27283
“São pensamentos idos e vividos”
Que tanto traduzindo vida e morte,
Permitem cada alento que conforte,
Trazendo dias mortos e esquecidos.
Assiduamente sigo a cada dia
Imensos turbilhões, momentos vagos,
E neles percebendo calmos lagos
Ou forte e inquestionável ventania.
Porquanto nos ensina a vida assim,
Errando e consertando e novo engodo,
A chuva traz alento e trama o lodo,
Regando ou destruindo algum jardim.
Libertos caminheiros, prisioneiros,
Farsantes tanto quanto verdadeiros.
27284
“Pensamentos de vida formulados,”
Gerando contra-sensos e verdades,
Por vezes sonegando realidades,
Momentos em tormentos disfarçados.
Alçamos nossos últimos segundos
Em luzes variáveis ou sombrias,
No todo que destróis ou que recrias
Se mostram universos, tantos mundos.
Cadenciando a vida passo a passo,
Moldando uma verdade questionável,
O solo muitas vezes mais arável,
Traduz este plantio que desfaço.
Somando os meus acertos, meus enganos,
Mudando a cada instante velhos planos.
27285
“Que eu, se tenho nos olhos malferidos”
Ainda continue a caminhada
Sabendo quão diversa seja a estrada
E nela se percebem mil sentidos,
Partícipe da festa feita em vida,
Sonoras discrepâncias me permito,
E quando se percebe ser finito
O mundo preparando a despedida
Servindo como ponto início e fim,
O precipício aguarda este tropeço,
Quem dera se tivesse um recomeço,
Só sei que nada sei, nem de onde vim.
Aguarda-me o vazio? Eternidade?
A dúvida transcende à realidade.
27286
“E ora mortos nos deixa e separados”
Os mais complexos passos rumo ao que?
No quanto tanto creio e o quanto vê
Medonhos os abismos já traçados.
A neve ultrapassando algum inverno,
Calor adentra insano o meu outono,
O rumo vez em quando eu abandono,
E quando veraneio, mais hiberno.
Estranhas decisões, errôneos traços,
Mergulhos em vazios, cataclismo,
Ainda sem destino teimo e cismo,
Por mais que os pensamentos morram lassos,
Ardentes ou tão gélidas montanhas,
Perfazem nesta vida, minhas sanhas...
27287
“Da terra que nos viu passar unidos”
Sequer o pó carrego nos meus pés,
Aonde se previra outras galés,
Momentos mais felizes são urdidos.
Esqueço-me da dor quando me entranho
Nos antros mais vorazes do prazer,
Mas logo depois disso posso ver
O quanto se perdeu em pouco ganho.
Edênico ou hedônico, portanto,
Dicotomias traço em cada verso,
E sei que quanto mais em mim imerso,
Maior será decerto o desencanto.
Desertos que criei, árida imagem,
Oásis não passando de miragem?
27288
“Trago-te flores, - restos arrancados”
Dos meus momentos vários de emoção,
E neles adivinho se verão
Meus olhos novamente meus enfados.
Acrescentando o nada ao nada ser,
Perpetuando em mim cada vazio,
E quando do passado me recrio,
Pereço um pouco mais, e posso crer
No quanto se faz frágil uma existência
Certezas que não tenho nem terei,
Talvez ainda creia numa lei
Aonde possa haver luz, penitência.
Assaz maravilhosa a vida passa,
Por mais que tênue seja, qual fumaça...
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