Menina, me dê licença,
D”eu contar a minha história ,
Enquanto a cabeça pensa,
Vou falando de memória.
Nasci nas terras do Juca,
Lá pras bandas do Meião.
Saudade quando cutuca,
Maltrata meu coração.
Minha mãe foi benzedeira,
A melhor que havia lá,
Curava qualquer besteira,
Qualquer doença que há.
Com a fé de quem rezava,
Dia inteiro, se preciso,
Tanto mal ela curava,
E tá lá, no Paraíso.
Foi embora, a dor é tanta,
Mas, bonita sua cruz,
Morreu sexta feira santa,
Mesmo dia que Jesus.
Lá no Céu teve festança,
Movida a muito forró,
Teve prenda e teve dança.
Teve tudo o de melhor.
Meu pai, foi sertanejo,
Lavrador com muito orgulho,
Lutando com tanto pejo,
Viveu sem fazer barulho,
A morte também, destino,
Levou meu querido pai,
Deixando, tal desatino,
Que, da lembrança, não sai.
Fiquei sozinho na lida,
Sem mulher ou companheira,
Tudo que tenho na vida,
É a viola, estradeira.
Tenho o sol como meu guia,
A lua por namorada,
Vou cantando todo dia,
Canto só, sem ter parada.
Não quero cantar tristeza,
Nem tampouco solidão,
Vou cantando essa beleza,
A beleza do sertão.
A vida deu regalia
E tomou, sem perguntar,
Se era isso o que eu queria,
Mas não posso reclamar.
Foi Deus quem me deu o dom,
Dessa viola tocar,
Quando dela, tiro um som,
Canto sem pestanejar.
Não quero amar a ninguém,
Nem me prender a Maria,
Preciso de ter um bem,
Que a mim, não pertencia.
Pois somente assim, menina,
Não tendo amor que se implora,
Nem tendo vida que atina,
A minha viola chora...
MARCOS LOURES
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