quinta-feira, 17 de junho de 2010

37161 ATÉ 37180

1

Olhando a face atroz, mordaz agônica
Da vida se esvaindo a cada instante
Porquanto a morte agora se adiante
Na velha caminhada desarmônica,
Enquanto poderia, a voz afônica
A sorte se desenha degradante
E bebo desta sina e doravante
Distante desta insânia quase hedônica.
Nefasta realidade doma a dita
E sei do quanto vejo e se permita
Apenas a mortal e dura senda
Aonde o meu caminho se desfaz
E o corte se aproxima; mais tenaz,
E o fim em dor terrível se desvenda.

2

Bebendo até o final, sangrenta taça
A morte se aproxima e quando ronda
A noite a cada instante em tétrica onda
Desenha esta mortalha aonde grassa
O passo rumo ao nada, e sendo assim,
Encontro dissabores, nada mais,
E os dias entre os cantos funerais
Demonstram em tormenta o amargo fim.
Pudesse ainda ver mesmo distante
O olhar mais carinhoso, e nada existe,
O mundo se aproxima e dedo em riste
A morte a cada passo se agigante
Não levo quase nada e mesmo quando
Procuro apenas vejo o fim nefando.

3


Etéreo sentimento, amor imenso
Tomando a cada passo o meu futuro
E quando noutro tempo me amarguro
Nas sendas do passado teimo e penso,
Vibrando dentro em mim feroz e intenso
Um tempo mais feliz, não me torturo,
Resíduos do que eu fora então procuro
E de outro amanhecer, já me convenço.
Um resto de esperança habita o peito,
E sonho com ternuras mal me deito
Tentando vislumbrar felicidade
No quanto foi tão boa a vida e agora
A luz de um novo dia ainda aflora
Tomando cada verso esta saudade...


4

Cobrindo meus delírios do passado
Imagem mais feliz que inda me toca,
E quando aos belos tempos já desloca
O pensamento volve abençoado,
O canto noutro templo renovado
O pensamento agora em paz se entoca
E quando a fantasia ronda a roca
O barco não mais vejo naufragado.
Viver e ser apenas um resquício
De um tempo findo em turvo precipício,
Saudade maculando o meu presente,
Mas tanto me maltrata e me redime,
A dor mais abrangente e mais sublime,
A morte que ora viva me apascente.


5

Brados descomunais ditam o rumo
Aonde pouco a pouco me perdendo
E quase tão somente percebendo
O tempo aonde em luz ainda aprumo,
E quando retornando ao velho sumo,
Presente se apresenta mero adendo
E nada do que eu quis inda desvendo
Aos poucos com terror eu me consumo,
A liberdade alheia aos descaminhos,
Os passos da saudade são mesquinhos
E vivem do que fora e jamais volta,
Invés da claridade que eu buscara
Somente se percebe a velha escora
Trazendo ao pensamento tal revolta.

6

No ganido longínquo a solidão
Tomando este cenário a cada instante
Aonde o meu futuro já se espante
Morrendo sem caminho ou solução,
Olhando para trás o agora é vão
Meu rumo a cada passo, delirante
Ausente dos dias, o brilhante
Desejo que tivera desde então,
Resíduo de uma vida mais feliz
Que o tempo na verdade contradiz,
Mas alimenta uma alma tão sedenta.
Mortalha viva em face mais cruel,
É como se vertesse mel em fel,
A morte que sorrindo se apresenta...

7

Disforme sentimento
Domando cada passo
Ainda quando eu traço
Vagando contra o vento
E quando ainda tento
Viver um novo espaço
Jamais disto desfaço
E bebo este tormento,
Saudade me invadindo
O quanto se fez findo
Agora renascendo,
A vida sem futuro
Esboça o velho muro,
O resto é mero adendo...


8


A vida se refaz,
Porém nisto não creio
Olhando mais alheio
O quanto ainda traz
Do tempo quando atrás
Achara um manso meio
E agora com receio
O tanto se desfaz,
Desejo alguma luz
Aonde não produz
Senão mero reflexo
Do quanto já não é,
É como uma galé
E o mundo um mero anexo.

9

Melancolia vem
E toma toda a casa,
A sorte se defasa
No olhar do antigo bem
E quando vejo alguém,
Reacendendo a brasa
Saudade não embasa
E a queda o sonho tem.
Viver do meu passado
Um prédio derrubado
Medonho e caricato,
Enquanto a vida segue
O meu cantar se negue
Nas sombras me maltrato.

10

O vento se resume
No quanto já perdi,
E volto a ter em ti
O amor que me consume
O tempo não se assume
O quanto antes senti
Voltando e vejo aqui
Sentindo o teu perfume.
Não tenho mais sequer
O olhar que inda vier
Vivendo este não ser.
O amor que tanto quis
Agora é cicatriz
Distante do querer...

11

Na lápide do sonho
Um gosto tumular
Do tempo a recordar
Momento mais tristonho,
E quando me proponho
Ausente algum luar
Vontade de chorar,
E nada mais componho
Senão a solidão
E nela a sensação
Mais viva da presença
De quem já não mais vejo
E volta ao meu desejo
Qual fosse uma doença.

12



A dor em mim procura
Um canto, algum remanso,
E quando me esperanço
A vida se amargura,
A senda mais escura
O olhar ainda alcanço
Enquanto não avanço
Não tendo mais ternura,
Saudade doma a cena
E sempre me envenena
Não deixa algum respiro,
E tanto quanto pude,
À morta juventude
Insano em vão me atiro.


13

Soberba e soberana
Saudade me domina,
E como fosse sina
Aos poucos já me engana,
Rendido à voz profana
Adentra e me fascina,
Enquanto determina
O fim e a sorte empana.
Não tendo mais no olhar
Qualquer belo horizonte
O rio já sem foz,
Retorna, e vai veloz,
Voltando à velha fonte.

14

Não sabes nem sequer
Aonde eu poderia
Achar a fantasia
Nos olhos da mulher
Que tanto já se quer,
Mas, mera alegoria
Apenas utopia
Num tempo outro, qualquer.
Depois de tanto tempo
Vivendo em contratempo
Quem sabe, mas não creio.
O mundo sem sentido,
O fim sem mais olvido,
Retorna ao velho veio.

15

Um brado delirante,
Olhar sem nada ver
Apenas poder crer
No amor que se agigante,
E quanto mais me espante
Nas ânsias do querer
Buscando algum prazer
Ou vida fascinante,
Somente esta saudade
E quando enfim invade
Derruba tudo e todos,
Vencer os temporais,
Sonhando com cristais
Voltando aos velhos lodos.


16

Percorre por espaços
Delírios que sem nexo
No olhar quiete e perplexo
Os dias morrem lassos,
Vencer estes cansaços
Da vida algum reflexo
E quando o sonho anexo
Revivo os velhos traços,
Voltando à antiga fonte
Aonde já desponte
A luz de quem perdi,
Futuro inexistente
Saudade se pressente
E lá, estou aqui...

17

Quem sabe, enfim, terás
Depois dos temporais
Momentos magistrais
Aonde enfim, a paz,
O amor se for capaz
Encontra porto e cais
E mesmo em vendavais
O caminho perfaz.
Mas quando já saudoso
O mundo pedregoso
Jamais permitiria
Que mesmo após tempesta
A vida em rara festa
Tramasse um novo dia.


18

Em todo seu primor
A vida pode ou não
Seguir em direção
Ao raro e claro amor,
Mas quando invés da flor,
Intensa floração,
Retorna à imprecisão
Do tempo feito em dor,
Bebendo do passado
Deixando já de lado
O que inda pode haver,
Eu vejo o meu olhar
Sem nada desvendar
Morrendo em desprazer.


19

No pedestal erguido
Nos sonhos do passado,
O tempo decorado
Nas ânsias sem olvido,
Ouvindo o teu gemido,
No templo profanado,
Caminho desvendado,
E tanto perseguido.
Mas quando se percebe
Ausente nesta sebe
O amor que tanto eu quis
Saudade dita a norma
E tudo se transforma,
E nunca sou feliz.


20


O meu peito artesão
Traçara o teu olhar
E nele a mergulhar
Em vaga precisão,
Sentido e direção
Aonde navegar
Sabendo céu e mar,
Nas cores do verão...
Mas quando o tempo passa
Apenas mera traça
O quadro assim invade.
Do todo que busquei
Distante em leda grei
Restou tanta saudade.

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