sábado, 20 de março de 2010

27283/84/85/86/87/88

27283

“São pensamentos idos e vividos”
Que tanto traduzindo vida e morte,
Permitem cada alento que conforte,
Trazendo dias mortos e esquecidos.

Assiduamente sigo a cada dia
Imensos turbilhões, momentos vagos,
E neles percebendo calmos lagos
Ou forte e inquestionável ventania.

Porquanto nos ensina a vida assim,
Errando e consertando e novo engodo,
A chuva traz alento e trama o lodo,
Regando ou destruindo algum jardim.

Libertos caminheiros, prisioneiros,
Farsantes tanto quanto verdadeiros.


27284


“Pensamentos de vida formulados,”
Gerando contra-sensos e verdades,
Por vezes sonegando realidades,
Momentos em tormentos disfarçados.

Alçamos nossos últimos segundos
Em luzes variáveis ou sombrias,
No todo que destróis ou que recrias
Se mostram universos, tantos mundos.

Cadenciando a vida passo a passo,
Moldando uma verdade questionável,
O solo muitas vezes mais arável,
Traduz este plantio que desfaço.

Somando os meus acertos, meus enganos,
Mudando a cada instante velhos planos.


27285


“Que eu, se tenho nos olhos malferidos”
Ainda continue a caminhada
Sabendo quão diversa seja a estrada
E nela se percebem mil sentidos,

Partícipe da festa feita em vida,
Sonoras discrepâncias me permito,
E quando se percebe ser finito
O mundo preparando a despedida

Servindo como ponto início e fim,
O precipício aguarda este tropeço,
Quem dera se tivesse um recomeço,
Só sei que nada sei, nem de onde vim.

Aguarda-me o vazio? Eternidade?
A dúvida transcende à realidade.

27286


“E ora mortos nos deixa e separados”
Os mais complexos passos rumo ao que?
No quanto tanto creio e o quanto vê
Medonhos os abismos já traçados.

A neve ultrapassando algum inverno,
Calor adentra insano o meu outono,
O rumo vez em quando eu abandono,
E quando veraneio, mais hiberno.

Estranhas decisões, errôneos traços,
Mergulhos em vazios, cataclismo,
Ainda sem destino teimo e cismo,
Por mais que os pensamentos morram lassos,

Ardentes ou tão gélidas montanhas,
Perfazem nesta vida, minhas sanhas...


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“Da terra que nos viu passar unidos”
Sequer o pó carrego nos meus pés,
Aonde se previra outras galés,
Momentos mais felizes são urdidos.

Esqueço-me da dor quando me entranho
Nos antros mais vorazes do prazer,
Mas logo depois disso posso ver
O quanto se perdeu em pouco ganho.

Edênico ou hedônico, portanto,
Dicotomias traço em cada verso,
E sei que quanto mais em mim imerso,
Maior será decerto o desencanto.

Desertos que criei, árida imagem,
Oásis não passando de miragem?


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“Trago-te flores, - restos arrancados”
Dos meus momentos vários de emoção,
E neles adivinho se verão
Meus olhos novamente meus enfados.

Acrescentando o nada ao nada ser,
Perpetuando em mim cada vazio,
E quando do passado me recrio,
Pereço um pouco mais, e posso crer

No quanto se faz frágil uma existência
Certezas que não tenho nem terei,
Talvez ainda creia numa lei
Aonde possa haver luz, penitência.

Assaz maravilhosa a vida passa,
Por mais que tênue seja, qual fumaça...

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