quinta-feira, 25 de março de 2010

HOMENAGEM A MARIO QUINTANA

HOMENAGEM A MARIO QUINTANA
A Rua dos Cataventos - I

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Mário Quintana

1




“Nos leves dedos que me vão pintando’
Os sonhos se mostrando mais felizes,
Depois de perceber tantos deslizes
O tempo agora vejo bem mais brando,

Pudesse a cada instante desfrutando
Do quanto queres tanto quanto dizes
Já não teria mais as cicatrizes,
O mundo com certeza clareando

E o passo bem mais firme rumo à paz
Na qual a plenitude ora se faz
Moldando etéreas cores, aquarelas,

E quando te percebo bem aqui,
Encanto que sonhara e descrevi
Em versos mais sutis, tu me revelas.


2


“E me transmuto... iriso-me... estremeço...”
Sentindo o teu perfume, doce aroma,
O encanto que deveras já nos doma
Sabendo da emoção seu endereço,

Virando a minha vida pelo avesso,
O quanto deste encanto ora me toma,
Fazendo muito além de simples soma,
Vivendo muito mais do que mereço.

Soubesse desta luz que se irradia
Diverso do que vivo, pois, meu dia
Trazendo tão somente claridade.

Nefastas noites deixo no passado,
Ao ver o meu caminho iluminado
Por este amor sobejo que me invade.


3




“Vago, solúvel no ar, fico sonhando...”
Revejo então momentos fabulosos
Envoltos por delírios vaporosos,
E neles cada vez me transformando.

Adentro as fantasias mais sutis
E bebo gota a gota esta esperança
Enquanto tanto amor ora me alcança
Vivendo o que deveras sempre quis

Pudesse ter sementes da ilusão
Moldando este canteiro em flores belas,
E quanto mais amor tu me revelas,
Maiores os desejos que virão.

Teimando contra a força das marés,
Sabendo ter em ti, atados pés.


4


“Pra que pensar? Também sou da paisagem”
E nela me entranhando se percebe
Beleza sem igual, divina sebe,
Tornando bem suave cada aragem,

Vestindo esta emoção que agora invade
Encontro o meu caminho finalmente,
E quando novo dia se pressente
Tomado por beleza e claridade,

Deixando o sofrimento para trás
Vivendo esta alegria que há em ti,
A sorte de repente, pressenti
Num ato delicado feito em paz.

Assim assíduas noites, raro brilho,
Caminho mais tranqüilo agora trilho...



5

“Do que eu ia escrever até me esqueço...”
E teimo em perseguir luz mais tranqüila,
A sorte pouco a pouco já desfila
Dourado sol que em teu olhar, querida, teço.

Mergulho nesta insânia feita em luz
E bebo esta sobeja fantasia,
E quando se percebe e se recria
O quadro ao paraíso me conduz

Traçando com ternura em voz suave
Deidade que desejo a cada instante
Vivendo este momento deslumbrante
O amor se transformando em calma nave,

Ascendo ao infinito em cada verso
E dele traço enfim, nosso universo.


6


“Jogos da luz dançando na folhagem”
Iridescente e belo alvorecer
Moldado pelas ânsias do prazer,
Permitem que se creia em tal miragem,

Viver felicidade a cada instante
Na ausência da tortura e do temor,
Um tempo tão gostoso e sedutor,
Deveras num caminho deslumbrante.

Traçando dia a dia o meu futuro
Nos braços de quem tanto desejei,
Dourada com certeza a bela grei,
Que há tanto sem sucesso em vão, procuro

E quando me percebo junto a ti,
Concebo todo o sonho que vivi...

7


“Vai colorindo as horas quotidianas”
Beleza insofismável feita em luz
E tanto quanto toca e me conduz
Traçando linhas belas soberanas,

Enquanto tanto quero e tu me trazes
Momentos mais felizes, já prevejo
Nas ânsias delicadas do desejo
Delírios em prazeres mais audazes.

Cadenciando assim vou passo a passo,
E quando novos dias eu percebo
De toda alegria que ora bebo,
Futuro feito em glória e paz, já traço,

Mudando a direção dos pensamentos,
Vivendo os mais profundos sentimentos.

8


“Sempre em busca de nova descoberta,”
Vagara por caminhos mais diversos
E quando se permitem mansos versos
A vida se mostrando em claro alerta

Mudando cada história tranqüiliza
E deixa o dia a dia mais bonito,
E quando em solidão deveras grito,
Ausente dos meus passos sol e brisa

O vento se transforma em temporal
E tudo desabando num instante,
Aonde se quisera fascinante,
Apenas um momento desigual.

Pudesse transformar em calmaria,
Um novo amanhecer, claro, eu teria...


9


“Mistura os tons... acerta... desacerta...”
Assim vai se tecendo a rara tela
Usando cada cor desta aquarela
Mantendo a nossa porta sempre aberta.

Vivendo sem temor percebo então
Um tempo mais suave desde quando
A vida com carinhos se moldando
Mudando do passado a direção.

Vestindo a luz intensa do prazer,
Cabendo dentro em nós eternidade,
Diverso deste tom que desagrade
Um mundo em maravilhas posso ver,

Neste artesão divino brilho tanto,
Gerando sem pudor, sobejo encanto.


10


“Não sei que paisagista doidivanas”
Ainda poderia transformar
Beleza deste raro e bom luar
Em luzes muitas vezes mais profanas.

Vestindo a sorte tanta que apetece
Quem sonha e não se esquece de viver
A intensa maravilha feita em ser,
E dele se percebe toda a messe.

Levando ao mais perfeito paraíso,
O amor não tem limites nem aceita,
Mais do que se faz crença, prece ou seita,
O mundo em braços mansos, mais preciso.

Vencer os mais terríveis vendavais,
Gerando estes momentos magistrais...


11

“Desenha o sol na página deserta”
E muda num instante a escuridão
Trazendo ao sonhador, raro verão,
Mantendo a porta agora sempre aberta.

Descrevo com audácia cada passo
De quem se fez amante nada mais,
Paisagens percebidas, magistrais,
Aonde um claro amor, dourado, traço.

Viver este tesouro e todo dia
Vencer os meus temores mais mordazes
Enquanto tal clarão ainda trazes
A sorte se moldando, fantasia

Momento divinal onde desvendo
O amor que desejei, tão estupendo...


12


“Verde!... E que leves, lindas filigranas”
Trazendo ao meu olhar uma esperança
E nela toda a sorte já se lança
Diversa da que em sonhos vis profanas,

Os tempos se transformam, poesia
Já não traduzem mais toda a beleza,
Agora no futuro esta incerteza
Que o vento do passado desafia,

Mergulho no infinito e posso ver
Diversas maravilhas, brilhos tantos,
E neles com certeza seus encantos,
Moldados pelos braços do prazer.

Mas quando vejo a luz já se esvaindo,
O mundo entre neblinas diluindo...


13


“Minha caneta é cor das venezianas”
E dita esta esperança em verdes tons,
Momentos que pensara em outros sons
Palavras se perdendo, são ciganas...

Alvissareiro encanto do traçado
Há tanto em luzes fartas, tanto brilho,
E agora o coração deste andarilho
Revive cada angústia do passado

E bebe desta fonte imorredoura
E nela se recria com vigor
Trazendo esverdeada e rara cor,
Que tanto me esperança quanto doura.

A sorte se bendiz em cada verso,
Mudando num momento este universo.


14


“Escrevo diante da janela aberta”
Observando o clarão de um belo sol,
Que tanto já domina este arrebol
Enquanto uma tristeza se deserta,

Mergulho no oceano feito em glória
E cada nova luz trazendo a fonte
Do sonho que deveras já desponte
Mudando a velha senda merencória.

Agora não mais creio no vazio,
E traço com meu verso um novo tempo,
Ausente dos meus olhos contratempo,
O quanto fui feliz beijo e recrio.

Talvez seja somente um ledo sonho,
Mas nele toda a força agora eu ponho...

Um comentário:

Unknown disse...

Quando uma alma escreve com fervor, sua verve engrandece a sua arte. E você poeta, é uma dessas almas raríssimas. Pois você póeta, realmente veste de corpo e alma a poesia. Deixo aqui poeta, os meus sinceros e singelos aplausos. Estando neles, a minha admiração.

Aplausos sempre mil a ti nobre poeta!