sábado, 20 de março de 2010

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“De quem me valerei, se não me valho”
Nem mesmo desta imensa aprendizagem,
Mudando com constância tal paisagem
Seguindo vez em quando algum atalho.

Errático cometa; nada sei
Somente o que talvez ainda queira,
Realidade é sempre passageira,
Diversidade dita a mesma grei.

E tendo vastidões dentro de mim,
Acerco-me dos medos, fantasias,
Por onde tantas vezes me desvias,
Agruras entre flores, meu jardim.

A carga do saber não me apetece,
Minha alma a cada não rejuvenesce..

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“Rosa mais alta no mais alto galho”
Esplendorosa imagem que traduz
Intensa claridade em farta luz,
Somando cada corte que amealho.

Vassalo de algum sonho; assim prossigo
E teimo contra tantas ilusões,
Mas quando o meu caminho recompões,
Vislumbro no final, crime e castigo.

A porta se entreabrindo me permite
Saber do quanto existe ou nada tem,
Por vezes tanta luz em ti contém,
Jamais se respeitando algum limite.

Floresces num canteiro, fabulosa,
Diversa e tão fantástica, uma rosa.


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“Voz das manhãs cantando pelos sinos”
Adentrando os distantes lares, traz
Ao mesmo tempo a dor, angústia ou paz,
Trazendo ritos fúnebres, divinos.

Missais e funerais, velórios, dores,
Porém com euforia noutros cantos,
Traduz por vezes dias belos, santos
E nela se compõe fartos louvores.

Assim se faz a vida, dor e luz,
No repicar dos sinos, a verdade,
Transporta a festa, o medo ou a saudade
Cenário mais fiel se reproduz.

A voz dos sinos trama uma existência,
Da glória a mais terrível penitência...

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“Graça dos brancos pés dos pequeninos,”
Libertos pelas ruas e calçadas,
Esperanças diversas desfraldadas
Singelos caminhares mais ladinos.

Poder de uma inocência que transforma
Talvez redima toda a humanidade,
Mas quando o mundo atroz, feroz invade,
Ditando insensatez, terrível norma,

Da Graça se perdendo dia a dia
Até se perceber crua faceta,
Depois quando senil; cada cometa
Retorna à mansidão e se recria.

Extremos que se tocam; vida e morte,
E neles a esperança tem aporte.


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“Frescuras das sereias e do orvalho,”
Traduzem o mais belo amanhecer
Na praia o sol num raro incandescer
Areia transformada em assoalho.

Imagens tão sublimes, mansidão.
E nelas ao tecer um novo quadro,
Aonde com prazer quero e me enquadro,
Sabendo das belezas do verão.

Esqueço vez em quando o duro inverno
Que se prepara agora para mim,
Primaveril delírio num jardim,
Outono do viver onde me interno.

Na cíclica vereda que se invade,
Da estrela que seremos: claridade!

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