sábado, 29 de maio de 2010

34551 até 34600

34551

Posso traduzir
Teu corpo no meu
Enquanto prendeu
O todo sentir
E assim pressentir
O mundo sem breu
O quanto cedeu
Ao raro elixir
Caminho em rumo
Ao quanto consumo
E bebo e me farto,
Singrando teu porto,
Meu mundo em conforto
Contigo em meu quarto.


34552

Quem sabe entender
Detalhes do quanto
Amor quero tanto
E nele o prazer
Do todo conter
Além deste encanto
Sem medo, portanto
Apenas colher
O fruto divino
Aonde fascino
E teimo e caminho,
Resumo num verso
O quanto ora imerso
Em ti se me aninho.

34553

Minha alma na tua
Num complexo enredo
Enquanto concedo
Bebendo da lua
Sorvendo esta nua
Presença em segredo,
Ausente do medo,
Assim já cultua
A deusa esta diva
Dos sonhos me criva
E trama futuro,
Em ti se me entranho
O quanto do ganho
Ao fim asseguro.

34554

As ondas provocam
O toque macio
E quando recrio
Meus dias invocam
Momentos sutis
E neles eu bebo
O quanto recebo
Além do que quis
Vencido em degredo
O medo e o tormento
Assim me alimento
Enquanto concedo,
Riscando o infinito
No amor me reflito.

34555

Teus olhos, meu mar
E neles mergulho
O quanto em marulho
Pudesse chegar
E enfim aportar
Assim me vasculho
E bebo em orgulho
Diverso luar,
Resisto ao que trama
A dor duro drama
O medo distante
E quando te vejo
Além do desejo
Real diamante...

34556

Invado esta areia
Qual mar em ressaca
A fome se aplaca
Enquanto incendeia
A sorte que anseia
Sem fúria e sem faca
Na ponta da estaca
No corte, na veia
O beijo o carinho
Ausência de espinho
Ditando tal flor
E assim nesta soma
Sentindo este aroma
Recendendo amor.

34557


Além no horizonte
Utópica luz
Que tanto conduz
Enquanto desponte
Ali já se aponte
Amor reproduz
Cenário seduz
E tanto diz fonte
Gerando outra cena
Aonde serena
Uma alma voraz
Vibrando e vivendo
O quanto sabendo
Do amor feito em paz.

34558

Real fortaleza
Aonde me entranho
Na sorte, no ganho
Deveras sou presa
E servido à mesa
Do quanto me estranho
Ou mesmo me assanho
Em tanta beleza,
Ressalvas à parte
A vida destarte
É feita de luz,
Amar e sentir
O quanto bramir
Ao tanto conduz.

34559


Gritando teu nome
Galgando infinitos
E assim nestes gritos
O mundo se some
Ao quanto consome
Diversos os ritos
E sem mais os mitos
A vida retome
Caminho sincero
Se é tanto o que quero
Bem mais que promessa
Meu passo se guia
Além cercania
E a vida começa.

34560

Tocando utopias
Diversas em sonho
No quanto componho
No quanto fugias
Assim alegrias
Em farto e risonho
Caminho reponho
Vitais harmonias,
Bebendo da sorte
Que tanto conforte
E trace outra senda
Mudando o cenário
Antes temerário
Beleza desvenda...

34561

A vida necessária e tão sentida
Ansiosamente bebo cada gole
Do tempo que deveras já me engole
E nega a persistência desta vida,
O quanto se pudesse sem saída
Ou mesmo no vazio que me esfole
O tempo se perdendo já se assole
E trame sem sentido, a sorte urdida
Nas ânsias mais vorazes de algum ser
Que possa novamente enternecer
O todo desvendado sem promessas
E quando mergulhando dentro em mim
Encontro abismo imenso e sei sem fim,
Ao passo em que dispersa tu tropeças.

34562

Os tantos perigosos descaminhos
Negados pela essência da esperança
No quanto do vazio já se alcança
Rendidos pelos medos, vãos espinhos
Seguindo cada passo bebo os vinhos
E deles tento crer na temperança
Ainda que se veja sem mudança
Os dias entre farpas são sozinhos.
Descrevo com ternura ou mesmo corte
Prenunciando assim a minha morte
Após a velha curva em capotagem,
Não tendo outra saída nem a quero,
E sei deste momento amargo e fero
Aonde se prepara outra viagem.

34563


Abismos que se vê no imenso mar
Gerado pela angústia do não ser
Pudesse novamente conceber
O quanto já não posso decorar
Do passo rumo ao tanto mergulhar
E neste emaranhado tento ver
Alguma luz que entranhe amanhecer
Distante do terrível caminhar
Nas vagas entre fartas heresias
E nelas outras tantas que recrias
Bebendo gota a gota até que possa
Vibrar em sintonias mais amargas
E quando tão distante tu me largas
Imensa solidão, sobeja fossa.

34564

As velhas turbulências dentro da alma
Aonde nada mais possa trazer
Sossego e quanto mais busco o querer
Apenas o vazio inda me acalma,
Resido no passado e bebo o trauma
Deixando para além qualquer lazer
A vida se desnuda e posso ver
Somente este vazio aonde espalma
O vento entre diversas sintonias
E sei das variantes onde guias
O passo rumo ao farto suicida,
Bebendo desta louca insensatez
Ainda quando ausente não me vês
A história já se mostra decidida...


34565

Dispersos pensamentos vida e morte
No quanto pude crer e não vestira
A sorte noutro tanto esgarça a mira
Sem ter alguma luz que inda suporte
O rumo se esvazia bebo o corte
Sangria mais diversa preferira
No quanto ainda posso ou interfira
Girando contra o tempo, nada aporte
O manto segregado da verdade
E nele todo o rumo se degrade
E mostre a solidão de quem procura
Vencer em solilóquio a imensidão
Do tempo feito em plena negação,
Traçado pelas ânsias da loucura.

34566

Ainda libertário pensamento
Singrando mares tantos e nefastos
Os dias entre dias sendo gastos
Na busca do que seja algum provento
E quando do vazio me alimento
Os olhos são deveras tolos, castos,
Gerando com terror outros emplastos
E neles a verdade diz tormento,
Não quero lenitivos, nua e crua
A vida não permite mais a lua
E sei do quanto posso ainda esparso
E tento caminhar entre penhascos,
E os dias são apenas meros cascos
Do quanto me aprofundo e não disfarço.

34567


Alago-me dos sonhos mais ferozes
E tento algum proveito disto tudo,
Mas quando noutra face me transmudo
Ouvindo do passado ledas vozes,
Os cantos mais sublimes dos algozes
E neles com certeza já me iludo,
Rescindo cada sonho e se miúdo
O passo trama noites mais atrozes,
Resisto o quanto posso e nada vejo
Senão o caminhar deste desejo
Perdido nas entranhas do que teimo,
E como fosse um mar em solidão,
Bebendo desta imensa negação
Nas tramas deste inferno ora me queimo.

34568


As ondas entre trevas noites mares
E sei dos meus anseios mais doridos,
Caminhos entre pedras pressentidos
E nele com terrores alagares
De sonhos e de sombras mais vulgares
Os passos entre tantos já perdidos
Correndo contra o tempo, divididos
Os rumos pelos quais ao me tocares
Verás algum sinal de morte quando
O peso sobre tudo derramando
Metálicos destroços do que fora
Apenas um mergulho neste nada
A sorte diz do quanto destroçada
Esta alma antes feliz e sonhadora.

34569

Por sobre pedras frágeis águas tentam
Vencer as velhas rocas, força intensa
Na luta mais diversa a recompensa
Gerada pelas dores que atormentam
E bebem do passado desalentam
E quando a minha sina se convença
Da morte como fosse sorte imensa
Nem mesmo nos penhascos arrebentam
As ondas mais ferozes e percebo
O quanto desta cena já me embebo
E sei do meu futuro em mil pedaços,
Da areia tão distante nada sinto,
Amor há tantos anos segue extinto
E dele nem sequer percebo os traços.

34570

Aonde quis Netuno o seu império
As sortes desairosas ditam ondas
E nelas com terrores já te escondas
Singrando caminhares em minério
Assim ao se mostrar cada mistério
Gerado pelo quanto ainda rondas
Do todo que pensaras e não sondas,
Deixando para trás qualquer critério.
Opacas tardes noites entre brumas,
E assim também deveras já te esfumas
Vagando por espaços mais distantes,
As cenas que se vêm dizem nada
Aonde se quisera uma alvorada
Apenas velhos ermos degradantes.


31571

De praia a praia bebo esta amplidão
E sinto a força imensa do oceano
E quando nesta imensidão me dano
Perdendo rumo, prumo e direção
Sabendo desta tosca embarcação
Na qual e pela qual refiz meu plano
A cada novo tempo um desengano
Vivendo as tempestades de verão,
Meus olhos não verão sequer um cais
E exposto aos mais diversos vendavais
Eu tento procurando algum alento
Depois de vários dias nada tendo
Apenas este mar grande e estupendo,
Entregue ao furioso e torpe vento.

34572

O quanto se humilhando em corte e medo
Das sendas mais terríveis tempestades
No quanto a cada ausência me degrades
Procuro renovar em tolo enredo
E quando nas entranhas me concedo
Nefastas noites vagas ansiedades
E tanto poderiam mortandades
De sonhos entre pedras, sigo ledo,
E arisco caminhando entre penhascos
A cada novo tempo outros fiascos
E resolutamente invado o porto
Corsário busco em saques minha paz
Apenas o vazio já se faz
No encanto que percebo há tanto morto.

34573

De tanto procurar inúteis lutas
E crer na morte em forma de vingança
Aonde não mais tendo uma esperança
As forças que percebo mais astutas
Adentro o pesadelo em tantas grutas
A morte pouco a pouco assim me alcança
A sorte se negando em aliança
As ondas são deveras fortes, brutas,
E quando me perguntas se inda sonho
Aos poucos novamente mais medonho
Sorriso em furioso temporal
Arrisco cada falso mergulhar
Nas pedras e nas ânsias a vagar
Sabendo desde já terror final.


34574

Assim minha existência segue alheia
Ao quanto pude crer em calmaria,
Aonde se transcorre em ventania
A vida noutra face me incendeia,
Galgando o temporal, buscando a cheia
E clara tempestade uma agonia
Matando o que tampouco restaria
Da sorte quando a mesma devaneia,
Resisto o mais que posso e não percebo
Do quanto a cada gole o podre bebo
Vestindo esta mortalha que me resta,
A noite sem a lua, em tais neblinas
E quando mal percebes me dominas
A sorte molda a vida atroz, funesta.

34575

Demônios desnudados num festim
Aonde em pesadelos vejo a morte
Bebendo insaciável cada corte
Esvai-se pouco a pouco o que há em mim,
E chego intempestivo e amargo fim,
Sem ter sequer a luz que me conforte
Singrando com terror nego o suporte
A queda se aproxima e sei enfim
Do podre amanhecer em turva senda
E nada do que quero ainda atenda
Ao gozo onde pudera saciar,
E exposto neste charco em lodo e lama,
Enquanto esta mortalha me reclama,
Eu gozo cada instante sem parar

34576


Brindando cada noite outro motim
O sanguinário gozo do vazio
E quando ainda insano desafio
Acendo do infinito este estopim,
A morte como fosse algum festim
O tempo noutro tempo já desvio
E tomo deste imenso desvario
Singrando o que restara ainda em mim
De humano numa face demoníaca
A sorte se mostrara enfim maníaca
E bebo até fartar esta loucura,
Servido-me em bandejas, meus destroços
Restando tão somente poucos ossos,
Orgástico delírio enfim me cura.

34577

Dos gozos em banquetes e heresias
Resíduos pela casa, ratos, restos,
E os dias entre imensos, torpes gestos
As portas com ternura trancafias,
E bebes das sobejas, vãs sangrias
Aonde poderiam ser funestos,
Incêndios e prazeres, mil incestos
Abortos de esperanças mais vadias,
Encontro-me desnudo neste inferno
E quanto mais ao fundo ali me interno
Maiores os prazeres, mil orgasmos,
E quando prenuncia-se a partida
A morte feita em gozo trama a vida
Deixando os meus olhares ledos, pasmos.

34578

Do nervo à flor da pele à calma senda
Resisto a cada golpe, foice e adaga,
A morte pouco a pouco já me afaga
Desejo mais atroz que se desvenda,
E assim a cada dia mais atenda
O quanto se produz em riso e chaga,
Vagando sem destino plaga em plaga
Até que a realidade enfim entenda,
Bebendo cada gota deste sangue
Exposto em lamaçal, procuro o mangue
E rendo-me à Satã, Deus soberano...
E tento sem saída outro tormento,
E quanto mais assim eu me alimento
Eu sei que com certeza mais me dano.

34579

Servindo de deleite em tal repasto
Sarcásticos demônios me rondando,
Um ar tempestuoso e tão infando,
A cada novo dia já me afasto
Do sonho que pensara e me desgasto
O tempo dos meus olhos se riscando
E o passo para o sempre reformando
Caminho de esperança há tanto gasto.
Imenso este banquete que é servido
E cada nova festa resolvido
O fato de sonhar e não poder,
Durante a podre vida, um ser infame
Agora neste inferno que me inflame
Derramo-me nas fúrias do prazer...

34580


Chegando às cordilheiras, cada cume
Mostrando outra paisagem bem diversa,
E quando uma alma morta ali dispersa
Já sabe e com certeza se acostume
Ao podre amanhecer onde se esfume,
E nesta solidão crua e perversa
Meu mundo no vazio enfim se versa
E bebe do terror cada perfume,
Resumo-me no nada e gosto disto,
Assim ao me encontrar tentando insisto
E deixo qualquer vale para trás,
O quanto poderia ser terrível
Agora se mostrando em força incrível
Trazendo finalmente alguma paz...


34581

Qual fora um peregrino em noite escura
Vagando sem a lua que me guia
Ausente dos meus olhos fantasia
Imensa solidão já me emoldura,
O tempo que pensara com ternura
Aos poucos se afastando em noite fria
A vida continua e desafia
Enquanto a realidade me tortura.
Vestindo esta ilusão por tantos anos,
Agora no final, perdas e danos,
Somente vasculhando cada resto
Daquilo que pensara ser maior,
O mundo desdenhoso sei de cor,
Eu sei que na verdade enfim, não presto.

34582


Vencido pelas ondas deste imenso
E gigantesco mar aonde um dia
Pensara ter apenas a alegria,
E o tempo se tornara escuro e denso,
Nas sendas do passado quando penso
Apenas mera sombra inda se erguia
Galgando sem pensar a poesia
O mundo noutro tanto, eu me convenço.
Aborto da esperança e nada mais,
Dispersas emoções em vendavais
E tudo se perdendo já sem rota,
Sedentas ilusões, tolo caminho,
Agora persistindo mais sozinho,
O tempo pouco a pouco, assim se esgota.

34583

Um coração exposto ao farto risco
Buscando lenitivo na esperança
E quando ao mar imenso o sonho lança
Apenas vejo o sonho mais arisco,
Tentara ser feliz, raro petisco,
O medo com ternura em aliança
Produz a tempestade por vingança
Gerando da alegria este confisco,
Respondo tão somente e nada falo,
O tempo se mostrando assim de estalo
Sombrio e mais nefasto, nega a sorte,
Restando a quem pensara ser feliz,
Distante do que tanto busco e quis,
Adentro outras veredas, as da morte...

34584


Caminho entre as tormentas
Febrilmente bebo do vazio
E quando cada passo eu desafio
E nele com terror tu te apresentas
Ao mesmo tempo quando violentas
A sorte transformando em duro estio
O quanto imaginara algum rocio,
As horas se arrastando, frias, lentas...
Buscando alguma paz onde não há
Sequer eu poderia aqui ou lá
Vencer o que carrego dentro em mim,
E assim como um corsário da esperança
O amor sem ter juízo já se lança
Destroça esta estrutura qual cupim.


34585

Delírio tão frenético, este sonho
Aonde mergulhara há tantos dias,
E vendo as mais terríveis sinfonias
Num ar tão dolorido e até medonho,
No quanto novo tempo inda proponho
E assim por outro lado não me guias
Matando o que restara em cenas frias
Frisando a cada engano o ser tristonho
Que arrasta-se soturno pelas praias,
Além do que pudesse enfim espraias
E foges dos meus olhos no horizonte
A velha solidão se aproximando,
O tempo novamente vai mudando
Sem ter sol nem luar que inda desponte...


34586

O sangue se esvaindo pelas mãos,
O tempo revelando a negação
Do quanto poderia e sei que não
Vivendo velhos dias, sempre vãos,
Revelo a cada dia falsos grãos
E tento desvendar a solução
Do amor que se mostrara em sedução
Apenas outros dias, velhos chãos.
Mesquinhos passos tento rumo ao nada,
E assim ao ver ausente alguma estrada
Perdido nos meus ermos sinto o fim
Tomando cada espaço que me resta,
E quando a realidade nega a festa
Acende da mortalha um estopim...

34587


Prazeres que bem sei decerto rudes
E neles o meu dia se entornara
A noite nunca mais seria clara
Porquanto ainda tentes, mesmo mudes,
Não tendo nos meus olhos atitudes
Nem mesmo esta emoção que desampara
A vida para a morte se prepara
Há tanto não conheço mais açudes
E a seca dominando este cenário,
Amor como se fosse um vil corsário
Saqueia o que inda sobra e leva a sorte,
A dita se mostrando mais nefasta
Meu passo da esperança ora se afasta
Restando a solução fria da morte.


34588

Aonde poderia ver a glória
Depois de tantos anos, quieto e mudo,
No quanto ainda tento e me transmudo
A sorte não percebe, sigo escória,
E nada do que trago na memória
Ainda poderia em paz, contudo
O resto se mostrando e quando ajudo
Ausente dos meus braços a vitória.
Afasto-me do cais, busco o naufrágio,
A vida cobra caro e com seu ágio
Desfaz qualquer promessa do passado,
O passo que acredito e não consigo
Buscando sem sucesso algum abrigo,
O barco da esperança abalroado...

34589

A lua se anelando nos meus dias
Pensara alguma chance e nada veio,
Aonde poderia sem receio,
Apenas vejo medos e heresias,
No quanto ainda sonhas e porfias,
A vida se mostrando em devaneio
Procuro pelo menos algum meio
De ter neste horizonte novos dias,
Mas nada se transforma em minha vida,
Revivendo esta eterna despedida
Não tendo qualquer porto e sem coragem
Difícil prosseguir contra a procela,
O quanto do vazio se revela
Transforma em impossível a ancoragem.

34590

Ao longe desmaiando a plena lua,
O cerne dos problemas traz o vento,
E quando busco enfim algum alento
A sorte noutra face continua,
O amor quando demais já se cultua
E nada serviria e me atormento,
Por vezes um país, um cais invento
Verdade se aproxima e a vejo nua.
Restando muito pouco do que fui,
O todo que inda resta aos poucos rui
Não deixa mais escombro nem destroço,
E assim neste vazio já me esfumo,
O quanto poderia, mas sem rumo,
Deveras com certeza nada posso...

34591

De todos os mistérios da existência
Pudesse discernir para onde vou
E sei que na verdade nada sou
Senão da própria vida uma excrescência
E sendo mesmo a lida esta inclemência
Ditame do que tanto procurou
Quem sabe o descaminho onde restou
Não seja por si só tal penitência?
A morte se refaz a cada vida
E sei ser na verdade uma saída
Que assim perpetuando o já passado
Transfere para além adia o sonho
E quando noutro ser eu me reponho,
Não trago nem a sombra por legado.


34592

O quanto a consciência não revela
Da vida feita após a própria morte
Ou mesmo qualquer luz onde conforte
O barco aberta agora a sua vela,
E tanto se refaz em nova tela
O quanto na verdade sei mais forte,
E bebo do passado e tramo o corte
No qual o persistir enfim se atrela.
De tal fragilidade sou composto
E quando vejo assim no espelho o rosto
Das rugas e das marcas, tatuado
Eu sorvo gota a gota o que inda resta
Tentando adivinhar a menor fresta
Que possa traduzir um novo fado.

34593

Pudesse noutro ser continuar
Sem ter tanto pavor neste horizonte
E quando bebo assim a podre fonte
Que impede talvez mesmo de sonhar,
A fé já se ausentando, e sem tocar
Sequer a menor luz onde se aponte
O norte mesmo quando se confronte
Com todo o meu antigo caminhar,
Eu tento a redenção em nova senda,
Sem ter ao menos quem ainda estenda
Alguma vã promessa ou mesmo sonho,
E sinto se esvaindo dia a dia
O quanto deste todo poderia
Ao menos ser suave e hoje é medonho.

34594

Quisera perceber por que nasci
Se em tanto padecer percorro a vida,
A morte a cada passo pressentida
Tramando uma esperança desde aqui,
E sinto que decerto eu me perdi
Nos antros da emoção tão mal vivida
E quando a minha sorte o tempo olvida
Os laços se rompendo, qual previ.
E sei ao menos disto: nada sou.
E quando na verdade não restou
Sequer destroços mesmos do que eu fora
A pedra lapidada pelo sonho
Agora num cenário mais bisonho
A boca deste verme comemora...


34595

Pudesse tanto ser e não sentir
Imenso e tão cruel padecimento
Por vezes outro ser ainda invento
E sei que na verdade sem porvir
O quanto do passado pode vir
Tramando com horror amargo vento,
E sei do que se vê neste tormento
Sem nada nem tampouco repartir,
O passo rumo ao vão, resumo agora,
E a vida se perdendo sem demora
O corte na garganta cala a voz,
E o tanto que pudera acreditar
Na eternidade feita e num vagar
Entregue à solidão dura e feroz.

34596

Do nada em que surgira, imenso caos
Retorno ao mesmo nada, sem promessa
Do quanto a própria vida recomeça
Ou perco para sempre tais degraus,
Os dias entre tantos sem as naus
A sorte noutro vago se tropeça
E quando nada mesmo da remessa
Refaz os dias velhos, turvos, maus.
Eu sinto que meu fim já se aproxima
E quando ausente vejo um novo clima
Apenas gelidez da qual eu vim,
De inverno para inverno, um curto tempo
E nele tão imenso contratempo
Negando esta esperança viva em mim.

34597

A vida se minguando, falsa lua
Aonde não verás o renascer,
Assim no dia a dia a percorrer
O quanto do vazio se cultua,
E beijo a imensidão sublime e nua
Pensando neste instante num prazer
Eternizado ali, crendo poder
Viver além do quanto alma flutua,
Vencido pelo tempo, agora inverno
E bebo deste duro e amargo inferno
Gerado pelas ânsias, nada veio.
Apenas o terror toma o cenário
Eu sei quanto sofrer é necessário
E sigo dos meus sonhos, mais alheio...

34598

A vida este prodígio sem sentido,
Restando como fosse algum alento,
E nela se procura algum provento
Às vezes derramado na libido,
Mas quando nada mais é pressentido
Senão todo voraz pressentimento
Do mundo mais atroz entregue ao vento,
Além do que pudera permitido,
Restando do que fora um sonhador
Apenas a promessa e a farta dor,
No corpo decomposto por rapinas,
A sorte desdenhando o novo dia,
Traçada com terror ou ironia
Secando estas nascentes, frágeis minas.


34599

Já não consigo crer na liberdade
Após ser algemado pela sorte
Funesta que deveras me comporte
E a cada novo tempo mais invade,
Restando tão somente a tempestade
E nela se adivinha a doce morte,
Pudesse acreditar onde se aporte
Ainda renascendo e mesmo brade
Gestando outro momento mais sublime,
Vivendo cada gozo que se estime,
Porém tanto lastime esta existência
Sem nexo totalmente desvairada,
Do nada de onde vim ao mesmo nada
Eternizando assim esta impotência.

34600

Porquanto uma alma busca algum espaço
Durante o curto tempo em que se vive,
Aonde no passado não estive
Deveras o futuro já não traço,
Resumo o meu momento e me desfaço
Enquanto dentro em mim só sobrevive
O quanto do viver o tempo prive
Gerando tão somente este cansaço,
Resumo minha história no vazio
E sei que deste nada inda desfio
O tempo mais atroz vida após vida?
Não tendo mais um porto de chegada
A vida sem saber de quase nada
Traria um novo cais, nova partida?

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