sábado, 27 de março de 2010

27763 ATÉ 27782 HOMENAGEM A PAULO FENDER

37763


“Era dia de ver-te os indecisos”
Momentos entre medos, fantasias
E quando se concebe o que dizias
Os dias se mostraram imprecisos

Matizes tão diversos, mesma face,
Colorem-se meus dias dos vazios
E neles entranhados desafios
Causando neste todo algum impasse.

Imparciais caminhos, novas sendas
E nelas angustias quando mentes,
Somando nossos erros e sementes
Veredas mais diversas não desvendas

Confesso os meus enganos e talvez
Divirjo do que tanto ainda crês.

27764


“Tímidos olhos doces a me olhar”
Mudando a direção do que pensara
E sendo muito além da pedra rara
Que um dia imaginara lapidar.

Cercando-me das tantas ilusões
Nas quais e pela quais inda caminho,
Porquanto se fizesse mais sozinho
Deixando para trás outras versões,

Clamando por talvez novo momento,
Não poderia ainda que não fosse
A vida tão somente um agridoce
Cenário onde às vezes me atormento,

Mas tendo nos teus olhos o reflexo
Dos meus neste mosaico mais complexo.

27765


“Era dia de ver os teus sorrisos”
Entre as névoas comuns do desamor
E nesta maravilha a se compor
Percebo muito além os Paraísos.

E quando ainda escuto outros avisos
Falando do talvez, posso repor
Imerso nos anseios de um louvor
Por mais que em mim enfrente meus granizos.

Espúrias emoções, fardos constantes
E mesmo quando em fúria te agigantes
Ao fim somos idênticos não mais.

Acasos entrelaçam passos e ânsias
E neles se percebem discrepâncias
E enquanto gemelares, desiguais.


27766

“Era dia de ver-te suspirar”
E ter nas mãos a sorte decidida
Ao perfazer em trevas minha vida
Querendo novamente algum luar

Vivendo sem limite a me fartar
Aguardo a cada luz a despedida,
Uma existência sendo assim urdida
Nas torpes ilusões ganhando o mar

Espalho-me na areia movediça
Gerada pelas fúrias da cobiça
E trago ainda em flor esta esperança

Vestindo esta tão trágica carcaça
Enquanto a realidade se esfumaça
Minha alma ao descaminho em ti se lança.

27767

“Era dia de agrados e ternuras”
Insólitos caminhos percorridos
E neles expressando os meus olvidos
Enquanto em ti perpétuas as procuras

E quando do vazio me emolduras
Momentos entre perdas divididos
Escravizados sonhos percebidos
Gerados por angústias e canduras.

Nefastas noites somam desesperos
E deles meus terríveis destemperos
Causando dissabores entre trevas.

Só sei que mesmo tendo tais agrados
Os erros entre os erros consagrados
Traduzem o que ainda mesmo cevas...

27768

“Em teus braços de moça perfumada”
Delírios e desejos decifrados
Momentos e segredos desvendados
Seguindo sem perguntas flórea estrada

Deliciosamente em ti se vê
Suaves maravilhas, tenra luz
E à intensa sedução quando me expus
A vida teve enfim o seu por que.

Navego por teus mares, forjo um sonho
E teimo contra tantos medos meus
Os dias do passado, mais ateus
E agora a redenção em ti proponho.

Teus rastros seguirei até a morte,
Pois neles adivinho agora um Norte.

27769


“dias de sonhos e carícias puras”
Transcendo aos meus anseios e permito
Que tanto amor se mostre em raro e belo rito
Esplêndido momento de branduras

Acostumado às tantas desventuras
Ao crer neste desejo mais bonito
O velho coração atroz e aflito
Delira ao saciar velhas procuras.

Estás bem junto a mim, e isto me basta,
A sorte há tanto tempo em vão, nefasta
Agora se entregando a tais delírios

Percebe finalmente o imenso brilho
E envolto em tanta luz me maravilho
Deixando no passado vãos martírios...


27770

“ao teu convívio de mulher amada”
Sentir quanto é sublime a minha vida
E mesmo quando a sorte está perdida
Em ti felicidade desejada.
Alvissareiros dias, noites belas
Desejos saciados e profanos,
Já não comportam mais os desenganos
Vivendo em ti delírios que revelas.
As ânsias dos prazeres mais vorazes
Ensandecidos, fartos navegantes
Em mares tão divinos, deslumbrantes
Que a cada madrugada tu me trazes.
Saber-me timoneiro desta glória
Tornando a vida menos merencória...

2771

“era dia aprazado de dizer-nos”
O quanto nos queremos sem limites
E quero que tal fato não evites
Sabendo quão divino é poder ter-nos
Cadenciando os passos rumo aos céus
Que tanto adivinhamos quando juntos
Por mais que se desviem os assuntos
Amores nos recobrem com seus véus
E os veios que percorro são eternos,
Atalhos para eternos caminhares
Enquanto noutros mares navegares
Trazendo aos meus verões, duros invernos
Haverá sempre a luz deste farol,
Tomando em claridade este arrebol.


27772

“coisas belas – unidas pelas almas”
Servindo como laços que nos atam
E quando as fantasias nos maltratam
Tu vens e mansamente tudo acalmas.
Estranhas emoções por vezes tentam
Tornar a caminhada mais atroz,
Porém ao perceber mais fortes nós,
Os dias em teus braços nos alentam.
Peçonhas tão comuns, medos, ciúmes,
Jamais encontraria algum apoio
Sabendo separar trigo de joio
Tu trazes quando escuro, novos lumes.
E assim continuamos rumo ao sol,
Guiados pelo amor, raro farol...

27773

“era dia de dar-nos e de ter-nos”
Envoltos pelas ânsias de um prazer
E ainda tão somente posso ver
Momentos que percebo serem ternos
Eternidade feita em mil carícias
Delírios costumeiros, luzes fartas,
E quando dos meus braços tu te apartas
A vida preparando vãs sevícias,
O quase do abandono temporário
Transcende ao mais perfeito alento e traz
Distante dos meus olhos a alegria,
E a noite outrora intensa já se esfria
Levando para longe a minha paz.
Mas logo tu retornas e refaço,
A bela caminhada passo a passo...

27774

“perdidamente pelas horas calmas”
Andando em senda mansa encontro a ti
E quando teus anseios eu senti
No encontro fabuloso dessas almas
Momentos sem igual, carícias, gozos,
Suprindo nossos corpos em prazer
E os dias se mostrando fabulosos,
Vontade de poder estar e ser.
Servindo ao mais complexo servidor,
Escravo deste algoz que no sacia,
Nas delicadas fúrias da alegria
Diversidade feita em tanto amor.
Descrevo tais propósitos da sorte
Vivendo sem mais nada que me importe.
27775

“era dia de fuga no infinito”
Estrelas a vagar sem rumo e nexo,
Caminho tão diverso quão complexo,
O amor se torna aos poucos quase um mito.
Mesquinhas luzes negam refletores
E traçam solidão em dores tantas
E quando sob as sombras desencantas
Afastas da esperança seus fulgores.
Descrevo os pandemônios que se vêm
Angustiadamente nada existe
Somente esta visão nefasta e triste,
No fundo do cenário, mais ninguém.
E toma a minha mente o pesadelo,
Difícil, na verdade, inda contê-lo...

27776

“tendo as estrelas como lampadário”
Os céus dos meus desejos se tornando
Por vezes turbulento ou mesmo brando
Mudando com ternura o meu fadário,
Servindo de alimária no passado,
Histriônico algoz das esperanças
E nestas ilusões, as noites mansas
Retrato sem proveito, amarelado.
Ouvir vozes diversas, rumos falsos,
Falácias tão comuns de quem se traz
Envolto em treva farta, sou mordaz
E sinto a cada dia meus percalços.
Mas vendo constelares maravilhas
Percebo quão divina em mim tu brilhas.

27777

“dia de tudo quanto estava escrito”
Traçando os mais diversos temporais
E neles as imagens desiguais
Tramando um tempo atroz, demais aflito.
Esgueiram-se demônios tomam cenas
E reinam absolutos sobre a Terra
A vida neste instante já se encerra
Devastações diversas, torpes, plenas.
Acossam-me corsários, vidas frágeis
Esgotam-se esperanças, perco o rumo,
Da morte nas masmorras, bebo o sumo,
Os dedos entrelaçam forças ágeis.
E o peso sobre as costas não permite
Sonhar além de um vago e vão limite.

27778


“por mãos de deuses no seu calendário”
Espreito estes sinais que se adivinham
Os medos tão vulgares que continham
Os passos muitas vezes temerários.
Aprendo a discernir temor e glória
E castro os meus anseios tão profanos,
Os velhos e terríveis desenganos
Tomados por momentos em vanglória
Esboçam relativas emoções
E volto a crer em ninfas e regatos,
Por mais que se reneguem novos fatos,
Incríveis as tormentas que me expões.
Arcádico momento num neon
Diversidade reina em vário tom.

27779

“era dia de amar-nos e no entanto”
Sabias disfarçar os sentimentos
Gerando com ternura mais tormentos
E deles o vazio que ora canto.
Penetro os arrebóis mais corriqueiros
E singro os oceanos mais vorazes
Nos olhos tais temores que em trazes
Impedem novas flores nos canteiros.
Amar e ter nos olhos sensações
Diversas do que seja uma alegria
E quando no futuro se descria
Ao menos posso ver fortes verões.
Assino com meu sangue o nada ter
E mesmo em braços fortes, me perder...

27780

“como se equivocou meu coração”
Ao ter imagem tosca da verdade
Por mais que o meu cantar te desagrade
Realidades tantas mostrarão
Sinais das desventuras que trafego
E carcomidas cenas mais presentes
E nelas com terrores tu pressentes
O dia que virá mortal e cego,
Apego-me ao não ter como pudesse
Saber dos meus engodos e tentar
Ainda que distante deste mar
Dos sonhos mais felizes, ter a messe.
E tudo não passando de uma farsa
Que a vida desmascara e não disfarça.

27781

“pois esse dia em que te esperei tanto”
Trazia por si só dor e alegria,
Gerando tão feroz dicotomia,
Ao mesmo tempo luz, medo e quebranto.
Perigos são constantes, disso eu sei,
E tendo nos meus olhos luzes várias,
Sonego mesmo em pranto as luminárias
Sabendo escuridão em minha grei,
Fomento tempestades, bebo a chuva
E teimo contra todas desventuras
E quando noutro plano me procuras
Percebes que do amor se faz viúva.
Ecléticos tormentos se anunciam
Enquanto os dias morrem, se esvaziam...

27782

“era o dia da minha solidão”
E tudo se pudesse ser assim
Matando inútil flor, seco jardim,
Eternizando a seca em meu verão,
E o corte se aprofunda dentro da alma
O que mais desejara se desdiz,
Cevando tão somente a cicatriz
Nem mesmo a solidão ainda acalma.
Perfaço a mesma estrada sem saber
Se ainda poderia ver o porto,
E quando me imagino quase morto
Encontro o que pensara ser prazer
Era dia de ser feliz, ao menos,
Mas como se em ti bebo só venenos...

Homenagem a Paulo Fénder ERA DIA.

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