terça-feira, 23 de março de 2010

27378/379/380/381/382/383

27378

“Como a floresta secular, sombria”
A vida se mostrara em árdua cor,
E tendo tão somente o desamor,
A sorte a cada corte desafia,
E eu tento vislumbrar alguma sorte
Diversa da que tanto me maltrata,
A vida se por vezes é ingrata
Sem ter sequer quem mesmo nos conforte,
Percebo ainda ao longe num relance
O brilho deste sol que se aproxima
E nele com certeza nova estima
Tocando minha pele em belo alcance.
Lançando o meu olhar neste horizonte
Permito que este amor, novo, desponte...


27379


“Tinhas o coração ermo e fechado”
Depois dos vendavais e tempestades,
A vida traz correntes, frias grades,
Porquanto ainda vivo o teu passado,
Mas quando nos meus braços te entregaste
Mudando a direção dos ventos, vi
Que toda esta pujança havia em ti
Gerando com a dor raro contraste,
Bebendo cada gota deste encanto,
Já não se vê mais dores no caminho,
E quando nos teus braços eu me aninho,
Um pássaro liberto, enfim, eu canto.
E sei que tu também segues tranqüila
Na glória que este amor, raro, destila...


27380


“Assim também, da luz, o amor privado”
Jamais encontraria amanhecer
E tendo mais distante algum prazer
A dor já dominando rumo e Fado.
Pudesse ter nas mãos a minha sorte
Não haveria tanto sofrimento,
E quando nos teus braços eu me alento
Encontro quem deveras me conforte,
Trazendo lenitivo às tantas dores
Mudando a direção, em paz prossigo,
E tendo neste amor um raro abrigo,
Seguindo cada passo aonde fores,
As flores renascendo no canteiro,
Num sol sobejo e claro, verdadeiro...



27381


“Não atravessa nunca a luz do dia,”
A sombra do que fora desamor
Ao mesmo tempo em ti percebo a cor
Que o coração deveras já recria
Matizes tão diversos da emoção
Alheias fantasias do passado,
Agora ao ver meu rumo ensolarado,
Jamais conhecerei a solidão.
Vestindo de ilusão meu peito eu sigo
Enfrentando as tempestas mais vorazes
E quanto mais amor, querida trazes
Maior a sensação de imenso abrigo.
Não deixe que este encanto finde, pois,
É dele ora o futuro de nós dois...


27382


“Do tigre, e cuja agreste ramaria”
As garras com os ramos misturados
Caminhos que pensara abençoados
Transformam a beleza em agonia.
A fera se mostrando atocaiada
Floresta impenetrável, desamores,
Aonde se pensara colher flores,
A morte sendo assim anunciada.
Vencido pelo medo, nada tenho
Somente este vazio dentro da alma,
Nem mesmo uma alegria inda me acalma,
Pois sinto quão é frágil tal empenho.
Do tigre, da floresta, do terror,
O fim do que pensara eterno amor...


27383


“Onde apenas, horrendo, ecoa o brado”
Da fera que prepara-se em espreita
A sorte malfadada não aceita
Destino pelos deuses já traçado.
O peso do viver se acumulando
Vergastas me cortando dia a dia,
Aonde se pensara em fantasia,
Em tempo mais suave, ameno e brando
Imenso temporal ora aproxima
E deixa em polvorosa a Natureza,
Lutando contra a intensa correnteza,
Sem ter sequer o sonho que redima,
Prepara-se o final da minha história
Deveras dolorida e merencória...

Nenhum comentário: