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E tendo-vos amado mais que posso
Não vejo solução senão vos ter
Além de qualquer sonho de prazer,
Vontade incontrolável; quero e endosso
Não pude navegar contra a corrente,
E encontro em vós a praia em que ora aporto,
Temor da solidão agora é morto,
E sinto-me deveras mais contente.
Vencendo os dissabores chego a vós
Fortuna desejada e tão querida,
Do Amor que me domina a sorte urdida
Ouvindo finalmente a minha voz.
E assi ao me tomar o pensamento
“minha escritura a algum juízo isento.”
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“minha escritura a algum juízo isento.”
Não pode se conter; então vos digo
Que em vossos braços vejo o meu abrigo,
Distante dos carinhos me atormento.
Seguir-vos pareado vida afora,
Não posso me furtar a tal desejo
E um dia mais feliz ora prevejo,
Que a bela fantasia me decora.
E sendo de vós, mesmo qual lacaio
Esquivo-me das dores que de antanho
Viviam nestas águas em que banho
O sonho, pelo qual em vós me espraio.
E quando dos meus sonhos vivo além
Verdades incontidas sobrevêm.
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Verdades incontidas sobrevêm
Na audácia em que caminho pela vida,
De quem tanto desejo não duvida
Uma alma que se entregue e sabe bem
Dos vários descaminhos percorridos
Nas ânsias de um Amor que tanto estime,
Um fato prazeroso e sei sublime,
Destroçando as angústias dos olvidos.
Ascendo aos mais perfeitos caminhares,
E vendo em vossos olhos os meus olhos,
Supero quaisquer urzes, sem abrolhos,
Percebo quão soberbos os pomares
Sabendo quando outrora o sofrimento.
“escureceu-me o engenho co tormento.”
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“escureceu-me o engenho co tormento”
O Amor quando se ausente percebi
Estando em vossos braços, mas aqui
Deveras tão somente sofrimento.
Na ausência dos carinhos vos perdendo,
Alheio aos dias claros de verão,
Não vendo nem tampouco direção,
O sonho não produz mais dividendo.
Em vosso caminhar, Senhora amada,
O tempo desafia tantos Fados,
Não suportando mais velhos enfados
A sorte sem vos ter; queda adernada
E quando a noite escura sobrevém
Andando da esperança mui aquém.
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Andando da esperança mui aquém.
Percorro sendas várias sem abrigo,
Sabendo ser cruel, venal castigo,
Apenas o vazio me contém.
Amor com suas hastes; amparara
Os passos deste vago sonhador,
E agora sem caminho a se propor
A noite com certeza, nunca é clara.
Fortuna renegando alguma luz
A quem se fez em vós amante e escravo
Vencendo um oceano imenso e bravo
Ás ânsias mais vorazes me conduz
Amor com sábias mãos futuro tece
“para que seus enganos não dissesse.”
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“para que seus enganos não dissesse”
O Fado muitas vezes se disfarça
Vontade se tornando então esparsa,
Louvando em vossos olhos, rara prece.
Mudasse a direção dos ventos quando
Em vossas mãos pudesse deslindar
Maravilhosa sorte de encontrar
Um mundo bem tranqüilo, suave e brando.
Quisera em vossos dias me perder,
Amor não poderia ter outrora
Caminho mais seguro que d’agora
Seguindo a bela trilha do prazer.
E tendo mais Amor do que inda posso
Percebo quão constante ando assim, vosso.
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Percebo quão constante ando assim, vosso
Alvissareiros dias entranhados
Diversos dos terrores já passados,
Fortuna em bela senda agora endosso.
Vivenciando em mares mais bravios
Anseios de momento solitários,
Os dias se tornando temerários,
Invés de calmaria, desafios.
E os olhos no porvir, quem poderia
Traçar se não volvesse a ter em si
O quanto deste encanto já perdi,
Em vós ao renovar-se a fantasia
Fazendo em vosso encanto brados, pleitos
“Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos!”
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“Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos!”
Momentos discordantes e venais,
E enquanto em meu caminho derramais
Desejo, o satisfaço em vossos leitos.
Na angústia em que professo a solidão,
Discórdias entre medos e terrores,
Assim ao se encontrar os dissabores
Decerto novos dias mostrarão
O rumo em que vos tendo como guia
Pudesse transformar a caminhada,
E tanto se percebe em rara estrada
Além do que talvez uma utopia
E tendo-vos deveras com louvor
Encanta-me o saber do Vosso Amor
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Encanta-me o saber do Vosso Amor
E ter esta Ventura em farto brilho,
No encanto em ser tão vosso maravilho,
Divino caminhar em esplendor.
Os Fados me guiando aos vossos passos,
E neles antevejo o meu futuro,
Outrora um mundo amargo, frio e escuro,
Agora não restando mais nem traços.
Em ser-vos mais fiel, suprema glória,
Viver com a alegria de quem sonha,
Por mais que a vida mostre-se medonha
Saber já desvendar rara vitória
Submeto-me somente por quererdes
“a diversas vontades quando lerdes”.
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“a diversas vontades quando lerdes”
O quão se fez Amor mais necessário,
Ainda sendo o mundo temerário
Caminhos quando em vós, os creio verdes.
Na senda sempre flórea que ora vejo,
Além da mais perfeita imensidão,
Meus olhos com certeza seguirão
As trilhas que em vós dizem do desejo.
Senhora de Minh’alma ama e dona,
O Fado nos trazendo em par constante
Momento que é deveras deslumbrante
Do pensamento então ele se adona.
Convosco desconheço os vãos tormentos
Vencendo os mais diversos sofrimentos.
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Vencendo os mais diversos sofrimentos
Não tenho tais temores que noutra era
Ao impedir florada e primavera
Trouxeram tão somente desalentos.
Supero os maus momentos com sorrisos,
E tendo os dias claros vejo o sol
Qual fora um helianto, um girassol,
Em ritos mais sobejos e concisos.
A vida se mostrando em pleno Amor,
Não deixa que se pense noutras cores,
E quando se espalhando em nós as flores
Eu vejo a nossa história recompor.
E traço com carinho e tantos versos
“num breve livro casos tão diversos.”
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