quinta-feira, 25 de março de 2010

HOMENAGEM A ELIZABETH BARRET BROWNING

Amo-te...
(Elizabeth Barret Browning)

Amo-te quanto em largo, alto e profundo
Minhalma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.


Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do Sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.


Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.


Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E, assim Deus o quiser,
Ainda mais te amarei depois da morte.

Tradução de Manuel Bandeira


1


“Ainda mais te amarei depois da morte”
E nesta eternidade feita em sonho,
O quanto deste amor a ti proponho
Transcende ao que emoção plena comporte,

E vivo a cada instante neste Norte
Que um dia imaginara tão medonho
E agora em luzes tantas eu componho,
Trazendo ao meu viver, raro suporte.

Vencer as intempéries da paixão,
Saber dos tantos dias que virão
E neles cada instante revelar

Beleza sem igual e fascinante,
Por mais que uma tristeza se adiante,
Nos braços deste encanto, me entregar...


2


“Por toda a vida. E, assim Deus o quiser”
Mesmo que não tenha outros motivos,
Os dias do teu lado, tão altivos
Vencendo qualquer dor que inda vier,

E tendo esta certeza insofismável,
Imperecível gozo feito em luz,
Ao tanto quanto quero me conduz,
Além do que pensara imaginável.

Vislumbro a eternidade em tua face,
E mesmo que me deixes, sou só teu,
Meu mundo no teu mundo se perdeu,
Não tendo outro caminho que se trace

Encontro em ti o quanto desejei,
Dourando em sol imenso a minha grei...


3



“Amo-te até nas coisas mais pequenas”
No passo que tu dás, no teu bafejo,
O amor quando demais sempre prevejo
As noites insensatas e serenas,

Amar sem ter limites nem porquês
Singrando este oceano em luzes feito,
E tendo cada sonho satisfeito,
Por mais que tal verdade inda não vês

Sabendo ter em ti tudo o que quero,
E além do que pensara conhecer,
Em ti vislumbro além do próprio ser,
No quanto sou deveras mais sincero.

Amor que tanto amor já se retrata
Bem mais do que pensara em voz sensata.



4


“E a fé da minha infância, ingênua e forte”
Domina ainda o tempo de sonhar,
E nele se percebe céu e mar,
E o brilho que deveras me conforte.

Amar e ser feliz além de tudo,
Depois de ter sabido esta inconstância
Do quanto se perdera noutra estância
Deveras com temor inda me iludo,

Mas quando te saúdo, grande amor,
E bebo cada gota deste encanto
No verso delicado agora canto
E nele meu futuro a se compor,

Vencendo estas quimeras do passado,
Momento mavioso anunciado...


5



“Com sorrisos, com lágrimas de prece,”
Ainda poderia ter no olhar
O amor que tanto quis e ao encontrar
Percebo quanto aos deuses se oferece

O Máximo que posso em tal maná
E dele usufruindo insanamente,
Eterna fantasia se pressente
E o sol a cada passo brilhará,

Mudando a direção dos vendavais
Não temo mais tormentos nem tampouco
Enquanto em tanto amor já me treslouco,
Momentos que bem sei são divinais.

E assim ao perceber eternidade
No encanto que mais alto ainda brade...


6


“Amo-te com o doer das velhas penas;”
E neste amor que tanto diz além
Do quanto se percebe e ainda vem
Traçado em linhas claras e serenas,

Não vejo apenas isso, é muito mais,
Pudesse estar em ti cada momento,
E neste mavioso sentimento
Vibrando com ternuras magistrais.

Escuto a tua voz e nela sinto
O gozo incomparável de saber
Que existes e tocado por teu ser
O medo há tanto tempo sendo extinto.

Vivenciando a glória feita em luz,
Que a cada novo instante reproduz...


7


“Quanto o pudor dos que não pedem nada”
E sabem desvendar cada segredo
Além de todo amor que te concedo,
Concebo em ti divina e rara estrada,

A sorte se mostrando em bênçãos feita
Não deixa qualquer dúvida e permite
Bem mais do que o querer traça em limite
Minha alma em ti se sente satisfeita,

Deleita-se em delírios meu caminho
E quando me percebo enamorado,
As sombras do que fora meu passado,
Morrendo então da luz eu me avizinho.

E toda esta tristeza se esfumaça
No amor que tanto quero, plena graça...


8


“E é tão pura a paixão de que me inundo”
Que nada impediria tanta luz
E nela o quanto o sonho me conduz
Tomando com beleza todo o mundo,

Versejo como quem procura a sorte
Em meio aos temporais e conseguindo
Momento mais perfeito, raro e lindo,
Tocado pela glória que o suporte.

Não tendo mais temores, cicatrizes,
Vencendo os dissabores se eterniza
E quanto ao vendaval, agora brisa,
Sabendo deste encanto que me dizes

E nele reavivo cada sonho,
Que em luzes bem mais fartas já componho.


9


“À luz do Sol, na noite sossegada”
Encontro a plenitude em claridade,
E quando a lua bebe o sol e invade
Tornando pleno dia, a madrugada

Nos olhos de quem amo, meu farol,
Decerto não me perco em falso rumo,
E todo engodo e medo, agora assumo
Enquanto fora só, um ledo atol.

Mas tendo a tua bela companhia
A estrela que deveras já me guia
Vencendo as trevas tantas, sou feliz.

Vibrando em mim sobeja sensação
Do eterno e tão fantástico verão
Que outrora imaginara e sempre quis.


10


“Amo-te em cada dia, hora e segundo”
Já não consigo mais pensar em nada
E quando a sorte molda nova estrada
Nas sendas deste encanto me aprofundo,

Vencer os meus antigos medos gera
A sorte de saber eternidade,
Por mais que a dor do vão ainda brade,
Em ti eu reconheço a primavera.

Florindo cada sonho com ternura,
Bebendo desta fonte incomparável,
Um mundo muito além do imaginável
Numa ânsia mais sobeja, clara e pura.

Assim não te esquecendo um só instante,
Meu mundo com certeza, deslumbrante...


11


“Os fins do Ser, a Graça entressonhada”
Deveras se percebe num momento
Aonde em plenitude o sentimento
Numa glória absoluta imaginada

Dos cárceres diversos do passado
Já não mais sinto ao menos uma essência,
O amor quando se faz em tal clemência
Prevê um novo tempo anunciado

Nas ânsias soberanas da emoção
Singrando os oceanos, destemido,
O medo pelos cantos esquecido,
As horas mais sublimes mostrarão

O quanto amor domina e me transforma,
Não respeitando mais fronteira ou norma.


12


“Sente, alongando os olhos deste mundo,”
Felicidade imensa e soberana,
A sorte se mostrara qual cigana,
Mas dela neste instante já me inundo,

Vivendo sem temor a fantasia
Erguendo um brinde ao raro e farto amor,
Sabendo já de cor, caminho e cor,
Numa ânsia de um delírio que me guia,

Aonde imaginara outrora abismo,
Agora imensidão de cordilheira,
O amor sem ter limites nem fronteira,
Etéreo caminhar que agora cismo,

Vagando por estrelas benfazejas
Vivendo cada anseio que desejas.


13


“Minh’alma alcança quando, transportada,”
Eternas maravilhas, divindades,
E quando com teus sonhos tu me invades,
A sorte noutra sorte anunciada.

O vento benfazejo da emoção,
Tocando em minha face calmamente,
Assim toda a alegria que se sente
Mostrando cada rumo e direção

Permite ao navegante um manso cais
E nele toda a glória do porvir,
Depois de tanto medo pressentir,
Eu vejo estes momentos magistrais,

Minha alma que ao eterno se transporta
Abrindo com certeza qualquer porta.


14


“Amo-te quanto em largo, alto e profundo”
Caminho desvendado pelo sonho,
E quando ao Paraíso me proponho
De toda esta fartura ora me inundo,

Sentindo então alentos delicados
Amando muito além do que pensara,
A noite se aproxima bela e clara,
Mudando do passado amaros fados.

Amanhecendo em ti, eterna luz
E nela meu caminho se porfia,
Sabendo soberano e raro dia,
Ao qual o nosso amor cedo conduz,

E além da própria vida eu te amarei,
Por tantas outras vidas que terei...

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