quarta-feira, 24 de março de 2010

A INDOMÁVEL HOMENAGEM A CECÍLIA MEIRELES

" A Inominável "

Leve... - Pluma . . . Surdina... Aroma... Graça...
Qualquer coisa infinita... Amor... Pureza...
Cabelo em sombra, olhar ausente, passa
como a bruma que vai na aragem prêsa . . .

Silenciosa, imprecisa, etérea taça
em que adormece o luar... Delicadeza...
Não se diz... Não se exprime... Não se traça. . .
Fluído... Poesia... Névoa... Flor... Beleza...

Passa. . . - É um morrer de lírios. . . Olhos quase
fechados... Noite... Sono... O gesto é gaze
a estender-se, a alegrar-se... E enquanto vão

fugindo os passos teus, visão perdida,
chovem rosas e estrelas pela vida...
Silêncio! Divindade! Iniciação!
Cecilia Meireles Grilo
1




“Silêncio! Divindade! Anunciação!”
O amor se faz além de qualquer sonho,
E quando em versos tristes eu componho
Inverno destroçando algum verão,

Momentos mais sobejos me trarão
Um dia mais feliz; vivo e risonho
Aonde se mostrara mais medonho,
O tempo transformado. Sedução.

Seguindo cada rastro deste sol,
Que trazes no teu corpo, bela amante
O dia se transcorre deslumbrante,

Tomando em maravilha este arrebol
Na vívida impressão tão majestosa,
Canteiro em framboesa, dália e rosa.


2


“chovem rosas e estrelas pela vida”
Enamorado sonho que me invade,
Aonde se pensara na saudade,
A sorte do viver se faz ungida.

Abandonando a dor, estrada urdida
Em plena e mais sobeja claridade,
O amor já nos trazendo a eternidade
Deveras desejada e tão querida.

Mergulho nos teus braços; vejo o brilho
Desta constelação que em luzes trilho
Chegando finalmente ao belo cais

Formado por estrelas, tantas rosas,
Estradas que pensara majestosas
Traçando tais caminhos magistrais...

3


“Fugindo os passos teus, visão perdida”
De um tempo em dores feito, tumular,
Agora quando vejo em ti, luar
A sorte noutra senda resolvida.

Preparo para o medo, a despedida,
E bebo cada gota feita amar,
Sabendo com certeza desfrutar
Da mais bela visão de minha vida.

Redimo tantos erros, desenganos
E mudo a direção em novos planos
Traçados com as bênçãos deste amor,

E nele meu canteiro preparado,
Com toda esta emoção, já cultivado,
Trazendo a primavera em cada flor.

4


“a estender-se, a alegrar-se... E enquanto vão”
Distante dos meus olhos sofrimentos,
Percebo com divinos pensamentos
Momentos tão sobejos que virão,

E neles novos rumos mostrarão
As direções suaves destes ventos,
E neles eu concebo meus alentos,
Traçando com ternura esta paixão.

Alegram-se deveras meus jardins
E encantos se espalhando pelas sendas,
Segredos de minha alma enfim desvendas

Moldando com beleza raros fins,
E a sorte de poder ser teu, somente,
Espalha em meu canteiro esta semente...


5


“fechados... Noite... Sono... O gesto é gaze”
Caminhos que me levam para a dor,
Imagem de um momento sedutor
Por mais que a realidade já se atrase.

Não posso e nem pretendo ouvir o quase,
E sendo da maneira que ora for,
Cevando com cuidado cada flor,
O amor se torna enfim, sólida base.

E toda uma tristeza costumeira
Sem ter sequer espaço, já se vai,
A luz que em plena luz, mais luz atrai,

Da forma e da maneira que se queira
Permite o rebrilhar de um velho sonho,
Que agora do teu lado, recomponho...

6


“Passa. . . - É um morrer de lírios. . . Olhos quase”
Embrutecidos miram o jardim,
Matando o que restara dentro em mim,
Ainda quando a sorte se defase,

Percebo quão cruel e fútil fase
O amor sem ter o sonho chega ao fim,
Jogado pelos cantos, vivo assim,
Por mais que uma ilusão ainda abrase.

O sonho se desfeito é pesadelo
E quando toda noite posso vê-lo
Não tendo mais saída, vou ao nada

E aonde se pensara mais feliz,
Destino num momento contradiz
Minha alma segue agora, abandonada...


7

“Fluído... Poesia... Névoa... Flor... Beleza...”
O sonho se transcorre em véu macio,
E quando cada luz em ti, desfio
Percebo quão sobeja a natureza,

E sigo sem temor a correnteza,
Vagando sem destino em belo rio,
O quanto se percebe deste estio,
Gerando dentro em nós rara clareza.

Perpetuando a sorte de te ter
E nela me entranhando este prazer
Que há tanto procurara, sem sucesso,

E quando a cada noite vejo em ti
O amor que desejei e conheci,
A sanha rumo ao éter recomeço.

8


“Não se diz... Não se exprime... Não se traça. .”
Apenas tão somente ora se vive,
O quanto do passado já contive
Agora se transforma em vã fumaça

E tudo, com certeza sempre passa,
Apenas a querência sobrevive
Revendo cada instante que já tive
Deixando para trás a luz escassa.

Vivendo sem temores este amor,
E nele o meu futuro recompor
Sem medos, sem terrores, num mergulho,

Caminho que seguimos vida afora
Em rara claridade se decora,
Não tendo nem espinho ou pedregulho...





9


“em que adormece o luar... Delicadeza...”
Nas noites tão sublimes, maviosas,
Canteiros entre belas, raras rosas,
Tomados pelas ânsias da beleza.

E quando deste amor tanta certeza
Bebendo destas fontes fabulosas
Enquanto do meu lado sei que gozas
A sorte se mostrando com presteza.

Viver e ter nas mãos nosso futuro,
É tudo o que mais quero, e assim procuro
Alvissareiras horas junto a ti,

Mergulho no oceano de nós dois
Sem medo do amanhã, nem do depois,
No Paraíso enfim, que descobri...




10

“Silenciosa, imprecisa, etérea taça”
Aonde dessedento o meu desejo,
Do quanto que ainda quero sempre vejo
Amor ao me inundar, nunca desfaça

O rumo aonde a vida agora traça
A sorte muito além de algum lampejo,
Vivendo sem temor a cada ensejo,
Azulejando o céu sem mais fumaça.

O beijo sedutor de quem se deu,
Num mundo mavioso teu e meu,
Fantástica emoção já nos domina,

Não deixe que se seque de repente
O quanto em luz se toca e se pressente,
Divina e soberana, rara mina...


11


“como a bruma que vai na aragem presa . . .”
Seguindo cada rastro aonde fores,
Percebo a cada passo, belas flores,
O amor se preparando em tal surpresa,

A sorte delicada traz certeza
De dias mais sobejos, sedutores,
Delírios de dois seres sonhadores,
Traçando um novo mundo em tal beleza.

Aonde se pudesse ser feliz,
Viver com mais paixão tudo o que quis
Aflora-se em meu peito esta vontade

Que tanto em domina e me sacia,
Trazendo a cada sonho a poesia
Divina soberana que ora invade.


12


“Cabelo em sombra, olhar ausente, passa”
Distante do que outrora fora um sonho,
E quando me vislumbro em ar medonho,
Destino tão diverso a vida traça.

Ao vê-la, rara estrela sobre a praça
Momento mais fantástico e risonho,
Porém na solidão sigo tristonho,
E tudo neste instante já se embaça.

Restando ao sonhador o nada ter,
E quanto mais distante do prazer
Maior a solidão que assim encaro

Vivesse novamente uma ilusão,
Porém tantas tristezas se farão
Num céu que outrora quis brilhante e claro.


13

“Qualquer coisa infinita... Amor... Pureza...”
Qualquer que seja o sonho, nada além
Do quanto a poesia em si contém
Deveras mostrará tal Natureza,

A glória se perdendo na incerteza,
O medo se aproxima e sem ninguém,
Vivendo da esperança muito aquém,
Aonde se escondeu vital beleza?

Minha alma segue em vão, caminhos tortos,
Distante do que fossem cais e portos,
Os dias seguirão mais solitários.

E tudo se transforma em pó, poeira
A sorte se mostrando traiçoeira,
Domina em ar sombrio meus fadários...


14


“Leve... - Pluma . . . Surdina... Aroma... Graça...”
Indomáveis meus dias sem os ter.
E quando em ti percebo o bem querer,
A sorte noutro rumo já se traça,

Sentindo este perfume quando passa
Aquela que domina todo o ser,
Encontro nos teus olhos o prazer,
E o vento mansamente vem e abraça

Tocando a minha pele, doce brisa
O amor ao se mostrar chegando avisa
Do quanto poderei felicidade.

E tendo em teu olhar, estrela guia,
Minha alma neste instante fantasia
Paixão sem ter defesas, tudo invade!

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