sábado, 13 de março de 2010

ESPIRAL DE SONETOS SOBRE 3 SONETOS BÁSICOS

1

Aonde se fizesse uma esperança
Não pude conseguir felicidade
E quando se percebe a tempestade,
Aos poucos se perdendo a confiança

Uma alma segue livre, ganhando ares
E teima sem destino na amplidão,
Exposta aos temporais, ledo verão
Traçando a fantasia em vãos altares.

Não posso e nem pretendo ser assim,
A imensa sonhadora do passado,
O gosto do prazer dita o pecado
E o mundo desabando dentro em mim.

Percebo muito além do simples fato
E quando não consigo, me retrato...

2

E quando não consigo, me retrato
E deixo para trás qualquer desejo,
O mundo bem melhor já não prevejo,
Somente nos meus olhos o maltrato.

Anteriormente eu via alguma luz
Aonde a turbulência se fez plena,
Nem mesmo a fantasia me serena
O corpo sendo exposto. Imensa cruz.

Anseio por caminhos bem diversos
Dos que tentara crer serem possíveis.
E quando se percebem impossíveis
Alheios, sem sentidos, os meus versos.

Assim encaminhando para a morte,
Não tendo quem ainda me conforte...


3


Não tendo quem ainda me conforte
Aguardo algum momento aonde possa
Depois de conhecer a dor e a fossa,
Ter sob o meu olhar um novo Norte.

Austeridade é tudo o que pretendo,
Não poderia ser assim liberta
Quem sabe que a verdade é tão incerta,
E nela não percebe dividendo.

O gosto do passado ainda vivo
Atordoando assim meu paladar,
Vontade de talvez ter e levar
Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo

Anseio tão somente algum momento
Aonde não encontre tal tormento...

4

Aonde não encontre tal tormento
Apenas o caminho se desfaz
E tudo que pensara mais audaz,
Diverso do que invade o pensamento.

A voz de um coração enamorado,
Audaciosamente se perdeu
E quando se percebo imenso breu,
Mergulho no vazio deste prado.

Matizes tão complexas, grises céus,
E neles os meus dias se perdendo,
Aonde se pensara em estupendo
Momento se entranhando sob os véus,

E quando a fantasia em vão me invade
Não pude conseguir felicidade


5

Não pude conseguir felicidade
Tampouco inda desejo um novo tempo,
Aonde se percebe o contratempo,
Não posso deslindar após a grade.

E o jeito é caminhar mesmo que em vão,
Atrocidades vejo nesta estrada,
Palavra libertária encarcerada
Mudando minha história e direção,

Vestindo esta mortalha que inda trago
Depois de tanto inverno em minha vida,
Percebo quão difícil e imerecida
A falta de carinho, de um afago

Vivendo este terror o fim prevejo
E deixo para trás qualquer desejo.

6

E deixo para trás qualquer desejo
Após me perceber tão iludida
Aonde se aportasse a minha vida
Com trevas e delírios, já negrejo.

O peso do passado enverga quem
Pensara ser possível liberdade,
Mas quanto mais terror, mais alto brade
O coração daquela sem ninguém.

Na ausência de outro rumo vou em frente,
Lutando contra tudo e contra todos,
Os pés enlameados nestes lodos.
O fim já se aproxima e uma alma sente

Sair desta terrível, podre fossa
Aguardo algum momento aonde possa.

7

Aguardo algum momento aonde possa
Viver com mansidão que desconheço,
O mundo se fazendo em adereço
De vez em quando amarga enquanto adoça.

Vencida, a caminheira não percebe
Ainda a claridade que envolvente
Ao mesmo tempo nega e já desmente,
Tornando mais dorida a velha sebe.

O preço de uma falsa alegoria
Não vale mesmo quando se faz pouco,
No encanto e desencanto me treslouco,
Viver uma alegria? Uma utopia...

Rotina só termina em dor que invade
E quando se percebe a tempestade.

8

E quando se percebe a tempestade
Um tempo mais nublado se anuncia,
A sorte se perdendo em noite fria,
Deixando como herança a dor que brade

Estímulos diversos? Nem um deles,
Amor não poderia me trazer
Sequer a menor sombra de um prazer
Momentos que pensei sobejos, reles.

E o pêndulo traçando o meu destino,
Na inconseqüente luz fascinação,
Mergulho neste abismo feito em vão
E a força necessária não domino,

Usando esta mortalha de um desejo
O mundo bem melhor já não prevejo.

9

O mundo bem melhor já não prevejo
E sinto a derrocada do meu sonho,
Não vejo mais futuro se, medonho,
Caminho onde alheia perco o ensejo.

O risco de quem ama se transforma
Na imensidão da dor que não me larga,
E quando não suporto mais a carga,
A vida pouco a pouco me deforma.

E aonde se pensara em um carinho
Não tendo outra resposta senão essa,
Terrível temporal que recomeça
Deixando o meu destino mais sozinho.

Sobreviver então não há quem possa
Depois de conhecer a dor e a fossa.

10

Depois de conhecer a dor e a fossa
Jamais imaginara alguma luz
E quando ao nada ser amor conduz
Enquanto seduzindo nos destroça.

E o vendaval expondo esta ferida
Rondando a minha casa, a morte expõe
A face desnudada em que compõe
O fim da longa estrada dita vida.

Abandonada e sem sequer sonhar,
O beijo que recebo, traição,
Momento onde me iludo, sendo vão
Não deixa sequer rastro do luar,

E assim quando ao vazio uma alma lança
Aos poucos se perdendo a confiança.



11

Aos poucos se perdendo a confiança
Já não consigo ao menos discernir
Se ainda ao meu alcance algum porvir
E nele a tempestade sempre avança

Repondo com desdém o que não trago,
A saga de uma louca poetisa
Que tanto se propõe e não matiza
Sequer uma impressão de manso lago.

Atrozes os desníveis que ora encontro
E neles se traduz minha amargura,
Pudesse transformar minha procura
Diverso deste eterno desencontro;

Futuro mentiroso se diz grato
Somente nos meus olhos o maltrato.


12


Somente nos meus olhos o maltrato
Desejo que se fez em falsa luz,
Apenas refletindo reproduz
O vendaval que agora sei de fato.

Vivenciara ao menos um segundo
Aonde poderia em paz viver,
E tendo em minha vida o desprazer
Nas mágoas mais profanas me aprofundo.

Expondo a minha face aguardo o tapa
Medonha realidade se afigura,
Aquele a quem amei, vã criatura,
Das mãos de quem procura sempre escapa.

Uma ilusão deveras me conforte:
Ter sob o meu olhar um novo Norte.

13

Ter sob o meu olhar um novo Norte
Talvez ainda mostre à caminhante
Um dia pelo menos mais constante
Que traga com prazer algum suporte.

Esqueço dos meus erros, teus enganos,
E tudo recomeça bem ou mal,
Amar e desamar, vil ritual
Mudando num instante ritos, planos.

Não pude caminhar contra esta imensa
Força que traduzindo mera dor,
Pudesse cruelmente decompor
Gerando ora mormente a dor intensa

Distante dos meus medos, teus altares
Uma alma segue livre, ganhando ares


14

Uma alma segue livre, ganhando ares
E vaga sem destino em pleno ocaso,
Da sorte quando amarga, me defaso
Ainda me afastando dos Palmares

Que tanto disseminas vida afora,
E quando se mostrando mais inglória
Distante do que outrora quis vitória
Mergulho no vazio e vou embora.

Perceba quão dorida a caminhada
De quem ao se propor não percebia
Imensidão da dor, feito agonia
E nela se presume nova escada.

Na treva que me mundo reproduz
Anteriormente eu via alguma luz.

15

Anteriormente eu via alguma luz
Aonde se percebe totalmente
O inútil caminhar que se pressente
E ao mesmo nada sempre nos conduz.

Descrevo com carinho cada passo
E nele são mesquinhas as falácias
Terrível solidão calando audácias
E tudo o que quiser já desfaço

Não posso me calar perante à dor
Tampouco me entranhar da podridão
No amor que tanto eu quis, a negação
Permite o nada além a se propor.

E quando me mostrara ledo adendo
Austeridade é tudo o que pretendo.

16

Austeridade é tudo o que pretendo
E não mais saberia prosseguir
Sabendo do vazio no porvir
Depois dum caminhar tão estupendo.

Bebendo a solidão não posso mais
Tentar a solução em novas sendas,
E quando as minhas ânsias tu desvendas
Prepara esta armadilha em vendavais.

Mordaça em minha boca, não comporta
A sina de uma tola caminheira,
Que mesmo entre estas pedras já se esgueira
Tentando adivinhar se existe porta.

A furiosa dor explode num senão
E teima sem destino na amplidão.

17



E teima sem destino na amplidão
Quem tanto se pensara mais feliz
A vida se deveras me desdiz
Traçando novo rumo ou direção

Não pode nem sequer trazer com ela
O sonho mais audaz, pois sinto morto
E quando procurara um simples porto
Imensa solidão já se revela.

Vagando como fosse algum cometa,
Depois de tantos anos sem ninguém
Apenas o vazio me contém
E nele uma alma amarga se arremeta

Melhor do que viver a fria cena
Aonde a turbulência se fez plena.

18


Aonde a turbulência se fez plena
Jamais encontrarei a calmaria
O mundo a cada sonho não veria
Sequer uma emoção que me serena

Nefasta tal imagem que conduzo
E nela me espelhando nada vejo,
O quanto se pensara em vil desejo
Configurando agora tanto abuso.

Usar com maestria uma palavra
E dela perceber a qualidade
Enquanto o nada ser ainda invade
Destroça-se em verdade minha lavra

Quem tenta e da ilusão já não deserta
Não poderia ser assim liberta.


19


Não poderia ser assim liberta
Uma alma sonhadora que se deu
Durante a tempestade em pleno breu
Vagando pelo mundo quase incerta.

Servil e sofredora não consegue
Vencer os seus anseios, sofre tanto
E quando se percebe em desencanto
Por mais que uma esperança inda navegue

Alvissareiras luzes, dores tantas,
Mergulhos num vazio dentro em mim,
Pudesse crer na força de um jardim,
Mas como se não restam flores, plantas...

E sigo sem defesa ou direção
Exposta aos temporais, ledo verão.

20


Exposta aos temporais, ledo verão
Não sei se poderia crer na luz,
Que tanto me maltrata e me seduz
Trazendo em si deveras negação.

Poeira se transborda a cada passo,
E não consigo mais outra esperança,
A sorte se transforma enquanto lança
Vazia sensação e me desfaço.

Vencer estas tormentas e seguir
Devendo ter no olhar bem mais sombrio,
Veneno que ora sorvo inda porfio
Traçando tão medonho o meu porvir

E quando a tempestade se faz plena
Nem mesmo a fantasia me serena.



21

Nem mesmo a fantasia me serena
Sabendo quanto traz ansiedade
O medo que este sonho se degrade
Mudando num repente toda a cena

Não deixa alguma chance para aquela
Na qual a poesia ainda entranha,
A vida se tornando muito estranha,
Destino incoerente já se sela

O peso do viver arcando as costas
E nada poderia dar alívio,
Quem teve tanta dor em seu convívio
Deveras retalhada em finas postas

O amor constantemente já deserta
Quem sabe que a verdade é tão incerta.

22


Quem sabe que a verdade é tão incerta
Não pode mais trazer algum momento
Aonde se mostrasse tal tormento
Enquanto a dor aos poucos se desperta.

Tentara a qualquer preço outro caminho,
Vestida de ilusões, pobre menina,
A morte muitas vezes me fascina
E dela com certeza me avizinho

Ao terminar cansada a minha lida,
Deixando-me levar pelo terror
E quando se pensara em novo amor,
Memória na verdade dolorida

Vagando sem destino, ruas, bares
Traçando a fantasia em vãos altares.


23

Traçando a fantasia em vãos altares
Jargões tão corriqueiros não serenam,
Momentos em que as dores cedo acenam,
Destroçam meus jardins e meus pomares.

A bêbada que outrora fora gente,
Agora uma indigente, quase pária,
A sorte muita vezes necessária
A cada amanhecer, sonhos desmente

Não deixa sobrar nada do que fui,
Mesquinhas ilusões são quais quimeras
E quando em tantos medos tu temperas
Castelo que criara aos poucos rui

Ao longe este cenário reproduz
O corpo sendo exposto. Imensa cruz.

24


O corpo sendo exposto. Imensa cruz
Aonde em holocausto já me dei,
O amor ao transgredir assim a lei
Fatalidade imensa reproduz.

O tempo não suporta algum disfarce
Da sorte que deveras me atormenta,
A morte se aproxima violenta
Sem ter sequer momento em que disfarce

Com atos mais audazes soberanos,
Fomenta-se o terror em quem outrora
Vivendo a poesia sem demora
Encontra pela vida desenganos.

Aos poucos a emoção estou perdendo
E nela não percebe dividendo.

25


E nela não percebe dividendo;
Da sorte desregrada e sem juízo,
E quando precisava sem aviso,
O mundo em minhas mãos se desfazendo.

Custava pelo menos ter no olhar
Razão que permitisse um novo sonho,
E quando pouco a pouco decomponho
A vida que pensara navegar.

Bisonhos os desejos mais ardentes,
Tentando alguma luz já não consigo,
Condenando-me então ao desabrigo,
Que tanto quanto eu mesma tu pressentes.

Fantasma do que houvera dentro em mim
Não posso e nem pretendo ser assim.

26


Não posso e nem pretendo ser assim
A leda passageira da ilusão
E quanto os novos dias me trarão
Somente poderei saber no fim.

O corte que jamais se cicatriza,
O medo que se estampa em minha face,
Realidade ainda que me embace
Traduz no meu olhar tempesta e brisa.

Assídua navegante sem destino,
Amante sem carinho perco o sono,
E quando me entregando ao abandono
Percebo amanhecer mais cristalino,

Vagando pelos vários universos
Anseio por caminhos bem diversos


27


Anseio por caminhos bem diversos
Daqueles que esperança preconiza,
E quando a realidade é mais precisa
Ausente dos meus olhos, lassos versos.

Imensa caricata não consigo
Saber do quão possível ser feliz,
E tendo demarcada a cicatriz
E dela tão somente algum perigo,

Rasgando o coração já não se vê
Tampouco quem permita a caminhada,
Depois de tanto tempo ora cansada
Não tendo nem sabendo de um por que.

No sonho, um pensamento tão cativo,
O gosto do passado ainda vivo


28

O gosto do passado ainda vivo
Por mais que isto pareça uma bobagem.
O amor ao desbotar tal paisagem
Mostrara-se soberbo ou mais altivo.

Descrevo com carinho cada passo
Na busca por algum lugar sereno,
E quando solitária me enveneno,
O sonho num segundo já desfaço.

Perfaço este caminho rumo ao nada,
Somando nossas forças, minha e tua,
Uma alma se encontrando outrora nua,
Agora no vazio demonstrada.

O fardo que carrego; ter por Fado
A imensa sonhadora do passado.

29


A imensa sonhadora do passado
Jogando sua sorte sem destino,
Aonde encontrarei este menino,
E o coração em trevas disfarçado.

Pereço quando ausente dos seus braços.
Menina que jamais se fez contente,
Por mais que uma esperança se apresente,
Os dias sempre iguais, doridos, lassos.

Amparo-me na falsa sensação
De segurança torpe que me trazes,
O amor se permitindo em várias fases
Jamais acerta o rumo e a direção.

Acalentando os dias mais terríveis
Dos que tentara crer serem possíveis.

30

Dos que tentara crer serem possíveis
Momentos desairosos são constantes,
E mesmo quando em luzes agigantes
O corte se percebe em tons horríveis

Por que vieste agora após a chuva?
Já não comportaria um novo encanto,
E quanto mais presente em mim o pranto,
Na sensação dorida, uma viúva

Vivendo do passado agora vê
No olhar de um velho amigo, o companheiro,
E quando isto parece verdadeiro,
Procuro tuas sombras, mas cadê?

Ao mesmo tempo é nuvem e luar
Atordoando assim meu paladar.



31

Atordoando assim meu paladar
As noites embaladas no vazio
Amor quanto podia noutro estio
Morrendo num inverno secular.

Aprendo a navegar por mar revolto
E teimo contra pedras sem a praia
Por mais que a realidade ainda traia
Vivendo em liberdade sigo solto.

E tenho vez por outra esta vontade
De ser além do nada que hoje entranho
O ser que mesmo tendo perda ou ganho
Concebe no cantar tranqüilidade

Não creio neste tom apregoado:
O gosto do prazer dita o pecado?

32


O gosto do prazer dita o pecado?
Não posso acreditar em tal mentira,
O amor quando nos sonhos já se atira
Ao sofrimento e a dor está fadado.

Descreves cada dia com ternura,
Mas quando se aproxima nada dás,
Aonde poderia ter a paz
Se mesmo uma alegria não me cura.

Eu quero a liberdade no meu canto
Jamais suportaria alguma algema
Ausência de futuro já se tema,
Porém acostumei-me ao desencanto

Vencer batalhas duras, mesmo incríveis,
E quando se percebem impossíveis.

33


E quando se percebem impossíveis
Os ritos mais comuns do amor mundano,
Percebo a cada passo que eu me engano,
Delírios são deveras implausíveis.

Os dias se repetem, nada faço,
Somente este vazio em minha mente,
E quando me disfarço tolamente
A vida vai perdendo seu espaço.

Pedisse ao caminheiro algum momento
Aonde eu mergulhasse sem defesas,
Já não suportaria correntezas
Tampouco merecia o sofrimento

E a vida em que desejo caminhar,
Vontade de talvez ter e levar.

34

Vontade de talvez ter e levar
A sorte desta forma bem tranqüila,
E quando a realidade me aniquila
Não tendo outro caminho, bebo o mar.

E sei quanto salgada a fantasia
Deveras em medonha garatuja,
Minha alma se sentindo imunda e suja,
Aos poucos sem defesas se esvaia.

E o gesto intempestivo de quem ama,
Mudando a direção de um vendaval
Atravessando o mundo em frágil nau,
Mantendo a qualquer custo acesa a chama.

Só sei que nada tenho e sigo assim,
E o mundo desabando dentro em mim.


35

E o mundo desabando dentro em mim
Transcende à própria sorte e me sonega,
Bebendo todo o vinho desta adega
A morte se aproxima, até que enfim...

O gesto mais audaz de um ser temente
Não pode superar qualquer impasse,
E quando a fantasia me ultrapasse
Jamais cultivaria esta semente.

Jogada pelos cantos sem destino,
Sarjetas são meus lares corriqueiros,
Aonde semeasse se os canteiros
Há tanto destrocei em desatino

Por isso seguem tolos e dispersos
Alheios, sem sentidos, os meus versos.

36

Alheios, sem sentidos, os meus versos.
Falando sobre amor que não percebo,
E quando se conhece qual placebo
Momento entre carinhos tão dispersos,

Eu singro por caminhos mais complexos
Vagando feito em luz parca e sombria,
Não tendo da esperança quem me guia,
Os dias se perdendo sem os nexos

E vendo o terminar da torpe vida
Nos ermos de uma insólita paixão,
O traço que queria, de união,
Há tanto tendo a corda já rompida

Promessa deste encanto vão, cativo:
Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo.

37

Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo
Depois de conhecer as suas manhas
E quando noutro rumo tu te entranhas,
Meu peito não se torna mais altivo,

Espero algum momento mais feliz,
E disso desenhando caricata
Figura que deveras me maltrata
E toda a realidade contradiz.

Assisto aos meus minutos derradeiros
Alheia aos sofrimentos mais banais,
Pudesse desfrutar dos roseirais,
Mas como se não tenho mais canteiros.

E quando esta verdade assim destrato
Percebo muito além do simples fato.

38


Percebo muito além do simples fato
Decerto muitas vezes mais comum,
E quando me encontrando sem nenhum
Caminho, com certeza eu me maltrato.

Amputo as ilusões e morro só,
Vasculhos estas gavetas e nada encontro,
O amor quando se dá em desencontro
Desmoronando a vida, resta em pó.

Escombros do que fomos inda trago,
E deles não refaço um novo mundo,
Somente no vazio me aprofundo,
Observo com temor um velho estrago

E sem ter mais alguém que me suporte
Assim encaminhando para a morte.

39



Assim encaminhando para a morte,
Não via senão dores, tanto espinho,
E um velho coração se faz sozinho,
E dele não percebo mais aporte.

O mundo se destroça claramente
E o beijo que recebo, o de um falsário,
Amar e ter aquém do necessário
Jamais eu pensaria, mesmo ausente

Das ânsias mais comuns da adolescência
E agora quando sei maturidade,
Delírio de menina vem e invade
Domando toda a minha consciência,

Da paz que já perdi neste tormento
Anseio tão somente algum momento.

40

Anseio tão somente algum momento
Aonde decifrar os meus enredos,
E neles coletando velhos medos
Somente o que me resta, um vão lamento.

Ouvisse pelo menos um instante
A voz de quem vivera a dor outrora,
Mas quando a realidade vai embora
Sobrando a fantasia delirante,

Não tendo solução, mergulho e cismo
Vagando sem saber sequer destino,
Ensandecida logo me alucino
Sabendo do final em cataclismo,

Percebo quanto amor é vil e ingrato
E quando não consigo, me retrato...

41


E quando não consigo, me retrato;
Falando dos anseios e das dores,
Deixando no jardim carinhos, flores,
Apenas tão distante algum regato

Aonde poderia esta sedenta
Saciar desejos entre luzes,
Sabendo que ao vazio me conduzes,
Nem mesmo a fantasia me apascenta.

Morresse pelo menos não teria
Terrível decepção que tu causaste,
A vida se condena a tal desgaste
Deixando demarcada esta sombria

Verdade que traduz no fim a morte,
Não tendo quem ainda me conforte...


42



Não tendo quem ainda me conforte
Jamais eu poderia crer no todo,
O amor ao se entranhar em lama e lodo
Transforma totalmente a nossa sorte,

E sigo desairosa pela vida,
Tentando algum momento feito em paz,
E quando a realidade é tão mordaz,
Decerto já me encontro então, perdida.

Qual fora navegante do não ser,
Morrendo a cada tempo mais um pouco,
Deveras sem ninguém eu me treslouco
E sinto se esvaindo o meu prazer

Quem dera um novo e nobre sentimento
Aonde não encontre tal tormento...

Nenhum comentário: