Bom dia, meu amigo. A vida não sossega
E deixa que se veja a sorte mesmo cega
Vagando noite e dia aonde não pudera
Vencer a tempestade, até sendo sincera.
“Bom dia companheiro, a gente em vão navega”.
Decerto que isso possa ainda se carrega
Traçar outro sentido em luta mesmo austera
Marcando o que tentasse em nova primavera.
“Eu soube num jornal, desses que mais indiscretos
Dos termos do divórcio, em fatos que concretos
Permitam-me saber somente da falência
Aonde te envolveste?” Eu sem qualquer ciência
Daquela que se fez amiga e companheira
Agora pelo ralo, expõe a vida inteira.
---
Em Lara concebera a minha redenção;
“O amor é mesmo assim, início dita o não”.
É. Mas de que adiante acreditar se o nada
Expressa com certeza a rude madrugada
E dela o que se bebe imerge em solidão?
“ Talvez se aprenda enfim o rumo da ilusão...”
Percorro a velha trama exposta nesta estrada
E a lua me iludindo, há pouco iluminada,
Nos bares entre luz diversa e inebriante,
“Porém somente o ocaso, a vida nos garante”.
Amei e sei destarte a vida sem sentido,
E quando a dissecando, agora dilapido
O que fora esperança. “É fato contumaz,
Aonde adentra o amor, esquece-se da paz.”
---
Vamos sentar um pouco; a noite mal começa.
“Perdoe-me, querido, eu tenho tanta pressa...”
Mas não te custaria ouvir por um momento
Quem sabe a minha história expressa em desalento
Podendo te ensinar aonde se tropeça
E nisto cada engano, enfim já se confessa,
“Quem vê no amor o rastro audaz de algum fomento,
Encontrará decerto a dor e o sofrimento,
Eu fico aqui contigo. Há tanto o que te ouvir,
E assim também aprendo o quanto corrigir”.
De Lara, lembras bem, ou mesmo que confusa
A imagem da mulher que vindo se entrecruza
Com toda a maravilha expressa num olhar
E nele este poder de tanto inebriar.
“Sinceramente amigo, a imagem se recusa
A ter além da sombra, às vezes mais obtusa
De algum sorriso ou mesmo um passo a divagar
Sentada noutra mesa aqui ou noutro bar”.
Pois bem, mas pouco importa; isso não necessita
Apenas vou dizer do quanto era bonita,
A perfeição no rosto exposto em maquiagem
Promessa de quem sabe a magistral viagem,
Baladas noite afora, e até discretamente
Divina criatura, a sílfide envolvente.
Um dia, num domingo, em Ipanema, eu acho,
Apresentei-te sim. “Apenas mero facho
De uma lembrança ou outra, e nada mais além”,
Mas pouco importa agora, o quanto resta e tem.
Só sei que num instante, a vida este diacho
Descera numa enchente adentrando o riacho,
E o que pudesse ser talvez de mais ninguém
Olhava para mim, irônico desdém...
“O amor que tanto engana apresentando enfim
Dicotomia tanta e nela o que há em mim
Explicará quem sabe, ou mesmo tentará
Traçar uma resposta, aqui além ou lá.”
Mas quando se apaixona, um imbecil se torna
Tentando imaginar mais quente a noite morna.
---
Um ano ou pouco mais, semana após semana
Aí é que se vê o quanto a gente engana,
Um dia em dança e festa, outro momento em glória
E construindo assim a nossa mesma história,
Bebendo da esperança enquanto não se dana
A própria sensação audaz e desumana
Do que hoje me deixara, um resto, alguma escória,
A vida se reflete e sei tão merencória.
“Garçon, outra cerveja”. Um gole de conhaque.
E assim se preparava a vida para o baque,
Entre motéis e sonho, apenas o vazio.
“Não posso te dizer do amor em desvario
Somente o que me resta é ouvir-te e nada mais,
Um barco sem timão enfrenta os vendavais?”.
Até de casamento, um dia eu a falei
Só sei que na verdade, ao fundo eu nada sei.
“A gente aprende assim, a cada nova queda,
O passo no vazio, expressa aonde enreda
E trama o que pudesse e nisto mergulhei
Até que decifrasse, a vida em tola lei”.
Jamais tive tal sorte e sei desta moeda
Que tanto nos ferindo ao dia além nos veda.
Em juros vou pagando o quanto fui otário,
E vejo sem sentido algum o itinerário
Do prazo que termina, a noite em rara neve,
No tropical cenário, aonde isso se atreve
Marcando de uma vez o que deveras vês
Trazendo tão somente a espúria estupidez.
Durante certo tempo acreditara em Deus.
“Mas o que tem a haver alhos com tais bugalhos?
Os erros com certeza, amigo, foram teus.”
Os passos sem sentido eu sei quanto são falhos,
Nem Hércules pudera envolto em tais trabalhos
Saber da sutileza em tais penduricalhos
Deixando qual saída apenas este adeus,
Levando para sempre os sonhos que eram meus.
“Mulher é complicada. Eu sei e não renego”,
Porém quando bonita, alimentando este ego,
Também é perigosa, e sei quanto mimada”.
Um dia nos diz tudo e noutro quase nada,
Invariavelmente, um ser quase hormonal,
A boca traz o doce, e amarga em fel e sal.
9
Mas deixemos de Lara. A vida como vai?
“O passo que me traz, também o que me trai.
Um novo amanhecer pudesse noutro instante,
Mas sei que no final, o nada me garante
E a poesia agora ilude e me distrai,
Talvez, não te garanto, eu seja um novo pai.”
Quem é esta sortuda? O mundo é provocante,
Enquanto em minha queda aos pouco te agigante.
Durante um ano e meio eu quis a rara sorte
De ter com quem amasse o bem que me conforte,
E nada no final, estéril? Talvez seja,
Ou tenha em Lara a sorte atroz e malfazeja.
Bebamos com fartura, um brinde cai tão bem
É tudo o que decerto agora nos convém.
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Porém com espumante. A vida se apresenta
Em rara fantasia após qualquer tormenta,
O início após o fim renova esta esperança,
E o tempo noutro instante além agora avança;
“Não quero chatear”. Amigo, se acrescenta
A luz aonde possa e nisto me apascenta.
Tornando bem mais suave e até ousando mansa
A doce sensação que agora nos alcança.
Rogério, companheiro, eu vejo tanto brilho
No teu olhar amigo, e nisto compartilho
Tanta felicidade, aonde redimisse
O sofrimento atroz, vencendo esta mesmice,
De um mundo sem sentido que sinto desde aqui,
Após lacrimejar, minha alma ora se ri.
“Já são três horas querido, e a vida seguirá,
Preciso com certeza e sinto desde já
Necessidade imensa, apenas de um descanso.
O dia foi corrido e quando agora alcanço
Certeza que por certo o tempo mostrará
De um renascer em sol, e nisto brilhará
No olhar de quem sofrendo encontrará remanso
Aonde se verá o tempo em tom mais manso.”
Agradecendo então a bela companhia,
Permita que te abrace e até já poderia
Fazer algum pedido que tanto me alentasse,
Que quando esta criança mostrasse a sua face
Em nome da certeza de um grande e bom carinho
Eu pudera do petiz, quem sabe ser padrinho?
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Não. Não divido a conta, é toda minha, amigo,
Por ter me ouvido e sei do quanto hoje consigo
Ao menos descansar depois de tantas horas
Aonde não sabia enquanto agora ancoras
E sei do quanto pude acreditar e sigo
Vencido pelo nada em pleno desabrigo,
O término do sonho e nisto agora afloras
Trazendo tão somente a paz onde demoras.
“Não há de quê parceiro, e siga a vida em paz,
O vento que me trouxe agora é bem capaz
De nos levar além do quanto poderia
E assim ao fim de tudo ao ver a fantasia
Rondando o nosso sonho e nisto mergulhando
Num mundo mais diverso, às vezes rude ou brando.
Cena 2
Num quarto de hotel com uma decoração típica destes “motéis” de beira de estrada. São três horas da tarde e um casal deitado seminu na cama conversa com um misto de prazer satisfeito e ansiedade.
“Rogério, então Ricardo ainda não desconfia
De nada, mas é bom saber que qualquer dia
A direção do vento em novo rumo possa
Mudar este caminho e aí o que foi troça
Numa explosão qualquer mudando a cercania
Trazendo tão somente o que inda me agonia
Gerando sem sentido o medo, a dor e a fossa
E nisto o que se traz em nada nos apossa.
Cuidado companheiro, eu sei que na verdade
A sorte se traçando enquanto nos degrade
Exploda e já no fim, o todo se apresente,
Não se esquecendo amor o quanto que é doente
Quem faz do sentimento além de algum apoio
Bem mais que a sensação imensa de um comboio.”
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Não se preocupe Lara, eu tenho tais cuidados
E sei dos dias tais aonde enamorados
Pudemos desvendar de nós estes segredos
E cada vez que eu vejo a fúria dos enredos
Em passos mais sutis e neles desenhados
Futuros entre os quais olhando para os lados,
Deixando no caminho os ermos bem mais ledos
Na profusão da sorte envolta em nossos dedos.
“Eu acredito amigo, o amor não tem juízo,
Mas neste nosso caso eu sei também preciso
Vencer o descaminho e ser bem cuidadoso,
Ricardo poderia e sei quando antegozo
Expressa outro cenário e nisto a nossa sorte
Talvez nos encaminhe enfim até à morte”.
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É só ter paciência e prosseguir após
Vencer a discordância e sei que em mesma foz
A vida não pudera trazer outro caminho
Vivendo sem sentido aonde eu já me alinho
No amor em providência e nisto sei que em nós
O tempo se mostrasse além de um fato atroz
Gerando o que inda possa e nisto me avizinho
Da imensa sensação de dor, temor carinho.
“ Mas mesmo assim querido, é preciso saber
Do quanto a sorte traz angústias no prazer
E escancarando o sonho, a vida se desnuda
E nisto com certeza uma expressão de ajuda
Presume alguma luz e nela a claridade
Que tanto nos seduz, embora nos degrade”.
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Porém eu não consigo e não quero viver
Distante de quem tanto ensina que o prazer
Permite novo passo ao claro sentimento
Aonde o que inda tenho encontro enquanto invento
Ainda que se veja um duro alvorecer
A noite vale a pena e sei do teu querer.
“Amado não se esqueça e nem por um momento
Que quanto mais feliz, o sonho onde me alento
Permite a caminhada em luzes bem mais fortes
E a cada novo dia assim tu me confortes
Gerando esta esperança e dela me alimento,
Vivendo em alegria e em luz todo momento”.
Lutemos, pois por isto e seja como for,
Sabendo que ao final vibramos neste amor.
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“De qualquer forma querido, é bom seguir atento,
A direção do dia a dia expressa o vento
E nessa vida eu vejo a vária conformação
Da lua imensa e bela em diversa sensação.”
Uma hora da tarde? “Eu sei”. Novo cenário invento
E nisto se aproxima o que possa o pensamento
Moldando cada momento e nesta satisfação
A vida já se prestando ao que possa desde então;
Amanhã? Talvez quem saiba? Eu te ligo amada,
A sorte se transforma e muda a caminhada
E nisto se apresenta agora e doravante
Cuidado sempre é pouco, o resto se garante
Ainda mais se sabe o quanto agora vês
Na incerta, mas sublime espera na gravidez.
Cena 3
Ricardo sentando na sala de casa, em ambiente à meia luz, vestindo um pijama e deitado no sofá.
( ensimesmado)
A vida realmente expressa variáveis
Da sorte. Enquanto alguém encontra os mais prováveis
Caminhos para a paz, e nisto se permite
Pensar além de tudo em superar limite
Em encontros mais vis, os tempos demonstráveis
Expressam o vazio e nele intermináveis
Cenários onde o todo em dor já delimite
O quanto muito aquém e embora necessite
Viver cada momento enquanto poderia
Traçar o ensinamento aonde em alegria
A luta demonstrasse alguma nova senda,
Porém sem ter a sorte aonde se desvenda
O brilho da esperança em cada olhar que aponte
Mudando a direção, além deste horizonte.
18
Já nada mais concebo e vivo a solidão
Sabendo que em verdade a luta fora em vão.
Em tal dicotomia o quanto não mais vejo
Sequer do que pudera em ânsias de um desejo
Tramar outro momento em nova embarcação
Ou mesmo novo amor e ter a dimensão
Exata do que eu tenha a cada raro ensejo
E ter nesta ilusão, um dia benfazejo.
Produzo do que fora um tempo mais feliz
A sombra perseguindo e nisto tanto eu quis
Embora saiba bem o quanto me restara
Deixando mais obscura enfim esta seara
Após a negação da minha fantasia
E a morte se aproxima em dor e em ironia.
Porém quem sabe um dia eu possa mergulhar
Nos braços do futuro e ter onde ancorar
O barco sem destino em louco timoneiro
Vencendo o quanto resta, um peito aventureiro
Depois de imensamente adentrar cada mar
Aonde imaginara o tempo a se mostrar
Desnudo e sem cansaço, ou mesmo por inteiro
Ousando neste cais, quem dera o derradeiro.
E agora que encontrara a tal felicidade
E Lara se mostrasse enquanto tanto agrade
Tramando na verdade o infausto de um momento
E nisto esta mortalha enreda o pensamento,
E nada do que eu pude agora se presume,
E deixa dentro da alma, apenas vago ardume.
Um dia até quem sabe a sorte modifique
O quanto ainda tenho e nada mortifique
O sonho de um espúrio e louco trovador
Imerso no caminho atroz de um raro amor.
A vida-inundação agora estoura o dique
E a minha embarcação encontro sempre à pique
Matando pouco a pouco o quanto fora ardor,
Secando em meu jardim, amortalhando a flor.
Mas Lara há de pensar e ver no que passamos
Os dias mais gentis, a sorte em claros ramos
Frondosa esta esperança e nela outro momento
E nele todo o sonho ainda hoje fomento,
Só sei que no final, o que me restará
Depende do que eu viva e sinta desde já.
( toca a campainha)
Não irei atender. Mas poderá ser Lara.
Enquanto a dor adentra e a morte se prepara
Um lenitivo ou mesmo alguma novidade
Que possa me trazer ao fim a claridade,
Destarte o que se vendo aos poucos escancara
A sorte desigual e nisto eu sinto amara
A força sem limite e o quanto agora invade
O preço a se pagar reduz a liberdade.
Mas deixa que se sinta o vento mais suave
Enquanto a solidão, deveras já se agrave
E o verbo no passado expressa o que inda vejo,
Marcado pela angústia atroz deste desejo
E se já fui feliz, quem sabe não se importa,
Mas quem será, meu Deus, que está na minha porta?
Com ar de surpresa.
Entra Rogério
Rogério. Tudo bem? E as coisas como estão?
Perdoe aquela noite eu me excedi, mas não
Pudera sem defesa outro caminho ver
Senão esta vontade estúpida: morrer.
Quem sabe no final, eu tenha uma razão
E nela me alimente e beba a imensidão
Do céu ora desnudo e nisto possa crer
Quem sabe que inda reste algum alvorecer.
Mas sei quanto esta vida expressa em quem sonhou
E ao fim desta jornada apenas encontrou
A mesma ingratidão, deveras tão comum,
Dos sonhos mais gentis, não restando nenhum,
Somente esta incerteza e nela me alimento,
Tornando à flor da pele o imenso sofrimento.
“Não tem de quê, amigo. Eu entendo a revolta
A vida se repete e traz em nova volta
O quanto já se viu e nada mais pudesse
Senão tal refletir em leda e vaga messe
Minha alma também vejo enquanto além se solta
Talvez necessitasse, o sonho de uma escolta
E o tempo sem juízo ao nada ora obedece
E sei do que talvez sem rumo nos esquece.”
Só te agradeço o fato e te prometo amigo
Não mais falar do quanto a luta em desabrigo
Neste invernoso mundo audaciosamente
Apenas o vazio e o fim ora apresente,
Mas tenho esta certeza e não irei sozinho,
E a morte que me ronda em Lara terá ninho.
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“Não fale desse jeito, amigo e camarada;
Quem sabe no final, surgindo nova estrada
A velha se esquecendo e vendo que não vale
A pena o sofrimento e nisto o quanto exale
Presuma o quanto veio e na sorte enredada
Ainda veja além a noite enluarada,
Cobrindo a natureza, a deusa com seu xale,
Mostrando esta beleza e nisto a dor já cale”.
Não vejo de tal forma, o tempo se esgotando,
O mundo que desejo aos poucos desde quando
Jamais se poderia ousar onde me aprumo,
Bebendo da esperança ainda inteiro o sumo
Matando quem me mata, eu possa ser feliz,
E nisto o quanto quero, a sina não desdiz.
25
“Ricardo, de tal forma a luta não teria
Uma esperança além e sem qualquer valia,
O fim anunciado em dores, terremotos
Trazendo em tuas mãos anseios mais remotos,
Gerando o que se queira e nisto em agonia
A luz de cada olhar, apenas ironia,
Olhando na gaveta ainda vejo as fotos
Juventude liberta acelerando as motos”.
Eu sei que também tive um tempo mais feliz,
Agora o quanto resta apenas contradiz
Futuro que não veio, olhar sem mais sentido,
E na verdade eu tento enquanto dilapido
O vento da esperança, ou mesmo de outra sorte.
Porém o que me resta, amigo traz a morte.
“Bom, de qualquer forma irei me retirar”
Ainda é cedo amigo, “irei, mas vou voltar
E pense com cuidado; evite tal besteira”
Esteja mais tranquilo, a noite é conselheira,
Quem sabe noutro dia eu possa libertar
E ter no amanhecer em meio à luz solar
Certeza de outro fim, e nisto a verdadeira
Noção do que virá mostrando uma roseira
Arranque este espinheiro e deixe o meu caminho
Bem mais tranquilo e calmo e nisto eu me avizinho
De uma verdade em paz, e consiga saber
Que após a tempestade, eu beba o amanhecer
E renovando a estrada encontre enfim o brilho
E nele calmamente a luz refaça o trilho.
Rogério sai e deixa Ricardo no mesmo cenário. Pensativo...
Ainda que pudesse ao fim desta conversa
Acreditar na sorte enquanto a mesma versa
Pousando num jardim em tom primaveril,
O tempo se anuncia e sei do quanto viu
Na sorte imensamente em nada ora submersa
E esta incerteza mostra apenas a perversa
Ingratidão de um ser amargamente vil
Deixando no passado o que jamais sentiu.
Mas é melhor pensar na forma como agir
E sem deixar sinais, enfim já decidir
O que me torturando agora não permite
Viver e acreditar além de algum limite
E socialmente aceito expresse a mansidão
Embora tal vingança, enfim jamais verão.
Preciso disfarçar e até desconversar
Rogério por aqui? Dá pra desconfiar.
Jamais me visitou. Qual interesse tem?
Mera suspeita? Até pudesse sem desdém,
Mas quanto mais procuro aonde me apoiar
Somente o que inda encontro expondo a divagar
Promete alguma luz e nisto quando alguém
Reflete outro caminho aonde não convém
Mudando esta expressão e nela o que se veja
Vagando sem proveito em senda malfazeja.
Melhor investigar, eu posso estar errado,
Porém por que teria ao fim tanto cuidado?
Pura imaginação; imagem doentia?
“Esmola quando é muita; o santo desconfia...”.
Depois de certo tempo a gente se acostuma
E bebe o que vier enquanto a vida apruma,
Mas nada na verdade expressa realmente
O quanto em traição a sorte se apresente
Somando parte a parte a solução: nenhuma,
E a luz de cada olhar ao fim ora se esfuma
Deixando qual resquício em dura e vaga mente
Depois do quase tudo, apenas o somente;
Quem sabe um detetive? É fácil conseguir,
E nisto o que suspeito eu possa redimir
E ter tranquilidade, o que mais necessito.
Já não mais dormiria, estando assim aflito,
Anúncios num jornal? Talvez a solução
Assim ou durma em paz, ou beba o furacão.
Levanta-se e faz uma procura nos classificados de um jornal até encontrar o que procura e liga então para uma agência de detetives.
Procuro um detetive. Um caso até banal,
Problema corriqueiro, até meio usual
Preciso descobrir se existe traição
Ajuda no compor de uma separação?
Sim, é na verdade um fato conjugal,
Às três da tarde vens? Pra mim está legal
Aguardo com certeza espero a ligação,
É só o que eu preciso. Uma confirmação.
Abraços até logo. Ah, seja sigiloso,
O tempo com certeza é sempre precioso.
( desliga o telefone)
Em pratos limpos, pois agora eu quero ver
Aonde em que cumbuca eu dei de me meter,
O resto é cá comigo, e o que a verdade sele
De Lara eu não queria estar na sua pele...
Cena 5
Mesmo ambiente Ricardo está vestido socialmente e olha ansiosamente para o relógio são três e dez da tarde quando toca a campainha.
Levanta-se para atender e adentra a sala o detetive esperado; ao contrário do que Ricardo esperava adentra uma figura inexpressiva, magra com olhar estúpido e uma imagem que lembra qualquer coisa, menos um detetive.
Sente-se; por favor, eu só precisaria
Ter a confirmação do que no dia a dia
Está me perturbando, embora nada mude
Apenas necessite enfim de uma atitude
E nisto a minha vida em paz eu poderia
Trazê-la novamente em plena sintonia,
Eu sei que na verdade há muito ela me ilude
Só necessito mesmo é ver a magnitude.
“Pode ficar tranquilo, irei investigar
E assim que houver resposta eu venho te contar
Fotografia, filme e tudo o que eu puder
Seguindo qual sabujo os passos da mulher
É minha profissão, minha aparência ajuda,
Depois é sempre assim, no fim um deus-me-acuda...”
Eu tenho uma suspeita e creio que isto possa
Trazer mais claramente a verdade que apossa
Embora corriqueiro eu sei quanto é dorido
Perder no mesmo instante amor já construído
E fique entre nós dois; a vida traz na fossa
A imensa dor da perda aonde fora nossa
A sorte de um momento há tanto revolvido
Deixando para trás o que já não lapido.
Não posso te negar Rogério foi amigo
Durante um certo tempo e agora mal consigo
Andar que me siga e venha com “apoios”
E aonde não se visse ainda alguns arroios
Palavras e conselho, o que estranho decerto
Este interesse brusco aonde houve deserto.
Relembro quando um dia apresentei-o a Lara
A sorte de tal forma assim já se escancara
E diz que não se lembra ou muito pouco traz
A imagem da mulher aonde fora audaz,
Falando de tal jeito e nisto se declara
Realidade além da que inda desampara
O olhar assustadiço e digo até mordaz
Que tanto me transtorna enquanto se desfaz
Numa inconstante face e nela outro momento
Gerado em consistência enquanto o que fomento
Explode em dimensão diversa da que eu vira,
Deixando-se antever apenas tal mentira
E nela o que me resta, esta desconfiança
Mudando a direção matando uma esperança.
“Mas não se preocupe; o que haverá verás
E ao fim de certo tempo, a vida volta à paz,
E sei que deste jeito, a gente se renova,
Deixando no passado a vida em dura prova
Amadurecimento? Assim é que se faz
E nisto o quanto possa ainda ser capaz
Estorvo gera ao fim do amor a amarga cova,
Porém ao renascer a vida se comprova
E trama, esteja certo, apenas outro instante
E nele o que vê decerto já garante
Somente algum sorriso, e até tranquilidade”.
Esta certeza, amigo. É o que ora em paz invade.
E assim seguindo o barco, eu tentarei viver,
Sabendo após a noite, um novo amanhecer.
34
O detetive se levanta e se despede.
Sozinho na cena Ricardo volta a conversar consigo mesmo.
Vingança é o que inda espera esta cadela imunda
E sei do quanto possa e assim o que me inunda
Trará com tal prazer o gosto em mel e fel
No olhar já sem sentido, ou mesmo até cruel,
A sorte de tal forma expressa quão fecunda
A vida onde buscara a parte mais rotunda
Da luta sem sentido em frágil carrossel
Depois de tanto andar sem rumo ao torpe léu,
E agora ao fim da vida, onde outonal me vejo
Eu bebo calmamente o quanto malfazejo
Explode este cenário em rota sensação
Trazendo da vingança a imensa previsão
Da morte sem defesa, esquartejando o sonho
E nele tão somente o quanto em luz componho.
35
Saber da traição já não me bastaria,
Eu sei do quanto vale enfim esta sangria
E trago nestas mãos a fúria que consiste
No olhar já sem temor ou mesmo quando em riste
Trazendo a cada passo a imensa fantasia
Que trague após a morte apenas a alegria
E de tal forma a dor ainda já despiste
Tornando alegre a vida aonde fora triste,
E nada mais terei, e nada além mais quero
Eu posso até dizer que sou sempre sincero
Falando deste jeito enquanto a sorte trace
Depois de certo tempo e nisto sem impasse,
Na furiosa senda, o que me apascentando
Talvez até pareça a alguém um ar infando.
36
Selvageria? Nunca. Apenas o prazer
De quem tanto queria e sabe irá perder
Razão da própria vida em existência vaga,
Sinceramente olhando a ponta desta adaga
A luz que refletisse agora eu possa ver
Tramando deste escuro um nobre amanhecer,
A mão que te tortura, amada a que te afaga
Palavra de ternura, às vezes roga a praga
E traz no fim de tudo a velha fantasia
Aonde o que se visse; e nada mais teria
Somente esta alegria e nela a redenção
Da vida inteiramente exposta em podridão,
Velhice feita em paz e sinto que inda viva
Bem mais do que pudera ainda se cativa.
37
E quanto a ti Rogério, apenas a incerteza
Da morte ou traição daquela que em beleza
Tomasse o pensamento e nada mais se visse
Sequer o que pareça até mera crendice,
Seguindo contra toda a amarga correnteza
E sendo do vazio, apenas mera presa
Ainda que acredite o mundo contradisse
E qualquer desafeto, expressa esta tolice,
Jogado pela vida em praias tão diversas
Olhando para trás, ao fim já desconversas
E nada mais teria inesquecível fato
Aonde o que inda tenha, eu sei e até constato
Pousando neste caos em dúvida venal,
A morte sem defesa, ou engodo banal?
O prazo determina o fim da leda história
Do raro amor que sinto, apenas vaga escória
E nada mais pudesse além deste vazio
E quando o meu caminho expressa o desafio
De quem traz inda vivo em luz brilho e memória
Aonde se quisesse imaginar vitória
Talvez já se mostrasse um ledo desvario,
Porém o que viria enfim eu desafio.
Amortalhando o verso e a solidão atroz
Gestando tão somente o olhar do mero algoz
Num ato mais insano, o corte se aprofunda
E gera do que fora uma alma vagabunda
Insânia ou mesmo até a vida em louca senda
O quanto inda me resta à solidão atenda.
39
No caso que em questão pudesse desvendar
Misteriosamente o tanto a se mostrar
Conforme o que já quis e nisto eu acredito
No canto sem sentido e nele o mais bonito
Resumo de um passado expresso a divagar
Bebendo em luta e tédio os raios de um luar
Há tanto sob a bruma e sei que necessito
Vencer o dia a dia apenas mais aflito,
Escrevo outra expressão e nada mais teria
Senão a mesma face espúria da agonia
Envolto pela sombra e nela me entranhando,
O que pudera ser e deveria; brando
Agora explode em noite amarga em plena treva
E o que inda se fez brilho, ao fim somente leva.
Negar a minha sorte e ter no olhar o fato
Aonde o que inda possa e sei já não constato
Senão a mortandade e nela o que resume
Tornando nauseabundo o caos deste perfume,
Mergulho no vazio e ali sempre retrato
O meu olhar vadio e sei do que resgato
Até que no final, ainda vivo aprume
Depois da negação, e nisto sempre rume,
Não deixarei sequer um rastro, isto eu garanto,
Cobrindo cada parte ainda com seu manto
Espúrio e sem proveito, em turbulência, feito
Sabendo que a vingança é mais que meu direito,
E o todo que perdi já não me importaria,
Apenas o que possa expressando a sangria.
41
De amores vida afora, apenas a certeza
Da turbulência aonde eu fora mera presa
A faca, uma pistola, à bala, a jugular
Rasgando pouco a pouco o que inda a se mostrar
No todo sem sentido a leda correnteza,
A morte não traria ainda sobre a mesa
Deixando para trás o que se fez altar
Satânica vontade e nela me entranhar.
Talvez minha alma agora ainda tenha a luz
E nela o que pudesse embora; eu sei, conduz
Às tramas infernais e delas não mais fuja,
A sorte deixa aquém a cena amarga e suja
Da garatuja viva, ou mesmo do imbecil
Canalha que se faz em tom amargo e vil.
Não mais me caberia acreditar aonde
Fortuna mais ditosa enquanto além se esconde
E traça sem sentido o fim da mesma senda
Enquanto no final a vida já se estenda
Perdi, tenho certeza, há muito o velho bonde
E o corte se moldando e nisto o que responde
Presume tão somente amor conforme lenda
A fúria de quem sabe e nisto ora se atenda
Tola senilidade enquanto se desnuda
A ponta da ilusão deveras mais aguda
Esfacelando assim o que inda poderia,
Ousar noutro momento em nome da alegria,
E apresentar quem sabe, a clara persistência.
Mas sei do meu final em leda consistência.
- toca o telefone.
Já sei o que será e de tal forma espero
Ainda que se mostre um tempo mais sincero
Falando da verdade e nada mais me importa,
Somente Lara exposta agora nua e morta;
Do amor que me salvasse apenas este fero
Retrato distorcido e nele o que mais quero
Pudesse traduzir apenas nova porta
Aberta ao meu futuro; a vida tanto corta
Um porre noutro bar, um gole de conhaque,
Talvez amenizasse enfim o imenso baque.
(atende ao telefone)
Alô, mas é Rogério. Amigo que saudade
Não tenha tal temor, a vida tanto agrade
A quem se fez liberto e sabe muito bem
Do quanto possa o sonho e tudo o que contém.
Há muito desisti de Lara e desta história,
Não resta nem a sombra ainda na memória,
Eu sei quanto o viver supera qualquer dor,
Amor com novo amor, e um dia redentor.
Minha alma já não é, decerto, merencória
Preparo-me afinal e beberei a glória
De ter sempre comigo a imagem de um louvor
No olhar que talvez seja enfim o refletor
E no horizonte o sol renasce com firmeza
Na aurora da esperança eu tendo tal certeza
Podendo caminhar sem medo vida afora,
Apenas o futuro ainda vem decora.
Passado? Há muito é morto, e possa ter no olhar
O dia que virá e em fartura brilhar.
(despede-se e desliga o telefone)
45
Estúpido idiota, assim se entrega mais,
Apenas percebendo o quanto inda me trais,
Eu seguirei diverso e nisto não verás
O olhar de quem se fez atroz e tão tenaz,
Audaciosamente emerso em lamaçais
Terás como resposta os lúdicos cristais;
E no final de tudo eu sei que tanto faz,
Ninguém duvidará do quanto eu quis a paz.
O bote se prepara e em venenos diversos
Jamais imaginando os tons dos universos
Aonde penetrasse a faca, a foice e o tiro,
Vingança em calmaria? Assim é que eu prefiro,
Depois é só seguir a vida em mansidão,
Ninguém mais falará sequer da traição.
46
E Lara apodrecida ou mesmo entorpecida
Jogada sobre um canto entregue e já sem vida
Memória aonde eu vejo o fim de quem traindo
Terá o seu caminho, apenas morto e findo,
E quanto mais a sorte assim sem rumo acida,
A imagem desta vaca eu vejo além perdida,
Do sonho pouco a pouco irá sempre esvaindo,
Remendo torpe horrendo, um futuro mais lindo,
Já pouco caberia ainda por resposta
Até que no final a vida decomposta
Pudesse ter bem mais que mera dimensão
E nisto novo tempo expresso num verão
Trazendo com certeza a luz após a treva
E nisto o meu caminho a vida em glória ceva.
47
Avanço simplesmente e nada temeria
E mostro o quanto trague além de uma agonia
Risonhamente expondo o dia que virá
Marcando o que pudesse e mesmo desde já
No todo que se creia e nisto em novo dia
A vida se desenha em clara fantasia
Rendendo o que se queira e sempre poderá
Trazer a plenitude aonde brilhará
Depois da tempestade o sol enormemente
E a lenta caminhada aonde a paz se sente
Vivendo a liberdade e dela me alimento,
Ainda quando enfrente imenso e tosco vento,
A senda em tal clarão mostrando novo rumo,
Enquanto calmamente em paz ora me aprumo.
48
O telefone toca novamente.
Ah. É o detetive. E enfim traz a resposta.
A face da verdade assim ao ser exposta
Trará talvez quem sabe ao fim a redenção
Mostrando claramente a luz da traição,
Mesmo que no final eu perca alguma aposta,
O quanto se apresenta além da mera crosta
Desenhando a verdade em rude sensação
Que trace com certeza esta libertação,
À tarde, então que seja. Importa-me deveras
Saber ora somente as faces de tais feras
E nelas realidade exposta nua e crua
E assim a vida segue e tudo continua,
Cortante eu sei quanto é a luz que me esclareça,
Mas tenho que manter mais firme esta cabeça.
49
Dentro de pouco tempo as cartas sobre a mesa
A sorte já lançada e sem qualquer surpresa?
Preciso tão somente o sangue bem mais frio,
Evitando decerto um torpe desvario
Seguindo o dia a dia e nisto com firmeza
A vida sempre traz a imensa fortaleza
E quando em desengano ao fim eu desafio
Inverto a direção e sigo o novo rio.
Vencendo a tempestade e mesmo a cachoeira
A sorte de tal forma explode em verdadeira
Faceta o que no fim gerasse claramente
Marcando o quanto queira e nada mais desmente,
Trazendo o respirar em nova vida e eu sei
Da honesta liberdade ao desnudar tal grei.
50
Loucura? Liberdade! E esta vingança feita
Marcando o quanto a vida em paz depois se deita.
Envilecido verme? Um velho sonhador
Exposto sem defesa ao mal chamado amor,
Ainda que a verdade aos poucos já se aceita
Minha alma mais tranquila, enquanto além se deita,
Deixando este caminho e nele nova cor
Gerando em transparência um fato e aonde for
Presumo ao fim do dia, apenas o que possa
Trazer esta alegria aonde já se apossa
A imagem de um futuro expresso em mansidão,
E o preço que se paga, enfim por traição,
Mortalha? Nada disso, apenas o sorriso
De quem em plena vida alcança o Paraíso...
FIM DO PRIMEIRO ATO
SEGUNDO ATO
Cenário – A SALA DA CASA DE RICARDO
Cena 1
RICARDO E O DETETIVE SENTADOS NO SOFÁ.
Conforme imaginei. Então estava certo.
Em fotos, filmes, tudo. O caminho ora aberto
Permitirá divórcio e seguirei em paz,
Muito obrigado amigo, o fato que me traz
Deveras abrirá neste imenso deserto
Saída que eu busquei quando agora desperto
Depois de tanto sofrer deixando para trás
Futuro que virá será menos mordaz.
Viver tranquilamente o que me resta, amigo
Somente a mansidão, doravante eu persigo.
Do passado nem rastro e nem sequer pegada
Saudade se abandona e vivendo nova estrada
Seguirei o que resta em digna solidão
A vida acostumou outra vez, mesmo não...
O detetive se levanta e se despede. Ricardo sozinho em cena conversa com a platéia.
52
Agora é ter cuidado e seguir o meu plano,
Para não cometer decerto novo engano
É melhor ficar quieto e preparar o bote
É necessário, pois que ninguém sequer note
Lara ou Rogério vem nem que demore um ano,
Aí é mansamente estraçalhar o pano,
Verdade talvez seja o quanto já derrote
Na tocaia o que importa é matar o garrote
Cuidando que ninguém perceba este momento
Depois ir devagar; poeira tome assento
E a vida siga em frente, a vingança alimenta
Depois de tanto tempo aplacando a tormenta
Quem sabe encontrarei esta paz que procuro
Perceber claridade em pleno tempo escuro.
Aí possa decerto após a turbulência
Noutra felicidade ou mesmo ter ciência
Da vida mais tranquila em plena liberdade
Enquanto esta agonia além fugindo evade,
Sem medo do que seja ainda uma ingerência
Da tempestade atroz sabendo da incumbência
Desta sorte tão vária em nova realidade
Gerando a paz que tento ao romper velha grade;
Onde quisera amor encontrei traição
E os dias que se vêm em plena solidão
Com certeza trarão enfim a calmaria
Ainda que isto trace outro rumo outro dia
Nada mais pedirei, ao encontrar a paz
Nem que venda minha alma a Deus ou Satanás.
Agora é conceber o que possa fazer
Tanto ressentimento e afinal meu prazer
Apenas poderá apascentar quem tanto
Sofrendo sem parar vencendo este quebranto
Onde toda a vida trouxe a vontade de morrer,
Mas na morte de Lara o meu amanhecer,
E se possa ora dizer olhando em todo canto
Já não trago no olhar a incerteza do espanto
Vou seguir meu caminho em manso passo além
Fazendo o que preciso e deveras me convém
Sem saber da dor ou medo, apenas na vingança
Moldando a claridade aonde o passo avança
E encontrar finalmente a paz que procurava
E mesmo em ferro e fogo, ao eclodir na lava.
55
O quanto noutro dia eu poderia crer
Na espera sem limite ou mesmo apetecer
Pousando mansamente em ares triunfais
Sabendo desde quando, ó Lara tu me trais,
A sorte desenhada agora passo a ver
Negando qualquer luz, matando o amanhecer
E gera entre sutis temores desiguais
Jorrando em tal sangria os dias terminais.
Espero e dado o bote o quanto me faria
Somente com certeza o bem se mostraria
Sangria com sorriso e gozo vencedor
Deixando para trás as travas deste amor
Se louco estou querida? A vida é mesmo assim
Começo dita a sorte início dita o fim.
Jogado nalgum canto apenas já cansado
Do tanto que lutei e fora abandonado
Sem eira e sem proveito, a vida de quem luta
Decerto a cada passo, o todo já reluta
E traça tão somente as tramas de um passado
Andando com a morte e nela lado a lado
Apenas o vazio ou mesmo a dor escuta
No olhar a transparência em força torpe e bruta.
As brumas desta tarde, a imensidão da noite
A vida traz nas mãos apenas tal açoite
E cada vergastada apresentando a sorte
Que tanto poderia e sei que molda a morte
No fim somente vejo o olhar da espúria Lara,
Vingança que; exemplar, fortuna ora prepara.
-Toca o telefone.
Ó que coincidência; estava em ti pensando,
Amada e doce Lara, o tempo está mudando,
Eu sei que na verdade eu penso em amizade,
Tu sabes muito bem o quanto em claridade
A vida se desenha e nisto desde quando
O rumo noutro rumo a sorte desenhando.
Só quero que perceba a imensa liberdade
Do sonho que se dá, e nele o quanto agrade
A quem se fez além de mera companheira,
E sei do quanto amor presume a verdadeira
Vontade de viver, e seja de tal forma
Que nada mais impeça. O tempo se conforma,
Só sei que te agradeço e sigo o meu caminho,
E não estou decerto; amiga, mais sozinho.
Refaço a minha estrada a cada novo dia
E bebo em sutileza o quanto caberia
Da vida sem surpresa ou mesmo penitência
Iria te ligar, e dando tal ciência
Falar do meu futuro e nele esta alegria
Que possa dominar a sorte em fantasia,
Marcando com carinho a nova convivência
Da vida sem temor ou mesmo em inclemência,
Só quero ora te ver e te falar amiga
Da sorte que mudando em paz ora prossiga,
Segredos na verdade eu quero te contar,
Além do que tu tens aqui e vens buscar
Seguir em calmaria o dia em plenitude,
O mundo se apresenta e nada desilude.
Aguardo-te decerto às nove da manhã?
Não tem problema algum, tu vens, pois amanhã?
Sim, eu separarei deveras teus pertences
Estou feliz amiga, até mais do que penses.
Se a vida já me fora um dia tão malsã
Agora o que ora vejo explode noutro afã
Por certo a claridade e nela te convences
Enquanto em novo amor, que a sorte, a recompenses.
Um beijo então querida, e seja sempre assim,
O todo se renova e viva dentro em mim
Na imensa liberdade aonde te encontrei,
Vivendo a plenitude e nela a bela grei
Depois da tempestade a sorte sempre alcança
O quanto se procura, amiga em tal bonança.
60
Desliga o telefone e olhando para a platéia.
Agora é preparar o bote e sem saída
A luta se aproxima enquanto se decida
O quanto, o quando e como eu possa me vingar
E ter a paz que busco inteira em meu olhar,
Já nada mais se vendo e nada mais duvida
Quem bebe de tal sorte e nela decidida
Bem cedinho amanhã, é só saber atar
Um nó em novo nó até que ao sufocar
Não deixe qualquer rastro, a morte se aproxima
E mudará decerto o duro e ledo clima,
Sabendo que em verdade eu livro-me dos dois,
O resto é perceber o que virá depois,
E quieto, sem temor, viver sem mais problema
Rompendo de uma vez o que por certo algema.
Pensei que demorasse um pouco mais, é certo,
Mas quando se aproxima e vejo bem mais perto
A solução de tudo, agora só me resta
Olhar pela janela e ver do brilho a fresta,
Estou até feliz, e nisto já desperto
O coração que atroz aonde foi deserto
Imensidade traz enquanto a paz que gesta
Prepara tão somente ao fim a imensa festa.
Vou descansar um pouco e o tempo me trará
Nesta armadilha a presa e sei que desde já
O bote preparado ao fim se anunciando,
Marcando com firmeza o passo desde quando
Sem deixar nem um rastro, apenas prosseguindo
Enquanto este terror; agora o vejo findo.
Cena 2
A campainha toca e o dia já amanhecera, conforme era esperado, Lara adentra a sala e Ricardo a recebe com toda a cortesia possível e tranquilamente a pede para sentar.
Amiga como estás? “Vou bem, sem novidades.”
A vida nos prepara enfim outras verdades,
Há poucos dias tive uma bela notícia,
A sorte que maltrata a mesma que em carícia
Permite que caminhe em meio às tempestades,
Pois Clara, telefona e fala em novidades
E olhando para trás, revendo uma delícia
Do amor que renasceu após tanta sevícia.
Eu sei que com certeza o mundo sorrirá
E te trará o sonho e nisto ali ou lá
O todo se transforma e gera novo dia,
Enquanto o que importasse ao fim renasceria,
Gerando com firmeza um tempo bem suave
Sem nada que a maltrate e nem sequer agrave.
“Eu fico mais tranquila, eu sei que tu mereces
Felicidade e Deus ouvindo as minhas preces
Permitiu meu amigo um novo caminhar
Após o temporal um claro tom solar
Gerando do sofrer o mundo aonde teces
O quanto poderá viver em nobres messes,
Sabendo na verdade o quanto irás tocar
E Clara em claridade irá te abençoar.
Só sei que no final, a gente então se ajeita,
E fico com certeza até mais satisfeita,
Olhando no horizonte e vendo outro caminho,
Estou só, mas feliz, pois não estás sozinho,
As minhas coisas levo; e deixo para trás
Somente esta certeza: amigo é bela a paz.”
Eu separei e sei que tudo está conforme
O jeito que deixaste e esta saudade enorme
Depois de certo tempo, a gente sempre esquece
A vida tem seu fluxo e assim já se obedece
Do modo que se quer e em paz enfim se dorme,
A casa que caiu, a sorte ora reforme
Ladeira quando sobe após a gente desce
Também tenha a certeza estás na minha prece.
Aguarde só um pouco, eu tenho aqui comigo
Uma lembrança minha e quero estar contigo
Qual fosse simplesmente espécie de amuleto
E toda a boa sorte, anseio e te prometo
Em doação te passo o carro que comprei
E sei que gostas tanto. Espere, eu voltarei.
Deixa sobre a mesa a documentação de um automóvel, um papel em branco . Lara sentada aguarda calmamente.
Quando de súbito ele por trás se aproxima e com uma caneta na mão direita entrega-a e pede que assine.
65
Aqui, eis a caneta e assine; por favor,
Qual fosse uma lembrança a mais do raro amor
Que um dia fora nosso e nele esta certeza
Da vida renovada e nesta tal surpresa
Aceite com ternura e nisto a te propor
Somente o que pudesse em claro e qual louvor
Jogando mansamente a carta sobre a mesa,
O tempo vence tudo e nesta correnteza
O fim que imaginaste agora se transforma
E bebo do futuro a vida em grande forma,
Ousando ser feliz em plena liberdade.
Porém o que te deixo, amiga de verdade
Traduz merecimento e nada mais se veja
Somente sua vaca, a sorte malfazeja.
- aproxima com a mão esquerda um revólver da fronte de Lara que o olha assustada e percebe que caíra em uma armadilha.
66
“Então é deste jeito o teu presente, cão?”
É o quanto já merece o preço em traição
Pagando com desconto o quanto preparaste
Demônio, vagabunda, encontra o que deixaste
Escreva nesta porra em toda a dimensão
O que te dito agora e sem qualquer senão,
Depois pode seguir e vai sem ter desgaste
Viver a tua vida enquanto assim te afaste
Do meu olhar vadia e siga em tua vida
O quanto mereceste e sei da desprovida
Verdade que te ronda espúria traiçoeira
Que seja a tua sorte amarga e derradeira,
Logrando num instante encontrar afinal
Em Rogério decerto um rumo amargo e igual.
67
Escreva vagabunda: - eu quero te dizer
Que a vida me levando ao próprio bel prazer
Permitindo pensar com toda calma agora
Expressa o que por certo aos poucos já se aflora
E faz depois de tudo a quem eu fiz sofrer
Negando melhor sorte e mesmo o alvorecer,
Para evitar problema, a consciência ancora
Em sonho tão diverso e faz que sem demora
Eu possa doravante apenas resumir
A vida noutro sonho e nisto redimir
Engano aonde um dia o coração tocara
Voltando para além, na original seara
Deixando para trás o quanto em sofrimento
A vida transformara, e sei em desalento.
Rogério, meu amado, o tempo nos ensina
Que tudo começando um dia já termina
E sei que na verdade o quanto se aproxima
Aos poucos modifica e gera um novo clima,
A imagem que retenho; ainda cristalina
Traduz a imensa sorte e nela a nossa mina,
Porém o quanto vale apenas tal estima?
O amor que se perdeu ou novo onde se esgrima
Expressa tão somente o fim em dor e medo,
E quanto ao meu futuro, é certo tal degredo,
Perdoe cada mágoa ou mesmo esta agonia
Enquanto a luz trouxera o todo que viria,
Vejo este iridescente aspecto, mas no fim,
O colibri domina inteiro o meu jardim.
Não fale com Ricardo, eu já me despedi,
Ele nem percebera o quanto houvera aqui,
Levando o que pertence a quem se fez a amante
E nisto o que puder a trama mais constante
Encontra no cenário o quanto mereci,
Se eu sigo solitária eu vivo amado em ti,
Só peço não procure e deixe doravante
Que eu siga em mansidão a vida que adiante
O passo após o passo em rumo à liberdade
Talvez ainda encontre após a tempestade
A minha calmaria, uma bonança aonde
O tempo sem temor ao todo corresponde,
Um beijo meu amado, e esteja disto certo,
Cansada da batalha, em paz ora eu deserto.
70
Vamos, assine logo e depois podes ir.
Dinheiro; tens aqui e possas prosseguir
Ao teu torrão natal em plena liberdade,
Apenas não te quero aqui nesta cidade,
O mundo se anuncia em teu novo porvir,
Quem sabe num puteiro ou onde decidir
A vida prosseguindo em plena claridade,
Porém eu só exijo enquanto a sorte evade
Que deixes todo mundo em paz e simplesmente,
E se pensar voltar, aviso não invente,
Aí perco estribeira, e caço-te no inferno,
Nem olhes para trás, aonde fui tão terno
Serei tenha a certeza o mais venal possível
E nisto o que verás não parecerá crível.
Ela assina o papel, e se levanta, pegando suas coisas e olhando para Ricardo responde iradamente.
“Agora satisfeita esta vontade espúria
Já não mais restará deveras tal incúria,
Entendo tua fúria, mas saiba que no fim,
O estio tomará inteiro o teu jardim,
E não venha sequer com tons de uma lamúria
Nem mesmo suportando a dor de tal injúria,
No fundo o que se faz e sei dentro de mim,
A consciência limpa expressa tudo assim,
Rogério? De quem fala? Eu não conheço, mas
Só sei que seguirei a minha vida em paz,
Voltando para os meus ou mesmo noutro rumo,
O quanto ainda tenha, eu bebo inteiro o sumo,
Espero francamente algum momento aonde
O que virá decerto ao fim já te responde.”
72
“ Eu tenho a consciência em plena mansidão
E sei que na verdade os dias que virão
Serão em liberdade aonde quer que eu vá
E não suportaria o que vivera cá,
Qual fosse com certeza a amarga escravidão,
Vivendo dia a dia com esta sensação
Da amarga fantasia e nela o que virá
Expressa tão somente o que jamais fará
Tal sorte eu merecia? Apenas por amar
Quem tanto um dia fora e não soube lidar
Com raro sentimento em nobre caminhada
Depois de tanto tempo o duro é ver que nada
Valeu, somente o frio em cada olhar sem nexo,
O que houve entre nós dois? Nem mesmo anseio e sexo.”
73
“ Verdade eu sei que dói, mas viva a tua vida,
E deixa que o meu passo, em paz ora decida,
Viceje a primavera aonde fora estio
E beba o que deseja a sorte em desafio,
O olhar quando em temor, deveras sempre acida
Preparo sem pudor a minha despedia,
E depois disso tudo, eu sigo por um fio,
Descendo calmamente as margens de tal rio,
O carro? Nunca o quis, tampouco o teu dinheiro,
O amor de minha parte, eu sei foi verdadeiro
E seja como for, o que vier eu traço,
Meu mundo noutro rumo eu sigo em novo passo
Não deixe a sordidez marcar o teu destino,
Nem mesmo o quanto venha em brilho cristalino.”
Então não me traíste? Espere um pouco e veja
As fotos? Eis aqui, safada e malfazeja
Quem é esta vadia? Acaso não conheces
Prepare sua vaca a maldição das preces
E saiba que cansei e a paz que se deseja
Merece muito mais do quanto ora se almeja
Repare cada foto, e veja não esqueces
Terás ao fim de tudo a sorte que mereces.
Encontro finalmente o fim da nossa história
E nada mais levando ainda na memória
Apenas o que um dia imaginara além
Do quanto tanto pude e sei que me convém
Vivendo a plenitude e nela sem limites
A tua liberdade? Eu sei e necessites.
Olhando para as fotos, ela assusta-se e responde titubeante.
“Mas não sou eu, querido, as fotos não são minhas,
Aonde quer que vás, percebas que as daninhas
Imagens que aqui vês impedirão de fato
O sonho – ser feliz, que em ti vejo e retrato,
Enquanto noutro rumo, eu sei que ainda vinhas
E mesmo em solidão, percebas quanto espinhas
O tempo noutro rumo eu vejo-o mais ingrato
E após a tempestade, o que sei e constato
Expressa finalmente o quanto se desenha
Deixando no caminho apenas já convenha
Seguir outro cenário e sendo sempre assim,
A nossa bela história eu luto até o fim,
Quem te mandou? Foi Clara. E veja que bobagem
Qualquer computador faria tal montagem.”
76
É bem possível, creio até que talvez possa
Viver tranquilamente a vida sendo nossa
E nela se desenha apenas o futuro,
Querida quanto a quero e sei, ou mesmo juro
Felicidade enfim, aos poucos já se apossa
E bebo minha sorte enquanto a vida endossa
O todo que virá e nisto eu me asseguro
Do tempo aonde o todo assim eu configuro
Vencendo qualquer medo, e de tal forma siga
Sabendo que em ti vejo além da grande amiga
A senda preferida, o rumo desejado
E nisto com certeza o paraíso invado
Bebendo a claridade e tendo noutro passo
O todo que se anseia e o rumo aonde o traço.
E celebrando a vida espero que tu venhas
Singrando este oceano e nele já contenhas
O tanto quanto eu amo e sei que ora virias
Bebendo com beleza a sorte em poesias,
O amor sendo o braseiro o desejo diz lenhas
Mantendo aceso o fogo e nisto agora empenhas
Vibrando em consonância encontro fantasias
E nelas o que possa e sei tanto querias,
Amada me perdoe, e vamos vida afora,
Deixando para trás o quanto desancora
A sorte em rumo tolo ou mesmo sem sentido,
E quanto mais te quero amor ora lapido
Vivendo em plenitude o tanto que te quis
Quem sabe de tal forma eu seja mais feliz?
78
“Decerto eu te farei sentir esta verdade,
O amor quando demais, ainda mais já brade
Tomando sem defesa a vida que se quer
Irei com mais firmeza e sendo esta mulher
Que tanto te permita além da liberdade
Viver o que se quer farta felicidade,
E vindo o quanto possa e mesmo o que vier,
Não deixo para trás o quanto foi sequer
A sombra de um tormento em dura senda, fria,
Marcando o que inda possa em novo dia a dia,
E tendo em teu olhar, a vida que desejo,
Amado prosseguindo e tendo em azulejo
O céu hoje brumoso e tenso, pois que saiba
Que toda esta beleza em nós deveras caiba.”
79
Beijando-a, mansamente, acariciando-a...
O quarto nos convida; uma saudade imensa
E nisto o quanto quero e nisto se compensa
A vida sem tormento ou mesmo em desigual
Caminho que pudesse além do triunfal,
Eu quero e não se esqueça o amor em voz intensa
E nele cada gozo expressa a recompensa
De um tempo que se vendo; expressa magistral
A sorte desenhada intenso e raro astral,
Beijando mansamente esta suave pele,
Ao todo que se quer, desejo nos compele,
E tendo desta sorte o quanto mais queria,
Deixando para trás a noite amarga e fria,
Revivo num instante, a glória em perfeição,
E bebo em tua boca, a doce sensação.
80
E por te amar demais, já não conheço a dor,
Somente o que virá em paz, raro louvor,
Desvendo este segredo e bebo calmamente
Tocando com ternura o quanto se desmente,
Vivendo francamente além do que propor,
O rumo benfazejo, expressa cada flor
E nisto o que se quer, ainda se apresente
Tomando num instante, o corpo esta alma, a mente
E numa sensação sobeja em tom profundo,
Nos ermos de teu mar, deveras me aprofundo,
E beijo tua boca, os seios, na nudez
Do amor que sem temor a gente sempre fez
E neste caminhar encontro o que perdi,
Tocado com fervor no imenso frenesi.
81
“Vontade não retarde e venha dominando
O quanto te desejo amado desde quando
Um dia conhecera a sorte benfazeja
De quem tanto se anseia e sabe o que deseja,
O mundo no teu mundo aos poucos entranhando
A bela fantasia aos poucos nos tocando,
E quanto mais se quer encontro o que se almeja
Uma alma se desnuda enquanto em paz traqueja
Ousando na esperança e dela novo rumo,
O quanto te desejo e sei sempre consumo,
Decerto uma surpresa enfim irei dizê-la
E talvez redimindo em magistral estrela
A noite em tempestade aonde se afigura
Deixando para trás, a sorte amarga e escura.”
“Amor nos premiando após tanto desejo
Expressa o que virá e sei que agora vejo
Há tanto, pois queria e agora posso até
Falar que realizo o sonho feito em fé.
Um mundo sem igual, encontro quando almejo
Enquanto no passado houvera medo e pejo,
A sorte se desenha e sei já por quem é
A vida se apresenta e dita na maré
Cenário tão diverso e nele se percebe
Diversidade imensa ousando em mesma sebe
Do todo que se quer e traça novo encanto
Mudando desde agora o que eu anseio tanto,
E nesta maravilha agora quando a vês
O bom Deus me permite enfim a gravidez!”
83
À parte.
Confirma, vagabunda o que no fim sabia...
Mudando de tom, olhando-a carinhosamente.
Motivo para festa e em rara fantasia
O mundo se apresenta e traz novo detalhe
Aonde o que puder decerto ora se espalhe
Notícia sem igual e nela se veria
O sonho desejado e brindo em alegria
Sem nada que atormente ou mesmo agora falhe
O amor em profusão trazendo onde batalhe
Gerando devagar o todo que se quer
Marcando o dia a dia, o corpo da mulher
Que tanto desejei e agora em raro brilho
Virá depois de tudo, um nosso e belo filho,
Felicidade tanta eu sei que não mereço,
E todo o bem da vida encontrou endereço!
84
Vamos comemorar; amada, esta notícia
E nisto se prepare, e sei que com malícia
O corpo desejado, anseio sem igual,
Gerando esta vontade além do ritual.
Eu tenho um espumante. E com tanta carícia
Podemos desfrutar; enfim esta delícia
Prepare a camisola e nesta magistral
Vontade consumida, a sorte triunfal.
Espere-me no quarto, irei me preparar
Nascer crescer e após, vamos multiplicar
Aonde fomos dois, agora somos três
Bendita minha amada, a tua gravidez,
Espere que decerto o tanto que te quero
Trará neste momento o brilho mais sincero.
“Amado saiba bem do quanto quero e mais
Vencer a tempestade e mesmo os vendavais,
Vibrando em consonância agora e vida afora
O todo que se quer e nisto já se ancora
O barco da esperança e em ti encontro o cais
Depois de perceber os tantos temporais,
A sorte se desenha e nisto amor aflora,
Já nada mais impede o amor que nos devora,
E sei que no final, tanta felicidade
É tudo o que se aguarde e sei o quanto invade
O sonho de uma vida há tanto sem sentido,
E o passo que se dá presume o decidido
Caminho aonde o todo expressa o que virá,
Amor se traduzindo em nós como um maná.”
“ Irei tomar um banho, aguarde meu amado,
E o quanto em nosso quarto, anseia este esperado
Momento em raro brinde à vida que contenho
E nela com certeza uma expressão do empenho
Do amor que em raro amor se faz abençoado
Deixando o sofrimento à margem, no passado,
O pranto sem sentido, o medo que desdenho,
A vida em claridade, imenso e nobre cenho,
Na gravidez que trago a sorte se aproxima,
Mudando devagar, o duro e torpe clima,
Trazendo em plenitude o amor que se deseja
E assim a nossa vida, agora benfazeja
Trará em plena voz a sorte mais diversa
E nisto o que passou o tempo desconversa...”
87
Eu sei que na verdade uma explosão em glória
É tudo o quanto eu quero e sei desta vitória
Mudando a direção dos ventos que virão
E nisto se presume a rara sensação
Deixando para trás a sorte merencória
Traçando o dia a dia em nobre e bela história
Marcando o que virá sem ter a solidão
Que desde sempre fora um vil diapasão,
Mergulho num instante e vejo em cada abraço
Amada o que eu desejo e o tempo em paz eu traço
Numa expressão divina, o mundo modifica
Tramando o que em verdade apenas glorifica
Brilhando num momento um horizonte em paz
E nisto esteja certa uma alma satisfaz.
Aguarde-me querida, então no nosso quarto,
O amor que se deseja enfim ora reparto
E bebo em mansidão a vida que virá
Deixando para trás o medo aqui ou lá,
A dor do meu passado; agora, enfim descarto
E sei do quanto possa e mesmo estando farto
Renovação em vida, aos poucos mostrará
O todo que desejo e nisto se verá.
Durante tanto tempo o quanto mais sonhei
Agora se apresenta e quase como um rei
A vida em meu castelo expressa a magnitude
E nada que virá decerto desilude
O coração sem medo e nele esta certeza
Moldando o que virá em nobre fortaleza.
89
Deixando para trás a sorte sem sustento
No amor que se desenha além do sofrimento,
No renovar do passo, o quanto se queria
Tramando com certeza apenas a alegria,
E saiba que decerto o tanto que ora tento
Expressa o quanto venha e nisto sem tormento,
A luta se desenha enquanto se anuncia
A sorte noutro rumo em plena fantasia,
Amada, sei da glória e dela meu futuro
Encontra em nosso filho o porto mais seguro,
Já nada mais se vendo, apenas a certeza
Do encanto que se faz e nisto sou a presa
Do amor multiplicado e nele esta expressão
Gerando o que virá em nobre gestação.
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“Então; amor, o espero, e sei o quanto anseio
Deixando para trás o quanto em devaneio
A vida em plenitude agora se expressara”
Amada então aguarde, um pouco mais ó Lara
“Decerto então querido, o mundo sem receio
Prepara tão somente a sorte enquanto veio
Traçando no final a bendita seara,
E nela o meu caminho em paz já se escancara.
Seguindo sem temor, olhando para frente
O todo que se queira agora se apresente
Marcando com ternura o passo que virá,
E desta boa sorte o amor renasce e já
Presume o que se quer enfim neste momento,
E o sonho sem limite, agora em ti fomento.”
Ela se levanta e segue casa adentro ouve-se o barulho de um chuveiro ao longe.
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Nisto o telefone toca.
Rogério? Como estás? Lara? Esteve aqui
Não sei por onde foi. Ao fim me despedi
Deixou, acho uma carta e nela me avisando
Que não mais voltaria, e iria não sei quando,
Não. Não fala quase nada apenas no que li,
Retornando à família, acho que em Miraí
Parentes tendo lá, outro rumo tomando
Apenas com certeza enfim já demonstrando
Vontade de seguir seu passo mundo afora
Depois te mostro a carta, e sei que sem demora
Somente em despedida e nada mais senão
Pegando sua tralha em nova direção
O mundo deixa ver o quanto em fantasia
A sorte se desenha e nada mais traria
Perdoe meu amigo, é tudo que ora posso
Dizer e na verdade o mundo fora nosso
E sei que tão somente o fim ditando a sorte
Restando para mim a dor, o medo e a morte,
Mas sei que no final apenas me remoço
E vivo coletando em mim vário destroço
E de tal forma sigo enquanto me conforte
A solidão no peito, e sendo bem mais forte,
Caminho eu refarei e nele com certeza
Vencendo a solidão em tal clara destreza
Podendo imaginar o que me resta ainda
História de um amor que agora sei já finda
E bola para frente a vida não termina,
Apenas outra fase expressa nova sina.
Despede-se e desliga o telefone.
E dirige-se para a platéia.
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Não me resta mais nada, apenas a verdade
E dela o que se vê trazendo a liberdade
Depois do sofrimento, esta confirmação
Da gravidez de fato e nela outra expressão,
O tempo se conforma enquanto a dor invade
Gerando após o lodo a nova tempestade,
Quem dera se isto fosse a chuva de um verão,
Vulcânica loucura expressa esta explosão.
E o vento que anuncia a imensa noite em bruma
A sorte quando a quis agora enfim se esfuma
E segue este caminho e nada mais consola
Apenas neste herege anseio que me assola,
O fim se aproximando e a vida agora traz
Imagem mais sutil deste final em paz.
Durante muito tempo, o amor fora meu rumo,
E quando pouco a pouco em novo passo esfumo
Encontrarei somente o quanto mereci?
Só sei que do que sei o mundo vejo aqui.
A vida me negando o todo em podre sumo,
Caminho tão diverso e agora já resumo
O que mais desejei e sei quanto perdi
Meu mundo sem sentido, é mais que percebi,
Um filho? Vagabunda! O que queres de mim?
Cavaste na mentira o ledo e torpe fim,
Esta odiosa face espúria se revela
Na sordidez do fato, eu vejo esta cadela
E o crápula o canalha? É caso pra depois,
A vida moldará a morte destes dois.
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Um tempo se anuncia em nova dimensão
E sei que no final as horas moldarão
Sem medo do que venha a face mais sutil
Do quanto desejei e sei que não se viu,
E pacientemente eu vejo a direção
Aos poucos este inverno entranha em tal verão
Deixando para trás o rumo atroz e vil,
A carta em minhas mãos conforme se previu.
Restando muito pouco, apenas este bote
E nada mais se vendo ou mesmo se denote,
Amigos, a verdade ao fim, pois reinará
A casa em tom brumoso, a sala este sofá,
O vento na janela o tempo em meus umbrais
Notícia desta vaca? Eu sei que nunca mais.
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Durante muito tempo, o amor fora meu guia
E ser feliz, somente, o tanto que eu queria,
Um tiro ou mesmo dois, e a sorte me liberta
A porta do futuro agora estando aberta
Já nada mais transcorre além da fantasia
E sigo sem temor, ou mesmo uma agonia
A fúria que domino; anseio já desperta
A direção se faz e mostra o quanto é certa
A dimensão do todo enquanto se anuncia
Bem mais que meramente as faces da agonia,
E após o quanto resta encontro finalmente
O todo que desejo e vejo em minha frente
Rompendo do passado, apenas esta grade,
Olhando em meu futuro a imensa liberdade.
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Se eu fui feliz um dia? Aposto até que sim,
Nem sempre fora estio atroz em meu jardim,
Aroma da esperança ou mesmo de uma rosa
Tornando a minha vida até mais caprichosa,
Mas tudo que começa, eu sei tendo o seu fim,
A morte há muito tempo está dentro de mim,
Aquela que já fora a deusa majestosa
Agora se desnuda em senda pedregosa,
(Ouve-se o desligar do chuveiro.)
Já terminou seu banho. A sorte então me assola
(falando em voz alta)
Coloque minha amada, a bela camisola
Aquela transparente e avise, por favor,
Quero comemorar, contigo imenso amor
Beleza sem igual, amada onde se fez
Bendita seja então a tua gravidez...
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Uma voz surge em resposta.
“Espero-te querido, agora estou aqui
E vejo finalmente em doce frenesi
Esta beleza farta em raro e grande amor,
E nisto com certeza encontro tal louvor
Depois de cada sonho aonde me perdi,
No amor de minha vida, o quanto o colibri
Em plena primavera oscula a sua flor
E sabe superar no sonho este louvor;
Perfume delicado, o corpo em ânsias tais
Momentos onde possa em tons tão magistrais
Viver sem ter sequer a dor da solidão,
Renasce nossa vida, e nela este verão,
Em plena maravilha a doce fantasia,
Do amor que se promete além do que eu queria.”
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Entrando numa porta lateral, ouve-se apenas o som enquanto sobe uma cortina de fumaça sobre a sala.
Querida; estás sublime e sinto o teu perfume,
Permita que desnude enquanto em ti me aprume,
O amor quando nos une e traz novo futuro,
O passo já vencendo o tempo amargo e escuro,
Nisto se ouve um grito e sons de tapas e murros.
E tome sua vaca, esgoto podre estrume,
Que todo o teu caminho em merda se resume
Rogério no final eu sei e até te juro
Também o seu quinhão terá; eu asseguro.
E dane-se vadia, o filho que carregas
Daquele vagabundo, ainda quando negas
Eu sei que eu merecia até pior a sorte,
Mas irás descansar, e após a tua morte,
Também em plena paz eu seguirei querida,
E te vendo partir, recuperar a vida!
Ouve-se o estampido de uma bala, outro tiro após
E FECHA O PANO.
FINAL DO SEGUNDO ATO E DA PEÇA.
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