terça-feira, 4 de maio de 2010

31845 até 31850

31846

Anseio ser feliz embora veja
A sorte tão distante dos meus braços
E sigo a tempestade em torpes passos
Até quando a verdade me apedreja
E risco assim os céus tendo a alma andeja
E tanto quanto possa que assim seja
A morte trama agora os fortes laços
E deles cada dia em embaraços
Não posso sonegar o que se almeja,
Restituindo aos poucos cada não
E tramo a mais diversa direção
Rumando aos temporais mais costumeiros,
Assim ao renovar-me em morte e vida,
Presença muitas vezes garantida
Na emanação daninha nos canteiros.

31847


Daquela que desejo embora tenha
Certeza deste não que recebi
Voltando o meu olhar chegando a ti,
Não sei e não teria ainda a senha
E mesmo se tivesse não se empenha
Em transformar o quanto me embebi
Num sonho mais audaz, e desde aqui
Não tenho nem a luz que me convenha.
Resisto por viver e nada mais,
Angustiosamente busco o cais
E nele qualquer luz que ainda alente,
Mas nada do que tanto ou mais pudera
Não vale um só minuto desta espera
Porquanto ser feliz é mais urgente...


31848

Sem ter notícia ou traço de quem fora
Imagem de um momento e nada mais
A vida vai trazendo este jamais
Aonde esta mortalha é redentora,
O verso tendo a face aterradora
Esgota o que pudesse em anormais
Caminhos onde fiz mais naturais
E sei que quanto a verdade é promissora.
Cansado de falar sem ser ouvido,
O passo se perdendo, resolvido
A não permitir qualquer clausura
Escrevo pra mim mesmo e isto basta,
Palavra por palavra bem mais gasta
Não mais traduziriam tal procura...


31849

Não vivo um só momento e nem pudera
Viver a imensidade do não ser,
E tento quando muito, até poder
Vencer com calmaria qualquer fera,
Arrasto-me em tais solos, nada espera
Senão mesmo vazio que ao tecer
Extrai de mim o podre amanhecer
Enquanto o que inda resta degenera.
Assumo a invalidez de cada verso
E tento ser feliz neste universo
Aonde nada vale o que se pensa,
Mediocremente peço mais escusas,
E nada do que tanto ainda acusas
Fará vida qualquer inda mais tensa.

31850

Na ausência de teus braços, minha amiga
Eu bem queria ao menos ter comigo
Que tanto vale o mesmo desabrigo
Conforme ainda a sorte se persiga.
A força inexorável ainda obriga
Quem tenta caminhar e sei perigo,
No fardo de viver já não consigo
E tento qualquer fonte mesmo antiga.
As vestes mais puídas, as que trago,
E enquanto estes problemas, teimo e drago
Residem dentro em mim são, pois colunas,
E delas só por elas resistindo,
O quanto imaginara agora eu findo
Jogado sob pedra, areias, dunas...

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