27277
“De quem me valerei, se não me valho”
Nem mesmo desta imensa aprendizagem,
Mudando com constância tal paisagem
Seguindo vez em quando algum atalho.
Errático cometa; nada sei
Somente o que talvez ainda queira,
Realidade é sempre passageira,
Diversidade dita a mesma grei.
E tendo vastidões dentro de mim,
Acerco-me dos medos, fantasias,
Por onde tantas vezes me desvias,
Agruras entre flores, meu jardim.
A carga do saber não me apetece,
Minha alma a cada não rejuvenesce..
27278
“Rosa mais alta no mais alto galho”
Esplendorosa imagem que traduz
Intensa claridade em farta luz,
Somando cada corte que amealho.
Vassalo de algum sonho; assim prossigo
E teimo contra tantas ilusões,
Mas quando o meu caminho recompões,
Vislumbro no final, crime e castigo.
A porta se entreabrindo me permite
Saber do quanto existe ou nada tem,
Por vezes tanta luz em ti contém,
Jamais se respeitando algum limite.
Floresces num canteiro, fabulosa,
Diversa e tão fantástica, uma rosa.
27279
“Voz das manhãs cantando pelos sinos”
Adentrando os distantes lares, traz
Ao mesmo tempo a dor, angústia ou paz,
Trazendo ritos fúnebres, divinos.
Missais e funerais, velórios, dores,
Porém com euforia noutros cantos,
Traduz por vezes dias belos, santos
E nela se compõe fartos louvores.
Assim se faz a vida, dor e luz,
No repicar dos sinos, a verdade,
Transporta a festa, o medo ou a saudade
Cenário mais fiel se reproduz.
A voz dos sinos trama uma existência,
Da glória a mais terrível penitência...
27280
“Graça dos brancos pés dos pequeninos,”
Libertos pelas ruas e calçadas,
Esperanças diversas desfraldadas
Singelos caminhares mais ladinos.
Poder de uma inocência que transforma
Talvez redima toda a humanidade,
Mas quando o mundo atroz, feroz invade,
Ditando insensatez, terrível norma,
Da Graça se perdendo dia a dia
Até se perceber crua faceta,
Depois quando senil; cada cometa
Retorna à mansidão e se recria.
Extremos que se tocam; vida e morte,
E neles a esperança tem aporte.
27281
“Frescuras das sereias e do orvalho,”
Traduzem o mais belo amanhecer
Na praia o sol num raro incandescer
Areia transformada em assoalho.
Imagens tão sublimes, mansidão.
E nelas ao tecer um novo quadro,
Aonde com prazer quero e me enquadro,
Sabendo das belezas do verão.
Esqueço vez em quando o duro inverno
Que se prepara agora para mim,
Primaveril delírio num jardim,
Outono do viver onde me interno.
Na cíclica vereda que se invade,
Da estrela que seremos: claridade!
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