sexta-feira, 19 de março de 2010

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27197

“Minh'alma triste vai vagando à toa,”
Sem bússola condena-se ao naufrágio
O amor que tanto eu quis, duro deságio
Ainda mais distante não ressoa

E leva para além o que pudesse
Ser mais do que talvez uma alegria,
A sorte com certeza não me guia
Não tendo nos meus olhos mais a messe.

Vencido e sem futuro, não consigo
Sequer saber se existe alguma paz,
Nem mesmo algum alento inda se traz
Depois de cada curva, desabrigo.

Apago dos meus dias qualquer sonho,
O tempo de viver, frio e medonho...


27198



“Às vezes, louca, num cismar perdida,”
Minha alma vaga insana sobre as trevas
E quando ainda creio noutras cevas
Não vejo mais sequer uma saída.

Estranho os meus caminhos, nada faço
Senão perpetuar a desventura
Aonde se quisera uma ternura
O medo toma enfim qualquer espaço.

O beijo tão sonhado não mais veio,
O risco de viver se aumenta e tento
Além do que se mostra em desalento,
Viver é como ter no olhar o anseio

E sendo tão vazio o dia a dia,
Felicidade, apenas utopia...


27199


“Das andorinhas recortando os ares”
Buscando um novo norte, amargo bando
Assim também insisto procurando
A paz em novos tempos e lugares.

Percorro insanamente tantos céus
Somente o desencontro me domina,
Ao que se nada tenho, se destina
Vagando as esperanças, ledos léus.

Resisto vez em quando e ainda penso
Num dia mais tranqüilo que não vem,
Percorro a velha senda sem ninguém,
O medo se tornando mais intenso,

Escuras noites, perco então estrelas,
Falar das belas luzes sem revê-las?


27200


“E longas horas acompanha as voltas”
Dos tantos e insensatos descaminhos,
Percebo mais distantes os meus ninhos,
Apenas nos meus olhos as revoltas...

Esqueço que talvez pudesse ter
Nas mãos a sorte imensa em plena paz,
O mundo se mostrando tão mordaz,
Espalha tão somente o desprazer.

Resisto, mas bem sei que não podia
Viver além da dor nos temporais,
E os dias que pensara magistrais
Traduzem tão somente a fantasia.

Escapam-se das mãos, as esperanças
Resistem raras luzes nas lembranças...



27201


“Minh'ahna o segue n'amplidão dos mares”
Ainda que pudesse ter nas mãos
Momentos mais sublimes; sei que vãos
E neles não concebo meus altares.

Fenecem tantas flores num canteiro
Aonde se pudesse recolher
Beleza sem igual, mas como ter
O amor que sempre quis, o verdadeiro

Se tudo não passando de um vazio
Enorme sem limites, tristes versos,
Percorro os mais diversos universos,
E os sonhos mais fecundos, desafio.

Escravizada uma alma envilecida,
Já não conhece paz, segue perdida....

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