sábado, 13 de março de 2010

00992/993/994/995/996/997/998

992


Alheios, sem sentidos, os meus versos.
Falando sobre amor que não percebo,
E quando se conhece qual placebo
Momento entre carinhos tão dispersos,

Eu singro por caminhos mais complexos
Vagando feito em luz parca e sombria,
Não tendo da esperança quem me guia,
Os dias se perdendo sem os nexos

E vendo o terminar da torpe vida
Nos ermos de uma insólita paixão,
O traço que queria, de união,
Há tanto tendo a corda já rompida

Promessa deste encanto vão, cativo:
Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo.

993

Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo
Depois de conhecer as suas manhas
E quando noutro rumo tu te entranhas,
Meu peito não se torna mais altivo,

Espero algum momento mais feliz,
E disso desenhando caricata
Figura que deveras me maltrata
E toda a realidade contradiz.

Assisto aos meus minutos derradeiros
Alheia aos sofrimentos mais banais,
Pudesse desfrutar dos roseirais,
Mas como se não tenho mais canteiros.

E quando esta verdade assim destrato
Percebo muito além do simples fato.

994


Percebo muito além do simples fato
Decerto muitas vezes mais comum,
E quando me encontrando sem nenhum
Caminho, com certeza eu me maltrato.

Amputo as ilusões e morro só,
Vasculhos estas gavetas e nada encontro,
O amor quando se dá em desencontro
Desmoronando a vida, resta em pó.

Escombros do que fomos inda trago,
E deles não refaço um novo mundo,
Somente no vazio me aprofundo,
Observo com temor um velho estrago

E sem ter mais alguém que me suporte
Assim encaminhando para a morte.

995



Assim encaminhando para a morte,
Não via senão dores, tanto espinho,
E um velho coração se faz sozinho,
E dele não percebo mais aporte.

O mundo se destroça claramente
E o beijo que recebo, o de um falsário,
Amar e ter aquém do necessário
Jamais eu pensaria, mesmo ausente

Das ânsias mais comuns da adolescência
E agora quando sei maturidade,
Delírio de menina vem e invade
Domando toda a minha consciência,

Da paz que já perdi neste tormento
Anseio tão somente algum momento.

996

Anseio tão somente algum momento
Aonde decifrar os meus enredos,
E neles coletando velhos medos
Somente o que me resta, um vão lamento.

Ouvisse pelo menos um instante
A voz de quem vivera a dor outrora,
Mas quando a realidade vai embora
Sobrando a fantasia delirante,

Não tendo solução, mergulho e cismo
Vagando sem saber sequer destino,
Ensandecida logo me alucino
Sabendo do final em cataclismo,

Percebo quanto amor é vil e ingrato
E quando não consigo, me retrato...

997


E quando não consigo, me retrato;
Falando dos anseios e das dores,
Deixando no jardim carinhos, flores,
Apenas tão distante algum regato

Aonde poderia esta sedenta
Saciar desejos entre luzes,
Sabendo que ao vazio me conduzes,
Nem mesmo a fantasia me apascenta.

Morresse pelo menos não teria
Terrível decepção que tu causaste,
A vida se condena a tal desgaste
Deixando demarcada esta sombria

Verdade que traduz no fim a morte,
Não tendo quem ainda me conforte...


998



Não tendo quem ainda me conforte
Jamais eu poderia crer no todo,
O amor ao se entranhar em lama e lodo
Transforma totalmente a nossa sorte,

E sigo desairosa pela vida,
Tentando algum momento feito em paz,
E quando a realidade é tão mordaz,
Decerto já me encontro então, perdida.

Qual fora navegante do não ser,
Morrendo a cada tempo mais um pouco,
Deveras sem ninguém eu me treslouco
E sinto se esvaindo o meu prazer

Quem dera um novo e nobre sentimento
Aonde não encontre tal tormento...

Nenhum comentário: