1
Quando o rei sol a mando
Dos sonhos mais atrozes
Ditava em duras vozes
Um ermo em vão comando
O dia transformando
Em ritos tão ferozes
Os vagos ritos, fozes
Caminho mais nefando
Ao menos na amizade
De quem tanto queria
Pudesse novo dia
E nele a claridade
Ditando um novo tempo
Sem medo ou contratempo.
2
Buscava pelo espaço
Que há tanto se esvaíra
Nas tramas da mentira
Um mundo aonde traço
O risco a cada passo
E nele já previra
O olhar em que se atira
O canto bem mais lasso.
Resumo em verso e medo
O quanto mais concedo
E tento prosseguir,
Vencendo os meus temores
E sei dos dissabores
Que irei ter no porvir.
3
Ao ver um simples astro
Envolto em tantos vãos
Os dias entre os nãos
Enquanto além me alastro
Cerzindo do alabastro
Os tantos ermos grãos
Meus passos entre irmãos
Já não deixam mais rastro.
Apenas que eu consiga
Vencer a mais antiga
Tormenta onde me entrego,
Seguindo e tendo em frente
O tempo que apascente
Ou mesmo dome este ego.
4
Inerte, semimorta
A imagem que inda trago
Do quanto ainda é vago
O rumo após a porta
E nisto pouco importa
Desdém ou mesmo afago
Se ainda teimo e alago
Uma alma se deporta.
Cansado do abandono
Vestindo o quanto adono
De um sonho e nada além,
O passo titubeia
Na face atroz e alheia
E nada mais contém...
5
Pensou como podia
Quem sabe ter em mente
O quanto se desmente
A noite em tez sombria.
Apenas a agonia
Agora se apresente
Jamais sigo o fremente
Caminho onde teria
Somente a face escusa
De quem deveras cruza
Meus dias mais tristonhos.
E sigo em falsos trilhos
Em passos andarilhos
Decerto em torpes sonhos.
6
De tão simples beleza
A vida se entretém
E mesmo sem alguém
Que possa dar certeza
Procuro com destreza
E sei que tanto aquém
Do manso e claro bem
Vazia a minha mesa.
Tristezas? Alimento
Com fúria e desalento,
Mas tento outra saída,
Quem sabe uma esperança
Aonde o nada alcança
Senão a despedida...
7
Nos seus braços deitou
A noite em primavera
Tentando e quem me dera
Colher o que cevou.
Se ainda me restou
Do todo em dura espera
O olha da triste fera
Que tanto me assolou,
Mergulho insanamente
E quanto mais se ausente
A vida, mais a quero
Portanto sigo alheio
E neste vão rodeio
O amor, mesmo que fero.
8
De tal amor repleto
Durante alguns momentos,
E em tantos sentimentos
Por vezes me completo,
Mas quando em vago afeto
Tantos alheamentos
Ou torpes sofrimentos,
Apenas mero feto.
Realço o quanto posso
E mesmo sendo nosso
O mundo em que me entranho,
Por vezes sigo além
E nada me detém
Tampouco o falso ganho.
9
A lua com seus raios
Entre diversos tons,
A vida traz seus dons
Em tantos vãos desmaios.
E quanto além procuro
Tolo e ansiosamente
O nada se apresente
E dite o quanto escuro.
Resumos que permito
Enquanto até quem sabe
O nada mais me cabe,
E nisto um infinito
Galgando além eu verso
Buscando outro universo.
10
Os sonhos em demanda
Porquanto procurei
Na tola e vasta grei
O coração desanda.
E quando além não anda
Traçando o que neguei
Resumo em dor e sei
Uma alma se debanda.
Restara pouco ou nada
Do quanto fora alçada
Em mera turbulência.
O passo degradante
Porquanto se adiante
Em frágil consistência.
11
Amores sem igual,
Caminhos tão dispersos,
E quando sigo em versos
A lua mais venal.
Resumo e sei banal
Por vezes quando imersos
Em tantos universos,
O mesmo ritual.
Assim percebo e sigo
Buscando algum abrigo
Aonde nada houvera,
Somente o tosco engodo
E nele apenas lodo
Matando a primavera.
12
Iluminando tudo
Sem ter sequer noção
Do vasto ou da amplidão
Aonde em vão me iludo.
O passo diz, contudo
Da tola imprecisão
E nela se verão
Meus dias, mas vou mudo.
Aquém do quanto tece
Em mim esta benesse
E nada se adivinha.
Num ermo caminhar,
Procuro até cansar.
Quem dera fosses minha...
13
Café, bolo de milho e beijo
Assim, simples assim...
Café quentinho,
Bolo de milho fofinho,
Juntinhos,
Coração apertadinho;
Falando com os olhos,
Pedindo com as mãos,
Ouvindo com emoção,
Carinho...Conexão!
REGINA COSTA
Amores como o nosso
Iridescente trama
Aonde a mesma chama
A cada verso endosso.
O mundo e nele posso
Ditar meu rumo; clama
E traz além do drama
A sorte e já me aposso.
O risco de sonhar,
O medo de lutar?
Já pouco isto me importa
Em ti tenho a certeza
De ter com mais beleza
Aberta sempre a porta.
14
Por vezes um enigma
Diverso caminhar
Desvenda além luar
A vida em paradigma
E sei ao decifrá-lo
O quanto estou em ti,
Se tanto eu me perdi
Em vário e tolo embalo
Deveras com certeza
Aceito o que virá
Um novo Xangri-lá
Ou mesmo na torpeza
Apenas ser contigo
Já traz o que persigo.
15
Procuro nosso amor
Porquanto dele vivo
E sei o quanto altivo
Em raro resplendor
Se às vezes sedutor
E nisto eu sou cativo
Enquanto já me crivo
E sigo-o aonde for,
Também sou libertário
E noutro itinerário
Esboço reações
Assim e desta forma,
No quanto se transforma
Diverso do que expões.
16
Buscando nas estrelas
Respostas que não sei,
Pudesse noutra grei
Quem sabe até sabê-las.
Mas quando quis bebê-las
No farto eu me entreguei
Se em vão eu mergulhei
Jamais vou concebê-las
Respostas tão diversas
E logo desconversas
Sonegando a verdade.
Assim mal te percebo
Além também recebo
Dispersa realidade.
17
Amor que te prometo
Ou mesmo poderia
Talvez já noutro dia,
Ou mesmo outro soneto
Enquanto me arremeto
Em noite vã sombria,
Quem sabe viveria
Além num outro gueto?
À sombra do que fora
Uma alma sonhadora
Eu tento e não desdenho
O manto mais sutil
Aonde se cerziu
A vida em vão desenho...
18
Ascende sem ter pressa
E nisto estou distante
Do quanto doravante
A vida me endereça
E assim mal recomeça
O passo e neste instante
A sorte se adiante
E até mesmo tropeça.
Meu sonho decomposto
A ruga no meu rosto
O olhar vagando à toa.
O prazo limitado
Revejo o meu passado
Que ainda vivo ecoa.
19
Amor que não permite
Sequer saber o quanto
Ainda se garanto
Qual mesmo o meu limite
Porquanto eu necessite
Usar o roto manto
E tento enquanto canto
Além do que acredite.
Restauro a velha tela
E a vida se revela
Assaz diversa quando
Meu passo não traduz
Sequer a mera luz
Que em sombras vou notando.
20
Pois saiba que de amar
Já não mais me sacio,
Transbordo o velho rio
E tento transformar
O quanto navegar
Em novo desafio
Gerando o desvario
Até me saciar.
Presumo uma resposta
E nela sinto exposta
Além de uma verdade.
Arisco caminhante
Porquanto me adiante
O fim somente invade.
21
Nos olhos tão distantes
Ausência traduzida
No quanto fora a vida
E nada me garantes
Respostas delirantes
Ou mesmo se duvida
Ainda se há saída
Ou ermos degradantes.
Ressaltos e desvios
Antigos desafios
Agora, ledo engano.
No passo sem proveito
O quanto mesmo aceito
No fundo já me dano.
22
Caminhos que procuro
Já não concebo mais
E sei dos vendavais
No céu amargo e duro
Enquanto me asseguro
E tento novos cais,
Meu erro em desiguais
Delírios; asseguro.
Perceba então agora
Aonde a vida aflora
Desdéns acumulados.
Já não suportaria
Sequer nem mais um dia
Em tantos vãos enfados.
23
Aonde, pelos cantos
Da casa te escondeste?
Já nem sei mesmo deste
Se nele há desencantos.
Os dias ermos, tantos
As sortes; percebeste
E nisto me envolveste
Além de tais espantos
Quebrantos? São diversos
E inúteis os meus versos
Se não mais decifrasse
Errático poeta
A vida se completa
Deveras nesta face.
24
No quarto, nessa sala
A vida sempre igual,
Qual fosse um ritual
Por onde se avassala
Uma alma não se cala.
E sabe bem ou mal
Caminho virtual
A morte à faca ou bala.
Legados de outros dias
Aonde não verias
Nem mesmo o que te assombra.
Do todo já perdido
Não vejo mais sentido
Sequer na mera sombra.
25
O tempo sem amor
A vida sem sentido,
O corte presumido
Meu ermo em tal pudor,
Ainda se não for
Jamais será vivido
O peso dividido
Aonde há dissabor.
Acordos debelados
Meus dias revelados
Reveses costumeiros.
Assim morta a florada
Não resta quase nada
Sequer os meus canteiros.
26
Espero pela noite
Como se fosse a messe
Por onde se obedece
Além do quanto açoite.
Não quero outro caminho
Tampouco merecia
Aquém da fantasia
Não vago mais sozinho.
Escuto a voz de quem
Já sabe e não se cala,
Aporta o quarto e a sala
E nada mais provém
Do rito em abandono
Aonde o sonho é dono.
27
Onde estás; meu amor?
Já não consigo ver
Sequer terei prazer
Senão tal dissabor,
Entendo este rancor
E sei do teu querer,
Mas nada mais conter
Ainda sem se pôr
O sol que um dia veio
E agora vejo alheio
À trama contumaz.
Pudesse pelo menos
Sentir bem mais amenos
Aonde eu quis a paz.
28
Deitada em minha cama
A lua que se dera
Além da vaga espera
E nada mais reclama.
O quanto fora chama
E agora destempera
Gerando em si a fera
E nisto nova trama.
Mereço cada bote
E aonde se denote
A vida em paciência,
Não tendo mais resposta
Além desta proposta
Em clara e torpe essência.
29
Quem dera se deixasse
O mundo ver além
Do duro e vão desdém
Amarga e turva face
E assim a cada impasse
Que a vida sempre tem
Colhendo um novo bem
Por onde quer que passe
Gestando em mansidão
Seguindo a direção
Do quanto poderia
Cevar em claridade
A imensa liberdade
Tramando um raro dia.
30
Da noite em tal ternura
Que tento desvendar
Bem mais do que um olhar
Aonde se assegura
A vida em tal fartura
E nela mergulhar
Vibrando em raro mar
O quanto se procura,
Vestindo esta alegria
E nela enfim teria
A mão mais calejada
De quem se fez audaz
E agora vê na paz
Fortuna em alvorada.
31
As mãos que acariciam
Quem tanto desejou
O mundo onde sonhou
E as luzes propiciam,
Assim, pois mereciam
O todo onde alegou
A vida mergulhou
Bem mais do que queriam
Cenários tão diversos
E deles faço os versos
Que possam clarear
Quem sabe noutro instante
Além deste inconstante
Caminho rumo ao mar.
32
O passo sorrateiro
Na noite mais sombria
Aonde levaria
Senão ao verdadeiro
Anseio aonde inteiro
O verso e a poesia
Galgando a fantasia
E nisto não me esgueiro
Cerzindo em mansas teias
Porquanto me incendeias
E bebo à tua sorte,
No fundo o que me resta
A face mais funesta
E nela um vago aporte.
33
Quem dera se trouxesse
O amor que não presume
A sorte já se esfume
E dita em rara prece
O quanto não se tece
Diverso deste cume
Por onde a vida rume
E negue esta benesse
Assim na vaga luz
Por onde se traduz
Somente a ingratidão,
Restando muito pouco
E nisto me treslouco
Sem paz nem direção.
34
E desse tantos sonhos
Por onde pude outrora
Sentir quanto devora
Em ares mais bisonhos
Os dias enfadonhos
E neles sem ter hora
A sorte não ancora
Em riscos tão medonhos,
Mereço alguma chance?
Quem sabe a vida lance
A dita em nova senda
Porquanto quis um brilho
E o nada agora trilho
Aonde se desvenda...
35
Depois ir te despindo
À luz da imensa lua
Aonde já flutua
Um mar deveras lindo,
O tanto quanto infindo
Além do que cultua
A sorte dura e nua
Num templo onde deslindo
O marco desejado
O dia desolado
E o tanto que eu não quis,
Mergulho no passado
E sinto destroçado
E assim já me desfiz.
36
Amor que não maltrata
É tudo o quão desejo
E nada mais sobejo,
Mas quando a vida ingrata
Transcorre e já desata
O passo e nele vejo
Apenas num lampejo
O quanto se retrata.
A porta não se abrira
E bebo esta mentira
Cevada no vazio,
Quem dera ser somente
Um sonho que apresente
E não tal desvario?
37
Apenas no gemido
Ouvido em noite turva
A sorte já se curva
E doma este sentido,
Meu mundo se resume
No passo em vaga noite
E quando sinto o açoite
E nele a dor em cume,
Restando do apogeu
Apenas caricato
Caminho aonde ingrato
Meu mundo se perdeu.
Vagando sem destino
No nada eu me alucino.
38
As pernas se entrelaçam
Num sonho e nada mais,
Agora atemporais
Delírios teimam, passam
E o quanto pude ver
Do nada onde se visse
A sórdida mesmice
E nela o desprazer
Ditando cada passo
Aquém do quanto eu pude
E tento a plenitude
Aonde me desfaço
Esgarces entre engodos
Traçando em mim tais lodos.
39
Apego-me em ternuras
E tento ainda crer
Depois de esmorecer
Além de tais bravuras
E quanto me amarguras
Ditando o desprazer
Pudesse merecer
Bem mais que tais torturas
Sedento navegante
Mergulho doravante
Nos ermos de minha alma
E quando a noite cai
O tempo já se esvai
E o sonho enfim me acalma
40
Amor que me transmite
Além do meu vazio
Aonde já recrio
A vida sem limite
O todo necessite
A mais que o mero estio
E um tempo mais sombrio
Deveras se permite
No passo rumo ao nada,
A messe destroçada
A solidão domina,
Quem sabe noutra face
Fortuna ainda trace
Ao fim diversa mina.
41
Não quero nem ao menos
Tempestuosamente
O passo que apresente
Em dias não serenos
Os olhos em venenos
A boca beija e mente
O quanto sou demente
E tento em mais amenos
Caminhos pelo vago
O olhar aonde afago
Somente o quanto resta
A vária decepção
Traçando desde então
A face mais funesta.
42
Apenas o que quero
O olhar onde se veja
A vida mais sobeja
O passo mais sincero
Além do quanto espero
A sorte se preveja
Enquanto em vão lateja
O medo duro e fero
Tempero em fantasia
E quando poderia
Vencer os meus anseios
E sigo sem temores
Singrando os dissabores
Além destes receios
43
A mesma face aonde
A vida não trouxera
Senão a vaga espera
E o nada me responde
Pudesse e já se esconde
A fúria onde tempera
O passo desespera
E nega trilho e bonde,
Riscando deste mapa
Qualquer caminho; escapa
Aos olhos mais atentos
A sórdida presença
De quem por vezes pensa
E esvai em torpes ventos.
44
Achincalhando o passo
Em rumo ao mais sutil
Caminho onde se viu
O quanto em mim desfaço,
Ainda mesmo baço
Tentando ser gentil
O mundo já ruiu
E nada mais refaço
Senão esta verdade
E nela a farsa exposta
E apenas sem resposta
O passo desagrade,
Marcando a ferro e fogo,
O que pensara em rogo.
45
A voz se libertando
Não posso mais sentir
O vento do porvir
Nem mesmo um ar mais brando,
O risco desenhando
Vontade de seguir
Sem ter aonde vir
O mar se debelando
Em mim na farsa esgota
A vida já se sem rota
Alheia caminhada,
Ao menos quis no olhar
De quem pudesse achar
Além do etéreo nada.
46
Aspirjo em gotas sonho
E nada mais se traz
Senão cena mordaz
E nela eu recomponho
O passo mais bisonho
Que a vida ora desfaz
E trama, mais tenaz
Um quadro vão, medonho,
Aspectos discordantes
Diapasões ausentes
E nada me apresentes
E nada me garantes,
Apêndice da vida,
A sorte desvalida.
47
Seria muito bom
Acreditar na messe
Que tanto inda comece
Galgando raro dom,
Mas quando noutro tom
A vida enfim se esquece
E aos poucos se esvaece
Em luzes de neon.
Carpindo cada vez
Que o sonho se desfez
Já não comporto mais
Senão a frágil senda
Por onde já se estenda
E o medo; derramais.
48
Ao menos no passado
Eu tive esta impressão
De um tempo em viração,
Porém mero legado
Do quanto em desolado
Delírio da ilusão
Ausente uma emoção
O risco desenhado
No chão por onde piso
A morte sem aviso
Etérea companheira.
Não deixa mais resquício
E agora ao precipício
A vida já se esgueira.
49
Sementes de outras eras
Não deixam que se veja
Colheita mais sobeja
E dela nada esperas
Senão as velhas feras
Na força que troveja
Maldita sempre seja
A sorte onde temperas
Com ácida verdade
O parto sonegado,
Aborto desenhado
No quanto nada agrade,
Apenas o meu canto
E nele mero espanto.
50
Cerzira algum cenário
E nele a peça esboça
Além da mera troça
Um rumo necessário.
O canto de um canário
A sorte, o medo e a roça,
Além do que inda possa
Em passo temerário
Esgoto esta palavra
E nego qualquer lavra
Arados sem valia.
Aprendo com engodos
E sei dos erros, todos
E sirvo-me em sangria.
51
Apalpo paraísos
E vejo estes sinais
De imensos vendavais
Em dias mais concisos,
Herdando os prejuízos
Dos erros ancestrais
Pagando originais
Delírios sem juízos.
Esboço a reação
E tento em louvação
Acreditar na luz.
Falena suicida
O quanto a vida acida
A sorte não traduz.
52
No prazo limitado
Aonde tanto pude
Vencer a juventude
Em ar duro e nublado,
Vicejo do passado
A fonte que me ilude,
E tomo outra atitude
Bebendo o meu enfado,
Resisto o quanto ainda
Deslumbro, mas se finda
No passo em vago e sinto
Restaurações inúteis
Em dias meros, fúteis
Num templo agora extinto.
53
Aprendo com as falhas
E assim não mais consigo
Vencer o vago abrigo
Aonde tu espalhas
As fúrias em batalhas
E causas o perigo
Por onde inda persigo
Além de vãs mortalhas.
Resplandecente sol
Ausente do arrebol
E o medo em face escusa,
O quanto deste encanto
Recato aonde espanto
E o paralelo cruza.
54
Nos vândalos caminhos
Por entre noites vagas
Ainda quando alagas
Os dias mais mesquinhos
E bebo em teus espinhos
Distantes, raras plagas,
Enquanto tudo; dragas
Procuro raros vinhos.
Porém a adega extinta
A morte se pressinta
No herético desenho
E quando noutro rumo
Aos poucos me acostumo,
A dita; em vão, desdenho.
55
Jogado nalgum canto
Da casa aonde um dia
Vivera a poesia
E agora não garanto
Senão o medo e o espanto
E farta hipocrisia
O manto se cobria
Em dores, medo e pranto.
Aprendo com os erros
E sei dos meus desterros
Em terras mais atrozes,
Ao redimir pecados
Os dias resguardados
Sonegam nossas vozes.
56
Ocasos entre quedas
Esboço reações
E sei dos tais verões
Por onde entradas vedas,
E quando além me sedas
Em tolas ilusões,
Resulto do que pões
Em vendas, vãs moedas.
Tacanho passageiro
Num passo corriqueiro
Apenas vejo o fim,
E dele me alimento
Porquanto ainda tento
Florada em tal jardim.
57
Esgarço em verso e prosa
Meu eu tão desgraçado
E sei o quanto errado
Fúria voluptuosa
Cerzindo invés da rosa
Jardim abandonado,
Nos ermos do passado
A estrada pedregosa;
O peso da esperança
Sutil vergando as costas
E logo vão expostas
As marcas das vergastas
Enquanto alguma luz
Meu canto reconduz
Além tu me desgastas.
58
Ocasionando a queda
De quem tentara ver
Num claro amanhecer
O que a verdade veda,
Pagar mesma moeda
E nisto esmorecer
O sonho de um prazer
Aonde o nada enreda,
Cerzindo em dor e pranto
O quadro que garanto
Jamais eu teceria.
Num gole de café
No sonho em leda fé
Assim, meu dia a dia.
59
Fizeste do abandono
A fase mais sensata
E nela se retrata
O corpo em que me adono,
O manto diz do sono
A seca dita a mata
A sorte mais ingrata
Permite o desabono.
Escusas tão somente
E nada se apresente
Nem mesmo alguma trilha
Por onde o caminhar
Pudesse desenhar
Um sol que maravilha.
60
Detalhes tão diversos
Em raras praias vejo
E quando mais sobejo
Deveras vi dispersos
Os ermos de universos
Aonde algum lampejo
Ditasse o que desejo
Na fúria dos meus versos;
Preparo outro momento
E outono que lamento
Agora se invernando,
Depois somente o fim,
E neste nada em mim
Pensara em sonho brando...
61
Na próxima parada
A vida não traria
Nem mesmo a fantasia
Há muito desolada
Quem sabe noutra estada
Ou mesmo novo dia
O quanto em agonia
Gerasse a messe dada
Nos sonhos por quem tanto
Agora além garanto
Não deixa mais sinais,
E esgoto a minha história
Nas ânsias da memória
De tempos ancestrais.
62
Meu verso inutilmente
Percorre as sendas quando
Desvenda o que traçando
A vida já nos mente,
Mergulho no inclemente
Caminho e disfarçando
O passo mais nefando
Porquanto já se ausente
Do olhar qualquer promessa
E o quanto se confessa
Jamais mudasse o carma,
E o peso da esperança
Vergando já me lança
Qual fosse uma tosca arma.
63
Estranhos dissabores
Infaustos corriqueiros
E tendo os meus canteiros
Ausentes, sonhos, flores
E tanto se te fores
Verás os verdadeiros
Caminhos e espinheiros
Ausentes novas cores,
Marcantes ironias
Aonde poderias
Viver alguma luz,
Mas tendo o desengano
E nele se me dano
A morte me traduz.
64
O preço que se paga
Apenas por sonhar
Não vale o caminhar
Em noite amarga e vaga,
O pranto, o corte e a chaga
O ausente mergulhar
A fúria de um luar
Que toda a sorte draga,
Resulta neste imenso
Delírio e me convenço
Somente do meu fim.
O marco além do sonho
E nele nada ponho,
E disto assim de mim.
65
Aprendo com os dias
E neles dessedento
Vontade em que o tormento
Em luzes mais sombrias
Diverso do que havias
Em cruz, fúria e lamento,
O manto solto ao vento
Traduz as noites frias.
Rondando sem destino
Meu ermo determino
Nas tramas mais vorazes
Enquanto alguma messe
Quem sabe a vida tece
E ainda ao longe, trazes;
66
Apaziguar em mim
As guerras inerentes
E quando o fim pressentes
Dizendo de onde vim,
O fardo trama enfim
O quanto são freqüentes
Os dias descontentes
Cenário em não e sim.
Ocasionando a queda
Por onde a dita veda
E nada mais persiste,
O olhar aventureiro
Ausente mensageiro
Agora alheio e triste.
67
Ouvir a minha voz
Em noite já silente
E quando me apresente
Em tom mesmo feroz,
Ao menos entre nós
O amor já descontente
Permite que se ausente
Momento bom após.
O risco se transforma
Em torpe realidade
E a cada vão degrade
A vida em nova forma
Medonha e tão mesquinha
Nos olhos se adivinha.
68
Presumo o fim do caso
E tento ainda crer
No quanto algum prazer
Refaça o duro ocaso,
Assim se o amor aprazo
Deveras posso ver
Além do amanhecer
A sorte em ledo atraso.
Mas nada se aproxima
Do mais sublime clima
Cerzida esta mortalha,
E o fogo que talvez
Moldasse onde se fez
Ao longe já se espalha.
69
Apreciando a tarde
No olhar de um raro sol,
Querendo em arrebol
O amor que não retarde,
Mas nada mais aguarde
Nem mesmo este farol,
E um tolo girassol
Do nada se resguarde,
Abarco em fantasias
As ondas onde vias
Somente um mar tranqüilo,
Se a vida é procelária
A noite vã corsária
Negando o que destilo.
70
Espreito atocaiado
Um dia mais feliz
E nada do que eu quis
Desvendo anunciado,
Vivendo do teu lado,
A sorte nos desdiz
E etéreo chamariz
O amor já destroçado.
Na praça, a passo largo
O rumo agora largo
E nada mais presumo,
Do gozo prometido
A vida sem sentido
Negando o supra-sumo.
71
Alvíssaras a quem
Bebera impunemente
A vida e qual descrente
Vivendo sempre aquém
Do todo quando vem
E nada se apresente
Senão este inclemente
Delírio sem alguém
Que ainda em bem pudesse
Traçar o que se expresse
Em verso e mansidão,
Mas sei do quanto é rude
O canto que me ilude
E dita a ingratidão.
72
Amante do vazio
Esboço uma esperança
Enquanto a voz se lança
E trama o tempo frio,
No quanto me esvazio
E bebo em temperança
Ausente confiança
Restando o duro estio.
Cerzira alguma glória
Aonde a dura história
Transcende ao mais sutil
Caminho desenhado
E agora vão passado
E nele o nada viu.
73
Jorrando em solidão
O olhar de quem buscava
Em meio à fúria e à lava
Alguma solução
Os dias mostrarão
Uma alma tola e escrava
E quando semeava
Ausente sonho e grão,
Restando muito pouco
Do quando um ser tão louco
Pudesse adivinhar;
A morte se apresenta
E nela esta tormenta
Regendo céu e mar.
74
Almejo pelo menos
Um dia mais suave
O peito feito uma ave
Deseja em sonhos plenos
Momentos mais amenos,
Porém a vida agrave
E traz qual fosse nave
Apenas os venenos.
Restituindo assim
Meu ermo chego ao fim
E sinto a vaga espera
Por onde começara
E tento outra seara,
Quiçá em primavera...
75
Disperso caminhante
Em tais cenários vendo
A vida qual remendo
E nada doravante
Que possa ou não espante
O passo onde desvendo
O rito me contendo
E nele este brilhante
Cenário aonde um dia
Quisera em poesia
Falar de amor imenso.
Mas quando a realidade
Deveras nos degrade
No nada eu me compenso.
76
Teclando uma resposta
A quem me quis senil,
E assim quando me viu
A face decomposta,
Não sabe ali exposta
Um mundo outrora vil
E tento ser gentil
E mostro a quem desgosta
Os lanhos que eu carrego
E tanto mar navego
Na busca de algum cais,
As rugas, reconheço
Sabendo este endereço,
São marcas triunfais.
77
No olhar em tal desdém
O fato de saber
Que em ti o desprazer
De me saber contém
Resisto, mas ninguém
Merece tal sofrer,
Mas não irei morrer,
Um novo dia vem,
E mesmo este restolho
Um tétrico ferrolho
Talvez ainda veja
Manhã resplandecente
E nisto sempre atente
Fortuna benfazeja.
78
Perdoe se algum dia
Eu quis o teu carinho,
Deveras vou sozinho
Em noite mais sombria,
A vida me traria
Somente novo espinho,
E quando eu me adivinho
Na face escusa e fria
As rugas no meu rosto,
Numa alma juvenil,
Enquanto o fim se viu
O medo não exposto
Imposto que se paga
No sonho em noite vaga.
79
Carcaça? Eu sei bem.
O desdentado olhar
Do pária a caminhar
Somente então contém
O resto deste alguém
Que tanto quis sonhar
E agora sem lugar
Da morte, um vão refém.
A voz amordaçada
A noite mais nublada
Ausência de manhã;
Mas de que vale a luz
Se ao nada me conduz
O duro e vago afã?
80
Em agradecimento
Ao que tu me disseste,
Eu sei o quanto agreste
Este envelhecimento
Completo alheamento
O coração reveste
A cena em que vieste
Mostrar o austero vento.
Um velho tão somente
Depois de tantos danos,
Ainda em desenganos
Do amor tenta a semente,
Mas nada neste chão,
Nem mesmo um mero grão.
81
Por vezes acredito
Na face mais gentil
Do amor que não se viu
E morre no infinito,
E quando alçando o grito
Jamais ninguém me ouviu,
O meu olhar sutil
Expressa e necessito
Apenas de um afeto,
Mas nada, mero inseto
Trafego em noite escusa,
A mansidão que trago
No fundo é ledo afago
Da vida mais confusa.
82
Durante alguns momentos
Eu mesmo imaginara
Que a vida escancarara
Diversos sentimentos
E neles os alentos
Que tanto procurara,
A sorte imensa e rara
Bebendo mansos ventos.
Porém realidade
Domina este cenário
E o quanto é necessário
Sonhar, já não mais quero.
Eu penso no futuro
E o nada eu asseguro
Em riso tênue e fero.
83
Apreços entre lumes
Diversos, mas tão fracos,
Os dias são opacos
Ausentes teus perfumes
E quando te acostumes
Verás somente os cacos
Resulto dos tabacos
Resumo-me entre estrumes.
E as âncoras perdidas,
O náufrago destino
Um mundo diamantino
Já tanto em falso brilho
Em vidros vãos quebrados
Os pés dilacerados,
Teimoso ainda trilho.
84
Somar o que inda trago
De tantos desvarios
E nestes desafios
O rumo dita o lago,
No quanto um mero bago
Após velhos pavios
Nascentes, podres rios
E ao longe um torpe estrago.
Velhusco e sem proveito
Ainda quando deito
Imaginando estrelas,
Não posso mais contê-las
E sigo sem espaço
Morrendo passo a passo.
85
A par do que pudesse
Ainda ter em mente
Resumo em vã semente
O quanto quis em prece,
A morte já se tece
E nela este demente
Embora tão carente,
Eu sei, nada merece.
O canto em tom maior
Que um dia quis de cor,
Agora num noturno,
Deste alegretto sonho
Piano som componho
No olhar turvo e soturno.
86
Alheia aos meus anseios
Gargalha em ironia,
E sabe o que seria
Em meros devaneios
Embora em fartos veios
Meu mundo fantasia
Gerando esta utopia
Os sonhos vão alheios.
Disseste em precisão
Do fim desta estação
Aonde me apresento,
Enquanto em flórea luz,
Teu passo te conduz,
A mim restando o vento.
87
A ti eu agradeço
A farsa desvendada
A sorte desolada
Encontra este adereço
A vida tem preço
E nele desenhada
A face que enrugada
No espelho eu reconheço.
Um sórdido bufão
Que pensa no verão,
Mas sabe o duro outono,
Da morte à minha frente
O nada se apresente
Restando o eterno sono.
88
Por vezes quis sonhar...
É fato que isto traz
E mesmo satisfaz,
Mas nada a se moldar,
Somente o desenhar
Do olhar torpe e mordaz
De um ser quase incapaz
Ainda de lutar.
Bisonha garatuja
Minha alma aos poucos fuja
Da dura realidade...
Mas quando me alertaste
E pude ver no traste
Atroz, dura verdade.
89
Eu te agradeço tanto
Por que és; decerto franca
A vida se desanca
E nela eu te garanto,
Restando o torpe manto
E nele a vida espanca
Manhã que fora branca
Agora em pleno espanto.
Cenário verdadeiro
De um tolo caminheiro
Errático poeta,
Que ao ver o espelho nega
Com a alma tola e cega
Faceta tão abjeta.
90
Jogado em vago espaço,
Este antro de minha alma,
Conheço toda a palma
E sei do meu cansaço,
A ruga dita o traço
E nada mais acalma,
Também afasto o trauma
Enquanto me desfaço,
Amei e nunca omito.
Meu tempo tão finito
Não poderia ter
Na primavera plena
A sorte mais serena,
E ausenta-se o prazer.
91
Quando me desnudaste
Deveras por inteiro
Eu vi o verdadeiro
Delírio deste traste,
Agora no desgaste
O quanto em derradeiro
Caminho num ribeiro
Aonde renegaste
Qualquer sorte ou promessa,
A vida se endereça
Somente ao tumular
Delírio que me entrave,
Porém minha alma, uma ave
Insólita a voar...
92
Acertando os ponteiros
O tempo pesa e tanto,
No fim eu te garanto
Os dias mensageiros
Dos sonhos altaneiros
E neles sem quebranto,
Mas quando sei me espanto
E bebo os espinheiros.
Menina me perdoa,
Uma alma segue à toa
Em pleno devaneio,
Mas quando a vida eu vejo
Aquém do meu desejo,
Meu mundo perde o veio.
93
Acaso se notares
Verás a desdentada
Figura desdenhada
Em pútridos lugares,
No quanto em velhos bares
Fizera a minha estrada
Agora resta o nada
E dele meus altares,
Mortalha que se tece
E o pranto que obedece
Aos ermos desta escória.
Ao te encontrar eu pude
Sonhar com juventude,
Descuidos da memória...
94
Não mais eu poderia
Saber de novos sonhos
Se os meus são tão medonhos
E negam novo dia.
A porta não se abria
E os tempos enfadonhos
Quiçá mesmo tristonhos
Aumentam tal sangria.
Por vezes a ilusão
Ou falsa adequação
Em tempo/ledo espaço
O corpo que se esgarce
Tentando algum disfarce
Cenário tosco eu traço.
95
Em agradecimento
A tal franqueza tua
Minha alma te cultua
E sabe o provimento
Enquanto me fomento
Da etérea e vaga lua
A vida continua
E nela sigo ao vento,
Relentos de uma história
Marcada em fatos tais
E neles ancestrais
Aspectos da memória
Jazendo aonde um dia
Amor fosse utopia.
96
O tempo em crueldade
Não deixa mais se crer
No quanto possa ter
Quem tendo certa idade
Merece a realidade
E nela se embeber
Desdita até morrer
No quanto se degrade.
Carcaça tão somente,
Porém por ser poeta,
A vida não completa
E tenta outra semente,
Mas quando se desmente
O fim dirige a seta.
97
Não serei teu amigo,
Decerto já não posso,
Somente este destroço
Um ser tão vago e antigo
Que tenta e não consigo
No fel aonde adoço
A boca em desabrigo
Resulta no que digo,
O mundo jamais nosso.
Reduze-me ao vazio
E quando o desafio
A queda é bem maior,
O sonho eu não repito
Se o tempo é tão finito
O meu é bem menor.
98
Retrato em decadência
Da vida que em apogeu
Pensara ser só meu
Um mundo em sua essência
Não quero esta clemência
Se tudo já perdeu
Meu mundo conheceu
Agora a inexistência
Tentara último sonho,
E quando o decomponho,
Não resta quase nada,
A farsa se desfaz
E a morte traz a paz
Já tanto desejada.
99
Percebo o quanto valho
Velhusco e caricato,
Olhando o meu retrato
O olhar deveras falho,
Ainda em vão batalho,
Porém logo desato,
E nada mais resgato
Senão meu corte em talho.
Retalhos do que um dia
Pensara em harmonia
No amor em redenção,
Frangalhos tão somente
E a face que apresente
Total degradação.
100
Esboços de uma vida
Há tanto sem valia,
A morte poderia
Em face decidida
Reger a mais perdida
E tosca confraria,
E sem tanta ironia,
A carne apodrecida,
O olhar mais cabisbaixo
Enquanto assim me abaixo
E vejo a pequenez
De uma alma sem descanso,
Ao fim enquanto avanço,
A plenitude vês.
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