segunda-feira, 14 de junho de 2010

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1


Um manto de esplendor,
O olhar procura e nada
Do quanto imaginada
A dita em nova cor
Demonstra este temor
Aonde desolada
A vida sonegada
Imersa em tal rancor
Aonde a hipocrisia
Nefasta mostraria
O quanto se concebe
Na dura e torpe sebe
A torpe confraria
Dos sonhos tolos, bebe.

2


Se espalha na manhã
O brilho incomparável
De um sol imaginável
Em doce e manso afã,
Mas quando se é malsã
A sorte insustentável
O fardo degradável
E a morte temporã
Transforma o que seria
Imenso e belo dia
Em turva penitência
Dos sonhos, nada resta,
A senda mais funesta
Atesta a pestilência.

3


O mundo inteiro vive
Às sombras da ilusão
E sem mais percepção
Do quando e onde estive
No tanto em que me crive
Das ânsias, negação,
Ausente direção.
De sonhos sobrevive?
Não vejo outra saída
Senão a vaga e urdida
Nas tramas de um anseio
Inúteis parasitas
Se neles coabitas
De ti, seguindo alheio.

4

Todos, menos minha alma
Ao menos podem ver
Sublime amanhecer
Aonde a guerra acalma
O tiro traz a calma
A fome do poder,
O tanto do prazer
Não trama qualquer trauma,
Apenas eu não sei
O quanto é bela a grei
Em vilas e favelas,
De um mundo magistral
Não vejo nem sinal,
Conforme tu revelas.

5

Uma nuvem tristonha
Apenas o que tenho
E quanto vago o empenho
Uma alma tola sonha
E logo em vão se enfronha
Porquanto quando eu venho
O quanto não contenho
Traduz a realidade?
A cena onde degrade
A bela e rara vista
O quanto não se avista
E não deixa nem pista
Será tua verdade?

6

Embora tanta vida
Pudesse até conter
A sorte ou desprazer
Além da merecida,
Gerada ou bem fingida
Nas fúrias do querer
Eu vejo apodrecer
Esta maçã mordida.
E tento imaginar
Aonde em qual lugar
Esconde-se o real
Estrela soberana
Maior, bem mais a grana
Farta cara de pau!

7

A natureza bela
Vendida atrás, nas bancas
E quanto mais desancas
Mais força já se atrela
Na face onde desvela
Ou mesmo em belas ancas
Corcéis, belas potrancas
Dourando a clara tela.
Assim padres e médicos
E pedagogos novos
Gerando dentre os povos
Os delírios morféticos
Em tons nada proféticos
Chocando os ricos ovos.

8

Esquece deste pobre
Que está bem ao teu lado,
O mundo destroçado
A vista não mais cobre,
O quanto em ti é nobre
Não sendo demonstrado
Alheio ao teu passado
Quando a poeira encobre
Nas frases mais bonitas
E nelas acreditas.
Ou tua luz rebrilha,
Cuidado companheiro
Mirando o teu dinheiro
É podre esta armadilha!


9

Antes que esta manhã
Ressurja como a de ontem
Ou teu cheque descontem
Com fúria e raro élan
Entenda a virulência
Da podre companhia
Que tanto poderia
No olhar com indulgência
Esta inocência tua
Estimula a matilha
E quanto mais se brilha
A corja mais atua,
Sedenta e esfomeada
Vendendo à vista o nada.

10

Perfumes de diversas
Maneiras, percebidos
Palácios construídos
Em tolas, vãs conversas
E quando ali tu versas,
Excitas os bandidos
No antro das libidos
Em cenas mais perversas.
Assim sem qualquer chance
A praga que te alcance
Em cenas caprichosas,
Vendidas como rosas
Carnívoras, vis plantas
E nelas te agigantas!

11


Abelhas, passarinhos,
Um mundo em primavera
Deveras te tempera
Gerando novos ninhos
Em passos bonitinhos
Sem medo da quimera,
Que tanto não se espera
Em doces, raros vinhos,
Vendida desta forma
A vida se transforma?
Não seja um inocente.
A praga toma a plaga
E quanto mais te afaga
Já crava um fino dente,

12

Batendo um coração
Humano e transparente
Sem nada que apresente
Ou mesmo opinião,
Cordeiro vê leão
Com face de indulgente
E tanto o prepotente
Vendendo a solução
Qual fosse um ser tão mágico
No fundo vejo um trágico
Caminho se fazendo,
O lucro em dividendo
Aumenta a cada dia,
Só tu não vês sangria...

13

Nos céus as alvoradas
Sublime natureza,
Aonde a correnteza
Em luas bem traçadas
Manhãs imaginadas
Na força da beleza
E traça a sobremesa
Em condões, belas fadas.
Vá pro inferno agora
A vida se decora
E vende-se, paspalho!
Não se deixe enganar
O que te faz sonhar
Se é podre este assoalho?


14



Divinos estes campos
Nas feiras e palestras
E quanto mais adestras
Os tolos pirilampos
Estrelinhas de luz
Aonde na verdade
O que foi claridade
Apenas gera o pus.
Perguntas e respostas
Não deixam muito além
Do nada que contém
Senão peso nas costas
Dos cordeirinhos bobos
No olhar de espertos lobos.

15

Procuro pelos rastros
Deixados pelos sonhos
Deveras tão bisonhos
E neles já sem lastros
Criando falsos astros
Em mundos mais risonhos,
No fundo em enfadonhos
Caminhos sem os mastros,
O barco naufragando
O tempo bem mais brando
É mera hipocrisia,
Eu falo o que tu queres
Banquetes e talheres,
Começa a minha orgia!

16

Embalde, nunca vejo
A face verdadeira
Aonde a sorte esgueira
Gerando outro desejo
Um tempo em azulejo
À sombra da palmeira
E a mesma pasmaceira
Assim vejo e revejo.
O templo no horizonte
Aonde se desponte
Um mundo feiticeiro.
Larga de ser otário
O lobo salafrário
Só quer o teu dinheiro!


17



A vida sem te ter
Já não seria a vida?
Não sei porquanto urdida
Palavra dá prazer.
E gera outro poder
Disto ninguém duvida
Sem ter nem mais saída
É bom se conhecer.
Mas vejo com tristeza
A fúria sobre a mesa
De vendilhões canalhas
E neles com certeza
Tu és a mera presa
Jogada em finas malhas.

18

O mundo não permite
Sequer outra verdade
Senão a que te agrade
E nisto, é sem limite.
No quanto se acredite
Ausente a realidade
Vender felicidade
Deveras tanto excite.
Gerando uma fortuna
E sem haver quem puna
Espalha-se esta corja
No quanto em vão se forja
A Terra em fantasia,
Mais riqueza se cria.

19

A noite, no meu peito
Jamais pode habitar
Sabendo do luar
E nele me deleito,
A vida gera o feito
Diverso em cada olhar
Estrela a iluminar,
Assim, de qualquer jeito,
Eu já rejeito a peste
Do jeito que se veste
De cordeirinho manso,
E seu olhar tão vil
Que pouca gente viu,
Em fúria enfim alcanço.

20

Ofusca essa beleza
A luz interior
E nela sem pudor
Jogando com destreza
Inverto a correnteza
E teimo em tentador
Caminho feito em flor
Fartando a minha mesa.
A podre fantasia
Vendida hipocrisia
Gerando esta canalha
Enquanto mais se estraga
Pior que podre praga
Assim ela se espalha!

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