— Alceu Wamosy
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Duas almas
Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
Entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
Vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho,
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.
E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
Podes partir de novo, ó nômade formosa!
Já não serei tão só, nem irás tão sozinha.
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
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“Hás de levar contigo uma saudade minha,
E assim enfrentarás diversos temporais
Sabendo que aqui tens deveras o teu cais
E mesmo quando a dor dos sonhos se avizinha,
O amor se faz presente e toma toda a cena
Dourando em paz imensa o quanto é necessário
Se ter com emoção, diversa tal cenário
E nessa caminhada, o amor já nos serena.
Mas quando um dia ausente estiver dos teus passos,
Lembrando do que outrora encontravas aqui
E um dia deste sonho em luto te vesti
Ainda mesmo assim presente em leves traços
Eternizado amor que sei ser tão benquisto
Deveras te acompanha além do que eu existo.
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“Há de ficar comigo uma saudade tua”
Até depois da vida, eternidade exposta
Minha alma dentro em ti, noutra alma já composta
Após a minha morte ainda continua
Vivendo em teu respiro, inesgotável fonte
Da vida feita em tanto amor além da vida
Jamais tenho certeza a sorte em despedida
Porquanto neste encanto o encanto já se aponte
Refeito a cada passo até não mais haver
Sequer a menor sombra ainda mesmo assim,
O amor que nos transforma existirá em mim,
E dele com certeza o imenso dom: prazer.
Perpetuada história efeito deste sonho,
Aonde além do amor; amor; vivo e proponho.
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“Já não serei tão só, nem irás tão sozinha,”
A vida se refaz a cada novo dia,
Mas quando existe o sonho e dele nosso guia
Eternidade vem e quando em nós se aninha
Impede que se creia até na própria morte.
Sanando qualquer dor, curando alguma chaga,
O amor sendo demais, deveras nos afaga
E mesmo após a vida, ainda nos conforte.
Etéreas sensações em laços mais profundos,
Vibrantes emoções traçando este futuro
Aonde se mostrando além do que procuro,
Invadindo decerto o quanto houver de mundos,
Perene fantasia inesgotável trama
Que existe após a vida, eternizada chama.
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“Podes partir de novo, ó nômade formosa”
Sabendo que tu tens ainda viva aqui
Tua alma além do quanto existo e já vivi
Seara sempre flórea eternizando a rosa,
A sorte do viver; somente em ti eu vejo
E propagando além do quando inda me resta
O coração percebe e estando em plena festa
Já sabe que terá bem mais do que um lampejo,
A primavera extensa a mais do que talvez
Pudesse ainda crer na eternidade da alma,
Amor se transformando em tudo que me acalma,
Tornando sem sentido a própria lucidez.
E veja caminheira, a estrada assim aberta
Nem mesmo a própria morte o amor deixa e deserta.
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“Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,”
Porquanto eternizada em laços prazerosos
Deixando-se antever, momentos majestosos
Que mesmo após o fim ainda continua,
Vencendo destemida esta aridez do tempo,
Agreste caminhada além de um infinito,
E nela se transforma a mais que o próprio mito
Deixando no passado o medo e o contratempo.
Contigo sempre estando e nunca mais deixar
De ter a companhia, uma alma transportada
Por mais que ainda veja extensa ou curta a estrada
Sobrevivendo mesmo até lua, céu, mar
Permite que se saiba o quanto te desejo
E neste amor imenso, incrível azulejo.
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“E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,”
Ou mesmo a bruma vir tornando o céu mais gris,
Certeza deste amor em raro e bom matiz
Tornando a minha vida, em ti mais gloriosa.
Vencer ao tempo e então seguir sem medo ou drama
Traçando a magnitude imensa deste encanto,
E dele ou mesmo após, sem ter sequer quebranto
Mantendo eternamente acesa a nossa chama,
Jamais imaginando um rumo diferente
Resistindo afinal a qualquer temporal,
Amor que seja assim, intenso e atemporal
Gerado dele mesmo e quando se pressente
Fim da peça jamais se abaixando algum pano,
Domina um existir etéreo e soberano.
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“Se banhem no esplendor nascente da alvorada”
Divinas fontes onde ainda mesmo em luz
Traçando cada passo ao máximo conduz
Ao superar até se não houvesse nada
Amar-te e ter decerto o rumo demarcado
Vivendo eternamente a sensação divina
Que tanto me compraz e quando me fascina
Não deixa sequer nunca olhar para o passado,
Amar e ter no olhar este horizonte raro
No qual, do qual, e até por ser somente assim,
Já não concebo mais sequer penso no fim,
Poente não existe e tanto que declaro
Que vivo esta certeza e dela me alimento,
No amor maior que a vida intenso sentimento...
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“Entra, ao menos até que as curvas do caminho”
Permitam que se veja um novo alvorecer,
E nele se refaça a cor de algum prazer,
Jamais se permitindo ao sonho estar sozinho.
Não deixe que esta luz um dia te abandone,
Pois dela tão somente existe e se concebe
Dourando com certeza a mais sublime sebe,
Por onde perseguia o encanto que se adone
Do vário sentimento aonde se propaga
A fonte renovada e nela se mergulho
Encontro muito além do simples pedregulho
Vencendo em calmaria a força de uma adaga,
E tendo esta certeza, eu vivo só por que
No amor a divindade além do que se vê.
9
“E a minha alcova tem a tepidez de um ninho,”
Jamais te deixarei sentir um duro inverno,
E quando em solidão, por vezes se eu hiberno
Encontro num amor, as tramas do caminho,
Vencendo qualquer medo e tendo nos meus dias,
Além da realidade imenso sonho trago,
Volvendo o pensamento ao doce e raro afago
No qual e pelo qual decerto tu me guias
Levando ao mais extremo e raro sentimento,
Deixando no passado a imagem mais nefasta
Do quanto em desamor a vida se fez gasta
E agora se permite ao menos este alento,
Pressinto ter em ti as cores do futuro,
Já não conheço mais um tempo amargo e escuro..
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“A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,”
Mas nada tramaria o medo que talvez
Gerasse a solidão, imensa insensatez,
Deixando para sempre alheia uma alvorada.
Albores que conheço em raros tons, matizes
O amor extenso e raro estende-se infinito
Traçando muito além do mero simples mito
E trama este desejo a mais do que me dizes
Se mostra muito mais do que pensara outrora
Formando e reformando a solidez do sonho
Aonde se percebe o quanto já proponho
Num porto bem seguro, o barco ora se ancora
E trama com delírio o vento do amanhã
Deixando a própria morte, estúpida e tão vã;
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“”Vives sozinha sempre e nunca foste amada”
Imaginavas ter a solidão eterna
Enquanto se mostrava a sorte qual lanterna
Tornando com certeza iluminada a estrada
Por onde caminhaste alheia e ao deus-dará
Durante tanto tempo imersa no vazio
E agora em pleno amor, deveras desafio,
E o sol outrora escuso em ti já brilhará,
Domando assim o medo e tendo novo encanto,
A sorte se mostrando a mais que a própria vida
Na eterna claridade agora sendo urdida
Adormecendo então antigo e vão quebranto.
Mergulho junto a ti e creio ter além
Do quanto amor se dá e tudo o que contém...
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“Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,”
Assim imaginara até poder saber
O quanto se faz tanto e nele o meu prazer
Vivendo o amor intenso e nele se me aninho
Encontro a liberdade até de ser e estar
No bojo deste encanto e quando me envolvendo
Sabendo desde sempre o quanto em estupendo
E raro e farto brilho, o amor se fez amar.
Ascendo ao Paraíso e vejo quão possível,
Saber do etéreo sonho aonde me entranhara
Tocando esta ventura, e dela a fonte rara
Jamais imaginando um dia perecível.
Sagrada sensação do amor que me domina,
Já percebendo enfim a inesgotável mima
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“Entra, e, sob este teto encontrarás carinho:”
Compartilhando a sorte agora venturosa
De ter neste jardim uma olorosa rosa
Que possa permitir o sonho onde me aninho,
Após a solidão terrível companheira
Vislumbro em teu olhar o quando desejado
Caminho para o qual além do vago enfado
A sorte se transforma e traça esta bandeira
No amor já desenhada e em luzes percebida,
Mundo num momento a trama outrora triste
E agora tão somente em brilho já persiste
Tornando bem maior o que pensara vida,
Acolha quem te acolhe e assim perceberás
Suprema fantasia e nela o amor em paz.
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“Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,”
Descanse neste ninho aonde encontrarás
Além do amor intenso e tanto ou sempre audaz
Certeza deste sol tomando uma alvorada,
Brilhando imensamente e dele a intensidade
Na qual em plenitude a vida já permite
O sonho magistral sem ter qualquer limite
E quando se concebe o quanto nos invade
Suprema maravilha em raios nos dourando,
Incomparável fonte aonde perpetua
A plena claridade além mesmo da lua
Tornando o caminhar suave e bem mais brando,
E nele transmudando o que já fora um norte,
Gerando tanto amor além da própria morte.
Um comentário:
Adoro essas tuas homenagens!
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