sexta-feira, 26 de março de 2010

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27551



“Quanta gente, talvez, que inveja agora”
Ainda se percebe em olhos vagos,
Buscando noutros rumos mais afagos
Enquanto a solidão, a alma decora,
Esconde-se deveras sob a sombra
E nela se disfarça muito bem,
Mas quando a luz emerge e cedo vem,
Aonde se pensara numa alfombra,
Desconfortável face de um granito
Escondida nos antros da ilusão
Falsificada face, uma visão,
Esgar que tenta ser bem mais bonito.
E assim tal garatuja se desnuda
Numa alma que se mostra tão miúda...


27552


“Ver através da máscara da face,”
E ter toda noção do quão vazio
O mundo que percebo e já desfio
Mesmo quando uma luz ainda embace.
Diamantino brilho em torpe pedra
A sorte se desnuda merencória
E aonde se mostrasse uma vitória
Realidade assusta e mesmo medra,
Nefasta esta figura em ar medonho
Irônico e sarcástico Satã,
Moldando noutro olhar um raro afã
Diverso do que agora inda componho,
Mutável quão arisco, mas em vão,
Somente sobrevive da ilusão.


27553

“Se se pudesse, o espírito que chora,”
Saber quão dolorido o rumo que
Realidade mostra a quem não vê
A sombra do vazio que o devora.
Perceba quão é fútil caminhada
Deste pavão estúpido e voraz,
Uma alma que no nada satisfaz
Não é além do mesmo e eterno nada.
Vagando sem noção de sensatez,
Gargalha-se em falsário caminhar,
E nele sem sequer saber luar,
Da prata falsifica a própria tez.
E quando se demonstra mais feliz,
Diverso da verdade, o seu matiz.

27554


“O coração, no rosto se estampasse;”
A fria realidade que se esconde,
O tanto percebido quando e aonde
Transcorre como fosse um vão impasse.
Transcende-se ao vazio e sem porvir
Num quanto mais audaz se mostra o chão
E teima flutuar, mero fantoche,
Por mais que a própria vida inda deboche
Cultivando esta agreste plantação
Colhendo no final, tantas daninhas,
Geradas por semente duvidosa,
Aonde prometera lírio e rosa,
Gramíneas mais vulgares, o que tinhas.
E quando este disfarce cai por terra,
Desnuda a podridão que ali se encerra...


27555

“Tudo o que punge, tudo o que devora”
Expressa a realidade mais venal,
Aonde se pensara em triunfal
Apenas o vazio e sem demora.
O gesto caricato de quem tenta
Vencer com fantasias a verdade
Por mais que o dia a dia se degrade
Gerando tão somente esta tormenta
A pútrida visão do nada ser
Tomando já de assalto esta figura,
O quanto na verdade se afigura
Demonstra tão somente o desprazer,
E assim ao caminhar em falsas sendas,
Verdades se transformam, meras lendas.

27556


“N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,”
A dura face escura do real,
E quando se pensara em virtual,
O nada diz do nada em outra face.
Assisto à derrocada do vazio
E nela se percebe muito aquém
Do quanto se disfarça e não contém
Somente ao invernar qualquer estio.
Vivendo de aparências tão somente
Omite-se a verdade e quando vejo
Feição do que pensara mais sobejo,
Carcaça traduzindo esta semente
Jogada sobre um solo mais agreste,
E nele cada inseto que me infeste.

27557

“Se a cólera que espuma, a dor que mora”
No peito de um farsante ora desnudo,
O quanto se demonstra tão miúdo
O que pavoneando se decora.
Herméticos caminhos, mas vulgares
E neles os anseios morrem vãos,
Abortam-se deveras tantos grãos,
Criando do vazio seus altares.
Ao passo ensandecido desta turba
Entranho nas diversas dimensões
Que tanto quanto mentes sempre expões
Aonde a realidade se conturba
Percebe-se o falsário, este imbecil,
Que quando à luz do sol, não resistiu.

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