terça-feira, 4 de maio de 2010

31851 até 31890

31851


Nascendo em sofrimento o verso diz
Do quanto nada a vida me traria
E sendo sempre assim a fantasia
Que gera tão somente a cicatriz
E nela todo o bem que um dia eu quis
Não molda com certeza um novo dia
Apenas mergulhando hipocrisia
O corte não sonega a cicatriz,
Pudesse acreditar em ter risonho
Caminho aonde eu mesmo me envergonho
De ter distante olhar; tosco horizonte,
Brumosa realidade impede o brilho
E tanto poderia, mas não trilho
Sabendo inacessível qualquer fonte.

31852

Meu verso se faz parto em tolo aborto
E nada poderia ser diverso
Se inútil seja sempre qualquer verso
O encanto agora vejo um natimorto,
E toco com ternura ausente porto,
E nele se ainda posso estar disperso,
O vandalismo dita em tom perverso
O quanto poderia e não me importo,
Assim ao me entregar sem ter defesas
Não pude controlar as correntezas
E sei que ultrapassado morro só.
Do todo de um momento feito em glória
A poesia eu vejo merencória,
Soneto se desfaz em ledo pó.


31853

Meu canto em agonia nada vale,
E sei da insustentável poesia
Audaciosamente desafia,
Mas tendo a realidade que me cale,
Porquanto cada monte não se escale
Com olhos de quem sabe da heresia
E vivo sem querer a hipocrisia,
Por mais que alma vazia se avassale.
No todo sou apenas um pedaço,
E quanto mais teimoso, mais desfaço
O sonho de poder ter qualquer luz,
Medíocre, tantas vezes nada digo,
E morro num completo desabrigo,
E ao cadafalso o sonho me conduz.


31854

Invadindo o meu quarto este perfume
Lembrando de momentos mais felizes,
Do quanto a vida trama em quedas, crises
Até que qualquer dia se acostume,
Seguindo inconformado falso lume,
As horas se conduzem aos deslizes,
E quando ainda tento me desdizes
Sangrando qualquer forma, sou estrume.
Travando com mim mesmo tais batalhas,
Enquanto noutras sendas tu espalhas
Teu canto em alegria, a morbidez
Que tanto dita as cordas do meu sonho,
Ainda que nefasta é o que proponho
Já que meu mundo há tempos se desfez;

31855

Gélida ventania tocando a vida
Nevasca após nevasca nada resta,
E tanto ainda havia ao longe, fresta,
Mas vejo a minha sorte em despedida,
O quanto poderia estar ungida
E assim não mais seria esta funesta
Lembrança que ao vazio já se empresta
Cevando com terror toda a ferida.
Jogado pelos cantos desta casa,
Apenas a mortalha não atrasa,
E o fogo se tornando irreversível,
Morrer e ter somente esta certeza,
Não deixa que se creia em sobremesa
Após a vida amara e tão sofrível...


31856

Sabendo tanto o quanto desejamos
E nada conseguimos vida afora
O quanto da vontade nos devora
E traça com terror o que passamos,
Ainda bem distantes nós pensamos
Na fonte maviosa onde se aflora
Beleza incomparável, mas agora
O rito se desmancha e nos calamos.
Agrestes sensações amor nos traz
E aonde se tentara alguma paz
Somente o desespero e o ledo engano,
Não quero mais saber de acumular
As dívidas, cansado de lutar,
E recolher apenas perda e dano.


31857

Amor quando é demais, sempre exclamamos
Tentando acreditar felicidade,
Mas mal o dia a dia nos degrade
De toda esta ventura que traçamos
Não restam mais as frondes, nem os ramos,
E assim ao se mostrar realidade,
O quanto do vazio nos invade
Compele ao desespero que encontramos.
Vencidos pelos males deste encanto,
Ainda que veja ao longe o manto
Aonde em turbulências se sentira,
A fonte da ilusão jamais se cansa,
E mata pouco a pouco uma esperança,
No quanto o desafeto, amor desfira...


31858


Montanhas, vales, rios, céus e ramos
Diversas faces mostram naturezas
Por onde se percebem incertezas
Porquanto na verdade mal amamos,
E quando tais mortalhas já trajamos
Trazendo nos olhares as purezas
Ingênuas de quem sabe sermos presas
Enquanto num momento nós caçamos.
Assiduamente vejo a face escusa
E quem mais se aproxima, tanto abusa,
Correndo sempre o risco de não ser
Aquilo que talvez num claro dia
O sonho mais feliz já fantasia
E sente pouco a pouco se perder...


31859
Por onde tu quiseres seguirei
Os passos mesmo quando em tons diversos,
E sendo assim mais pálidos meus versos
Não mais me importaria qualquer grei,
O quanto nos teus braços naveguei
Traçando inutilmente os universos
E tendo esta incerteza, são dispersos
Os rumos pelos quais eu me entranhei.
Risível face eu vejo de um amor
Que ao já não ter mais nada a te propor
Solúvel em si mesmo, morre enquanto
Pudera ser ao menos mais suave,
E quando a cada não a vida agrave,
Meus olhos se tomando em dor e espanto.


31860

Num vértice divino imaginara
O encanto sem igual de um grande amor.
Mas quando se percebe e perde a cor
Que outrora fora em sonhos bem mais clara,
A morte se lançando em cada escara
Perpetuando a dor, e o sonhador
Ao ver o seu caminho decompor,
Não sabe mais da sorte e se antepara
No vago pronta queda, nada resta,
E a cena até pareça mais funesta,
Mas saiba ser de mim a redenção.
A morte que eu anseio a cada instante
Qual fora o mais sobejo diamante
Na dor encontra enfim lapidação...

31861

Navego claramente em pensamentos
Vagando por espaços mais distantes
E vejo com ternura tais brilhantes
E deixo para trás os sofrimentos,
Porquanto saiba mesmo quando os ventos
Não trazem mais alento, alucinantes,
Por mais que ainda tentes e adiantes,
As horas não souberam dar proventos
Aos meus anseios quando nada havia,
Apodrecida face, alegoria
De um tempo mais atroz que ainda trago,
E nego qualquer sorte inda diversa
E quando sobre o nada a vida versa,
De tudo o que eu pensei restando e estrago.

31862

Durante tanto tempo, a noite inteira
Pensara ser feliz, que ledo engano.
Perdido a cada passo um novo dano
A sorte jamais trouxe esta bandeira
E quanto mais ainda já se inteira
Do quanto poderia e se me ufano
No fundo me preparo ao mais profano
Caminho sendo a morte companheira.
Arrisco vez em quando um passo a mais
As quedas com terror são magistrais,
Funâmbulo perdido em esperanças,
Apenas os grilhões eu reconheço
E quando sobre as pedras meu tropeço
Aguarda pontiagudas, finas lanças...


31863


Já não comportariam mais senhores
Os passos libertários que ora tento,
Mas sei do quanto pode o sofrimento
E teimo mesmo em ver falsos albores,
Ainda que cevasse novas flores,
Destroça este canteiro qualquer vento,
E o medo pelo qual sigo o provento,
Não trama novos dias sedutores.
Resisto ao que pudesse me trazer
Ao menos um momento de prazer
E sei desta total iniqüidade,
Sofrível caminheiro do que tanto
Pensara ainda ser somente encanto
E agora se percebe em falsidade...


31864


Do quanto inutilmente desfrutara
Pensando ser momento quando nada
Pudesse transformar a velha estrada
Há tanto destroçada e se escancara,
Vertendo sobre nós a mesma apara
E quando uma alma sinto perfurada
Não posso com a farsa malfadada
Nem mesmo quando a vida desampara,
Assim ao me mostrar desnudo agora,
O fardo se tornando imenso e vil,
Ainda que se tenha, não previu
A força tenebrosa que devora
O olhar enternecido de quem crê
Na vida mesmo sem saber por que...


31865

Ao píncaro sublime nos conduz
Quem tanto se pensara ser mais forte,
E quando preparara novo corte
Ao menos não negara sangue e pus.
Eviscerado sonho em contraluz
Procura na esperança algum aporte,
Mas nada nem a morte me conforte,
Passada se envergando já se abduz.
Na cândida presença de um alento,
Não posso ter concreta a velha idéia
De quanto mais se mostra pra platéia
Maior deverá ser divertimento.
Bufão em face escusa, nada tenho,
Sofrível nesta vida, o desempenho...


31866

Amor dita a providência
Nos momentos complicados
Dias ermos, vãos e errados,
Onde vejo a coincidência
Tanto luta em inocência
Vida traça em seus recados
Outros dias desolados,
Muito aquém da paciência,
Sigo alheio ao que tentara
Nos teus braços, força e luz
E decerto me conduz
O caminho aonde a escara
Propagando com terror
Renegando o bem do amor...

31867

Por saber que não erraste
Quando um dia se mostrava
Noutra senda, amarga e brava
Condenando ao vil contraste
Vejo assim cada desgaste
Onde outrora se fez lava,
Na palavra vã escava
O que ainda demonstraste.
Riscos tantos, mera fonte
E porquanto inda se aponte
Qualquer trama após aquela
E servil não me servira
Emoção ditando a mira
Onde a sorte se revela.

31868

Quando na alma eu te levei
Companheira de alegrias
Entre tantas fantasias
Outras tantas recriei,
E se a sorte dita a lei
E deveras tu porfias
Quando vês alegorias
Onde outrora caminhei,
Tu verás meras facetas
E porquanto inda cometas
Erros tolos, tu terás
Ao final de certo tempo
Muito mais que o contratempo.
Um minuto feito em paz.

31869


Sendo ausência imenso Mal
Onde perco os meus alentos,
E se em tantos sofrimentos
Vejo a dor num ritual,
Num momento magistral
Viração tomando os ventos,
Muito embora os pensamentos
Ditam rumo desigual,
Eu percebo quanto pude
Mesmo além da juventude
Reatar a velha frágua
E o que tanto desejara
Água límpida e tão clara
Nos teus mares já deságua...


31870

Poderia transformar
O que fora desagrado
Num momento que ansiado
Ensinara a navegar
Em imenso e turvo mar,
Noutro cais vejo ancorado
O que trago do passado
E não pude imaginar,
Sendo assim tão inconstante
O vazio se agigante
E domina este cenário,
Mas só sei que não soubesse
Da alegria em tal benesse,
Onde o sonho é necessário.
31871

Amor que, num momento desfrutamos
Cerzido com tormentas e riquezas
Ao ver em teu olhar raras belezas
Os dias da maneira que sonhamos
Estendem ilusões e destes ramos
Percebo com ternura tais levezas
E sinto tantas luzes quanto prezas
E nelas outros dias entranhamos,
Assim ao se mostrar desnuda e bela
Estrela desejada agora atrela
Em si diversos lumes e andarinho
O coração procura algum alento
E quanto mais feliz eu me apresento,
Espaço soberano em paz, já trilho.

31872

O quanto na verdade desejamos
Esboça algum cenário aonde eu possa
Viver esta emoção decerto nossa
E assim novos momentos começamos,
Renascem do passado novos dias
E neles outras sendas adivinho
Sorvendo em tua boca o doce vinho
No quanto e pelo qual já fantasias
Delírios de um poeta em tons diversos
E crendo ser assim melhor encanto
Ainda mais feliz, contigo eu canto,
Enaltecendo a vida em poucos versos,
E imerso nesta bela claridade
Encontro a mais real felicidade.


31873

Perdendo sempre o rumo, nos achamos.
A vida se mostrando assim mutável
Um sonho que se mostra indecifrável
Porquanto em mares tantos navegamos,
Dos sonhos que com fé acalentamos
Ou mesmo de um cenário incomparável
O solo se mostrara inabitável,
Mas mesmo inutilmente ali cevamos,
Rendidos aos anseios de quem tenta
Enquanto sorve enfim cada tormenta
Vencer com calma a paz os temporais.
Borrascas tão comuns no dia a dia
E quando uma esperança ainda guia
Momentos que buscamos: triunfais...


31874


Em multicores sonhos, navegamos
Procuras incessantes vida afora
E mesmo se a resposta já demora
Em mares mais diversos ancoramos.
Já não comportariam velhos amos
Tampouco esta senzala em que se aflora
Castigo sem ter tempo e nem ter hora
Senhores de nós mesmos, tolos somos,
E vendo assim na imensidão dos tomos
A história repetida em tons iguais,
Por vezes temos ritos mais felizes,
Enquanto coletando cicatrizes
As dores entre os sonhos, maiorais...


31875

Num átimo reluz velha esperança
Mudando os meus caminhos quando eu tento
Vencer em calmaria o desalento
Enquanto no vazio a voz se lança
E assim ao procurar em temperança
A vida ressurgida num momento
E vejo mais feliz o pensamento
Mesmo quando o terror agride e avança
Percebo finalmente o que pudera
Após singrar o mar, dura quimera,
Enfastiados dias não terás
No incomparável brilho nova vida
E quanto mais a sorte sei ungida
Maior a sensação de brilho e paz.

31876

Vida; eu não sei se amor ou por vingança
Vencendo os temporais matando o que talvez
A própria realidade enquanto se desfez
Trouxera mais distante a imensa e vã pujança,
Resisto ao que pudera e quando a voz avança
Gerando algum momento ainda em lucidez
Do amor que a cada corte diverge do que crês
E tanto se moldara ainda na lembrança
Um rito mais sutil porquanto ser feliz
É fato momentâneo e quanto mais eu quis
Percebo tão inútil a imensa variedade
Da qual a luz sombria tornada realidade
Prepara alguma cena aonde nada vejo
Senão restos vazios do quanto eu quis desejo.


31878

Desperta, num momento essa aliança
Trazendo qualquer porto aonde eu possa
Viver essa emoção que a vida endossa
E gera a cada não nova esperança,
Aos poucos percebendo tal mudança
O quanto se pudesse ser só nossa
A sensação que aos poucos nos apossa
Restando muito além desta lembrança,
Vestindo o que não cabe, pois puída,
Assim ao perfazer a nossa vida,
Em tons diversos busco alguma sorte,
Mas nada do que tanto desejava
Supera a imensidão de uma onda brava,
Fazendo turbulento cada aporte...


31879


Dos restos do que fora uma lembrança
Escombros da ilusão tento tecer
As sobras do meu mundo em tal prazer
Enquanto esta emoção bebe a mudança.
Pudesse com olhares de criança
O mundo num instante percorrer,
E nada do que tanto se quis crer
Ao longe no horizonte em paz descansa,
Amar a Deus e crer na liberdade
Neste holocausto imenso que ora invade
O passo de quem busca novo dia,
E assim ao se mostrar voz soberana,
A porta que se abrira nos engana,
Gerada pela inútil fantasia...


31880

Não deixa de cumprir esse dilema
Quem sabe ser diverso o caminhar
E mesmo quando em versos quis buscar
Do céu imensidade em diadema.
Não tendo cada passo aonde tema
Nem quando neste abismo mergulhar,
Risonha maravilha de um luar,
Rompendo qualquer treva, dura algema,
Assim ao se mostrar incontestável
O amor que num louvor interminável,
Não deixa qualquer medo te atingir,
Anseio por total libertação
Sabendo no meu Pai a redenção
Entrego em suas mãos o meu porvir...

31881

Quem pensaria nobre e já se esconde
Nas ânsias de um desejo mais audaz
E quando nem a vida satisfaz
Não tendo com certeza nem por onde
Seguir ao mesmo tempo quanto sonde
Caminho com ternura mais tenaz
Vivendo o que pudesse ainda em paz
Porquanto da esperança imensa fronde.
Vestindo esta ilusão já bastaria
Viver o que pudesse a fantasia
E mesmo além do todo perceber
A fúria insaciável de um momento
E quando me procuro e mesmo alento,
Encontro em teu olhar o alvorecer...


31882

Num revólver, resolvo meu problema?
A vida não se faz desta maneira
E quando a imagem surge, derradeira
Não tendo quem deveras dita a algema,
Do amor que entorpecendo, risco e gema,
A sorte desce em cada ribanceira,
Palavra mais ousada e verdadeira
Não deixa para trás quem inda a tema,
Se assim não fosse o mundo tão mutável
O solo com certeza não arável
Mergulharia a vida num marasmo,
Mas quando me imagino em fortes laços,
Do quanto percebera em novos traços
Contendo com ternura cada espasmo.


31883

A bala engatilhada me responde
E vejo o suicídio como forma
De ter após a luta que deforma
Aonde uma esperança em vão se esconde,
Não pude perceber outra saída
E assisto à derrocada deste sonho
No quanto mergulhara em mar medonho,
Não tendo outro caminho, perco a vida,
E sei ser tão inútil cada verso
Explode dentro em mim esta vontade,
Alheio ao que pudesse realidade,
Nas ânsias de um desejo sigo imerso,
E aposto que jamais serei feliz
Cenário que esta vida nunca quis...


31884

O pássaro não voa, sou miúdo
E tento entre arvoredos qualquer brecha
A vida tão veloz, incrível flecha
E assim a cada passo me transmudo,
O mundo não se fez tão meu amigo,
Nem mesmo poderia se sou mero
E quando algum alento ainda espero,
O máximo é o vazio em que prossigo,
Um nauta da ilusão e da esperança
Organizando a vida dia a dia,
E quando neste nada percebia,
Apenas esta ponta, fina lança
A morte se aproxima e nada faço,
Etéreo quanto eterno cada espaço.

31885


A vida me deixando amarga lei
Na qual eu me embrenhando nada possa,
E quando mergulhando em turva fossa
Retrato na verdade o que sonhei
Aos poucos cada parte eu procurei
E o todo que a saudade ainda endossa
Gerando numa ausência a mesma troça
Resulta neste pouco que inda herdei.
E sendo assim nefasta a realidade,
Porquanto cada amor dita a saudade,
Esgarço-me num verso que não faço,
E todo o meu cantar inutilmente
Não deixa que ainda se apresente,
Do sonho qualquer lume, qualquer traço.

31886

Num canto, abandonado eu fico mudo.
Sabendo serem fúteis os meus versos,
E quando neles sinto vãos imersos
Por mais que ainda tente não me iludo,
Apenas a mortalha ora transmudo
E sei de sentimentos mais dispersos
Vagando sem sentido em universos
Amar merece mais que o vago estudo,
Revejo os meus enganos e os decoro
Enquanto do passado ainda ancoro
Os barcos mais atrozes e sutis,
Não tendo outro caminho, sigo só,
O peso desta vida em pedra e mó
Diverge do que tanto um dia eu quis.

31887

Nada mais tenho e nada mais terei,
Já não me bastaria acreditar
No quanto ainda posso navegar
Se o barco noutra estância desandei.
Recebo da emoção temível lei
E sinto quanto posso desancar
Palavra noutra senda a desnudar
O que jamais um dia inda verei.
Vestígios de litígios, ermos meus,
Apenas ao trazer um novo adeus
Eu tento disfarçar, mas não consigo,
O amor entardecido não maltrata,
Porém sua presença se faz grata
Conquanto não se mostre algum perigo.


31888



Na mata sem saída a vida embrenha
E amortalhando o sonho em trevas feito
Resumo o pesadelo enquanto deito
E tento desvendar da vida a senha
Ainda que o prazer sempre convenha
Bom senso toma conta e sem direito
Ao riso mesmo após já satisfeito
Caminho que deveras inda tenha
Momentos de prazer são poucos, mas
No quanto a própria vida ainda traz
O velho caminheiro com cuidado,
Não deixa se iludir por ventania,
E sabe que amanhã sendo outro dia,
O rumo aonde entrara, desolado.


31889


Resumos que eu não fiz; a noite inventa
E traça com momentos mais sutis
O quanto poderia ser feliz
Ao fim gerando a dor, fatal tormenta,
A sorte muitas vezes desalenta
E deixa o coração tolo aprendiz,
Porquanto tantos sonhos sempre quis
E agora nem a paz já se apresenta.
Resisto às tais vontades mesmo quando
O mundo noutro tanto se ofertando
Em ares juvenis, sendo que agora
Apenas cada ruga do meu rosto
Cobrando do viver um caro imposto,
Aos poucos morte insana me devora...

31890

A porca que engordei, morde ferrenha,
Assim esta ilusão que alimentara
Aos poucos com a fúria em sua cara
Adentra o coração e já desdenha
Do sonho inusitado que inda trago
Vencido pela fúria do não ser,
E quando renovasse algum prazer
No intento incontrolável de um afago,
O vértice se perde em abissais
Do todo aonde urdira um só momento
No vago deste encanto me atormento
E sei que a vida volve nunca mais,
O quadro desbotado nada traz
Somente o desespero em face audaz...

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