sábado, 13 de março de 2010

962

E deixo para trás qualquer desejo
Após me perceber tão iludida
Aonde se aportasse a minha vida
Com trevas e delírios, já negrejo.

O peso do passado enverga quem
Pensara ser possível liberdade,
Mas quanto mais terror, mais alto brade
O coração daquela sem ninguém.

Na ausência de outro rumo vou em frente,
Lutando contra tudo e contra todos,
Os pés enlameados nestes lodos.
O fim já se aproxima e uma alma sente

Sair desta terrível, podre fossa
Aguardo algum momento aonde possa.

963

Aguardo algum momento aonde possa
Viver com mansidão que desconheço,
O mundo se fazendo em adereço
De vez em quando amarga enquanto adoça.

Vencida, a caminheira não percebe
Ainda a claridade que envolvente
Ao mesmo tempo nega e já desmente,
Tornando mais dorida a velha sebe.

O preço de uma falsa alegoria
Não vale mesmo quando se faz pouco,
No encanto e desencanto me treslouco,
Viver uma alegria? Uma utopia...

Rotina só termina em dor que invade
E quando se percebe a tempestade.

964

E quando se percebe a tempestade
Um tempo mais nublado se anuncia,
A sorte se perdendo em noite fria,
Deixando como herança a dor que brade

Estímulos diversos? Nem um deles,
Amor não poderia me trazer
Sequer a menor sombra de um prazer
Momentos que pensei sobejos, reles.

E o pêndulo traçando o meu destino,
Na inconseqüente luz fascinação,
Mergulho neste abismo feito em vão
E a força necessária não domino,

Usando esta mortalha de um desejo
O mundo bem melhor já não prevejo.

965

O mundo bem melhor já não prevejo
E sinto a derrocada do meu sonho,
Não vejo mais futuro se, medonho,
Caminho onde alheia perco o ensejo.

O risco de quem ama se transforma
Na imensidão da dor que não me larga,
E quando não suporto mais a carga,
A vida pouco a pouco me deforma.

E aonde se pensara em um carinho
Não tendo outra resposta senão essa,
Terrível temporal que recomeça
Deixando o meu destino mais sozinho.

Sobreviver então não há quem possa
Depois de conhecer a dor e a fossa.

966

Depois de conhecer a dor e a fossa
Jamais imaginara alguma luz
E quando ao nada ser amor conduz
Enquanto seduzindo nos destroça.

E o vendaval expondo esta ferida
Rondando a minha casa, a morte expõe
A face desnudada em que compõe
O fim da longa estrada dita vida.

Abandonada e sem sequer sonhar,
O beijo que recebo, traição,
Momento onde me iludo, sendo vão
Não deixa sequer rastro do luar,

E assim quando ao vazio uma alma lança
Aos poucos se perdendo a confiança.

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