sábado, 26 de junho de 2010

38901 até 39005

1

Nesse mundo de magia e pura fantasia
Que nos aproxima e incendeia;
Labaredas da paixão!
Meu corpo sobre o teu
Roçando delicadamente,
Minha língua passeando,
Transitando e demarcando
O prazer em combustão;
Cavalgo lentamente
Enquanto toca e lambe meus seios,
A intensidade aumenta,
Inclino-me prá traz
Para senti-lo ainda mais
Em de mim,
Beijamo-nos com ardor
Numa explosão de êxtase e amor!

REGINA COSTA

Deliciosamente em ti roçando
A pele se traçando em rumo tal
Gerando este delírio em sol e sal
Aos poucos o meu corpo tatuando,
O mar de tanto gozo se formando
E vejo quão sublime o ritual
Aonde o corpo segue sensual
No teu sem mais defesas, mergulhando,
Num êxtase divino em cavalgada
Corcel entranha assim a desejada
Anseios em gemidos, lancinantes,
Até que num espasmo, alucinada,
O porto se encharcando e me garantes
Os fartos méis em ti já transbordantes...


Tua língua sorvendo o que a ti pertence,
Num ritual incandescente;
Faz-me perder o rumo e o tino,
Entre cavalgadas,
Espasmos e gemidos;
O frescor da
Rosa dos ventos
Arrasta-nos
Em meio ao furacão,
Etérea excitação!

Regina Costa

O rumo se perdendo em tal delícia
E quanto mais audaz maior o gozo.
Num jogo delicado e majestoso
O corpo noutro corpo com carícia,
O todo precipita imensidão
E gera maravilhas dentro em nós
Num toque mais sutil e em firmes nós
Uníssona vontade em explosão,
Um timoneiro sabe muito bem
Dos tantos descaminhos e delira
Enquanto neste mar o gozo mira
E sabe dos anseios que contém.
Assim neste naufrágio redentor
As tramas mais vorazes de um amor.

3

Encontro no teu corpo o doce veio
Aonde dessedento esta vontade
E nisto este prazer que nos invade
Enquanto noutra face me incendeio,
Ariscos sonhos? Eu não quero mais...
Apenas a verdade em festa e brilho
E quando nos teus portos eu palmilho
Sabendo destes cais fenomenais
Arrisco algum momento em plenitude
E sei do quanto eu possa refazer
A vida num cenário de prazer,
Aonde se reviva a juventude
Da qual já me distara há tantos anos,
O amor redime a dor em novos planos...

4

Olhando mansamente a já desnuda
E bela maravilha que entorpece
O gozo de um prazer suprema messe
Aonde a minha vida dita ajuda
Durante ermos momentos, solidão...
Apraza-me saber de cada orgasmo
E quando em ti percebo um louco espasmo
Também gerando em mim farta explosão,
Misturas de rocios, delicados,
Sobeja fantasia já se entorna
E toda a maravilha onde se adorna
O dia sem juízo e sem pecados,
O quanto te desejo e quero mais
Expressa em nossas vidas, vendavais...

Mergulhar na libido que
Provocas em mim
Falta-me o ar como
Num naufrágio em alto mar,
Envoltos em suaves ondas,
Mornas águas nos
Deliciamos num
Sobe, desce,
Numa dança que me deixa
Louca, emudecida, molhada, extasiada;
Vem...
Seduz-me, profana-me,
Devagar, com doçura, amor, ternura,
Penetra-me
Mar adentro... Mar afora...
Sinto-me TUA...
Desejo-te Intensamente...imensamente...insanamente...
Sensorialmente!
REGINA COSTA

Penetro mansamente estas defesas
E adentro sem limites nem pudor
Insanamente vibro em farto amor
E delirantemente as pernas presas
Arfando com ternura a cada instante
Até que neste clímax dessedento
O gozo mais audaz neste momento
Transforma a nossa vida e me garante
Um raro amanhecer aonde eu possa
De novo insaciado desvendar
Mistérios e segredos deste mar
Numa ânsia soberana e toda nossa,
Até que adormecido junto a ti
Achando o Paraíso, eu me perdi...


6

Perdido em teus caminhos noite afora
O quanto te desejo e sei que queres
Da vida este banquete, meus talheres
Meu mundo no teu corpo já se ancora
Enquanto esta vontade nos devora
Abençoada diva entre as mulheres
E quando tanto anseias e vieres
O mundo noutra face se demora,
Arguta madrugada em lábios, gozos,
Caminhos conhecidos caprichosos
Delírios entre loucos devaneios
A boca deslizando por teus seios
A túrgida presença em maravilha
Determinando assim sobeja trilha.

7

Os toques mais audazes e profanos
Desvendam entre furnas, os sinais
E neles doces rios divinais
Momentos mais felizes, soberanos,
A vida que se fora em desenganos
Agora em ritos claros, triunfais
Desvenda este caminho e quer bem mais
Por sob tua roupa em parcos panos.
Na transparência fulges, mas sutis
Desenhos preparando o que eu mais quis
Até que se desnude totalmente
A sorte noutro rumo não sacia
E a noite do teu lado nunca é fria,
Numa explosão fogosa, em fúria, ardente...

8

As cores que pintaram céus imensos
Desenhos delicados, mil matizes
Os dias do teu lado, mais felizes
Enquanto solitários, ledos, tensos,
E sigo a maravilha desnudada
Trilhando meu prazer contigo agora
O quarto em claros tons lua decora
E beija a tua pele bronzeada,
Mergulhos entre seios, coxas, pernas
As mãos audaciosas sabem quanto
Do mundo se transforma em puro encanto
E encontram nos teus olhos as lanternas
Por onde se adivinha este futuro
E nele toda a sorte que eu procuro.

9

Nós Pagamos bem caro a solidão,
Na audácia de outro dia me emergindo
Traduzo o quanto em ti conheço infindo
Meus olhos no teu corpo fartarão,
Delírios entre as fúrias de um verão,
Cenário com certeza claro e lindo,
O todo adivinhado ora deslindo
E sinto a cada toque a sensação
Do orvalho que derramas nos lençóis
Delírios entre nós, nos saciando
O mundo noutra face transbordando
E nele nossos gozos são faróis,
E quero repetida, tanta vez
O quanto em farto brilho, agora vês.

10

Bilhões de estrelas domam este céu,
Porém no quarto vejo em magnitude
Sobeja fantasia aonde eu pude
Sentir este derrame em farto mel,
Cenário tão diverso, outrora ao léu
Ou mesmo num momento onde se ilude,
Vivendo com firmeza esta atitude
Girando este universo em carrossel,
Vasculho cada ponto até sentir
Derrame delicado este elixir
Aonde insaciável não me canso,
Depois de tantas noites solitárias
As horas em tortura, procelárias
A fantasia adentra este remanso.

11

Em tanto desgoverno é natural
Momento delicado e mais sobejo
Bebendo cada gota que eu desejo,
Em afluência rara e sem igual,
Fartando-me decerto em sensual
Delírio em fantasia agora eu vejo
O tanto que buscara e enfim prevejo
Um belo e fabuloso ritual,
No qual a insaciável noite adentro
Em cada ponto agora me concentro
Até que sem limites nem fronteiras
Derrame em abundância o doce orvalho,
E junto a ti deveras eu me espalho
O quanto ou mesmo além do que tu queiras.

12

Por mais que a fantasia não dê conte
Do todo em que mergulho junto a ti,
Cenário mais diverso eu percebi
Aonde cada lua nos aponte
O rumo mais sobejo no horizonte
E tente desvendar o que senti
E viva cada instante onde eu vivi
Bebendo esta nascente em rara fonte,
Do delicado gozo em rara espuma,
Meu corpo no teu corpo se acostuma
E sabe cada toque, outro segredo,
E quanto mais a vida nos ensina
O amor deveras toma e enfim domina
Caminho aonde em luz ora procedo.

13

Nosso corpo faminto perde a conta
Das tantas desejosas erupções
E sinto a fantasia em tais vulcões
Aonde com certeza a sorte aponta
A dita noutra face já desponta
E singra na medida em que me expões
Diversas e sutis composições
Num mundo sem pudor que ora se apronta
A santa a dama a louca insana agora
Enquanto com delírio me devora
Ansiosamente espalha sobre o leito
O mar aonde entranha meu anseio
E sinto a cada olhar o devaneio
De quem; se satisfaz, é satisfeito.

14

Mas nunca tem problema, não é mal
Quem sabe desvendar estas vontades
E quando mais ternura em mim tu brades
Revejo cada ponto em magistral
Desenho e nele um risco sensual
Bebendo de teu corpo claridades
E nelas com sutis saciedades
O corpo se emergindo em sol e sal,
Navego sem destino e chego ao cais
Momentos fabulosos, divinais
Ardências entre gozos e promessas,
Depois de saciada plenamente,
Enquanto novo rumo; a gente invente
Na fúria costumeira recomeças...

15


Que delícia te ouvir,
Saber que o prazer a nós pertence;
Não há mistérios nem segredos,
Sedutor toque que me desvendou,
Oralidade e fruição;
Eis-me desnuda e entregue a ti,
Agarrados de conchinha,
Ajustados,
Descansamos
Nesse perfeito encaixe !
Regina Costa


Arfantes noites, dias triunfantes
Momentos mais diversos, porém unas
Vontades e delírios; coadunas
E sabes plenamente e me garantes
Carinhos enfronhados nos instantes
Aonde penetrando, mares, dunas
No cais maravilho estas escunas
E os olhos em cenários deslumbrantes,
O gozo este sorriso um bom suor
Caminho com certeza eu sei de cor,
Porém sempre desvendo algum detalhe,
E sei que usufruindo enfim me entrego
E quando diariamente o jardim rego
Nesta loucura aonde o bem se espalhe.

16

Caminhos que deus Eros determina
E gera nestes portos tantas festas
E nelas teus anseios tu me emprestas
E sinto já sangrando a doce mina,
O quanto em tal nudez, ninfa fascina
E nisto o meu desejo domas, gestas,
Até numa explosão também atestas
Em água delicada e cristalina,
Resumos destes nossos desejares
E quando mais deveras te entregares
Maior saciedade enfim prevejo,
Eróticos delírios noite afora,
O corpo com ternura revigora
A fonte incomparável do desejo.


17

Não deixe que se pense noutro instante
O quanto é necessário agora e já
O nosso sol decerto tomará
Cenário em plenitude e nos garante
Um dia com certeza fascinante
Aonde cada passo domará
O farto que prevejo aqui ou lá
E sei quanto é freqüente doravante
O rumo desvendado, o passo aonde
O gozo com teu gozo se responde
Num ato de constante insanidade,
O todo se traduz enquanto invade
O corpo penetrando tais defesas
Sabendo somos duas meras presas...


18

Cevando com cuidado a rubra rosa
E nela mergulhando sem defesa
Adentro com ternura a correnteza
E bebo desta flor audaciosa,
Sedento coração contigo goza
E sabe ser deveras mansa presa,
A noite se transcorre louca e tesa,
Na fúria tão divina e gloriosa,
Rendido aos teus encantos, jardineiro
No quanto sabe o rito costumeiro
E colhe com cuidado este perfume,
No ardume sensual de corpos nus
O amor se derramando já faz jus
Ao todo que decerto agora assume.


19

Descanso o meu delírio sobre o teu
E arisco coração agora entregue
Sem nada que deveras me sossegue
O rumo no teu porto se prendeu,
O mundo neste instante obedeceu
À sensação divina onde navegue
O brilho deste sol a lua pegue
Jamais em nossa vida vejo o breu.
Das trevas do passado? Sequer rastro
Nas ânsias mais audazes eu me alastro
E sorvo com meiguice cada anseio
Retorno o meu caminho em louco veio,
Teu corpo em claros tons de um alabastro.

20

Desejo que deságua no mar
Prá do ardor se refrescar;
Mergulhar a dor,
Boiar o tempo,
Surfar com os sentimentos,
Meditar com o firmamento,
Nós dois e a imensidão,
A se perder no espaço-tempo.
REGINA COSTA


Olhando o firmamento ora vislumbro
Beleza sem igual em farto brilho
E quando além do céu imenso eu trilho
Em tanta claridade me deslumbro
O corpo dessedenta em doce alento
E segue sem destino vasto céu,
Caminha delirante e vai ao léu
Enquanto novos rumos eu invento,
Em incrementos fartos, a delícia
De um tempo em plenitude que se trama,
Mantendo com fervor acesa a chama,
Sorriso delicado em tal malícia
Toque sensualíssimo domina
E aos poucos nova vida se alucina...

Feromônios se espalham
pelo ar,
Como o mais raro perfume francês,
Impregna teu ser,
Invade teus sentimentos,
Devora teus pensamentos,
Habita teu corpo,
Avassaladoramente,
Deliciosa languidez,
Repouso merecido!

REGINA COSTA

Os devaneios rondam nosso leito
E bebo de teus sais nestes lençóis
E sei quando em ti vejo os faróis
Aonde com certeza me deleito
O corpo agora exausto e satisfeito
Percebe nos teus cios girassóis
E neles entranhando raros sóis
No quanto te procuro e sou aceito,
A sílfide insuflando dentro em mim
Delírio desmedido e sabe sim
O quanto se é capaz quando se entrega
Limites? Desconheço e tu também
E quando noutro instante outra onda vem
Um mar delicioso amor navega.

22



Quero-te assim...
Alucinado, apaixonado, delicioso,
Capaz das mais doces loucuras,
Experimentar prazeres,
Entregar-se,
Estar,
Ser,
Esquecer...
REGINA COSTA

Tocar teus seios belos, meu anseio
Descendo por teu corpo até chegar
O monte aonde eu posso vislumbrar
Do paraíso entrada, úmido veio.
E sinto esta ternura onde rodeio
Bebendo deste intenso delirar
Recebo cada raio do luar
Cenários multicores já permeio
Com fráguas, fúrias, louco incêndio agora
O corpo desejoso enfim se ancora
E sabe desvendar sobejas docas,
E quando em ondas gozos sobre as rocas
Levando num delírio ao mais extremo
Fantástico lugar onde me algemo.


23

A noite nos brindando em vinho e festa
O tanto se sacia num momento,
E quando me tocando o pensamento
Felicidade assim não se contesta,
O fato de viver permite a senda
Aonde cada passo dita aonde
O gozo com prazer já se responde
Desejo sem igual, o corpo atenda,
E vejo-te comigo a noite inteira
E sinto o teu perfume em meu jardim,
Cevando na esperança tanto assim
Aonde há messe imensa e verdadeira,
Aprazo-me deveras em saber
Em ti o mesmo bom, farto prazer.

24


Dos espaços celestes
Os astros mais singelos
Meus sonhos, teus castelos
E deles tu viestes
O quanto são agrestes
Os dias, mesmo os belos,
Apenas os rastelos
Nas mãos ora revestes.
Do encanto à realidade
O tempo onde degrade
O sonho do passado,
Apenas o sombrio
Caminho em vago estio
Seria o teu legado.

25


Trazendo tanta sorte
A quem não mais sabia
Da luz de um manso dia,
Sem rumo e sem suporte,
Agora se comporte
Além do que cabia,
Vencendo esta ironia
O mundo ganha um norte.
Revejo cada queda
A vida não se veda,
Porém vence quem luta
E o olhar bebe o horizonte
Aonde o sol desponte
Em fonte rara, astuta...

26




Encontro seu perfume
Neste rosal imenso
E quanto mais eu penso
Ali o sonho rume,
E vejo sem ardume
O sol onde eu compenso
O sofrimento intenso
Num tempo onde se aprume,
Vencidas as daninhas
As sortes, pois são minhas
E nelas eu traduzo
O amor em claros tons
Em dias raros, bons
Jamais em tais, confusos.

27



Nos astros que mergulho
O olhar em noite mansa
A vida nos alcança
E sem qualquer marulho
O quanto fora entulho
Agora em esperança
Prevendo esta mudança
Meus ermos eu vasculho
E tendo; junto a ti,
Além do que senti
Nos dias mais sombrios,
Agora a primavera
Revela e ora tempera
Matando os meus estios.

28



Recebo desta vida
Bem mais que eu mereço,
Amor, velho adereço
Outrora em despedida
Agora a voz sofrida
Aonde reconheço
Do medo este endereço
Em sanha já perdida,
Reparto os meus caminhos
E dias mais daninhos
Jamais os quero aqui,
Vencendo esta ilusão
Os passos se darão
Além do que eu previ.

29



Imerso neste brilho
Do olhar enamorado,
E tendo aqui, ao lado
A lua e nela eu trilho,
Sem medo ou empecilho,
O gozo anunciado
O tempo derramado
Num átimo eu me pilho
Roubando das estrelas
Os sóis e posso vê-las
Nos olhos de quem amo,
O quanto sou feliz
Ou mesmo mais que eu quis
Liberto, eu não reclamo.

30


A flor celestial
Reinando sobre tudo,
O olhar onde me iludo
O dia sem igual,
A noite em raro astral,
O amor serve de escudo?
Apenas me transmudo
E bebo de teu sal,
Resvalo no infinito
Aonde eu acredito
Além do que coubera,
Apascentando enfim
O quanto existe em mim
Ainda em viva fera.

31


Quem me dera colhê-la!
Já não comportaria
Sequer além do dia
A mais sublima estrela
Podendo navegar
Por astros e vertentes
Aonde tu pressentes
E teimo em novo mar,
Ressalvas entre as alvas
Diversas luzes, tons,
Momentos ermos, dons
E neles tu me salvas
Das ânsias mais sutis
E sou pleno e feliz.

32


O perfume no lume
De quem se fez bem mais
Vencendo os tão venais
Caminhos onde rume
Quem sabe do ciúme
Em gestos que banais
Impedem qualquer cais
Perdendo o seu aprume,
Vagando em noite escusa
O passo não mais cruza
Além deste horizonte
Aonde a lua deita
E o mar também enfeita
O amor que ora desponte.

33

Recendendo universo
O canto mais sobejo
E nele o que desejo
Além de cada verso
E se inda em vão disperso
O rumo quando vejo
O pária lume andejo
De quem se fez diverso,
Encontro após a lua
A deusa seminua
E nela me entranhando
Percebo num instante
O céu mais deslumbrante
Em claros tons se armando.

34

Uma flor generosa
Deitando o seu aroma
O sonho então se doma
E bebe desta rosa,
A sorte é caprichosa
Em vários tons nos toma
E quando não traz soma,
A história é duvidosa,
A dadivosa senda
Aonde o bem se estenda
E gere esta beleza,
Decerto traz além
Do quanto me convém
A vida sem surpresa.

35

Meus olhos a procuram
Nos ermos deste sonho
E quando me proponho
Decerto não se curam
Os erros asseguram
Outro delírio e ponho
O mar mesmo enfadonho
E nele os sais perduram,
Em conchas e segredos
Os dias mesmo os ledos
Talvez tragam mil mares,
E neles outros tantos
Aonde em claros mantos
Os sonhos derramares.

36

Uma mão divinal
Vagando por teu cais
O olhar desperta e mais
Que um dia sem igual
Quisesses vendaval
Ou nele originais
Essências magistrais
Perfume divinal,
Resumos de outros sonhos
Por vezes mais risonho
Medonhos pesadelos,
No fundo somos isto
E se inda aqui persisto,
Os portos; posso vê-los...

37

Em Leilane esta flor
Que um dia imaginara
Tomando esta seara
Reinando em pleno amor,
E quanto mais eu for
Além do quanto ampara
A vida se escancara
E muda sem torpor,
Resumo de uma história
E nela, sem vangloria
O tempo não se esgota,
O amar se fez presente
No quanto já pressente
Mudança desta rota.

38


Pelo céu essa estrela
Domina plenamente
Aonde se apresente
Sobeja eu possa vê-la
Sublime natureza
Domando este cenário
Além do imaginário
Dos sonhos, mera presa
Vagando por espaços
E neles te procuro
Outrora em mundo escuro
Os passos velhos, lassos
Agora renovados
No amor; iluminados.

39


Bela. Estou tão distante
De quem se fez outrora
A fonte onde se aflora
O dia fascinante,
E nada me garante
Certeza de alguma hora
Saber quando se ancora
Em mar angustiante.
Vencer os meus temores
E quando enfim não fores
Além de mero engano,
Vivenciando enfim
O quanto existe em mim
Ainda quase humano.

40

Seu brilho constelar
Domina o céu enquanto
Vislumbro em raro manto
Beleza a nos domar,
Certeza de um luar
Então vislumbro e canto
O amor sem; entretanto,
Delírio a divagar.
Resvalo nos meus ermos
E sei dos velhos termos
De histórias parecidas,
Por isso é que eu me rendo
E entregue sem remendo
Somando nossas vidas.

41

Estrela radiosa,
Seus brilhos me domaram,
E quando me tomaram
A sorte se antegoza
Vencendo os meus anseios
E sendo sempre assim,
O amor dentro de mim
Outrora vãos alheios
Encontra finalmente
Um canto onde aprumar
E em raio constelar
Domina o corpo e a mente,
Futuro anunciado
Num céu todo estrelado.

42

Com o teu raro lume
O céu se mostra além
E tudo se provém
Do quanto em ti se rume
O corpo e me acostume
Ao tanto que contém
O amor por este alguém
Gerando enfim o ardume
Entorna seus cristais
E bebo muito mais
Do quanto poderia
E como fosse um sol,
Além deste arrebol
Meu corpo dita o dia.

43

O céu, tão invejoso,
Cansado de buscar
Aonde desenhar
Além do mero gozo,
Caminho fabuloso
Domina e devagar
O tanto a divagar
Provoca o majestoso,
Outrora não soubera
Sequer da primavera
E agora em flóreo traço
O mundo se moldando
E nisto me entregando
Inteiro, eu me desfaço.

44


Pelas nuvens; formada
A tempestade dita
A sorte mais aflita
Ou trama o quase nada,
Aonde em alvorada
A vida se acredita
Bem mais do que inda fita
Uma alma enamorada,
Resulto deste tanto
E quando enfim me encanto
Adentro o paraíso,
E sei quanto é demais
O amor em magistrais
Delírios de um sorriso.

45

Quem dera se pudesse
Vencer o medo quando
O mundo se moldando
Ainda em sonho tece
O quanto em tal benesse
Vivesse e se mostrando
Um dia onde demando
O corpo e se obedece
Os ritos deste anseio
E quando não rodeio,
Adentro sem senões
O mundo em que me expões
Divina providência
Em ares de clemência.

46

A vida, então, seria
Além do que já fora
Uma alma sofredora
Transita em pleno dia,
A sorte não se muda
O corte não mais poda
A vida imensa roda
Prepara a nova muda
E transfere ao futuro
O quanto poderia
Raiando o velho dia
Em tom opaco e escuro
Gerar a liberdade,
Mas mata a claridade...

47

O meu olhar vazio
Jogado nalgum canto
Vestindo o velho manto
Atroz de algum estio,
Aonde não recrio
Nem mesmo mais me espanto
O nada enfim garanto
Enquanto desafio
O tempo e a tempestade
A lua e a claridade
O medo de seguir,
A vida não pudera
Singrar além da espera
Do pouco que há de vir.

48

A cada noite nova
O céu rejuvenesce
E tudo se obedecesse
Amor à toda prova
O quanto se renova
Ou mesmo o novo esquece
Do quanto fora em prece
E agora não comprova
O passo ou mesmo o rumo
Em ti eu me perfumo,
Roseira preferida,
Mostrando à natureza
O rumo com certeza
Sublime em nossa vida.

49

Em ti, estrela amada,
O corpo devaneia
E quando a lua é cheia
A noite deslumbrada
A sorte desejada
Há muito nos rodeia
E quanto mais se anseia
Em sombras disfarçada,
Agora que eu a vejo
E sei deste desejo
Aonde fui além,
Não tendo mais paragem
O amor segue viagem
E um mundo em si contém.

50

O céu mais ciumento
Depois da lua farta
Agora já se aparta
E leva com o vento
Beleza e alumbramento
E a noite se reparta
E a lua se descarta
Aonde eu me apresento,
Cerzindo a maravilha
Que olhar adentra e trilha
Galgando este infinito,
O tempo não sacia
E gera a fantasia
E nela, eu acredito.


51

No cigarro que fumo
O tempo se transforma
E toma em cinza a forma
Da sorte, vago aprumo,
E quando me acostumo
A qualquer preço e norma
A face se deforma
E também eu me esfumo,
Acasos, caos ocasos
Os dias, ledos prazos
Aprazo-me em saber
Do quanto pude ou nada
Da dita anunciada
Eu pude enfim conter.

52



Distante, cai a noite
E tudo se mudando
Aonde fora brando
Agora em vil açoite.
O nada se tomando
O medo onde se acoite
Tramando outro pernoite
Talvez não mais infando.
Eu quis e quem pudera
Saber se desta esfera
Ainda caberia
Um novo anunciar
De um céu a nos tomar
Domando o pleno dia.

53

O canto que sonhava
O tempo diz amém,
O corte, a poda vem
A sorte amena ou brava
Uma alma assim se lava
E nisto sei também
Do gesto muito aquém
Enquanto o passo trava.
Resisto o quanto posso
E sei se nada é nosso
O poço que ora entranho,
Aonde se pensara
Em noite turva ou clara
Jamais obtive um ganho.

54

Não quero conceber
O quanto não mais cabe
Bem antes que se acabe
Em fúria o meu viver
O nada me pertence
Ou mesmo resta enfim
O pouco do jardim
Trazendo este non sense
Tramando num neon
A noite sem luar,
E sei que navegar
A vida noutro tom
É dom onde se espalha
Um campo de batalha?

55

Alvíssima menina
A lua sobre nós
Dos sonhos rara foz
O manto onde fascina
E gera nova mina
Soltando a minha voz,
O quanto fui feroz
E o nada determina
Um passo além do cais
Em atos magistrais
Ou mesmo corriqueiros,
Aceno com meus sonhos
E sei quanto tristonhos
Espúrios mensageiros...

56

A barca que sonhei
O tempo mais tranqüilo
Agora não desfilo
Ausento desta grei
E nada mais se vendo
Ou mesmo se anuncia
Aquém da fantasia
Não tendo dividendo,
O medo se aparenta
E gera ou não meu fim,
A poda do jardim
Agora mais sangrenta
Permite à primavera
A flor que o regenera...

57

Esconde-se infeliz
Quem tanto quis um dia
Traçar em fantasia
O mundo onde refiz
O passo, a cicatriz
O tempo não sabia
Da fonte da sangria
Audácia em chamariz,
Resumo de outras eras
E quanto mais esperas
Espessas nuvem vêm,
O tempo não redime
E o quanto foi sublime
Agora é muito aquém.

58

Quem dera se tivesse
O olhar neste horizonte
E tanto se desponte
Ao quanto ele se tece,
O féretro do sonho
Cenário pontual
O corte sem igual
Atroz onde proponho
Um renascer após
Ou mesmo em provimento
Um dia sem tormento
Dos riscos, mansa foz.
Esbarro neste vago
Que ainda em mim eu trago.

59

Vivendo a solidão
Cevando a noite amarga,
O sonho não se larga
Diversa dimensão,
Pudesse o coração
Na fonte feita à larga
Gerando o que se embarga
E dores se verão.
Ocasião diversa
Por onde teima e versa
O mar que existe em mim,
Vencer os dissabores
E sendo aonde fores
Chegar a um claro fim...


60

O medo desta luz
Já não mais nos sacia
E quando a fantasia
Ao máximo conduz
O olhar se reproduz
Gerando um novo dia
Aonde viveria
O pranto a dor e a cruz.
Os fâneros podados
Os dias enredados
Nos antros que ensimesmo,
O tanto que foi mesmo
Ou nada mais me traz
Senão a dor; mordaz...

61

Embalde, procurando
Em mim o que talvez
Já nem mesmo mais vês
Em dia tão nefando,
Arranco o meu caminho
E bebo nova senda
Aonde o não se estenda
E dome o velho espinho,
Arcando com enganos
Os antros reconheço
E sei meu endereço
Abaixo destes danos,
Vencido e sem defesas
Seguindo as correntezas.

62

Sou pobre passarinho
Aonde quis ter asas,
As sortes não abrasas
E sigo vão mesquinho
O mundo onde me aninho
O passo onde te atrasas,
As horas que defasas
O mar manto mesquinho,
Mineiro coração
Procura outro verão,
Porém não resta mais
Sequer o mar e a areia
A lua não rodeia.
Saudade? Furacão!


63

O rosto que se vê
Nas ânsias do meu mundo
Aonde me aprofundo
E busco algum por que,
O quanto já se crê
No tanto onde me inundo
O amor tão vagabundo
A sorte em vão clichê
O risco, arisco sonho
O tanto que é medonho
Ao mesmo tempo ingrato,
Na fonte sem sucesso,
Ainda recomeço,
Porém jamais regato.

64

O vento me tortura
E gera este fastio,
Aonde fora estio
Agora em amargura
O templo se procura
A morte em ledo frio,
O corte não recrio
A dor jamais se cura,
Assegurando assim
O tenso e torpe fim
E nele reproduzo
A praga, o medo e a dor
Aonde quis a cor,
O céu se fez confuso.

65

Um canto de saudade
Tomando o sonho enquanto
Procuro em cada canto
O manto onde se agrade
O passo em liberdade
E quando enfim garanto
Decerto eu já me espanto
Com turva claridade,
Poeta? Quem me dera...
Teria a primavera
E nela suas flores,
Mas quando vejo o fim
Do que fora jardim
O céu perdendo as cores.

66


Amante dedicado
Adentro algum espaço
E quando a meta eu traço
O céu desafiado
No corte aprofundado
O olhar deveras lasso,
O quando agora escasso
O nada por legado,
O vasto dentro em mim
Perdendo meta e fim,
Agora não mais vejo
Somente este sombrio
E ledo desafio
Tomando cada ensejo.

67

Mergulho num segundo
Além do quanto pude
E sei da juventude
E dela se me inundo
O quanto surjo imundo
E tudo em vão se ilude
Vencer com atitude?
Nos ermos me aprofundo.
Eu penso e até talvez
O manto se desfez
Por falta de perícia,
Mas tanto poderia
Além desta ironia
Dos sonhos, ter notícia.

68


Sonhando, vou morrendo,
E perco a direção,
Sabendo que virão
Em ar duro e estupendo
Os tantos que tivera
E nele nada resta,
Senão a dor infesta
Jardins; serve à quimera.
O parto, o pranto o gozo,
O risco a morte e o fado,
Ouvindo o desejado
Delírio em tom jocoso
Trazendo este recado
Dos vãos do meu passado.

69

Valsavas, numa noite,
Enquanto em tom suave
O peito não agrave
A fúria deste açoite,
Resulto no que um dia
Pudesse ou mesmo quis
E sendo a cicatriz
Que há tanto ressurgia
Vagando em plenitude
Mordaças; entrelaço
E quando perco o passo,
A queda não ilude,
E morto, muito embora
O sonho ainda aflora.

70

O teu vestido branco
A noite a lua o sonho
E quando me proponho
Sincero e até mais franco,
O nada agora arranco
De um tempo tão bisonho,
E sinto este enfadonho
Delírio torpe e manco.
Restauro em mim o brilho
Do corte onde polvilho
As sendas mais distantes,
Mas quando me adiantes
O passo nada resta
Senão o que não presta.

71

A vida me sorria
No pouco ou quase nada
A sorte desvendada
A morte em alforria
O gozo em alegria
A ponte desolada,
A senda anunciada
Florada não havia,
Restando o quanto posso
Ainda sem ser nosso
O todo que pensei,
Deixando para trás
O amor se tanto faz
Diversa ou mesma grei.

72

As águas deste rio
O olhar questiona a foz
E sei o quanto atroz
O passo e desafio
O rumo em desvario
O corte em meros nós
E pude mesmo algoz
Morrer de medo e frio.
Nefasta coincidência?
O tanto sem clemência
Errático cometa,
Aonde aponte o sol,
Domando este arrebol
O nada se prometa.

73

Porém, em mendicância
A vida não tramara
Além da funda escara
E nela a discrepância
Enquanto em tal vacância
A sorte desampara
E gera outra seara
Aonde era abundância,
O prazo se estipula
A fome dita a gula
E o medo o meu anseio,
Vagando por tais fatos
Os passos são ingratos
O dia nunca veio...

74

O canto da esperança
E o medo não se traz
No olhar que busca a paz
E nada mais o amansa,
O peso na balança
A sorte mais tenaz
O corte mais audaz,
E o vento dita a lança,
Opaca esta figura
Aonde se assegura
Apenas o não ser,
Pudesse ainda crer
Na noite, mesmo escura
No farto amanhecer.

75

A noite em minha vida
Resulta do que um dia
Pensara em alegria
E agora diz partida
A cena repetida
Deveras sempre eu via
E quanto mais sabia
Em sombras era urdida.
Acordo e sem acordo
Adentro em tal rebordo
E morro, plena queda,
O passo rumo ao nada
A noite entrelaçada
Aos poucos nos enreda.

76


Bradando, então, teu nome
O todo se mostrara
Enfim nesta seara
Aonde a paz consome
E nada mais se dome
A sorte mesmo clara
O manto se separa
E o todo agora some,
Resumo em fumo e prazo
O quanto ainda aprazo
E bebo insensatez,
Assisto à derrocada
Da noite anunciada
E nela não me vês.

77

Quem dera reviver
Um pouco do passado
Ou mesmo estando errado
Buscando algum prazer
Deveras me perder
Nos ermos de um translado
O ritmo desejado
Jamais pude saber.
Singrando o mar imenso
Em nada me compenso
Nem penso no futuro,
A porta se trancando
O mundo desfiando
O solo amargo e duro.

78

Amada; não se engane
A vida é mesmo assim
Começo dita o fim
O coração em pane,
A sorte desengane
Quem bebe deste gim,
Partilho o vão em mim
Com quem já me profane,
O risco se anuncia
E tento em covardia
Defesas, mas não acho,
Do todo em sol urdido
Agora pressentido,
Apenas mero facho.

79


Eu gostava do mar
Sentindo o que responda
Em cada sonho uma onda
Pudesse navegar,
Distante do sonhar
Aonde já se esconda
O mundo bebe e sonda
Espaços a vagar,
Não pude, pois distante
E nada me garante
Que eu volte à antiga praia,
O tempo não condiz
E sendo este aprendiz
O tudo enfim me traia.

80


Mar, praia, areia, sonho
O tempo não perdoa
E quando segue à toa
À tona um ar medonho,
Vencido eu me reponho
Enquanto a voz ecoa
E volto a crer na boa
Visão de um mar risonho;
Mas tudo se esvaindo
No pouco ressurgindo
Além deste horizonte,
A sorte não se aponte
E um dia outrora lindo
Agora é morta a fonte.

81

Amando sobre a areia
A lua derramando
Um ar suave e brando
Fulgindo esta sereia
O quanto me incendeia
O rumo transtornando
Em tudo te tocando
Maré pra sempre cheia,
Rodeio outros vagares
Por onde tu andares
Decerto eu estarei,
Resumo a minha vida
Nesta ânsia repartida
Domando a nossa grei.

82

No Rio de Janeiro
O sol dos meus janeiros
E neles verdadeiros
Os ditos de um canteiro
Aonde fora inteiro
Em ritos derradeiros
E agora nos cinzeiros
O câncer, companheiro.
Resumos destes vãos
Momentos entre nãos
E quedas, mas persisto,
E tanto quanto pude
Viver nesta amplitude
A morte? Eu não despisto...

83

Praias, ondas, marés
Ourives da esperança
E quando o mar se lança
Tocando enfim meus pés
Olhando de viés
Bebendo esta mudança
Gestando a confiança
E nela sei quem és.
Derramo o meu olhar
E sigo a procurar
Quem possa pelo menos
Vencer os mais audazes
Caminhos entre as fases
Gerando sóis amenos.

84

Na pele, puro brilho
No olhar iridescente
O todo se apresente
Aonde amor palmilho
E sei ser andarilho
Ou mesmo algum descrente
Um tanto imprevidente
O mundo em ti eu trilho,
Vacâncias do passado
Agora noutro fado
O mundo se desnuda,
A sorte tão miúda
Disseminando o grão
Permite esta ilusão.

85

Porém a tempestade
Que tanto eu evitara
Agora em tal seara
Gerando a dor, invade
E nada em claridade
Nem mesmo se declara
A vida sem a escara
E tudo já degrade
O passo rumo ao tanto
E tento e não garanto
Senão novo tormento,
O amor gerando a luz
E nela reproduz
O quanto em ti eu tento.

86

As ondas em procela
Os mares dentro em mim
O risco chega ao fim
Enquanto pinto a tela
Aonde se revela
A paz deste jardim
Quisera querubim
Ou mesmo abrindo a vela
Navego sem timão
Os dias que virão
Trarão nova tormenta?
Mas tudo não passava
Da mesma e dura e brava
Paixão que dessedenta.

87

Meu verso, enamorado
O pranto o riso e o gozo
Momento desairoso
Resumos de um enfado,
O parto sonegado
O dia majestoso,
Apenas andrajoso
Caminho em risco e fado,
O dado se lançara
A sorte nunca é clara
O medo não se doma,
O fardo em minhas costas
As horas são respostas
O amor; espúrio coma.

88

O sol que fora amigo
Agora já não passa
Sequer desta fumaça
Aonde eu te persigo,
O risco em desabrigo
O todo ora se embaça
O riso o medo e a praça
O tempo em vão prossigo.
Eu quero e tenho atento
Olhar e sentimento
E nisto me pressinto
Porém ao desalento
O quanto ainda tento
Encontro agora extinto.

89

O tempo transtornado
Produz a intensidade
Aonde se degrade
O dia desvendado
No prazo demarcado
Jamais tento saudade
E nesta ansiedade
Errático e sedado.
O manto já puído
O sonho é vão ruído
E o medo não se cala,
Adentro esta ilusão
E nesta direção
A sorte é vã, vassala.

90

Adormecida luta
Aonde nada mais
Dos dias tão normais
E nisto se reluta
Enquanto fora astuta
A sorte em teus vitrais
Agora não, jamais
Verás esta permuta
De sonhos e delírios
Em vagos tolos círios
Desfiles e promessas,
Mas logo em romaria
A vida não traria
Senão quando tropeças.

91

A craca em meu navio
Demonstra a solidão
E falta de atenção
O tempo em desvario
Pudesse e já desfio
O risco e enfim virão
Os ledos de outro vão
E nele frágil rio.
O mar que imaginava
Agora morto em lava
Vulcânica promessa
Adormecido sonho
Aonde sou medonho,
A vida recomeça...

92

É morte, sem ter cais
O que me propicias
E logo em frágeis dias
Quebraste estes cristais
E agora o nunca mais
Aonde poderias
Vencer as ironias
E ter sonhos normais.
Resumos de uma vida
Já tanto em dor urdida
E nada mais se vê
Senão este espetáculo
E nele em mau vernáculo
A vida é sem por que.

93

Célere veio a noite
Tomando este cenário
Um vento estranho e vário
Qual fosse um vago açoite
Adentra meus umbrais
E toma todo quarto,
Nos sonhos inda parto
E enfrento os vendavais,
Porém mera ilusão,
O passo retrocedo
E sinto em torpe enredo
Os dias que virão,
A morte se anuncia
E não espera o dia.

94


Um sorriso resiste
Embora eu saiba bem
Que nada mais provém
De um coração tão triste.
A vida não persiste
E quando o sonho vem
Procuro um novo alguém,
Que é óbvio, não existe.
E além do pensamento
Tocando em desalento
A sorte dita o rumo
Percorro cordilheiras
E as horas derradeiras
Deveras eu assumo.

95

O pensamento busca
Em plena noite escusa
A sorte mais confusa
A vida em luz tão fusca,
O quanto já se ofusca
Enquanto se entrecruza
O passo em tez obtusa
A vida queda, brusca.
Resisto o mais que posso
E sei quanto foi nosso
O que jamais pensara
Um dia tão ausente
A morte se pressente
Domina esta seara.

96

Quem sabe deste vento
Traçando nova lua
A vida continua
Liberto o pensamento,
Por vezes inda tento
A noite segue nua
E volto à mesma rua
Em tom de alheamento,
Prossigo, mas sei bem
Que nada mais convém
A quem se fez distante
Se a dita me garante
O quanto sei constante
Decerto nada tem.

97

Pensamento me leva
Além do quanto pude
E sei desta atitude
Gerando a mesma ceva
A noite em plena treva
Alheia juventude
Morrendo e nada ilude
Espera mais longeva
Retalhos de uma vida
Já tanto dividida
Em ermos tão vulgares,
Amortalhado sonho
Deveras é medonho
E nele sempre estares.

98

A noite se revolta
E volve em tempestade
O medo quando invade
A sorte não tem volta
O corpo não se solta
Poeira nos degrade
Alheia liberdade
A vida sem escolta
A queda se anuncia
E vejo além do dia
A morte sem defesas,
Seguindo as correntezas
O quanto poderia
Se somos meras presas?

99

Da luta não me canso
Embora saiba tanto
O que decerto eu canto
Buscando algum remanso,
A vida em velho ranço
O mundo sem encanto,
O corte o medo o pranto,
Porém teimando avanço
E quando me degrado
A sorte noutro fado,
Mortalha se tecendo,
E vejo além da queda
A página se veda
Sou mero e vão remendo.

100

Dos sonhos, companheira
A vida não cabia
Neste raiar do dia
Aonde a sorte queira
Mudar e vejo inteira
A solidão vazia
Inócua poesia
Do nada é mensageira,
Amar? Como que eu posso
Se nada fosse nosso
Senão esta mortalha,
Vencido pelo tédio
Não tendo mais remédio
Sou mera e tosca tralha.

101

Também conheço o dia,
Embora não mais veja
O quanto da sobeja
Manhã não mais veria,
O risco de sonhar
O medo se formando
Aonde fui nefando
Negando algum vagar,
A morte se prepara
E doma sem sossego
Buscando algum apego
Além da noite clara
A manta se desnuda
E morro em plena muda.

102


A noite não percebe
O quanto pude ver
Do farto amanhecer
Outrora, velha sebe,
O todo se recebe
Depois do sem saber
O rumo a se tecer
A morte nos embebe
E sinto a cada passo
O quanto ainda traço
Do nada dentro em mim,
Vagando em luz medonha
A vida já se enfronha
Além do meu jardim.

103


O brilho da alvorada
O sol já não surgia
A morte em fantasia
A vida anunciada
O risco deste nada
Ou mesmo esta sangria
Já tanto poderia
Dizer da madrugada
Aonde fora ausente
O tempo não pressente
Mudança alguma quando
O risco se moldando
O dia morto agora
A bruma em vão se aflora.

104

Bem sabe que travei
A luta onde sabia
Perdida a fantasia
Alheio à velha lei
O quanto escancarei
Da mesma poesia
E sei que não havia
O quanto duvidei
O risco de sonhar
O medo de lutar
A morte em mim sobeja,
O tempo não discute
Ainda que eu relute
O fim somente veja.

105

Na luta mais constante
No risco de talvez
Buscar onde não vês
O quanto se adiante
O passo doravante
Tomado em lucidez
Permite o que desfez
Manhã num novo instante,
Aprendo ou tento ao menos
Em dias mais serenos
Verter em poesia
O quanto não me cabe
Bem antes que se acabe
O derradeiro dia.

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