendo,
Sorvendo com total, farta alegria.


1319


Sorvendo com total, farta alegria,
Decerto eu me inebrio e quero mais,
Fartando-me do néctar, da ambrosia
Encontro os meus deleites divinais.

Entranho no teu corpo à revelia,
Tramando estes enredos sensuais,
No sonho qual bacante em plena orgia,
Espalhas teus segredos magistrais.

A par desta loucura, enlanguescente,
Deitada com esplêndida altivez,
Amor que a gente entorna a cada vez

Em que se demonstrando, sem limites,
O quanto te desejo, me acredites;
Num toque deslumbrante, iridescente...

1320


Num toque deslumbrante, iridescente,
Após a chuva intensa em sol brilhante
A gente se treslouca e de repente
Demonstra-se em audácia, provocante.

Sugando a sacra seiva qual demente,
Um gozo tão real e mais constante
Vontade não se afasta mais da gente
Na trama sem igual e inebriante.

Depois da tarde morna, em vão marasmo,
Um chafariz explode em tanto orgasmo,
Vibrando numa uníssona vontade.

Arrancas em suspiros e gemidos,
Caminhos tão gostosos percorridos,
Trazendo ao nosso amor; paz, liberdade...

1321



Trazendo ao nosso amor; paz, liberdade,
A corredeira feita em carrosséis,
Unidos pelos mesmos carretéis,
Alçamos com vigor, felicidade.

As pernas confundidas, na verdade
Expressam a delícia destes méis
Provados em delírios mais fiéis
Numa explosão de cores; realidade.

Num ato em que insensato, assim mergulho,
Dos burburinhos surge este marulho
Tomando a nossa cama em preamar.

A lua desdenhosa; segue ausente,
Ciúmes desta trama incandescente,
Na cama sem limite, a desfilar...

1322


Na cama sem limite, a desfilar,
Constelação de gozos mais profanos,
Os olhos se procuram, sem enganos,
Fartura que se mostra e quer ficar.

O gozo de um prazer faz levitar,
Desejos entre sendas soberanas,
Do tanto em que mergulhas, tenho ganas
Entremeando pernas; par em par.

A boca umedecida de vontades,
Os lábios sequiosos não se cansam,
Enquanto outros orvalhos não se alcançam.

Reflete em transparência e claridades,
A chama que incandesce e nos domina,
Enquanto jamais seque, o poço, a mina...


1323


Enquanto jamais seque, o poço, a mina,
Amor nos erotiza e nos protege,
No sonho que em loucura já se rege
Deslumbra, provocante e nos fascina.

A solidão de alguns, cruel herege,
Censura tão venal, nos determina,
Enquanto amor indócil nos elege
Um solitário estúpido alucina.

Adentro a doce furna inigualável
Encontro ancoradouro desejável
E sigo minha sanha prazerosa.

Sentindo o teu aroma sobre mim,
Perfume delicado que sem fim,
Expressa a delicada e rubra rosa...

1324


Expressa a delicada e rubra rosa
Rainha dos canteiros, deusa fêmea.
Amante dedicada e glamourosa
Decerto de Cupido uma alma gêmea,

Atrelo o meu desejo em seus perfumes,
E bebo cada olor, que cedo emanas,
Refletem nos meus olhos raros lumes,
Expressas maravilhas sobre-humanas.

Eu quero esta delícia, sempre à farta,
Tocando com meus lábios tal nudez,
Meus olhos de teu corpo; nada aparta,
Revolução em gozos que se fez

Mudando a minha sanha em flóreo sonho,
Meu barco nos teus mares; quero e ponho...

1325



Meu barco nos teus mares; quero e ponho
Naufrágio mavioso eu adivinho,
Em meio ao turbilhão feito em carinho,
Adentra em gozo e paz um mar medonho.

O quanto com delírios; vejo em sonho
Permite que se beba o farto vinho,
Licores nesta cena que componho,
Adega em fantasia onde me aninho.

A cérvice em desejo, arrepiada,
Sussurros entre jogos e carícias,
Palavras se vestindo com malícias

A noite segue assim, em cavalgada,
Derramas em goteiras, sem pecados,
Os mantras mais sublimes, entoados...


1326


Os mantras mais sublimes, entoados
Na harmônica vontade de se dar,
Em cítaras e liras, posso alçar
Extremos em destinos já traçados.

Os templos, catedrais, são profanados
Janelas vão se abrindo par em par
Adentro estes mistérios devagar
Orvalhos generosos derramados...

Na úmida fortaleza agora aberta
Eu vejo a deslumbrante descoberta
De estrelas e cometas, alabastro

Ateio em doce incêndio minhas lavas,
Enquanto em mil prazeres já te lavas
Bandeira tremulando em rijo mastro...


1327



Bandeira tremulando em rijo mastro
Chamado para a paz e para a guerra,
Seguindo cada passo encontro o rastro
Daquela que em desejo, amor encerra.

Do céu em maravilhas, como um astro
Olhar enamorado não mais erra
E vendo a branca alvura em alabastro
A resistência tola cai por terra.

Não posso mais negar quanto eu te quero,
Se é tudo o que eu preciso para ser
Feliz, é neste sonho que eu tempero

A vida em busca insana e fascinante.
Além do que eu pudera perceber,
Desejo o teu amor a cada instante...


1328


Desejo o teu amor a cada instante
E faço disso o mote preferido
Outrora um coração vago e ferido
Percebe este pendor belo, ofuscante.

Do sonho de viver, agora amante
Depois de tanto tempo carcomido
Nas tramas deste enredo, decidido,
Caminho rumo ao céu, passo constante.

Amor é tantas vezes tão matreiro,
Mas sabe da emboscada e numa espreita
Com gozo e fantasia se deleita,

Mergulha sem limites, vai inteiro.
Na pele da morena sensual,
Erijo argênteo altar luz colossal...


1329

Erijo argênteo altar; luz colossal
Adentra nos beirais, tomando a cena,
Desnuda em minha cama esta morena
Beleza iridescente, sem igual.

Diamantina taça de cristal
Aonde me inebrio em noite plena,
Levitação em gozo já se acena,
Na tenra sensação: ser imortal.

Deste banquete farto eu me extasio
Comendo sem parar, horas a fio,
Até que amanhecer trazendo o sol,

Esboce e recomece nosso afã
Café delicioso da manhã,
Profusa inundação ganha arrebol.


1330


Profusa inundação ganha arrebol
Tomando este jardim, invade a casa,
Seguindo cada passo um girassol
Deitando em teu prazer quer e se abrasa.

Tocado pela força do farol
Que emana em nossa cama, chama e brasa,
Jamais eu voltarei a ser atol,
A vida em outras tramas já se embasa

Não quero mais areias movediças,
Bebendo em teu olhar tantas cobiças
Canteiro dos desejos traz estrelas

E nelas adivinho, colibri,
Das flores mais divinas que sorvi,
Aromas sensuais que me revelas.


1331



Delícia que se faz; doces ardências
Que adentram nossos jogos noite afora.
Amor não tem sequer conveniências
A cada novo instante mais se aflora.

Ganâncias e delitos, indecências,
Fugazes emoções a qualquer hora
Às vezes simulando em indigências
E florescência rara nos decora.

Demências disfarçadas, gozo pleno,
Mendicâncias em ritos e pedidos,
Urgências sobrevindo em mar sereno.

Os dedos adivinham seus espaços,
Tateiam e vislumbram claros traços
Entoas sinfonias em gemidos...

1332


Entoas sinfonias em gemidos
Trazendo pirilampos para a cama.
Tocando em profusão nossos sentidos,
Prazer que a todo tempo se reclama.

Decifro em signos, beijos repartidos,
De senhas e loucuras, farta gama,
Além dos velhos ritos percebidos,
O fogaréu intenso nos inflama.

Senhora tentação nos braços teus,
Desejo se assenhora e não descansa,
Enquanto a vida trama noite mansa,

Os olhos se devoram sem adeus,
Espalhas fulgurantes labaredas,
Nas teias e centelhas, já me enredas...

1333



Nas teias e centelhas, já me enredas
Fazendo deste encanto, meu farol,
Carinhos que eu desejo que tu cedas
Fagulhas que incendeiam o arrebol

Teu corpo envolto em rendas, cetins sedas,
Deitado provocante no lençol,
De gozos e delírios, alamedas
Debruça sobre amor, a lua e o sol.

Tanto tempo desfruto do sabor
De tua boca, beijos transtornantes.
Estonteante ronda em noite clara

Deixando para trás quaisquer problemas,
Rompendo com passado velhas algemas,
Amor que em plenitude nos aclara...

1334

Amor que em plenitude nos aclara
Negando escuridão, já tira o sono,
Angústia se legando ao abandono,
Tomando toda a vida, nos ampara.

O quanto que me entrego se declara
Mudando a direção do peito mono;
Trazendo a sensação de altar e trono,
Nesta emoção divina, pois tão rara.

Agônico passado que se esvai
Recebe o vento forte da esperança,
E nele em viva marca, a temperança

A sorte finalmente não me trai
E deixa que eu vislumbre um novo dia
No brilho ora sobejo da alegria...


1335

No brilho ora sobejo da alegria,
Dançamos noite afora, rito em valsa
Beleza sem igual amor realça
Expondo a mais sublime poesia

Na qual amor se faz em melodia.
Mulher que em meus anseios lumes alça.
Da vida que eu provara, outrora falsa,
Um Eldorado agora se recria.

Andando pelas ruas, bares, praças,
Estrelas sorrateiras e falsárias,
Destino diferente, eu sei que traças

As horas que eu vivera, solitárias
Jogadas nas masmorras da lembrança,
Expressam finalmente confiança...


1336




Expressam finalmente confiança,
Os versos que hoje trago para ti.
Pousando flor em flor, um colibri
Néctar maravilhoso agora alcança.

Amor que se faz sempre em temperança
Demonstra o farto bem que recebi,
Estando do teu lado, eu percebi
Vitória necessita de aliança.

Premente esta vontade soberana
De ter a tua boca, teus regaços,
Entregue à fantasia nos teus braços,

Minha alma em alegrias se engalana,
Encontra neste amor, mar infinito,
Derrete a solidão, duro granito...


1337


Derrete a solidão, duro granito,
Bonança que em amor se fez completa
De um sonho mavioso e tão bonito,
Minha alma, num momento se repleta.

Tocado por Cupido em flecha e seta
O quanto de desejo eu já reflito
Permite que se tenha como meta
O bem no qual, sincero, eu acredito.

Ser teu e tão somente, nada mais
Além de tudo faz com que eu me sinta
Um barco que encontrou um ledo cais.

Reflexo deste encanto incomparável,
Mudando o meu futuro em clara tinta
Expressa um sonho lindo, insuperável...


1338



Expressa um sonho lindo, insuperável,
O gosto delicado em que se dá
Amor que sem perguntas mostrará
A vida em belo tom, decerto, amável.

Um dia em harmonia, amor quiçá
Permita eternidade. Tão afável
Caminho que em vontades mudará
O rumo em nova senda inquestionável.

Descrevo um arco, insano bumerangue,
Voltando ao coração qual fora sangue
Numa vital, feliz, circulação.

Revendo cada verso que eu te fiz,
Eu posso enfim dizer que sou feliz,
A vida nos teus braços, solução...

1339


A vida nos teus braços, solução
Encontra para todos os problemas,
Fazendo destes sonhos os emblemas
Da glória, a mais real constatação.

Abrindo ao mesmo tempo o coração
Encontra a perfeição em raras gemas,
Vencendo em alegria estes dilemas,
Amor nos traz enfim consagração.

Ser teu e nada além, o que me basta.
Não tendo outro caminho, sigo assim,
Vivendo esta emoção dentro de mim

A lua sertaneja, em noite casta
Derrama em raios mansos, a esperança.
Trazendo ao nosso amor, paz e bonança.


1340


Trazendo ao nosso amor, paz e bonança,
Poeira calmante toma assento,
Outrora um sentimento violento
Agora em alegria uma alma amansa.

Nos jogos esquecidos na lembrança
O tempo se mostrando em novo vento,
Amor já não me sai do pensamento,
E a sorte em glória plena nos alcança.

A vida em promissores espetáculos
Cumprindo a profecia dos oráculos
Tentáculos tocando nossos sonhos.

Nos velhos tabernáculos, oradas,
Nas básculas da vida, antes bisonhos,
Desejos embrenhando outras estradas...

1341


Desejos embrenhando outras estradas
Estendem o tapete da alegria,
O quanto te desejo e já sabia
Das horas em prazeres entranhadas.

As formas deste sonho realçadas
Nos olhos de quem trama esta alquimia
Tocando a nossa vida com magia
Jamais as emoções são disfarçadas.

Amor um velho tema não se esgota,
Uma alma em desamor prossegue rota
Sem ter algum destino, peregrina.

No quanto amor sincero faz tão bem,
Eu sinto que em ternura a noite vem,
Nos olhos e nos braços da menina...


1342


Nos olhos e nos braços da menina,
Os signos de acalanto e de prazer,
Acolhedora senda que ilumina,
Emana sobre nós o bem querer.

Agora, finalmente eu posso crer,
No quanto amor em paz nos alucina,
Ao galopar permite em cauda e crina
Beleza incomparável de se ver.

Um cavaleiro errante encontra a sorte
Depois da tempestade, finalmente,
No canto em que se encanta e faz contente

Mudando com certeza, sina e norte.
Vivendo em destemor tal sentimento,
Aos céus entranharei por um momento...


1343

Aos céus entranharei por um momento
Matando a minha sede em manso lago.
Do quanto necessito cada afago,
Percebo estar liberto, o pensamento.

Por vezes, ao sentir tal nobre intento,
Eu bebo da esperança um farto trago,
Amor em força esplêndida, este mago
Transforma a fantasia em seu rebento.

Somando nossas forças, nada impera
Além desta infinita e magistral
Delícia que nos toma em ritual,

Trazendo a mais sublime primavera.
A fera se calando extasiada,
Nas teias deste amor, vai embrenhada...


1344

Nas teias deste amor, vai embrenhada
Intensa maravilha de saber
Que tanto maravilha em cada ser
Palavra que em amor foi empenhada.

Da força insuperável, entranhada
A glória amaciando o vil poder,
Permite que se possa perceber
A vida em alegrias emprenhada.

Trazendo para tantos, luz suprema,
Amor em harmonia não se extrema,
Encara em mansidão, vagas dolências.

Toando a melodia em plena paz,
Amor já se concebe enquanto traz
Delícia que se faz; doces ardências.

1345



Culminam no prazer de assim contê-las,
Esperanças rondando quais falenas
Em procissão; constelam tais estrelas
Sidéreas emoções restam serenas.

Num sonho em fluorescências posso vê-las
Às vezes gigantescas ou pequenas
Revelam em seus mistérios, rotas, velas
Ao fundo, sorridente, tu me acenas.

No imenso tombadilho, a tua imagem
Reflete em multicores fantasias.
O barco ao engendrar esta viagem

Percorre este oceano, o pensamento.
Percebo: ao mesmo tempo em que sorrias,
Mais forte, com certeza, vinha o vento...


1346

Mais forte, com certeza, vinha o vento,
Trazendo para tantos o sinal
Da sorte se entranhando num momento
Numa transformação, seu ritual.

Durante a ventania, segue lento,
Da latitude sabe, ao menos, grau
Sem ter a referência visual,
Periga num naufrágio em sofrimento.

Porém o teu sorriso me persegue,
E nele sigo os rastros, timoneiro.
Por mares tão sombrios que navegue

Percebo mesmo às vezes temeroso,
Que ao ter o nosso amor por companheiro,
O dia raiará maravilhoso...

1347

O dia raiará maravilhoso,
Esta esperança sempre vem comigo,
E dela com certeza, o manso gozo
De quem enfrenta em paz qualquer perigo.

Ao menos inda guardo o fabuloso
Sorriso de quem amo e a quem persigo
Além da luta inglória, é caprichoso
O mar que inda carrego e creio amigo.

O barco que soçobra em fortes ondas,
À noite te procuro em tantas rondas
E vejo tua marca pelo chão.

A lua se entornando nas calçadas
Transitam ilusões tão maltratadas;
Aguardo para o fim, rebelião...

1348


Aguardo para o fim, rebelião;
O amor em tempestade dentro em mim,
Provoca nos desejos um motim,
Causando assim total sublevação.

A lua vendo tudo da amplidão
Demarca com seus raios de onde eu vim,
O porto se afastando até que ao fim
Só restem os resquícios da ilusão.

Apenas teu sorriso inda me guia,
Talvez desta esperança, a fantasia
Não deixe que eu perceba a realidade.

O mar que se fizera quase morto,
Negando ao navegante agora o porto,
Adentre os campos vagos da saudade...


1349


Adentre os campos vagos da saudade,
Meu verso sem limites ou fronteiras,
O mar que se fez cedo em falsidade,
Não tem mais seus emblemas nem bandeiras

Quem dera que eu pudesse em liberdade
Falar de outras notícias corriqueiras
As horas sem saber tranqüilidade
Decerto que serão as derradeiras.

Empedernido sonho que revolta
E traz em carrossel um rosto antigo,
As mariposas seguem numa escolta

Rondando a lamparina da esperança.
Olhando o meu passado, inda persigo,
A voz que há tanto tempo não me alcança...


1350


A voz que há tanto tempo não me alcança
Ainda ressoando na memória,
Convite descartado para a dança
Danando de uma vez a minha história.

Um canto que permita a temperança
Jogado pelos cantos, como escória,
Minha alma revolvendo, merencória
Apenas o vazio, passo trança.

Meu barco vai sem rumo, sempre ao léu,
Estrelas que se foram do meu céu,
Deixando a noite em trevas mais soturnas.

Adentro em ilusão, antigas furnas
E nada se revela neste instante.
Saudade mata a paz, beligerante...

1351


Saudade mata a paz, beligerante;
Estende suas minas no caminho.
Incansável, terrível, dominante
Arrasta um coração sempre sozinho.

Ouvindo nos porões o burburinho,
Correntes arrastadas; claudicante,
Não posso mais seguir o meu caminho,
Apenas do que fui; eu sigo amante.

Defronte de meus olhos, um sorriso,
Irônico permite ser aviso
Do quanto não terei vagando assim.

Buscando o meu remédio no vazio,
Do nada, simplesmente o nada crio,
Arrasto o que inda resta dentro em mim...


1352


Arrasto o que inda resta dentro em mim
Deixando pela casa velhas marcas.
Pegadas do que fomos; de onde eu vim,
Distante de teu mar, sigo sem barcas.

O quanto de desejos sempre abarcas,
Saudade inesgotável chega assim,
Revive; num momento, antigas Parcas
Amanhecendo ao som deste clarim

Procuro um lenitivo num sorriso
Guardado como forma de um aviso
Tomando toda a cena, visionário...

Assim como mostrasse em relicário
O quanto que eu perdi e não sabia,
Refaz do desencanto, a fantasia...

1353


Refaz do desencanto, a fantasia,
O verso sem os quês de uma esperança
Por mais que a noite surja clara e mansa
Saudade martiriza em agonia.

Ao mesmo tempo, maga, me inebria
Se num segundo volto a ser criança
Ao mesmo tempo falta a temperança
E a noite novamente assim se esfria.

Imagem de um sorriso, outrora oculto,
Este fantasmagórico e vil vulto
Caminha pela casa novamente.

Atando nos meus pés, velhos grilhões,
Causando do vazio, comoções,
Felicidade foge, totalmente...


1354



Felicidade foge, totalmente;
Deixando em seu lugar, saudade imensa.
Quem tem como esperança a recompensa,
Recebe por herança a vil corrente.

Por mais que tantas vezes inda tente,
Apenas num sorriso, sempre pensa,
A noite em amargura segue tensa,
Persisto como um tolo penitente.

Palavra lusitana, nega a soma,
Desta idiossincrasia do idioma
Eu sinto o meu destino já traçado.

A marca desta amarga nostalgia
Cravada no meu corpo a cada dia,
Impede o alvorecer iluminado...

1355

Impede o alvorecer iluminado,
A treva inesgotável que carrego,
Por mais que uma esperança trame um brado,
Meu passo assim prossegue; torpe e cego.

Sorriso tanta vez anunciado
Espreita o vendaval quando navego,
Num ato que decerto é tresloucado,
Ao mais temível sonho; assim me entrego.

Esfacelando o resto que inda existe
Voraz, embora amargo e mesmo triste
Prevendo em meu futuro um final trágico.

Meu verso no final quase autofágico
Explode em fantasias e ilusões,
Sangrando estas barragens, turbilhões...


1356


Sangrando estas barragens, turbilhões
Invadem pensamentos e desejos.
De tanto que enfrentei em negações
Momentos de agonia tão sobejos.

Saudades entranhando em borbotões,
Resíduos dos antigos relampejos.
Agora nos meus passos, medos, pejos.
Não vejo num sorriso, as soluções.

A par do que já tive e não mais tenho,
A vida vai cerrando amargo cenho
Na pétrea sensação do nada ter.

Apenas os resquícios que transbordam,
As manhãs tão grisalhas que me abordam,
Renegam qualquer forma de prazer...


1357



Renegam qualquer forma de prazer
As velhas ilusões já se esvaindo.
O que pensara ser um dia lindo
Apenas tempestades, posso ver.

Sentindo da saudade, o seu poder,
As chuvas mansamente vão caindo
Sorrisos de mulher me perseguindo,
Irônica expressão do nada ter.

O que restou de nós? Nem mesmo sei,
Apenas um retrato na gaveta,
Mas dói e corroendo, dia-a-dia

Volvendo eternamente à mesma grei
A sombra do vazio me completa
Inverno dentro da alma não se estia...


1358


Inverno dentro da alma não se estia
Num temporal que sei interminável.
A noite recomeça e sempre fria
Nas mãos de uma saudade insuperável.

Estrelas e falenas... Mas, vazia
A vida não permite um sonho amável,
Destroça em sortilégio a poesia
O tempo dentro da alma segue instável.

Quem dera se eu pudesse ainda ver
Sorriso mesmo irônico e sarcástico.
O sonho que se mostra assim espástico

Negando timoneiro, barco e velas,
Esperanças que ao menos penso ter
Culminam no prazer de assim contê-las.

1359


Dos raios do luar, calmas dolências,
Trazendo a dor intensa de um vazio.
Nas marcas entranhadas, penitências,
Um sonho que eu vivi, ora recrio.

Na boca da mulher, claras ardências,
Momentos de emoção que fantasio,
Agora tão somente as inclemências
Mas tenho a sensação de um novo estio.

Relembro de seus olhos, seu sorriso,
Chegando mansamente e sem aviso,
Num átimo tomado em avidez,

Mergulho no passado e sua imagem,
Além de simplesmente uma miragem,
Em mágica alegria se refez...

1360

Em mágica alegria se refez
A vida num momento de prazer;
Tocados por total insensatez
Dois corpos num só corpo eu posso ver.

Sentindo a morenice dessa tez
Roçando a minha pele, passo a crer
Num Deus enamorado que te fez
Mostrando em farta glória o Seu poder.

Viajo por caminhos deslumbrantes,
Sorrisos em malícia provocantes
Sussurros delicados, mas audazes.

Fronteiras; desconheço, e num momento
Eu creio que entornando o sentimento,
A um tempo satisfaz e satisfazes...

1361


A um tempo satisfaz e satisfazes
Provocas e me tocas com desejos.
Nos jogos da alegria, tantos ases,
Carícias tresloucadas negam pejos.

A vida tem, decerto, suas fases
E nelas há momentos mais sobejos
De luzes e carinhos, pois me trazes
Prazeres muito além de relampejos.

Beijar a tua boca. Ser só teu...
Não quero simplesmente estar contigo,
Meu mundo nos teus braços se perdeu.

Sorriso inigualável em perfeição,
Embora cada canto diz perigo,
Nos braços da sereia, a perdição...


1362

Nos braços da sereia, a perdição,
“Amor sendo infinito enquanto dure”
Estrela divinal que se procure
Causando a mais sincera convulsão.

Cansado de ter sempre o mesmo não,
Da solidão sorriso, agora cure,
E mesmo que em verdade não perdure,
Expresse a mais sublime sedução.

Encontros pela vida, tantos tive,
Em desencontros tolos, me perdi.
Lugares tão distintos onde estive

Porém, felicidade existe em ti,
Mas quando a morte, um dia me calar,
Eu posso enfim dizer: eu pude amar!


1363

Eu posso enfim dizer: eu pude amar!
E mesmo sendo apenas virtual
Amor veio chegando devagar,
De um jeito tão gostoso e sensual.

Vontade de poder te namorar,
Carinho assim sublime e sem igual,
Na boca com prazer imaginar
O beijo que se faz quase real.

Assim, esta alegria eu quero e tento,
Perigo; sei que existe. O que fazer?
Mais forte do que tudo, o sentimento

No qual eu sem limites quero ter,
Felicidade ao menos num momento.
Tocado pelas ondas do prazer...


1364



Tocado pelas ondas do prazer
Sentindo um arrepio tão gostoso,
Vontade de chegar e de poder
Bebe em tua boca, o fabuloso

Néctar que por instantes vai prover
Um sonho delicado e mavioso.
No amor que se prevê voluptuoso,
Um rio em plenitude a percorrer...

Refém desta vontade eu te garanto
O quanto eu te desejo há tanto tempo.
Na vida não percebo contratempo

Apenas tão somente o raro encanto
No qual faço meu canto e minha sina,
Desejo de ser teu; bela menina...


1365

Desejo de ser teu; bela menina,
Na força soberana deste amor
Que espalha em nossos sonhos, mar e flor,
Ao mesmo tempo sangra e nos domina.

Intensa fantasia a se compor
Além do que a razão já determina.
Mudando a direção, transforma a sina,
Deixando uma emoção solta ao sabor.

Nos ventos que se fazem temerários,
Nos olhos que compõem uma alegria,
O quanto este querer demais se urgia

Demonstra quão possível ser feliz.
Buscando comum foz, mesmo estuário,
Contigo eu tenho tudo o que bem quis...


1366

Contigo eu tenho tudo o que bem quis,
Um velho trovador escuta a voz
Do amor que se mostrando dentro em nós
Transforma este marujo em aprendiz.

Grumete da esperança, eu sou feliz
Mesmo sabendo ser amor algoz
Retiro dos meus olhos ledos pós
Esqueço a mais temida cicatriz.

Maturidade traz experiência?
Eterna juventude não se cansa
Fazendo rebrotar a mocidade.

Por mais que alguém traduza por demência
O amor se renovando em confiança
Permite perceber felicidade...


1367


Permite perceber felicidade
Após a tempestade, o claro sol.
Rompendo, no meu peito, antiga grade,
Delícias em cetim, seda, lençol...

Na fúria delicada que me invade
Prevejo novamente este farol
Que trama ao mesmo tempo liberdade,
Matando estes abrolhos no arrebol.

Meus olhos procurando em cada lume
Encontram suas marcas, belos rastros,
Transitam nos espaços entre os astros,

Legando à solidão cada queixume
Colecionado em dias infelizes.
Amor já se esqueceu destes deslizes...

1368


Amor já se esqueceu destes deslizes
Tenha a certeza disso. Siga em frente.
Um novo amanhecer, querida, invente
Assim nós superamos quaisquer crises.

Do que tu mais desejas sempre avises,
Contigo não irei tão tolamente
Atados pelos nós dessa corrente,
Decerto nós seremos bem felizes.

Um tempo em libertária imensidão
Aclara-se, tomando este horizonte.
Olhando para o rumo em que se aponte

O vértice perfeito da emoção
Seremos bem mais fortes, estou certo.
Amor um vero oásis num deserto...


1369


Amor um vero oásis num deserto,
Fazendo ressurgir vida, esperança
Aonde o sonho leve, é que se alcança
O rumo procurado, outrora incerto.

O sentimento em paz, o peito aberto,
As mãos que se estenderam na aliança
Aos poucos transmitindo confiança
Permitem passo firme e aprumo certo.

Visceral que tenhamos dentro em nós
Esta força indelével de um amor.
Soberano poder transformador

Uma expressão de firme e clara voz,
O guia nos momentos imprecisos,
Colheita em que se tramam paraísos...

1370



Colheita em que se tramam paraísos
Percebo no jardim de nosso amor.
O quanto em sonho é sempre tentador,
Amor jamais nos manda seus avisos.

Permita que eu adentre teus sorrisos,
Chegando ao mais perfeito e encantador
Canteiro; aonde eu sei que em cada flor
Cuidados foram sempre tão precisos.

Botão quando roubado prenuncia
Encanto bem maior, disso eu sabia
Por isso minha voz se faz tenaz.

Paixões entre palavras reveladas,
Estampam estas flores que; roubadas,
Traduzem todo o gozo que amor traz...



1371


Traduzem todo o gozo que amor traz
Palavras benfazejas que trocamos.
Sabendo desde sempre o que buscamos,
Amor que nos traduza intensa paz.

A mansidão na qual ele se faz
Não quer e nem prevê servos nem amos.
Apenas entrelaces destes ramos
Mostrando o quanto um sonho é mais capaz.

A par destas promessas que eu te faço,
Amor vai estreitando cada laço,
Traçando um novo rumo em claridade.

Firmando a cada dia mais o passo,
Estendo o meu olhar aos firmamentos
Recebo o teu carinho em mansos ventos.


1372



Recebo o teu carinho em mansos ventos
Lembrando do que fomos. E não mais.
A vida ao sonegar âncora e cais
Eu sei que transtornou rosa dos ventos

Pensara ser um deus, loucos momentos,
Porém não me esqueci de ti jamais
Bonança substitui os vendavais
Os dias em saudade são mais lentos.

Mas gosto de poder dizer assim,
Do amor que inda reflete dentro em mim
Em brilhos mais sutis, tais florescências.

À noite em placidez, enamorado,
Recebo, sem fastio, extasiado,
Dos raios do luar, calmas dolências.

1373


Permitem que se possa conhecê-las
Estrelas que vagueiam sobre nós.
Ao mesmo tempo sonho poder vê-las
Tocando num bailado a mansa foz

Aonde dos meus barcos, soltas velas,
Escuto da sirena a doce voz.
À sombra da ilusão, prevejo após
Um dia deslumbrante, ao recebê-las.

Qual fora um lavrador que se extasia
Ao ver a plantação que a cada dia
Proporciona o gozo de uma fruta

No sumo imaginável, me deleito,
Porém volta o vazio quando deito.
Paixão me devorando, audaz e astuta...

1376

Paixão me devorando, audaz e astuta.
Causando reboliço no meu peito.
O quanto que se entrega desse jeito
Permite vislumbrar se existe luta.

A voz de uma emoção quando se escuta
Tornando o meu caminho mais estreito,
Enquanto tantas vezes me deleito
Uma ilusão se mostra mais arguta.

E nisso ao ver meu dia se esvaindo
Em luzes tão distantes, sem um sol,
Angústia se espalhando em arrebol,

Embora em teimosia, prosseguindo,
Eu sei que não terei mais qualquer chance,
Amor se colocou fora do alcance.


1377


Amor se colocou fora do alcance
Apenas o meu sonho ainda o toca.
Com esperanças vida se retoca
Mas sinto que não tenho sequer chance

De ter o gosto intenso de um romance.
Um peixe se perdendo sem ter loca,
Entregue à correnteza que o desloca
É de se esperar, claro, que ele canse.

Porém meu coração se faz teimoso
E bebe deste sonho fabuloso,
Embora na verdade não preveja

Em plena tempestade, uma bonança,
Resiste demonstrando com pujança
O quanto é persistente quem deseja...

1378


O quanto é persistente quem deseja
Poder alçar enfim, felicidade.
Mesmo que esconda em si fatalidade
Amor glória maior e tão sobeja.

Quem luta e nas batalhas já dardeja
Uma ilusão que, mesmo em liberdade
Procura ver a paz, tranqüilidade,
E dela ser cativo, amor almeja.

A solidão se mostra dura fera,
Saudade em violência desespera
E deixa tão somente um vago imenso.

Por isso e tão somente é que procuro
A claridade em dia tão escuro,
No amor que assim espero e tanto penso...


1379

No amor que assim espero e tanto penso
Vislumbro algum momento de alegria.
Se a silhueta da sílfide inebria,
É nela que em verdade eu recompenso

O quanto que me perdi em mar intenso,
Toando sem remédios, poesia,
Em tom maior espero a melodia
Tomando em meu caminho, amor imenso.

Quem traz a solidão por estribilho,
Cansado de buscar feito andarilho
Algum momento manso em plena paz.

Já sabe valorar cada sorriso,
Amor que não combina com juízo,
Na insânia e na loucura é mais capaz...


1380


Na insânia e na loucura é mais capaz
O tempo de colheita se aproxima,
Amor que tantas vezes satisfaz
Mudando a velha trilha em farta estima.

Transformação dos ventos noutro clima
Especiarias várias o amor traz,
Ao mesmo tempo cega enquanto esgrima,
De um tímido ressurge a voz audaz.

Mestiços sentimentos, amor/ódio.
Vencidos, em lauréis, subindo ao pódio,
Das mágoas e das dores, nem sinal.

Um cântico louvando uma esperança,
Amor em passos trôpegos já trança
Um novo amanhecer em ritual...


1381




Um novo amanhecer em ritual
Diverso do que outrora fora a lei,
Do quanto tantas vezes desejei
E agora guardo estrelas no bornal.

A lua na varanda faz varal
Dos sonhos e delírios que busquei,
Castelos desenhados, reino e rei,
As frutas abundando no quintal.

Meticulosamente colho a sorte
Deixando o pesadelo adormecido.
As luzes em matizes tão diversos.

Amor cicatrizando qualquer corte
Expressa outro rebento concebido
Recolhendo os meus cacos mais dispersos...

1382


Recolhendo os meus cacos mais dispersos
Consigo ainda ver alguma luz.
Legando ao meu passado a dura cruz
Os sonhos não serão, assim, perversos.

Vagando em ilusão por universos,
Apenas fantasia me conduz,
O quanto que não tenho reproduz
Solidão inerente nos meus versos.

Mas mesmo que eu não possa caminhar,
Ao ver meus erros sinto em comoção
O quanto é necessária esta lição,

Aprendizagem sempre é devagar,
Distante dos prazeres e carinhos,
É feita em cicatrizes, descaminhos.

1383


É feita em cicatrizes, descaminhos,
A noite em solidão. Nos temporais
Bebendo avinagrado e amargo vinho
Encontro das tristezas, catedrais.

Ouvindo o antigo blues, peço carinhos,
Apenas dos acordes musicais,
Imagens percebidas, sensuais,
Perdidas entre os velhos burburinhos...

Meu corpo anda distante de minha alma,
Nem mesmo um beijo audaz, agora acalma,
Jogado nas calçadas, cão vadio.

Tantas vicissitudes recolhidas,
Esperanças revoam, vão perdidas,
Deixando em seu lugar, o medo e o frio...

1384



Deixando em seu lugar, o medo e o frio,
A mão que acarinhava se perdeu...
Do quanto que inda resta, nada é teu,
Somente a solidão negando estio.

Por vezes; solitário, eu fantasio
Nos olhos da ilusão, um camafeu
Mostrando que meu sonho renasceu.
Retorno e vejo em volta este vazio...

Minha alma quebrantada nada escuta,
Senão a força amarga, intensa e bruta
Desta desilusão que não se vai.

Carcaças do que fomos espalhadas,
Adentrando as insones madrugadas
A chuva em teimosia, sempre cai...


1385


A chuva em teimosia, sempre cai
Penetrando a minha alma, transtornando.
O sonho pouco a pouco desabando,
Até a fantasia já me trai.

Meus olhos procurando em Adonai
A paz anunciada. Tropeçando,
Eu sinto que as tristezas vêm em bando.
Nem mesmo a poesia me distrai.

Do quanto imaginara sou resumo,
Os erros na verdade, eu sempre assumo,
Mas nada mais me impele a prosseguir.

Talvez na morte eu tenha a recompensa.
Incenso se perdendo em noite imensa
O pouco que inda resta a se esvair...



1386

O pouco que inda resta a se esvair
Num gotejar insano e repetido,
Portanto nada irá mais me impedir,
Do nada que hoje sou, vou convencido.

De tanto que sonhei venho pedir
Apenas um só beijo, mas duvido
Que mesmo que ele seja enfim partido,
Alguém se lembrará. Eu preciso ir.

O tempo não demora e se aproxima,
A noite transtornado em chuva, o clima,
Negando a permissão de ouvir estrelas.

Mas tendo estes resquícios de uma insânia
Somando as fartos goles de Champanha
Permitem que se possa conhecê-las.

1387

Assim caminha a terna madrugada
Até desembarcar no claro dia.
Deitando meu prazer em tua estrada
Entregue aos braços mansos da alegria.

Por mais que a vida venha desgrenhada,
Renasce no poder da fantasia,
A cada novo sonho se recria
Uma manhã sublime, iluminada.

Assaz intempestivos pensamentos
Moldando uma ilusão que não se aplica,
Nem mesmo uma esperança justifica;

A vida é feita em risos e lamentos.
Ungüentos aguardados? Pois, quiçá.
Nem sempre o redentor sol brilhará...


1388


Nem sempre o redentor sol brilhará;
Às vezes é preciso que se saiba
Nem tudo o que reluz, aqui ou lá
A palavra tesouro ainda caiba.

Errantes pensamentos; sigo só,
E nada poderá conter sangrias
Nem mesmo impedirá terrível nó
Atado em minhas pernas. Agonias.

Quimeras tão distintas vêm traçando
O caminho em que busquei felicidade.
Não sei e nem pergunte desde quando
Eu pude vislumbrar a realidade.

Apenas sei dizer que vou liberto,
Sem ter a fantasia aqui por perto...


1389

Sem ter a fantasia aqui por perto,
Com certeza meu rumo será manso.
Por mais que o peito esteja mais deserto,
Nas mãos de uma ilusão só dor alcanço.

A chuva que caiu neste deserto
Jamais transformará em um remanso
Aquilo que é vazio. Esteja certo
Minha alma necessita de descanso.

Por vezes iludido mergulhei
Em lagos bem mais rasos, movediços.
Amor perdendo rápido; os seus viços

Tristezas invadindo a minha grei.
Agora que sei disso, meu amigo,
Não faço da esperança algum abrigo...

1390


Não faço da esperança algum abrigo,
Sabendo que a ventura cessará.
O quanto procurei, mas somente há
Depois da tempestade, o meu jazigo.

Amor tão verdadeiro, um sonho antigo,
Daqueles que jamais se findará,
Mas tendo esta certeza, desde já
Encantos noutras sendas eu persigo.

Desdigo cada verso que já fiz
Sabendo: nunca mais serei feliz,
Rondando pelos bares da cidade,

Encontro mil fantasmas parecidos,
Nas mãos de uma ilusão, apodrecidos,
Morrendo de tristeza e de saudade...


1391


Morrendo de tristeza e de saudade,
Falena em lamparina é suicida.
O quanto desejei em minha vida
Viver algum segundo em liberdade,

Deixando para trás tranqüilidade
Na mão de um tenso amor, ensandecida,
Não vejo uma esperança, vai perdida,
Moldando em ilusão, felicidade...

Partícipe da orgia interminável
Nas mãos de uma mulher assaz afável
O bote preparado, do destino.

Ao mesmo tempo; amor, dando nos cobra,
Nos olhos desta sílfide uma cobra,
O sonho envenenado em desatino...


1392


O sonho envenenado em desatino,
Castelos de minha alma, em derrocada.
A porta da esperança está lacrada
Desde os meus tempos magos de menino.

Perdendo há tantos anos, senso e tino,
Pensei nesta loucura desfrutada
Nos braços da mulher tão bem amada
Um riso precioso e cristalino.

Cevei farta amargura em meu pomar,
Arando sobre terra fria e dura.
A noite renascendo sempre escura

Esconde em teimosia, algum luar
Que fora a redenção de um trovador,
Inútil devoção do agricultor...


1393

Inútil devoção do agricultor,
Traduzida na safra já perdida.
O quanto desejei em minha vida,
Aborto que se fez enganador.

Não tendo quase nada a te propor
Apenas o vazio, eu sei querida,
Sem portas ou janelas, a saída
Não tendo qualquer face, é sem valor.

O joio se espalhando no trigal
Impede uma colheita com certeza,
Não tendo assim mais nada sobre a mesa

Não quero e não suporto este bornal.
A vida que cevou desilusão,
Espalha por semente, a negação...

1394



Espalha por semente, a negação
Quem tantas vezes teve a dura seca
Como parceira. Sabe quanto é vão
O olhar de quem a vida já resseca

Mudando a direção torpe dos ventos,
Correntes tão diversas, vida passa.
Retendo nos meus olhos sofrimentos,
O tempo se perdendo na fumaça

Dos cigarros tragados um a um,
Na fila interminável das agruras,
De todos os meus sonhos, sei nenhum,
Invés de fantasias, amarguras.

Torturas em palavras e conselhos,
Os olhos se perdendo, estão vermelhos...


1395


Os olhos se perdendo, estão vermelhos,
A boca ressecada pede lábios.
Porém a minha face nos espelhos
Demonstra ausência clara de astrolábios.

Na vã caricatura que hoje eu trago,
A pele pelas rugas já sulcada,
Percebo quão difícil ter afago
A noite desabando não diz nada.

Encontro nas gavetas o retrato
Do tempo em que talvez inda pudesse
Pensar no amor além de um simples trato,
Mirada sem destino, alma padece.

Não tendo mais segredos, tento um norte,
Encontrei somente a paz da morte.


1396

Encontrei somente a paz da morte
Depois de tanto tempo em agonia.
Quem dera se restasse a fantasia?
Jamais suportarei um novo corte.

Andando sem sequer algum suporte,
A rua do passado em pedraria
Ladrilhada; demonstra em ironia
Estrada entregue agora à própria sorte.

Meus olhos embotados de tristeza
Na lama que se fez em correnteza
Mergulham seus descréditos inermes.

A pele se entranhando em podres vermes
Prepara este banquete derradeiro.
Meu único carinho verdadeiro...


1397


Meu único carinho verdadeiro
Recebido na vida sempre em vão,
Demonstra o quanto amor chega ligeiro
E traz dentro de si farta ilusão.

O quanto tantas vezes feiticeiro,
Espalha a seca sobre a plantação
Chegando se despede; derradeiro,
Deixando tão somente a negação.

A barca que partiu não voltará
Naufrágios da esperança neste mar.
Nem mesmo uma lembrança restará

Nos olhos que se foram pra outro cais.
Apenas a saudade vai ficar
Eu sei que quem partiu não volta mais...


1398


Eu sei que quem partiu não volta mais,
Deixando tão somente a nostalgia
Matando pouco a pouco a poesia,
Em cantos tão terríveis, abissais.

Quem dera em momentos triunfais
Soubesse desta trágica ironia,
Talvez alguma sorte restaria,
Além destas lembranças sensuais.

Acórdãos tantas vezes renegados,
Palavras que se vão, o vento leva
Meus olhos se entregando à mesma treva

Dos dias em torturas desfilados.
A lua se quebrando em ronda cega,
Apenas solidão o amor navega...

1399



Apenas solidão o amor navega,
Errando porto em porto, segue frágil,
Sabendo que terá fatal naufrágio,
As dores deste mundo ele carrega.

A qualquer esperança ele se apega,
Porém a vida cobra sempre em ágio
Por mais que seja audaz, a dor mais ágil
Felicidade plena, ela sonega.

Desprezos; acumulo em minha vida,
Labirinto enigmático escondendo
Com perfeição a porta de saída

Não deixa nem sequer a fantasia.
O medo pouco a pouco corroendo,
Ancoradouro manso, a dor adia...