sexta-feira, 26 de março de 2010

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27565


“O canoro sabiá susta a sonata,”
Tocado por tamanha sedução
Beleza se aflorando desde então
Tomando num momento toda a mata,
Soberana e sobeja fantasia
Tocando o coração de cada ser,
Transcende à própria essência do prazer
E nela toda a sorte se porfia,
Deidade se percebe a cada canto,
Enternecida voz se entorna e toma,
Enquanto a fria fera já se doma,
Sorvendo cada gota deste encanto,
E toda a Natureza embevecida
Aplaude a divindade feita em vida.

27566


“Tudo se queda, comovido, a ouvi-lo”
Amigo quando entoas cada verso
Tomando em luzes fartas o universo,
O próprio sol de ti, mero pupilo.
Ainda se percebe no teu canto
O quanto Deus se fez além do todo,
Por mais que a vida trace algum engodo,
Em ti de farta luz, eu me agiganto,
Pudesse eternizar cada segundo
Sentindo a raridade feita em som,
Sabendo quão raríssimo tal dom,
Tocando em plenitude todo o mundo,
Magnânimo cantor, vate sobejo,
Contigo um novo tempo em paz prevejo.




27567


“Quando o canto, veloz, muda em cascata,”
O templo se refaz como se fosse
Além de um tempo claro, manso e doce,
A sorte do passado se desata
E gera este futuro em glórias tantas
E bebo cada gota da esperança
Na qual minha alma agora já se lança
Enquanto em perfeição sublime cantas.
Pudesse ter somente este momento
E nada mais bastando para mim,
Ao florescer divino este jardim,
De toda a tempestade me apascento,
Abençoada voz tomando conta
Para uma eternidade em luz aponta.

27568

“Em derredor agrupa-se na mata”
Fartando-se do brilho desta lua,
Catuliana imagem rara e nua,
Divina fantasia desbarata,
E quando eu a percebo em rara luz,
Teu canto em magnitude plena traça
Sobeja maravilha aonde escassa
Outrora e agora alquímica produz
A soberana glória do existir,
Toando uma viola sertaneja,
Além do que talvez ainda veja,
Pressinto a divindade no porvir,
Traçada pelas notas sob o brilho
Da deusa em cujo rastro, prata, trilho...

27569


“O passaredo, rápido, a segui-lo,”
Qual fossem mil falenas vendo a luz,
Fantástica emoção que me conduz
Tocado pelo belo deste estilo,
E vendo a fonte rara deste encanto,
Traçando cada passo rumo a um Deus
Matando os velhos dias quando ateus,
Não pude perceber divino canto,
E tento redimir os meus enganos,
Mudando num momento minha sorte
E tendo em tal beleza novo Norte,
Já não concebo mais antigos planos
E sinto ser perpétua esta expressão
Tornando o que eu vivera outrora vão.

27570


“A voz - Orfeu do seringal tranqüilo –“
De um bardo que ora entoa esta cantiga
Permite quanta paz onde prossiga
Vencendo qualquer dor que inda destilo,
Servindo ao mais perfeito sedutor,
Minha alma se demonstra embevecida,
E vendo para os medos a saída
Percebo a magnitude de um amor,
A flórea senda expressa esta certeza
E dela se gerando etérea luz,
À sideral beleza me conduz,
Levado pela imensa correnteza.
Traçando com meu verso mais singelo
Usando da emoção, sutil rastelo.


27571


“Dizem que o irapuru, quando desata”
Seu canto sob a lua magistral
Domina com certeza todo o astral,
E invade com ternura a imensa mata,
Assim também ouvindo a tua voz,
Percebo a maravilha deste encanto,
E bebo a fantasia e me agiganto
Atando com os deuses firmes nós.
Vencendo os meus temores, eternizo
A sorte de poder estar contigo,
Singrando este oceano que persigo,
Deixando no passado algum granizo,
E quando me mostrando inteiro a nu,
Concebo-te qual fora um irapuru...

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