34101
Um gole de café o sol nascendo
A vida se refaz e permanece
Enquanto em outra face já se esquece
E um pouco a cada dia se perdendo,
Os elos do passado vão mantendo
A teia que este tempo aos poucos tece
Cabelo como uma alma se embranquece
Este tempo avançando e me envolvendo
Teares de emoções mesmo tecido
O dia que ficou segue em olvido
E o novo como um sol refeito brilha,
Assim até que o fim se aproximando
A tela do viver se completando
Magnífica e fugaz, diversa trilha...
34102
Perdendo algum instante com o sonho
Por vezes na batalha engrandecera
O passo que por vezes se perdera
Em meio ao descaminho mais bisonho,
O tempo diz pavio e diz da cera
E neste reviver duro ou risonho,
O quanto se percebe e não componho
Traduz cada momento que eu vivera,
Assisto ao espetáculo da vida
E vejo vez em quando uma saída
Aonde se pensara em labirinto,
E quando mergulhando dentro em mim
Começo prenuncia o mesmo fim
E o todo noutro instante vejo extinto.
34103
Pelejo contra a sorte desdenhosa
E sigo coletando riso e dor
Materiais dos quais busco compor
A vida em tom diverso e caprichosa
A mão que ceva espinho e colhe a rosa
Dicotomias vejo até na flor
E sendo temerário e sedutor
O mundo noutra face majestosa,
Resume cada fato em variantes
O que se agora faz noutros instantes
Completamente inútil poderia
E enquanto o tempo roda, gira eu sigo
O todo que inda busco e até consigo
No renovar constante dia a dia...
34104
O medo de sentir a punhalada
Expõe a cada instante outro cenário
E sei o quanto fora imaginário
Restando deste todo o quase nada,
O vento em calmaria ou em lufada
O gesto muitas vezes solidário
O passo que se perde solitário
E o quanto se fugindo desta alçada,
Não tendo mais remédio e lenitivo
Apenas lasso corpo sobrevivo
E tento vislumbrar alguma luz
Após a noite fria e tão brumosa
Manhã se soerguendo majestosa
A vida noutra face se produz.
34105
O mel das esperanças primavera
Há tanto se perdera dos meus dias,
Restando em companhia as poesias
Aonde a morte dita a longa espera,
A sorte muitas vezes degenera
E o quanto prometias e não vias
Cenários entre trevas e ardentias
Propício ao renascer desta quimera
Que atocaiada espreita o fim da tarde
Mortalha por enquanto inda se guarde,
Mas sei que em pouco tempo me trará
Na lápide epitáfios ou vazios
E assim imerso em rumos mais sombrios
A doce eternidade se fará.
34106
A vida insiste à toa enquanto toa
Ao longe melodias que me falem
Dos dias que deveras não se calem
Enquanto a voz de uma esperança não ecoa
E o tempo mansamente enfim se escoa
Nas alas e nos sonhos que resvalem
Nos passos onde os dias nada valem
Tocando a minha sorte numa boa
A morte que entranhara cada dia
Vestida de terror teima heresia
E beija a ingrata face da verdade
Brotando deste solo em aridez
A flor de uma esperança se desfez
E apenas solidão ainda invade.
34107
Vadias noites bares temporadas
E as ânsias entre risos e perdões
A vida entre diversas dimensões
E quando se perguntam mesmos nadas
As ânsias entre as ânsias demonstradas
Ganâncias quando em frondes tu me expões
Restando-me somente os violões
E neles outras tantas madrugadas
Riscando os meus caminhos as ousadas
Noturnas emoções entregue ao quanto
Pudesse novamente em vago encanto
Tramar outros desejos, rotas rumos,
E quando me entregara sem defesa
Ao menos não consigo ser a presa
Expondo as ilusões dispersos fumos...
34108
Minha vida acesa
Nas tramas e ventos
Sutis sofrimentos
A sorte em leveza
Negando e surpresa
Os cortes e alentos
Os dias proventos
De tanta beleza
Aonde enfadonho
Adentro e até sonho
Riscando do mapa
Aporto ao não ser
Enquanto em prazer
A vida me escapa.
34109
Quem tanto acendera
O mundo sem ritos
E os dias finitos
Ao menos vencera
A fonte perdera
Ou cantos e gritos
As sombras e ritos
O corte a quimera
O jeito se esgueira
Nascente e ribeira
No olhar onde o canto
Pudesse ser mais
Que alguns vãos cristais
Expondo o recanto.
34110
Beleza que entranha
A força do nada
E sinto a alvorada
No quanto esta sanha
Pudesse já ganha
Tramar outra estada
Riscando a alvejada
Partida onde estranha
O passo rumando
Ao dia mais brando
E abrando meu verso,
No parto ou no aborto
Encontro meu porto
Em rito diverso.
34111
O chão sendo meu
O resto eu me viro
E quando prefiro
O quanto perdeu
Assanha-se em breu
O beijo outro tiro
Momento desfiro
O tanto rendeu
Redimo o que fora
A porta se escora
Na fonte ou no caos
E teimo em promessa
Aonde tropeça
Nos tantos degraus.
34112
Meu mundo deserto
E quando em afeto
Riscara incompleto
Cenário que aberto
Pudesse decerto
Sentir mais completo
O quanto repleto
Em beijo e me alerto
Do peso da vida
Na força sentida
No conto sem tréguas
E sei dos enganos
Rompendo meus planos
E deles mil léguas.
34113
O gesto o sinal
O feno a fornalha
A morte amealha
Momento final
Risonho ou fatal
A porta se encalha
O peso atrapalha
Quem luta e afinal
Já sabe distante
O quanto adiante
Em passos resido
E tento o sorriso
No quanto preciso
O roto tecido.
34114
Salvando o que possa
No tanto que vejo
O mundo em desejo
Ainda não roça
A pele destroça
Num canto o lampejo
O verso sem pejo
A vida sem roça
O rosto se expondo
O corte tocando
O mundo que escondo
Na farsa onde crio
Cenário negando
Ou mesmo sombrio.
34115
O chão que refiz
Em tréguas e guerra
Aonde se encerra
O peso aprendiz
Do tanto sem bis
A vida descerra
Resumo outra terra
Por onde fui gris
E agora não vejo
Além do desejo
A sombra do fato
E tento seguir
Sem mesmo porvir
O quanto retrato.
34116
Resumo a minha vida
Nos tempos onde outrora
A boca não devora
Nem mesmo se progrida
Resisto a já perdida
O quanto sei de agora
O tempo me devora
E vejo outra saída
E enquanto fosse assim
O mundo tendo um fim
Encontro soluções
Aonde não pudera
Vencer a sorte e a fera
Enfrento furacões.
34117
Circulo quanto ondeio
O tempo que virá
Porquanto desde já
Procuro qualquer veio
Do qual serei alheio
E sei que tocará
Meu canto e formará
O farto em seu esteio.
O peso da esperança
A vida na lembrança
E o gozo redentor,
Traslada do passado
O dia onde moldado
O bem do imenso amor.
34118
A morte desde cedo
Rondando a minha vida
No quanto em despedida
Promete algum degredo
E quando me concedo
Na ausente voz urdida
No tempo ou na saída
Esquece o quanto ledo
Caminho vago em paz
E tanto se refaz
O que pensei perdido
Assim ao me entranhar
Nas ânsias do lutar
Sou desde já rendido.
34119
A vida sendo breve
O passo rumo ao nada
Esquiva punhalada
No quanto ainda atreve
Revela a fúria e a greve
Ou penso nesta estada
Porquanto desmembrada
E dela resta a neve
Alpendres, riscos, ritos
Momentos inauditos
Entranham mais promessas
E delas vejo apenas
Revigoradas cenas
No quanto recomeças.
34120
Dos tantos arremedos
Que a vida poderia
Traçar em poesia
Marcando dias ledos
E sei dos meus segredos
Outrora em heresia
Agora quando guia
Por mundos seus enredos
A sorte não de tramara
Além da fonte amara
E nela o meu caminho,
Refeito do meu erro
Bebendo o vão desterro
Prefiro andar sozinho.
34121
Caminho perdido
Em tantas promessas
E quando começas
Diverso sentido
O quanto em olvido
E neles avessas
Palavras confessas
No sonho investido
O rito frugal
Por vezes fatal
Ou mesmo fugaz
Anseio destino
E quando domino
Encharco o bornal.
34122
Procuro o que tanto
Ainda em reais
Palavras sinais
Pudessem espanto
Estampo no encanto
E sei muito mais
Dos versos iguais
Ou peso do quanto
Traçasse outro nexo
Aonde perplexo
Viria o meu ledo
Resisto ao que possa
Resido em palhoça
Diversa do enredo.
34123
Cambio o meu passo
Na busca do quase
E quanto defase
Enquanto me traço
No beijo o cansaço
O vento se atrase
A vida sem base
Ainda tão lasso
Arcando com erros
Além dos aterros
Comuns de quem sonha
Eu tento a saída
Há tanto fugida
Ou tanto me exponha.
34124
O quanto alcançara
Do todo final
Degrau por degrau
Ao corte levara
A mão desampara
Ou mesmo no igual
Caminho fatal
Aonde esta apara
Pudesse trazer
O tanto do ser
Que ainda resiste
Poeta se mente
Ou vira semente
De um tempo ora em riste.
34125
Riscando outra linha
Depois do que há tanto
Venera e agiganto
Ou mesmo continha
Palavra só minha
Que invento onde canto
E busco no pranto
Conter o que vinha,
Resido no fato
Do quanto resgato
O todo passado
O jeito se trama
Na luz, rua e lama
No tanto traçado.
34126
Cadernos e medos
Anseios e ritos
Momentos aflitos
Dispersos segredos
Os quadros já ledos
Falando dos gritos
Ou mesmo finitos
Perpétuos enredos,
As somas que escoram
Os dias afloram
Sem ter alforria,
Eu tento e desvendo
A vida outro adendo
Que em vida recria.
34127
Aberto caminho
Que possa trazer
Aonde há querer
Ao menos carinho
E tanto sozinho
Imenso poder
No tanto saber
Do verso em que alinho
O mundo sem fala
Ausente senzala
Na porta se abrindo
Depois do meu vão
Desejo de então
À sorte hoje eu brindo.
34128
Das léguas que andara
Em sombras e medo
Palavra eu concedo
No quanto se ampara
A morte outro ledo
Caminho do enredo
Que tudo escancara,
Resisto porquanto
O mundo que canto
Talvez se completa,
Mas nada se leia
Se a lua anda cheia
Repleta o poeta.
34129
O meu pensamento
Engomando a vida
Roubando a ferida
Tentando o que invento
Diverso provento
Há tanto esquecida
A ronda, esta lida
Esparsa no vento,
Eclode outro verso
E quando converso
Procuro esta sorte
Deitando no vago
E nele me alago
Porquanto conforte.
34130
A vida floresce
Nas luzes e fatos
E quando em maus tratos
O todo se tece
A farsa tropece
Nos dias retratos
De mansos regatos
Em fardos, fenece.
O peso que ainda
Servindo de amparo,
Diverso do faro
Aonde se brinda
Verdade sutil,
Por vezes gentil.
34131
Em meio aos meus desejos eu concebo
Um vale feito em trevas, medos luzes
E ao quanto do vazio tu conduzes
O dia quando em muito ou pouco bebo,
O resto da esperança onde recebo
Ao menos os sinais de velhas cruzes
Expondo a realidade não produzes
Senão cada momento, um vão placebo
Resisto o quanto possa e mesmo assim
Percebo a derrocada e quando o fim
Anunciado há tempos se aproxima
O vento do passado volve em fúria
Não resta mais senão medo e lamúria
Mudando a cada verso o velho clima.
34132
Ao ver o padecer em erros feito
Não pude conceber as soluções
E sei que novos dias e versões
Diversas dos que tanto ainda aceito
Sabendo quanto amar se fez direito
E tendo sob os olhos tais vulcões
E neles as prováveis dimensões
Mudando este cenário já desfeito,
Relembro os meus anseios de menino
E quantas vezes tolo me alucino
Bebendo desta mina em tais quintais
A fonte há tanto seca diz da morte
Que aos poucos aumentando o seu aporte
Não deixa qualquer sombras nem sinais.
34133
Amante do que fora uma esperança
Jogada sobre as pedras deste cais
Pisadas pelos velhos temporais
Aonde a morte em vida já descansa
Quem tanto se fizera em temperança
E agora não concebe nunca mais
Momentos que pensara magistrais
E o peso pende ao nada na balança
Defenestrando a sorte noutra senda,
O quanto do que possa ainda atenda
Levando cada verso ao que pudesse
Trazer das perspectivas outra cena
Porquanto a vida molda em ares vários
Além dos mais prováveis temporários
Desejos onde o sonho se apequena.
34134
Navego o pensamento em busca deste
Momento aonde pude ser feliz,
E quando a realidade me desdiz
O tempo se mostrara mais agreste
E o quanto do passado me reveste
E nele eternamente um aprendiz
Vivendo e cultivando a cicatriz
Tragando cada dia em que vieste
Erguendo um raro brinde à quem um dia
Servira como fosse companhia
E agora te abandona plenamente,
O tempo não refaz a velha história
E a lua ao longe morre merencória
E dela nem o dia se pressente.
34135
Já não suporto mais qualquer suspiro
Em tons de falsidade e hipocrisia
O tempo noutro tempo não havia
Sequer qualquer alento em que conspiro
E quando no vazio ainda atiro
O mundo se refaz e poderia
Mostrar ao menos riso e hipocrisia
E em volta da esperança ainda giro,
Escapo dos meus ermos quando posso
Vencer o que talvez ainda endosso
Usando dos meus versos mais gentis.
Mas deixo ao deus dará tal caminhada
A morte há tanto tempo preparada
Demonstra seus sinais, mesmo sutis.
34136
O quanto deste vento se formara
Nas ânsias mais audazes de quem tenta
Vencer em calmaria uma tormenta
Que tantas vezes dita a sorte amara,
Tomando com terror cada seara
E nela a solidão não apascenta
Morrera no vazio quando atenta
A vida noutra face preparara
Diverso sortilégio ou mesmo cenas
Por onde na verdade não serenas
E todas as manhãs são sonegadas.
O desespero dita cada ausência
Pudesse pelo menos a clemência
Vagando por caminhos, vãs estradas...
34137
Aonde na verdade me apeteço
Recebo com desdém as falsas luzes
E sei que quanto além tu me conduzes
O sonho não passara de adereço
E quando novo rumo até me esqueço
Deixando para trás antigas cruzes
Por vezes noutros tantos reproduzes
Além do que talvez quero e obedeço.
O farto caminhar em noite fria
Permite outra verdade em que se via
Retrato mais fiel de minha vida,
Sorrisos costumeiros esquecidos
E assim os dias morrem percebidos
Numa ânsia que denota esta partida.
34138
Minha alma assim calada vez em quando
Ouvindo a voz do vento na janela
Ao mesmo tempo dita rumo e vela
O pensamento em mares se entregando
Por vezes noutra face se formando
O quanto a própria vida não revela
Tecendo com ternura a antiga tela
O peso do viver me transtornando,
Resido no futuro mesmo ou quase
O tempo com certeza não atrase,
Mas deixa em entrelinha que se veja
A sorte delicada, mas atroz
E quando a realidade dita a voz
Qualquer palavra mansa é mais sobeja.
34139
Parti meu coração rumo ao começo
Dos sonhos onde tanto pude ver
Retrato de outro enorme e belo ser
Diverso do que tanto me apeteço
Revolvo o meu passado e sempre esqueço
Das velhas discordâncias do prazer
E tento novamente poder crer
O quanto o tempo vira-nos do avesso,
Amortalhado agora não me resta
Senão a fonte amarga e até funesta
Apodrecido corpo em rugas, marcas
E quando do passado ainda tento
Vagando sem destino o pensamento
Ausentes dos meus olhos, cais e barcas.
34140
Aonde poderia haver amor
Em idos tempos mortos, nada vem
E quantas vezes busco por alguém
Sem nada nem caminho a se propor,
Faltando no meu céu a imensa cor,
Vivendo da esperança muito aquém
A morte se tornando um grande bem
Cenário tumular, o redentor,
E adentro em tubos vários e mesquinhos
Resisto o que pudesse em tais caminhos
E sinto a provisão já se esgotando,
Não deixo qualquer traço de um adeus,
Os ritos se funéreos são só meus,
A paz beija o cadáver em tom brando.
34141
Apesar da distância em que se vê
O tempo em desairosa confusão
Encontro quem pudera outra versão
Daquela que procuro e quem há de
Dizer das manhãs fartas de verão
Aonde poderia algum por que
Tramar outros momentos que virão
Bebendo da total sofreguidão
Na qual emaranhara o meu prazer.
Esgarço-me deveras no vazio
E quando novo tempo até desfio
Usando da palavra até malsã
O fardo se acumula em minhas costas
E sei destas verdades recompostas
Geradas pela ausência de amanhã.
34142
Não vejo mais perdido qualquer rumo
Aonde poderia crer num fato
E se deveras tento e me retrato
Nos erros costumeiros eu assumo
O gosto mais atroz de quem aprumo
E bebo com ternura este regato
Regresso aos descaminhos e num ato
Diverso do que outrora até consumo
Esgueiro-me entre pedras e tormentas
E sei que no final tu me apascentas
Usando da palavra mais suave,
E sendo costumeira a derrocada
Aonde poderia uma alvorada
Apenas o vazio que me entrave.
34143
Pudesse concernir em resistência
O passo rumo ao fato de poder
Acreditar nas tramas do querer
Embora no final haja inclemência
O vento se mostrando em penitência
Gerando novo tempo a se perder
Na ausência do que possa amanhecer
O amor gerando apenas a excrescência
Arrasto-me deveras entre as feras
E beijo cada dia em que temperas
Com fúria ou mais completa insanidade
Porquanto possa ver outro retrato
No espelho aonde enfim eu me resgato
Vencido pelo tempo que degrade.
34144
Pudesse sem rigor seguir a vida
E crer noutro momento mais tranqüilo
E quando brindo à sorte e assim desfilo
A morte novamente sendo urdida,
Palavra que sagrando a despedida
Esconde novamente o que ora grilo
Vagando pelos mares noutro estilo
Sem ilha que permita uma saída,
Percebo quanto é fútil o meu dia
E nele nova senda se faria
Amordaçando a voz de quem pudera
Sentir outro caminho mais diverso
E quando nos meus ermos me disperso
Alimentando a angústia, esta quimera.
34145
A dor quando supero em ritos falsos
E sei dos meus momentos mais felizes
Apesar de viver intensas crises
O crescimento é feito nos percalços
Os pés abençoados são descalços
E assim ao renegar o que me dizes
Por vezes entre quedas e deslizes
Aumentam os possíveis cadafalsos,
Escassas alegrias inda sinto
Embora este tormento outrora extinto
Renasce com furor e não sossega,
Minha alma se perfaz em doce tédio,
E o quanto do querer domando o assédio
Tornando a minha vida dura e cega.
34146
Jamais pude exceder aos descaminhos
E neles encontrara a solução
Do tempo que se vai em tal verão
Deixando ao desalento velhos ninhos.
Resisto aos meus anseios e carinhos
Meus olhos na verdade não verão
Voltando novamente ao velho grão
E neles entre pedras sei espinhos
Percebo cada ausência como fosse
Momento mesmo audaz ou agridoce
Resíduo de outro canto ainda vivo,
Porém em liberdade nada escuto,
O mundo contra o qual por vezes luto
Não verá nunca o sonho enfim cativo.
34147
Não quero e nem pretendo nova sina
Desfalecido olhar sem horizonte,
Ao menos noutro tanto ainda aponte
A fúria que deveras me domina,
O corte quando muito me fascina
E toma com certeza toda a fonte,
Pudesse acreditar sem que confronte
Nas ânsias de minha alma tão menina,
Esquinas entre ruas e calçadas
As horas entre angústias desenhadas
Resistem ao que possa haver em mim,
Eu sirvo de alimária e até consigo
Saber da causa imensa em desabrigo
Tragando gole a gole rum e gim.
34148
Os dias que seriam mais adversos
Eu tento desvendar em novo rito
E quando inutilmente ainda grito
Usando a profusão de tantos versos
Nos passos entre passos tão dispersos
Os quadros desenvolvem cada mito
E tanto poderia mais bonito
Meu sonho entre sonhos quando imersos,
Mas ando em noite escusa sem paragem,
Apenas o vazio outra paisagem
Restando sob os olhos mais felizes,
E quando busco apenas solução
Meu tempo se mostrando em divisão
Refém das velhas ânsias que me dizes.
34149
Saudades não consigo conceber
Depois de tantos anos entre trevas
E quando as fantasias, ledas levas
Galgando novos rumos posso ver,
Olhando sem sentir ou nem sofrer
Porquanto novos dias também levas
E deixas para trás vazias cevas
Mortalha da esperança a se tecer,
No ocaso de uma vida nada mude
E sei do quanto pode em juventude
Sonhar quem já não sonha e nem anseia
A morte ronda a cena e me sossega,
Porquanto neste etéreo alma navega
À própria dita a vida segue alheia.
34150
Não posso nem pretendo algum socorro
De quem se fez mordaz ou mesmo sonsa
No olhar da inútil fera, fosse uma onça
Apenas o vazio em alto morro,
Não sou apenas restos, mergulhando
No quanto pude crer em redenção
Momentos mais sobejos poderão
Deixar o canto amargo, ameno e brando,
Mas tudo não passando de cenário
E nele redimindo outro momento
Porquanto bebo a sorte noutro vento
O amor jamais seria este corsário
Nem mesmo a imensidão pudesse ver
Quem tanto se desfez em desprazer.
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