sábado, 27 de março de 2010

27711 até 27734

27711

Vestigios do que fora sentimento
Encontro vez em quando dentro em mim
Chegando mansamente vejo o fim,
Singrando tempestades sem alento.

Esqueço dos meus erros e permito
Algumas ilusões que sei constantes.
Às vezes em caminhos deslumbrantes
Na frialdade imensa do granito

Vencido por enganos, tantas farsas,
Seguindo minha sombra volto a ter,
Nos olhos a dormência de um prazer
Enquanto não me vês, mesmo disfarças.

Trapaças tão comuns de quem concebe
Estrada diferente noutra sebe...

27712

Percebo a cada dia o que talvez
Pudesse transtornar algum futuro,
Diverso do que ainda sei, procuro,
Ausência de mim mesmo, como vês.

E quando em altivez tudo desfaço,
Mudando a direção da caminhada
Após o tanto andar revejo o nada
E o quanto desejara, sinto escasso.

Perenes emoções? Mera trapaça;
A vida se renova a cada dia
Na sorte este cometa que me guia,
Realça-se fugaz, tal qual fumaça

O tempo foge então entre os meus dedos,
Mutáveis são decerto, seus enredos...

27713

Aprazíveis momentos onde outrora
Sentira a brisa mansa no meu rosto,
Agora à própria sorte sigo exposto,
E a vida me tortura e me devora.

Esgoto as minhas velhas provisões
E trago no bornal a mera essência,
E aonde se pudesse, vã demência,
Perpetuando amargas sensações.


27714


São turvas estas águas que ora bebo,
Incontáveis estrelas, as perdi;
Vagando sem sentido chego a ti,
O sonho se demonstra qual placebo.

Assisto às derrocadas mais freqüentes
Enquanto as horas morrem. Penitentes...


27715

Perpetuando a dor que ainda trago
Das velhas dissidências, desventura
A sorte tão somente me amargura
Aonde se queria um doce afago.

Espetáculos constantes, vida e morte,
Assíduo caminheiro em tais jornadas,
Aguardo com terror as alvoradas,
Não tendo qualquer sol que me conforte.

Crepúsculos numa alma sem destino,
Nublando cada passo rumo ao não
Estrelas tão distantes negarão
E em falsos candelabros me ilumino.

Assim na negritude do não ser,
Quem dera alguma luz pudesse ver...


27716



Enquanto sobre os campos irrompia
Solares maravilhas sobre verdes
Em vós quanto poder ao concederdes
Momento de suprema fantasia,

Adentro vários ritos milenares
Assomam-se terrores ancestrais
E quando percebendo os milharais
Deitados sob os raios constelares

Sabia desde então quanto possível
Vivenciar delírios mesmo quando
A noite sobre tudo desabando,
Contraste se moldando em forno incrível.

Da natureza em volta, no arrebol,
Noctívagas imagens dizem sol...


27717

Na pugna contra as minhas próprias pernas
Vesiculares restos do passado,
Aonde o sol houvera destroçado
Mesmo quando em frias vãs lanternas,

Percebo a palidez das noites ternas
E nelas novo tempo anunciado,
O gosto do viver emaranhado
Com todo o sofrimento quando invernas.

Na praxe costumeira de quem sonha,
A vida se mostrando até risonha
Enquanto se tornara amarga e fria,

Vestígios do que fora e não soubera
Deixando para trás a primavera,
Matando sem piedade a fantasia...


27718


Navegando entre as várias ondas tais
Que quando se percebe sou naufrágio
A vida se tornando quase adágio
Medonhas tempestades magistrais.

E assim ao ter decerto cais ausente,
Não temo e até preciso desta dor,
Qual fora suicida predador,
Que a própria desventura já pressente.

Augustas emoções? Cadê sentido?
Esgoto dentro em mim toda esta sorte,
A bússola da vida nega o Norte
E o corte se prevê, há tanto urdido...

Eclodem dentro em mim fogos diversos
E neles os meus sonhos vãos, imersos...

27719

Eu na alegria de não ter perdão,
Percebo a derrocada inevitável
E mesmo assim deveras esperável
Que os dia tão somente mostrarão,

Na vastidão do nada em que mergulho
Descendo aos abissais caminhos vejo
Insólito delírio de um desejo,
Até tocar no fundo, um pedregulho.

Assaz comum na vida de quem crê
Erráticas verdades, nãos imensos,
E os dias entre céus nublados, densos
Deveras sem certezas nem por que.

Destilo com prazer tantas peçonhas
Enquanto com prazeres tantos sonhas...


27720

As folhas deste outono em que penetro
Cobrindo todo o solo em cobre e gris,
Aonde se pensara ser feliz
A vida rouba logo qualquer cetro,

Incertos caminhares desviando
A rota dos meus passos, nada vem
Somente a solidão aonde alguém
Dissera sem pensar tampouco e quando,

Alheio aos meus dissídios mais constantes
Desvio a caminhada em meio à chuva
A sorte se percebe uma viúva
Pensando nos passados diamantes.

Esgarço cada parte da puída
Verdade traduzida em minha vida.


27721

Apego-me aos meus erros quando tento
Certezas que jamais pudera ter,
Escarpas por subir ou por descer
Imensa cicatriz, nefasto vento.

Aonde se fez lágrima deveras
Servindo na bandeja da ilusão
Já longe se percebe o meu verão,
O que falar então das primaveras?

E tendo tão somente a grande escara
Marcada em minha pele, tatuagem,
Vestindo de delírio busco a aragem
Que há tanto me abandona e desampara.

Escolho dentre os mais ledos enganos
Os que me causariam menos danos...


27722


Satânicas promessas reconheço
Nas tantas variantes da peçonha
Além do que uma insânia me proponha,
Sabendo das angústias o endereço.

Escravizando enfim em fartas cruzes
Opérculos abertos dentro em mim,
Na florescência escassa de um jardim,
Proliferando às tantas turvas urzes,

Escapo vez em quando, mas prossigo
Incauto passageiro do futuro,
E quando em cada engano me perduro,
Decerto espero ao fim, qualquer castigo.

Mestiças emoções, dor e prazer
Moldando em distorções o que eu quis ser...


27723



Talvez pela inconstância de um carinho
Marcando em minha face cada ruga,
E tendo uma esperança feita em fuga,
Das várias emoções eu me avizinho.

Fomento as ilusões mesmo sabendo
Que nada serviria ser assim,
Nas insondáveis sanhas, querubim
Usando do prazer qual dividendo.

Aprendo a cada dia um pouco ou tanto,
Percalços são comuns ao andarilho
E quando vez por outra maravilho,
Deveras encantado, forjo um canto.

Inerte num momento de fastio,
Caminhos mais audazes, teimo e crio.


27724


Sentindo em meu pescoço estas tenazes
Faltando muito pouco para o fim,
Esboço reações, mas sigo assim
Vagando por diversas, rotas fases.

Sacrílego momento se aproxima
E nele com certeza a redenção
De quem vivendo imerso num porão
Jamais se percebera em alta estima.

Apontam-se diversos horizontes
Melhores do que sei em tosca vida
E quando a solução é pressentida
Permito que o caminho, ainda apontes.

Senzalas reconheço desde o início,
A liberdade é feita em precipício...


27725

Iludido por falsas claridades
Medonhos abissais eu reconheço,
E quando me mostrando sempre avesso
Às mais comuns e toscas novidades,

Alheio ao que desejas, as vontades
São tantas e decerto desconheço
Da sorte o fundamento e o endereço
Ainda mesmo quando teimas, brades.

Bisonhos desdobrares de uma vida,
Há tanto sem destino e já perdida
Vencida desde quando iniciada,

Veredas de tal sorte mal cuidadas
Gerando os dissabores, vãs estadas
De quem se resumiu num mero nada...


27726

Perceba a sem valia resistência
De um tosco caminheiro sem paragem,
E mesmo que inda creia na miragem
Já sabe quão cruel tal inclemência,

Do todo se concebe a mesma ausência
Por mais que ainda creia noutra aragem
Fazendo do cantar mera bobagem,
A vida não teria uma anuência.

Esparsas nuvens vejo no horizonte,
E quando a lua ao longe enfim desponte,
A ponte se tornando inalcançável.

Terreno que baldio ora se fez
Tomado por terrível aridez
Jamais será decerto, enfim, arável...


27727

Demônios cultivados pela vida
Assistem ao final da tosca peça,
Sem nada que os proíba ou mesmo impeça
História desde sempre assim urdida.

Fagulhas traduzindo alguma sorte,
Restando o fogaréu do logo após,
O quanto se mostrara mais feroz,
Sem ter qualquer prazer que me comporte,

Exposto aos tédios tantos do viver,
Satíricos bufões, sonhos ingratos,
Aonde se pudessem meus regatos
A fonte sem provento a se perder.

Esperando o dobrar de um brônzeo sino,
Herdeiro do jamais, eu me alucino...


16

Angariando as dores contumazes
Essencialmente vejo o meu final,
E quando se mostrasse algum degrau
Levando para além do que me trazes

Seriam mais ferozes ou audazes
Os passos num diverso ritual,
A sorte sonegando algum aval
Traçando velhos erros noutras fases.

E assim ao perceber inútil fardo
Caminho entre os espinhos sei o cardo
E apego-me a qualquer nova esperança.

Porém minha mortalha se contrasta
E a vida se mostrando em fúria gasta
Somente no vazio já me lança...


27728

Avanço contra os mesmos desenganos
E sei ser tão banal caricatura
O que defronte o espelho se afigura
Causando inverossímeis perdas, danos.

E sendo derradeiros estes planos,
Ausente dos meus dias a procura
Gerando por si só qualquer loucura
Ganância dos meus ermos mais humanos.

Abandonado à sorte traiçoeira
Alçando do vazio esta bandeira
Banalizando a dor que agora entranho.

Pudesse pelo menos ter à frente
Momento aonde enfim já se desmente
Demente caminhar de um ser estranho.


27729


Contínuas tempestades tomam céus
E geram desacordos pelos quais
Nefastas emoções toscas, venais
Recobrem minha vida em foscos véus.

Os dias se perfazem mais incréus
Gerando os mais diversos vendavais
Por vezes realidades tão banais
Provocam sem defesa, fogaréus.

Esfumo-me nas ânsias de um vazio
E teimo enquanto luto e propicio
Ao nada este desértico caminho,

Aonde se quisera um arvoredo,
E quando de outra forma inda procedo
Percebo meu final, sempre sozinho...


27730

Pergunto aonde um dia se fez tanto
O quanto nada fora no passado,
Traduzo em viciado arcano dado
A sorte que demonstra o desencanto.

Por vezes falsamente me agiganto
E bebo do meu mundo degradado,
Nos cantos desta casa estou jogado
Aonde quis sorriso, só quebranto.

Adio cada plano que inda tenho
E mesmo se fazendo em tosco empenho
Jazigo da esperança; meu velório.

Apêndice de vida e nada mais,
Ocasos são deveras tão normais
Em quem sabe o futuro ser inglório...



27731

A morte se aproxima e me serena
Enquanto em tal cenário mais atroz,
Emergem-se demônios e ouço a voz
Da sorte finalmente mais amena.

O fardo tanto pesa enquanto acena
Rompendo sem defesas toscos nós
Mordazes ilusões encontram foz
Na imensidão que agora me envenena.

Vogando por seus mares, solidão,
Apenas os destroços se farão
Do pouco que inda resta em podre cerne.

E o medo traduzido num anseio,
Percorre cada poro, cada veio
Tomando toda sorte que o concerne.


27732

São pútridos caminhos os que traço
Carcaça que respira tão somente
Do solo mais estúpida semente
Cevando podridão a cada passo.

Crepusculares sonhos onde faço
Realidade dura e sei premente,
Apenas a mortalha se consente
Aonde uma esperança teve espaço.

Morrer e ter nos olhos a incerteza
Da eternidade feita em luz, beleza
Ou mesmo em infernais fogos terríveis.

Mas bem melhor garanto do que agora,
Aonde a solidão plena devora
Tornando os brados tantos inaudíveis...


27734


Perfaço em trevas toda a minha sanha
E sinto que os destroços já se espalham
Enquanto os desenganos estraçalham
O que restara ainda; e o nada banha.

Neblinas sonegando qualquer lua
E tendo como fundo intensa treva,
Aonde se pensara em mansa ceva
Nevasca nunca cessa e continua.

Descortinando apenas solidão,
Espero por alguém que ainda escute
Ou tente mesmo ouvir e não relute

Serpentes em mil botes preparados,
Resisto aos meus caminhos desbravados
Resultando na eterna negação.

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