sexta-feira, 19 de março de 2010

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“E a idéia do teu ser fica tão rente”
Que esbarra nos meus dias e me entranha
Aquém da imensidão de uma montanha,
Por mais que ainda seja tão ardente

Agindo contra todas as promessas
E os erros convergindo num só fato,
Degenerando a vida me maltrato
Enquanto a cada tempo recomeças

Usando da palavra como açoite
Vergastas lacerando o meu futuro,
Porquanto dentro em mim inda procuro,
Além do que se fora algum pernoite

Esgoto as minhas chances de poder
Um dia, finalmente me saber...


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“Teu corpo do meu ver tão longemente,”
Escapando das mãos, não mais consigo
E teimo contra tudo e sem abrigo,
Jamais por mais que ainda inútil tente.

Ecléticas versões do mesmo enredo,
Não podem discernir plena verdade,
Alheio ao que me dizes, vejo a grade
E tento, desairoso, e até concedo

Um tempo mais feliz quem sabe quanto
Dos antros mais estranhos, nada vejo
Somente esta semente de um desejo
Canteiro semeado em desencanto.

Pergunto sem respostas, mas não creio,
Distante dos teus olhos, meu anseio...


27238


“E nada fica em meu olhar, e dista”
Das mãos a solução que ainda tento,
Pesando em minhas costas, pensamento,
A sorte se perdendo, velha artista.

O corpo se esfacela e não desista
Encontro em tua senda o forte vento
E nele com certeza tal tormento,
Por mais que a fantasia ainda insista.

Pudesse ter colheita mais perfeita,
Mas nada se mostrando quando deita
Ao solo com venal semeadura.

O passo sendo assim, trôpego e falso
Somente encontrará queda e percalço
Aonde imaginara uma ternura...


27239

“Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,”
Num mosaico infinito, feito em luzes
E quando à perfeição tu me conduzes
Diversa realidade que persista.

Caleidoscópio vário em mil matizes,
No espelho de tua alma me perdi
E quando me percebo estou aqui,
Diverso do que tanto me desdizes,

Não posso ter além do que consigo
Se eu sou em ti diversidade
E quando na maior profundidade,
Vislumbro tanto amor quanto perigo.

E passo a ser somente um complemento
Deste conjunto aonde tomo assento.


27240


“Que me vem de te olhar, que, ao entreter”
Não deixa qualquer dúvida e se imerso
No todo se transforma este universo,
Num misto de pavor e de prazer.

O passo mais audaz ao perceber
O quanto se propõe a cada verso
Sentindo ser apenas mais disperso
O que talvez pudesse merecer.

Alio-me ao quanto és e não me calo,
Seguindo cada passo neste embalo,
Eu sou o que tu és, e não me omito.

Transcende-se ao real e multiplica
A forma que deveras se edifica
Gerando tão somente este infinito...


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“Tão abstrata é a idéia do teu ser”
Que quando a concretizo se percebe
Além do que pudesse simples sebe
Um universo imenso a me conter.

Percebo em ti diversa dimensão
E assim perpetuando num mosaico
O quanto inda parece ser prosaico,
Mas nunca percebera divisão.

Etéreas as imagens procriadas
E nelas prosseguindo imerso, creio
Que além de simplesmente mero veio,
Unidos somos mais que tantas vidas.

Análises complexas e reais
Fenômenos supernos, magistrais...

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