sábado, 5 de dezembro de 2015

não quero mais saber do quanto houvera
tampouco me interessa o vago encanto
que apenas preparando o ledo pranto
desnuda a quanto tive, amarga fera,
a fonte já secando e nada dera
nem mesmo algo que eu quis, e desse tanto,
arranca em sortilégio o turvo manto
e o cerne da esperança, degenera.
apenas tão somente algum entulho,
ouvindo deste mar, todo o marulho,
envolto pelas garras tumulares,
ensimesmado sigo num cortejo
aonde o que me resta e que desejo
na lápide onde plantara meus pomares...
Marcos Loures.;
meu mundo mal pudera persistir
depois desta brumosa madrugada,
jogado na sarjeta e da calçada
entendo o quanto deva prosseguir,
no litro de aguardente, o meu porvir,
a noite se desnuda tão nublada,
sabendo que ao final não resta nada,
a morte é minha sorte a conseguir,
ecoam ululantes ventos frios,
lambido pelos cães, sujos, vadios
os cios da esperança apodrecendo,
e os vermes,companheiros mais constantes,
agora num banquete, delirantes,
terão tudo o que querem,em instantes...
Marcos Loures

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

a morte sussurrando em meus ouvidos,
trazendo em manso canto, encantos tantos
e deles invadindo pelos cantos,
momentos tão sublimes, presumidos,
e bebo dos cenários esquecidos
usando do passado velhos mantos
deixando sem sentido antigos prantos
grassando meus caminhos desvalidos,
esquálida figura me apetece
e faço desta insânia última prece
louvando ao derradeiro aporte em vida,
o velho coração já tão cansado,
uma esperança inútil deixa ao lado
e sangra nesta ceia ensandecida...
Marcos Loures.
MILAGRE DO AMOR
E quando eu conheci meu ser amado,
Vivia só, sozinho numa estrada,
Apenas de uma via só e mais nada!
Completo-me contigo, sempre ao lado!...
Nem saberei viver sem ter-te ao lado,
Aí, o Sol não traria a tal alvorada,
Nem Luz para essa nossa caminhada,
Com meu coração já descompassado!
O teu amor foi um milagre em mim,
Trazendo esse perfume de jasmim...
Jardim, com a mais bela dentre as flores!...
Levando daqui todas minhas dores...
E o milagre nasceu então assim:
Um anjo Querubim nos disse sim!
SOLIMAR PRADO
Heterônimo de SOL Figueiredo


vieste quando o tempo me negara
a sorte de poder ser ou sonhar,
e a morte dominando este lugar
tornara uma emoção, ausente ou rara,
e quando a mão suave ancora e ampara
quem tanto se cansou de navegar,
percebe quanto possa haver um mar,
porquanto a caminhada fosse amara.
o fim já me rondando, mas eu vejo,
na luz que se emoldura num desejo
o alento num suspiro terminal,
e o amor,ente sublime e mais perfeito,
agora me acompanha no meu leito
tornando mais suave o funeral...
Marcos Loures.
Viver a sensação de estar ausente,
na festa dos viventes que morrendo
aos poucos noutra face remoendo
o nada que deveras se apresente,
a vida na verdade algum adendo
ao parto que destrói em fúria ardente
matando o quanto fora antes presente
pressente a noite escura me envolvendo.
berçário de cadáveres, a vida,
porquanto em face espúria corroída
expõe o decomposto e mal percebes
no riso em ironia de um fantoche,
o sonho - ser feliz- mero deboche
espinhos sem rosais nas toscas sebes...
Marcos Loures
O céu que se fizera ora em grisalho
cenário onde sutil, minha alma toca,
o passo que ao jamais enfim desloca
tomando para a morte um rude atalho,
o grito em desespero enquanto o espalho,
ecoa tumular onde se aloca
o nada quanto fui e ali se entoca
fadando ao meu retrato, o do espantalho.
sanguíneas gotas são os rastros
da vida que se dera sem mais lastros
os astros testemunham meu declínio,
os corvos, companheiros de banquete
espalham meus pedaços num tapete
um corpo sem descanso que define-o...
Marcos Loures.
Não quero mais a vida em dor e pranto,
tampouco algum sorriso me consola,
a morte se aproxima e quando imola
demonstra em sutileza o raro encanto,

já nada mais dizer, e não me espanto
uma alma sem parada, ao fim decola
e bebe do veneno da degola
traçando outro momento em vago canto.

sacrílego tumor que lancetado
expressa o quanto houvera do passado
e gera este senão que me comporta,

demônios dominando este cenário
e o templo onde os cultivo, temerário,
de algum féretro abrindo a estreita porta...
Marcos Loures.
Sentindo esta presença em plena bruma,
uma alma solitária se permite
vagar entre o que possa no limite
enquanto a própria vida, ao longe esfuma.

à fria sensação não se acostuma
reveste em podridão enquanto agite
a fúria de um vazio, aonde grite
a voz de quem se fez somente espuma,

sarcófagos dos sonhos, os sarcásticos
e cáusticos momentos de noctâmbulo
que vaga sem sentido, algum sonâmbulo,

por entre féretros vários, fantásticos,
e bebo cada gota, do grotesco,
cenário que me trazes, vil. dantesco.,..
Marcos Loures,