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“Qual manso arroio sobre a terra corre,”
E traça sobre os vales um desenho
E quando sobre os traços sigo e venho,
A sorte muitas vezes me socorre.
Vencer os desenganos, crer na foz,
E ter a cada curva uma cascata
Que quanto mais feroz, mais arrebata,
Caminho outrora manso, agora atroz.
E ser além da simples cachoeira,
Imensa queda d’água em profusão,
Sabendo destes mares que virão,
Usando da esperança corriqueira.
Um manso arroio segue o seu caminho,
E às margens eu prossigo, em vão, sozinho...
120
“Sobre o ouro e o cetim geme e delira”
A sonhadora a quem amor se deu
E mesmo quando vê no fundo o breu,
Ainda ouvindo ao longe a mansa lira.
Escuto a sua voz e nela sinto
Ternura de quem tanto se fez bela,
Mas quando a realidade se revela
O amor antes gigante agora extinto
Não deixa sobrar pedra sobre pedra
E o que era acetinado se retalha,
Imenso fogaréu era de palha
E o coração em pânico ora medra.
Aurífero caminho do Eldorado,
Jogado em algum canto, abandonado...
121
“Nem dos cuidados ao cruento assalto”
Percebo algum simples reação
Trancada da esperança este portão,
O velho caminheiro segue incauto.
Atravessando pontes, segue em frente
E vê que tudo fora mero sonho.
E quando outra vereda até proponho,
Vazio novamente se pressente.
Audaciosamente nada vê
Quem tanto se pergunta e mesmo luta,
E quando a sorte audaz se faz astuta
Algozes tão somente e sem por que.
Pudesse ter nas mãos o meu futuro
Teria tudo aquilo que procuro.
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