27147
“Foram-se as flores — a minh'alma é triste,”
Tomando esta aridez o meu canteiro
O amor que imaginara verdadeiro,
Agora já percebo, não existe.
O tempo sonegando uma esperança
O medo se fazendo mais constante
Aonde imaginara um diamante,
Apenas ao vazio já me lança
A voz que tantas vezes escutara
Falando de um desejo mais bonito,
O velho coração se faz aflito,
E a sorte se tornando bem mais rara.
Quisera pelo menos poder ver
Depois da tempestade o amanhecer...
27148
“No amor, na glória, na mundana lida,”
Encontro dissabores, tão somente
E quando alguma luz, já se pressente
Ao vê-la, com certeza está perdida.
Pudesse imaginar outro momento
Em paz, depois de tantos vendavais,
Mas quando me percebo sem jamais
Viver felicidade, eu me atormento.
Negando o meu caminho, sigo só,
Vagando pelas noites mais sombrias,
Tristeza que em teus olhos irradias,
Uma esperança é feita em fino pó.
Quimeras tão comuns, dores diárias
As horas são terríveis, temerárias...
27149
“Só eu não sei em que o prazer consiste”
Deveras não consigo mais sentir
Alento que permita no porvir
Momento mais tranqüilo e menos triste.
Viver o amor imenso e ter certeza
Do quanto é necessário ser feliz,
Aonde se pensara já não quis
A sorte me levar tanta beleza.
O peso do passado ainda enverga
As costas deste parvo caminheiro,
O medo velho amigo e mensageiro
Somente este vazio em mim alberga.
Persisto contra tudo e contra todos,
Mas sei que no final, meros engodos...
27150
“Dizem que há gozos no correr da vida”.
Leda mentira, estúpida tal farsa,
A realidade ataca e quando esgarça
Não deixa mais sequer qualquer saída.
Vencido pelos medos, tanta incúria,
Aprendo a ser assim, mais solitário,
Aonde desejara solidário,
O vento se transforma em tal penúria.
Um pária segue ao léu, entristecido,
No olhar sombrio nada do que outrora
Ainda se pensara e não decora
Morrendo tão somente em vago olvido.
Meus versos de tristeza traduzindo,
Terror que agora sei, cruel e infindo...
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