quinta-feira, 18 de março de 2010

27119/120/121

119

“Qual manso arroio sobre a terra corre,”
E traça sobre os vales um desenho
E quando sobre os traços sigo e venho,
A sorte muitas vezes me socorre.

Vencer os desenganos, crer na foz,
E ter a cada curva uma cascata
Que quanto mais feroz, mais arrebata,
Caminho outrora manso, agora atroz.

E ser além da simples cachoeira,
Imensa queda d’água em profusão,
Sabendo destes mares que virão,
Usando da esperança corriqueira.

Um manso arroio segue o seu caminho,
E às margens eu prossigo, em vão, sozinho...


120


“Sobre o ouro e o cetim geme e delira”
A sonhadora a quem amor se deu
E mesmo quando vê no fundo o breu,
Ainda ouvindo ao longe a mansa lira.

Escuto a sua voz e nela sinto
Ternura de quem tanto se fez bela,
Mas quando a realidade se revela
O amor antes gigante agora extinto

Não deixa sobrar pedra sobre pedra
E o que era acetinado se retalha,
Imenso fogaréu era de palha
E o coração em pânico ora medra.

Aurífero caminho do Eldorado,
Jogado em algum canto, abandonado...


121

“Nem dos cuidados ao cruento assalto”
Percebo algum simples reação
Trancada da esperança este portão,
O velho caminheiro segue incauto.

Atravessando pontes, segue em frente
E vê que tudo fora mero sonho.
E quando outra vereda até proponho,
Vazio novamente se pressente.

Audaciosamente nada vê
Quem tanto se pergunta e mesmo luta,
E quando a sorte audaz se faz astuta
Algozes tão somente e sem por que.

Pudesse ter nas mãos o meu futuro
Teria tudo aquilo que procuro.

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