sexta-feira, 19 de março de 2010

27217/18/19/20/21

27217


“Seu pobre canto com a dor desmaia,”
E deixa a solidão bem mais aguda
Sem ter quem na verdade ainda ajuda
Morrendo mal percebe ao longe a praia

Navega contra tantas incertezas
E vê que nada resta senão ir,
E mesmo quando ausente algum porvir,
Enfrenta as mais difíceis correntezas,

Assim ao se sentir abandonada
Minha alma não concebe outro destino,
Voltando aos meus anseios de menino
Não tendo nem sequer uma alvorada,

A porta está fechada, mas atento,
Ainda não me entrego e luto e tento...


27218


“E como notas de chorosa endeixa”
Meu canto se destoa do que sonho,
E quando novamente recomponho
A sorte desairosa já me deixa.

Inábil caminheiro nada sinto
Senão tal dissabor em ser vazio,
E quando os meus temores desafio,
O amor que imaginara segue extinto,

Tristeza dominando o dia a dia,
Recebo negação enquanto quero
Ao menos um sorriso mais sincero,
Mas nada, nem um brilho ainda guia

No mar escuro sigo sem farol,
Somente a tempestade no arrebol...

27219


“Relê as folhas que já foram lidas”
E tenta algum momento mais feliz,
Mesmo quando a verdade contradiz,
Do todo que bem sei, sinto, duvidas.

Extraio dos meus sonhos, sofrimento
E triste caminhada vida afora,
Uma alegria vã não se demora,
Tocando em minha face um forte vento,

E nesta sensação do nada ter,
Esboço reações, mas inativo,
Somente por teimar, ainda vivo,
Mas já cansado estou, de padecer.

E peço pelo menos o descanso
E a cada alvorecer, desesperanço...


27220


“E no seu livro de fanado gozo”
Revejo a minha história em triste fim,
Medonho e caricato o meu jardim,
Passeio pela vida, um andrajoso

Que tenta disfarçar com risos falsos,
Falácias são comuns a quem procura
Vencer com um sorriso esta amargura,
Porém os pés cansados e descalços

Durante estes percalços costumeiros
Pisando nos espinhos mais freqüentes,
Diverso do que pensas, são sementes
De abrolhos espalhadas nos canteiros.

Aonde se pudesse ser risonho,
Somente sigo amargo e tão tristonho...


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“Minh'alma chora as ilusões perdidas,”
E teima acreditar num novo dia.
Estúpida quimera, a fantasia
Traçando em toscas linhas nossas vidas.

Aprendendo a mentir, já não consigo
Acreditar nem mesmo no que falo,
Aproveitando às vezes este embalo,
Disfarço com sarcasmos, o perigo.

E pendulando assim dor e promessa,
Resisto ao derradeiro passo espúrio,
Do brado que queria, algum murmúrio
E a história novamente recomeça.

Tristezas espalhando no meu chão,
Colher o que se amargo cada grão...

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