quinta-feira, 25 de março de 2010

HOMENAGEM A MARIO DE ANDRADE

" Soneto "
Aceitarás o amor como eu o encaro ?...

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

1


“Que nasce das adorações serenas”
O amor enquanto em nós força motriz
Dizendo na verdade o que mais quis
Além do que deveras tu serenas,

As ânsias de um desejo sendo plenas
Nem mesmo o próprio tempo contradiz,
A sorte se esvaindo e a cicatriz
Da qual e pela qual tanto envenenas

Marcada a ferro e fogo dentro da alma,
E nela se percebe enquanto acalma
A dor de ser do sonho adorador,

Viver sem ter somente este caminho
No qual e pelo qual tanto em aninho
Por ser assim somente um sonhador...


2

“Que nasce das imperfeições. O encanto”
Das mais sublimes noites, ou vazias
E quando noutra sorte tu porfias
Mudando num momento o que ora canto.

A sorte se mostrando em turvo manto,
As horas muitas vezes bem mais frias,
Matando o que deveras fantasias
Cevando tão somente algum quebranto,

Esgarçam-se palavras no não ser
E tendo nos meus olhos desprazer
Amanhecendo em mim triste alvorada,

Depois do quão queria nada vindo,
O tempo de sonhar agora findo
Não deixa sobrar nada sobre nada.

3

“Que grandeza... a evasão total do pejo”
Mudando o que pensara mais venal,
E agora se percebe cais e nau
Traçando outro caminho no qual vejo

A solução deveras desejada
Há tanto por mais altos sonhadores,
E sigo por destino aonde fores
Trazendo ao coração suave estrada.

Mergulho num abismo feito em luzes
E nele me proponho outra saída,
Diversa da que tanto decidida
Em versos mais comuns tu reproduzes.

Excêntricos luares, noite mansa
E agora uma esperança em vão me alcança...

4


“A realidade é simples, e isto apenas”
Permite que se creia noutra senda
Aonde a minha sorte se desvenda
Em noites sossegadas e serenas
Pudesse navegar contra as marés
Ouvindo a tua voz suave e mansa,
O coração deveras se esperança
E rompe quaisquer medos e galés.
Viver sem ter perguntas simplesmente
Ultrapassando assim qualquer limite
Além do que talvez não se credite
E mesmo quando o tempo nos desmente,
Transformo velha dor em poesias
Enquanto em belos sonhos tu me guias...


5


“Também mais nada, só te olhar, enquanto”
Caminhas pela casa seminua
Minha alma em sonhos tantos continua
Tomando esta beleza como manto.

E nada do que fora se repete
A vida se renova e mesmo assim,
No amor sendo princípio, meio e fim,
Felicidade enorme nos compete.

Raiando em luzes fartas, coração,
Numa alvorada feita em raro brilho,
As sendas mais douradas ora trilho
Sabendo dos momentos que virão

Traçando assim um claro amanhecer
Envolto pelas sanhas do prazer...




6


“Não exijas mais nada. Não desejo”
Senão a rara glória de sentir
Nos olhos mansidão como o porvir
Em tantos caminhares, mais sobejo

Viceja dentro em mim a primavera
E traça estes canteiros mais bonitos,
Aonde se pensaram noutros ritos
A vida se transforma e se tempera

Nas ânsias do prazer onde se vê
Os rastros desta lua ensandecida,
Assim ao partilhar, contigo, a vida,
O amor tem as certezas de um por que.

Não posso me esquecer do quão preciso,
O sentimento feito em Paraíso...


7


“Olhar preso no meu, perdidamente”
Espelha e se reflete em plena luz
Ao quanto este querer já nos conduz
Eternidade em vida se pressente.

Não posso me esquecer cada momento
Vivido ao lado teu, imensa glória
A vida que pensara merencória
Encontra finalmente algum alento.

E sinto ser possível ter nas mãos
Felicidade feita em raro brilho,
E quando nos teus olhos, maravilho
Cevando da esperança finos grãos,

Um árido caminho do passado,
Agora em alegrias cultivado...


8


“A perna assim jogada e o braço, o claro”
Desejar invadindo esta seara
O quanto do desejo se declara
No amor que tanto quero e é meu amparo,

Vivendo sem perguntas por viver,
Sabendo a cada instante o que se quer,
Nas mãos tão delicadas da mulher
Carinho em plenitude eu posso ver,

Colheita assegurada em belo dia,
Nas sendas mais profanas e benditas
Assim como também tu acreditas
No amor que tanto quanto desafia

Permite a claridade da manhã,
Matando a desventura tão malsã...

9

“Vive em teu corpo nu de adolescente,”
Toda a maravilha florescendo
Raiando num momento que estupendo
Um dia em plenitude nos consente.

O beijo tão sereno, o sexo bom,
Angústias esquecidas no passado,
Ao descobrir tão nobre e belo prado,
A sorte vai mudando o velho tom,

E o quadro se tecendo em raio imenso
Gerando uma obra prima, com certeza
Tocado pela insânia da beleza,
No amor a cada instante quero e penso.

Articulando assim o meu futuro,
Encontro neste corpo o que procuro...


10

“Tudo o que há de melhor e de mais raro”
Encontro no teu corpo juvenil,
O amor que se fizera mais gentil
Traduz agora tudo o que declaro,
Vivenciando a glória de saber
Usufruir momento após momento,
E quando mais distante me atormento
Tocado pela angústia posso ver
Além neste horizonte em rara luz
Formato delicado de quem tanto
Desejo e quando agora penso e canto
Aos mais perfeitos Céus já me conduz.
Estrela que me guia em céu sombrio,
Amante sonho em verso ora porfio.

11


“Contra estes móveis de banal presente”
As ânsias do passado não me valem,
Por mais que dentro da alma ainda calem,
Negando qualquer luz que se pressente

Mesquinhas noites vagas sem ninguém,
Ausente dos meus olhos a esperança
Enquanto a solidão açoda e avança
Somente este vazio me contém,

Vivesse pelo menos um instante
Diverso do que agora entranho e sinto,
Na boca sensual um bom absinto,
Delírio feito em tom alucinante.

Perceba quanto quero o teu querer,
No amor que também quero em ti beber.

12


“Guarda-te a imagem, como um anteparo”
E siga contra a força mais cruel
Vagando sem limites no meu céu,
Que agora ao ter teus olhos se faz claro.

Nefastas noites tanto percorrera
Quem tanto desejou e nunca tinha,
A solidão, deveras sendo minha,
Diversa da que outrora percebera

No olhar de quem partiu em triste adeus,
Matando as esperanças num momento,
E quando em tua ausência me atormento,
Tomando os descaminhos fartos breus,

Eu vejo quão difícil caminhada,
Numa alma há tanto tempo abandonada...


13


“...Azul bem leve, um nimbo, suavemente”
Tocando minha pele, sol imenso,
E quando neste amor me recompenso,
A sorte se mostrando mais presente

Vivendo tanto amor quanto persigo,
Negando a dor mergulho dentro em mim,
Sabendo quão florido este jardim,
E nele uma certeza: bom abrigo.

Cansado de lutar por tanto tempo,
Vencido pela força do vazio,
Agora quando tento e desafio,
Enfrento sem temor tal contratempo

E atento nada impede que eu me dê
A sorte já sabendo o seu por que.


14


“Aceitarás o amor como eu o encaro ?...”
É tudo o que desejo e não me calo,
A vida ao enfrentar qualquer abalo,
Moldando a cada passo o meu amparo

Permite que se creia no futuro
E tenha uma certeza a cada olhar,
Bebendo cada raio do luar,
O mundo não será jamais escuro.

Escuto a voz do vento proclamando
O amor que tanto quis e em ti eu vejo,
Sabendo dos teus olhos, azulejo,
Caminho em pleno azul, deveras brando.

As ânsias do passado sem receio,
Seguindo no teu corpo um belo veio...

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