quinta-feira, 25 de março de 2010

27498/99/500/501/502

27498

“As almas, não, as almas vão pairando,”
Vasculham cada canto e sabem tudo,
Nas ânsias do prazer que ora me iludo,
O peso já não fora ao menos brando.

O parto se anuncia e nada tendo
Somente a solidão que agora entranho,
O beijo se fizera desde antanho
Um mero desenhar, quase um adendo.

E pude decifrar em almas frágeis
Momentos mais terríveis e doídos,
Aonde revolvendo os meus olvidos
Escapo por caminhos bem mais ágeis.

Mas quando num amor eu agonizo,
Invés de sol percebo o vão granizo...


27499


“amanhece frescor de coisa viva”
No olhar esperançoso deste alguém
Pensando nos momentos que inda vêm
Enquanto a realidade nega e priva.

Escapo dos meus medos, me aprofundo
E bebo do vazio que me deste,
O solo se tornara tão agreste
E o coração deveras vagabundo.

Vagando bar em bar ao nada ver
Esvai-se em cada gole, resta o não,
Mesquinhas aventuras mostrarão
O quão inútil pode ser prazer.

Elevo o pensamento, mas depois,
Não vejo nem a sombra de nós dois...


27500

“e a tudo me arremesso, nesse quando”
Pudesse ser além do que não fui,
Enquanto todo sonho sei que rui,
Jamais eu poderia caminhando

Vencer as intempéries desta sorte
Audaz e mesmo atroz, mas reticente,
E tudo o que galgando já se sente
Não tendo mais sequer o que comporte

Esvai-se num segundo e nada sendo
Pereço pouco a pouco, dia a dia,
Somente o dissabor se mostraria
Aonde quis um céu mais estupendo.

Haver ou não haver, lugar comum,
Após o que sonhei, resta o nenhum...

27501


“ao largo vento e a rocha imperativa,”
O caos se preconiza e nada vejo,
Aonde se pensara no desejo,
Uma alma tão somente sobreviva,

Após as tempestades corriqueiras
As sendas se alagando a traduzir
O que não poderia ser porvir,
Matando no jardim velhas roseiras.

E o pântano se mostra movediço,
Aonde se pudera acreditar
Na vida em força e luz, rara e solar,
Já não concebo mais, sequer cobiço

E o vício de sonhar ainda existe
No coração deveras tolo e triste.

27502


“Onda e amor, onde amor, ando indagando”
E nada sem resposta se traduz
Na ausência absoluta de uma luz,
Queimando o coração em fogo brando.

O par sem par se perde no vazio
E o vento em vendaval, agora é brisa
Palavra mais doída e mais precisa,
Prepara esta ilusão que desafio.

Nas ondas deste encanto canto tanto
E tento mesmo atento, algum alento,
Aonde se mostrara o sentimento,
Apenas se porfia o desencanto.

Entre o ser e o não ser, coisas dispersas,
Aonde fantasias vãs, imersas...

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