sábado, 27 de março de 2010

HOMENAGEM A ALVARENGA PEIXOTO

De açucenas e rosas misturadas
não se adornam as vossas faces belas,
nem as formosas tranças são daquelas
que dos raios do sol foram forjadas.

As meninas dos olhos delicadas,
verde, preto ou azul não brilha nelas;
mas o autor soberano das estrelas
nenhumas fez a elas comparadas.

Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,
a cor dos olhos e as tranças d'oiro
podem fazer mil Ninfas melindrosas;

Porém quanto é caduco esse tesoiro:
vós, sobre a sorte toda das formosas,
inda ostentais na sábia frente o loiro!

Alvarenga Peixoto

1


“inda ostentais na sábia frente o loiro”
E em vossos passos sempre derramais
Belezas em verdade magistrais
Momento que traduzo por tesoiro,
Vestindo esta raríssima ternura
E nela se envolvendo plenamente,
O quanto deste amor minha alma sente,
E nele a todo instante se mistura,
Envolta pelos braços da paixão,
Sagazes caminhares pela vida,
A sorte em vossos braços decidida
Delírios sem igual se mostrarão
Traçando esta perpétua maravilha
Que uma alma enamorada, agora, trilha...

2


“vós, sobre a sorte toda das formosas,”
Reinando se destaca em tantos sóis,
Olhares em verdade são faróis,
Perfumes que exalais: sublimes rosas.
Ascendo ao mais etéreo Paraíso
Vivenciando a glória de saber
O quão maravilhoso é poder ter
Nas mãos o toque manso e mais preciso,
Urgindo dentro em mim esta vontade
De ter-vos num momento mais audaz,
Sabendo desde sempre o quanto eu quis
A fúria do delírio já me invade,
E tendo-vos divina em cada afeto
Nas ânsias deste amor eu me completo.



3


“Porém quanto é caduco esse tesoiro”
Do quanto desejara e nada vinha,
A sorte que julgara fosse minha,
Traçando bem distante um sonho d’oiro.
Vencido pelas ânsias do desejo,
Sagrando cada verso a quem mais quero,
Deveras com ternura sou sincero
E um tempo mais feliz inda prevejo,
Vagando pelos tantos vendavais
Estranho vez em quando este vazio,
E tanto quanto posso desafio,
E nele sei que sempre me ajudais,
Estando ao vosso lado, amante e amiga,
A vida com certeza não periga.


4

“podem fazer mil Ninfas melindrosas;”
Os sonhos mais audazes, as venturas
E neles se traduzem tais branduras
Tocando sortes sempre caprichosas.
Ascendo ao mais sublime caminhar
Nas ânsias desta fonte inesgotável
E quando se pensara em tão amável
Momento pude mesmo desfrutar
De toda esta beleza entregue ao sonho,
Natura se emoldura em raros tons,
Sabendo dos amores, raros dons,
Um verso mais audaz teimo e componho,
Ousando ver as Ninfas se banhando,
Delírios delicados me tocando...

5


“a cor dos olhos e as tranças d'oiro”
Rolando sobre os ombros desta Musa,
O encanto sem igual deveras usa
Das tramas mais audazes, meu tesoiro.
Descrevo em vossos olhos, bela Diva
Caprichos de uma sorte traiçoeira,
E quando muito além do que mais queira
Uma alma se mostrando tão altiva,
Percebendo delírios que há em vós
Não pode mais calar tanta vontade,
E quando em vós encontra a divindade
O amor já não seria tão feroz.
E o beijo anunciado se perfaz,
Traçando o meu futuro em plena paz.



6


“Ah, Diva*, as açucenas e as rosas,”
São meras companheiras de ventura
Daquela que se mostra em tal ternura
Envolta por delícias caprichosas,
Bebendo em vossa boca o doce mel,
Aonde dessedento o meu desejo,
Um quadro sem igual agora vejo,
O amor se reproduz e alçando o céu
Invade este horizonte em brilhos tantos,
Na fonte mais sublime, magistrais
Delírios que, deveras, derramais
E neles com certeza mais encantos,
E o quanto em vós percebo um raro dia,
Minha alma em fogo intenso fantasia.

7


“nenhumas fez a elas comparadas,”
Belezas com as quais me acostumando,
Um tempo mais tranqüilo em vento brando,
Jamais se permitindo outras lufadas.
As cores deste céu iridescente
Prismáticos caminhos desenhados,
E nele se percebe quanto os Fados
Conhecem o que uma alma triste sente,
Erguendo o meu olhar neste horizonte,
Destroços do passado não mais vejo,
E quando o coração se faz sobejo,
Permite que outro tempo já desponte
Moldado sobre bases mais felizes,
Das dores não restando cicatrizes...


8


“mas o autor soberano das estrelas”
Ao ter em vós a imagem mais perfeita
Sabendo quanto Amor já se deleita,
Podendo mais de perto, conhecê-las
Em vós já traduziu momentos tais
Aonde em divinais fontes bebera,
Minha alma sonhadora conhecera
Os brilhos que deveras demonstrais,
E tendo-vos senhora do meu sonho,
Ó Musa dos meus versos, Diva bela,
O quanto em cada frase se revela
Transcende mesmo a tudo que componho,
Ascendo aos mais sublimes dias quando,
Nos vossos meus olhares se tocando.

9


“verde, preto ou azul não brilha nelas;”
Nas ânsias dos olhares mais venais,
Mas quando em vossos olhos demonstrais
Desenho; com ternura, raras telas,
E tendo-vos deveras como guia
Meu mundo se transforma num momento,
E sendo-vos fiel já me apascento
Enquanto uma alma em paz enfim porfia
Um novo amanhecer com claros tons,
Mergulho em vossos olhos e me inteiro
Do quanto se mostrara verdadeiro
O amor além dos mansos, doces sons
Cantigas envolventes, vossa voz
Silenciando o medo, vago e atroz.

10


“As meninas dos olhos delicadas,”
Tocadas por um sol intenso e belo,
O quanto vos desejo já revelo,
As sortes desta forma anunciadas,
Manhã sobejamente enobrecida
Envolta por delírios mais sutis,
O encanto me envolvendo não desdiz
O quanto imaginara em minha vida,
E a senda se tornando bem mais clara,
Na flórea sensação de eternidade,
Sabendo em vós sublime majestade
Amante coração já se declara
E tudo neste instante se transforma,
Tomando de uma deusa, toda forma..


11


“que dos raios do sol foram forjadas”
Searas que desfiam meus olhares
E nelas com certezas invulgares
Manhãs maravilhosas desvendadas.
Ardentes emoções gerando o gozo
De um mundo mais feliz em claros sonhos
Aonde se pensaram mais medonho
Os dias bebem sol tão majestoso.
Heréticos caminhos do passado,
Momentos tão sofridos por alguém
Que tanto amor deveras já contém,
E nele novo tempo vislumbrado,
Ascendo ao mais fantástico tesouro
Enquanto em vossos braços eu me douro.


12


“nem as formosas tranças são daquelas”
Que um dia imaginara em cores várias,
Ainda quando as sortes temerárias
Desvendam do futuro novas telas
Encontro em vós o quanto desejara
Durante a minha longa caminhada,
Agora que se mostra decifrada
A luta se tornando mais amara,
Audaciosamente em nada crendo,
Percorro os desafios mais vorazes,
E quando as guerras negam calmas pazes,
O gozo não se mostra em dividendo,
Perfaço o dia a dia em luz inglória,
Mas tento acreditar numa vitória.



13





“não se adornam as vossas faces belas,”
Somente com as flores mais banais
Enquanto luzes fartas demonstrais
Futuro encilhando novas selas
Rompendo estas algemas do passado,
Encontro a fonte aonde dessedento,
Por mais que o tempo mostre violento
O amor quando em amor se faz gerado
Permite ao sonhador um novo dia,
E tendo em vós a Diva preferida
A sorte transformando a minha vida,
Vagando por espaços fantasia
Momentos divinais em luz tão farta
E o medo, o próprio brilho enfim descarta.

14


“De açucenas e rosas misturadas”
Perfumes e belezas eu concebo,
E quando deste encanto farto, eu bebo,
Percorro divinais raras estradas.
E nelas se perfaz uma esperança
Aonde imaginara dor e pranto,
Agora em alegrias tantas canto
Enquanto ao paraíso já se avança
Uma alma sonhadora de um poeta
Percebendo delírios multicores,
A redenção suprema de tais flores
Aonde o sentimento se completa
Transforma com certeza a luz que guia
Nesta arte mais perfeita: a poesia!


*
JÔNIA NO ORIGINAL, MAS COMO DEVE-SE RESPEITAR A MUSA ALHEIA...

Um comentário:

Edir Pina de Barros disse...

Nada a mais, nada a menos que belo!