sábado, 27 de março de 2010

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26683


“Porque é só madrugada quando chora”
Quando a alma se percebe já perdida,
E nada faz volver ao que era vida
Somente a solidão, e vai embora
Quem tanto perceba um novo dia
Aurora mais distante deste olhar
E quando me encontrando sem lugar
Nem mesmo me dourando a fantasia
Estendo as minhas mãos e nada encontro
Atrevo-me a sonhar, mas tudo inútil,
O amor que tanto quis se fez tão fútil
Traçando tão somente o desencontro,
Vagando pelo espaço sem ninguém
Nem mesmo a madrugada me contém.


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“Um sol onde expirasse a madrugada,”
Trilhando aonde escuro se mostrou,
Caminho que o vazio transformou
Deixando tão somente o etéreo nada.
Há tanto num mergulho em abissais
Os sonhos produziram um encanto
E agora se percebe num quebranto
A sorte traduzindo-se em jamais
E o gozo que pensara ser possível
Já não sacia mais e nem se sente,
O gosto do passado inda presente
Devora com a fome mais incrível
O quanto se pudesse ser feliz
E tudo o que eu desejo contradiz.

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“Sem ela o coração é quase nada:”
A fonte da esperança traz ao dia
A força que deveras já me guia
Deixando esta tristeza destroçada,
Mas quando ela se ausenta e nada traz
Somente o desespero toma conta,
E aonde se pensara segue tonta
Perdendo num instante mais mordaz
A sorte de se crer noutro momento
Melhor e redentor, qual primavera,
A morte quando em glória diz espera
Talvez ainda trague algum alento.
Mortalha feita em restos de um amor,
Aos pouco sinto a vida decompor.

26686


“As almas doidamente, o céu d'agora,”
Não deixam que se pense de outra forma,
A velha solidão já me deforma
Nem mesmo uma esperança me decora.
O gosto se amargando não permite
Que eu possa ter ainda uma alegria,
O quanto esta tristeza se porfia
Não deixa que se veja algum limite,
E o quadro se tecendo em cores mórbidas
As horas transcorrendo em dor imensa,
Não há quem em verdade me convença
Já que estas tempestades sei mais sórdidas
Vencer os meus temores e seguir,
Talvez quem saiba seja um elixir.

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“Toda a luz desgrenhada que alumia”
O céu enaltecendo uma vitória
Após a caminhada merencória
Quem sabe mostrará um claro dia,
Adio cada sonho enquanto traço
Com versos o que vivo desde agora,
A paz já noutro porto, pois se ancora
Do amor que desejei sequer um passo,
Dos rastros da ilusão nem mesmo sei,
Aonde uma notícia a mais pudesse
Além do que ora trago em dor e prece,
O amor já não comporta a minha grei,
Em desalento então prossigo assim,
A vida anunciando um triste fim.

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“Porque a dor, esta falta d'harmonia,”
Jogando o pensamento ao ledo vento,
Não tendo quem perceba o desalento
Também não conheci quem inda guia
O passo deste estúpido poeta
Que tanto procurou felicidade
E agora a solidão cruel invade
E dela o dia a dia se repleta,
Pudesse ter no olhar ainda o brilho,
Mas nada me mostrando aonde eu trace
A vida já que disto desta face
Aonde em paz profunda maravilho,
Bendita solução, mas no veneno
Que bebo em tua boca me apequeno.

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“Cobrir-me o coração dum véu escuro”
Traçando a fantasia em dores tantas,
Enquanto a cada dia desencantas
Negando o que deveras mais procuro,
Amor sem ter amor não interessa
A quem se fez doído caminheiro,
E tendo a poesia por tinteiro,
A cada novo dia a mesma pressa
De ser feliz impede a minha sorte,
Gerando a solidão que me atormenta
E quando a fantasia eu vejo lenta
Quem sabe alguma voz nova conforte
O quanto desalinha cada passo
O mundo noutro mundo já desfaço.

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