segunda-feira, 24 de maio de 2010

33901 até 33950

33901

Se são inúteis versos os que eu faço
Falando dos momentos onde o sonho
Domina a realidade, eu me proponho
A crer ser impossível novo passo
E quando vago em vão ganhando o espaço
Por vezes acredito ser risonho
Aquilo que bem sei ser tão medonho,
Errático cometa eu me desfaço
E tento com palavras conduzir
Meu mundo para um manso e bom porvir,
Embora seja engodo o que eu percebo,
Das tantas heresias, sigo além,
Porém ao pressentir, nada convém
Senão a mesma fantasia em que me embebo.


33902

Das lágrimas comuns a quem deseja
Além do que pudesse dar a vida
E sente a própria sorte sem guarida
Enquanto num instante isto preveja
Ou mesmo noutra face enfim poreja
A dita há tanto tempo sendo urdida
Razões aonde o sonho se invalida
Porquanto uma ilusão atroz e andeja
Vagara em siderais etéreos sóis
E quando nesta ausência de faróis
Revê cada segundo, ainda incauto
Percebo o que pudesse transcender
À própria sincronia de um viver
Aonde a cada passo, um sobressalto...

33903


Regando com as lágrimas a vida
O fardo se divide ou se acumula?
O fato de sonhar desestimula
O passo noutra face, sem saída...
E quando se percebe a imensa gula
E nela toda a sorte sendo urdida,
Galgando cada espaço esta ferida
Imensa nosso sonho beba e engula.
Aguça-se a vontade e nada traz
Senão as variantes onde a paz
Pudesse caminhar tranquilamente,
Mas quando a bala adentra o peito e a calma
Perdida sem sentido rondando a alma
A dor se mostra viva e totalmente.


33904

Jamais imaginara o simples fato
De crer nalguma luz que inda me traga
A fúria desta vida em turva vaga
Ou cale a placidez de algum regato
E quando noutro canto eu não retrato
A bela fantasia que me afaga
Enquanto a solidão moldando a adaga
Penetra simplesmente, eu me destrato
E rasgo cada carta aonde havia
A dúbia persistência da alegria
Pagando com a mesma vã moeda,
E assim ao perceber a inútil luta
Ainda quanto tento já reluta
A sorte que deveras doma e seda.

33905

Viver o amanhã
Aonde pudera
Conter primavera
Ou mesmo malsã
A sorte que espera
Quem tanto venera
E sabe ser vã
A via por onde
O todo se esconde
E aponta o punhal,
Vencer os meus medos
Senti-los mais ledos
E ser triunfal.

33906

Jazigos diversos
Que trago em meu peito
Enquanto me aceito
Ou sigo em dispersos
Caminhos e versos
No fato ou direito
Singrar satisfeito
Dos sonhos regressos,
Palavras e frases
Ocasos e tardes
No quanto retardes
O passo desfazes
E geras o vão
Sem dó nem perdão.

33907

Acossa-me o medo
Do tempo perdido
E quando sentido
Por vezes se eu cedo,
Ausente segredo
Por onde regrido
Ao nada vivido
Ou quanto enveredo
Riscando do mapa
A dita que encapa
Escapa das mãos
Vencido ou calado,
O templo sagrado
Os dias mais vãos.

33908

A brasa e o cigarro,
O tempo, o caminho
E quando avizinho
Ou mesmo me esbarro
Aonde fui barro
O sangue diz vinho,
A cruz e o espinho,
A tosse o catarro,
O peso da vida
A corte negada,
Tentando a escalada
Na sorte cumprida
Em faca, em adaga,
A morte me alaga.

33909

Jorrando, não pára
O tempo que escoa
Uma alma se ecoa
Na fonte, na ampara
No jeito, na cara
A vida é canoa
E tanto se boa
Ou má se declara
A fonte secando
O novo gerando
Do velho puído,
Assim se refaz
O passo tenaz
Diverso tecido.

33910


As mãos calejadas
Os pés em feridas,
Assim estas vidas
Atrozes, caladas
Aonde em estradas
Pudessem urdidas
Ou mesmo em saídas
Em fios de espadas
Num porto inseguro
Se ainda procuro
Não vendo outro tempo,
Resisto e persisto,
Se Cristo ou Mefisto
Igual contratempo.

33911

Resolvo caminho
Diverso daquele
Que tanto revele
O passo daninho
E sendo sozinho
Amar não apele
Nem tanto revele
Fartura em carinho
A ceva sortida
A sorte e a saída
Vital labirinto
E quando outra face
Se mostra ou se trace
Cada sonho extinto.

33912

O medo do fato
O peso no quanto
O verso sem canto
O tempo retrato
No beijo ou num ato
No vaso em que planto
Na trova ou no pranto
Na várzea, no mato,
A vida é peleja
E quando poreja
Saudade ou delírio
Traduz ventania
Ou quanto podia
Mortalha e martírio.

33913

Jardim onde tento
Após o plantio
O vento vazio
Total desalento
Verter pensamento
Enfrentando estio
No verso que eu crio
No tempo me invento
E rastros e passos
Além dos espaços
Sem cais ou bornal,
Vagando em estrelas
Não sei sequer vê-las,
Mas bebo este astral.

33914

Palavra sucinta
O tempo se entranha
Na farpa, na apanha
No quanto se minta,
Ou mesmo na extinta
Palavra em que a sanha
Por vezes assanha
Em outras se pinta,
O passo sem nexo
Face sem reflexo
Espelhos da vida,
A fonte, a nascente,
A morte apresente
Início e saída...

33915


Total contra-senso
O peso e a medida
A sorte sentida
Aonde compenso
O passo se intenso
Mudança de vida
O corte, a ferida,
Mundo tão extenso
E tento ou refaço
O prazo e o compasso
No tanto que possa
A porta se abrindo
O vento seguindo
Minha alma remoça.

33916

Menino levado
O tempo não pára
E quando dispara
Por sonho levado
Refaz o recado
Acerta esta apara
A farpa escancara
No fardo enredado,
Vencer a artimanha
De quem sempre ganha
Não posso ou consigo,
Entrego-me então
Amor temporão?
Imenso perigo...

33917

Negar a promessa
De quem se fez tanto
O peso do encanto
Na dita se expressa,
Ausência confessa
Ou mesmo se eu canto
A morte eu espanto
E o tempo se engessa.
Aumentando o prazo
Percebendo o ocaso
Além do horizonte,
Mas sei da fatal
Estada final
Que aos poucos se aponte.

33918

O vento no rosto
O gesto, o pavio,
O quanto recrio
Ou mesmo é reposto,
Do tanto se oposto
Nada desafio
E tento o rocio
Deitando em recosto
No colo de quem
Audaz logo vem
E traz o que eu quero
Assim ao saber
Do intenso prazer
Atroz, mas sincero.

33919

A velha almofada
A sorte enredando
O peso sem quando
Saber de outro nada,
Versão consagrada
Retrato nefando,
O muro tramando
A queda na escada
Degrau pós degrau
O farto se faz
E o tempo voraz
Além do final
Deseja outro tanto
E foge ao quebranto.


33920

Cercados de mágoas
Os sonhos passados
Os dias tramados
Aonde deságuas
Podendo das águas
Traçar ondas fados
Os gestos, pecados
As noites são fráguas
E o peso da vida
Por onde surgida
Determina o fim,
Do todo ou do farto,
No quanto reparto
Volvendo ao que vim.


33921

Por vezes entulho
Ou noutras montanha
Assim sendo a sanha
Da qual não me orgulho
No farto mergulho
Palavra que assanha
Partida já ganha
Real pedregulho,
Servir ou servido
O quanto é sentido
Ou tanto sentir,
Não pude sincero
Saber se venero
Ou nego o por vir.

33922

Peso do passado
Recados futuros
Por cima dos muros
Assim meu legado
Aonde tramado
Em dias escuros
Ingênuos e puros
O medo, o pecado
O preço e o perdão
Santa Inquisição
Revive no clero
Por isso o castigo
No tanto prossigo
Eu anseio e quero.

33923

Chacais de batina
Em tal sacrilégio
Poder sempre régio
Fatal determina
A morte domina
Imenso colégio
Cevar privilégio
Domando esta mina
E dela se vendo
O quanto não crendo
Na Sé, me liberto
O tempo o destino
Povo libertino?
No imenso deserto...

33924


A falta de sorte
O pântano em mim
Do princípio ao fim
O quanto conforte
Sem tramas, o Norte
O corte, o capim,
Através de mim
A dita diz morte,
O pêndulo, o tempo,
Gerar contratempo
Cobrar o pedágio,
Depois no batismo
Se enfim nego ou cismo
Terrível presságio?

33925

Negar profecias
Gerar virgindades
Rompendo tais grades
Em novas recrias,
Velhas fantasias
Da qual inda brades
No quanto te agrades
Fatais heresias,
Recém empossado
O verso em pecado
O terço, o Juízo,
Enquanto o Cordeiro
Na cruz, verdadeiro
Libertário siso...

33926

Amar o doente
E crer no perdão,
No quanto em senão
A vida desmente,
Assim cada crente
Insana aversão
Sem ter direção,
A morte apresente
Na fome na faca
O passo que empaca
Não deixa seguir
Quem tanto pudera
Sabendo da fera
Sangrando o porvir.

33927

Demônios criados
Juízos negando
O mundo nefando
Além dos pecados,
Ouvir os recados
O tempo cevando
A morte sem quando
Em pesos fadados
Ao farto ou ao nobre
O todo recobre
A parte, o pedaço,
A seca, a aridez,
No quanto tu crês
O medo eu repasso.

33928

Jogando nos cantos
Os olhos do Pai
E quando se esvai
Em totais quebrantos
As ditas dos santos
O quanto se trai
O vento contrai
Matando os encantos
De quem fora farto
E agora reparto
Ou tento, afinal,
Do amor sem limites
Se nele acredites
Negues ritual.

33929


Do joio e do trigo
Mesmo agricultor
Na paz e no amor
O todo persigo,
Mas quando o consigo
O vento a se opor
No libertador
Liberdade sigo,
E sei do medonho
Caminho e me oponho
Ao fardo que herdei,
Perdão se compondo
Ou tanto podando
Falsidade é lei.

33930

Peçonha diversa
Expressa o enfadonho
Caminho onde ponho
Ou mesmo já versa
A velha conversa
O tempo eu componho
E quando proponho
Palavra é dispersa.
Não vejo outro senso
Por isso se eu penso
Renego o demônio,
E tento outra face
Onde não se trace
Total pandemônio...

33931

O Credo pernóstico
Dono da verdade
No quanto degrade
Gerando outro agnóstico
Pudesse um diagnóstico
Desta realidade
Sem medo e sem grade
O amor em acróstico?
Não quero esta cruz
Nem mesmo a tortura
O quanto me cura
O amor se eu compus
Bem mais necessário
O ser libertário...


33932

Templos, vendilhões
Velha realidade
No quanto se agrade
Vender nos portões
De antigos porões
O todo se invade
E assim se degrade
Gerar provisões,
Dos dízimos, ditos
Os olhos proscritos
De quem infinito
Amor distribui,
Mas hoje se pui
Neste povo aflito.

33933

Não quero cegado
O tempo do amor
Nem mesmo compor
Imenso e vão gado
Aonde o negado
Mostrar e propor
E quem não se por
Decerto calado
Que seja no inferno
Neste fogo eterno
Jogado afinal.
Assim a sudário
Gerando outro erário
Velho ritual.

33934

O vinho sanguíneo
O tempo renega
O quanto sossega
Um povo em fascínio
Gerando o domínio
Da mão dura e cega
E nela se apega
Fatal vaticínio.
Demônios, milagres,
No quanto consagres
Verás falsa luz,
Assim o liberto
Também num deserto
Jogado na cruz.

33935

Deste amor que gera
Vida eu também vejo
Morte num desejo
Criando em mim fera
O todo tempera
Além de algum pejo
O tanto que almejo
Volver primavera,
Mas sei necessário
O fim, um corsário
Saqueia e produz
No novo vindouro
Eterno tesouro
Em trevas e em luz.

33936

Se é feito da adaga
O chão que ora piso
O quanto preciso
O preço, esta paga
A fuga da plaga
Noutro paraíso
Viver prejuízo
No amor que se traga
Na fonte ou começo
E quando eu mereço
Ou não salvação,
Servir sem medida
Agora da vida
Mil vidas virão.

33937

Na mão do pastor
A força, o cajado
Cevando este gado
Em fúria e terror,
Invés deste amor
Que é nosso legado
Gerando o pecado
O preço a propor,
O templo em paredes
Não mata tais sedes,
A sede se faz
No quanto acredito
No amor infinito
Em perdão e paz.

33938

Amar e saber
Das mãos do pastor
Aonde em rancor
O gozo e o prazer,
E disto se crer
Na falta de amor,
Falso redentor
Morrendo em se ver
Desnuda esta face
Negando este espelho
Não quero o joelho
Nem mesmo se trace
Na miséria e fome
Que a plebe consome.

33939

Acordos velados
Os olhos não vêm
E quando se aquém
Dos dias vedados
Vendidos pecados
Aos dias de quem
Sabendo do Bem
E nele os traçados
Seguindo infinito
Amor nosso rito
Não mito vulgar,
Não quero esta igreja
Maldita ela seja
De Deus sou o altar.

33940

Menino sagrado
Aos deuses do quanto
E quando me espanto
Revendo o passado
Eu vejo a meu lado
Caríssimo manto
Do pai do quebranto
Gerindo o pecado,
Farsante figura
E nela a amargura
De quem não amando
A mando da glosa
Enquanto assim goza
Gerando o nefando.

33941

Arco iridescente
Aonde se vê
No olhar de quem crê
Na face do crente
O Amor envolvente
Sem tanto por que
Apenas o quê
Do quanto é presente
Sem preço este apreço
Vital recomeço
Etéreo seguir
Sentindo esta face
Perdão que se trace
Liberte o por vir.


33942

No brilho do olhar
De quem no horizonte
Conhece este fonte
Do bem de se amar
Sem nada cobrar
Nem nada desconte
Aonde se aponte
O tanto a tomar
A face composta
De quem em resposta
Entrega-se inteiro
Saber quanto agrade
Viver liberdade
Ao Pai carpinteiro.

33943

Pudesse saber
Do amor e perdão
Nele a redenção
Eterno viver,
Sentindo o prazer
E dele virão
Os dias; verão
Etéreo querer.
Libertária luz
Sem medo e sem cruz,
No templo que um Pai
Gerando em amor,
Criou; Redentor,
E em farsas se esvai.

33944

Eu quero esta fonte
Do Amor, a nascente
Que tanto envolvente
Ao Pai sempre aponte,
E assim se confronte
A face doente
De quem inda tente
Negar esta ponte.
Não quero este deus
Vendido nos breus
E preso na cruz,
Eu quero e persisto
No encanto de um Cristo
Liberto Jesus!

33945

Pedágio cobrado
Por quem se entroniza
E tanto da brisa
Gestando o pecado,
No olhar recobrado
Do amor que matiza
E assim climatiza
Além de um legado,
Velha carpideira
A mão rapineira
De quem gera igreja
Que tanto batalha
Trazendo a navalha
Maldita ela seja!

33946

Não quero o batismo
Nem fogo nem água
Apenas sem mágoa
No quanto inda cismo
Sem ter cataclismo
Aonde deságua
O Amor feito em frágua
Distante do abismo,
Além na Montanha
Assim esta sanha
Que é feita na fé
Rompendo esta algema
Jamais teima e tema
Maldições da Sé.

33947

Um deus constantino
Vendido com juro
Não quero eu te juro
No amor me fascino
E quanto ao destino
Se é ledo ou escuro
Além deste muro
Aonde sem tino
O padre o pastor
O frei a vingança
Na mão que já lança
Nas trevas o Amor
Castrando Jesus,
Jogado na cruz.

33948

Cevando na esquina
Num puteiro ou bar,
Venal lupanar
O amor que fascina,
O Pai me ilumina
Fazendo sonhar
Teimando em cismar
Além desta mina
O quarto, o motel
Dali vejo o Céu
Na paz e no amor,
Nas mãos liberdade
O quanto se brade
Real Redentor!

33949

Não quero o beócio
Nem mesmo o venal
Aonde o carnal
Gere o Sacerdócio
Nem quero este sócio
Vendido afinal
Parto virginal
Sem nada que endosse-o,
Nem quero o Juízo
Do amor impreciso
Castigos e crime,
Eu quero somente
Saber da semente
Que tanto redime.

33950

Peçonha de cobra
Vestida à caráter
A célula mater
Que tanto recobra
E assim vende e cobra
Invés deste frater
Gerado num pater
No qual amor sobra,
E desdobra a face
Aonde se grasse
O preço final,
Nem mesmo consagre
O ausente milagre
Pecado venal.

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