quinta-feira, 24 de junho de 2010

38415 até 38515

1

És minha áurea manhã,
Em raio iridescente
No quanto se apresente,
Na vida temporã
Os seios de romã
Um gesto mais presente,
Corpo belo e envolvente
Recendendo à maçã,
Mas tudo isto é vão
Os dias sem razão
Galopa o pensamento
Buscando uma paragem,
Sem ter uma estalagem
Entregue ao próprio vento.

2

Respiro enfim teus ares,
Buscando me conter
Nas redes do prazer
Cevando estes luares,
Mas quando tu notares
Ausentes do querer
Teus olhos; passo a ver
Vagando outros lugares.
E tendo esta certeza
A vida sem surpresa
Alheia ao meu anseio,
Imagem deturpada
Não sobra quase nada
Somente este receio...

3

A dor, durante os anos
Aonde pude um dia
Viver esta alegria
Agora em puros danos,
Diversos desenganos
Ausente melodia
A noite segue fria
Em rotos, velhos planos,
O tanto que te amei
O quanto te esperei
Insólito destino,
E quando vejo à vera
A sorte destempera
Perdendo todo o tino.

4

Distante dos teus sonhos
Meus dias são iguais
Horrendos rituais
Delírios mais tristonhos,
Caminhos enfadonhos
Imersos em banais
Estradas virtuais
Delírios mais bisonhos,
Um velho visionário
Dos medos um corsário
Apenas tergiversa
E nada se revela
O barco perde a vela
Minha alma está dispersa.

5

Escassas provisões
Viagem segue além
O quanto me contém
Não dita em emoções
Sequer as sensações
E quando sou refém
Da dor, velho desdém
Aprendo tais lições,
Cerzindo no vazio
O tempo, desafio
E busco uma estalagem
Aonde possa entrar
Sem medo do sonhar,
Em mansa paisagem.

6

O rumo das estrelas
O olhar neste horizonte
Encanto que remonte
Às horas, posso vê-las
E mesmo até contê-las
Dos sonhos, rara fonte,
Aonde desaponte
Sendas onde vivê-las
Recebo deste vão
A mesma ingratidão
Que tanto renegava,
A vida noutro espaço,
O rumo já não grasso,
O sonho feito em lava.

7

Ao deus do amor sincero
Que tanto quis um dia
Agora se desvia
E nega o que mais quero,
O verso onde venero
Em tons de fantasia
A luz, alegoria
O tempo resta austero,
O vento me tocando
Aonde quis mais brando
Agora em temporal
À morte eu me entregando
À vera só faltando
Um único degrau.

8


Não deixe retornar
O sonho em desvario
E quando o desafio
Tentando imaginar
Talvez algum lugar
Aonde eu mesmo crio
Um rito sem estio,
Esta água a me tocar,
Rondando as noites vagas
E quando noutras plagas
Eu penso e creio ver
Cerzida esta manhã
No olhar, a torpe cã
Minha alma, envelhecer.

9

Tens a beleza rara
De quem se fez além
Do quanto ainda tem
Ou mesmo doma e ampara,
Olhando cara a cara
Conheço muito bem,
O amor quando retém
Ou tanto se escancara.
O caos após a queda
A sorte o tempo veda
E o verso diz do não,
Ausente deste olhar
A luta a se tramar
Reflete a solidão.

10

Tens a fortuna imensa
De quem se fez divina
Já nada me domina
Enquanto uma alma pensa
Na sorte que compensa
Mudando esta rotina
O corpo da menina
Aonde o amor convença
Sem desavenças sigo
E quero estar contigo
O tempo que aprouver
Vivendo sem escusas
As sortes mais confusas
Nas ânsias da mulher.

11

Da vida que persigo,
O olhar entristecido,
O corte apetecido
A vida em tal perigo,
Por vezes já nem digo
Do quanto amanhecido
O mundo sem sentido,
Vivendo em desabrigo.
Resumo desta lida
Há tanto já perdida
Sem nexo ou solução
Hiberno a cada instante
E nada me garante
Sequer a provisão.

12

Perdido sem o olhar
De quem guiava o passo,
Enquanto me desfaço
Buscando imaginar
O quanto pude amar
Ou mesmo sem teu traço
Jamais viver o espaço
Diverso de sonhar,
Ausento da ilusão
E os dias que virão
Serão iguais em tudo,
O tanto quanto pude
A vida em plenitude,
Agora não me iludo.

13

Perdoe se te canto
O verso não traduz
Sequer mínima luz
Do que desejo tanto,
O tempo em desencanto
Apenas reproduz
O quanto não faz jus
O peso em que me espanto,
Olhando de soslaio
O meu passo já traio
E a queda se anuncia,
Depois da tempestade
Não resta na cidade
Sequer a poesia.

14

É que de amor, enfim,
Depois de tanta luta
A vida, mais astuta
Agora toca em mim
E bebo tanto assim
E a sorte não reluta,
Resiste à tola e bruta
Senzala de onde vim,
O parto sonegado
O risco anunciado
O medo em cada verso,
Olhando para trás
Ainda sou capaz
De um passo mais diverso.

15

Não quero a solidão
Tampouco o corte e o riso
Apenas o preciso
Caminho em negação
Os sonhos me trarão
O quanto em prejuízo
A vida sem seu siso
O medo, o passo em vão,
Olhando a velha foto
O medo além, remoto
A face amarelada,
Gavetas, traças, morte
Sem nada que conforte
A mesma tez velada.

16

É águia desdenhosa
Que sobrevoa mansa,
E quando o olhar alcança
Mergulha majestosa,
Assim a vida goza
Da sórdida esperança
Intensa semelhança
Uma alegria glosa,
Ausência dita o rumo
E quando me acostumo
À fuga ou ao não ser,
O risco em caos e queda
O passo a sorte veda
Só resta, então morrer.

17


Do sofrimento amargo,
Ao passo indiferente
Por mais que ainda tente
O sonho já não largo
E quando o passo embargo
Em rumo mais premente,
A sorte ora se ausente
Dos gozos vou ao largo,
Não pude e nem pudera
Viver a primavera
Hostil em meu inverno,
E bebo esta cicuta
A vida não reluta
Adentro em paz, o inferno.

18


Que longe dos teus braços
Já não pudesse ainda
Sentir quanto se finda
O corte em meus espaços
E sigo velhos traços
Aonde a morte brinda
E sei que se deslinda
Em dias torpes, lassos,
Verdades mais cruéis
E nelas sorvo os féis
E sigo sem saber
Se o pouco que me resta
Adentra qualquer fresta
Permite algum prazer.

19

Na embriaguez do sonho
No mundo aonde eu via
A ausente fantasia
E nisto me proponho,
O quanto sou bisonho
E vivo em agonia
O passo não recria
Senão este ar tristonho,
O vago caminhar
Nas ânsias de um vagar
Por entre pedras, medos,
Os dias mais felizes?
Não superando as crises
Agora ao longe, ledos.

20

Meu mundo sem sentido
Meu passo rumo ao nada,
A sorte destroçada
O sonho mais contido,
Aonde fora ouvido
O canto em madrugada
Agora desolada
Imagem sem ruído.
Aprendo com as sendas
E nelas não entendas
Sequer qualquer momento,
E quando vejo a face
Do tempo onde desgrace
Alguma luz eu tento.

21

Deitado, em vão, com medo
Do todo que não veio,
O olhar em devaneio
O passo em vão procedo,
E sinto quanto ledo
Desejo em que permeio
O canto e sigo alheio
Ao que pudesse enredo.
Arcar com cada engano
E assim sempre me dano,
Vagando sem ter paz,
Do nada construído
O rumo desvalido
É tudo o que se faz.

22

Achando eu me encontrava
Em meio ao que pudesse
Ourives em tal messe
Lapido apenas lava,
A sorte sendo escrava
Do quanto se obedece
E nada quando tece
Ainda se mostrava,
Na morte, o corte o fardo,
O passo não retardo
E sigo sem um porto,
O caos reina sem tréguas
Distando tantas léguas
Apenas semimorto.

23

Não quero a solidão
Nem mesmo quem pudera
Apresentar a fera
Vontade do senão,
Erguendo em provisão
O forte em que se espera
Vencer qualquer quimera,
Ausente direção,
Pereço enquanto luto,
O tempo é mais astuto
Não deixa qualquer chance,
E sei do quanto pude
Na ausente juventude
Ao nada a voz se lance.

24

Preciso urgentemente
Singrar por outros mares
E quando tu notares
Terás aqui presente
Quem tanto te apascente
Enquanto mergulhares
Nos medos e luares
Dos sonhos, a nascente.
O farto descaminho,
O gozo, o medo e o vinho
O peso da esperança.
A senda desditosa
A vida em nada goza
Ausente confiança.

25

Viver sem ter amor
Ou mesmo calmaria
No quanto já se adia
A sorte aonde eu for
Recebo a turva cor
E nela poderia
Em ares de ironia
Vencer talvez a dor,
O quadro se apresenta
Na face mais sedenta
Alheio ao caminhar,
Depois de tanta luta
A vida inda reluta,
Cansada de sonhar.

26

Não posso suportar
Sequer a mera imagem
Rompendo esta barragem
E tudo se alagar
Vencendo devagar
O quanto quis miragem
Preparo outra visagem
Adentro um falso mar,
E bebo da incerteza
Na imensa correnteza
Aonde o nada existe,
Seguindo passo a passo
O rumo, se inda traço,
Decerto o mesmo, e triste.

27

Solidão, que jamais
Um dia tive além
Do corte onde convém
Saber dos vendavais
Caminhos desiguais
E deles sou refém,
O parto não provém
Nem versos mais banais.
Ouvir a voz do vento
E tentar num momento
Saber do quanto eu possa,
Vestindo a fantasia
Que o tempo me daria,
Exposto ao riso e à troça.

28

Ser feliz? Só contigo,
Pensara no passado,
Agora o desolado
Caminho não persigo,
O quanto em tal perigo
O rumo demonstrado,
Vivendo lado a lado
Num tempo mais antigo,
Arcando com enganos
E tendo nos meus danos
Imensos erros; vejo
O parto em tal aborto,
E agora quase morto
O riso é raro ensejo.

29

Retorne e se não der
Não vou ficar apenas
Juntando velhas penas
Olhando o que puder,
A vida se é qualquer
Ou mesmo tendo as plenas
Vontades mais serenas
Nos gozos da mulher,
Aumento enquanto caio,
Já não serei lacaio
Nem mesmo algum otário
Errar é necessário,
E se isto fosse tanto,
Deveras não me espanto.

30


Deus me fez tão feliz
Embora muita vez
O quanto em lucidez
Desfaz o que já fiz
Ou mesmo em tom mais gris
Que agora ainda vês
Percebe o que se fez
Em turva cicatriz,
O gesto mais audaz
O corte já se faz
Raízes são expostas,
E tanto quanto quero
Pudesse ser sincero
Vazias as respostas.

31

A beleza estampada
Na face demoníaca
Aonde afrodisíaca
A sorte não diz nada
Austera e vã, maníaca
A lua desenhada
Por sobre a velha estrada
Esta ânsia vil, cardíaca,
A boca se entrelaça
Na farsa e quando passa
Além outro cometa,
No farto caminhar
Cansado de sonhar
Ao nada me arremeta.

32

Toda a força do lume
O peso de uma vida
Jogada e sem saída
Ausência de costume,
Ainda quando rume
Além da voz perdida,
A morte desvalida
Sentindo o seu perfume.
A face em farsa e gozo,
O rito pedregoso
O corte mais audaz,
E assim se poderia
Vencer em heresia
O que esta morte traz.

33

Encontro em fatal brilho
O parto aonde um dia
Mereço outra alegria
Ou nada mais polvilho,
Olhar quase andarilho
O rito em poesia,
A morte em sincronia
O vento aonde trilho.
Peçonhas mais diversas
E nelas quando versas
Invento outra saída,
Assim pudera ser
A sorte aonde crer
Deveras pressentida.

34

No mundo, simplesmente
Um risco a mais, quem sabe.
O todo não me cabe
E nisto me apresente
Um velho penitente
E quando se desabe
O tanto já se acabe
Fiel e plenamente,
Resulto do que fosse
Além deste agridoce
Mergulho noutro mar,
Salgando em maresia
A sorte não traria
Sequer algum sonhar.

35

De todo esse universo,
Aonde quis um dia
Saber desta alegria
E nela se inda verso,
O pouco ou tão disperso
Alheio ao que podia
Singrar em tal sangria
Vivendo em tom perverso,
Olhando para os lados,
Os riscos, outros fados,
Arisco sonhador,
Metáforas criadas
As ânsias desarmadas
Em mim sobeja dor.

36

Fortaleza invadida
Por fúrias desiguais
Imensos festivais
Destroçam qualquer vida,
A sorte pressentida
Em olhos tão venais,
Querendo muito mais
Que fosse dividida
A porta não se abrindo
O tempo agora findo
O risco de sonhar,
Não tento, mas persisto
E sei que sempre nisto
Talvez possa um lugar.

37

Fazendo meu viver
Diverso do que outrora
Ainda desancora
O barco em desprazer,
Não quero conhecer
Sequer quem me devora
Nem mesmo desde agora
Começo a fenecer.
O passo em turva senda,
Aonde não se estenda
Sequer outro caminho,
Sorvendo em gole farto
O mundo eu já descarto
E sigo em vão, sozinho.

38

Quero o gosto das fontes
Nos lábios e na face
Aonde nada trace
Nem mesmo mais apontes
Os sonhos e horizontes
E nisto se desgrace
O corte em que se passe
O mar por sobre pontes,
Esgueiro-me da enchente
E quanto mais se tente
Vencer os meus anseios,
Não posso e nem pudera
O quanto da quimera
Encontra em mim seus veios.

39

Quero essa sutileza
E nela me aprofundo,
O sonho, um vagabundo
Olhando a velha presa,
No quanto sobre a mesa
Transforma em prato imundo
O todo em que me inundo
E cerzi a correnteza,
Vagando pelo nada
A sorte desenhada
Jamais se apresentara,
A vida num instante
Deveras se adiante
E mostra a podre escara.

40

As noites de prazer
Aonde quis talvez
O quanto não se fez
Nem mesmo pude ver,
Sentindo no meu ser
A imensa insensatez,
O rumo perde a vez
E a morte a renascer
Tomando cada espaço
E quando ainda passo
O tempo nesta busca,
A vida não permite
Sequer qualquer limite
E traça a inútil busca.

41

As cores do infinito
O medo de outro dia,
A velha sincronia
E dela necessito,
O quanto em tolo grito
O mundo não adia
E nega esta harmonia
Aonde houve um bonito
Desenho promissor
Agora em dissabor
Jamais se vê senão
A farsa desenhada
Imagem desgrenhada
Da vida sem razão.

42

Com o brilho distante
Do olhar de quem se quer,
No corpo da mulher
Um dia mais brilhante,
E nada me garante
Ainda o que vier
Seja o que Deus quiser
Ou noutro tom farsante,
Resumo o que talvez
Quem sabe nunca vês
E nem mais desejava
O corte em tal raiz
Diverso do que eu quis,
Sorriso ferve em lava.

43

Que achei eternidade
No rosto de quem tanto
Pudesse num encanto
Dizer o quanto invade,
O peito de quem brade
Em belo e raro canto,
Porém sei que, portanto
Beiro à senilidade.
O fato de sonhar
O risco de lutar
E nada ter em troca
O mundo noutra face
Aonde quer que trace
Aos poucos se desloca.

JAQUELINE


44

Perdido sem destino em vida amarga
A sorte não concebe outra saída
E sei que se traçando em despedida
O corte em vil peçonha não me larga,
O passo caminheiro segue à larga
Do quando poderia em protegida
Seara divisar quem não agrida
Tampouco quem decerto o rumo embarga,
Mas trevas entre trevas, morte à vista
Não tendo outra esperança, vã, prevista
O quadro se desenha em tom nefasto,
E quando uma esperança ronda a casa,
Meu mundo no vazio não se embasa
E desta luz insana, enfim me afasto.

45

Preciso de um momento em solidão
Refaço a minha vida em turvo instante
E nada do que tenho me garante
Dos sonhos e esperanças, provisão,
O vaso destroçado sobre o chão,
O passo que pensara fascinante
O olhar sem horizonte doravante
Encontra a cada ausência outro senão.
O manto recobrindo o meu olhar,
A morte se aproxima devagar
E toma cada espaço, pensamento,
Quem sabe poderia noutra senda
Imaginar um gozo que se estenda,
Mas quando me percebo, nem mais tento.

46

Um gole de café, outra aguardente
O mundo em sobressalto, a curva além
O nada na verdade sempre vem
E toma cada passo plenamente,
O quanto do viver ainda tente
Quem sabe da esperança muito aquém
Vislumbro este vazio e sem ninguém
Que ainda possa crer no quanto alente,
Eu tive esta certeza há muitos anos,
Somando os mais puídos, velhos panos,
Os desenganos tomam o horizonte,
Sem ter sequer o brilho deste sol,
Vazio desde então meu arrebol
Nem mesmo alguma sombra além se aponte.

47

Não creio nestes deuses que me dás
Nem necessito mesmo do perdão,
Os mares sem qualquer navegação
Jamais traduzirão um mundo em paz,
Do quanto a realidade é mais tenaz
E o parto se transforma em solidão
Apenas outros dias se verão
Na angústia tantas vezes tão mordaz.
Esgarço uma esperança e sem bandeira
A sorte na verdade derradeira
Não gesta uma alegria nem ao menos
Permite um brilho aonde nada existe,
E sinto o meu caminho ledo e triste
Bebendo sem descanso teus venenos.

48

Perdendo qualquer senso, sigo alheio
Aos tantos pensamentos onde um dia
Gerara a mais dorida fantasia
E agora sem caminho e em devaneio
Procuro, pelo menos por um meio
Aonde a nossa sorte moldaria
A luz que tanto busco e não sabia
Distante deste sonho onde rodeio,
Arcando com meus vários demoníacos
Caminhos entre erráticos maníacos
Um estafado e vasto quase espúrio,
Erguendo o meu olhar para o não ser,
Restando tão somente enfim morrer,
Um ser entorpecido em mau augúrio.

49

Apresentando assim a velha chaga
Ferida cultivada por enganos,
Aonde na verdade cevo danos
Nem mesmo a fantasia ainda afaga,
Risível caminhar em turva plaga,
Mudando num segundo velhos planos
Os riscos se somando, desumanos
Olhares neste instante em torpe vaga.
Acordo e nada resta, nem ao menos
Os dias que julgara mais serenos,
Apenas a figura desolada
Retrata a minha face em ar sombrio,
E mesmo assim meu mundo desafio
Sabendo no final, não terei nada.

50

Meus erros se acumulam desde quando
O passo se mostrara em tom errático,
O quanto deste mundo fora prático
Agora noutra face deformando,
A morte em redenção se transformando,
Somente o mesmo engodo mais temático
Um ar por vezes tolo e até dramático
O risco de sonhar hoje é nefando.
Cadenciando o nada vejo enfim,
O quanto poderia dentro em mim
E morto noutro instante dita o rumo,
E tento acreditar noutra seara,
Mas quando esta verdade se escancara
Meus erros costumeiros, sempre assumo.

51

O manto se azulando em céu sombrio,
Quem dera fosse assim, mas na verdade
O quanto deste sonho se degrade
E sinto tão somente o mesmo frio,
O nada após o nada inda recrio
E o gosto que me toma; da saudade
Nem mesmo a falsa imagem; tempestade
Traduz o quanto busco, algum rocio.
O sol já não virá neste horizonte
Borrasca novamente é o que se aponte
Transforma a minha vida em tal cenário,
E singro este vazio dentro em mim,
A morte se aproxima e sei que o fim,
Embora doloroso; é necessário.

52

Banhando de tristezas meu olhar,
A morte não me dita outra promessa
E quando o dia trama e recomeça
Distante do que pude imaginar,
Bebera tão somente este vagar
Imerso aonde o nada já se apressa,
E toda a fantasia ora tropeça
Tropel das ilusões a nos tocar,
Restando do passado a mera imagem
E nela sem saber desta paragem
Aonde poderia ter alento,
Um riso de ironia e nada além,
O porto da esperança não convém
A quem se embrenha em turvo sofrimento.

53

O mundo se desenha merencório
O risco de sonhar já não existe,
Enquanto o coração morrendo triste
Num rito doloroso, vão e inglório
O tempo noutro rumo, raro empório,
O corpo tão somente ainda insiste
E quando se aproxima e já desiste,
O farto se permite, ora ilusório.
Caminhos tão diversos, vida e morte
Mas nada na verdade me conforte,
Cansado desta luta inconseqüente,
Depois de tantos anos abandono
Do nada infelizmente enfim me adono,
Por mais que outro delírio o sonho tente.


54

Tantas dores a vida
Produz em quem procura
Dos males sua cura
E envolto em tal ferida
Ainda convertida
Em ânsia atroz e pura,
E nisto se assegura
A dura despedida.
Viver e ter além
Do nada que contém
Apenas a impressão
Do quanto inda pudera
Vencer qualquer quimera
Ou medos que virão.

55

São montanhas diversas
Aonde quis um dia
Vencer esta agonia
E nelas as perversas
Manhãs por onde versas
Gerando o que seria
Além da alegoria
Em luzes tão diversas.
O peso do passado,
O dia mal traçado
O rumo sem certeza,
A fúria em tal torpor
A angústia, o dissabor
Dos sonhos, mera presa.

56


Ao passado, a tristeza
Cevada em dores fartas
E quando mais te apartas
Mais forte esta incerteza,
As horas mais sensatas
As mortes mais audazes
E quando tu me trazes
E tanto me arrebatas
Desvendo no vazio
O sol que imaginara
Domando esta seara
Agora em medo e frio,
Sonhando, nada resta
Sequer a luz em fresta.

57


Fazendo transtornar
O olhar que se pudesse
Ainda além tivesse
Um raio de luar,
O tempo a demorar,
A sorte, o rumo, a prece
O nada se obedece
E teimo sem chegar
Ao cais mais desejado,
O tempo destilado
Açoda-me este não,
E quanto mais escuro
O tempo onde perduro,
Inútil solo e grão.

58

Da festa, serpentina
Olhando para trás
O nada satisfaz
O medo me domina,
E quando se alucina
A fúria em passo audaz,
O gesto mais capaz,
Tomando rumo e mina,
Emana-se o não ser
E tento algum prazer
Aonde não pudera
Saber se existe luz
Ou nada em contraluz
Contendo em si a fera.

59


Nos meus ultrapassados
Caminhos vida afora
Aonde nada ancora
Em portos desolados,
Os ritos destroçados
Mergulho aonde aflora
O medo e sem ter hora
Encontro os meus enfados,
E arrisco novo salto,
E quando assim me assalto
Em mera fantasia,
Eu ergo olhar além
E nada mais retém
O quanto ainda havia.

60



O tempo que perdi
Nas ânsias doutro mar
Aonde navegar
Ausente enfim de ti?
O amor se o mereci,
O gozo de sonhar,
O passo devagar
Além ou mesmo aqui.
E tresloucadamente
O quanto se pressente
Do nada se faz tudo,
E tento em verso e sonho
E aonde me proponho,
Deveras eu me iludo.

61

A alegria vivemos
Em noites divinais
E quando agora iguais
Os rumos que vertemos,
Não sei se inda teremos
Ainda um novo cais,
E quero muito e mais
Do quanto nós sabemos.
Inúteis descaminhos
Em passos que, mesquinhos
Jamais chegam além,
O verso sem sentido,
O tempo pressentido
Vazio, apenas, vem...

62

Das dores que acumulo
O olhar sem horizonte
Aonde não desponte,
Apenas dissimulo
E quando a dor engulo
E tento além da fonte
Um mundo que se aponte
E nada enfim, simulo,
Esqueço o que se faz
E tento mais audaz
Um novo clarear,
O verso sem futuro,
O chão, imenso e duro,
Ausente céu e mar.

63

A ausência desta luz
Não deixa que se veja
Além do quanto almeja
Quem tanto reproduz
O gozo o corte a cruz,
O nada onde preveja
A sorte mais sobeja
O tempo em contraluz,
Anseios são diversos
E quanto mais perversos
Maiores incertezas,
Seguindo pareados,
Desejos desenhados
Em torpes sutilezas.

64

Da minha mocidade
Ausente do meu canto
O quanto desencanto
E a fúria ora me invade,
Pudesse sem saudade
Sem mesmo este quebranto
O mundo noutro manto
Causar diversidade,
O verso, o vento, o frio,
O parto onde recrio
A voz que não se alinha,
Medalha se estampando
No peito mais infando,
Verdade nunca é minha.

65

Não há mais sequer lua
Tampouco algum clarão
Ausente este verão,
Minha alma não flutua
Descendo pela rua,
Ingrata procissão
E nela se verão
Em dias a alma nua.
Quando residualmente
O nada se aparente
Nem mente quem te adora,
O resto em voz macia
O todo não teria
O quanto tem agora.

66

O meu céu sem brilho
A noite se expressara
Em dura e vã seara
Aonde em empecilho
O mundo agora trilho
E tudo se espalhara
Tomando a noite rara
Um sonho de andarilho,
Cigano coração
Aonde quer o não
Encontra o seu retrato,
E beijo este regato
Sem rumo ou direção
E nele me resgato.

67

No brilho desta tarde
O olhar de quem se fez
Além da lucidez
Ou mesmo se resguarde
Aonde o todo aguarde
O amor quando mais crês
E nele se refez
O nada sem alarde,
O passo rumo ao tanto
E quando às vezes canto
Buscando alguma luz,
O mundo não sacia
A noite mais sombria
Reflete o que compus.

68

A vida se prepara em armadilhas
Seguindo os velhos erros costumeiros
Aonde inda cevara os meus canteiros
Agora são agrestes, vagas trilhas
E quando na verdade tu me humilhas
Com ares mais soberbos, espinheiros
Traçando com teus olhos traiçoeiros
Irônica figura então tu brilhas,
Restando do passado esta presença
E nela nada mais inda compensa
Somente esta certeza em sofrimento,
E quando nova voz; além escuto
O olhar mais tenebroso, duro e astuto,
Negando qualquer luz e provimento.

69


O quanto necessito acreditar
Num novo sol tomando a minha vida,
Aumenta a cada ausência esta ferida
O tempo sem descanso a maltratar,
Pudesse ainda mesmo ter no olhar
A sorte tantas vezes construída
Na paz mais verdadeira aonde urdida
A luz de um novo dia a me tomar,
Mas quando me percebo solitário
Eu sei o quanto fora necessário
Apenas este alento e nada mais,
Esqueço o que inda fora no passado
E o tempo novamente mais nublado
Aguardo os mais diversos vendavais.

70

Perdendo o quanto pude em um segundo,
O mar se aproximando dos meus pés,
Aonde não quisera mais galés
Apenas no vazio me aprofundo,
O olhar em duras trevas, aprofundo,
E sito neste inferno, de viés,
Os ritos no passado, mais fiéis
E o tempo se apresenta vagabundo.
Podendo acreditar na primavera
Enquanto a vida além se destempera
E muda este cenário num rompante,
De nada mais servia algum alento
E quando ainda mesmo busco ou tento,
Não tendo mais um passo que adiante.

71

Aonde se pudera acreditar
Na sorte benfazeja e nada vinha,
A vida desta forma mais daninha
Secando num instante o meu pomar,
O sonho sem ter cais, desamparar,
Apenas o vazio me convinha,
Resisto enquanto a sorte mais mesquinha
Não cansa um só momento de buscar
Além do que pudesse e doma a cena,
O olhar mais desejado me envenena
Ferrenha madrugada em luz cruel,
Ausenta dos meus dias a esperança
E o quanto ainda vejo nunca avança
Tornando mais escuro, então meu céu.


72

O mar, tempestuosa
Noite aonde enfrento
A fúria deste vento
Em senda caprichosa
Aonde majestosa
A noite, agora tento
Buscando estar atento
Ao nada que me glosa,
Orgástica loucura
Decerto já não cura
Nem mesmo ampara o passo,
E quando em desengano
Apenas eu me dano,
Os ermos rumos grasso.

73

Habita essas entranhas
Aonde pude crer
Num raro amanhecer
Por sobre tais montanhas
E quando enfim estranhas
O passo rumo ao ter
Sentindo esvaecer
As horas, velhas sanhas,
Esqueço do que um dia
Pudesse e não seria
Senão outro momento
E nele em tal cansaço
O rumo não mais traço,
Nem mesmo a paz eu tento.

74


Distante de qualquer
Caminho ou senda aonde
A vida não responde
E tento o que vier,
Olhando cabisbaixo
Resumo a minha vida
Na dor assim urdida
Em nada mais me encaixo,
Resumo do vazio
O tempo não permite
Além de algum limite
O quanto ainda espio
Expiro neste nada,
A velha e dura estada.

75
Nestes abismos, seres
Diversos me entranhando
O mundo desde quando
Além do que saberes
Terá outros quereres
E assim se irá moldando
Ou mesmo sonegando
Os fartos que embeberes
Nas sombras do talvez
O quanto se desfez
Desdém e louca luz,
A morte o ausente lume,
Aonde não se rume
O corte reproduz.

76

Redescubro, enfim, toda
A noite num segundo
E quanto mais me inundo
O amor dos sonhos poda,
O tempo gesta a roda
E vaga como o mundo,
Aonde num segundo
A sorte não açoda,
Alheio ao que vier,
Nas ânsias da mulher
O brilho onde procuro
Invariavelmente
O tempo tanto mente
Enquanto gera o escuro.

77

Na busca dos amores
Diversos vida inteira
A sorte mais ligeira
Por onde não te opores
Mesquinhas, mortas flores
E nelas traiçoeira
Verdade diz roseira
Sem nada mais compores,
Resvalo neste vão
E sei da ingratidão
Do passo sonegado,
O vento de um passado
Num dia de verão,
Agora profanado.

78

Encontrei puros ares
Aonde no passado
O tempo mais nublado
Ainda demonstrares
Vagando teus altares
E neles o legado
Resisto em demorado
Caminho onde lutares,
Vestindo a sorte imensa
E nada mais convença
Quem busca apenas paz,
O fato de viver
E ter ou não prazer
É ser ou não capaz.

79

Sem temer tempestades
Nem mesmo vendavais
Desejo muito mais
Do quanto ainda agrades
E sei das claridades
E nelas novo cais
Adentro originais
Delírios, liberdades,
Vestindo a fantasia
Aonde caberia
Apenas este não,
O mundo se desfila
E quanto mais tranquila
Maior a servidão.

80


Vagando pelos astros
Rondando este planeta
Aonde se arremeta
O mundo em alabastros,
Esqueço este marfim
E beijo a morte enquanto
Ainda teimo e canto
Tentando até o fim,
Jogado neste lago
O corpo em tom nefando
O sonho transbordando
Ainda não afago
Senão a minha sombra
E tudo quanto assombra.

81

As estrelas disfarçam
As luzes deste olhar
E tento te encontrar
Aonde não mais grassam
Sequer ainda passam
Mergulho neste mar
E nada de ter achar,
As horas se esfumaçam,
Mostrando a minha imagem
Gerando esta miragem
Na senda mais profunda
Abismos dentro em mim,
O tempo chega ao fim
E a morte em paz, me inunda.

82

Mergulho por gigante
Caminho em tez atroz
E quando busco em nós
O passo que adiante
A vida neste instante
Mudando o rumo e a foz,
Ausência mais feroz
E nada me garante,
Somente o vento audaz
E nele a vida traz
Ausência de esperança
O passo rumo ao vão
Mudando a direção
Jamais pousa e descansa.

83

As águas, todo o mar
O quanto pude além
Do todo que não vem
Nem mesmo quis ousar,
O verso a me tocar
O gesto o rito o bem,
Ausência deste alguém
Que possa desejar.
Escuras noites vagas
E quando em dor afagas
Resumes a verdade,
Enveredando o não,
Pudesse ter então
Ao menos liberdade.

84

Penetro nas entranhas
Das sendas mais sombrias
E quanto mais querias
Deveras mais estranhas,
Assim diversas sanhas
E nelas outros dias
Somando as heresias
Partidas não mais ganhas,
Açoda-me o terror
E quando em desamor
O pranto rola e doma,
A vida se entorpece
E tudo já se esquece
Qual fora imenso coma.

85

Em busca da Rainha
Que tantas vezes quis
Se um dia fui feliz
A sorte não convinha
E quando me continha
O peso, este aprendiz
Apenas já desfiz
Em cena mais daninha,
Ouvindo a voz do nada
A porta destroçada
Adentro em tempestades,
E sei quanto te quero
Também sei quanto é fero
O não que agora brades.

85

O quanto deste tempo ainda vivo
E traz no dia a dia o desespero
Enquanto no vazio eu me tempero
O gosto do não ser mantendo esquivo
O passo rumo ao quanto imperativo
Delírio aonde outrora com esmero
Pensara no caminho mais sincero
E nele permaneço e sobrevivo,
Cinzento céu domando o dia a dia
A velha e dura voz, hipocrisia
O corte na raiz de uma esperança
A morte se aproxima e me amortalha,
A vida um campo amargo de batalha
Distante dos meus olhos, temperança...

86

Perdendo qualquer luz que ainda venha
Tocar o meu olhar ou mesmo até
Gerar em quem caminha alguma fé,
Mantendo acesa a brasa em pouca lenha,
Do todo quanto posso ou me convenha,
A morte me rondando e sei quem é
A força geratriz desta galé
Sabendo da esperança rumo e senha.
Não pude acreditar noutro momento,
E quando do temor eu me alimento
Não tendo nada além, só me redime
Acreditar na força incomparável
De um dia noutro tanto mais arável,
Aonde ainda exista um ar sublime.

87


Na brancura, luar,
No olhar de quem se aponte
A vida e este horizonte
Aonde pude achar
A sombra a me tocar
E nela sei a fonte
Distante desta ponte
Sem nada a me guiar.
Resumo de um passado
Aonde desolado
Bebera esta ilusão
O medo me tomando
O tempo outrora brando
Gerando confusão.

88

A pele me recorda
O toque sensual,
E quando em desigual
Caminho a vida acorda,
Rompendo a velha corda
O tanto em ritual
Morrendo, tanto mal,
Nem mesmo o sonho aborda,
Elevo o pensamento
Aonde busco e tento
Sentir uma alegria,
O nada em movimento
A vida em tal lamento
Aos poucos se esvazia.

89


Busco-te, meu olhar
Cansado desta vida
A sorte em despedida
A morte a me rondar,
Da força outrora urdida
O corte a demonstrar
Em vão vou mergulhar
Gerando outra ferida,
À parte faca e adaga
O quanto em dor alaga
O medo sem promessa,
Medonha e tão vazia
A noite em agonia
O medo me confessa.

90

Nesta grande alameda
A vida se perdera
E quanto pertencera
E tudo não conceda
Sequer um doce alento
A quem buscando a paz
Pudesse ser audaz
Bebendo inteiro o vento,
Mas nada mais teria
Quem sabe outro destino,
Se tanto me alucino
Em noite quieta e fria
Ausência de quem quero
O olhar vazio e austero.

91

Florida por jasmins
A estrada que eu buscara
Domando esta seara
Distantes ermos fins,
E quando se apresenta
A morte face a face
Aonde o nada grasse
Apenas a tormenta
E nela sei vazio
O corte, o medo, e resto
Ausente e mais funesto
Aonde me recrio
E teimo contra a fúria
Somando esta penúria.

92

Caminho minha vida
Por ermos arvoredos
E quando tantos ledos
Aumentam tal ferida,
Quem sabe desprovida
De tantos velhos medos,
Olhares e segredos
A fonte dolorida
E nela sem presença
De quem tanto convença
Do passo rumo ao farto,
E sei do quanto pude
Morrendo a juventude,
Dos dias já me aparto.

93

Buscando meu futuro
Aonde pude ver
Somente o desprazer
Em tempo amaro e duro,
O quanto em vão procuro
E nada a perceber
Senão tanto esquecer
Do corpo onde perduro,
Apodrecida cena
A morte quando acena
Trazendo em ironia
O corte aprofundado
O risco anunciado
Em noite vaga e fria.

94

Esperando que amor
Pudesse ainda em mim
Gerar outro jardim
Reinando em clara flor,
E quanto mais me opor
Chegando ao ermo fim,
Restando nada enfim,
Senão raro temor,
Bisonhamente eu quis
Um dia ser feliz
E nada pude então
O passo se apresenta
Em tez e voz sedenta
Matando esta emoção.

95

Te quis ó companheira
Depois de tantos anos
Em fartos desenganos
A vida é traiçoeira,
Resumo em verso e pranto
O quanto pude crer
E nada mais tecer
Aonde não garanto
Senão a fantasia
E nela me embrenhara
Tocando esta seara
Matando a poesia,
Assim sem nada em mim
Eu bebo então meu fim.

96

Não deixe que essa vida
Destrua o quanto em nós
Gerasse nova voz
E nela sendo ouvida
A sorte decidida
Sem ser sequer algoz,
Voltando destes pós
Estrada sendo urdida
Em nova e clara foz,
A morte não sacia
E nela esta sombria
Verdade me domina,
O tanto quanto pude
Ausente juventude
Morrer em fria mina.

97

Te quero como amigo
Somente e nada mais,
Aonde em temporais
Pudesse ter abrigo
O sonho que persigo
Em noites sensuais
Ditame do jamais
Seria enfim contigo,
Não posso e nem talvez
Ainda quando vês
O olhar sedento e frio,
Resulto do passado
E quando amortalhado
Resumo mais sombrio.

98

Me deixe ser deveras
O corpo em luz ou sombra,
Mas quanto mais assombra
Maiores sei as feras
E beijo o vento alheio
Ao quanto nada tenho
E sei do vago empenho
E nisto meu anseio
Gerando o desalento
O passo em louca senda,
Aonde não se atenda
Sequer o que inda tento
Arrisco um passo aonde
O nada eu sei se esconde.

99

No meu canto amantíssimo,
Olhar neste horizonte
Aonde não se aponte
O sol belo e claríssimo,
Vestindo de ilusões
O rubro desenhar
Sem ter céu nem luar
Apenas gris me expões,
E sei do quanto traço
E sigo sem destino,
No quanto não domino
Rendido em vago espaço
Olhar mero e sombrio,
Apenas vago e espio.

100


Vereda dos meus sonhos?
Jamais acreditara
Sabendo esta seara
Em ares enfadonhos,
Os dias não se vendo
Além ou mesmo aqui
O todo já perdi
Somente sou remendo,
Verdade não conduz
Ao quanto quero ou não,
E sei sem direção
Ausente em nós a luz,
O gesto imperativo
Aonde sobrevivo.

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