segunda-feira, 22 de março de 2010

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27338

“E, em mim há mais amor que em vós esquecimento,
E vosso sendo assim, jamais eu poderia
Viver sem ter no olhar a imensa fantasia
E dela com certeza eu tenho o meu sustento.

O amor que em vós nasceu e em mim se fez alento
Enfrenta, destemido, a noite atroz e fria
E sabe desfrutar de toda esta alegria,
E tendo-vos senhora, em vós meu pensamento.

Sabe do quão divino é nosso amor, querida
Encontro em vossa luz, decerto o meu abrigo
Viver-vos com ternura aonde em paz prossigo

É como se pudesse entregar minha vida
A quem tanto redime e mostra este caminho
Aonde em paz jamais eu seguirei sozinho...

27339


“Do que cinzas em vós há mais fogo em meu peito;”
E sinto que talvez ainda em fogaréus
Eu poderei saber da Terra tantos Céus
E tendo neste amor além de simples pleito

Certeza de um caminho em luzes sendo feito
Cobrindo-me esta paz em claros, mansos véus,
Os dias do passado, outrora tão incréus
Agora em tanto amor deveras me deleito.

Servir-vos sem pensar em qualquer recompensa
Podendo caminhar em meio aos temporais,
Sabendo quanto brilho em mim vós derramais,

Minha alma enamorada, em vós somente pensa
E tem esta certeza, embora tão fugaz
Do quanto amor é belo e nele imersa a paz.


27340

“A taça derramar em que me dessedento:”
Vivendo a plenitude em vós glorificada
Singrando um mar imenso em noite enluarada
Bebendo da alegria expressa em manso vento.
Eu quero em vós a fonte aonde o meu alento
Encontra esta certeza em paz abençoada
Percorrendo universo adentrando a alvorada
E ter além de tudo o amor como provento.

Espessas ilusões escassas nuvens vejo,
O sol tomando a cena, um ar nobre e sobejo,
Entranha-se no olhar beleza iridescente
Prismática emoção, delírio triunfal,
Ensandecido gozo, amor tão magistral
Manhã tão soberana, agora se pressente...

27341


“Podeis com a asa bater, tentando, sem efeito,”
Alçar um infinito e ver além do mar,
Mas saiba que talvez ao sonho se entregar
Desejo que vos toma, enfim já satisfeito.
O amor não tem razões, e segue tendo em pleito
Apenas o carinho e nele ao se tocar
Tereis sem perceber, a terra, o céu, luar
Tocando mansamente, em ânsias vosso leito.

Escuto a vossa voz clamando por quem tanto
Deseja vosso amor e quando também canto
Pensando em vosso beijo, o mundo se transforma,

Amor já não respeita enfim qualquer espaço,
E quando em luz intensa o rumo eu quero e faço,
Descumpro sem pensar, deveras qualquer norma...


27342

“Ninguém há de colher a flor que tenho n’alma”
Tampouco poderá negar a primavera
Após se perceber terrível dura espera
Apenas o saber do amor ora me acalma

E tenho ainda em mim bem vivo o velho trauma
Do quanto doloroso enfrentar a quimera
Da solidão cruel imensa e fria fera,
Porém quando vos vejo encontro enfim a calma.

Nefastos dias, tive, e neles o terror
De não poder jamais viver um grande amor,
E agora que vos tenho eu sei quanto é divino

O bem maior que existe e nada o calará,
O sol que agora sinto, eterno brilhará
E nele com certeza, em paz eu me alucino...

27343


“Levando na torrente as vossas murchas flores”
Depois da primavera aonde me entreguei
A seca dominando então a bela grei
Diversa do que outrora anunciara albores.

E sei que em vossas mãos, os dias sofredores
Traçando em tosca luz o que tanto sonhei,
Secando então tal mar, aonde eu mergulhei
Deixando no lugar um lamaçal de dores.

Esgarça-se a esperança e nada mais me resta,
A vida sem amor, deveras tão funesta
E a solidão transtorna andejo coração

E sei que depois disso, a noite não termina,
O amor quando se acaba, extingue a velha mina
E a seca então destrói a imensa plantação...

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“- Não envelheço, não! podeis correr, sem calma,”
Dizia assim ao vento um tolo coração,
Espelho sonegando e dando outra visão,
Deixando tão somente, a face escusa da alma

Em transparente ocaso, o fim já se aproxima
E nele nada tendo, apenas o vazio,
Deveras este inverno aplaca algum estio
E assim morrendo logo o que se fez estima.

Não posso caminhar em meio aos temporais
E tendo-vos querida, o olvido, sonegais
Mas sei o quanto é duro, o espelho, nunca nega

E tendo esta certeza, o tempo se escorrendo,
Apenas cada ruga, imenso dividendo
E o timoneiro teima e em duro mar navega.

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“Posso agora dizer ao tempo, em seus rigores:”
Jamais o temeria, e sei quanto é capaz
De ter felicidade uma alma mais audaz
E nele ainda creio em dias, sóis e flores.

Não posso me negar a crer nos redentores
Caminhos que percebo ao trafegar em paz
Vencendo o meu temor, por vezes tão mordaz
E ter após a chuva, estrelas multicores.

O céu que tanto quero em plenilúnio imenso,
Em vós tanta alegria, eu sei desejo e penso
Traçando a cada dia um raro amanhecer

Vivendo a poesia e nela me entregando
Sabendo quão divino um ar sobejo e brando
Envolto pelo brilho enorme de um prazer...

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