terça-feira, 23 de março de 2010

27402/03/04/05/06/07/08

27402

“Eram (quem crera tal!) duas estrelas”
Os olhos de quem tanto desejei
Tomando em claridade toda a grei
Belezas que deveras posso vê-las
E nelas decifrar a claridade
Que tanto quanto encanta me fascina,
Deveras maravilha tão divina
Agora em plena noite tudo invade.
Deidade pela qual enamorado
Não posso mais sequer pensar n’outrem
E quanta fantasia já contém
Deixando esta tristeza no passado,
Viver felicidade neste olhar
É como na alma ter todo o luar.


27403


“Os olhos, que eu cuidei, que estava vendo”
Tornando a noite escura em claro dia,
Deveras quais faróis, o olhar me guia
E nele toda a sorte se contendo.
Pudesse ter agora em farto brilho
A sorte deste amor que sei distante,
No quão maravilhoso e deslumbrante
Caminho que em teus olhos ora trilho.
Saber quanto é divino poder ter
O amor que tanto quero e te declaro,
O mundo então seria bem mais claro
E nele com certeza tal prazer
Irradiando em glória esta beleza,
Qual fora um novo sol, tanta clareza...

27404


“Mas ah delírio meu, que me atropelas”
Deixando em desalento o coração,
Negando ao meu olhar fascinação
Em noites tão serenas quanto belas.
Mergulho neste abismo dentro da alma
E nada poderia me trazer
De novo o que sonhara amanhecer,
Nem mesmo a fantasia ainda acalma
Quem tanto imaginou ter esta sorte
De ser somente teu e nada mais,
Olhares tão sublimes, magistrais
Já não me trazem mais qualquer aporte
A fonte se secando e nada vejo,
Distante dos meus olhos, meu desejo...


27405

“Dai alívios ao mal, que estou gemendo:”
Permitindo quem sabe novo sol,
Dourando com certeza este arrebol
Num dia que será tão estupendo.
Mas nada se anuncia e a noite cai,
O medo se aproxima e se assenhora
Uma ilusão aos poucos vai embora
Toda esperança, agora já se esvai.
Pudesse ter ao menos uma chance
Viver amor que tanto quero e sonho,
Mas sei quanto o futuro é vão, medonho,
Minha alma no vazio ora se lance
E traça tão somente o desprazer,
Distante de qualquer amanhecer...

27406


“Do rosto de meu bem as prendas belas,”
Aonde quis a sorte que eu tentasse
Vencendo em destemor qualquer impasse,
Moldando com ternura raras telas,
Mas quando me aproximo e tu não vês
O quanto te desejo, então disfarço,
Aos poucos solitário; em vão me esgarço
A vida já não tem sequer porquês.
Mesquinhos os momentos mais cruéis
E neles nada faço, só revejo
O brilho que traduz todo o desejo,
Porém a vida traz somente os féis
Enquanto amor uma alma em ti procura
Encontra tão somente esta amargura...


27407

“Vinde, olhos belos, vinde; e enfim trazendo”
Algum alento ao menos a quem tanto
Mergulha num terrível desencanto,
Felicidade apenas um adendo
Distante do que encontra o caminheiro
Vagando sem destino vida afora,
A dor, somente a dor em mim se ancora,
Que faço sem timão nem timoneiro.
O barco naufragando sem faróis,
Ausência do que foi felicidade
Somente escuridão agora invade,
Aonde encontrei de novo os sóis,
Jamais eu poderei ver o luar
Se não concebo mais o vosso olhar.


27408

“Toda esta região se vê banhada”
Por poluídas águas, nada mais,
Aonde houvera cores magistrais
Somente este vazio, resta o nada.
Perdendo a direção somente o frio
Deixando para trás a primavera,
O quanto a cada dia mais se espera
Traduz o que em verdade não desfio.
Vagasse em oceanos mais serenos
Pudesse calmamente ter nas mãos,
Além destes momentos torpes, vãos,
Quem sabe alguns minutos tão amenos.
Porém sem teu olhar, belo farol,
O barco se perdendo no arrebol...

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