terça-feira, 3 de agosto de 2010

43801 até 43900

001

Amor que tantas vezes me maltrata
E traça a cada instante novo dia
E nele sem temor mergulharia,
Sabendo da fortuna mesmo ingrata,
Às vezes noutra sorte se resgata
Verdade que; no entanto esconderia
Arcando com a dor, com a alegria
Dicotomia que este ardor retrata,
Escondendo o luar dentro de mim,
Buscando noutro espaço este jardim
Que tanto fora outrora prometido
Amar e ser feliz? Tudo o que espero,
Mas sei do meu destino duro e fero,
Condenando afinal ao ledo olvido.


002


Ao ver se estremecer quem tanto eu quis
Vestindo as falsas luzes da promessa
E quando a mesma história se endereça
Aquém do quanto pude ser feliz,
Restauro em sonhos tudo o quanto diz
Expresso a solidão e recomeça
Em mim a mesma dita que; sem pressa,
Gerara no passado, a cicatriz.
E resolutamente sigo em vão
Tramando outros momentos e trarão
Apenas a fatal tranqüilidade,
Invernos adentrando dentro da alma,
Não levo do passado nenhum trauma,
Mas sei quanto o futuro desagrade.


003

Apenas aparece e logo some
Quem quando se fez deusa fora minha
E agora noutro rumo se encaminha
Sem nada que inda impeça ou mesmo tome,
O nada se apresenta e com a fome
De quem deseja além do que continha
Resumo a vida aonde nada vinha
Somente este não ser e me consome.
Apresentando a voz mais tenebrosa
O risco de viver enquanto glosa
Realidade espúria faz a festa,
No pantanal escondo o meu destino
E a queda a cada instante eu determino
Em detrimento ao sonho onde se gesta.

004


Com ânsia e num ardor incomparável
A vida não se mostra mais suave,
O risco de viver até se agrave
No fato mais audaz, mesmo intocável,
Resumo o verso em algo que intragável
Liberte o coração, uma audaz ave
E no silêncio escuso tanto trave
O passo rumo ao quanto fora arável.
Espalho o verso e ganho outro cometa,
E neste merecer já se prometa
Um porto mais seguro, pelo menos,
Os dias quando passam sem se ver
A vida neste eterno envelhecer
Prediz momentos duros, mas amenos.

005



Falando deste amor que eu alimento
Com toda uma vontade e no final
Traçando nesta escada outro degrau
Esboço nova queda e sofrimento,
Resulto deste instante e num momento
Pudesse acreditar e bem ou mal
Regesse o meu caminho pelo astral,
E nisto já não há discernimento.
Presumo o quanto ainda resta e sinto
A fúria incontrolável, mas desminto
O medo costumeiro de quem sonha,
Vestindo esta falácia, mesmo incréu
Percorro sem sentidos o meu céu
Ainda quando a noite é tão medonha.


006

Não é sem fundamento o que eu te falo
A sorte não promete outro sentido
Aonde o meu delírio resumido
Faria do meu sonho outro vassalo,
O canto inestimável ora calo
E beijo com ternura o meu olvido,
Restando deste pouco o presumido
No tombo onde decerto eu me avassalo.
Apresentando agora tais escusas
Enquanto os meus caminhos; entrecruzas
As cruzes desta estrada ditam sortes.
E bebo cada gota aonde eu possa
Ainda penetrar em fenda e fossa,
Ao contabilizar as minhas mortes.


007


Aonde ao teu respeito ouvi falar
Não pude discernir senão tal fato
E nisto com certeza eu não resgato
O mundo que cansei de procurar,
Vencido pelas ânsias de um lugar
Bebendo em sortilégio este regato
Penetro o pensamento e se desato
Não posso e nem devo me estranhar,
Aprazo cada engano, mas no fim
O quanto ainda resta vivo em mim
Transcende ao próprio ser, perde a razão,
Na presunçosa luz em falso brilho,
Pedaços do infinito tento e trilho,
Mas sei quando os meus dias dizem não.



008


Gabando-me no crer e não sentir
O transitar em mim de alguma estrela,
No quanto na verdade mal sabê-la
Traduz este pedaço que há de vir,
Buscando em tua boca este elixir,
A morte não consigo mais bebê-la
Sequer ainda posso concebê-la
No todo ou nesta senda a resumir.
Aprendo com os dias e disperso
O rumo noutro tanto do universo
Galante madrugada em festa e dança;
Mas quando a realidade surge e vejo
Audaciosamente o meu desejo,
No errático desenho alma me lança.


009

Se quando eu quis assim, assim pudesse
Gestando o quanto tento e nada vem,
Bebendo cada gole deste bem,
Procuro no final, uma benesse,
Caminho sem juízo a gente esquece
Ou tanto faz ou nunca mais convém
E quantas vezes; busco outro também
Perdendo o quanto a vida me oferece,
Ninando cada sonho aonde um dia
Apenas tão somente moldaria
Ousando em novos tempos mais modernos
Expresso em solidão e tento a luz,
Porém à nova queda me conduz
Os dias que julgara serem ternos.

010

Enquanto me levaste ao Paraíso
Eu pude perceber o quanto cismo
Galgando num momento céu e abismo
Depois de ter somado prejuízo,
O passo na verdade mais preciso
É quando se prepara o cataclismo,
E vendo este cenário em pessimismo
O verso noutro tom; quero e matizo.
Hermético talvez, mas mesmo assim
Do todo que se espera até o fim,
Não vejo escapatória nem queria,
Apenas este risco de sonhar
Deixando cada dor em seu lugar,
Regendo o que inda resta em poesia.



011

Apertos e terríveis aflições
Repetem-se deveras dia a dia
E quanto mais um sonho se queria
Maiores os temores e decepções,
Assim quando em vazios tu me expões
Traçando com total hipocrisia
Há muito que meu sonho não traria
Sequer outros desejos, soluções.
Vergando sob o peso da vergasta
O corte na verdade me desgasta
E gasto o que inda resta em sonho, pois
O mundo mergulhando noutro engodo
E o quanto me sobrara leva ao lodo,
E deste lodo nada vem depois.


012


Quero agradar, porém eu vejo o fim
E nada que inda possa mesmo alçar
Senão tal descaminho a desenhar
Gerando outro momento atroz em mim,
Respaldos, se os procuro, nada enfim
Permite a quem deseja o bom sonhar
E o medo tudo muda do lugar
Luar já não conhece o meu jardim.
Expresso noutro intento o quanto quis
Vencer e trazer novo e bom matiz,
Mas quando me percebo solitário,
Jamais agradaria a quem mais quero,
E tantas vezes luto e, se sincero,
O mundo se trancando num armário.


013


O canto se é real traduz a dor,
Mas logo me arrependo e me disfarço,
Assim a cada passo onde me esgarço
Permito um novo rumo. O sonhador.
Aonde se pudesse sou esparso
E viro até do avesso o que não for,
Transcendo ao meu delírio e sem rancor,
Fechando o coração, águas de março.
Outono terminando vejo inverno,
Depois do inverno apenas eu me interno
Num ermo se inda existe algum após.
Calando o sentimento busco então
Apenas um momento, embarcação,
Mas sei quanto apertados velhos nós.

014

O quanto disto apronto e nada vejo
Sentindo e já desponta além o sol,
Vestindo de beleza este arrebol,
Mas logo não se vendo em raro ensejo
Apenas dentro em mim inda trovejo
Vagando na procura de um farol
Enquanto me ensimesmo, caracol
O peso do passado não desejo.
Representando assim até que possa
Vencer a madrugada outrora nossa
E agora sem juízo e sempre ao léu,
Olhando para estrela, nada sei
Escurecendo a sorte noutra grei,
Vislumbro alguma luz no imenso céu.

015

Ansioso caminhar por entre as trevas
E neste meu delírio vez em quando
O novo se aproxima desarmando
Deixando para trás e nada levas,
Aonde com firmeza gelas, nevas
E o medo noutro medo se entornando
O corte se aproxima e traz nefando
Desenho quando outrora quis as cevas.
Servis os meus anseios, são iguais,
E neles velhos dias em fatais
Angústias se repetem e me trazes
No olhar; a ambiciosa e dura senda,
E sem ter nada mesmo que se entenda
A vida ultrapassando suas fases.


016


O que é posteridade para quem
Procura alguma luz em seu passado?
O vento novamente dá recado
E expresse este não ser que me convém,
Caminho procurando aonde o bem
Esconde seu destino e deserdado
Restauro cada passo sempre ao lado
Daquela que desejo, mas não vem...
O risco de sonhar causando infausto
Amar não se traduz em holocausto?
Esqueço qualquer trama aonde eu possa
Vencer os meus afoitos descaminhos
E risco deste mapa meus espinhos,
E nem uma esperança enfim me adoça.


017


Não trate de agradar quem desagrade
Do tanto quanto posso ou mesmo tento,
Resgato o meu olhar em provimento
Do amor que não conheço, na verdade,
Restando tão somente esta saudade
E nela o meu passado mais sangrento
Enquanto outro caminho, o pensamento
Resume nalgum verso e a dor invade.
Preparo para a queda, mas sei quando
O dia noutro fato se mostrando
Rescaldos acumulo do que um dia
Vivera e sendo escombro, noutro passo,
O tempo novamente eu não refaço
E morro com total desarmonia.


018


Ao ermo de um louvor ainda alheio
Esquivo coração faz sua prece,
E nada do que tanto tenta ou tece
Presume outro caminho, em nada creio
E vivo tão somente por receio
Ao quanto do vazio já me esquece,
A morte noutra face me apetece,
Mas vejo além do cais outro recreio.
Aprazo o dia e nele tento enfim
Resgates de uma vida que por fim
Jamais seria assim, mera e tranquila,
Vacância dentro da alma, e o pó da estrada
Trazendo para mim o mesmo nada
E nele este soneto se desfila.


019

A gente mal se vê, mas mesmo assim
Eu quero estar contigo o tempo inteiro
E quando amor é tolo e verdadeiro
O risco se aproxima e gera o fim.
Quisera cada beijo carmesim
E ter no teu olhar o derradeiro
Anseio de um delírio costumeiro,
Marcando com ternura o que há em mim.
Resvalo no infinito quando eu penso
No todo mais sublime e digo imenso
Do amor que se tempera em esperança,
Mas quando te revejo, me amordaço
E sinto estar faltando algum pedaço,
Trapaça aonde o passo já me lança.


020


Ainda com folgança e festa eu tento
Vencer ou mesmo até desafiar
Arisco e desdenhoso algum lugar
Tocado pelas mãos do esquecimento,
E neste caminhar o sentimento
Jamais encontraria onde ancorar
O porto não se deixa navegar
Nem mesmo quando traz pressentimento.
Alimentando em paz o coração
Os dias com certeza não verão
O amanhecer fantástico de um sonho,
Se tudo traduzisse uma promessa,
O corte noutro tanto se endereça
Num novo caminhar, ora me exponho.


021


Fartando esta vontade de te ter
Reinando sobre os ermos da paixão
Os dias mais doridos moldarão
Depois de certo tempo algum prazer,
Poético momento eu posso ver
E neles o meu sonho, este alazão
Galgando num segundo esta amplidão
Desenha o que deveras pode crer
Sentir esta absoluta fantasia
Reinando sobre o tanto que eu queria
Apenas teu amor e nada além
Mergulho no infinito e sem defesas
Levado pelas tantas incertezas
Que o sonho, por ser sonho sempre tem.


22

Entre ausência e presença de um desejo
Não tenho sequer dúvidas e enfrento
A dura tempestade e sorvo o vento
Tramando tudo o quanto mais almejo,
Eu sei que amor talvez seja um lampejo
E disto tenho tal discernimento,
Mas quando neste encanto eu já me assento
Vagando sem destino tudo vejo.
Alçar este momento indefinível
Do amor quando se mostra indestrutível
Razão para viver e neste encanto
Não tenho mais perguntas, sigo assim
Tentando no teu corpo ter enfim
O que procuro e em ti eu quero tanto...


23


Pudesse te agradar, tudo eu faria
Até quem sabe mesmo um novo mundo
O coração deveras vagabundo
Sorvendo em teu olhar a poesia,
Singrando este oceano dia a dia,
No tanto quanto quero e em ti me inundo,
O verso se mostrando num segundo
Gerando muito além da fantasia.
Escalo as cordilheiras da emoção
E sei que desde agora os dias são
Melhores para quem tenta encontrar
Depois da tempestade esta bonança
Que olhar ao te buscar decerto alcança
Qual fosse imenso e raro, bel luar.

24

Quem deseja com toda esta vontade
Merece pelo menos uma chance
Aonde o coração amor alcance
Certeza de outro dia agora invade,
E o tanto que meu peito busque e brade
Rasgando este oceano e já se lance
Nas tramas mais audazes de um romance
Deixando para trás qualquer saudade
Vencer os meus deslizes e sorver
Da vida o seu enorme e grã prazer
Sem medos e sequer sem nada além
Da força incontrolável que virá
E sinto esta presença desde já
Falando deste amor enquanto vem.

25


Nos gostos desta turba mais atroz
O encanto se perdendo sem mais nexo
O amor quando não vê qualquer reflexo
Desnuda e não se estende logo após,
A morte apresentando em alta voz
O risco de sonhar que é tão complexo,
O canto me deixando mais perplexo
Por ser ao mesmo tempo bom e atroz,
Assim ao me entregar sem mais defesa
Do todo sendo mera e mansa presa
Embalde me assentara neste fato,
Mas quando noutra face amor destróis
Tornando sem sentido estes faróis
Ainda mesmo assim, não me resgato.

26

Olhando do auditório vejo a peça
Que a vida me prepara a cada instante,
E quando um novo quadro se adiante
O risco noutra queda vã tropeça,
E assim ao menos tento e me interessa
Viver esta emoção e doravante
Vibrando com delírio mais constante
Enquanto novo tempo em paz se peça;
Ressalto a voz em sombras desditosas
E quando no passado ainda gozas
Desnudas os meus antros mais profanos
E sinto novamente o vento em fúria,
Depois desta borrasca a vil penúria
Promove dentro em mim diversos danos.


27



O sonho este protótipo da vida
Há de reinar enquanto houver um brilho
E neste delirar por vezes trilho
Buscando sem sentido uma saída,
Amar e ter no olhar a despedida
E o coração procura outro estribilho
E quando me aproximo maltrapilho,
Apenas ilusão já sendo urdida.
Esqueço o meu delírio e me aprofundo
Tentando vasculhar inteiro o mundo
Bebendo desta fonte cristalina,
Mas quando acordo e vejo a solitária
Manhã entre terror e procelária
Vazio dentro da alma a determina.

28


Quem dera eu desse rédeas ao sonhar
Vagando sem destino e sem espera
Sorvendo o que decerto em paz tempera
A sorte de quem busca o seu lugar,
Corcel das esperanças ao luar
O medo não traduz a primavera,
Olhando para trás, fortuna fera
Assenta noutro canto a divagar;
Restando dentro em pouco o Paraíso
Nos braços de quem tento e mais preciso
Expresso esta ilusão em verso e tento
Depois de certo tempo nada resta,
A lua penetrando a fina fresta
O coração entregue esparso ao vento...


29

Afetos e paixões, momentos onde
A sorte poderia ser diversa,
Mas quando no vazio o tempo versa
O manto na verdade em vão se esconde,
Resumo o meu caminho e tento a fronde
Aonde esta ilusão mesmo perversa
Girando noutro tanto desconversa
Esta alma sem ninguém que inda a responde.
O amor tem paladar mais agradável
E deve ser deveras palatável,
Porém na solidão se faz amaro,
E quantas vezes canto; ninguém ouve,
O todo se mostrando onde não houve
Nem mesmo a fantasia que eu declaro.

30


Aduba a extravagância um riso a mais,
E gera num cultivo mais escasso
O rumo aonde o mundo em vão eu traço
Tramado entre dispersos rituais,
Quisera desvendar os vendavais,
Porém o meu delírio eu já desfaço
E sigo a solidão a cada passo,
E deste desenhar ledos finais.
Aproximando a ti eu vejo a luz
E nela o que deveras reproduz
Cenário inebriante, pois diverso.
E quanto mais te quero e te pressinto
Amor quando o julgara quase extinto
Revive e me assaltando a cada verso.


031


Muita ação deveria haver na prece
Aonde se desenha amores fartos
E quanto mais se pensem salas quartos
Maiores os desejos. E alvorece.
Mas quando esta saudade dita regras
E dela sorvo em cálices venais
Não quero nem os sonhos e nem o cais,
Sabendo que o caminho; desintegras,
Restando alguma voz e nada escuto,
No quanto sou atroz, audaz e bruto
A queda deste abismo diz do fim.
Jamais eu sentiria, mesmo medo,
Deveras sem defesas me concedo,
E o tempo transformando tudo em mim.

32


Querem somente ver a face oculta
De quem já se desnuda plenamente,
E quando novo tempo ainda invente
A sorte na verdade me sepulta,
A voz diversa e tosca, mesmo inculta
Exporta o quanto audaz se mostra a mente
E nada do que quero se apresente
A morte se fazendo em ágio e multa.
Perceba o quanto resta de quem fora
Além da força torpe e propulsora
O manto mais puído da verdade,
Não quero mais falar de sentimentos
E deixo os meus caminhos mais atentos
Enquanto a solidão, decerto invade.


33


Fluindo em persistência mais atroz
O gozo do sofrer já não se cala,
O manto se deforma e toda a sala
Escuta o sofrimento em dura voz,
O corte mais terrível diz do algoz
Enquanto este perfume uma alma exala,
E tanto quanto posso a vida escala
O nada que inda vejo vivo em nós.
Resplandecente sol; ora não vejo
E tento preservar o sonho andejo,
Mas andarilho um dia também cansa,
E morta a fantasia o que me resta?
Sequer esta presença mais funesta
Daquela que se diz uma esperança.

34


A curiosa luz tanto abundante
Não deixa enquanto ofusca ver além
Do quanto o coração procura e vem
Negando qualquer fato doravante,
E sendo o meu passado mais constante
O risco de sonhar, mero desdém,
Resume esta promessa e quando tem
Colheita noutra face se adiante.
Recolho os molhos mortos de florais
E sei que a primavera é nunca mais,
Ausência presumida desde quando
O tempo não perdoa e nem sossega,
A solidão deveras dura e cega
Aos poucos nos cabelos vai nevando.

35


O quanto fujo mesmo desta moda
E tento esta velhusca hipocrisia,
O nada noutro nada não faria
Talvez na solidão meu mundo roda,
E sei do quando imerso a morte açoda
E trilha onde jamais se pensaria,
Não devo persistir nesta utopia,
A sorte tanto mata quanto engoda.
Aprendo com retalhos e remendo,
O vasto desejar e se inda estendo
O olhar noutro caminho ou horizonte,
Não tendo mais a lua em referência
Minha alma se embebendo em inclemência
Ao nada com certeza sempre aponte.


36


A corja em tanta orgástica loucura
Bacantes entre tantas heresias,
E nesta lucidez tu me querias
No farto desenhar que inda perdura,
O corte procurando quem traz cura
E nesta fantasia não verias
As mortes entre tantas agonias
Somente vasculhando o quanto dura
Acórdãos são desfeitos quando a gente
Prevendo outro momento ainda tente
Reparos onde nada mais me cabe.
Esteio da esperança, deu cupim,
Ainda preservando vivo em mim
O sonho antes que tudo em vão desabe.


37


Cada qual tem um gosto bem diverso
E sei dos meus anseios imbecis
Enquanto meu passado já não quis
Beber a sintonia de outro verso,
E quando me aproximo, desconverso
Traçado desenhado à pedra e giz,
Aplaco o meu caminho, este infeliz,
Num ato tão banal quanto perverso,
Estendes tuas mãos a quem precisa?
No fundo esta verdade nega a brisa
Ainda mais a dura tempestade,
Restando do que tanto desejava
A sorte noutra fúria dita a lava
Que queima enquanto marca, e já degrade.

38

O quanto se prefere quando tento
Vencer os meus enganos dia a dia,
O todo transformando não diria
Sequer da direção de um velho vento,
Sorvendo cada gota, sofrimento,
Marcando a minha face em voz sombria
O marco se transborda na ironia
De quem se fez além do alheamento.
Expresso a minha sorte desta forma,
E quando a realidade já me informa
Do sonho audacioso do passado,
O beijo da mulher muda o sabor,
Tentando novamente te propor
O quanto fora outrora o meu legado.


39


Receita de agradar a quem me engana?
Jogando a minha sorte da janela
O quanto do vazio se revela
Na voz abençoada, mas profana,
Quem dera novo dia, outra semana
E toda a solução expressa em vela
No mar onde o caminho sem procela
Pudesse traduzir e nada emana.
O mérito de ser apenas isto,
O canto aonde o medo inda conquisto
E existo sem saber algo exitoso,
Apenas por sentir em ti o sonho,
Um verso novamente recomponho,
Mas sei o quanto amor é caprichoso.

40

Armar de tantas peças a verdade
Quebra cabeças vários encontrei,
E sei do quanto diz a velha lei
No todo quando pode esta saudade
E nada do passado ainda agrade
Quem tanto no presente procurei,
Vergando ao mesmo peso, eu me entranhei
Nas sendas desta vã felicidade.
Resumo em solidária companhia
Aquilo a quem amor já se diria
Não fosse este detalhe mais atroz,
O quanto sou sozinho e tu não és
Ditando para mim duro revés
Calando o coração em torpe voz.

041

Caminho que se logra em desamor
Pudesse ser diverso deste quando
A rota noutra face se mostrando
Destoa do meu sonho em seu sabor,
O tanto quanto busco num sol-pôr
O risco de vagar em céu nefando
E quando vejo a chuva se entornando
Aonde se quisesse multicor
Revisto os meus anseios de outra forma
A vida quando tolhe e nos deforma
Expressa a verdadeira magnitude
Do sonho sem a sorte nem o brilho
E tento desviar, volto e palmilho
Cenário tão cruel enquanto ilude.


42

Há comédias diversas nesta vida
Envolta em tanto drama, dia a dia,
Marcando cada passo em ironia
A história no vazio é resumida.
O tanto quanto posso e se duvida
O canto noutra voz se escutaria?
Resumo da mortalha onde agonia
A parte que me cabe, destruída.
Esbarro nos incautos caminhares
E quando presumires ou notares
Verás os olhos baços, sem destino,
Assim ao me entranhar a cada instante
No fardo que carrego doravante,
Escasso desenhar, mas me fascino.


43

Armado enquanto o demo faz a festa
Beirando ao suicídio cada vez
Que a luta onde o passado se refez
Não deixa qualquer luz onde se empresta.
O manto destroçado, o que ora resta
A quem se tenta mesmo em lucidez
Vagar pelos caminhos do talvez
E ver a nova vida em velha fresta.
Acreditar na sorte desenhada
Sombria e sem destino a tola estrada
Destarte não me trouxe nem alento,
O marco mais atroz já desdenhado
O corte noutro instante aprofundado
E entregue o coração no intenso vento.

44


Compactuando a tola iniqüidade
Vasculho dentro da alma algum sinal
E sei do desvario bem ou mal
Enquanto vejo viva a tempestade,
Marcando o meu caminho em tal saudade
Cerzida dentro em mim num ritual
Aonde se mostrar tal e qual
O todo que decerto em vão degrade.
Ressuscitando o morto desamor,
Apresentando como algo novel,
Expresso a solidão e solto ao léu
O canto mais propício num sol-pôr
Expondo desta forma a minha tez,
O tanto que desejo se desfez.


45

Um velho ramalhete sobre o chão
Mostrando desta vida o seu por que
E sem ter qualquer chance, este buquê
Transporta os velhos dias que virão,
E quando prometera a floração
Somente algum espinho, o sonho vê
Sem nada que pudesse ainda crê
Na morte como tal libertação.
Espreito atocaiado e dou meu bote
No tanto quanto possa e não me note
Exporto o meu delírio noutro verso,
Rescaldos ditam velha e tola escória
O amor quando se perde da memória
Aonde se encontrar neste universo?


46


Se a crítica quisesse aqui voltar
E ler outro soneto até quem sabe
O manto noutro tanto já não cabe
Nem mesmo procurando algum lugar,
Representando o sonho a navegar
Bem antes que meu mundo ora desabe
Sem ter sequer do quanto inda me gabe
Mergulho neste imenso e fundo mar.
Ou quase, na verdade apenas cismo
E bebo deste velho reumatismo
Enquanto procura outro verão.
Resumos de uma espúria noite em vão
Traçada pelos goles da aguardente
E noutro sonho a vida se incremente.


047

As flores uma a uma eu despetalo
E tento noutro teto outra promessa
A sorte com certeza não confessa
O amor que na verdade diz de estalo,
O sonho me transforma em seu vassalo
Enquanto a voz ao nada se endereça
E tanto pude crer no quanto expressa
O risco de verter onde me calo.
Respaldos procurando em ramalhetes
E neles outros tantos que cometes
Prometes e jamais irás cumprir,
Depois de certo tempo eu me acostumo
E bebo da esperança o supra-sumo
E tento noutro canto o meu porvir.


048

Ignóbil o mister de ser poeta,
Não deixa qualquer coisa mesmo em paz,
Ousando da palavra o que se faz
No todo ou num pedaço se repleta,
O manto esta figura mais discreta
Concretizando a voz dura e tenaz
De quem vendeu sua alma à Satanás
Depois noutro missal já se deleta.
Espero qualquer curva e a queda após,
Ninguém mais me veria, ledo algoz
Do sonho mais perfeito em primavera,
Que faço se deveras apodreço?
Do amor já nem mais sei seu endereço,
Alimentando apenas a quimera...


049


Artistas entre tantos artesãos
E os olhos no horizonte, mas o dia
Jamais tanto com força voltaria
Cevando os velhos torpes, medos vãos,
E nestes desenhares os cristãos
Entoam a partir da sacristia
A face mais arguta em fantasia
Plantando sobre o solo falsos grãos,
Num desvairado canto sem sentido,
Já não seria mais sequer ouvido
Não falasse de amor e de amizade.
Eu deixo para trás o quanto quis
E seja tão somente por um triz,
Mas não suportaria qualquer grade.

50


O quanto faço o verso em aldrabice
Tentando até decerto me enganar
Pudesse ter apenas num olhar
O que sei na verdade se desdisse
Não quero e não suporto esta mesmice
A vida num eterno permutar
Tramando cada vez outro lugar
E quando se percebe, uma tolice.
Reparto cada porto de chegada
E vejo novamente a velha escada
Degrau após degrau até que ao fim
Inverta este papel e num mergulho
Encontre meu lugar em torpe entulho
Voltando de onde um dia, outrora, vim.


51

Comprar gato por lebre a cada dia
E crer num grande amor onde não há
Sequer a menor sombra e desde já
Felicidade ao longe não se via.
Restando muito pouco, eu poderia
Tentar acreditar, mas sei que lá
Aonde este horizonte não dará
Esconde a realidade amarga e fria.
Participar da peça, ser bufão,
Um tosco e divertido e desde então
Ao chafurdar nas lamas do passado
Reparo cada cena como outrora
O texto novamente se decora,
Porém este cenário é desolado...


52


Sarcasmo: velho artífice de um sonho
E sei já decorada a mesma história
O amor se traduzindo por vanglória
Pressente este final, mero e bisonho,
E quando neste palco enfim me enfronho,
O texto eu já conheço de memória
O tanto que pudesse ser vitória
No fim desta comédia eu me reponho.
Representando assim a vida em cena
O quanto da verdade não serena
Nem mesmo nas coxias da esperança.
O medo não traduz a velha frase
E quando este espetáculo se atrase
Platéia noutra cena já se lança.


53


Procuro quem esmere o sonho quando
Espalho a minha voz aos quatro ventos,
Mas quando me percebo em desalentos
O tempo na verdade está mudando
Cenário noutro palco iluminando
O risco de sonhar em sofrimentos
Um histrião repara seus lamentos
Ousando noutro fato até nefando.
E desvairadamente perco o rumo,
O tanto que pudesse e agora esfumo
Resume o meu delírio, ser poeta.
O vandalismo esboça a farsa à toa,
A voz deste palhaço ainda ecoa
E a vida noutra vida? Não completa...

54

As achas da esperança eu já não vejo
E se achas muito bom o ser assim
Perceba os meus retalhos e do fim
O corte se aproxima e me apedrejo.
O verso noutra forma, novo ensejo,
Maltrata enquanto acende este estopim,
Vasculho cada canto e de onde vim
Apenas um momento em tal lampejo.
Segredos? Não mais quero nem detenho,
O marco se mostrando mais ferrenho
Traduz num velho espelho a face horrenda,
Esgarço a cada dia mais um pouco
Até que no final se me treslouco
O olhar sobre a platéia já se estenda

55


Apuros que enfrentei sem ter por que
Não servem de argumento, pois a vida
É desta mesma forma presumida
E nela a multiface já se vê
O risco de sonhar; busco e cadê?
Sem ter sequer a chance de saída
Mergulho noutra forma e resumida
A sorte não valia o que se crê
Pecado acreditar num sonho apenas
E ver onde decerto me envenenas
Num bote anunciado, serpe espúria.
Depois não adianta reclamar,
Fortuna nunca muda de lugar
Restando ao sonhador, medo e penúria.


56


Aborrido com toda a imprecisão
Da vida quando dita novamente
O quanto se declara e sempre mente
Marcando em carne viva; outro verão
Os dias lamentáveis mostrarão
O corte quando o faz profundamente,
E bebo da sofrível aguardente
Tentando novamente a provisão.
A carcomida idéia de futuro
Aonde nada quero ou asseguro
Somente uma promessa vez em quando,
Mas tudo não passando de fantoche
Do quanto a própria história já deboche
O risco a cada dia se aumentando.


57


Do lauto e mais fantástico festim
Entregue às tão famintas, vis bactérias
Assim ao destroçar velhas matérias
Trazendo o meu início de onde vim,
O crânio se esfacela em rum e gim,
Apenas vou tirar eternas férias
E nelas outras tantas menos sérias
Servindo para ausência e etéreo fim.
Não vejo mais sinal de vida alguma
E quando a minha sorte se acostuma
O olhar tão negligente diz bem pouco,
E cada vez que posso traduzindo
O todo noutro pouco mesmo findo
Fingindo pela vida ser um mouco.


58


Fazendo do meu sonho esta Babel
E nela me confundo totalmente,
Enquanto nova voz a vida tente
Permutas me levando ao ledo céu,
Repare como a vida em tom cruel
Esboça alguma luz mesmo clemente
E quando o meu final já se pressente
O pendular delírio dita o fel.
Alheio ao que virá insisto ainda
E bebo cada gota onde se finda
A minha merencória e tola luta
O quanto caminha não se anuncia
A sorte com terrível ironia,
Fingindo-se de mouca, nada escuta.

59

Venha aqui, veja logo o que se passa
E saiba muito bem o quanto existe
Num velho coração amargo e triste
Exposto sem saber, leda fumaça,
A poesia vira uma cachaça
Dizia outro poeta e quando assiste
Traduz novo cenário, e o velho em riste
Resiste quando a vida diz trapaça;
Pudesse acreditar na sorte em festa
E ver o quanto a vida dita e atesta
Num ácido momento quando em vez.
Pressentimento diz da alma cigana,
Mas quando a realidade tudo dana,
O quanto pude crer, já se desfez.

60


Matando o tempo assim, açodo a vida
E beijo cada boca mais atroz.
Negando ao caminhante qualquer foz
A carne na verdade carcomida
O peso do sonhar, ninguém duvida
Derrama desatando velhos nós
E sei do quanto pude ser o algoz
Enquanto uma esperança eu vi perdida
Relatos anotados num bilhete,
São erros que ao passado já comete
Quem tenta no futuro outra vertente,
Mas quando se aproxima e vê de perto
O sonho se inda resta, eu já deserto
Enquanto o fim da festa se pressente.


61

Curiosos, quando muito, são meus dias
Envoltos na penumbra da esperança
E quando se presume uma mudança
Medonhas tempestades me anuncias,
E vejo desta forma as fantasias
E nelas nada além dita a fiança
À morte o desengano já me lança
E nela desvendando as poesias;
Amortecendo a queda pelo menos,
Os dias pós mortalha são serenos
E os medos não resistem ao funéreo
Jazigo perambula em noites vãs
Fazendo das esperas as manhãs
E nelas o passeio segue etéreo...

62


Atrizes entre tantas que eu conheço
Traduzem os meus dias num só ato,
E quando esta verdade enfim constato
O amor já não repara este endereço,
E vejo o contra-senso e me enlouqueço
Enquanto a fantasia não resgato,
Apenas tão somente eu me debato
Tentando caminhar sem o adereço.
Espezinhando a vida aonde pude
Matar o que sobrara em juventude,
Marcando a ferro e fogo o desencanto,
Espúrio cantador além da sorte
Não tendo qualquer luz que inda comporte
O medo noutro rumo eu agiganto.


63

Trabalho pelo amor à poesia
E nada mais conforta quando alguém
Ainda mesmo ultraje, mas já vem
Tramando com sarcasmo ou ironia.
O tempo de viver já não se adia,
E o canto no final dita o desdém,
Vencido caminheiro sabe bem
Do quanto a cada sol capotaria.
Espalho o meu cantar e quem quiser
Ouvir a minha voz, seja qualquer
Canteiro aonde reste alguma flor,
Apenas jardineiro da palavra,
No quanto o coração mais nada lavra
Não tenho mais sequer onde me pôr.

64


Não quero mais quiméricas loucuras,
No cinzelar dorido; a voz se escuta
E na delícia feita da cicuta
Destino mais suave me asseguras,
Acordos desolados, vãs e escuras
As noites onde tento uma permuta,
Eu sei quanto a saudade é mais astuta
E dela bebo em goles e farturas.
Antigas partituras, melodias
E quando na verdade me dizias
Dos sons onde irradia o coração,
As cordas de um singelo violão
Fazendo da esperança o seu ponteio,
Dizendo com razão que sigo alheio.


65

Encharcas com teus nãos os meus anseios,
E tanto pude crer no quanto fora
A sorte muitas vezes tentadora,
Porém são meramente devaneios,
E sigo afinal por velhos veios
Palavra com certeza é sonhadora,
A morte minha grã progenitora
Amamentando em belos, fartos seios.
O tanto quanto posso e inda me iludo
No olhar sem horizonte, mais sisudo
Dizendo deste tempo atroz, severo,
Mas quando qualquer luz já se anuncia
Um tresloucado insano busca o dia,
E como fosse bênção eu o espero.


66

Motivos para tal; louco ufanar
Em glórias na real, falsificadas
Gerando novamente vãs escadas
Até que possa enfim já mergulhar,
Não tendo mais certeza nem lugar
As honras compartilho e sonegadas
Palavras traduzindo e me degradas
Matando qualquer brilho de um luar.
Esgoto meu delírio em tua foz,
E sei do quanto dói pensar em nós
Depois de tantos anos, desafeto.
E singro este oceano em ilusões
E logo a realidade tu me expões,
Mas mesmo assim o sonho eu não deleto.


67


Pudesse algum Mecenas, ou até
Um bêbado, quem sabe um velho pária
Mudando desta sorte a luminária
Rompesse com a fúria esta galé
Da sorte nada vejo nem sopé
E tento novamente a procelária
Ousando em poesia, quando é vária
A forma de expressar carinho e fé.
Não vejo, sendo um velho decadente
O quanto do passado ainda alente
O fim em tragicômica loucura
Apuros? Reconheço, são demais,
Aonde se pudesse e nunca mais
O risco de sonhar nada assegura.


68


Metade deste palco nada diz
Enquanto outra metade diz tampouco,
O risco de sonhar é ficar louco
E mesmo assim seria mais feliz,
Reparo no passado e o chamariz
Estanca a minha voz, e quase rouco
Bebera na verdade muito pouco
Do quanto poderia pedir bis.
Assino a minha tétrica alforria
E gero com terror o que teria
Apenas um alento e nada além,
Esgares caricatos num espelho,
Em frente ao tal cenário eu me ajoelho,
E espero o que decerto nunca vem.



69

Já se anuncia o fim da velha peça
E nada mais eu quero nem aplauso
O tempo sem juízo nunca pauso
Nem mesmo qualquer queda ora se impeça;
Recuso imitações, e sigo assim
Sem eira nem ter beira, mesmo quando
O peso noutra cena me envergando
Traduz este espetáculo chinfrim.
Ao rebuscar palavras dentro em nós
Melhor seria mesmo não dizer,
O gozo se anuncia em desprazer
E o paraíso vem louco e veloz
Os velhos camaradas do passado,
O riso na verdade ora invernado.

70


A vida se embaralha e nega a carta
Dos ases e coringas, nem sinal,
O rito se mostrara sempre igual
Enquanto a fantasia me descarta,
No todo que deveras se reparta
Eu bebo do começo até final
Arisco caminheiro original
O corte na verdade se comparta.
Na presumível luz, não tendo sorte
Sem ter sequer um cais aonde aporte
Saveiro da esperança naufragara,
E quando me percebo Crusoé
O risco de sonhar diz bem quem é
Patético senhor desta seara.



71


Ao pregustar a vida noutro instante
Desejos misturando dor e gozo,
Caminho tantas vezes tortuoso
Aonde este vazio se garante,
Pudesse ser talvez bem mais galante
Gerando outro delírio generoso,
Mas quando se mostrasse caprichoso
Cenário nada diz, nada adiante.
Se quando fui mesquinho também foste,
O tanto que perdera não arroste
Nem mesmo se transforme num troféu
Resisto o quanto posso, mas sei bem
Que após a tempestade nova vem
Eternizando a bruma no meu céu.


72


A noite que irei ter já me traduz
O nada aonde imirjo o sentimento
E quanto se apresenta e ainda tento
Buscar qualquer caminho e sem luz
O risco na verdade reproduz
O tanto que bebera em desalento
Arisco companheiro deste invento
Revelo ao coração audácia e pus.
Esgaratujo a face desdenhosa
De quem se diz feliz e nada goza
Somente bebe até fartar e dorme,
Aprendo quanto custa o sonho quando
O tempo noutro encanto desando
Demonstra um caricato e vil disforme.


73

No seio farto e nu de quem se ama
A fonte inesgotável de ilusões
E quando esta beleza tu me expões
Renova ao mesmo instante a antiga chama,
Assim eu me percebo e volto à trama
Aonde já pensara em previsões
E nada do que tanto recompões
Transcende à velha poda desta rama.
Eletrizante mundo e nele enfrento
Tentando ser deveras quase o centro.
Porém neste beiral eu me avizinho
A queda não se evita, é costumeira
E quanto mais um sonho já se queira
Maior o tombo e o mundo é vão, mesquinho.


74

A pífia realidade diz do vago
Delírio e nele tento nova fonte
E quando com certeza nada aponte
Enfrento o vendaval e já me alago,
Arisco desenhar de um sonho mago
E nele o terminal fica defronte
Resulto no final da velha ponte
E o peso que carrego diz afago.
Alheio ao quanto vir; sou aliado
Do todo enquanto perco meu passado
Vislumbro outra figura assemelhada
De tanto procurar e nada ter,
Vasculho qualquer luz e sem prazer
A vida resumindo nesta estrada.


75


Valha-me Deus se eu posso ainda ter
A sorte que buscara e nunca vinha
A luz quando encontrei se fez daninha
O mundo semeando o desprazer,
Agora se apresenta o amanhecer
E gesta com ternura nova vinha,
Marcando a messe em senda onde se aninha
O gozo merecido do querer.
Apresentando ali outra ilusão
Deveras perco rumo e direção
O cais se embaralhando à minha frente
Ainda que pudesse ser assim,
O tempo não traduz e dita o fim
Aonde o meu delírio me apascente.


76


Se agradar ainda posso e mesmo tento
O riso em discordância da platéia
Não dando para mim menor idéia
Expressa a realidade em sofrimento,
E quando me examino mais atento
Escombro do que um dia fora déia
Esta alma não se vendo tão plebéia
Entrega o coração ao torpe vento.
Imaginários dias do futuro
Apenas no vazio e; te asseguro,
São como imagens torpes retorcidas,
Escória tão somente o que inda sobra
A morte penetrando em cada dobra
Deixando para trás as despedidas.

77

Pudesse por o cérebro em sossego
Depois de tanto infausto; vida afora
Amor que dentre amores inda aflora
Gerando na verdade um desapego,
O riso se anuncia e sendo pego
Num templo aonde o tempo tem sua hora
Esta alma desditosa ainda implora,
Porém o pensamento é qual pelego.
Arrasto estas correntes pela casa
A vida noutra face já se atrasa
E a morte bate à porta novamente.
Aonde quis sorriso, nada disto
Apenas ao final, ainda assisto,
E o quanto ainda resta o sonho mente.


78


Contando em cheio quem pudera
Saber desta falácia costumeira
Ainda quando a sorte assim não queira
Apenas vejo além esta quimera,
O vento noutro tempo nunca impera
E morre sem saber desta bandeira,
Mas quando esta mortalha é mais ligeira
Sorrindo num sarcasmo a sorte, fera.
Esparso caminhando sobre o nada
E esgarço cada fase desta estada
Prenunciando o fim em ironia,
E quanto mais veloz se contradisse
O tempo com certeza sem mesmice
A sorte noutro tom demonstraria.


79


Vendo o poeta alheio ao sentimento
Não vejo qualquer luz nem poesia,
Aonde o imaginário se irradia
Expressa o que deveras sempre tento
E quando não existe ainda invento
E bebo desta mesma hipocrisia
E nela em consonância refaria
O passo rumo ao velho pensamento.
Açodo o paraíso quando busco
Um tempo mais tranqüilo; jamais brusco,
Restauro com cinzel mais delicado
O verso que procuro e assim acalma
Tomando ora de assalto o corpo e esta alma
Desenho muita vez mal acabado.


80


Um êxtase supremo, embasbacado
Barragens do passado eu não suporto
E quando o meu caminho ali aborto
Expresso da emoção qualquer recado,
Findando a poesia sigo ao lado
E quanto mais audaz, mais me recorto
E tento novamente e assim reporto
Ao todo que imagino desolado.
Representado em mim ato final,
O tísico demônio sempre igual
Traduz o quanto encontro em tal Mefisto,
E sei que tão somente sou estorvo
No aplauso remissivo deste corvo,
Porém ainda atento o nada avisto.


81

Enquanto por quem és tu me deixaste
Numa cruel e vã condenação
Meus olhos, outros dias não verão
Tamanho fora estrago, vil desgaste
E o quanto em minha vida transformaste
Deixando para trás esta estação
Aprendo a cada tempo um novo não,
E assim a queda faz sem ter nem haste
Vasculho e na verdade nada encontro,
Do amor que imaginei, o desencontro
Presume a solidão e então me calo,
Depois de mais um tempo tentaria
Ao menos conhecer a fantasia
Já que do sentimento eu sou vassalo.


82

Para ajudar quem tanto bem quisera
Expresso novamente em verso e canto
E nada encontrarei, temo e garanto,
A solidão vagando à minha espera,
O tempo na verdade degenera
Meu passo se transforma e sem encanto
O todo imaginado, outrora tanto
Agora revelando a fria fera
Esboço de um momento em alegria
Enquanto com certeza nada havia
Somente a fantasia, tola esperança
Nesta totalidade mais cruel
A vida desconhece luz e céu
E ao mais escuro em mim enfim avança.


83

Ao desancar o mundo em riso e gozo
O temporal deveras agressivo
Permite a solidão e já me privo
De um dia mais tranqüilo e prazeroso
E quando noutro tempo pedregoso
Meu sonho se perdendo no nada eu crivo
A voz neste temor tão doloroso.
Erguendo o meu olhar sem horizonte
Aonde esta incerteza ainda aponte
É lá que eu deveria ter a messe,
No tanto que me perco dia a dia,
E morta dentro em mim a fantasia
Apenas vendaval meu mundo tece.


84


Queria que esta voz não se calasse
E o vivo sentimento já tanto rude
Porquanto a própria vida desilude
E muda num momento tez e face,
Ainda que decerto o nada eu grasse
Matando em nascedouro a juventude,
Não posso permitir outra atitude
Senão a solidão, meu ermo impasse.
Restauro cada engodo quando tento
Vencer os dissabores; sofrimento
E arisco sonho escapa pelas mãos,
Os dias mais felizes? Mera sombra
Do nada que deveras tanto assombra
Deixando em aridez os dias vãos.


85

Nos foros naturais eu tento a sorte
De quem já poderia acreditar
Fortuna se entregando sem lutar,
Porém o meu caminho não suporte.
E vejo aonde houvera atrás um norte
Apenas o vazio a se formar,
E quando perambulo devagar
O rio se secando sem aporte.
A liberdade alheia ao verso e o canto,
Provoca tão somente e assim a espanto
Cativo da ilusão e da esperança.
Risível camarada do sombrio,
Enquanto o meu delírio aqui desfio,
A vida no vazio ora me lança.


86

Servindo os meus afetos de bandeja
O tanto que pudera ter nas mãos
Refém dos dias turvos, artesãos
Da dor em tempestade onde troveja.
O todo se perdendo e me apedreja
Matando em nascedouro novos grãos,
Reparo no passado e sei dos chãos;
Tendo alma sem juízo e mais andeja.
Atravessar ao fim esta avenida
A quem se denomina messe ou vida
Não vale mesmo a pena, mas eu tento,
Resisto o quanto posso e a queda vem,
Depois de certo tempo sem alguém
Morrendo sem sequer algum fomento.


87


Com que prazer subjugo esta vontade?
Insaciavelmente busco a paz,
E o quanto do passado isto me traz
Mostrando além da queda nova grade,
Espalho pelos cantos tempestade
E bebo o sortimento mais mordaz,
Mas quando em descaminho a vida faz
O tanto que busquei tranqüilidade.
Sou néscio e necessito pelo menos
De dias mais suaves ou amenos
Venenos espalhados pelos ares.
E quando novamente vejo a fresta
Somente percebendo outra tempesta
Aonde sem proveito desfilares


88


Buscasse uma harmonia onde eu creio
Apenas no tumulto dentro em mim,
A farsa se aproxima do seu fim
E o canto se mostrando sem rodeio,
Vagando sem juízo em devaneio
Bebendo insaciado deste gim,
O corte se apresenta e sei que enfim
Mortalha se mostrando e sem receio.
Marcando em dissonância cada passo
O tanto quanto eu posso tento e faço,
Mas nada se traduz no quanto espero,
E arisco sentimento, amor não vem
E quando deste encanto sigo aquém
O mundo se apresenta mais severo.

89


Absorvo deste mundo as dores onde
Meu canto não consegue a libertária
Vontade que se fez em luminária
E nada se inda busco me responde,
Medonha face exposta corresponde
Ao quanto consegui em tez tão vária
E nisto não serei uma alimária
Há tanto que perdi desejo e bonde.
Marcada em tatuagem minha pele
Ao tanto quanto posso me compele
Confere nova face e mesmo assim,
O nada reassume o tom venal
E o quanto imaginar outro degrau
Apenas de um inferno este estopim.


90


Expandindo depois de tantos anos
Os erros mais comuns que cometera
Acendo este pavio e sei da cera
E nela outros delírios, desenganos,
Arrisco a caminhar por entre os danos
E tanto quanto pude me esquecera
Da vida aonde a sorte se escondera
Deixando tão somente trapos, panos.
Escusas não resolvem o problema
Ainda tanto luto e a vida algema
Quem fora no princípio; um sonhador.
Depois de tantas pedras no caminho
Percorro o quanto resta e vou sozinho
Do espinho imaginando a bela flor.




A vida indiferente a cada engodo
De quem se fez além de meramente
E tanto quanto busca já pressente
Futuro entremeando charco e lodo,
O passo se mostrara quase todo
E nisto outro delírio mais freqüente
Pudera caminhar e; impunemente,
Trazendo a mesma face sem denodo.
Reassumindo os erros eu prossigo
E sinto mais distante algum abrigo,
Viceja dentro em mim apenas isso,
O rumo se perdera e sem sentido
O corte noutro instante resumido
Num velho desenhar, vão, movediço.

92


Torcendo no tear o quanto pude
Viver em alegria no passado
Agora este cenário desolado
Transforma qualquer passo ou atitude
E quando a vida toma e desilude
Não tendo outro caminho já traçado
Mergulho no vazio e alvoroçado
O canto noutro fardo se transmude.
Assino esta alforria e o pensamento
Exposto sem defesa ao forte vento
Vagando em liberdade enfim se cansa,
Amordaçada voz de quem cantara
A vida semeando outra seara
Deixando alguma messe na lembrança.


93


Aonde esta discorde sorte alcance
A vida não teria um só momento
De paz, porquanto ainda busco e tento
Sabendo qualquer coisa num relance,
E tanto quanto possa já se canse
Quem vive farta dor, num sofrimento
Aonde poderia alheamento
E toda a sordidez ao fim me lance.
A cena se repete em novo tempo,
Assumo cada engano em contratempo
E vago sem saber qualquer um porto,
Quem tanto quis a luz, agora é cego
E quando no vazio enfim navego,
O meu caminho sempre semimorto.


94

Enquanto se embatendo sonho e vida
A ausência dita as cores do cenário,
E o passo sendo sempre temerário
A dura realidade então se acida.
E a morte noutro instante sendo urdida
Explode como um mal, mas necessário
E o risco de vencer um adversário
Aonde se apresenta a despedida.
Nefasta luz ditando o pessimismo,
E quando no vazio ainda cismo
Tentando vislumbrar a solução
Meus pés agora inchados, doloridos
Os dias entre as sortes esquecidos,
Apenas os rancores se verão.


95


O quanto da fieira diz do sonho
Aonde meu caminho se desfez
Gerando tão somente a insensatez
Enquanto ao novo tempo eu me proponho,
E assim ao me mostrar bem mais tristonho
A face desolada que ora vês
Traduz o que restou da lucidez
Deixando o dia a dia enfim medonho.
Legado de outras eras, priscas eras;
E delas novos dias degeneras
E trafegando em vão nada acrescenta
Senão a minha tez dorida e frágil
Esconde esta vontade de ser mais ágil
E poder enfrentar qualquer tormenta.


96


Vivificando a escara mais profunda
A vida não permite uma ilusão
E sei que novamente se farão
As dores onde o nada ora se inunda,
Uma alma seresteira e vagabunda
Vagando noite inteira na amplidão
Condena-se decerto à servidão
Na prece aonde o morte se oriunda.
Esbarro nos esgotos, na sarjeta
E quanto mais querendo se cometa
Errático fantasma que eu carrego,
Espalho pelos cantos ventania
E o resto do meu tempo não veria
Sequer o amanhecer, ausente e cego.


97


Tantos seres diversos num só ser
Assim dicotomias usuais
Presumem erros vários e fatais
Aonde quis somente algum prazer
Não tendo mais sequer tempo a perder
Adentro sem defesa os vendavais
E bebo destes vinhos magistrais
Moldando pelas ânsias do poder,
Mas sei o quanto disto é muito falso,
Apenas despistando o cadafalso
Mergulho nesta imensa fossa aonde
A queda prenuncia a morte certa,
Vontade de viver quando deserta
Nem mesmo uma esperança nos responde.


97


Unindo num convívio improvável
Os erros e os acertos de quem ama,
Eu tento manter viva e acesa a chama
Num canto aonde o vira interminável
Desejo se mostrando em insondável
Delírio tantas vezes nos inflama,
Depois ao renascer o velho drama,
O tempo se mostrara inconsolável.
Estendo os meus destinos onde pude
E sei da morta algoz, a juventude,
E desta ansiedade tão fugaz,
O quanto pude crer e não sabia
Da dor e da temível rebeldia
Que a vida a cada instante teima e traz.


98


Transforme em tempestades; as paixões
E deixe para trás qualquer pegada
Aonde novamente vislumbrada
A sorte não se esconde nem a expões,
Resumo ao me envolver nestes verões
A dita num delírio revelada,
E o tanto que não fora desta alçada
Tomando sem sentido as direções.
Resulto deste insano caminhar
E busco qualquer tempo outro lugar
E nele me esquivando do que outrora
Ainda percebera vivo em mim,
Chegando num instante ao ledo fim
Minha alma no vazio já se ancora.

99


Ao acender os sóis dentro de mim
Não percebeste a dor e o prejuízo
Aonde caminhar era preciso
Apenas o delírio resta enfim,
E sendo desta forma chego ao fim
E bebo a sorte enquanto me matizo
Grisalho companheiro sem juízo,
O amor também espera e diz seu sim,
Medonha falsa imagem, garatuja
E nisto algum errático se suja
Fazendo do andarilho outro poeta,
A morte não consola quem porfia
E luta sem sabe da hipocrisia
Gerada pelo mal que a corresponde.

100



No caminho da amada solidão
Os ermos que apresento vez em quando
Descendem do vazio e moldando
A morte de outra vaga sensação
Não posso mais negar a divisão
E neste delirar me desdenhando,
O corte se aproxima e me mostrando
Apenas a fatal indecisão.
Luzeiros, luminárias; nada vejo
Somente a mesma face do desejo
Jogado sobre as pedras, desalento,
E quando novo tempo ainda invento
O tanto que pudesse ser sobejo,
Não resta dentro em mim um só momento.

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