1
Nas chamas destes braços
Que incendeiam meu sonho
O quanto me proponho
Em meros ritos, traços
Ocupar tais espaços
Num tempo mais risonho
E assim eu já me oponho
Aos ledos dias lassos,
E sei que posso então
Viver a precisão
Do amor sempre preciso,
Chegando mansamente
Ao quanto quer e sente
Quem busca um paraíso.
2
Eu peço, te repeço,
E não me canso mais
De ter os magistrais
Caminhos onde eu teço
O amor que ora confesso
Em versos tão banais,
Sem ter este jamais
Aonde em vão tropeço.
Tropéis de sonhos vivos
E neles meus cultivos
Invadem meu deserto
Poeira em tempestade
Mais alto o peito brade
E em ti, calmo, eu desperto.
3
Amores que plantei
Durante a minha vida,
Presença revivida
Aonde fora a lei
O tanto que esperei
Já ninguém mais duvida
A estrela dividida
Ausente desta grei,
Gerando novo sonho
E nele recomponho
Cultivos do passado,
Do outono, a primavera
Aos poucos se apodera,
Florindo o árido prado.
4
Nas sendas dos meus sonhos,
Sementes de esperança
A minha voz se lança
Em ritos mais risonhos
E embora em enfadonhos
Caminhos vai e avança
Num tempo de mudança
Os medos são bisonhos,
Adentrar o que possa
No tanto quanto adoça
A vida em méis diversos,
Meus dias pós o nada
Gerando outra florada
Nas sebes dos meus versos.
5
No mundo que encontrei
Depois de tantos erros
Após velhos desterros
Voltando à antiga grei
Percebo quanto pude
Deixar o sonho além
E nele se contém
Fonte da juventude,
Viver e não querer
Da vida uma resposta
O quanto ou não se gosta
O quanto ou não poder
Excesso de juízo?
No fundo é pré-juizo...
6
Por tantos universos
Pudesse incauto nauta
Vencer e ter a lauta
Beleza em claros versos,
E quanto mais dispersos
Os pontos desta pauta
O amor que agora falta
Em ritos mais diversos
Talvez exista além
Do quanto me contém
Espaço limitado;
Vencer este infinito
E nele me permito
Estar enamorado.
7
Explodes em delírio
Ao ver tanta beleza
Servida sobre a mesa
Após duro martírio
Encontro o que buscara
Nos braços de quem ama
E nela a vida em chama
Decerto já se aclara.
Meu tempo continua
E sei que após a morte
Tentando quem conforte
Encontre a minha lua
E neste eclipse então
O amor em explosão…
8
Na brasa que trouxeste
Aos olhos, rara pira
Aonde amor transpira
E ceva em tempo agreste,
No tanto que me deste
Sem medo nem mentira
A vida não retira
E em sonhos se reveste,
O passo se reverte
E quando enfim desperte
Espero estar ao lado
De quem tanto procuro
Florindo em solo duro
Há tempos cultivado.
9
Quimeras esquecidas
Nos cantos desta sala
O amor quando não cala
Domina nossas vidas,
E tento outras saídas
Se a sorte é vã, vassala
O todo agora fala
E nega as despedidas,
Risonho sol ou lua
Aonde bela e nua
Deitada em seda a bela
Domina este cenário
E a tempo o necessário
Sonhar já me atropela.
10
Embora tanta vez
O mundo sonegasse
Gerando um tolo impasse
Conforme agora vês
A sorte em lucidez
Garante que se grasse
No campo onde se trace
O amor como tu crês.
Um pássaro revoa
Minha alma segue à toa
E chega então à tona,
Bebendo deste encanto
Ainda teimo e canto
E o sonho em mim se adona.
11
Na noite que rolamos
Em bênção e desejo
O todo além prevejo
Sem servos, donos, amos.
E quando penetramos
O rumo mais sobejo
E nele em paz verdejo
O amor em vários ramos
Tentando vislumbrar
Ao fundo este luar
Em noite iridescente,
Assim em tons de prata
O sonho me arrebata
E o amor, farto, se sente.
12
Sentidos e carícias
Delírios de quem sabe
Que mais do que lhe cabe
O mundo em tais delícias
Por vezes traz sevícias
E nelas não desabe
Ou tanto ainda acabe
Sem dar quaisquer notícias
Os passos rumo ao todo
Após o medo e engodo
Da vida traiçoeira,
Vivendo desta forma
O amor que nos transforma
Da vida em paz, bandeira.
13
Cruel, dificilmente
A vida não se dá
A quem não saberá
O quanto se apresente
E quando a vejo ausente
De fato e desde já
O todo tomará
Em tom manso e clemente.
Na etérea juventude
O amor quando me ilude
Gerando algum jazigo,
Depois de certo engano
Refeito o velho dano
Em paz enfim prossigo.
14
Vivemos triste mundo
Aonde a morte impera
O olhar desta quimera
Bem sei duro e profundo,
No medo em que me inundo
Ou mesmo a dor tão fera
O quanto em vão se gera
Transcorre num segundo.
Mortalhas do passado?
Errático cometa
Além do que prometa
Não traz nenhum legado
Somente a cicatriz
Que o tempo vão desdiz.
15
A vida já não tem
Sequer a direção
E sabe desde então
Dos sonhos bem aquém
Risível teu desdém
E nele outra versão
Dizendo deste não
Que em medo sempre vem,
O fardo que carrego
O mar onde navego
O falso moralismo,
Vagando em tais caminhos
Enfrento estes daninhos
Rebordos de um abismo.
16
Maldita esta saudade
Aonde se transforma
O tempo em nova norma
E o resto se degrade.
No pouco o quanto enfade
O tosco desta forma
Transcorre e nos deforma
Mostrando a realidade.
Não pude discernir
Se existe ou não por vir
No quanto já perdi,
Volvendo vez em quando
Ao morto e transbordando
Encontro a paz em ti.
17
Espero por um dia
Apenas um momento
Aonde eu me apresento
Em luz ou fantasia,
Vencendo esta agonia
Deixando além lamento
Singrando contra o vento
Bebendo esta utopia
Até me permitindo
Um sonho claro e lindo
Aonde se pudesse
E tendo por benesse
A vida noutro rumo
O bem em ti consumo.
18
De colmo, nossa casa,
Telhado de sapê
O amor quando se vê
Em qualquer canto abrasa,
E tanto nos embasa
O quanto se revê
No passo em que se crê
A sorte nunca atrasa.
Restando dentro em mim
Caminhos para um fim
Decerto inusitado,
Resvalo no teu ego
E tanto se me entrego
Não vejo resultado.
19
Porém era sincero
O verso que te fiz
Se eu fui ou não feliz
Se eu tenho o quanto quero.
Não sei se teimo e gero
De novo a cicatriz
Num tempo amargo e gris
Num ar terrível, fero,
Ou deixo assim de lado
E busco novo arado
Aonde cultivar
E tendo um solo bom
Quem sabe noutro tom
A vida a se mostrar?
20
Num êxtase vivemos
E sei o quanto pude
Viver em plenitude
Aonde nos perdemos
E tanto merecemos
Enquanto em atitude
Por mais que se transmude
Jamais olvidaremos
Dos dias mais terríveis
E neles combustíveis
Incendiando a vida,
Agora encontro a paz
No amor que satisfaz
Cicatriza a ferida.
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